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Ten Cel Alberto Mendes Cardoso Analise da obra de SUN TZU 13315) 1G Colecao General Benicio Qs Treze Momentos - Andlise da Obra de Sun Tzu Na abertura de seu livro maior, Estratégia, Liddell Hart faz dezenove citagdes extraidas do pensamento de autores classicos sobre a guerra,’ da opiniao de um grande cabo de guerra no primeiro conflito mundial® e até de Shakespeare, em Hamlet.? Nada menos que treze delas sao de A Arte da Guerra, de Sun Tzu. Foi uma forma de o maior tratadista militar do Século XX explicitar para o ocidente a importancia de estudar os principios do mestre — posto que, na leitura da obra, ficaria implicita sua adeséo irrestrita ao conceito bésico da manobra indireta do grande general da Antiguidade chinesa. A razao de os conceitos de Sunt Tzu terem validade até os dias de hoje - e la se vao dois e meio milénios — se encontra no carater filos6fico central em seu tratado, com possibilidade de aplicagao nao restrita aos conflitos armados, mas, na pratica, a quase todos os setores da vida. E esta foi assim cabalmente metaforizada por Gongalves Dias na Cangao do Tamoio: “C...) A vida é luta renhida”.’ Em isso sendo verdade, os fundamentos da filosofia do mestre fazem parte do cotidiano dos Estados e governos, das nagées e sociedades, das familias e pessoas, seja em tempos de paz e tranquilidade seja nos momentos conturbados. Por isso tudo, 0 Centro de Comunicacaéo Social do Exército decidiu incluir Os Treze Momentos — Anélise da Obra de Sun Tzu, publicado pela Biblioteca do Exército, em 1987, no seu projeto de difusao de livros por meio da internet; 0 que muito me honrou, por ser o autor. Como comecei a manuscrevé-lo, ainda Capitao, no final da década de 1960, e encerrei no inicio do ano da publicagéo, pego a compreenséo dos leitores quanto a algumas opinides pessoais formadas por influéncia dos temas Gentrais naquele periodo, que podem estar anacrénicas — 0 que nao teria o mais infimo peso para deslustrar a atualidade e aplicabilidade da filosofia do mestre. O AUTOR ‘Belisério, Nopoleso, Clausewitz e Moltke. “Almirante De Robeck *At0 2, Cena 1 ~"C..1 com sabedoris ¢ elcence, com estratagemas, © com assertives enviessdas, por incertas descobrimos a diregéo certa." “Primeira estrofe: Néo chores, meu filho; /NBo chores, que e vide / € luta rerhide: / Viver & lutar: / A vida & combate, / Que os fracos abate, / Que os fortes, os bravos / S¢ pode exeltar: BIBLIOTECA DO EXERCITO EDITORA Publicagado 564 COLECAO GENERAL BENICIO Volume 253 Chefe da Secao de Publicagées Sebastiao Castro Capa e Arte Murillo Machado Montagem Solemar Miranda Copidesque e Revisao Alberto de Azevedo — Reg. Prof. Jorn, 12.593 Cardoso, Alberto Mendes, 1940 - C268 Os treze momentos : andlise da obra de Sun Tzu / Ten Cel Alberto Mendes Gardoso . — Rio de Janeiro : Biblioteca do Exér- cito, 1987. = (Biblioteca do. Exército ; $64. Colerao General Beni- cio ; v . 253) ISBN 85-7011-124-X 1, Sun Tzu - Critica @ interpretagéio, 2. Ciéncia militar. | Titulo. CDD 355 Direitos para esta edigao cedidos 4 Biblioteca do Exercito pelo autor. impresso no Brasil - Printed in Brazil TEN CEL ALBERTO MENDES CARDOSO OS TREZE MOMENTOS ANALISE DA OBRA DE SUN TZU BIBLIOTECA DO EXERCITO EDITORA Rio de Janeiro - RJ 1987 BIBLIOTECA DO EXERCITO FUNDADOR em 17 de dezembro de 1881 Franklin Américo de Menezes Déria, Baréo de Loreto REORGANIZADOR em 26 de junho de 1937, e fundador da Seco Editorial Gen Valentim Benfcio da Silva DIRETOR Cel Art Sady Nunes SUBDIRETOR -Cel Art Geraldo Martinez y Alonso CONSELHO EDITORIAL Militares Gen Div Ref Francisco de Paula e Azevedo Pondé nomeado em 10 de outubro de 1973 Gen Div Ref Jonas de‘Morais Correia Filho nomeado em 10 de outiibro de 1973 Maj Brig Oswaldo Terra de Faria nomeado em 23 de outubro de 1985 Cel Prof Celso José Pires nomeado em 7 de fevereiro de 1980 CMG R/Rm Max Justo Guedes nomeado em 17 de abril de 1980 Cel R-1 Asdrubal Esteves nomeado em 7 de novembro de 1983 Ten Cel Sérgio Roberto Dentino Morgado nomeado em 15 de julho de 1986 Ten Cel R-1 Carlos de Souza Scheliga (Relator deste Livro) nomeado em 25 de abril de 1975 Civis: Prof Francisco de Souza Brasil nomeado em 10 de outubro de 1973 Prof Ruy Vieira da Cunha nomeado em 10 de outubro de 1973 Prof. Américo Lourenco Jacobina Lacombe nomeado em 16 de julho de 1985 Biblioteca do Exército ~ Palécio Duque de Caxias— Praga Duque de Caxias, 25 Ala Mareflio Dias — 3° andar ~ Centro— RJ - CEP 20455 ~ Tels.: 253-7934 © 253-4637 —Endereco Telegréfico “BIBLIEX”. APRESENTAGAO Este livro do Ten Cel Inf Alberto Mendes Cardoso 6 bem um exemplo da inteligéncia de nossos oficiais. Os conceitos fundamenta- dos na experiéncia escolar e na leitura amadurecida que o autor téo claramente expressa, podem ser atribuldos, em grande parte, & convi- véncia que: ele teve como Instrutor-Chefe na Academia Militar das Agulhas Negras e como Instrutor de tatica e de estratégia na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. A lucidez de suas colocagées diante-dos parametros de Sun Tzu, projetados para os dias correntes, Ihe d& enorme credibilidade. O livro 6 também uma prova do valor do exército para os destinos de sua nagao, mais objetivamente, o valor de um general para a efi- ciéncia de seus comandados na guerra. Por isso ele servira de base a um melhor conhecimento da guerra, principalmente nos aspectos de estratégia e chefia militar. Feito sob encomenda da prépria BIBLIEX ao autor, agora trans- forma-se numa grande realizacéo em nossa bibliografia militar con- temporanea. AGRADECIMENTO Ao 11° Batalhao de Infantaria Motorizada (e de Montana), “Regimento Tiradentes”, que tenho a honra de comandar. SUMARIO INTRODUGAO 1 42 PARTE — ANALISE 7 O SOLDADO E O ESTADO........0. 0 cece eee 9 2 2 GRANDE ESTRATEGIA. ....2 0.0000 c cece eee nes 20 ESTRATEGIA OPERACIONAL...... 00.0 eee ee eves 35 4 A TATICA ooo idee cece eect ence nnn e nes 49 INFORMACOES .... 00. ccc ete tee ee eens 72 6 CHEFIA Loic cece eee e ete n eee n ere nes 104 2? PARTE — A ARTE DA GUERRA (TRADUGAO) 121 PLANEJAMENTO .... oo eee ccc ccc cece nese eee 123 2 A CONDUTA DA GUERRA... 6.66 eee nee 125 A ESTRATEGIA OFENSIVA.....000.0 00220000000 127 4 . PLANO TATICO... 2.0... cece eee cece cence 129 5 EMPREGO DA ENERGIA...............222202005 131 6 PONTOS FRACOS & FORTES............ eee. 133 7 MANOBRA 2.0... p cece cece cece cee e cece cerns 136 8 . AS NOVE VARIACOES........... 2:00 cece eee e eee 139 9 < O EXERCITO EM MARCHA........... 2.000000 een 141 10 _ CONFIGURACAO DO TERRENO .........00005 . 145 "1 . AS NOVE SITUACOES..... 0.0.0.0 cc cee eee ee . 148 12 ATAQUE COM FOGO...... cee eee cece eens 153 13 _ EMPREGO DE ESPIOES.......... 000s seve ee ees 155 BIBLIOGRAFIA 158 INTRODUGAO “A guerra é de importancia vital para o Estado.” Sun Tzu Wu, no primeiro pardgrafo de “A Arte da Guer- ra”. Este livro Meu primeiro contato com os Treze Capitulos de “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, foi em 1961, ainda Cadete, por intermédio da tradugao que Lionel Giles fez do chinés para o inglés no inicio deste século,1 presente de meu pai. A facil e apaixonante leitura do livrinho logo mostrou ao jovem iniciante da profissao militar que 0 pensamento exposto pelo grande Mestre chinés trazia em seus princfpios e aforismos muitos outros ensinamentos, além daqueles que se espera encontrar em um tratado sobre Estratégia e Tatica. Em cada novo pardagrafo, era feita uma descoberta. sobre um te- ma militar, que dava corpo e sentido de conjunto ao que era aprendi- do com os instrutores e professores, mas, sobretudo, abria-se a Sao para algo mais amplo e, ao mesmo tempo, profundo — descorti- nava-se uma verdadeira filosofia da guerra e. .. da vida. Assim, cada capitulo era um momento de persignada meditaco a respeito do saber militar, do ser militar e do saber ser. Um momento de guerra, mas também de vida. Treze Momentos de guerra e de vida. As sucessivas e agradaveis leituras do livro permitiram-me a compreensao Intima das idéias de Sun, que procurei transpor, como * Sun Tzu Wu, “The Art of War", The Military Service Publishing Company, Fennsylvania, EUA, 1957. Originalmente publicada por Luzac & Co., Lon- res, 1910. capitao, por volta de 1969, para uma tradugao, que objetivava unica- mente estreitar ainda mais os lagos pessoais com o texto. Ao longo do tempo, penso té-la aperfeigoado com a sintese de alguns conilitos de interpretagao do original, decorrentes da comparagdo da versao de Giles com o'igualmente excelente trabalho de Samuel B. Griffith, a mais profunda e completa anélise de ‘A Arte da Guerra”, das quan- tas que se publicaram no Ocidente.2 Em 1986, fui honrado com o convite-missd4o do amigo Coronel Maya Pedrosa, diretor da Biblioteca do Exército, que, sabedor de mi- nha admiragao pela obra de Sun Tzu, pediu-me para fazer um estudo, destacando sua atualidade e a validade dos conceitos emitidos pelo Mestre no perlodo classico da histéria da China.3 Antes de, propriamente, iniciar o trabalho, julguei necessdrio co- nhecer com certa profundidade a época em que o tratado de Sun teria sido escrito. Para tal, “mergulhei” no seu tempo e procure “viven- ciar” os habitos, costumes e tradigdes que o envolviam e que certa- mente tiveram influéncia sobre a obra. Era a China dos varios Estados independentes; dos ultimos trés séculos da longeva dinastia Chou (que dominou durante quase nove séculos); da disseminagdo, impregnacdo e consolidagao da ética do Confucionismo; da transi¢do da era “Primavera e Outono” (771 a 481 a.C.) — de exércitos amadores, comandados pelos préprios sobera- nos; por familiares seus ou por cortes&os de confianga — para 0 pe- tfodo dos “Reinos Combatentes” (453 a 221 a.C.)— com forgas re- gulares comandadas por profissionais, durante o qual a guerra de conquista para a expansao dos impérios era uma constante. Os estudiosos chineses divergem entre si a respeito da autoria dos: Treze Capitulos e da &poca em que foi escrito. Aspectos como 0 estilo literario, os termos empregados, os costumes mencionados na obra, a organizacao dos exércitos abordada, a tatica descrita, a con- dugao politica da guerra, a referéncia a Reinos inimigos, a identifica- g40 nominal do autor, o sistema agricola vigente, a duracdo das guer- ras, 0 adestramento das tropas, os armamentos citados, a auséncia do emprego da cavalaria e a concepgao filoséfica predominante ora $40 argumentos para uma corrente, ora para outra. A opiniéo melhor justificada e, portanto, mais convincente permi- te-nos concluir que “A Arte da Guerra” 6 obra de um sé autor — muito provavelmente chamado Sun Tzu —, que viveu na época dos “Reinos Combatentes”. Foi escrita em algum tempo entre 400 e 320 a.C. e nao em torno de 500 a.C., como foi inicialmente propagado no 2 «The Art of War", The Clarendon Press e Oxford University Press, 1963, tra- duzido para o francés por Francis Wang, Flammarion, Paris. 3 De 551 a.C., provavel data de nascimento de Confticio, ao fim da dinastia Chou, 249 a.C. Ocidente, com base na afirmacao de Ssu Ma Gh’ien, um dos comen- taristas do mais antigo tratado militar. Ainda segundo Ssu Ma Ch’ien, Sun Tzu teria sido 0 comandante do exército do Rei Holu, do Estado de Wu, no centro-leste da China, cuja capital seria a atual cidade de Wuchang, a oeste de Xangai. A. HUANG HO XANGAL(ATUAL) ‘OcEANG Pacleico AGHINA DA EPOCA DE SUN TZU Os Treze Capitulos abrangem, de uma forma algumas vezes de- sorganizada e fora de sequéncia, todos os assuntos basicos da pre- paragdo para a guerra e de sua condugao. Os criticos concordam em que essa apresentacao assistematica de idéias pode ser decorrente de indmeras modificagées que a obra vem sofrendo ao longo dos sé- culos por iniciativa de analistas que pretendem interpretar mais ade- quadamente o pensamento de Sun. Isso_€ bastante provdvel, pois é diffcil imaginar que um autor com tanta clarividéncia, objetividade e capacidade de estruturagéo légica do raciocinio escrevesse um livro que peca pela falta de mé- todo em algumas de suas passagens. Em decorréncia desse espargimento de idéias por todos os ca- pitulos, decidi dividir o todo em partes vinculadas aqueles temas ba- sicos da arte ar. Assim, organizei um fichdrio com idéias extraldas do livro e.ca- talogadas sob titulos como: Estratégia, Tética, Chefia, Seguranga, Surpresa, Estudo de Situagao, Inimigo, Terreno, Logfstica, Moral, Ini- ciativa, Defensiva, Ofensiva, Aliangas, Relagées do Militar com o Estado. Posteriormente, procurei restaurar 0 pensamento do Mestre chi- nés, atribuindo uma seqiiéncia aquelas idéias, que desse sentido a uma linha de raciocinio a respeito de cada um dos titulos. A estreita interdependéncia de alguns destes reduziu-os a seis, que nomeiam os capitulos da parte analltica do presente livro, a saber: “O Soldado e o Estado”, “Grande Estratégia”, “Estratégia Operacional”, “Tati- ca”, “informagées” e “Chefia”. Cada um desses capitulos tem uma curta introdugao, onde expo- nho alguns fundamentos doutrindérios e — sempre evitando criar po- lémica — minha posicao pessoal, sobre os quais assento, em segui- da, @ anélise do pensamento de Sun Tzu acerca do tema. O leitor perceber4 que esforcei-me. para revestir a primeira parte do livro da mesma conciséo que caracteriza o estilo de Sun, alon- gando-me apenas quando julguei necessério ao bom entendimento. A relativa falta de equilforio na extens&o dos seis capftulos deve- se 4 maior ou menor incidéncia de idéias com eles relacionadas, no texto de “A Arte da Guerra”. A segunda parte deste livro 6 a tradug¢éo dos Treze Capitulos. Como ja antecipei, ela tem por base as transposigées do chinés para 0 inglés feitas por Lionel Giles e por Samuel B. Giffith. Para dirimir os choques de interpretagao do pensamento de Sun Tzu, recorri a minha identificagao de vinte e cinco anos com as idéias do Mestre e a meus — ainda que modestos — conhecimentos especificos sobre os as- suntos em questo. Creio que ela atende & finalidade dupla de forne- cer ao leitor brasileiro uma alternativa para o acesso aos Treze Ca- pitulos e de servir de referéncia 4 analise apresentada na primeira parte. A importancia de “A Arte da Guerra” Apenas em 1772 0 Ocidente tomou conhecimento do tratado de Sun Tzu, por intermédio da versao de urh missionario jesuita em Pe- quim, Padre Amiot, publicada em Paris. Sua reedig&éo de 1782 pode, perfeitamente, ter sido lida por Na- poledo, entao jovem oficial, reconhecido por sua extraordinaria curio- sidade intelectual, que o fazia leitor dvido de todas as novas idéias publicadas. Creio, mesmo, que a preferéncia do grande corso pelas mano- bras de ala e sua engenhosa capacidade de fazer o inimigo disper- sar-se, enquanto ele concentrava suas forcgas, tem algo a ver com as idéias de manobra indireta e de concentragao para a batalha do Mes- tre chinés. . E mais: n&o tivesse a viiva de Clausewitz feito publicar o “Da Guerra”, na década de 1830, tao pobremente interpretado em seu conceito do “forte contra o forte do inimigo” e tao distorcidamente exaltado com base nas campanhas vitoriosas de Napoleéo, e a ma- nobra polltica e estratégica indireta proposta por Sun teria preponde- rado no século XIX e se projetado no século XX, com grande probabi- lidade de haver impedido as desgragas de 1870, 1914 e 1939. O Ocidente somente. se deu conta desse desnorteamento de ru- mo, quando as poténcias terrestres da Eur4sia lhe mostraram, apés 2 il Guerra Mundial, que liam Clausewitz de maneira inversa e que adotavam os princfpios de Sun Tzu como dogmas. A politica era a continuagao da guerra e a estratégia para sua execucao deveria ser indireta. Stalin, Kruschev e Mao foram mestres de péssimos alunos ocidentais. No Oeste, as Unicas vozes de peso que se levantaram, advertin- do para o erro, foram, inicialmente, Liddell Hart, na Estratégia Opera- cional, e, mais tarde, André Beaufre, na Estratégia Nacional, Tota! ou Grande Estratégia. Ambos retiram do “artiffcio do desvio" do autor chinés as bases para as suas “aproximacdo indireta” (L. Hart) e “estratégia indireta” (Beaufre). Porém, 6 o inglés quem mais deixa evidente a origem Suntzuniana de sua teoria da “esséncia concentrada da estratégia operacional e da tatica”, com a seqiiéncia “nossa dispersao — di- persdo do inimigo— nossa concentracao” e com a esmagadora pre- ponderancia de quinze citagdes de pensamentos de Sun contra ape- nas cinco de outros classicos, na abertura de seu livro-mor. Verifica-se, modernamente, o crescimento da atengao dedicada. ao estudo dos Treze Capftuios nas Forgas Armadas dos principais pafses. Inglaterra, Franga, Japao, Estados Unidos, Uniao Soviética a prépria China capitaneiam essa atividade. Quanto a nés, no Brasil, € preciso tira-los de algumas poucas prateleiras onde aguardam nossa ateng&o e transformd-los em Treze Momentos da guerra e da vida. PRIMEIRA PARTE ANALISE 1 0 SOLDADO E 0 ESTADO “Na guerra, o general recebe suas ordens do sobe- rano."" Sun Tzu, “A Arte da Guerra”, Cap. 7 Generalidades A assertiva de Sun Tzu 6 0 extrato mais simples de toda uma teoria de relacionamento entre o Governo e a instituigéo militar. Em sua concis&o,.ela expressa um universo de normas, costumes, tradi- des e leis que fazem do soldado um membro daquela classe magnl- fica de pessoas que colocam acima de seus interesses proprios uma inesgotavel vocagao de servir. No caso, servir & Nagéo, obedecendo aqueles a quem ela dele- gou poderes para governé-la. Essa obediéncia néo se esgota no quadro episdédico do emprego das Forgas Armadas na guerra. Ela se projeta na paz, quando o mi- litar dedica-se ao preparo para a dissuasao. N&o poderia ser de outra forma, porque a subordinagdo do brago armado da Nagao ao seu delegado supremo 6 uma premissa para a manutengao da autoridade daquela por intermédio deste. Que processo 6 esse, que leva um segmento da Nagao, armado e poderoso, a submeter-se a um grupo desarmado e fisicamente vul- neravel, por ela designado para dirigi-la? E um fendmeno sociolégico de base estritamente ética, que deve ser compreendido desde o nascedouro, pelo entendimento da finali- dade da profissdo militar e dos conseqientes deveres do profissional militar para com a cliente do seu servico, a Nagao. De todos os indicadores da natureza profissional de uma deter- minada atividade, trés se destacam e merecem ser analisados sob 0 enfoque da fungao militar. Sdo eles: 0 dominio em que se exerce a atividade, ou seja, sua competéncia; sua responsabilidade perante a sociedade; e o espirito de corporagéo de seus membros. O terceiro, mais perceptivel que os demais. Os integrantes da instituigaéo militar tem grande facilidade de se sentirem componentes de uma entidade que se distingue das demais, desde a exigéncia de um vestuario especffico e discriminante, que os uniformiza, até a natureza eminentemente coletiva do servigo que presta. (Coletiva no exercicio, posto que, isoladamente o militar nao tem condigées de prestar & sociedade o beneffcio que ela requer de- le; e coletiva no efeito, pois seu servico destina-se a beneficiar a so- ciedade como um todo.) © grupo militar vive envolto em um ambiente que o leva a racio- cinar em termos coletivos, como corporagaéo que depende do seu grau de coes4o interna para se fazer Util 4 Sociedade Nacional. Isso d& aos membros um sentimento de responsabilidade individual pe- rante 0 grupo, que muito favorece o desempenho da instituigao e, em conseqiiéncia, 0 fornecimento. do seu servigo & sociedade. Que servico 6 esse? Entra-se na seara daquele primeiro indicador: a competéncia da profissao. A atividade militar atua no campo da seguranga da sociedade; no caso das Forgas Armadas, da seguranga da Nagao. Da seguranga externa, garantindo-a contra ameagas atuais ou latentes ao territério (para simplificar 0 conceito de ameaga externa a ser neutralizada pelo segmento militar da Sociedade Nacional), Da seguranga interna, participando do zelo da Nagao para com sua integridade, tranqUilida- de e ordem, para com o respeito & continuidade de suas instituigdes politicas e sociais, e para com a afirmagao de sua maneira nacional voluntaria de ser. Em uma sé express4o: a abrangéncia da profiss4o militar 6 a da “administragéo da seguranca”.! Isso quer dizer que o profissional militar tem delegacéo da So- ciedade Nacional para administrar a sua seguranga. Para tanto, ela, a NagAo, lhe confia os meios de defesa, se néo os necessé4rios, pelo menos os possiveis, de acordo com a capacidade do Poder Nacional e com as prioridades de distribuigéo de recursos estabelecidas pelo Governo. Os meios de defesa incluem os instrumentos legais que balizam © emprego da forga militar; a organizagao e o equipamento das unida- ‘ Adaptacéo, a “nossa maneira de ser", da expressdo “‘administracdo da vio- léncia", criada por Harold Lasswell e citada por Samuel Huntington em “The Soldier'and the State” (Harvard University Press, 1958), de cuja obra tomei emprestado 0 titulo deste capitulo. 10 des militares; os aquartelamentos e os campos de instrugao para o preparo da tropa; os recursos orcamentérios etc. Tudo 0 que se des- tine a permitir aos profissionais militares responder perante a Nagao pela capacitagéo das Forcas Armadas ao cumprimento de sua par- cela de responsabilidade na garantia de sua seguranca. Entra-se, assim, naturalmente, na 4rea da responsabilidade so- cial da profiss4o militar, 0 segundo indicador relacionado. O profissional militar deve estar em condicdes de, a qualquer momento, prestar contas & Nagao acerca de como vem fazendo uso dos meios de defesa e da confianga que ela deposita nele. A maneira mais positiva e construtiva de fazé-lo é preparar-se diuturnamente para 0 emprego na defesa externa e interna e, dessa forma, conseguir transformar 0 componente militar da Nagao em um de seus instrumentos dissuasores contra eventuais inimigos. Essa 6 uma idéia que sera abordada pelo menos duas vezes neste livro, por se entender que, quando uma Nagao se vé obrigada a empregar a express&o militar de seu Poder de uma forma direta e preponderante, ela o faz para corrigir um fracasso inicial dela, Na- Gao, como um todo, e de suas Forgas Armadas, em particular — a incapacidade para dissuadir aqueles possfveis adversdrios, agora concretos. Além disso, retorna-se a esse conceito, também porque nele ha um motivo positivo de realizacao profissional, que destréi a “filoso- fia” irénica dos antimilitaristas gratuitos que fecham a atividade mili- tar de frustrante, por dever sua existéncia a uma finalidade que seus membros néo desejam — a guerra. Certamente, desejar a guerra é para psicéticos, tanto quanto 6 deles o conceito de que ela 6 um fim em si mesma e inevitavel. O militar profissional que a Nac&o deseja 6 aquele que cumpre seu papel no Estado evitando a guerra pela dissuasao, obtida por meio de sua capacidade operacional. O relacionamento segundo Sun Tzu A 6poca em que “A Arte da Guerra” foi escrita — 0 perfodo dos “Reinos Combatentes”, de 453 a 221 a.C. —, alguns Estados chine- ses haviam recém-organizado seus exércitos permanentes, com hie- rarquia nao totalmente estabelecida, que inclufa um comandante ge- ral, cuja figura Sun Tzu distingue perfeitamente da do governante, ao longo de toda a obra. E importante atentar para esse aspecto, para compreender que, quando aborda algumas 4reas hoje inquestionavelmente da respon- sabilidade do chefe do Governo ou de um comandante militar, ele esta sendo pioneiro na codificagao das atribuigdes de um e de outro. Quando o Mestre chinés afirma que “na guerra, 0 general recebe 11 delegacao do soberano para mobilizar a populacdo, reunir o exército e concentrar suas forcas”,2 ele nao esta apenas reiterando a decla- ragao da epfgrafe. Est4, também, fixando a rea da competéncia mili- tar, delimitada pelo governante, que, simultaneamente, repassa para 0 chefe militar parte da delegagao que a Nagao Ihe deu (naquele tem- po, parte da autoridade conquistada pela dinastia no poder). Embora nao seja relevante para a analise do relacionamento en- tre o soldado e o Estado, é interessante notar que Sun restringe a mobilizagao sob responsabilidade do “general” 4 da populagao. Esta- ria ele antecipando que as demais 4reas de mobilizagao exigem o esforco de todos os setores do Governo e da Nac&o? E importante constatar que Sun Tzu estabelece limites para o dom{nio da atividade militar e uma nftida relag&o de subordinag4o. Quanto aos primeiros, ele nao os restringe ao conflito em si, mas estende-os, de modo a abranger as conseqliéncias do desgaste das forgas militares e da economia nacional sobre a prépria estabilidade do Governo, em uma guerra prolongada ou inconclusa: “Ora, quando suas armas estiverem sem gume, o ardor (dos sol- dados) arrefecido, os homens exauridos e o dinheiro gasto, outros caudilhos surgiréo para tirar proveito de sua desgraga. Entaéo, ne- nhum homem, por mais sabio, sera capaz de evitar as conseqiiéncias que devem advir”.3 N&o s&o poucos, nem remotos, os exemplos que confirmam essa adverténcia doutrinaéria de Sun Tzu. A excegao contemporanea a — guerra entre o Ir& e o Iraque, indefinida e longa — até o momento dessa anélise ainda nao havia gerado a queda de qualquer dos dois Governos, devido ao caréter religioso fanatico do conflito e da falta de oposigées internas fortes e organizadas. Assim, seja na defesa externa, como dissuasor ou conquistador; seja no ambito interno, como elemento catalisador do apoio ao Go- verno, pelo efeito aglutinador das vit6rias militares contra o inimigo externo ou pela neutralizag&o do inimigo interno: .. 0 general é 0 baluarte do Estado: se o baluarte for perfeito em todos Os pontos, o Estado seré forte; se for defeituoso, o Estado sera fraco."4 E por essa raz4o que Chang Yu, comentarista de Sun, afirma: “Um soberano que souber escolher o general qualificado conheceré a prosperidade; 0 que nao o souber ser4 destrufdo."5 2 98 Parte, Cap. 8. 3 28 Parte, Cap. 2. 4 22 Parte, Cap. 3. ® Todas as citagées de comentaristas de Sun Tzu sdo extraldas de Samuel B. Griffith, obra citada. - 12 A relagdo de subordinagao do militar ao governante é encarada por Sun sob o aspecto da responsabilidade de ambos. Tanto deve o primeiro ter consciéncia de que tem de obedecer aquele que enfeixa nas maos a autoridade delegada para dirigir a Nacdo, como deve o outro respeitar a Area da competéncia do profissional militar, evitando ingeréncia indevida ou emprego inadequado. Sun Tzu, que tanto exalta o primeiro aspecto, nao deixa de cha- mar a atencao para falhas graves que 0 comandante supremo pode cometer nesse relacionamento: “Ha trés maneiras pelas quais um soberano pode trazer desgra- Ga para seu exército: -ordenando que o exército avance ou retraia, ignorando o fato de que ele nado pode obedecer. Isso fara 0 exército vacilar; -tentando dirigir 0 exército de maneira idéntica & que administra o, sino, desconhecendo os assuntos militares. Isso desorienta os Oficiais; -empregando indiscriminadamente os oficiais de seu exército, ignorando os princfpios militares de comando. Isso abala a confianga dos oficiais. “Se o exército estiver intranqiilo e descrente, sera certo surgirem problemas com soberanos vizinhos. Isso, simplesmente, equivale, nos resultados, a trazer a anarquia para dentro do exército e abrir mo da vitéria."6 A responsabilidade de deter 0 comando supremo das Forgas Ar- madas exige do governante um conhecimento abrangente de suas caracteristicas, peculiaridades, possibilidades e limitacdes, que so pode obter de uma assessoria especializada e competente. De outra maneira, incorrer4, fatalmente, na observac¢éo de Clausewitz, o pri- meiro grande apologista moderno da subordinagaéo da conduta da guerra a politica: “A polltica somente exerce uma influéncia negativa na guerra, pela orientagao que Ihe impde, quando deseja um efeito erréneo de certos meios e medidas militares; um efeito oposto a sua natureza. Da mesma forma que uma pessoa algumas vezes diz o que nao pre- tende, em um idioma que ndo domina completamente, a politica fre- quentemente toma decisées que nao correspondem as suas préprias intengées,” “Isso tem ocorrido amitide e demonstra que um certo reconheci- mento dos assuntos militares 6 essencial para a conducao das rela- c6es polfticas.”7 ® Idem. 7 Karl von Clausewitz, “On War", Combat Forces Press, Washington, pag. 599. 13 O governante tem de conscientizar-se — e af se inclui seu Gabi- nete de Crise ou de Guerra e toda sua assessoria — de que um co- mandante de Teatro de Operages deve ter liberdade de acao para tomar grandes decis6es estratégicas operacionais,8 porque é ele que vive a guerra em sua transicao da politica para as operagées milita- res. Ninguém melhor do que ele para perceber qual a evolugao da campanha que melhor atende & polftica de guerra, de acordo com o permitido pelas circunstancias no Teatro. Assim, 0 governante evita- ra incidir na primeira daquelas interferéncias indesej4veis menciona- das por Sun Tzu. Deve considerar, também, que, dentro de uma linha de obedién- cia e lealdade ao Estado, as Forgas Armadas tém um cédigo interno préprio, que faz parte do seu espfrito de corporacéo e que 6 respei- tado por seus membros. N&o convém — nem é preciso — interferir nessa 4rea, para nao incorrer nas outras duas ingeréncias prejudi- ciais. Ha, portanto, muito de arte na conduc4o, pelo governante, do re- lacionamento com o segmento militar do Estado. De arte e de ética. Quando falta a arte e se fere a Etica, ou quando as circunstan- cias no Teatro o exijam do estrategista operacional, para o bem da campanha e conseqiiente garantia de conquista dos objetivos de guerra (se estes nao foram modificados pelo governante), Sun Tzu nao vacila em afirmar que: “H& casos em que as ordens do Soberano nao devem ser exe- cutadas."9 “Se for racionalmente certo que o combate resultard em vitdria, vocé deve lutar, mesmo que o governante o profba. Se se prenunciar que 0 combate no resultaré em vit6ria, vocé nao deve lutar, mesmo contrariando ordem do governante.""10 O Mestre chinés nao advoga, em absoluto, a desobediéncia como um princfpio, senéo como excegao. Em nenhum momento ele admite a total irresponsabilidade do chefe militar, como o fez, por exemplo, o virtuosista Wei Liao Tzu: “AS armas sao instrumentos de mau agouro e a guerra 6 contré- ria @ virtude. O general € o ministro da Morte, que nao é responsavel perante os céus, em cima; nem perante a terra, embaixo; nem pe- rante o inimigo, a frente; nem perante o Soberano, a retaguarda.” ® A Estratégia Operacional 6 a estratégia do Teatro de Operag6es. Serd anali- sada no Capitulo 3 dessa 1# Parte. ° 28 Parte, Cap. 8. 1° 28 Parte, Cap. 10. 14 Quem afirma que “o general prepara seus meios para executar os planos do governante”’11 nao 6 um adepto da insubordinacéo sis- tematica. Sun apenas coloca & consideragao o fato pratico, decorrente de uma crucial decisao pela desobediéncia, que pode abalar uma das estruturas que sustentam a instituig&o militar, como ela foi original- mente concebida. E o faz, partindo da premissa de que o chefe militar que tomar to grave decis4o nao estar& sendo levado por interesses pessoais: “O general que (desobedecendo ao governante) avancar sem ambicionar fama e retrair sem temer cair em desgraga, cujo nico pensamento for proteger seu pals e prestar um bom servico ao Seu Soberano, é a jéia do Estado,’"12 No entanto, nado bastam o desprendimento e a boa-fé para justifi- car-se esse tipo de indisciplina. E imperioso que os motivos sejam realmente incontornaveis e as boas intengdes tenham respaldo em algo muito superior ao culto da disciplina. Quando se raciocina no quadro da ruptura total e definitiva dos lagos de subordinagao militar ao Poder Civil — 0 que.é relativamente comum em pafses com instituigées polfticas frageis —, a legitimida- de da decisao dependera do interesse nacional em jogo e do apoio da Nagao. Os chefes militares que se virem face a esse supremo constran- gimento néo podem admitir qualquer margem de risco — por menor que seja — de estimar mal a situagéo no pais, de confundir o con- juntural com o institucional, de interpretar distorcidamente os anseios nacionais, de ver antagonismos com olhos preconceituosos, de iden- tificar inimigos da sociedade segundo padrées estereotipados, de fa- vorecer faccGes em detrimento da Nagao e de falhar no concluir que © Governo esta fazendo mau uso do Poder Civil a ele delegado pela Sociedade Nacional. Sendo, ao invés de salvar, usurpar; em lugar de atender & Na- G40, preponderar sobre ela; ao invés de permitir tempo a prépria so- ciedade para empregar instrumentos institucionais para a corre¢ao de conjunturas, agodar-se na solugdo de forga. Ainda que de boa-{é. Essa boa-fé, que pode ser acompanhada de uma vis4o messiani- ca distorcida da necessidade da intervengao militar no processo poll- tico (uma extrapolagéo do conceito de desobediéncia justificada de Sun Tzu), normalmente floresce no espirito do general-estadista de que nos fala Clausewitz: “A condugao da guerra como um todo ou de seus grandes atos, "* 28 Parte, Cap. 11. 1? 28 Parte, Cap. 10. 15 que denominamos campanhas, para um final brilhante, requer uma vi- s4o clara do Amago da politica do Estado, em suas relagées superio- res. A conduta da guerra e a politica governamental coincidem nesse ponto e o general torna-se, ao mesmo tempo, um estadista.”13 O hébito profissional de raciocinar também como estadista, em tempo de guerra ou na preparac4o para as hipéteses de guerra, po- de eventualmente derivar para uma preocupacao — justificada ou n&éo — com a politica de governo e uma conseqiiente tendéncia para a intervengao. Tal atitude nao pode tornar-se regra, a fim de que nao se incorra nos riscos anteriormente relacionados. Para tanto, basta continuar com Clausewitz, dois paragrafos adiante: “Eu digo que o general torna-se um estadista, mas ele nao deve deixar de sero general.”14 Adverténcia que pode ser complementada: ... 0 general da Na- ¢4o, a “jbia do Estado”. A defesa da intervengao das Forcas Armadas na conducao polfti- ca do Estado nao é a impressao que se deseja causar ao leitor. Ao contrario ela 6 vista como indesejdvel e geradora‘de sérias distor- gées no entendimento do profissional militar, formado em um am- biente de excecdo, acerca do seu papel na sociedade.15 Tampouco se devia estabelecer polémica, apesar de 0 tema tra- zer em si uma forte carga para detonar o sensibilissimo explosivo composto de opinides, convicgses, ressentimentos, paixdes e, So- bretudo, da recente experiéncia brasileira, ainda em fase de julga- mento histérico. Apenas nao se quer furtar a desenvolver uma idéia sugerida pelo inspirador desse livro, quando sai da linha puramente bélica — “A arte da guerra é de importancia vital para 0 Estado’16 —, aborda a relagéo de subordinagao da express&o militar do Poder Nacional ao chefe do Governo e entreabre uma janela para a situac4o extraordi- naria da desobediéncia militar. Essa explicagdéo se faz necess4ria, no momento em que a anali- se se encaminha para uma viséo um pouco mais profunda, através daquela fresta deixada por Sun Tzu. Trata-se do problema da dupla lealdade a que o militar profissio- nal se vé submetido — ao governante e & Nagéo — o qual, como foi visto, decorre de um sistema de poderes delegados inter-relaciona- dos, representados pelos lados de um triangulo que tem nos vértices 13 Obra citada, pag. 45. '* Idem ‘5 Mesmo quando a intervencao tiver sido inevitavel. 16 92 Parte, Cap. 1. 16

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