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Apesar de ser conhecida por todos, a morte e seus rituais exigem a construção de novas
reflexões, numa perspectiva mais econômica e menos religiosas, mais exploradora e
menos sentimentalista, entrelaçando os valores, os preços, os modelos, os lugares e os
rituais, que definem o novo perfil econômico-social estabelecido pelo ato de morrer.
Maria Inês Cortêz de Oliveira sustenta que os funerais representavam num ritual de
nivelamento social. "A morte era uma das poucas chances, e a última, de estabelecer
simbolicamente a igualdade entre brancos e negros, escravos e senhores, ricos e pobres.
Viver mal, mas morrer bem, seria o lema. O pobre que consumia economias ou entrava
numa irmandade para ser enterrado com dignidade talvez desejasse se igualar aos
poderosos pelo menos uma vez na vida. Mas os poderosos repetidamente faziam da hora
da morte uma ocasião de reafirmar a distinção social em que viveram, contratando
inclusive os pobres para esse fim".
As pessoas vitimadas por doenças contagiosas eram enterradas longe das igrejas, e foi
em 1874 que o Bispo Frei Dom Manuel da Ressurreição, em São Paulo, resolveu adotar
o mesmo critério para os indigentes escravos e suplicados, escolhendo um terreno
pertencentes á Mitra, em frente à Chácara dos Ingleses, mais tarde chamado de largo de
São Paulo e Praça Almeida Júnior, onde se chegava pela atual rua da Glória e que era
delimitada pelas atuais ruas dos Estudantes, Galvão Bueno e Liberdade.
A pesquisa capitaneada por Carmen levou dois anos e foi motivada por um dilema
profissional: a professora não tinha informações sobre os antigos moradores para
repassar aos mais de cem alunos.
– Os túmulos forneceram muita informação por ser repletos de escrituras, mas foi
preciso mais dados. Por isso recorri ao Kolonie, que tinha obituários imensos – explica
a professora, que pesquisou a vida da população entre os anos de 1900 e 1920.
Com persistência, visitas quase diárias aos cemitérios e muita leitura, Carmen
identificou as epidemias que atingiram a região, entre elas as de tifo e difteria – que
acometeram dezenas de pessoas em 1907 e 1908 – e a gripe espanhola e coqueluche.
Também mostraram-se comuns mortes de mulheres depois do parto.
Desde o início do ano, ela utiliza a pesquisa em aula. As informações sobre o Vale do
Sol, que segundo ela eram poucas e contavam somente com registros dos primeiros
colonizadores agora são mais completas.
– Valeu a pena passar tanto tempo nos cemitérios. Agora as crianças da cidade vão
conhecer melhor a história dos antepassados – orgulha-se.
• Ele há 18 anos sofria de asma, sendo que este problema nos últimos anos se associou a
água no sangue, e a morte veio como salvadora do sofrimento no dia 22 de dezembro de
1913 (...). O falecido trabalhou por longos anos na fábrica de máquinas e locomotivas
em Essen. Ele imigrou com sua esposa e quatro filhos em março de 1878. Morou
primeiro em Karlsruhe (hoje Vera Cruz) e de lá se mudou para Linha Formosa (Vale do
Sol).
• Para todos os parentes, amigos e conhecidos, levamos ao conhecimento a triste notícia
de que, pela vontade de Deus, o onipotente, levou meu muito amado filho (...), o
solteirão Wilhelm Jeggli, que faleceu calmamente após um longo e pesado sofrimento.
Há seis meses adoeceu de influenza espanhola (...) Especial agradecimento (...) ao
senhor Antonio Teichmann de Linha Facão pelo transporte do falecido sem qualquer
despesa abaixo de torrencial chuva (...)