Você está na página 1de 8

Alterações da função diastólica na hipertrofia ventricular esquerda

BEATRIZ B. MATSUBARA

INTRODUÇÃO miocárdio cresce. Reportando-se à Lei


de Laplace, entende-se que esse
O coração hipertrofiado não é, mecanismo compensatório tende a
simplesmente, a versão ampliada do normalizar a tensão na parede
coração normal. Ao contrário, a durante a sístole, apesar da
hipertrofia miocárdica está associada hipertensão, e, assim, a função
a modificações qualitativas e ejetante do ventrículo é preservada. A
quantitativas dos componentes do despeito do efeito benéfico da
músculo que tornam sua estrutura hipertrofia em termos de função
diferente. Como conseqüência, há sistólica, isso geralmente ocorre às
alterações importantes na função do custas de aumento da pressão
órgão. diastólica. Há aumento da resistência
Durante muito tempo, a função ao enchimento ventricular durante a
cardíaca foi relacionada diretamente diástole, de modo que o volume de
com o desempenho sistólico dos sangue na cavidade é subnormal ou o
ventrículos. Assim, a insuficiência enchimento se faz às custas de
cardíaca congestiva era entendida aumento desproporcional da pressão.
como conseqüência de alterações da Nessa situação haverá hipertensão
contração miocárdica. Porém, nas venocapilar pulmonar e as
últimas duas décadas, os clínicos e os manifestações clínicas poderão variar
fisiologistas passaram a reconhecer a da dispnéia de esforço ao edema
importância das propriedades agudo de pulmão.
diastólicas do coração na gênese da A disfunção diastólica ocorre
insuficiência cardíaca. Vários estudos precocemente na miocardiopatia
demonstraram que, em 40% dos hipertensiva e corresponde à principal
casos de insuficiência cardíaca causa de insuficiência cardíaca
congestiva, o componente congestiva nos pacientes com
diretamente responsável pelo hipertrofia concêntrica do ventrículo
problema era a disfunção diastólica do esquerdo. Estudos demonstraram que
ventrículo esquerdo. Entendeu-se que 60% dos pacientes com evidências
a fisiopatologia, a terapêutica e o clínicas de insuficiência cardíaca e
prognóstico da insuficiência cardíaca função sistólica normal eram
são absolutamente diferentes na portadores de hipertensão arterial
dependência de haver disfunção sistêmica. Somente mais tarde, na
sistólica ou disfunção diastólica. evolução da doença, quando a
Nas condições fisiológicas normais, o hipertrofia torna-se excêntrica, a
enchimento diastólico ventricular deve função sistólica do ventrículo deteriora
ocorrer ao mesmo tempo que a e torna-se o principal determinante da
pressão dentro da cavidade mantém- insuficiência cardíaca.
se em níveis baixos. Dessa forma, Embora a hipertensão arterial
não haverá hipertensão e congestão sistêmica seja a principal causa de
no território venoso pulmonar. Tal disfunção diastólica associada a
enchimento tem a magnitude hipertrofia ventricular, outras
suficiente para permitir ejeção patologias devem ser mencionadas,
adequada durante a sístole ventricular como a estenose aórtica e a
que se segue. cardiomiopatia hipertrófica. A
Quando o ventrículo é submetido a fisiopatologia da disfunção diastólica é
sobrecarga crônica de pressão, o semelhante em todos os casos. É
preciso mencionar a remodelação Recentemente, Brutsaert e Sys,
miocárdica que ocorre após o infarto pesquisadores internacionalmente
agudo, devido à grande importância reconhecidos pelos seus estudos da
clínica e epidemiológica dessa função diastólica ventricular, definiram
patologia. O ventrículo esquerdo, a diástole como representando o
após reparação de um infarto agudo, período que separa dois ciclos
apresenta área de fibrose rígida e consecutivos de contração-
músculo remanescente hipertrofiado. relaxamento ventricular. Esse
As duas alterações geram disfunção conceito, portanto, exclui do período
diastólica, com será discutido adiante. diastólico todo o período de
Essa revisão tem por objetivo analisar relaxamento miocárdico. A implicação
os principais mecanismos mais direta dessa forma de
fisiopatológicos envolvidos nas abordagem do ciclo cardíaco está no
alterações da função diastólica do fato de que, na diástole, estariam
ventrículo esquerdo hipertrofiado e refletidas apenas, as propriedades
apontar as propostas terapêuticas da mecânicas passivas do miocárdio e do
literatura. ventrículo.. Em outras palavras, a
As patologias condicionadoras de disfunção diastólica seria
sobrecarga isolada de volume, como conseqüência da alteração da rigidez
as insuficiências valvares, causam passiva muscular ou da complacência
hipertrofia excêntrica, a qual, ventricular. No entanto, como
caracteristicamente, não promove discutiremos mais adiante, também as
alterações primárias da função alterações da fase ativa de
diastólica. Por esse motivo, a relaxamento miocárdico podem
hipertrofia excêntrica não será interferir nas características
discutida. mecânicas passivas do músculo, isto
é, na sua rigidez passiva, e causar ou
DIÁSTOLE VENTRICULAR agravar a disfunção diastólica.
Classicamente, o período diastólico é Conclui-se que, independemente da
dividido, para efeito didático, em preferência por uma ou outra definição
quatro fases: relaxamento a respeito do período diastólico, todos
isovolumétrico, enchimento ventricular concordam que a disfunção
rápido, diástase e contração atrial. O ventricular, nessa fase do ciclo
relaxamento isovolumétrico consiste cardíaco, decorre de alterações do
no período durante o qual a pressão relaxamento muscular, da composição
intraventricular decresce rapidamente, do músculo e da complacência da
sem que haja variações do volume câmara.
ventricular, uma vez que as valvas O miocárdio normal, uma vez relaxado
mitral e aórtica estão fechadas. (desativado), é relativamente elástico
Quando a pressão intraventricular e oferece pouca resistência à
torna-se menor do que a pressão distensão, sob a força de enchimento
atrial, a valva mitral é aberta e ocorre ventricular. Deve-se salientar, a esse
a fase de enchimento rápido. Durante respeito, que a distensibilidade
esse período o ventrículo recebe em miocárdica não corresponde,
torno de 60% de seu volume diastólico necessariamente, à elasticidade da
total. A seguir ocorre a diástase, câmara ventricular, chamada de
caracterizada por fluxo de baixa complacência ventricular. A
velocidade, ao mesmo tempo que a complacência diastólica do ventrículo
pressão ventricular varia muito pouco. é o resultado da interação complexa
Durante a contração atrial, o fluxo de de diversos fatores: a própria rigidez
sangue ganha maior velocidade e o passiva do miocárdio, a geometria da
ventrículo recebe 20% de seu volume câmara, a interação entre os
total. ventrículos e a força de contenção do
pericárdio. Os dois últimos fatores pelas modificações da geometria da
(interação entre os ventrículos e força câmara ou pelo aumento da rigidez
de contenção do pericárdio) pouco passiva do miocárdio.
interferem na gênese da disfunção
diastólica observada nas patologias GEOMETRIA VENTRICULAR
que levam à hipertrofia concêntrica do A massa miocárdica aumentada, com
ventrículo esquerdo. Portanto, nessa valores baixos da relação
condição específica, a complacência volume/massa, pode, por si só,
anormal estará relacionada com as influenciar de forma desfavorável a
mudanças das características complacência ventricular, por meio da
mecânicas do miocárdio e da alteração geométrica da câmara. Um
geometria do ventrículo. ventrículo de parede grossa pode
exibir distensibilidade reduzida,
COMPLACÊNCIA DO independentemente de alterações
VENTRÍCULO ESQUERDO bioquímicas e estruturais do músculo.
A complacência ventricular pode ser Esse fator também deve ser levado
quantificada por meio das relações em conta nos ventrículos com
pressão-volume obtidas no final da cicatrizes decorrentes de reparação
diástole, quantificando-se a pressão e pós-infarto agudo do miocárdio. A
o volume diastólicos em diferentes complacência da câmara é tanto
graus de enchimento ventricular. menor quanto maior for a área de
Dessa forma, obtém-se a relação fibrose e o grau de deformação.
exponencial característica dos
sistemas viscoelásticos. A RIGIDEZ PASSIVA DO
complacência é dada pelo valor da MIOCÁRDIO
relação DV/DP (ml/mm de Hg) e Enquanto a complacência ventricular
corresponde à variação de volume refere-se à distensibilidade da
necessária para causar uma dada câmara, a rigidez passiva do
variação de pressão. Observe-se que, miocárdio refere-se à elasticidade do
para um mesmo ventrículo, quanto músculo. Embora o miocárdio mais
maior o volume da cavidade, maior rígido torne a câmara menos
será a variação de pressão para uma complacente, o inverso nem sempre é
dada variação de volume. Isto é, verdadeiro. Por exemplo, a câmara
quanto maior o estiramento ventricular de volume normal e parede
ventricular, menor será sua espessada, com relação
complacência e a câmara resistirá volume/massa diminuída, tem
com maior intensidade a estiramentos complacência reduzida, ainda que a
adicionais. rigidez passiva do miocárdio seja
Na hipertrofia miocárdica concêntrica, normal. Assim, a disfunção diastólica
a relação pressão-volume diastólica não significa, necessariamente,
final está desviada para cima e para a alteração do comportamento elástico
esquerda, caracterizando baixa do miocárdio, embora essa seja a
complacência. Como conseqüência, condição mais comum. A descrição
pequenas variações de volume quantitativa da rigidez passiva do
acompanham-se de grandes miocárdio é feita por meio da relação
variações de pressão, mesmo que a estresse-deformação, obtida no final
câmara esteja pouco distendida. da diástole. Essa é, à semelhança da
Clinicamente, essa alteração relação pressão-volume do ventrículo,
manifesta-se com sinais de uma função exponencial que define
hipertensão venocapilar pulmonar, na quanto o músculo pode ser
presença de volume diastólico deformado, quando submetido a uma
ventricular normal ou, até, subnormal. dada força de distensão. O músculo
Novamente, esse desvio é causado
de rigidez aumentada necessita de ocorre porque o crescimento dos
grande força para ser distendido. A diferentes componentes acontece de
força de distensão é representada forma proporcional.
pelo estresse diastólico final atuando O miocárdio normal possui, em seu
na parede do ventrículo, isto é, a pré- interstício, fibras colágenas que se
carga. O estresse diastólico final é organizam numa complexa rede
diretamente proporcional ao volume e fibrilar que circunda e suporta as
à pressão do ventrículo e é células musculares cardíacas e a
inversamente proporcional à microcirculação coronária. Essa
espessura da parede. Esse parâmetro matriz, além da função de suporte,
é expresso em gramas/cm2 . A interfere em outros mecanismos
deformação é a porcentagem de fisiológicos do músculo:
variação do comprimento do músculo 1. transmite a força gerada pelo
frente a uma dada variação de miócito para a câmara ventricular;
estresse. Uma vez que o músculo é 2. auxilia no relaxamento
um material elástico, a deformação miocárdico;
não é definitiva, isto é, cessada a 3. é um dos principais fatores
força de distensão, o miocárdio volta à determinantes da rigidez passiva
forma e ao comprimento de repouso, miocárdica e do volume ventricular;
quando o estresse é zero. Esse 4. participa dos mecanismos de
comportamento se mantém estável resistência à formação de aneurismas
enquanto a estrutura do tecido não for miocárdicos e roturas; e
modificada e assegura a manutenção 5. serve, juntamente com os outros
da forma ventricular. componentes do interstício, como
A rigidez passiva do miocárdio é tanto meio de difusão de oxigênio,
maior quanto maior for a pré-carga eletrólitos, macromoléculas e produtos
necessária para distendê-lo até o do metabolismo celular.
comprimento diastólico final. Tal Na hipertrofia secundária a
rigidez depende da composição sobrecarga crônica de pressão, e no
estrutural do miocárdio e do grau de tecido hipertrofiado remanescente de
ligação entre as proteínas contráteis infarto miocárdico, observa-se que a
do sarcômero, após o término da remodelação do tecido caracteriza-se
desativação muscular, isto é, da por aumento desproporcional de
intensidade do relaxamento. colágeno. Tendo em vista a grande
rigidez desse material, o aumento de
COMPOSIÇÃO ESTRUTURAL DO sua concentração no miocárdio afeta
MIOCÁRDIO a elasticidade do tecido e,
O miocárdio normal é composto de conseqüentemente, a função
miócitos, material intersticial e rede diastólica do ventrículo. Vários
vascular coronária. A rigidez passiva estudos demonstraram clara
do miocárdio, ou a sua associação entre concentração
distensibilidade, depende da miocárdica de colágeno e rigidez
concentração relativa de cada um passiva do músculo. Além disso, a
desses componentes. Cada presença de fibrose intersticial
componente tem sua própria rigidez e dificultaria a transferência de
a combinação equilibrada dos nutrientes para as células, diminuindo
diferentes materiais determina a sua viabilidade.
elasticidade típica do miocárdio Acredita-se que o principal estímulo
normal. Durante o crescimento dos para a hipertrofia dos miócitos é a
indivíduos e nas hipertrofias sobrecarga de pressão ou de volume.
ventriculares decorrentes de No entanto, recentemente, Brilla e col.
treinamento físico, a rigidez passiva propuseram que o crescimento do
do miocárdio se mantém estável. Isso material intersticial e a hiperplasia dos
fibroblastos seriam dependentes de intraventricular diminui rapidamente no
estímulo humoral. Segundo esses coração normal. Na fase inicial do
autores, a ativação do sistema renina- enchimento ventricular a pressão
angiotensina tecidual ou sistêmico continua a decrescer e o enchimento
seria requisito necessário para o ocorre, nesse período, não só pelo
desenvolvimento da fibrose intersticial gradiente de pressão atrioventricular,
observada em diversas condições após a abertura da valva mitral, mas
patológicas. Existem evidências também porque o relaxamento
experimentais que suportam essa ventricular cria uma pressão negativa
hipótese. A mais expressiva delas de sucção que aumenta o gradiente
seria o fato de, na hipertensão arterial atrioventricular. Esse é, na realidade,
sistêmica, haver aumento da o principal determinante do
concentração de colágeno no enchimento ventricular rápido.
miocárdio hipertrofiado do ventrículo Em circunstâncias fisiológicas, o
direito. Isto é, o ventrículo esquerdo é relaxamento muscular completa-se
a câmara sobrecarregada e com durante a fase de enchimento
aumento de massa. Contrariamente, ventricular rápido. Portanto, a
os dois ventrículos têm aumento do lentificação do relaxamento prejudica
colágeno intersticial. Esse aspecto é essa fase do enchimento ventricular. É
importante e necessita de confirmação importante ressaltar que o
em seres humanos, devido a sua relaxamento lento não resulta
repercussão no enfoque do necessariamente, em aumento da
tratamento da hipertrofia cardíaca. pressão diastólica final ou em
Dados experimentais indicam que a dispnéia. Mas, se o relaxamento não
simples regressão da massa se completa devido, por exemplo, a
miocárdica não garante a restauração taquicardia ou hipóxia, haverá
da função diastólica normal, se a diminuição da complacência
concentração de colágeno permanece ventricular, aumento da pressão
elevada (Matsubara BB. Dados não diastólica final e dispnéia.
publicados). Durante o desenvolvimento da
hipertrofia ocorre, no miócito, uma
RELAXAMENTO MIOCÁRDICO nova homeostase do Ca ++. As
O relaxamento miocárdico ocorre modificações que acompanham o
devido à retirada do cálcio (Ca++) do processo de adaptação do músculo à
citoplasma pelo retículo sobrecarga de trabalho resultam, no
endoplasmático. Trata-se de um citoplasma, em picos de movimento
processo ativo, com consumo de ATP, de Ca++ de amplitude normal, porém
e que é responsável pelo fim da mais prolongados. A densidade do íon
contração. Por meio desse é normal, mas sua permuta pelo Na +,
mecanismo a concentração por meio do sarcolema, está
citoplasmática de Ca++ reduz lentificada devido à baixa atividade e
rapidamente. Outro mecanismo densidade dos carreadores. Há
responsável pela retirada desse íon é diminuição na síntese de enzimas que
a permuta Na+/ Ca++ pelo sarcolema regulam o movimento intracelular de
durante a diástole. Por meio desse Ca++. Essas modificações, ao que
sistema, dois íons Na+ são parece, estão relacionadas com a
permutados por um íon Ca++, redução da enzima cálcio-ATPase que
utilizando-se de um carreador nos opera na recaptura do Ca ++ pelo
dois lados da membrana. retículo sarcoplasmático, durante a
Durante o curto período de diástole. Esses dados fornecem
relaxamento isovolumétrico, após o subsídios que explicam a baixa
fechamento da valva aórtica e antes tolerabilidade da célula hipertrofiada a
da abertura da valva mitral, a pressão qualquer aumento do influxo de Ca ++,
como o que ocorre na isquemia ou manometria do ventrículo esquerdo, a
após o estresse. É bem conhecida a ventriculografia com radionuclídeos e
exagerada disfunção diastólica que a ressonância nuclear magnética, são
ocorre nos corações hipertrofiados métodos úteis no diagnóstico da
submetidos a isquemia. Durante a disfunção diastólica do ventrículo
isquemia miocárdica há redução da esquerdo, associada ou não à
capacidade de captação de Ca ++ pelo disfunção sistólica.
retículo sarcoplasmático e o Caberia reforçar que os índices de
relaxamento não se completa. função diastólica utilizados
Mesmo na ausência de eventuais habitualmente na prática clínica não
episódios agudos de isquemia, a permitem distinguir qual ou quais os
hipóxia celular tem papel relevante no mecanismos fisiopatológicos
relaxamento anormal do miocárdio discutidos estariam envolvidos na
hipertrofiado. Estudos experimentais gênese da disfunção.
demonstraram que, na hipertrofia O tratamento dessa condição
ventricular secundária à sobrecarga patológica é de amplo espectro e tem
de pressão, há diminuição da por objetivo reduzir os efeitos de todas
densidade dos capilares miocárdicos as possíveis causas da disfunção. É
e redução da reserva vasodilatadora preciso: reduzir eventual hipovolemia,
coronária. A região subendocárdica é aumentar a complacência do leito
relativamente hipoperfundida e vascular venoso, reduzir a pressão
apresenta sinais de degeneração diastólica do ventrículo esquerdo,
celular dependente da hipóxia. normalizar os níveis de pressão
sistólica, retirar possível componente
TRATAMENTO DA DISFUNÇÃO de vasoespasmo coronário e melhorar
DIASTÓLICA o fluxo pela circulação colateral,
O reconhecimento clínico da manter a sístole atrial, e reduzir a
disfunção diastólica do ventrículo freqüência cardíaca. Essas medidas
esquerdo não é fácil. Sua são de efeitos a curto prazo. A médio
manifestação ocorre por meio de e longo prazo, idealmente, tenta-se
sinais e sintomas inespecíficos promover a reversão da hipertrofia e
relacionados, basicamente, com a da fibrose miocárdicas.
pressão venosa pulmonar elevada e
suas conseqüências. Há dispnéia de
graus variáveis, ritmo de galope,
especialmente às custas de 4ª bulha e
sinais radiológicos de congestão
pulmonar.
O diagnóstico da disfunção diastólica,
associada à hipertrofia ventricular
esquerda, foi grandemente facilitado
com o advento da doppler-
ecocardiografia. Atualmente, grande
número de serviços de cardiologia
conta com esse método não-invasivo,
o qual, progressivamente, torna-se
acessível à população em geral.
Por meio desse método, podem ser
facilmente analisados os parâmetros
que, indiretamente, refletem a função
diastólica ventricular.
Outros procedimentos, como a
cineangiografia associada à
Diuréticos restaurado. Os pacientes hipertensos
Continuam sendo de grande auxílio no ou coronariopatas se beneficiam com
tratamento da congestão venosa. Na seu uso. Cuidado deve ser tomado no
ausência de falência renal grave, caso de haver disfunção sistólica
todos os pacientes podem ter associada, devido ao efeito inotrópico
resposta positiva à terapêutica negativo. A longo prazo, parece que o
adequada com diuréticos e reduzir a uso continuado de bloqueadores dos
hipervolemia. Os cuidados adicionais canais de cálcio promove a reversão
relacionados ao uso dessa classe de da hipertrofia miocárdica.
drogas referem-se à hipopotassemia,
a qual deve ser corrigida. Podem ser Bloqueadores beta-adrenérgicos
usados diuréticos poupadores de Como os bloqueadores dos canais de
potássio. Recomenda-se cuidado com cálcio, são úteis nos casos de
a associação de inibidores da enzima disfunção sistólica. Pelo fato de
de conversão da angiotensina e reduzirem o consumo de oxigênio
diuréticos poupadores de potássio, miocárdico, estão indicados em
uma vez que há risco de pacientes portadores de insuficiência
hiperpotassemia. A terapêutica com coronária. É descrito que, nesses
diuréticos é especialmente útil na casos, há melhora do relaxamento
disfunção diastólica associada à isovolumétrico e da complacência
disfunção sistólica, quando o baixo ventricular. Seus efeitos desejáveis
débito cardíaco e a hipoperfusão renal incluem a redução da freqüência
causam retenção de sódio e água. cardíaca, aumentando o tempo para o
enchimento diastólico, além de reduzir
Nitratos a pressão arterial.
Têm efeito predominante na
Inibidores da enzima de conversão
capacitância venosa e podem ser
da angiotensina
usados, na maioria dos pacientes,
com segurança. Seu efeito Reduzem tanto o tônus venoso
venodilatador no território pulmonar quanto o arterial e, portanto, têm
diminui o retorno venoso para o efeito satisfatório no tratamento da
ventrículo esquerdo. Como resultado, disfunção diastólica. Esses agentes,
há redução do volume da câmara. potencialmente, preveniriam a
Estando a complacência diminuída, disfunção diastólica associada à
mesmo pequenos decréscimos no hipertrofia ventricular, considerando-
enchimento ventricular acompanham- se os dados experimentais e clínicos
se de quedas significativas da pressão que indicam ação anti-hipertrófica.
diastólica final, com alívio dos Também é descrito seu efeito em
sintomas. Secundariamente à queda prevenir e reverter a fibrose intersticial
da pressão diastólica, ocorre melhor miocárdica dependente de ativação
perfusão da região subendocárdica, do sistema renina-angiotensina
além de aumentar o fluxo de sangue tecidual ou sistêmico. Os inibidores da
pela circulação colateral. enzima de conversão da angiotensina
são largamente utilizados, atualmente,
Bloqueadores dos canais de cálcio no tratamento da hipertensão arterial
e insuficiência cardíaca de diferentes
São preferencialmente utilizados no
etiologias. Essa droga não deve ser
tratamento da disfunção associada à
utilizada nas circunstâncias em que a
hipertrofia concêntrica do ventrículo
redução da pós-carga resulta em
esquerdo, quando a função sistólica é
efeito hemodinâmico adverso. Essas
normal. Há melhora do relaxamento
circunstâncias incluem a
isovolumétrico e o enchimento
cardiomiopatia hipertrófica, a estenose
ventricular normal pode ser
aórtica grave e a cardiomiopatia hipertrófica hipertensiva do velho.

Você também pode gostar