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Marx: uma análise da influência marxista sobre as ciências

econômicas.

Karl Marx, sociólogo, filósofo, jornalista, economista, historiador; é, sem sobra


de dúvidas, um dos mais influentes pensadores da história. O seu trabalho
representou um marco para a crítica do sistema capitalista e as suas
consequências, sendo utilizado como catalisador de vários movimentos mundo
afora. Todavia, se há muitos que veem no alemão um pensador cujos trabalhos
são de grande valia e representativos do sistema em que vivemos, há, talvez em
maior proporção, aqueles que criticam o mesmo e citam a falta de sucesso dos
seus seguidores em derrubar o “maligno“ capitalismo. O objetivo desta
dissertação é apresentar o valor cientifico da obra de Marx, focando tanto nos
argumentos a favor quanto nos contra, sendo a argumentação baseada na sua
obra O Capital.
Primeiramente, urge pensarmos: Karl Marx apresentou, em sua obra, algo de
relevante para o estudo da economia? E a resposta é sim. Embora economistas
influentes, como Wojtek Kopczuk, apresentem a obra do mesmo como fraca em
argumentos científicos; em comprovação de fenômenos econômicos, não se
pode generalizar o conteúdo de seu trabalho. Tendo isso em mente, podemos
começar o desenvolvimento da argumentação.
Um dos principais pontos que Marx, na sua crítica da economia, enfatiza no
livro O Capital é a existência de uma tensão entre a classe trabalhadora e a
burguesia, ou, respectivamente, entre aqueles que vendem a sua força de
trabalho como mercadoria e aqueles que a compram em função de possuírem os
meios de produção. Para Karl Marx, devido ao fato de o empregador ter mais
poder de barganha que o empregado – o que é, para o sociólogo, um dos
motivos pelo qual a força de trabalho se apresenta como algo a ser vendido -,
muitas vezes este se submete a situações degradantes, impostas por aquele, para
poder ter o seu sustento no final do dia. Corroborando a ideia proposta acima
por meio da citação, “podes em 1 dia fazer fluir um quantum de minha força de
trabalho que é maior do que o que posso repor em 3 dias. O que tu assim ganhas
em trabalho, eu perco em substância de trabalho “(O Capital, 1867, p 348, tomo
1), torna-se possível dizer que a relação entre o trabalhador e aquele que paga
pela sua força de trabalho, no contexto em que Marx escreve o livro, se baseava
em uma constante expropriação dos trabalhadores.
Mas, pode-se pensar: Em que base científica e histórica se sustenta tal
afirmação? É sabido que, desde o início do capitalismo, tendo em vista a sua
lógica de acumulação de capital por meio da formação de mais-valia, o processo
de incrementação da mesma era proveniente de um incremento no mais-
trabalho. Ainda que o mais-trabalho possa crescer por melhoras de
produtividade, o mesmo, em considerável parte dos casos, tende a aumentar em
função de prolongamentos da jornada de trabalho. Utilizando como exemplo, a
Greve Geral de 1917, que, ocorrendo no contexto da primeira guerra mundial,
foi um movimento trabalhista brasileiro que reivindicava melhorias nas
condições de trabalho, um dos motivos que levaram à mesma foi o aumento da
jornada de trabalho em função do aumento de exportações para os países em
guerra. Sendo esse movimento de influência socialista, pode-se pensar na
literatura marxista como fundamental para a sua ignição, tendo em vista que,
após esta greve, a discussão acerca dos direitos trabalhistas aumentou
consideravelmente, tendo, no Brasil, auge com o lançamento da CLT
(Consolidação das Leis Trabalhistas) por parte de Getúlio Vargas em 1943.
Dando prosseguimento à análise da obra de Marx no contexto da economia,
urge, todavia, relembrar que há, sim, pontos na argumentação do alemão que
não se alicerçam na ciência. É exequível ver, por exemplo, no capítulo 23 de O
Capital, que o pensador socialista, ao trabalhar o seu entendimento acerca do
que ele chama de “lei geral da acumulação capitalista “, a apresenta como uma
lei universal que define que o desenvolvimento do capitalismo sempre leva a
uma crescente do “pauperismo“(ou pobreza). Ratificado pela citação, “Quanto
maiores a riqueza social, o capital em funcionamento, o volume e a energia de
seu crescimento [...] tanto maior o exército industrial de reserva.“(O Capital,
1867, p 274, tomo 2), Marx argumenta que um aumento da proporção do capital
constante em relação ao capital variável, ou seja, um aumento da produtividade
da força de trabalho; um recrudescimento da riqueza leva a um aumento do
exército industrial de reserva, ou, em termos mais superficiais, os
desempregados. Apesar desta afirmação não ser, exatamente, absurda, isto é um
fenômeno que tende a afetar os trabalhadores de modo veemente mais no curto-
prazo – como qualquer tipo de mudança considerada radical -, sendo que, com a
habituação da força de trabalho às demandas do mercado, muitos daqueles que,
de início, perderam os seus empregos, podem esperar estar até empregados com
uma melhor remuneração.
Para sustentar a afirmação supracitada, podemos usar como exemplo a terceira
revolução industrial, que, tendo início no pós-segunda guerra, viu o emergir de
diversas profissões relacionadas a áreas, como robótica, biotecnologia,
eletrônica, entre outras. Evidentemente, com o passar do século XX e XXI,
algumas profissões, como a de telefonista, desapareceram, todavia, outras, com
impacto até mais considerável no desenvolvimento da sociedade, vieram a se
estabelecer. E, embora o advento e a manutenção das leis trabalhistas tenham
sido fundamentais para a democratização do acesso a estas tecnologias, não se
pode dizer que o capitalismo, em sua totalidade, deixou de crescer por causa de
uma maior proteção da classe trabalhadora. Até citando o próprio Karl Marx
que, por meio de um breve crédito dado ao ilustre Adam Smith, se contradiz um
pouco na sua ideia extrema acerca da lei geral da acumulação capitalista, tem-
se: “Ou o preço do trabalho continua a se elevar, porque sua elevação não
perturba o progresso da acumulação; nisso não há nada de surpreendente, pois
como diz A. Smith [...] “(O Capital, 1867, p251, tomo 2).
Com base na análise da argumentação acima, pode-se dizer que o trabalho de
Karl Marx, embora de pouco valor científico em alguns casos, ainda se
apresenta como fundamental para uma compreensão mais profunda de alguns
tipos de fenômenos econômicos. Sem a influência do pensador do século XIX,
muitas lutas de relevância para o recrudescimento do bem-estar social poderiam
ter sido retardadas, quem sabe, até o momento atual. Deste modo, urge
avaliarmos esta e qualquer literatura com imparcialidade, para, assim, tirarmos
da mesma algo de valia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1 – Marx, Karl, O Capital. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe.
Apresentação de Jacob Gorender. Coordenação e revisão de Paul Singer. São
Paulo: Editora Nova Cultural Ltda: 1996.

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