Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
A
TES
•
•
Acusado por Meleto de corrom
per a juventude, Sócrates é con
•
APOLOGIA
,
DE
OCRATES
#III
PLATAO
APOLOGIA
DE
,
SOCRATES
Tradução, prefácio e notas
de
PINHARANDA GOMES
4." edi�ão
LISBOA
GUIMARÃES EDITORES, LDA.
1999
Título original: An:o/..:yt.a I:orxpa'tous
Tradução: Pinharanda Gomes
1." edição: 1988
2.a edição: 1993
3.a edição: 1997
4.a edição: 1999
,
PREFACIO
O filho do escultor Sofronisco e de sua mulher,
Fenareta, foi um pomo de discórdia em todo o es
tado ateniense. O incómodo da sua presença avolu
mou-se, não se sabe desde quando, até aos últimos
dias de vida - quando já atingira setenta e um anos.
A cidade tolerou-o enquanto lhe foi possível. A fi
gura mental de Sócrates, o espectro de perplexi
dade que ele fazia tombar sobre uma sociedade em
crise moral e política, tornavam-no configurado à
imagem de algo de sagrado, de que as sociedades
carecem, para si mesmas se purificarem - o <<bode
expiatório>>, o cordeiro inocente. Os dias da catárse
demoravam, envolvida Atenas nos pesadelos da
guerra peloponésica, nos sobressaltos dos jogos
da tirania e da democracia. Chegado o tempo da
colheita, a cidade pediria um exorcismo mortal.
E Sócrates foi o signo vital do exorcismo.
Sinal de contradição, suscitador de dúvidas, sus
pensor do juízo enquanto este não se revelasse apo
dítico, Sócrates orientava filhos de importantes fa
mílias para um itinerário conceptual que faiscava
no seu cruzamento com os caminhos de rotina da
cidade e com a axiologia do saber político. Mal
comparado, Sócrates era como que uma toupeira
mimndo o subsolo institucional. Onde levaria o seu
trabalho de maiêutica, que induzia num especioso,
ainda que não definitivo, cepticismo, caracterizado
por uma revisão, por uma anagnose, cujo efeito
imediato era o de colocar o discípulo num plano
de instabilidade, numa rampa que teria de subir
tantas vezes - como Sisífo - quantas as necessá
rias, até à visão do perfeito juízo? Atenas sentia-se
mal com Sócrates. Quem era ele, de resto, para
fazer tanta sombra aos ricos e aos poderosos,
aos magistrados e aos estrategas, aos literatos
e aos sofistas, aos atletas e aos cortesãos? Como
podia, este giróvago da cidade, este maieuta des
calço, gerar tanto mal-estar? Porque, em enigma
oracular, a Pítia havia de citar o seu nome, incomo
dando os padrões da estabilidade e da organização
política? A inveja cresceu à sua volta desde o duz
em que, num inexplicável atrevimento, ou num ma
licioso desafio, Querefonte se dirigiu ao santuário
de Delfos, interrogou o oráculo e ouviu este enigma:
1 .
«Sócrates é o mais sábio de todos os homens» (1).
Que ironia neste dito? Era a resposta do oráculo
a um homem possesso de uma crise de critério, qU/ll
esse que lhe permitia disti nguir o que não sabe sa
bendo que não sabe, do que não sabe pe nsando que
sabe? E que é saber, que natureza e que paradigma
a desse verbo substantivado, quem o pode garantir
como saber autêntico, imaculado da falácia, liberto
de potenciada ignorância?
Os dias do exorcismo foram os da Primavera de
399 a. C., quando Sócrates já at ingira a matura
idade de setenta e um anos, uma idade mais para
morrer do que para viver em desafio. Aos olhos da
cidade, o cognome de velhaco vestia como ajus
tada toga o corpo deste homem - velho e sábio.
A Assembleia dos 500 Heliastas recebeu uma
queixa: <<Sócrates é cu lpado de negar os deuses re
conhecidos pela cidade e de introduzir novas divin
dades : é também culpado de corromper a juven
tude» (2). Setença proposta: a petUl de morte.
Esta acusação foi levada aos quinhentos e um
juízes (os qu inhe ntos da ordem, acrescidos de mais
um, para evitar situações de empate na votação fi
nal) C> que a interpretaram como uma acusação de
provada e comprovada impiedade. Sócrates estava
ali, na presença do plenário, acusado de ser um ho
mem impiedoso, um descrente, um corruptor social.
Caso curioso é o de a Assembleia dos Heliastas
não ter de se reunir necessariamente em plenário
para julgar todos os processos. O julgamento de
Sócrates ocorreu, no entanto, em plenário, numa
encenação em que poderíamos colocar, no mais dis
tinto dos lugares, o lema «pela lei e pela grei». Todo
o estado ateniense estava ali para exorcizar o ma
ligno. Sócrates não acreditava em demónios? Não
era ele o próprio demónio malfazejo? A represen
tação judicial deste exorcismo não tornava evidente
o desfecho. Ou os Heliastas exorcizavam Sócrates
e obtinham dele a promessa de abandonar a filoso
fia; ou o exorcismo não resultava, e Sócrates teria
de morrer; ou o mesmo Sócrates exorcizava os
Heliastas e, nesse caso, era o espírito da cidade que
de algum modo morria. Afinal, e em contra do que
dizíamos, a representação judicial tornava evidente
o desfecho: a morte, fosse ela qual fosse, fosse ela
de quem fosse, era inevitável. Ou morria o filósofo,
ou morria o homem, ou mo"ia a lei ateniense.
Os acusadores constituíram-se em triunvirato.
Em primeiro lugar, Meleto, poeta, personagem do
diálogo Eutífron, insubstantivo mas testa de ferro,
porta-voz dos seus outros comparsas. Depois, Ânito,
general ateniense, que lutou pela implantação da
democracia contra o regime dos Trinta Tiranos, e
que tinha nula contemplação pelos Sofistas, aos
quais odiava e>. Platão meteu-o entre os dialogan
tes do Ménon, e Sócrates expressou críticas ao seu
comportamento porque Ãnito, que tinha um filho,
o pôs a trabalhar na sua oficina de curtumes, con
tra a opinião de Sócrates, que achava o moço ta
lhado para mais altos desígnios com isso suscitando
em Ãnito os ciúmes de pai. Sendo uma figura im
portante do partido popular, tendo sofrido o des
te"o durante o regime de Tirania, regressou a
Atenas em 404 a. C. com as tropas vencedoras, e
revelou dois fracos em sua vida: uma inimizade
profunda aos Sofistas, entre os quais situatJa a pes-
soa de Sócrates, e uma tendência política excessiva
mente intervencionista, a pontos de haver ganho
fama de corruptor dos tribunais. Os seus dias aca
baram em desg raç a: pouco depois da morte de Só
crates, foi lapidado, sob a acusação de caluniador.
Por fim, Lícon, um orador, ou logógrafo, tido e ha
vido como pobre, efeminado, e de ascendência
estrangeira, parodiado pelo poeta cómico Eupolis,
ainda que Aristófanes o c onsiderasse um aristo
crata.
O ambiente era ruidoso, por vezes quedo, mas
perturbado por vagas de murmúrios e de sons cicia
dos, ou por s úbi tas proclamações de opi nião, se os
ânimos se exaltavam. Variegado o corpo heliástico
-profissões as mais díspares, educação a mais con
trastante, s ensibilida des as mais extremadas. Meleto
podia refrescar-se numa ag radável sensação de una
nimidad e. Toda a assembleia, juízes e circunstantes,
era um espelho de perfeição. O rosto de Sócrates,
esse, dist inguia-se da unanimidade; ele era o rosto
do corruptor. E, nessa qualidade, ou por esse de
feit o, foi condenado sem apelo.
\ .,
' '
Quis defender-se a si mesmo. Lísias, orador de
nomeada, ofereceu-se a Sócrates para a apologia de
refutação das acusações, e para a súplica de uma
sentença benigna. Era possível que Lísias, treinado
nas lides forenses, conhecedor das psicologias he
liásticas, mais ajustado aos modos de reagir de tais
assembleias, detivesse o segredo- não necessaria
mente a arte de demonstrar a verdade,- do ínfimo
pormenor persuasivo, pelo qual fosse possível mo
ver a comiseração dos Quinhentos e Um. No en
tanto, se Sócrates fosse beneficiado, o benefício iria
a crédito, não da sua palavra, não da sua arte, não
do seu pensamento, mas da palavra, da arte e do
pensamento de um Sofista. Nesse caso, a filosofia
calava-se, cedendo o lugar. Situação limite: ou Só
crates optava por uma apologia a seu modo, ou re
corria a outro. No primeiro caso, assumia o filoso
far com todas as consequências de vida e de morte;
no segundo caso, confessava implicitamente a ine
ficácia do seu método perante a inte"ogação da
verdade em juízo. A arte que criava filosofia pro
punha-se um risco: o de mostrar-se incapaz de ser-
vir para demonstrar a verdade numa situação de
facto. Sócrates não tinha alternativa. A apologia de
Lísias não seria uma ajuda, seria uma tentação con
tra o seu método. Atenas veria como, afinal de con
tas, Lísias era mais hábil do que Sócrates. Por isso,
Sócrates recusou a apologia segundo Lísias. Esta
vam ali alguns dos seus amigos e), incluindo o jovem
e divino Platão, que, arrebatado pelo ambiente de
i njustiç a, subiu à tribuna e ainda esboçou o início
de uma intervenção, sendo interrompido pelos juízes,
que o mandaram regressar ao lugar (0) •
\ ll\
a Assembleia. Platão escreveu com brilhantismo de
forma e com analítica inteligência o teor da oração
socrática, evitando o esquematismo da Apologia
devida a Xenofonte, que, e apesar desse esquema
tismo, partilha do enquadramento histórico e dos
pontos de vista expressos por Platão que, vimo-lo,
ao tempo, era um jovem. A Platão terá interessado
mais o teor dialéctico do que o registo novelístico
do processo. Os factores emocionais então vividos
são de menor presença no relato platónico, pelo que
nos é difícil avaliar o clímax de pravocação que o
discurso de Sócrates por vezes atingiu, transmitindo
a ideia de que, algumas vezes, mais desfrutava o
tribunal do que solicitava iustiça. Não obstante os
acentos de ironia, de mordacidade, de provocatórüJ
animosidade, são variamente sensíveis no registo que
o leal discípulo exarou da apologia do mestre. «A
Apologia de Sócrates é, da parte de PbJtão, um acto
de piedade, um acto de justiça e um acto de fé» ( ' ) .
A estrutura textual aduz um discurso que, profe
rido de viva voz, sem recurso a prévio escrito, não
respeita o modelo clássico. Sócrates não era um so-
2
fista e, por isso, homem de singular arte, não tinha
de se ater aos modelos estereotipados. No entanto,
três partes ressaltam do contexo:
O Prólogo ( 17 a-18 a), a N arrativa e Argumento
( 18 a-26 a) intercortada por um esboço de diálogo,
quando Sócrates dirige os quesitos a Meleto (24 b
-26 a) e a Conclusão (28 a-42 a) havendo, nesta Con
clusão, lugar para dois distintos instantes: a Súplica
(35 a-38 b) e a Despedida (38 c42 a).
A definição das regras do jogo é vital no prólogo.
Sócrates propõe duas definições sobre a natureza
funcional do juiz e do orador. Ao juiz ( clcxliiDT'ÍI;, dicas
tés) compete julgar o justo, ao orador ( piJT"'!', rétor)
cumpre dizer a verdade. Seguindo as normas já esta
belecidas noutros momentos do seu magistério, como
no Fedro e), o verdadeiro discurso não é o persua
sivo, mas o que demonstra a verdade tal qual ela é,
sem contrafacção. O seu discurso será, por isso, o
de um homem de verdade, tendo em contemplação,
mais do que a defesa da sobrevivência, a revelação
do contraste entre o justo ( oiu".;, dika·:os) e o in
justo (ãJ,xali, ádikos). Deste modo, há-de jugular o
/X
tribunal à verdade e testá -lo na sua clarividência,
e de tal forma persistiu no teste, gue mais pareceu
apostado na demonstração de que a justiça não tinha
ali mora da, do que nas provas da su a inoc ência e
do que no recurso à miseric ó rdia para, em contr apar
tida, evitar a morte por c on de nação fore nse.
O argumento, que repassa a na"at iv a, reveste-se
de carácter exaustiva, uma vez que Sócrates memora
as mais antigas acus açõe s, quais essas que Aristó
fanes sugeriu, ao caricaturizá-lo na comédia As
Nuvens. O que de Sócrates se dizia, o que de Sócra
tes se jul gava, como se ele fpsse uma perso nalidade
oculta de oculta seita! Sócrates passava o tempo fora
de casa, sendo proverbial a sua falta de assistê ncia
à família. De manhã, já se encontrava no passeio
público. À tarde, era visto no mercado. Ao cair da
noite procurava os sítios onde as gentes costuma
vam reunir-se. Era v isto sempre a falar e todos os
circunstantes podiam escutar o q ue ele dizia (11). Não
fazia seita, não magi strava ensino clande s tino . O que
ensinava, porém, c mztrastav a com os padrões da
cidade, submetia a pesquisa de rigor o saber estabe-
lecido, sujeitava os tópicos ao paradoxo e causava,
algumas vezes, o paroxismo.
Ridículo era, da parte de A ristófanes, o confi
gurá-lo entre as nu vens, pe squisando de perto os
meteoros. Sócrates nunca tratou ex-professo, nem da
física, nem da natureza cósmica. Não era um peri
físico ao modo de A naxá goras C0). Toda a sua alma
se volt ava, com um carinho por vezes consu mi dor,
para a natureza do homem. A voc ação perifísica da
filosofia grega vira, em Sócrates, vocação periân
drica. O que o move, o perturba, o anima, é o conhe
cimento da natureza do homem e, por concomitân
cia, a defi nição de um método capaz de tornar o
homem melhor do que é, meta inatingível sem o re
curso primordial à autognose.
Havia outras memórias na lembrança dos juízes?
Outras memórias que foram omitidas? Quando,
depois do exorcismo consumado, se inquiriram das
veras razões que levaram o júri à su rdez perante os
argumentos do réu, Ésq uines expressou a opinião de
que Sócrates foi condenado por ter sido ad versário
do regime democrático, e por ter sido o educador
y l�
de Crítias, morto em combate no Pireu (403 a.C.)
que revelou um carácter violento e sanguinário,
enquanto membro dos Trinta (11). Neste caso, o jul
gamento constituiu uma farsa: o verdadeiro juízo
não veio à cena, tratou-se de uma vindicta da De
mocracia contra a Tirania, em que Sócrates serviu
de bode expiatório. Xenofonte, apaixonado apolo
gela de Sócrates, é de parecer que o desfecho do
processo ficou a dever-se às acusações injustas, não
ao ter sido mestre de Crítias, porque, na verdade,
Crítias não foi seu discípulo, ainda que procurasse
o convívio de Sócrates com o intuito de aprender
com ele a arte argumentativa, para vencer na vida
política C2). Também se aduz que Sócrates veio a ser
vítima dos Sofistas. Com efeito, ele foi condenado,
não pelos Sofistas, mas por ser <<sofista». O desa
parecimento de Sócrates da cena ateniense benefi
ciou a práxis sofística, porque esta deixou de estar
em presença de um homem que ensinava gratuita
mente, que não fazia do ensino uma economia. Mas
os Sofistas não aparecem no processo contra Sócra
tes. A presença de Lísias em oferta de ajuda é um
\ Tl1
indício. Dois poetas, aliados a um político, foram
os causadores da desgraça em que a justiça ateniense
veio a cair.
O réu faz demonstração de gratuitidade de ser
viço magistral. A educação (r.«,aai«, paideía) dos ho
mens é algo de muito belo, alia em si mesma as
ideias de sabedoria (acifi«, sofia) e de virtude ( �
areté). O esquema propõe o nó górdio: mas que é
a sabedoria? Quem é sábio?
Sócrates professa a ignorância e, com ela, o va
lor paidêutico da ignorância. A sabedoria não reside
no que sabe; reside no amor de saber. Por isso se
tornou um filósofo pedestre, um giróvago, batendo
à porta de todos os afamados de sábio, e, por fim,
passando adiante, porque a sabedoria ainda não
estava ali.
A imagem paradigmática do belo e do bom (uHv
x.��e;.J, kalón kágathón) não está no que parece.
Inere à própria verdade, porque a verdade não será
ma!s, nem menos, do que o nome terceiro, em que
unimos os outros dois nomes - a beleza e a bon
dade.
';1.1 ';
Podia o tribunal entender o enigma? Dificil
mente, já que, perante as provas dadas por Sócrates
de que, afinal, também ele cria nos deuses, - e Me
leto, no interrogatório, cantou a palinódia! - o tri
bunal não mostrou qualquer indício de persuasão,
como se, bloco de pedra inamovível, mais não visse
do que um Sócrates necessariamente asébeico, pos
sesso de impiedade. Ele bem podia estar certo de
que o rumo dos votos era favorável a Meleto, e este
não teria de pagar as custas processuais, o que seria
obrigatório, caso Meleto não obtivesse um quinto
dos votos.
O desrespeitado na Slla inocência respeita, ainda
assim, os costumes: suplica a benevolência do di
castério e sugere sentenças alternativas: ou pagar
uma multa, adequada às suas modestas posses, e
para tanto contava com a garantia de amigos pode
rosos ali presentes, ou, o que ainda seria melhor- o
propósito prm,ocatório de S ócrat e s é terrível neste
lugar- ser distinguido pela cidade, e obter o direito
de benemérito: ser sustentado no Pritaneu. O tri-
bunal reuniu e votou. Dos 501 votos, duzentos e
oitenta votaram a morte.
E que é a morte? Os parágrafos finais da apolo
gia são um exercício sobre a morte. Quem sabe o
que é a morte? Quem pode afirmar que ela é um
castigo? Quem testemunh ará que é uma libertação,
um prémio, uma graça? Que desejou aquele tribunal
ao sentenciar a morte? O condenado concluiu o
raciocín!o mediante uma profecia: <<Nenhum mal
pode acontecer a um homem de bem».
•
X',=
estilo da qual, em algumas passagens, não conse
guimos prescindir; a de Sant'Anna Dionísio (Lr.",
1961) pelo forma como recria o contexto dramá
tico; e a de Manuel Oliveira Pulquério (Coimbra,
1984) cuja utilidade foi, em muitos casos, decisiva.
Pinharanda Gomes
APOLOGIA DE SóCRATES
[Ético]
1. Qual a impressão que, cidadãos de l'l
I. " I
· • I i jj •r r
APOLOGIA DE SóCRATES 45
mónios?
- Não há.
- Bem me agrada ouvir essa respo s ta ,
embora relutante, j á que foram os j uízes
que te obr iga r am a responder. Então tu
dizes que eu creio que há demó n ios , sej am
eles novos ou antigos, pouco import a ; na
tua opinião creio em demón ios , foi isso
r· ·\
, 1" :
58 PLATÃO
e
2 1 . J ulgais que eu teria conseguido
vi v er tantos anos, se me tivesse dedicado
à vida pú b l ic a, e se, proce de nd o como um
homem de bem, t oma s se a peito a defesa
do j usto, cumprindo este dever acima de
tudo 7 Bem l o ng e de vós tal ideia, Atenien-
. ses! Ni n guém teria conseguido. Ora, que r
em público, quando oc upav a um cargo,
: quer em privado, sempre me conheceste
33 · o m�sm o, durante toda a m i n h a vida, _não
1 fazendo a mínima c o n c e ss ã o contrária à
atitude serena-:'•
; I
86 PLATÃO
c
30. Dese j o agora fazer um vaticínio
para vós, 6 vós, que me condenastes: acho
-me precisamente no instante em que os
homens mais costumam vatic i n ar, o tempo
em que a morte se aproxima.
Tenho a dizer-vos, cidadãos que me
assassinastes, que, logo depois do meu cas
tigo, sereis colhido por outro, ainda mais
severo, por Zeus! do que esse a que me
condenastes. Procedestes como procedes
tes, convencidos de que não teríeis de dar
contas da voss a vida, m as garanto-vos que
há-de suceder o contrário. Serão mais nu-
4 merosos os que vos forçarão a dardes con
tas do que agora, homens aos quais e u
conseguia deter sem que suspeitásseis; e
serão tanto mais severos quanto mais jo
vens, e a vossa irritação será ainda maior.
Se pensais que, matando homens, silen
ciais os que vos reprovam, porque não pr�
cedeis conforme deveis, estais enganados.
Tal modo de vos libertardes nem é possí-
APOLOGIA DE SOCRATES 89
(0
Exército a Tróia 0) , o Odisseu (8 1 ) , ou
S isífo (82) , ou mil outros , homens e mulhe
res que p ode rí am os nomear? Deve ser uma
enorme fel icidade o podermos fal ar e con
versar com eles, e p ode rmos interrogá-los.
Tanto mais que lá não se mata ninguém
por i sso ; se, com efe i to , o que nos dizem
é verdade , os que vivem nesse mundo são
imortais, e são também mais fel i zes do que
os homens aqu i .
PREFACIO
�4 b.
( 8 ) Apologia, 36 a .
(4) Platão , Ménon, 90 c-95 a.
(3) Apologia, 33 d.
( 11 ) Laércio , ob. cit. , loc. cit.
(1) Ãllge lo Ribeiro, prefácio a Apologia de Sócrates
( 1923 ) , pág. 13.
( 8) Cf. Platão, Fedro, 277 a-278 e .
( 11 ) Xenofonte, Memoráveis, I, 1, 10.
( 1 °) Id. Id., I, 1, 11.
(1 1) l!:squ 'no, Oontra Timaroo, 173.
( 12 ) Xenofonte, ob . cit., I, TI, 12.
i .
; ··'
APOLOGIA
•
(•) .Aldi;, akthes, de verdade , !Xli.Or� alétheia.
(2) Invocando pelo seu nome , .drcx, Dia.
P ) .1 uu e7níplO'V, t:-i bunal.
( • ) Não está gar an t id o que a passagem a l uda à
técnica dos argumentes contraditórios, cu dúplices
Htaab: M"/c&, dissoi logoi) u.ti' izada por Prctágoras de
Abdera ( Diógencs Laé rc i o , IX ) , e par·od ada per Aris
tófanes quando, em As Nuve-ns, a atribui a Sócrates.
( � ) Entre os comediógrafcs que satirizaram a per
sonalidad e de Sócrates contam-se , a.:em de Aristófanes,
Eup c lis, Crátino e Cália.s.
( 6 ) Ar 'stófanes , A s Nuvens, estreada v i nte e qua
tro anos antes do j u lgame n to de Sócrates. O diálogo
sobre o ju.stc: e o injusto, neste diálogo , atinge a.s ra i as
d a mordacidade , e Sóc ra t es aparece como o protóti po
dos Sofistas , a ' n da que o não fosse. Sócrates é a p:-e
sentado, por Aristófanes, suspenso no ar, estudando
os meteoros , observando o sol , enquanto os discipu'os
se debruçam procu ra ndo desvendar os segredos que
há sob a face da terra. Aristófanes es c o l he u -o porque
Sócrates era o mais oonhecido na ci dad e , pe.' o modo de
ser, pelos seus ccstumes , pel o seu dis.cu:-so inovaciona
dor e , também , por transmitir a i magem de um . g�
!ruidor das instituições e do saber-estabelecido.
7
98 PLATÃO
A U T PIA , d e T o m ás M o r u s
EL O 1 DA L U URA , de E rasm
E T É TI A, ele H egel ( 7 v I ) .
A CIDA DE D L de ampane la
O BA NQUE T E, de K i e r k egaa rd
A CONQ UJ T A DA FELICiDA DE, de B. Ru ell
VIDA N VA , de Da n t
MONA RQ UIA de Dante
O PRÍNCIPE, d e 1 aq u i a v e l
U M 1:1 MEM NA A H UMA NIDA DE, de F i de l i n de
F i g u e i redo
PRINCÍPI DA FIL SOFIA , de e arte
A VERDA DE D A M O R , de ol viev
E COLA FORMA L , de Á l v a r R ibe i r
REFLEXÃO, d e Agos t i n h o da i l va
INTR D UÇÃ À MEDICiNA EXPERIMENTA L , de . Be r-
na rd
A DUA E PANHA , de F i de l i no de F i g u e i red
ENTRE DOI UNI VERSO , de F i de l i n de F i g u e i redo
PRINCÍPIO DA FiL OSOFIA DE DiREI TO, de H ege l
A A PROXIMA ÇÕE , de Agos t i n h o da i l va
O CA VA L EIROS DO A MOR, de a m paio B r u n o
O ENIGMA POR TUGUÊS, d e F . da C u n ha Leão
INICIA ÇÃO FIL O ÓFiCA , de K . ja per
ECCE- HOM , de N ie t zsche
A REPÚBL ICA , de P l a t ão ( 3 v o l s . )
H MEM, d e T . Rost a n d
AS i M FA LA VA ZARA TU. TRA , de F . N i e t zs he
A GAIA CfÊNCIA , de F . N i e t z che
UMA INTERPRE TA ÇÃO DE FERNA NDO PE A , d e Pra-
de l i no R sa
I M A R Ã E E D I T O R E L O A .
•
ÚLT MO VO UM,_,
U B L CADOS NA C LECÇÃO
FILOSOFIA & EM �lOS
BANQUETE
Platão
FEDRO
Platão
ISA GO]E
Porfírio
ARTE POÉTICA
António Telmo
DISCURSO DO JvJÉTODO
Descartes
A SA UDADE PORTUGUESA
Carolina Michael is de Vasconcelos
CORRESPONDÊNCIA COM
WA G1VER
N ietzsche
ISBN 972-665-0 1 5- 1