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Capa: L. S. Almeida
Todos os fatos, nomes e acontecimentos são ficção, toda e qualquer semelhança com a
realidade é mera coincidência.
Todos os aspectos retratados nessa obra são meramente fictícios. Nomes, lugares e
acontecimentos e alguns costumes são fruto da imaginação!
Sinopse:
Quando tinha dezenove anos, Lilian Craig já havia descoberto que tinha verdadeiro pavor
de crianças, mas quando um imprevisto acontece, ela se vê se tornando mãe antes mesmo do
previsto. Na volta de uma visita a sua irmã, ela ouve um choro de criança e se depara com um
bebê abandonado em uma cesta. Movida pela compaixão ela o leva para casa e o toma para si.
Mesmo passado quatro anos, Allan O'Brien ainda não conseguiu superar a fuga da esposa
com seu pequeno filho e apesar de ter vasculhado quase toda a Escócia não conseguiu encontrá-la.
Por conta de um convite de casamento ele acaba indo até Villat representando seu clã. Tudo
parecia normal, mas quando ele passou os olhos pela festa encontrou uma criança aparentando ter
a mesma idade de seu filho e com os mesmos traços de seu rosto.
Allan decide investigar se aquela criança pode ser realmente seu filho, para isso ele terá
que enfrentar a mãe do pequenino que fará de tudo para não deixá-lo se aproximar. Mas quando
provas começam a surgir revelando que ele é mesmo o pai do pequeno Walace, Lilian tem que
reconhecer que Allan tem direitos sobre a criança, direitos esse que o dá liberdade de levar o
filho para longe. Porém, quando Lilian Craig coloca algo na cabeça ninguém pode tirá-lo e para
ficar perto do filho fará de tudo, até mesmo casar-se com um desconhecido.
Sumário
AGRADECIMENTOS
ANTES DE LER
ORDEM DOS LIVROS
Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capítulo XXXIV
Epílogo
NOTA DA AUTORA
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS
Para minha mãe, a verdadeira guerreira da minha vida!
AGRADECIMENTOS
Olá pessoas!
É com muita emoção que venho fazer esses agradecimentos.
Em primeiro lugar quero agradecer a DEUS! ELE que é meu tudo, meu alicerce, minha
vida e meu ar. Quem sempre me dá forças quando penso em parar e me mostra um novo caminho
quando tudo parece perdido.
Quero agradecer as meninas do grupo do WhatsApp, vocês não sabem como amo
conversar com vocês sobre tudo. Vocês são incríveis!
Um beijão para minha maravilhosa capista: L. S. Almeida. Ela sempre consegue captar
exatamente o que eu quero. Um muuuito obrigada a maravilhosa Juliana Costa pela ajuda na
revisão.
Meus agradecimentos também vão para você que está lendo essas palavras. Muito
obrigada!
Lilian é uma personagem que me marca muito, ela é do tipo: Quero? Vou lá e faço! Além
disso, essa obra não se trata apenas de romance, trata também de amor fraternal e familiar.
Espero sinceramente que vocês apreciem essa leitura, torçam pelo casal #ALLIAN e se
emocionem com o amor sincero entre mãe e filho.
Nos vemos em LILIANA!
LEMBREM–SE: JESUS ESTÁ VOLTANDO!
ANTES DE LER
Lilian é o terceiro livro da série As irmãs Craig;
É necessário ter lido os demais livros (Miranda e Amanda) para compreender os acontecimentos
aqui narrados;
Alguns lugares citados são fictícios;
Se você gostou da história, por favor, avalie na Amazon e faça uma escritora feliz;
Alguns aspectos podem não fazer jus a época citada!
Boa leitura!
ORDEM DOS LIVROS
0.5 O conde (Disponível no Wattpad e em breve na Amazon)
OBS.: Para ler a série As irmãs Craig, não é necessário ter lido O conde.
1. Miranda
2. Amanda
3. Lilian
4. Liliana
5. Daiana
Prólogo
Ano de 1445
O cavalo que Lilian Craig guiava estava cansado e ela não pôde negá-lo o direto de um
pouco de água. Enquanto o animal saciava sua sede, ela abaixou-se perto do lago para ver seu
reflexo tendo a consciência de que estava mais cansada do que Duque, o seu fiel cavalo.
– Só mais um pouco e estaremos em casa, Duque. Prometo! – Ela disse para o animal ao
seu lado.
Lilian lavou o rosto e levantou-se respirando fundo. Os cabelos presos faziam com que o
vento tocasse sua nuca lhe dando uma sensação de frescor. Um dos homens de seu pai que lhe
acompanhava também colocou o cavalo perto do lago e ela afastou-se apenas para lhe dá espaço.
A floresta ao seu redor não era assustadora, muito pelo contrário, tinha aprendido a gostar daquele
lugar ao qual sua mãe tanto amava.
Deu alguns passos na direção das árvores e foi o suficiente para ouvir um barulho
estranho. Ela franziu o cenho e continuou a andar na direção do som.
– Algo errado, milady? – Um dos homens perguntou a seguindo.
– Deve ser apenas um animal. – Ela respondeu.
O enorme tronco da árvore a impedia de ver adiante. Deu a volta e se deparou com o que
fazia barulho, ou melhor, com quem. Lilian arregalou os olhos tentando absorver o que via.
Oh, Deus. Era uma criança!
Lilian se agachou perto da pequena cesta e olhou horrorizada para o bebê que parecia ter
se acalmado com sua presença. Tinha cabelos loiros e os olhos claros, aparentava ter nem mesmo
um ano, concluiu. O segurou no colo com todo o cuidado temendo que ele estivesse machucado,
pelas vestes era um menino e o acalentou em seus braços como tinha aprendido com Miranda.
– Oh, meu Deus! – Ouviu algum dos homens comentarem atrás de si. – O que fará com a
criança, milady?
Lilian olhou para a cesta e depois para o menino em seu colo. Não era muito adepta a
crianças e não se considerava a pessoa mais apropriada para cuidar de uma, mas achou uma
barbaridade alguém tê-lo deixado ali na floresta exposto a todos os tipos de perigo.
– Quem teria essa coragem? – Perguntou para si mesmo. O bebê começou a chorar em seus
braços e Lilian se viu impotente, não sabia como fazê-lo parar. – O levarei para mamãe, ela
saberá o que fazer.
Ela levantou-se com cuidado enquanto o choro dele não cessava e o homem segurou a
cesta.
– Tudo bem, bebê. – Disse tentando acalmá-lo e o balançando freneticamente. – Agora está
tudo bem.
Alycia respirou fundo analisando o menino agora limpo e alimentado. Tiveram sorte em
achar rapidamente uma ama de leite e Lilian agradeceu a Deus por ter o encontrado antes de a
tempestade ter chegado. Agora em seu quarto quente, sentou-se ao lado da criança que dormia
tranquilamente em sua cama e encarou a mãe.
– Acha que foi a mãe dele que o abandonou? – Lilian indagou segurando a mão
rechonchuda do pequeno.
– Sinceramente não sei, mas eu não teria a coragem de abandonar um filho.
– O que faremos com ele? – Ela perguntou e Alycia notou a aflição em sua voz.
– De uma coisa tenha certeza: ele não será abandonado novamente.
– Ele é tão lindo. – Lilian tocou a face rosada do bebê. – Eu... Eu posso ficar ele?
– Como um filho? – Alycia indagou levantando as sobrancelhas.
Lilian tinha consciência de que provavelmente cometeria vários equívocos em relação a
cuidar dele e que isso teria consequências para seus futuros pretendentes, mas não se importou.
– Me sinto mal em saber que ele não tem ninguém. – Ela disse encarando a mãe. –
Podemos ficar com ele e... Posso lhe dá um nome?
– Querida, sabe que nem eu e nem seu pai o deixaria desamparado, mas e se a mãe ou o pai
dele aparecer? Pode ser que algo tenha acontecido para que ele fosse abandonado.
– Mas mamãe, ele não pode ficar só.
– E não ficará. – Alycia respirou fundo. – Faremos um acordo: ficaremos com ele e caso
alguém de sua família apareça e prove ter algum vínculo o devolvemos.
Lilian sorriu indo de encontro a mãe e lhe abraçando.
– Obrigada, mamãe.
– Agora podemos lhe dá um nome.
Ela pareceu pensar e voltou a encará-lo.
– Que tal... Walace?
– Parece ótimo.
Lilian se aproximou do pequenino e beijou sua face.
– Olá, Walace. – Ela disse o fitando. – Você quer ser o meu bebê?
Ele permaneceu com os olhos fechados dormindo tranquilamente.
– Vamos considerar isso como um sim. – Alycia disse sorrindo para a filha.
Naquela noite, Lilian dormiu ao lado do bebê temendo que ele acordasse e ninguém o
ouvisse. Quando se levantou pela madrugada viu a cesta sobre um móvel em seu cômodo. Ela
primeiro retirou os panos que Walace estava enrolado e notou que estavam ensopados, quando
retirou o último notou que também havia um pingente. O colocou mais próximo da vela para
analisar melhor, tinha o formato de espada e uma pequena pedra no meio da lâmina.
A única coisa que lhe passava na cabeça era o que aquele pingente representaria.
Capítulo I
Ano de 1449...
As altas gargalhadas e gritos das crianças que estavam no jardim foram ouvidos e Lilian
sorriu ainda mais ao ouvir a voz do pai que calorosamente fazia companhia aos pequenos. Não
sabia quem era mais babão: Richard, James ou Robert. Ela colocou os cabelos atrás da orelha e
respirou fundo. Sua família estava reunida para celebrar mais um ano de casamento de Alycia e
Richard e aquilo era mais do que eufórico.
Miranda, Amanda e seus respectivos maridos e filhos vieram especialmente para a ocasião
e todos sabiam da importância daquela reunião familiar. Iria fazer um ano que seu avô Dimitre
havia morrido, mas o vazio que ele tinha deixado ainda era nítido. Sua mãe andava cabisbaixa e
Daiana ainda sofria.
Ela se voltou para a porta no mesmo instante em que Walace adentrava com um enorme
sorriso no rosto. Seus cabelos estavam grudados por conta do suor e ele correu para abraçar as
pernas da mãe.
– O bobô conseguiu! – Disse admitindo a derrota.
– Ele sempre consegue. – Lilian falou se inclinando e beijando a testa do filho. – Agora
chega de correr, Walace. Isso também serve para o senhor, papai. – Disse levantando o olhar para
Richard que estava parado na porta.
– Sua mãe está demorando muito! Parece que vamos nos casar novamente. Fique de olho
nas crianças, querida. Volto logo. – Ele disse dando espaço para as outras quatro crianças
entrarem no quarto.
– Tia! – Foi a vez da pequena Maira junto com Maísa abraçarem Lilian.
– Como estam suadas! Sabem muito bem o que a mãe de vocês vai dizer. Agora é a vez de
vocês, guerreiros. – Lilian fez um gesto com a mão para que Ian e Lucas se aproximassem
repetindo o ato.
E pensar que seu pai sempre teve a esperança de ter um neto e agora tinha três. Ian e Maísa
estavam com seis anos, Maira com sete e o pequeno Lucas com cinco. Quando ela encontrou
Walace só tinha a certeza de uma coisa: provavelmente não tinha nem um ano e por isso decidiu
que seria comemorado seu aniversário no dia exato em que ele foi encontrado, ela considerava
que seu pequeno filho tinha cinco anos.
Depois de fazer todas as crianças lavarem as mãos, Lilian colocou Walace nos braços e
começaram a descer as escadas. Maisa e Ian foram logo para junto dos pais e Maira e Lucas para
junto de Robert. Ainda nos braços da mãe, Walace começou a mexer nos cabelos negros dela. Até
mesmo para dormir ele fazia aquilo e Lilian simplesmente amava. Beijou a face rosada do filho e
alinhou os cabelos loiros do pequeno.
Sempre que saiam eles eram alvos de cochichos e olhares maldosos. Os primeiros anos
foram os mais difíceis já que mesmo Lilian nunca tendo se ausentado de Villat por mais de alguns
dias, afirmavam que ela tinha engravidado e sido abandonada. Lilian sentia repulsa dessas
pessoas.
Enquanto Walace alisava os cabelos da mãe, ela sorria. Não se importava com o que
diziam. Tinha sentido um amor imenso invadindo seu coração quando o pegou no colo pela
primeira vez e mesmo que as coisas tivessem mudado drasticamente, tudo tinha valido a pena. As
primeiras mudanças foram no tempo que Lilian tinha para suas cavalgadas e as espadas, depois
algumas noites sem dormir e os cortejos haviam cessado assim que a notícia sobre a suposta
gravidez e abandono tinham se espalhado. Os primeiros dias com Walace foram complicados, ele
ficou doente e chorava na maior parte do tempo. Depois ela percebeu que o pequeno carregava
algumas manchas que aparentavam ser de machucados, só não sabia como ele tinha conseguido
aquilo. Ela julgou que fosse a saudade da verdadeira casa e até mesmo cogitou a possibilidade de
sair a procura de alguns parentes, mas a febre que atormentava o pequeno logo foi embora. Os
choros constantes cessaram e Walace apenas queria ficar nos braços dela, desde então dormiam
juntos e por mais que tentasse nunca conseguiu tirar a mania dele de apenas dormir acariciando os
fios negros dela.
Lembrava-se também da primeira vez em que ele a chamou de maman. Walace estava
começando a andar e aquilo a fez ficar paralisada por um tempo. Suas únicas experiências com
bebês eram com seus sobrinhos e se sentiu orgulhosa por ter conseguido chegar até ali com
Walace. Naquele dia ela o abraçou forte e o encheu de beijos com nunca.
Toda a família estava reunida no enorme jardim dos Craig e quando Alycia e Richard
apareceram, todos sorriram orgulhosos.
– A bobó está bonita!
– Claro que está, querido! É a minha mãe. – Lilian disse beijando a face dele.
A comemoração se seguiu até tarde da noite. As crianças foram as primeiras a serem
colocadas para dentro e logo em seguida a casa foi esvaziando. Walace permanecia firme, mesmo
que alguma criada o levasse para dentro só conseguiria dormir quando Lilian estivesse ao seu
lado. Cansada, ela o segurou e adentraram na propriedade. Subiu as escadas devagar e quando
entrou no quarto o colocou na cama. Mesmo bocejando, Walace não dava o braço a torcer.
Lilian ficou descalça e foi na direção do pequeno espaço para trocar-se, demorou por
conta dos pequenos botões do vestido e quando voltou estava de camisola e pronta para dormir.
Apenas tirou os grampos dos cabelos e deitou-se ao lado do filho que estava fechando os olhos de
sono. Assim que ela se acomodou na cama, cobriu Walace e beijou sua testa. Imediatamente ele
começou a alisar os cabelos da mãe.
– Eu amo você. – Ela disse com ternura.
– Amo bocê maman. – Ele disse bocejando mais uma vez com as mãozinhas nos cabelos
dela.
Enquanto os dois dormiam tranquilamente, do outro lado da Escócia a insônia de todas as
noites afetava novamente Allan O’Brien.
Para Allan O’Brien já era costume ver os primeiros raios de sol sobre as terras do clã ao
qual ele pertencia. As terras com altas montanhas e os extensos campos verdes pertenciam a seu
irmão e ele havia nascido e se criado ali. Ele estava sentado com as costas encostadas no tronco
da árvore e continuava olhando alguns cavalos se alimentarem da relva, era algo tão monótono
que há muito tempo tinha deixado de prestar atenção nos animais, apenas os olhava porque não
tinha nada para fazer aquela hora.
As insônias tinham o atingido desde o primeiro dia em que havia descoberto que sua
esposa tinha fugido com seu filho. Seu pequeno Bram tão frágil e ela tinha o arrancado do lado do
pai. Aquela bastarda! Ele jurou diversas vezes pra si mesmo que se algum dia colocasse as mãos
sobre aquela maldita a mataria.
Tinha revirado toda a Escócia, todos os lugares e vilarejos que ele e os homens do clã
conheciam foram vasculhados, mas nenhum sinal dela. Até mesmo a mãe de Léa não sabia para
onde ela tinha ido. Foram três anos de procuras falhas que nunca resultaram em nada, mas havia
descoberto com quem ela tinha fugido: Jacob Bells, um inglês ao qual eles tinham encontrado
quase morto. O ajudaram e ele retribuiu da pior forma possível. Era outro que ele mataria com
suas próprias mãos.
Não se importaria se ela tivesse ido embora e deixado Bram, teria o orgulho e o coração
ferido, mas permaneceria firme por causa de seu filho. Mesmo passado quatro anos, a face do
pequeno Bram ainda era nítida, as bochechas rosadas e os cabelos loiros que ele havia herdado da
mãe, a forma como ele sempre se acalmava quando vinha para seus braços... Allan fechou os
olhos com força e uma dor intensa se alastrou em seu coração misturada a dor e culpa. Se ao
menos ele tivesse prestado mais atenção na forma como Léa tratava o menino... Depois que ela
fugiu descobriu por que Bram sempre se acalmava quando estava em seus braços: Léa dava
beliscões no menino, algumas criadas tinham visto, mas não tiveram coragem de contar. As roupas
ajudavam a cobrir as marcas que ficavam na pele dele e só de pensar no que aquela maldita
poderia estar fazendo com seu filho naquele exato momento dava-lhe vontade de estrangular
alguém, nesse caso Léa.
Levantou-se com fúria e iniciou sua caminhada de volta para a fortaleza. Os cabelos negros
de Allan iam até acima dos ombros e o vento parecia querer tirar a ordem nos fios. Com passos
largos e ligeiros ele logo encontrou Brenda parada perto da entrada, ela estava com duas damas
de companhia e sorriu ao ver o irmão. Eles se abraçaram e Allan começou a conduzi-la para
dentro, seu instinto paternal o fazia sempre querer cuidar dela e depois que Bram se foi ele tentava
preencher o vazio em seu peito zelando por Brenda.
– Não conseguiu dormir novamente? – Ela indagou com a voz delicada enquanto seus
dedos alisavam a pele áspera do irmão.
– Sabe que há muito tempo não durmo uma noite inteira. Dormir se tornou uma tarefa
árdua, mas me diga: dormiu bem? Estou achando que essa sua ida lá para fora tão cedo tem algum
motivo.
Branda não precisou responder, assim que Allan atravessou os portões viu seus
companheiros de guerra juntamente com seu irmão o esperando.
– Chegaram hoje mais cedo enquanto você estava por aí. – Brenda soltou o braço de Allan
e foi ao encontro de Duncan, beijou a face do irmão mais velho e entrou no castelo.
– Venha até aqui! – A voz de Duncan era rouca e Allan revirou os olhos ao ver todos os
guerreiros sorrindo.
Allan se deslocou até Duncan e se abraçaram. Ele sabia o quanto seus irmãos haviam
sofrido com ele depois que Léa fugiu, mas odiava quando Duncan fazia aquilo em público e nem
poderia fazer objeções, seu irmão mais velho era o líder do clã O’Brien.
– O que lhe trás aqui? Tem outra guerra na Escócia e eu não estou sabendo?
– Na verdade viemos para tomar vinho. – Duncan disse e as risadas entre os guerreiros
aumentaram. – E também para resolvermos algo de extrema importância. Se alimentem, homens!
Partiremos apenas amanhã.
Todos se foram em direção a enorme mesa no pátio onde as criadas já haviam servido
bastante comida. O vinho passeava pela mesa e Allan sorriu diante daquilo.
– Algo lhe preocupa? Sempre que vem, avisa antes. – Allan comentou sentando-se ao lado
do irmão.
– O casamento de Zac será daqui a cinco dias.
– Já? Não me diga que...
– Oh, sim. A mulher está grávida e precisam desse enlace o mais rápido possível, ninguém
sabe ainda e preferem que as coisas continuem assim. Eu e Zac somos bons amigos, mas não
poderei ir a esse casamento. Villat fica há três dias daqui e Kiara está no fim da gravidez, não
posso perder o nascimento do meu segundo filho. – O sorriso orgulhoso se espalhou no rosto do
mais velho.
– E se for uma milady?
– Seja o que Deus quiser, mas devo dizer que acabaria enlouquecendo. Imagine só um dia
acordar e saber que algum bastardo quer levar minha filha.
Allan gargalhou.
– Mas lembre-se que o pai de Kiara passou por isso quando você fugiu com ela.
– Foi necessário, o pai dela a casaria com outro e eu não poderia ficar de braços cruzados.
Mas vamos ao que interessa: gostaria que você fosse para o casamento de Zac representando o
clã. Mandarei uma carta me desculpando e desejando felicidades.
– Sabe que seu pedido é uma ordem. – Allan disse levando a taça. – Mas então Brenda
ficará com você?
– Deixe que ela decida, quase nunca sai de Inverness e quando sai desse castelo é para ir
até o meu. Dois guerreiros mostraram interesse por Brenda. –Duncan disse com a voz irritada.
– Mas ela não mostrou interesse por nenhum, então vamos deixar isso quieto.
– Concordo, até porque se dependesse de mim Brenda nem se casava.
Allan levantou a taça para demonstrar que compartilhava da mesma opinião do irmão. Os
dois brindaram e sorriram ao barulho que as taças fizeram quando se chocaram. Enquanto
terminava de tomar o vinho, Allan se debruçou sobre a mesa.
Estou indo a um casamento pequeno Bram. Se você estivesse aqui colocaríamos vários
baús nas carruagens e eu o levaria em cima do meu cavalo, faria você se familiarizar com o
vento cortando seu rosto e a vista das altas montanhas de Inverness. Espero que esteja bem,
meu querido.
Capítulo II
Os cavalos que levavam os guerreiros do clã O’Brien corriam na direção que seus
domadores o incitavam. O vento cortava a pele de Allan e seus cabelos revoltos não paravam
quietos. Estavam deixando as altas montanhas para seguirem para Villat. Brenda e duas damas de
companhia estavam na carruagem que seguia rodeada de alguns guerreiros e de vez em quando
Allan se voltava para ver se tudo corria bem para os guerreiros e para sua irmã. Quando a noite
chegou, ele ordenou que montassem o acampamento. Depois de lavar o rosto e comer o guisado
que um de seus homens havia preparado, foi ver como Brenda estava. Quando adentrou na tenda
erguida para ela a viu sentada sobre uma manta e se aproximou.
– Onde estão suas damas de companhia?
– Comendo. – Respondeu prendendo seu cabelo. – E antes que pergunte também já comi.
Quanto tempo até Villat?
– Mais um dia. Se tudo correr bem amanhã a noite estaremos na propriedade de Zac.
– Kiara me disse que uma grande parte da realeza vive em Villat. Com certeza as damas
devem ser cheias de etiquetas, iguais às inglesas.
– Não compare as mulheres escocesas com as inglesas! – Allan rugiu. – E mesmo que as
damas de Villat sejam da nobreza ainda são escocesas. As mulheres daqui são as mais bonitas e
encantadoras, mas nenhuma se compara a você minha doce irmã. Ainda será a mais bonita de
todas, mas me preocupo em saber o motivo de sua inquietação.
Brenda mordeu o lábio inferior e reprimiu um sorriso.
– Não tem motivo nenhum, Allan. Apenas... Apenas estava pensando em como seria bom
se você conhecesse uma mulher decente e...
– Brenda, não ocupe sua mente com isso. – Disse a fitando. – Não estou procurando uma
esposa.
– Só quero lhe ver feliz. – Ela falou ficando de pé. – Quem sabe encontrando alguém que
realmente o ame e tenha um filho possa superar Bram.
– Eu nunca vou superar Bram! – Allan respirou fundo tentando manter a calma. – Está
tarde, é melhor você descansar. Peço que não ocupe seus pensamentos com isso, um dia
encontrarei Bram e o levarei para casa. Ele verá seu casamento com um bravo guerreiro que eu e
Duncan aprovemos e que a faça feliz e ainda vai brincar com os filhos de Duncan e Kiara.
– Sei disso e me perdoe por ter sido impertinente. – Ela disse o abraçando. – Só penso que
merece ser feliz e sei que encontrará Bram.
– Você nunca é impertinente, Brenda. Agora descanse. Amanhã teremos outro dia de
viagem e não quero vê-la reclamando!
– Está bem.
Allan depositou um beijo no rosto da irmã e saiu da tenda. Observou alguns guerreiros ao
redor da fogueira e outros deitados sob o céu estrelado. Bocejando, foi para junto do lago e
deitou-se ali próximo, uniu as mãos sob sua cabeça e encarou a lua. Sempre gostou de noites
estreladas e deu graças a Deus por não ter chovido, caso contrário ainda estariam muito atrás e
seria quase impossível erguer o acampamento.
Uma mulher decente.
Ele suspirou. Já havia experimentado o casamento e tinha sido abandonado, o que
garantiria que não ia acontecer novamente? Apenas queria encontrar seu pequeno Bram e seguir
sua vida com ele.
Só queria aquilo.
Os raios de sol invadiram o quarto de Lilian e mesmo de olhos fechados ela sabia que
Walace já estava de pé. Ouviu alguns barulhos e se mexeu para ver o que ele aprontava. Viu
quando o menino abriu a cortina de uma das janelas e se voltou para a cama olhando surpreso para
a mãe.
– Dessa vez não, Walace. – Ela disse sorrindo, Walace tinha o costume de acordar, abrir –
ou ao menos tentar – uma das cortinas para então chamar sua mãe.
– Maman! – Ele reclamou a olhando com seriedade. – Quelia ti acodar.
O sorriso de Lilian se espalhou ainda mais diante das palavras do pequenino. Ela sabia
que as crianças com a idade dele já tinham maior desenvoltura com a fala, mas julgou que Walace
tinha passado por muita coisa até chegar a seus braços e isso poderia ter o afetado, mas
compensava em inteligência e astúcia.
– Mas você sempre faz isso, hoje a mamãe está mais desperta. Venha até aqui!
O menino se aproximou ainda descontente e subiu na cama sentando-se ao lado dela. Lilian
beijou sua face e o abraçou lhe fazendo cócegas. A gargalhada de Walace encheu seus ouvidos e
quando parou seu coração se encheu ao ver seu filho com um sorriso no rosto.
– Maman...
– Viu o que acontece quando fica triste com sua mãe? Eu te amo! – Ela disse voltando a
beijá-lo. – E está na hora de nos levantarmos, sabe como seu avô fica quando a casa está vazia.
– Bobô!
Walace levantou-se e foi na direção da porta, agora era hora de acordar seu avô. No dia
anterior Amanda e Miranda haviam voltado para suas respectivas propriedades e isso significava
que Walace voltaria a ser o único neto nas vistas de Richard, ao menos até a próxima visita.
Depois de se arrumar, Lilian saiu do quarto indo na direção do cômodo principal. Bateu
antes de entrar e encontrou Walace deitado entre seus pais.
– Não pensou que iriam dormir até tarde, não é mesmo? – Lilian perguntou com diversão.
– Nem por um segundo. – Alycia disse passando a mão pelos cabelos loiros do pequeno.
– Meu neto não deixaria isso acontecer. – Richard falou enquanto os braços de Walace
estavam ao redor do pescoço dele. – Além do mais quem precisa dormir quando se tem meu neto
para ocupar-me?
– Você o mima demais, papai. – Lilian disse sem perder a expressão divertida. – O espero
lá embaixo.
Lilian voltou para o corredor fechando a porta atrás de si ao mesmo instante em que
Liliana também saia de seu cômodo. As duas sorriram para se cumprimentarem e assim que
ficaram lado a lado, ela segurou o braço de Lilian.
– O casamento de sir Zac é daqui a três dias, já escolheu seu vestido? – Liliana perguntou.
– Ainda não, mas irei com qualquer um. Que diferença fará? – Indagou enquanto desciam
as escadas.
Sabia que por mais que se vestisse de forma deslumbrante no casamento, as pessoas ainda
iriam lhe lançar olhares julgadores por conta de Walace, depois de um tempo ela deixou de se
importar.
Quando chegaram à sala encontraram Daiana lendo sentada no sofá, as gêmeas se
entreolharam sabendo que aquilo significava que ela havia aprontado... De novo. Daiana não era
adepta a leitura e mesmo que tentasse disfarçar suas irmãs já haviam notado.
– O está fazendo, Daiana? – Liliana perguntou sentando-se ao seu lado.
– Não vê que estou lendo?
– Quanta arrogância de sua parte! – Lilian ralhou. – Ao menos tire o livro de seu rosto para
falar.
– Não quero! – Disse firmemente. – Deixe-me em paz!
Fechando o livro com força, Daiana se levantou e subiu as escadas rapidamente.
– Ela tem agido tão estranho ultimamente. – Lilian disse a observando. –E o pior é que
tenho certeza que isso tem alguma coisa com a morte do vovô.
– Com o tempo tudo se acalmará. – Liliana comentou.
Assim espero.
A noite para sir Zac foi marcada com a chegada dos guerreiros do clã O’Brien, ordenou
que os servissem do melhor vinho e foi cumprimentar Allan.
– Diga a seu irmão que o matarei. Eu estive no casamento dele! – Zac disse como se
estivesse ofendido e apertou a mão de Allan. – Como vai, Allan?
– Bem. – Falou se virando para Brenda.
– A protegida, Brenda O’Brien! – Zac segurou a mão dela e beijou o dorso a soltando com
rapidez diante do olhar zangado do guerreiro. – Ora, Allan! Sabe muito bem que vou casar-me por
amor e não tenho olhos para ninguém além de Estella. Além do mais tenho o maior respeito por
sua irmã, que agora é uma mulher encantadora, devo ressaltar.
– Obrigada, senhor. – Brenda respondeu com um sorriso tímido.
– Peço que arranje um quarto para ela e suas damas de companhia. Não paramos um
momento sequer durante o dia. – Allan falou soltando um suspiro cansado.
– Sinto como se tivesse carregado um cavalo em minhas costas. – Brenda disse. – Tudo o
que mais quero é uma cama macia, sir Zac.
– Duncan já havia me pedido isso. – Zac chamou uma criada e ordenou que acompanhasse
Brenda para o interior da propriedade. – Agora me diga: como vai Kiara? A donzela que roubou o
coração daquele highlander selvagem que dizem ser seu irmão.
Allan sorriu.
– Ela está bem, mesmo assim Duncan preferiu ficar. Sabe como ele gosta de sentir as
coisas em seu controle. – Ele fez uma pausa olhando seus homens saciando a fome. – Então Villat
é o novo lugar ao qual está enfurnado?
– Foi aqui onde conheci a doce Estella e onde pretendo viver com ela. Vamos nos sentar. –
Ambos se sentaram diante da enorme mesa que estava no pátio para servir os guerreiros e também
iniciaram o jantar. – Agora sinceramente Allan: como anda sua vida?
– Bem, eu acho. – Repetiu sem tirar os olhos da comida.
– Pretende voltar com as buscas por Bram?
– Sim, voltarei em breve. Se aquela infeliz estiver com ele na Inglaterra juro que irei até
lá.
– Sei que ele é seu filho, mas ir para a terra dos ingleses é declarar morte. Continue
procurando pela Escócia, meus homens também o ajudarão no que for possível. Sei que o
encontrará.
As palavras de Zac cheias de convicção o fez assentir agradecido. Tinha que continuar
procurando por seu filho e mesmo que todos fossem contra sua decisão de ir a terras dos ingleses
o faria se isso trouxesse Bram de volta.
– Assim espero, meu amigo.
Assim espero.
Meu querido Bram, logo retomarei as buscas por você. Não se preocupe, papai o
encontrará mesmo que isso seja a última coisa que eu faça.
Capítulo III
Brenda e Estella se abraçaram como se fossem amigas íntimas e sorriram cúmplices pelo
encontro. Tinha trocado algumas cartas com ela depois da única visita que fizera a Inverness há
algum tempo.
– Estou tão feliz que esteja aqui. Sabia que tinha a possibilidade de Duncan vir, mas não
com você. – Estella disse entusiasmada enquanto se sentavam.
– Na verdade Duncan não veio. Kiara pode ter o bebê a qualquer momento e ele não quis
deixá-la. Vim com Allan, foi uma viagem tão cansativa, chegamos ontem a noite.
– Acho que conhecerei seu irmão mais tarde. Da mesma forma continuo feliz, há muito
tempo não tenho alguém para conversar e como mamãe continua zangada comigo mal a vejo. – O
olhar de Estella entristeceu e ela iniciou um choro. – Papai sequer me olha. Os decepcionei
bastante, ainda tenho sorte de eles me quererem aqui, mas sei que isso é só para não levantar os
rumores.
Os braços de Brenda abraçaram a moça enquanto ela chorava.
– Tudo ficará bem, Estella. Em menos de três dias estará casada com sir Zac e ninguém
poderá interferir e sei que vocês se amam.
– Isso é verdade! – Estella soltou-se dos braços da amiga e suspirou enxugando o rosto. –
Não quero mais chorar, agora que está aqui poderemos dar um passeio por Villat.
Elas sorriram no mesmo instante em que o barulho de passos ecoou. A mãe de Estella
descia as escadas com a expressão fechada e as encarou com fúria.
– Quanta algazarra! Parecem duas selvagens.
Estella apenas respirou fundo se desculpando com a amiga.
– Vamos, Brenda. – Disse se apressando. – Vamos começar com uma visita a família Craig.
As duas se levantaram e quando chegaram à porta puderam ouvir o último comentário da
mais velha:
– Não me admira que esteja nessa situação passando tanto tempo com as Craig!
A ignorando, Estella arrastou Brenda para fora e subiram na carruagem. Mesmo não sendo
perigoso, dois guerreiros a seguiram a cavalo.
– Allan é muito protetor. – Brenda disse com um sorriso tímido no rosto.
– Quase não notei. – Estella comentou olhando pela janela os olhares de todos ao verem
dois highlander seguindo a carruagem delas.
A visita do clã O’Brien daria o que falar, disso Estella tinha certeza.
Lilian colocou o livro de lado e respirou fundo afundando em uma das cadeiras do
escritório de seu pai. Ele, Alycia e Walace haviam saído e quando seu filho não estava ela não
tinha praticamente nada para fazer. Pensou em ir cavalgar, mas perdeu o interesse quando viu
chegar a hora do almoço. Ela tinha ajudado Liliana enquanto ela tentava reproduzir o chá que seu
tio Connor havia feito para aliviar dores e acabou por esquecer-se das horas.
Fechou os olhos com força e massageou as pálpebras buscando algo em sua mente para se
divertir, a muito não fazia algo que não fosse cuidar de Walace. Levantou-se frustrada e saiu do
escritório com a expressão fechada. Ouviu vozes vindas da sala e foi nessa direção.
Liliana tinha visitas.
Já que não tinha mais o que fazer, decidiu se juntar a elas. Não era íntima de lady Estella, a
única a manter amizade com ela era Liliana, mas sempre que se viam eram educadas uma com a
outra.
Ao lado de Estella estava uma desconhecida. Os cabelos dela eram castanhos e seu
sorriso aumentou quando percebeu a presença de uma nova Craig. Os olhos de Brenda passearam
entre uma irmã e outra.
– São gêmeas? – Indagou perguntou parecendo impressionada e Lilian achou graça.
– Sim. – Liliana respondeu. – Brenda Ó’Brien, essa é minha irmã mais velha: Lilian Craig.
– Olá, Brenda. – Lilian a cumprimentou.
– Nunca tinha visto gêmeas. – Ela disse.
– Nunca? – Lilian franziu o cenho. Que estranho.
– É a primeira vez que Brenda sai de Inverness. – Estella justificou. – Seu irmão é o líder
do clã O’Brien.
– Agora eu estou impressionada. – Liliana disse. – Como é viver cercada de highlanders?
Tenho certeza que não são os brutos que dizem, papai me disse que eles são verdadeiros
destruidores nos campos de batalha.
– E são! – Brenda confirmou. – Meus irmãos e os demais guerreiros são os melhores da
Escócia, isso eu garanto!
As gêmeas se entreolharam com um sorriso.
– Se sua família tem os melhores guerreiros a minha tem as melhores guerreiras. – Lilian
enfatizou. – Eu gostaria de ver seus irmãos e os highlanders de seu clã em ação e quem sabe até
mesmo treinar com eles.
– Treinar!? – A voz de Brenda saiu áspera.
– Certamente! Aliás, é uma ótima ideia! Daiana está precisando se distrair um pouco, anda
tão esquisita depois da morte do vovô que me deixa preocupada. – Lilian disse e logo em seguida
pediu para que uma criada fosse chamar sua irmã mais nova.
– Daiana vai enlouquecer! – Liliana disse sorrindo.
– Estão falando sério? – Brenda indagou levantando seu olhar escada acima.
– Esqueci-me de lhe dizer o motivo do desagrado de mamãe por eu ter amizade com uma
Craig. – Estella disse para a amiga. – As irmãs Craig são conhecidas não só por serem filhas do
conde, mas também por serem as miladys mais destemidas de Villat.
– Ou selvagens! – Liliana ralhou lembrando–se das palavras dos aldeões.
A criada voltou informando que Daiana havia saído e depois que se retirou, Lilian franziu
o cenho. Para onde Daiana teria ido? Respirou fundo e voltou a se concentrar na conversa.
– Tem dois highlanders lá fora, Lilian! – Liliana disse empolgada.
Lilian mordeu o lábio inferior pensando em algo que definitivamente a tiraria do tédio.
– Acho que está na hora de pegar a espada. – O sorriso se alastrou em seu rosto e sua
gêmea sabia bem o que isso significava.
Allan permanecia com a expressão séria diante dos olhares questionadores dos aldeões.
Alguns deles assim que colocavam os olhos nele ficavam boquiabertos e pareciam assustados. Um
pequeno sorriso brotou em seu rosto. No campo de batalha era conhecido como destemido por
conta da sua astúcia e agilidade, sabia bem que seus olhos brilhavam ao ver uma espada,
principalmente se a lâmina fosse cortar a carne de algum maldito que ousava tentar contra seu clã.
Pensando nisso ele tocou o pingente que havia ganhado de seu pai.
Há alguns anos ele havia mandado o ferreiro refazer o pingente, um para o filho de Duncan
e um para Bram. Esperava que quando o encontrasse ele ainda estivesse com o artefato, caso o
contrário, mandaria fazer novamente.
O pingente era uma espada com uma pequena pedra cravada na lâmina. Todos de sua
família tinham um, mas o de Brenda era com uma pedra preciosa que o pai deles havia conseguido
em uma batalha contra os ingleses.
– Parece que o destemido ainda mantém sua reputação. Acabei de ver um homem ficar
verde ao pôr os olhos em você. – Zac zombou.
Ele não respondeu. Apenas manteve a expressão séria para mostrar que ele continuava a
ser o destemido mesmo depois do ocorrido com sua esposa.
– Para onde estamos indo? – Ele perguntou com a voz rouca.
– Não ouviu o que o mordomo disse? Elas foram a propriedade dos Craig e nem sei o
motivo de estarmos indo para lá, dois guerreiros não estão às acompanhando?
– Sim, mas quero saber onde Brenda foi e voltarmos para a sua propriedade. – Allan
respondeu com desdém.
Quando chegaram na entrada da propriedade do conde um dos criados dos estábulos
observou Allan com os olhos quase saltando das órbitas.
– Milorde! – O homem baixou a cabeça esperando as instruções.
– Não se preocupe, não viemos para uma guerra. – Zac alertou lançando um olhar para
Allan. – O que eu disse sobre andar com quatro highlander quando você já é surpresa demais
para Villat? Apenas queremos saber se lady Estella ainda está aqui.
– Ela e as ladys Craig foram para o lago com dois highlander, milorde. – O homem
engoliu em seco antes de continuar. – E mais uma milady que desconheço.
– Brenda... – Allan bufou. – Onde fica esse lago, Zac? Zac!?
– Perdão. – Ele disse saindo do devaneio. – É aqui próximo, sei o caminho.
– Por que iriam para perto do lago?
As Craig.
– Oh, Deus! Não quero nem imaginar... – Zac comentou.
Os cavalos iniciaram o trote e rapidamente estavam perto do lago, era possível ouvir o
barulho das lâminas se chocando e Allan franziu o cenho. O que estariam fazendo? Pararam os
cavalos e todos desceram do lombo dos animais. Assim que a cena foi entrando no campo de
visão dos homens, todos ficaram boquiabertos.
– Isso realmente é o que meus olhos estão vendo? – Um dos guerreiros indagou antes de
sua boca se curvar em um sorriso.
Os olhos de Allan primeiro foram para Brenda, ao se certificar que ela estava bem ao lado
de um de seus homens, seus olhos voltaram para as espadas que se chocavam novamente. Já havia
passado dias viajando, com fome e sede e enfrentado bárbaros e saqueadores de diversas
espécies, mas nunca em sua vida havia visto um de seus guerreiros lutando com uma... Mulher!?
Quando as lâminas novamente se encontraram, Lilian mordeu o lábio inferior com força
vendo o rosto daquele highlander brilhar de suor. O dela já estava encharcado a algum tempo
principalmente pelo vestido de mangas que usava. Ao menos havia trocado por um simples antes
de vir. Ela lutava com um highlander.
Um highlander!
Era emoção demais para seu coração de guerreira. Se sua mãe estivesse ali transbordaria
de orgulho por ela estar se saindo bem mesmo com algum tempo sem treinar e seu pai... Oh, papai
teria um ataque.
Mas ela estava feliz, muito feliz na verdade. Sabia que o guerreiro a sua frente estava
facilitando as coisas no início, mas ao ver que ela não mentia e realmente tinha habilidades com a
espada começou a investir com mais força. Mesmo assim ela sabia que ele continuava a se
segurar.
Então teria de mostrá-lo que não queria ninguém se segurando.
Na verdade, queria que a pulsação forte de suas veias e a sensação de libertasse
continuasse ali. Se Miranda era boa com cavalos e Amanda... Bom, Amanda havia domado James,
mas sua maior habilidade também era a espada. Assim como ela e Daiana. Liliana ainda preferia
as flechas.
Se fosse Daiana já o teria derrotado, mesmo sendo um enorme highlander.
Sorriu pensando nisso.
Ela estava tão alheia que não percebeu que tinha vários pares de olhos a vendo lutar com
garra. Mas algum tempo depois ouviu quando sua irmã gritou.
– Mostre para ele, Lilian!
Foi o único momento em que ela desviou o olhar e viu que tinham companhia. Mais
highlanders os cercavam e ela se deu conta que eles estavam fervorosos com aquilo.
– Fergus! Não envergonhe nosso clã perdendo para uma mulher. Meu Deus, uma mulher! –
Um deles disse enquanto prestava atenção nos movimentos de ambos.
Ela voltou a se concentrar nele. Fergus.
– Liliana, esse é meu irmão: Allan O’Brien. – Brenda disse enquanto a luta permanecia.
Allan se aproximou com o olhar de poucos amigos, mas cumprimentou a milady antes de
seus olhos voltarem para a luta.
– Quem é essa louca? – Ele perguntou alto o suficientemente para os que estava ali escutar.
– Minha irmã! – Liliana disse se voltando para ele com cautela, tinha que se segurar, ele
era o irmão do líder de um clã e mesmo que sua petulância aflorasse era perigoso demais se
arriscar. – Lilian Craig.
Allan cruzou os braços trincando a mandíbula. Se aquilo terminasse com aquela mulher
machucada teria sérios problemas e se seu guerreiro saísse ferido... Acabaria com ele por colocar
o nome de seu clã na lama daquele jeito. Era apenas uma mulher! Poderia muito bem acabar com
aquilo rapidamente com a vitória, mas então porque Fergus continuava seguindo com a luta?
Lilian investiu contra ele para lhe mostrar que merecia seu esforço. Como ele não esperava
acabou cambaleando para trás com o impacto do encontro das lâminas. Fergus a olhou de soslaio,
mas ela havia decidido que era hora de terminar com a luta a tornando vencedora. Investiu
novamente contra ele sem lhe dá tempo, o guerreiro era forte, muito maior que ela, mas não era
ágil, algo que Lilian havia percebido desde o início. Investiu uma única vez soltando um rugido e
antes que ele pudesse levantar a espada, ela saltou longe com o golpe final da milady. Lilian
encostou a ponta da lâmina no ombro dele e o olhou com diversão.
– Lembre-se disso para sempre highlander: você perdeu para uma Craig.
Liliana bateu palmas entusiasmada com a irmã enquanto os guerreiros voltaram a ficar
boquiabertos. Um homem de seu clã havia perdido para uma mulher. Estella começou a
acompanhar Liliana nas palmas enquanto Lilian se aproximou do homem e lhe ofereceu a mão.
Fergus a segurou com os olhos atentos, as mãos macias dela seguravam a espada com astúcia
suficiente para matá-lo.
– Admito milady: sabe manejar melhor do que muitos homens. – Ele disse a olhando
abismado e beijou o dorso daquela mão.
– Eu agradeço, senhor.
Os murmúrios pararam no mesmo instante em que Allan levantou a mão para calar seus
guerreiros. Os olhos dele se estreitaram para Lilian que tinha a respiração pesada e seu rosto
brilhava com o suor, ele ainda custava a acreditar que uma mulher havia derrotado um guerreiro
de seu clã.
Devagar, Allan deu alguns passos na direção dela sem desviar seu olhar. Quem era aquela
mulher?
Meu querido Bram, aqui vai meu primeiro conselho sobre as mulheres escocesas: se
ela for de Villat, tenha cuidado.
Capítulo IV
Respirando fundo, Lilian Craig o encarou satisfeita. Mesmo sabendo que sua aparência
estava destruída ainda manteve sua pose ficando ereta e em nenhum momento sequer baixou o
olhar diante dos olhos escuros e penetrantes do homem à sua frente.
– Sou Allan O’Brien. – Disse com a voz rouca. – Fergus acaba de envergonhar nosso clã
perdendo para uma... Mulher.
– Perdoe-me, milorde. Mas ela... – Fergus não soube como se defender.
– Ela é uma mulher! – Allan disse com fúria. – Se você não consegue vencê-la eu o farei.
Ele segurou sua espada e voltou a encarar Lilian que permanecia calada. Estendeu o braço
para que a lâmina de sua espada ficasse na altura do ombro dela.
Lilian sorriu.
– Se não se importa laird O’Brien, neste exato momento não estou adepta a lutas. Sou uma
milady e ficar debaixo desse sol me deixou suada, acredito que não seja nada apropriado. – Disse
com certa diversão.
Lilian tinha certeza de que se lutasse com aquele highlander iria perder, já tinha ouvido
falar como os irmãos O’Brien eram nos campos de batalha e ele era bem maior que Fergus e para
completar ela estava cansada.
– Oh, vejo que a milady perdeu o interesse pela luta, mas agora milady... – Ele fez uma
pausa. – Sou eu quem faz questão desse desafio. A senhorita colocou o nome O’Brien à prova e eu
não posso sair daqui sem recuperar a dignidade de meu clã.
Dignidade.
Então para ele o fato de um de seus guerreiros ter perdido para ela era vergonhoso? Lilian
não pensava daquela forma, na verdade admirava aqueles guerreiros que não fizeram objeções
sobre o fato de lutar com ela. Sabia bem o que ele estava tentando fazer: coagi-la e envergonhá-la
para então voltar para de onde veio com seu ego massageado.
Se não poderia vencê-lo com a força, o venceria com a inteligência.
Allan elevou a lâmina até queixo dela e sequer ousou desviar seu olhar.
– Sabe como me chamam, milady? Destemido e lhe garanto que faço jus a isso quando
estou com uma espada na mão.
Lilian assentiu devagar, apenas se colocou de lado e andou despreocupadamente até onde
sua irmã estava. Lhe entregou a espada e passou o lenço no rosto para enxugar o suor. Allan
estalou o pescoço se virando para ela que agia como se ele não estivesse ali e ignorava suas
palavras.
– Não ouviu o que lhe disse? Quero uma revanche! – A voz grossa expressava a falta de
paciência e mesmo sabendo que estava pisando em terras perigosas, Lilian se virou pensando em
como se livrar dele.
– Laird Allan, não tenho a intenção de lutar com o senhor e se me permite terei que voltar
para minha família, estou sendo esperada. – Disse com convicção enquanto ele abaixava a espada.
– Então admite que eu ganharia essa luta? – Os olhos dele buscavam a afirmação da parte
dela, mas ao invés disso ele a viu negar com a cabeça.
De jeito nenhum ela admitiria a derrota.
– Lilian! – A gêmea chamou sua atenção. – Você tem um filho para criar, então por que não
acaba logo com isso?
– Porque eu não iria perder! – Respondeu olhando para irmã, mas logo em seguida se
voltou para Allan. – Creio que não devo admitir algo que não tenho certeza, mas nesse exato
momento não é do meu querer lutar com o senhor. Então, por favor, não insista e deixe-nos ir.
Ele sentiu o peso das palavras dela engolindo em seco. Um filho para criar. Seus olhos
foram para as mãos dela, mas não viu nenhuma aliança. Por que raios seu marido iria deixá-la
lutar como se fosse um guerreiro e falar naquele tom?
– A deixarei ir. – Allan disse devagar, mas em seguida empunhou a espada e encostou a
lâmina no queixo de Lilian deixando as mulheres aflitas e os guerreiros hesitantes em qual seria o
próximo movimento de seu laird. Lilian pousou os olhos na reluzente espada e engoliu em seco.
Ele a mataria? – Mas voltaremos para esse lago um dia depois do casamento de Lady Estella e de
Zac. Venha preparada, teremos uma revanche e lhe garanto que sua afronta contra o clã O’Brien
não será esquecida. Agora pode ir, milady.
Quando retirou a espada ele viu o alívio na expressão dela. Lilian lhe deu as costas e
agarrou sua irmã pelo braço iniciando a caminhada para perto dos cavalos.
Lilian suava, mas agora não era pelo calor e cansaço.
– Esperam! – A voz de Allan as fizeram parar imediatamente.
– O que ele quer agora? – Lilian murmurou antes de se virar.
– A propriedade de sua família é longe, então vamos acompanhá-las. –Não era um pedido,
mas ela não deixaria que ele lhe desse ordens.
– Não será necessário, senhor. Trouxemos os cavalos de meu pai e da mesma forma que
soubemos vir saberemos voltar.
Assim que as palavras saíram de sua boca, Lilian se arrependeu. Esqueceu-se que a sua
frente não era apenas um homem e sim o milorde de um clã!
Os guerreiros que os cercavam olhavam espantados para a mulher e depois para Allan
enquanto Zac balançava a cabeça em negativa prevendo problemas.
– Sua língua consegue ser mais rápida do que sua espada. – Allan disse em sinal de alerta.
– A controle antes que cause problemas mais graves, milady. Agora vejo o erro que foi querer
ajudá-las, parece uma selvagem.
Lilian franziu o cenho absorvendo as palavras dele. Maldito bastardo!
– O que disse?
– O que ouviu, milady.
O tom dele era de desprezo e a fúria se acendeu dentro dela.
– Pois fique sabendo que essa selvagem venceu um dos seus guerreiros e tenha a certeza de
que também o vencerá! Não tem o direito de insultar-me!
Allan se aproximou inclinou-se para que seus olhos ficassem na mesma altura.
– Mas me dá o direito de puni-la por seu desrespeito. – Rosnou aproximando ainda mais
seus rostos. – Milady. – Ela permaneceu em silêncio, mas a fúria era nítida em seu olhar. – Só
não o faço para que todos vejam como sou piedoso mesmo diante de uma mulher tão... – Ele
pareceu pensar nas próximas palavras. – Temperamental. Além do mais seu filho não merece ficar
órfão por conta das loucuras da mãe.
Ela trincou os dentes o encarando e sentiu vontade de lhe desferir um soco, mas então ele
teria motivo para puni-la. Se afastou ainda sob seu olhar e quando lhe deu as costas praguejou em
pensamentos. De uma coisa tinha certeza: ele era um maldito bastardo!
Brenda encarava seu irmão enquanto ele estava sentado à sua frente comendo e bebendo o
vinho que uma criada havia servido. Ela não entendia por que Allan e Duncan tinham que se
mostrar tão frios e rudes em público só para manter a reputação de grandes líderes. Chegava a ser
ridículo, principalmente quando eles eram pessoas tão amáveis com sua família.
– Você a tratou tão mal. – Ela disse baixo o suficiente para só os dois ouvirem. Allan não
ouviu e ela teve que tocar seu braço para ter sua atenção. –Allan, ouviu o que eu disse? – Ele
negou. – Tratou tão mal Lilian Craig que até mesmo eu fiquei ofendida.
– Não vejo motivo para sentir-se desse jeito. Ela não é sua amiga e mesmo que queira não
permito qualquer proximidade com aquelas mulheres. Não quero acordar e descobrir que você
anda desafiando os guerreiros.
– Foi divertido. – Ela abriu um sorriso. – E mesmo que tenha repudiado sua atitude deve
admitir quão boa ela é com uma espada. Fergus ficou encantado.
– Acredito que a palavra certa seria humilhado. A petulância dela tirou minha paciência e
só não a puni porque não queria que pensassem que o fiz apenas por ser melhor que um dos meus
guerreiros.
Ele voltou sua atenção para o vinho e Brenda sorriu.
– Você acabou de admitir que ela é boa.
Allan abriu a boca para protestar, mas não encontrou argumentos. Depois de terminar o
jantar acompanhou Brenda até seu quarto e logo em seguida foi para o seu. A tina já estava cheia
quando ele adentrou e só então pode se acalmar. Tinha levado consigo uma taça e uma jarra com
vinho e enquanto estava dentro da tina concentrou-se na próxima viagem que teria que fazer para
poder voltar as buscas por Bram.
As chances de Léa estar em algum vilarejo logo foi descartada, ela gostava de altos
padrões e jamais se submeteria a isso, teria que procurar pelo Sul para então – se fosse o caso –
pensar em ir a Inglaterra.
Tomou outros goles de vinho e pensou em Brenda, não seria nada bom ela se familiarizar
com as Craig. Mesmo apoiando e tendo um vínculo de amizade com Zac sabia o quão errado ele
fora engravidando lady Estella, ele só pôde conhecê-la naquele momento, quando ela esteve em
Inverness ele ainda estava procurando Bram. Voltando para as Craig ele tinha de admitir que
aquela mulher sabia muito bem o que estava fazendo enquanto lutava, seus movimentos eram
precisos e ela havia notado que Fergus era lento. O guerreiro tinha força, mas não agilidade.
Como ela conseguiu fazer aquilo?
Não sabia a resposta, mas tinha a convicção de que ela não era uma boa companhia ou
influência para sua irmã. Decidiu que Brenda estava proibida de fazer visitas a ela.
Lilian Craig.
Se ela era casada porque usava o nome de solteira? Aquilo não fazia sentido e ainda mais
tendo um filho.
Allan esfregou os olhos afastando aqueles pensamentos. Em Villat tudo parecia
contraditório. Levou a taça a boca e tomou mais um gole para só então sair da tina e se jogar na
cama.
Enquanto as pequenas e gordas mãos de Walace alisavam seu cabelo, Lilian pensava nos
acontecimentos daquele dia. Ajeitou-se sobre a cama e beijou a face do filho que estava se
rendendo ao sono. Nunca tinha tido nenhuma familiarização com qualquer clã, mas se todos os
guerreiros fossem como o tal Allan O’Brien preferiria continuar daquela mesma forma. Era um
rude e em nenhum momento ela viu algo além de fúria e desagrado em seu olhar.
Ao menos alguns dos guerreiros que acompanhavam Brenda tinham sido gentis, eles sim
não eram os bárbaros que todos falavam.
Não tinha comentado com seus pais sobre a luta, mas sabia que Liliana contaria para sua
mãe que consequentemente contaria a Richard. Quando percebeu que Walace tinha realmente
dormido beijou sua face novamente e se aconchegou ao seu lado, tinha consciência de que algum
dia não seria mais assim: ele cresceria e como ninguém iria querer casar-se com ela não daria
irmãos a Walace.
Ficaria sozinha.
Por um instante esse pensamento a deixou abatida. Tinha observado a algum tempo como
era a vida de Miranda e Amanda, ambas haviam encontrado o amor verdadeiro – mesmo que de
uma forma nada convencional – e passariam o resto de suas vidas ao lado do homem que amavam
e de seus filhos. Enquanto ela só teria Walace e um dia quando ele estivesse casado, ela não seria
mais útil na vida dele.
Ela amava Walace com todo o coração e mesmo se sentindo triste em alguns momentos
faria tudo novamente por ele: renunciaria à vida ao lado de alguém só para ter seu filho ao seu
lado. Ele era mais importante.
Pensando nessas coisas segurou a mão que antes estava em seus cabelos negros e sorriu.
Walace era o único que a faria dormir naquela noite.
Meu querido Bram, aqui vai meu segundo conselho sobre as mulheres escocesas: se
ela for uma Craig, você está encrencado.
Capítulo V
Zac bebia tranquilamente enquanto todos os guerreiros o acompanhavam fazendo pequenas
piadas internas sobre seu casamento. Ao seu lado Allan se deliciava diante do céu estrelado sobre
eles, no dia seguinte Zac seria casado e isso estava o deixando mais nervoso do que o previsto.
– Se você está assim imagine Estella. – Allan disse se divertindo.
– Mas ela não pode se alterar, tem que pensar no bebê. – Zac falou mudando o tom de voz.
– Acha que ela está bem?
Allan sorriu.
– Claro que ela está bem e tenho certeza que neste exato momento ela e Brenda estão
falando sobre o vestido e tudo mais típico das mulheres. – Allan fez uma pausa o encarando. –
Você a ama, não é?
– Mais do que a minha própria vida. – Declarou. – E farei de tudo para que ela seja feliz
ao meu lado. Você sabe não é, Allan? Quando se ama uma pessoa você é capaz de fazer tudo por
ela.
Ele respirou fundo voltando a encarar o céu.
– Sei como é.
– Você amava Léa!
– Tem razão: eu a amava, mas agora só sinto ódio e desprezo e se dependesse de mim ela
já estaria morta. – Allan fechou as mãos em punho sobre a mesa. – Só quero meu filho de volta.
Espero que quando seu filho nasça nunca tenha que sentir a perda dele. É irreparável e
insuportável.
– Estella nunca faria uma coisa dessas. Ela me ama. Você amava Léa, mas ela não te
amava. Do que adianta só um amar?
– Está muito melancólico, Zac. É melhor você entrar e descansar.
– Tem razão! – Ele levantou a taça. – E que Estella não saiba disso, ela ficará irada.
Aliviando a tensão, Allan deu um pequeno sorriso. O amor fazia até mesmo o mais bravo
dos guerreiros se render aos pés de uma mulher. Lembrando-se disso, a imagem de Lilian Craig
voltou a sua mente.
– Zac, antes de ir preciso lhe perguntar uma coisa.
– Pode falar. – Respondeu se levantando, mas parou para ouvi-lo.
– Com quem Lilian Craig é casada e porque a tratam pelo sobrenome de solteira?
Zac soltou um suspirou e voltou a sentar-se. Encarou Allan com cautela e pegou outra taça.
– Lilian Craig não é casada.
– Como ela não é casada e tem um filho? Ah, já posso até imaginar... – Allan pensou em
várias possibilidades e todas elas acabavam com Lilian grávida e abandonada.
– Ninguém sabe ao certo o que aconteceu, não tenho nenhuma relação com a família Craig,
quem tem mais intimidade é Estella, mas ela me disse que nunca tocou no assunto com a gêmea e
agora... Bom, ela disse que sabe como Lilian se sentiu e é agradecida por ao menos estar grávida
de alguém que ela ame.
– Então a Craig não passa de uma... inconsequente que engravidou e foi abandonada? – A
antipatia por ela só aumentava.
– Já lhe disse que ninguém sabe ao certo. Os rumores são de que ela foi embora e só voltou
quando a criança nasceu. Eu não sou a melhor pessoa para falar sobre isso, nem eu nem minha
família estávamos estabelecidos em Villat para sabermos disso. Sequer vi o menino.
– Já havia formado minha opinião sobre essa mulher e isso só serviu para eu ter certeza de
que é uma péssima influência para Brenda e para qualquer outra mulher. Deveria manter Estella
longe dessa família.
Zac o encarou incrédulo.
– Você pode até achar desrespeitoso da minha parte as próximas palavras, mas creio que
Estella já sabe discernir com quem deve ou não ter laços afetivos. Além do mais não serei eu a
proibir de fazer o que quer ou gosta. Acha mesmo que ela seria feliz ao lado de um homem que
apenas quer controlá-la? –Ele fez uma pausa visivelmente irritado. – O amor liberta, Allan, não o
contrário. Não estou defendendo lady Lilian por Estella estar na mesma situação que um dia ela
esteve, mas o fato dela ter cometido um erro não significa que seja uma má pessoa. Todos nós
cometemos erros, você está dizendo essas coisas, mas Brenda está com Estella. Qual a diferença
entre ela e lady Lilian?
– Estella é uma conhecida nossa e sua noiva.
– E daí? Então só porque vocês não a conhecem lady Lilian merece seu total desprezo?
Não a conheço bem, mas além dos fatos que acabei de contar as pessoas também falam sobre
como ela tratou o filho. Outra em seu lugar poderia muito bem ter o abandonado e fingir que nada
aconteceu só para manter as aparências diante da sociedade. Você a julga, mas tem que reconhecer
que é uma mulher forte.
Forte, petulante e de temperamento irracional.
Ele preferiu se calar enquanto Zac se levantava e seguia o caminho para dentro. Allan se
levantou contrariado e se afastou dos que ainda preferiam comemorar o casamento do dia
seguinte, subiu em seu cavalo e incitou o trote do animal.
Precisava respirar um pouco.
Quando chegou ao lago desceu do lombo do equino e se aproximou da água, sob a luz do
luar observou seu reflexo. Estava exausto e não só fisicamente.
Precisava encontrar seu filho antes que suas forças se esgotassem de vez.
Os olhos de Walace brilharam diante da imagem da mãe. Lilian deu uma volta sob o olhar
penetrante do filho.
– Está linda, maman. – Ele disse abrindo um lindo sorriso.
– Obrigada, querido. – Lilian se curvou para beijar a testa dele. – E você também está
lindo, um cavalheiro de honra.
– Bobô disse que eu selia um guerreilo. – Walace uniu as mãozinhas nas costas e fez uma
expressão séria.
– Oh, já estou imaginando o milorde em cima de um cavalo e com uma espada. – Disse
orgulhosa estendendo a mão para ele. Walace não segurou. –Você não vai?
– Bobô disse que devo cuidar da senhola. Ploteger com toda força.
Os olhos de Lilian marejaram e ela se agachou para ficar da mesma altura dele. Alisou a
face do pequenino e beijou sua bochecha.
– Você é tão lindo, Walace. Por dentro e por fora. – Ela colocou uma mão sobre o peito
dele. – A maman agradece a sua proteção e acredite: qualquer problema o chamarei.
– Mas não pode cholar. – Falou tocando as pálpebras dela com os dedinhos.
– São lágrimas de alegrias. – Lilian o abraçou sentindo o coração encher de orgulho. –
Agora temos que ir. Você não quer perder a cerimônia, ou quer?
Ela esperou prontamente pela resposta negativa dele, mas foi surpreendida quando ele
assentiu.
– Quelia ir até Mag, estou com saudades. – Ele choramingou fazendo biquinho. – A
senhola prometeu que me levaria.
– Walace... Eu o levarei, mas não hoje. É o casamento de Estella.
Ele cruzou os bracinhos como um adulto e a olhou ameaçando um choro.
– A senhola prometeu e eu disse a ele que iríamos logo. Ele está dodói, maman. E se ele
moler? – Ele iniciou um pequeno choro e Lilian ficou despedaçada, o abraçou novamente tentando
acalmá-lo enquanto alisava seus cabelos loiros.
– Não chore, Mag não vai morrer. Nós vamos vê-lo se isso te acalmar, está bem assim?
Ele passou um instante em silêncio e se afastou para olhar o rosto da mãe.
– Agola?
– Sim, meu pequeno. Vamos agora. Não precisa mais chorar.
Lilian o colocou no colo e ele passou os braços em volta do pescoço e escondeu o rosto
ali. Mesmo ele tendo parado de chorar Lilian ouvia seu fungado e isso a preocupou, não sabia o
motivo dessa ansiedade de ver Magnus, o pequeno potro que ele havia ganhado de Ramon.
Recentemente havia machucado a pata, mas Ramon tinha assegurado que ele ficaria bem.
Assim que chegaram no corredor viram Richard. Ele se aproximou e se deteve quando viu
a expressão no rosto da filha.
– O que aconteceu?
– Walace precisa ver Magnus.
– Agora? Estamos em cima da hora, Lilian. Walace... – Ele tentou chamar a atenção do
neto, mas apenas recebeu um olhar triste. – O que aconteceu, pequenino? Conte para o vovô.
– Quero ver Mag! – Respondeu voltando a fungar.
– Será rápido, podem ir na frente nos encontramos depois. – Lilian disse ainda
preocupada. – Não quero que percam a cerimônia, principalmente Liliana, ela e Estella são muito
amigas.
– Nós vamos, mas qualquer problema peça para algum dos homens de Ramon me chamar
na propriedade de sir Zac. Se cuide, querida. – Ele beijou a testa da filha e depois o ombro do
neto.
– Já podemos ir? – Alycia perguntou caminhando na direção deles.
– Eu e Walace iremos depois. – Lilian disse. – Nos encontramos na comemoração.
Depois que a mãe assentiu, Lilian seguiu para os estábulos com Walace nos braços. Depois
de assegurar que o menino estava seguro, incitou o trote do cavalo e seguiu para a propriedade de
Ramon.
O dia seria longo.
Assim que Walace constatou que Magnus estava bem se colocou ao lado do potro e
acariciou a pelagem dele.
– Ele não vai moler, maman?
– Garanto que não, querido. É apenas um machucado, não precisava se preocupar. – Ela
disse suspirando. Provavelmente a cerimônia já teria acabado.
Walace tinha a distraído fazendo inúmeras perguntas sobre Magnus e ainda quis alimentá-
lo enquanto pegava alguns ramos de capim com as pequenas mãozinhas. Ele havia ido até a relva
ao menos umas dez vezes.
– Bom, agora que Magnus está alimentado podemos ir? O vovô está te esperando e sabe o
quanto ele odeia esperar. Vamos voltar assim que possível para ver Magnus novamente e você
poderá montar nele.
Na verdade Lilian não o deixava sozinho com o potro, mas já havia o colocado no lombo
do pequeno animal e o segurava enquanto Magnus dava pequenas caminhadas.
– Plomete? – Indagou com a expressão séria.
– Claro que prometo. Agora temos que ir, mamãe até sujou os sapatos de lama. – Disse
olhando para os pés.
– Mas continua linda, maman. Agola preciso ir, Mag. Minha maman vai plo casamento,
volto logo. Plometo.
Liliana abriu um sorriso enquanto Walace caminhava em sua direção, ela segurou a mão
dele e foram até o cavalo que ela havia usado antes. Fizeram o mesmo processo e quando o cavalo
iniciou o trote, Lilian sentiu o vento arrepiar sua pele. Iria diretamente para a comemoração na
propriedade de sir Zac e teria que dá um jeito de limpar os sapatos, caso contrário, chamaria
atenção demais para si.
– Ah, elas falam do mesmo jeito. – Ela reclamou em voz alta. – Além do mais os sapatos
são meus, não é Walace?
Ela tinha certeza que ele não estava entendendo, mas o viu assentir.
Enquanto o cavalo a levava para a comemoração ela não fazia ideia do que a esperava
depois que cruzasse os portões.
Meu querido e precioso Bram, eu o amo e se não o encontrar posso morrer de tantas
saudades.
Capítulo VI
A comemoração seguia tranquilamente enquanto os recém-casados desfrutavam da
companhia de amigos e familiares. As más línguas já não poderiam atacar Estella, mas eles
preferiram passar algum tempo longe de Villat para só voltar quando o bebê estivesse com algum
tempo de vida. Algumas pessoas dançavam e outras aproveitavam a comida e bebida ignorando os
olhares contrariados dos pais da noiva.
Brenda conversava animadamente com Liliana e Daiana sobre a luta de Fergus e Lilian,
haviam comentado o quão normal era para elas manejar espadas e cavalgar tão bem tendo um tio
dono de um dos estábulos mais prósperos da Escócia.
– E porque lady Lilian não veio? – Brenda perguntou.
– Meu sobrinho a fez ir até os estábulos de meu tio, estava com medo do pequeno potro
morrer. – Liliana disse. – Até fiquei triste com a possibilidade de perder Magnus, mas o animal só
machucou a pata. Crianças são tão inocentes.
– Isso é verdade. – Brenda limpou a garganta antes de continuar. – Se meu sobrinho
estivesse aqui veriam o quão babão Allan pode ser.
Os devaneios dela foram para o tempo em que seu irmão era carinhoso com todos e de
como ele perdia a pose de highlander malvado quando estava com Bram nos braços.
– E porque seu sobrinho não veio? E a esposa do seu irmão? – Daiana perguntou.
– É uma longa história. – Disse suspirando. – Quem sabe conto a vocês, um dia quando
forem me visitar em Inverness. Na verdade, isso me faria imensamente feliz, quase não tenho
amigas para conversar e acredito que seriam as melhores companhias para passar o tempo.
As Craig se entreolharam e sorriram.
– Quem sabe um dia. – Liliana comentou ainda com um sorriso no rosto.
Allan permanecia rodeado de guerreiros que chamavam a atenção de todos. Algumas mães
haviam empurrado suas filhas para puxar conversa com Allan, mas ele apenas se limitou a
entregar um olhar frio que espantava qualquer calor humano. Era uma linda comemoração, mas ele
não estava conseguindo se divertir, apenas levantou-se e atravessou o jardim indo para fora da
propriedade de Zac.
Era nítido o grande número de cavalos e carruagens ali fora e não soube o que era pior: o
silêncio dos animais ou o barulho dos homens. Ele deu as costas para aquilo decidido a voltar
para dentro quando começou a ouvir gargalhadas.
Não eram simples ou baixas, mas cheias de vida e animação, aquilo despertou sua
curiosidade. Começou a andar entre os animais seguindo o som daqueles gargalhadas que
pareciam lhe atrair, cessou por um momento e Allan parou no ato, alguns murmúrios foram
ouvidos e logo recomeçou as gargalhadas. Se aproximando ainda mais do som, no fim da fila de
cavalos, ele viu uma criança sentada em uma enorme pedra e... Lilian Craig em frente ao menino
coberta de lama. Ela se inclinava sobre ele e cochichava em seu ouvido fazendo com que as
gargalhadas da criança aumentassem ainda mais. Ele não se aproximou ou tão pouco recuou diante
daquela cena, a mesma mulher que foi capaz de derrotar um de seus guerreiros se mostrava doce e
atenciosa diante daquele pequeno ser.
Ao menos como mãe ela parecia fazer um bom trabalho.
Cruzou os braços ainda observando e se deliciando com os sons da gargalhada do menino.
Se Bram estivesse com ele faria questão de sujar-se de lama só para arrancar risadas dele.
– A sua mamãe é uma desastrada! – Lilian disse em tom mais alto de modo que ele agora
conseguia ouvir. – É isso que dá descer do cavalo com tanta pressa. Temos que voltar pra casa,
Walace. – Lilian se inclinou para aproximar seu rosto do filho, foi quando Allan observou algo
estranho.
Enquanto os cabelos negros de Lilian brilhavam em contraste com os raios de sol, os
cabelos loiros do menino quase sumiram mesclado com a pele clara. Loiros iguais aos de Bram.
O pai dele deveria ser loiro, com toda a certeza.
Porque raios ele estava pensando no pai da criança?
Bram havia puxado os cabelos da mãe, a maldita Léa. Ao menos tinha a certeza da
paternidade já que ela era virgem quando se casaram e a única vez em que agiu diferente da
imagem que ele havia feito dela foi quando fugiu.
Soltou o ar irritado e isso foi o suficiente para Lilian notar sua presença. O que fazia ali?
Allan já estava se preparando para lhe dá as costas quando o rosto do menino se voltou para ele.
Instantaneamente seu olhar cruzou com o de Allan e no ato Lilian viu os olhos do highlander
quase saltarem das órbitas.
O rosto sereno de Walace ficou parado no tempo enquanto Allan o observava com atenção.
Sua mente foi jogada em um mar de recordações que até aquele dia havia lhe ajudado a prosseguir
com as buscas.
O menino sorriu ligeiramente para o pai e Allan estendeu as grandes mãos para pegá-lo
no colo. Assim que o deitou em seus braços o sorriso se alastrou sobre o rosto do guerreiro.
– Espero não ter demorado, dessa vez o papai prometeu e cumpriu. Voltei em três dias. –
O menino se mexeu e fez uma careta. – Oh, eu sei que cheguei agora de madrugada, mas
cheguei não foi? Vou lhe dizer algo sobre a palavra de um escocês pequeno Bram: sempre que
prometemos algo fazemos de tudo para cumprir e eu não poderia quebrar minha promessa,
agora teremos um tempo juntos. Apenas nós dois.
O olhar de Allan foi para a cama afastada do pequeno berço. Léa dormia com um dos
travesseiros sobre os ouvidos, por isso ele julgou que ela não havia ouvido Bram chorar.
– Ela só está cansada. – Disse com a expressão séria tentando não passar sua fúria para
o filho. No dia seguinte teria uma conversa séria, novamente pra variar. – Eu amo você pequeno
Bram, lembre-se sempre disso.
Com uma das mãos livres ele tocou o pingente de espada que estava no pescoço de
Bram. Aquilo era mais do que um simples artefato, era algo que representava a parte do
pequenino na família O’Brien.
Saindo do devaneio, seus olhos permaneceram no rosto e traços do menino. Sua boca abriu
em espanto enquanto buscava o ar. Estaria ficando louco? Não sabia ao certo, mas o nariz, a boca
e os olhos... Ah, meu Deus! Os cabelos... Tudo era praticamente igual ao de Bram mesmo tendo
passado quatro anos. Seria ele?
Não...
Sim...
Não sabia se aquilo era fruto de sua imaginação, mas sentiu o coração bater como se
estivesse em um campo de batalha.
Se aproximou devagar como um leão e viu quando Lilian pegou o filho no colo. Seu...
Filho? Mas como seria possível? Ele parou diante deles e seus olhos buscaram novamente os do
menino.
É meu pequeno Bram.
Depois que Allan parou seus olhos lacrimejaram e as lágrimas desceram sobre sua face.
Lilian não entendia o motivo daquilo, mas logo percebeu o olhar dele fixado em seu filho.
Recuou um passo.
– Bram! Bram é você! – Não era uma pergunta e Lilian se incomodou com aquilo. – Meu
pequeno Bram! – Allan estendeu as mãos como se quisesse pegar o menino e ela recuou outro
passo franzindo o cenho.
O desespero era nítido na expressão dele, principalmente quando ela o olhou com fúria.
– O que quer? – As palavras dela não foram amigáveis.
– Ele... Ele é... – Por mais que tentasse não conseguia formar uma frase sequer. Allan
começou a chorar e rir ao mesmo tempo. – Oh, meu Deus! Eu não sei como, mas ele... – Apontou
para Walace. – Bram... – Allan puxou a ar para dentro com força para falar as próximas palavras.
– É MEU FILHO. ELE É MEU FILHO!
– FILHO? – O rosto dela se contorceu em desgosto. – Walace é meu filho, não sei o que
aconteceu com o senhor, mas... – Foi então que a fala dela se perdeu lembrando-se de como
Walace havia parado em seus braços.
Bram? Filho?
O estômago ela embrulhou com o pensamento e teve que morder o lábio inferior com força
para não acabar vomitando. Oh, meu Deus!
Não, não, não, não, não!
Ele não poderia ser... Ou poderia? Não! De forma alguma deixaria alguém tirar Walace
dela.
– Maman! – A voz do pequenino fez com que ambos o olhassem. – A senhola está bem?
Lilian não foi capaz de responder, apenas apertou ainda mais seus braços ao redor dele e
recuou vendo que Allan se aproximava.
– Se afaste! – Ela o alertou enquanto Walace passava os braços ao redor do pescoço dela.
– Ele é meu filho! – O tom de súplica, dor e desespero encheram os ouvidos dela.
– Ele é meu filho. Só meu! – Foi a vez dos olhos dela lacrimejarem.
A possibilidade de alguém querer tomar Walace a deixava vulnerável e isso despertava
sua fúria.
– Tenho que segurá-lo e não será você a me impedir. – Ele investiu contra ela e mesmo
ciente de que o menino escondia o rosto no pescoço dela, parou bastante próximo colocando um
de seus braços fortes na cintura de Lilian a impedindo de recuar ainda mais. Encostou a testa no
ombro do pequenino e respirou fundo diversas vezes sentindo seu cheiro.
O cheiro de seu filho.
Claro que não era o mesmo de tempos atrás, mas ainda era seu filho.
– Meu pequeno, Bram. Quanto tempo esperei por isso... – Ele disse ainda chorando e
segurou a pequena mão dele. – Você continua lindo. Meu filho.
Aquilo deixou Lilian desconcertada, o suficiente para Allan estender as mãos e tirar
Walace de seus braços. O desespero tomou conta dela, o vazio se abateu fazendo com que sentisse
náusea. Allan abraçou o menino em meio as risadas e começou a beijar a face dele, as pontas de
seus dedos percorreram os traços de Walace e em nenhum momento o sorriso deixou seu rosto.
– Está tão crescido, Bram. Está forte e... Meu filho. – Voltou a abraçá-lo enterrando o rosto
no pescoço do pequeno.
Lilian se aproximou e estendeu os braços temendo o que estaria por vir.
– O devolva! – Implorou com a respiração pesada. – Me dê meu filho, highlander. O
DEVOLVA AGORA MESMO! – O grito dela ecoou fazendo com que Allan voltasse a realidade.
Ele levantou o olhar demonstrando fúria.
– Ele é... – Allan começou.
– Maman! – Walace estendeu os braços para ela, foi quando Allan se deu conta da ligação
de seu filho com a Craig. Ele a considerava uma mãe.
Apertando os lábios com força ele afrouxou os braços e ela pegou Walace se afastando o
mais rápido possível, mas parou quando viu seus pais e até mesmo os noivos se aproximarem.
– O que está acontecendo? – Richard perguntou analisando a face desesperada da filha.
– Papai... – Ela fungou buscando as palavras, mas não sabia como explicar que o maldito
highlander dizia ser o pai de Walace.
– É o Bram! É ele, Zac! – Allan disse com alegria.
Zac encarou o menino e seus olhos se arregalaram. Ele estava mudado, mas reconheceria a
criança em qualquer lugar. Era Bram e todo aquele tempo estava embaixo de seu nariz.
– Como isso é possível? – Zac indagou perplexo.
– Não sei, mas é ele! É ele!
Os olhos de Alycia pairavam entre a filha, Walace e Allan. Santo Deus! Os traços do rosto
de seu neto eram parecidos com o do highlander, mas isso não significava que ele poderia ser um
parente do menino.
A felicidade de Allan era revertida na agonia de Lilian.
Ela o encarou por cima do ombro e se deu conta de que se Allan O’Brien fosse pai de
Walace, ele teria direitos sobre ele... Mais direitos do que ela.
– Ele é meu filho e não permitirei que nada e nem ninguém o afaste de mim novamente. –
Allan disse a olhando com firmeza. – Não sei como meu filho foi parar em seus braços, mas não
abrirei mão dele. Você vê, Zac? Ele cresceu tanto...
– Não tem como ter certeza que você seja o pai do meu filho. – Ela disse com fúria
entregando o pequeno a sua mãe. – Por favor, o leve para nossa casa.
– Nos veremos em breve pequeno Bram. – Allan disse acenando para o filho com um
sorriso no rosto enquanto Alycia o levava. Quando se voltou para Lilian sua expressão mudou por
completo. – Quero uma explicação agora mesmo!
– Não devo nenhum tipo de explicação a você e não se atreva a se aproximar de Walace! –
Ela apontou o dedo na altura do peito dele com fúria. –Não tem como provar que é o pai dele!
– Lady Lilian... – Zac começou. – Ele é o filho de Allan. Isso eu garanto.
– Me perdoe, mas sua garantia não vale nada. – Lilian enxugou uma lágrima que caiu
involuntariamente. – Sou a mãe dele e nem você e nem ninguém o separará de mim.
Ela lhe deu as costas e começou a andar ao lado do pai. Parou quando ouviu a voz dele.
– Se quer uma prova lhe darei, milady. – Allan ralhou com escárnio. – E farei isso com
todo o prazer, principalmente quando levar meu filho para o lugar de onde ele nunca deveria ter
saído: do meu lado em meu castelo.
Aquelas palavras a atingiram em cheio, mas não se virou para olhá-lo. O conde o encarou
em alerta passando o braço pelos ombros da filha. Ela precisava sair dali e abraçar seu filho com
todas as suas forças.
Só Walace a acalmava.
Só ele poderia fazer com que seu coração voltasse ao ritmo normal.
Perdê-lo seria a mesma coisa que arrancar seu coração.
Não permitiria que Allan o levasse e faria de tudo para impedir isso, mesmo que fosse a
última coisa que fizesse em sua vida.
Ah, meu querido Bram... Agora que o encontrei jamais poderei deixá-lo.
Capítulo VII
Allan andava de um lado para o outro enquanto Brenda observava com as mãos unidas na
frente do corpo. Ela tinha um sorriso apreensivo no rosto e por mais que pedisse para ele se
acalmar, Allan simplesmente não conseguia sentar-se e ficar parado.
– Ele está tão crescido, Brenda... E o rostinho dele é praticamente o mesmo. Ah, e aqueles
olhos azuis e os cabelos loiros... É ele, Brenda. – Ele respirou fundo passando as mãos pelos
cabelos negros. – Finalmente esse sofrimento acabou. Graças a Deus.
– Ainda não entendo como ele foi parar nas mãos de lady Lilian. O que foi de Bram depois
que Léa o levou?
– Sinceramente não sei, mas de uma coisa eu tenho certeza: é meu filho e não vou permitir
que ele fique longe de mim novamente. Aliás, era pra ele estar aqui conosco.
– O importante agora é que você o encontrou. Tente se acalmar e não agir de cabeça
quente, Allan. Tudo vai se resolver, só tenha um pouco de paciência.
Brenda se aproximou e o abraçou. Ele a segurou firme e beijou sua face. Quando se
afastaram ela se despediu e adentrou na propriedade.
Ele não conseguiria dormir, pela primeira vez em anos sua insônia era de felicidade. Seu
pequeno Bram... Na verdade seu grande e forte Bram.
Respirou fundo e sentou-se pensando em tudo que acontecera naquele dia. Ele merecia
estar ao lado do menino naquele exato momento e se Lilian queria uma prova a teria. Levantou-se
lembrando da prova crucial que teria para dar aquela mulher.
– Fergus! Acorde alguns guerreiros. – Allan começou dá suas ordens.
– Está acontecendo alguma coisa, milorde? – Fergus perguntou se levantando em alerta.
– Vamos buscar o meu filho! – Disse com precisão indo na direção dos cavalos.
Quando chegaram na propriedade de Zac, o frio estava ainda pior. Alguns guerreiros
voltaram a dormir e Allan carregou o menino que permanecia dormindo até a entrada. Fergus o
acompanhou em silêncio.
– Ainda bem que ele não acordou. – Allan comentou beijando a face do menino.
Começaram a subir as escadas e antes que Allan alcançasse o quarto, o highlander abriu a
porta para ele passar com o filho. Devagar, Allan o colocou na cama. Walace apenas se mexeu e
levou o pequeno dedão até a boca.
– Agora posso falar, milorde? – Fergus perguntou e Allan sentiu a seriedade em seu tom.
– Se for pra criticar...
– Não é uma crítica, senhor. É um conselho. – Como ele não replicou, Fergus continuou. –
Se essa foi a forma de demonstrar seu agradecimento pela mulher que foi corajosa o suficiente
para criar seu filho mesmo sendo solteira, devo dizer que foi uma péssima ideia. Não me tome por
intrometido ou desrespeitoso, mas não deveria agir por impulso. Sei o quanto sofreu porque
acompanhei tudo de perto, mas não é justo e nem humano tirar um filho de uma mãe. – Fergus o
encarou e depois desviou o olhar para Walace. – O senhor sofreu tanto quando Léa o levou, mas
acabou fazendo o mesmo com lady Lilian.
Os olhos de Allan se arregalaram ligeiramente. Fergus fez uma reverência e saiu o
deixando sozinho.
Walace começou a abrir os olhos e se mexeu na cama com naturalidade, mas ele sentou-se
rapidamente.
– Maman?
Allan se aproximou cauteloso e sorriu para o menino que esfregava os olhinhos.
– Oi. – Ele disse timidamente e tocou a face do filho.
– Onde está minha maman? – Walace fez um beicinho demonstrando que iniciaria um choro
e Allan se desesperou. Estendeu as mãos para ele e o segurou o colocando em seu colo.
– Vai ficar tudo bem, eu prometo.
– Minha maman não está?
Ele encarou os olhos suplicantes do menino e sentiu um aperto no peito. Negou com a
cabeça e Walace estendeu a mão para tocar os cabelos de Allan que chegavam aos ombros. Os
pequenos dedinhos percorreram alguns fios e ele fechou os olhos desfrutando do carinho do filho.
– Não é igual da minha maman. Quero minha maman!
Walace começou a chorar e Brenda apareceu na porta. Adentrou e sentou ao lado do irmão.
– Ele quer... A mãe. – Allan disse com o rosto retorcido.
– Venha até a titia. – Brenda o segurou deitando a cabeça dele em seu peito, mas Walace
estava agitado.
– Ela vem? – O menino indagou com a voz chorosa. – E Mag? E o bobó? Quelo ir pa casa.
Brenda começou a balançá-lo em seus braços e aquilo partiu o coração de Allan. Foi
naquele momento que ele ponderou se realmente tinha tomado a decisão correta.
Ah, meu querido Bram... Parece que uma lady já tomou seu coração.
Capítulo VIII
A tempestade que caía sobre Villat era comparada ao coração de Lilian naquele momento:
feroz e fria. Ela permanecia encostada próximo a janela vendo como os pingos de chuva destruíam
a terra ao redor das raízes das flores.
Ela era as flores.
Allan, os pingos de chuva a destruindo.
Ela não conseguia olhar para o leito vazio sem Walace. Se tudo dependesse dela, já estaria
na propriedade de Zac para resgatá-lo, mas seus pais a impediram a alertando que seria inútil já
que haviam inúmeros guerreiros rodeando a propriedade se sir Zac.
O sol estava começando a nascer e mesmo que todos tivessem conseguido dormir por um
momento, ela não pregou o olho. Precisava de Walace tanto quanto ele precisava dela. Ouviu
batidas na porta, mas as ignorou por completo. Só queria que a chuva passasse e ela conseguisse
sair de casa para pegar seu filho.
As batidas insistiram.
– Entre! – Ordenou com a voz arrastada.
– Milady, tem um mensageiro do senhor O’Brien na sala. – A criada disse abrindo a porta.
Aquilo a despertou. Lilian passou pela mulher correndo e desceu as escadas mais rápido
do que esperava. Antes que conseguisse chegar no fim dos degraus, suas pernas vacilaram, mas
antes que pudesse cair, braços fortes a seguraram.
Era Fergus.
– Onde está meu filho? – Sua voz arranhada demonstrava o quanto havia chorado.
– Milady... – Ele começou a soltando. – Venho trazer uma mensagem de meu milorde.
– Ele já foi embora? Por favor, diga que não!
– Não, milady. – Fergus suspirou a observando com cautela. – Vim buscá-la para o
compromisso que o milorde marcou com a senhorita.
– Compromisso? – Lilian semicerrou os olhos.
– No dia em que a senhorita me derrotou, ele disse que a desafiaria um dia depois do
casamento de sir Zac. Ele quer lutar com a milady perto do lago.
Lilian começou a andar de um lado para o outro ainda confusa. Como ele iria querer
desafiá-la depois de tudo? Ela encarou Fergus buscando respostas, mas ele estava tenso... e
encharcado.
– Espere um momento.
Lilian subiu as escadas sentindo a fúria rugir dentro de si, entrou no quarto e procurou em
uma das gavetas o pingente de Walace. O segurou com força em uma de suas mãos e na outra
segurou firme a espada. Se ele queria um desafio, o teria.
Voltou para sala e fez um gesto com a mão para que o guerreiro a acompanhasse. Fergus a
seguiu em silêncio enquanto Lilian se enfiava dentro dos estábulos. Alguns instantes depois a
mulher que ele viu de vestido e de cabelos alinhados, saiu dos estábulos de calças e com os
cabelos presos.
– Vai ficar aí parado? – Lilian perguntou o encarando com a expressão séria.
Subiu no cavalo rapidamente e quando percebeu que Fergus também já o tinha feito, incitou
o trote do animal.
Allan segurava firmemente a espada junto ao corpo enquanto a chuva impetuosa insistia em
cair. Quando ele percebeu que os cavalos se aproximavam, levantou seu olhar ao mesmo tempo
em que ficava perplexo por ver Lilian vestida daquele jeito.
Ela desceu do lombo do animal com astúcia e andou em sua direção. Seus olhos revelaram
a ira que estava sentindo e Allan apertou os lábios com força formando uma linha fina. Assim que
ela parou diante dele apontou a lâmina em sua direção.
– Fergus! – Ele disse sem desviar os olhos dos dela. – Vá e faça o que lhe ordenei.
– Sim, milorde.
Fergus retomou a cavalgada os deixando a sós.
– Depois não reclame se ficar com uma enorme cicatriz no pescoço. – Ela disse entre os
dentes enquanto ele se movia com cautela.
Fazendo o mesmo que ela, apontou a lâmina da espada e esperou para que ela investisse
primeiro.
Quando Lilian fez a primeira investida, ele desviou. Os dois se moviam com cuidado e ela
investiu novamente. Falhou.
Ele parecia calmo e aquilo estava fazendo com que a fúria dentro dela só aumentasse. O
que ele queria? Testá-la? Humilhá-la? Já não tinha feito estrago suficiente?
Lilian respirou fundo lembrando-se dos últimos acontecimentos e voltou a investir contra
ele com mais força, a lâmina o atingiu no ombro deixando uma linha fina de sangue. Allan pareceu
não se importar. Novamente investiu contra ele se aproximando, mas a espada dele a impediu se
chocando com a sua no mesmo instante em que um trovão ecoava no céu.
Ficaram frente a frente se encarando.
Allan viu a coragem brilhando nos olhos dela. A chuva fazia com que os cabelos de ambos
grudassem em seus rostos, Allan a forçou para trás e conseguiu se libertar.
Agora era sua vez de investir.
Foi em sua direção com firmeza e novamente as lâminas se chocaram. Dessa vez não teve
trovão, mas ele a viu cambalear com a respiração pesada. Lillian passou a mão livre pelo rosto e
voltou a encará-lo.
– Você não tinha o direito de levá-lo! – As palavras dela foram seguidas por sua próxima
investida. Lilian rugiu, mas Allan foi mais rápido e impediu que se ferisse novamente.
Lilian fechou a mão em punho e se encurvou tentando amenizar a dor que se alastrava em
seu coração. Ela começou a chorar. Aquilo desarmou Allan por completo. Cauteloso, ele baixou a
espada e se aproximou. Parou diante dela e quando abriu a boca para falar algo, Lilian ficou ereta
e investiu novamente lançando longe a espada de Allan.
Ela ergueu a lâmina até o queixo dele enquanto ouvia o eco da espada do destemido cair
no chão.
– O milorde entrou em minha casa, roubou meu filho e ainda ousa me desafiar? Lembre-se
disso milorde: uma Craig o venceu. E agora estarei pegando meu filho e o levando de volta para
casa!
Os olhos dele permaneceram fixos na lâmina da espada e Lilian a elevou sob o queixo dele
fazendo com que Allan erguesse a cabeça.
– Agora que me derrotou, milady, gostaria de lhe fazer algumas perguntas.
– Não tem direito algum de me fazer perguntas. Deveria ter pensado nisso antes, teria
evitado muito sofrimento. – A voz dela estava trêmula.
– Preciso saber como Bram foi parar em seus braços. Passei quatro longos anos o
procurando, acredite ou não desde que eu descobri que ele havia sido arrancado de mim nunca
mais tive uma noite inteira de sono. – A voz dele estava afetada e Lilian notou o horror em sua
expressão. – Todas as noites me perguntava onde ele estava, se havia sido alimentado, se estava
bem ou até mesmo... Se estava vivo. Não sabe a agonia que senti todo esse tempo e quando o vi
ontem... Meu coração de pai simplesmente não aguentou. Pensei... Meu Deus... Pensei que você
não entenderia e faria de tudo para que eu não o levasse e o simples pensamento de outra pessoa o
arrancando de mim novamente é insuportável. Agi sem pensar e admito isso, peço perdão por ter
agido de cabeça quente.
O embrulho no estômago de Lilian foi inevitável, viu o sofrimento estampado no rosto do
homem à sua frente e tudo parecia sem sentido. Devagar, baixou a espada e o encarou derrotada.
Não pela luta, mas por tudo o que ele, Walace e até mesmo ela estava passando.
– Como passou tanto tempo longe? Você disse que ele foi arrancado de vocês, mas como?
– A mãe de Bram o levou, ela fugiu com um inglês e o levou consigo. Eu tinha ido ajudar
meu irmão em algumas batalhas e quando voltei os criados me disseram que ela havia ido embora
e pior: com meu filho. Fiquei desesperado e a primeira coisa que fiz foi olhar se ela tinha deixado
alguma coisa que me levasse até Bram. – Allan passou as mãos pelos cabelos e voltou a encará-
la. – Vamos sair dessa chuva.
Ele lhe deu as costas e começou a andar na direção das árvores. Sentou-se encostado no
enorme tronco e Lilian o acompanhou sentando-se ao seu lado. Estava exausta, mas se deu conta
das palavras dele.
A mãe de Bram... Oh Deus!
– Eu o encontrei. – Ela disse. – Em uma cesta na floresta, por ali. – Lilian apontou
indicando o lugar que havia mudado com o tempo. – Estava voltando de Blat, ouvi o choro
enquanto os cavalos saciavam a sede e quando fui ver... Ele estava choroso encolhido na cesta e
estava encharcado porque ele havia molhado os panos. Foi horrível!
Allan fez uma careta imaginando o quão cruel era a mulher que havia dado à luz a seu
filho.
– Aquela miserável não tem coração. – Allan começou. – Foi ela quem deixou a cicatriz no
braço de Bram. Léa o machucava e eu nunca havia notado. –A culpa era nítida em seu tom de voz.
– Até agora não sei porque ela o tirou de casa quando sempre demonstrou não o querer. Acredito
que o fez por capricho só para eu sofrer.
– Ele tinha várias manchas pelo corpo. – Lilian disse perplexa. – Se eu não tivesse o
encontrado poderia estar morto. Assim que cheguei em casa naquele dia uma tempestade caiu. Ah,
ele chorava tanto... Passou alguns dias doente e eu não fazia a mínima ideia do que ele havia
passado antes de encontrá-lo.
Ele se inclinou para ouvi-la melhor.
– Mamãe arrumou uma ama de leite e depois de alguns dias a temperatura dele voltou ao
normal e ele começou a se ajustar ao nosso ritmo. – Ela deu uma pausa ficando envolvidas nas
lembranças. – Eu tinha que ficar com ele e não me importaria com os contras. Meus pais aceitaram
porque sabiam que eu não conseguiria deixá-lo. Eu... Eu abri mão de um possível casamento, de
uma vida que todos chamariam de normal só para tê-lo e quando ele me chamou de maman pela
primeira vez vi que tudo havia valido a pena.
Allan respirou fundo se dando conta de tudo que ela havia abdicado para estar com Bram:
sua reputação, juventude... Simplesmente tudo para acolher e tomar para si um filho que ela não
tinha dado à luz.
– Obrigado. – Ele disse sentindo-se culpado. – E novamente peço perdão. Não estava
pensando direito. Tinha acabado de o encontrar e estava... perturbado.
Ela não disse nada e ele julgou que ela não iria perdoá-lo.
– Ele não dormiu. – Allan disse depois de um tempo. – Quando o coloquei na cama e ele
acordou não teve quem o fizesse voltar a dormir. Até teve febre e pensei em levá-lo de volta, mas
a chuva começou a cair e temi colocá-lo debaixo desse temporal e piorar sua saúde.
Lilian voltou seu olhar para ele.
– Vou poder levá-lo para casa?
Allan apenas assentiu.
– Mas temos que arrumar uma forma de resolver isso porque não posso ficar longe dele!
– Nem eu! – Ela disse ficando de pé. – Vou buscá-lo.
Lilian deu alguns passos saindo da proteção da árvore, mas parou quando a voz dele
ecoou.
– O que tem seu cabelo? – Ele perguntou caminhando até ela. – Bram disse que queria sua
maman e os cabelos dela.
Um sorriso esperançoso surgiu na face de Lilian. Sua mãe estava certa: Walace nunca se
esqueceria dela.
– Quem sabe um dia não conto. – Respondeu animada. – É um segredo de mãe e filho.
Lilian andou na direção dos cavalos ainda sendo seguida por Alan. Quando ambos já
estavam montados nos animais, iniciaram a cavalgada. Lilian indo ao encontro de seu filho e
Allan... Bom, ele ainda não sabia o que estava indo encontrar, mas tinha certeza de uma coisa: se
fosse para estar ao lado de Bram, aceitaria qualquer coisa.
Querido Bram, eu o amo e sua maman parece o amar da mesma forma... Até mais do
que eu imaginei.
Capítulo IX
Brenda se pôs na entrada assim que Lilian e Allan atravessaram os portões. Vários
pensamentos rondavam sua mente desde que seu irmão havia saído para enfrentá-la e chegou a
temer pela vida de lady Lilian. Ao constatar que ela estava bem, suspirou aliviada.
À medida que eles se aproximavam, Brenda ficava mais perplexa, a lady que ela havia
conhecido estava completamente encharcada e suas roupas... Oh, Deus. Estava vestida feito um
cavalheiro. Ela deu espaço para que eles entrassem e assim que Lilian adentrou, seus olhos
procuraram por seu filho.
Sentado ao lado de uma criada, Walace se alimentava. Assim que ele percebeu a presença
dela, levantou-se e correu na direção de sua maman.
– Maman! – O menino saltou em seus braços e Lilian o abraçou afundando o rosto no
pequeno pescoço dele. Logo notou que não estava mais com febre e aquilo aliviou seu coração.
– Oh, querido! Senti tanto a sua falta. – Disse beijando o rosto dele e sentindo seu cheiro. –
Você está bem?
– Sim! Cholei porque a senhola não estava aqui e ele me disse que você viria, mas não
veio. – Ele fez biquinho sinalizando que iniciaria o choro, mas Lilian voltou a abraça-lo e a
ameaça foi embora.
– Eu estou aqui, meu pequeno. Lhe garanto que você nunca mais sairá do meu lado.
Lilian beijou a face do menino diversas vezes e sentou-se em um dos degraus da escada
ainda com ele no colo. Allan observava tudo com o coração acelerado, se aproximou e sentou-se
ao lado dela. Lilian se deu conta que havia colocado o pingente em si e o tirou do pescoço estendo
para Allan.
– Acho que você deve dá-lo novamente. – Ela disse com a boca encostada na pele do filho.
– Walace, você já deve conhecer esse senhor, o nome dele é Allan.
– Oi, Walace. – Ele ainda estava tentando se acostumar com o novo nome de seu filho. – É
um prazer conhecê– lo.
Walace olhou para mãe buscando aprovação e quando ela assentiu o menino o encarou.
– Oi, Allan. – Falou devagar.
– Eu posso pegá-lo? – Allan perguntou com o olhar vacilante e Lilian assentiu devagar. Ele
estendeu as mãos para o filho e Walace novamente buscou a aprovação da mãe, ela assentiu e
Allan o colocou sentado em suas pernas. – Está vendo isso, Walace? É uma espada só que em
tamanho menor. Eu gostaria de lhe dá, você aceitaria?
Walace segurou o pingente com as pequenas mãos e observou atentamente, passou o
dedinho pela pedra cravada e sorriu.
– É bonito, minha maman me deu uma espada. – Ele disse sorrindo ainda mais para Allan.
– E ela me disse que serei um guerreilo.
– Com toda a certeza será! – Allan disse orgulhoso e sorrindo. Era a primeira vez que
Lilian via aquele highlander sorrir. Ele colocou o pingente no pescoço de Walace e beijou a face
dele. – Quem sabe eu não lhe ensino como manejar uma espada com astúcia? Você gostaria?
Walace olhou para Lilian novamente buscando aprovação.
– Minha maman deixa. – Ele esclareceu. – Mas meu bobô me ensinou a manejar espada.
Ele... – Walace aproximou sua boca da orelha de Allan e começou a sussurrar. – Ele disse que
sou melhor que minha maman, mas não conta pa ela.
– É o nosso segredo. – Allan disse sorrindo ainda mais. Quando olhou para Lilian, notou
que ela também sorria, era um sorriso delicado e foi a primeira vez que ele notou as olheiras dela.
– Mas devo admitir que sua mãe também sabe manejar uma espada muito bem, olhe só.
Os dedos de Allan alisaram a ferida de seu ombro e Walace o olhou boquiaberto.
– Minha maman fez isso?
– Sim, ela não é má?
Lilian o olhou com os olhos semicerrados.
– Ela não é má! – Walace afirmou. – Se ela cotou você foi porque meleceu.
O sorriso que Allan carregava se desmanchou por um momento. Ele tinha percebido na
noite anterior que seu filho não falava corretamente, mas julgou que fosse pelo fato de estar
chorando. Agora ele estava perto da mãe e sua fala ainda era distorcida mesmo para alguém de
sua idade.
– Ele não consegue falar tudo corretamente. – Lilian disse. – Não sei o que aconteceu antes
dele chegar em meus braços e meu tio acha que ele deve ter sofrido algum trauma. Até mesmo
para começar a falar foi mais demorado do que o previsto.
O menino ainda continuava a brincar com o pingente e Allan segurou as mãozinhas dele, as
beijou e depois encarou Lilian.
– Obrigado novamente. – Ele disse respirando fundo. – Se você não tivesse o encontrado
só Deus sabe o destino que Bram teria. E novamente peço perdão.
Lilian apenas assentiu e ele não soube discernir se ela já tinha o perdoado.
– Lady Lilian. – Brenda disse se aproximando. – Se permanecer molhada dessa forma
acabará doente e sinceramente me impressiono pelo fato de ainda não ter congelada nesse frio.
Venha! – Brenda segurou sua mão e a levantou. –Lhe emprestarei um de meus vestidos.
– Não será preciso, voltarei para casa antes que meus pais acordem. Isso se eles já não se
levantaram.
– Vai nessa chuva? – Allan perguntou prontamente.
Ela olhou para Walace imaginando como sair dali sem colocar a saúde dele em risco,
ponderou por um momento voltando seu olhar para fora vendo a chuva cair bruscamente.
– Tenho que ao menos avisar a meus pais que estou bem. – Disse apertando os lábios.
– Mandarei um mensageiro até a propriedade do conde, não se preocupe com isso. – Allan
falou ficando de pé e ajeitando Walace em seus braços, o menino pareceu sentir alguma ameaça e
estendeu os braços para a mãe. Lilian o segurou. – Além do mais Brenda está certa: você poderá
adoecer.
– Você também está encharcado! – Ela replicou.
– Bem, eu já vou me trocar. – Rebateu. – Mas se sua intenção for voltar para a chuva com
toda a certeza ficará doente. Peço que reconsidere o favor de minha irmã e aceite um de seus
vestidos.
Lilian mordeu o lábio inferior pensando se aceitaria, de fato estava encharcada e ainda
acabara de molhar Walace. Sem muitas escolhas aceitou o favor de Brenda e ainda com o filho
nos braços, subiu as escadas seguindo a irmã de Allan.
Assim que chegaram no aposento que Brenda estava hospedada, ela separou um vestido
azul para Lilian. Com Walace no chão, ela seguiu para uma parte mais reservada do cômodo e
começou a se trocar. Ouviu quando Brenda ofereceu algo a Walace só para que ele saísse e a
deixasse mais à vontade.
As roupas estavam grudadas em seu corpo e ela precisou fazer um pequeno esforço para
arrancar a calça de si. Quando terminou enxugou-se com uma toalha que havia encontrado em cima
da cama e depois passou o vestido pela cabeça. Ficou um pouco apertado e assim que se ajustou a
seu corpo ela notou o vago em suas costas, se virou em frente ao espelho e percebeu os pequenos
botões que iam da metade de suas costas até acima dos ombros.
Ótimo.
Suspirou frustrada e decidiu esperar por alguma criada ou Brenda voltar para então fechar
os botões. Pegou novamente a toalha e começou a enxugar os cabelos negros, ainda em frente ao
espelho alisou os fios com os dedos e tentou os deixar atrás da orelha.
– Brenda! – A porta se abriu de súbito e Lilian deu um pequeno salto vendo a enorme
figura de Allan no batente da porta. – Me desculpe, pensei que Brenda estivesse aqui. Você está
bem? – Perguntou notando a expressão estranha no rosto dela.
Ele já estava enxuto e com outras vestes, seu cabelo ainda molhado estava levemente
grudado no rosto que ainda estava com a barba a fazer.
– Estou ótima. – Respondeu rapidamente cruzando os braços e rogando para que ele não
visse que ainda faltava fechar os botões.
Ele semicerrou os olhos e então notou que ela estava... Corada? A presença dele estava a
deixando sem graça, deu um passo recuando e segurou a maçaneta.
– Eu sinto muito, com licença. – Assim que a porta se fechou Lilian soltou o ar aliviada.
Ele não sabia bater?
Se voltou para o espelho e viu suas bochechas levemente rosadas. Ela tinha corado? Oh,
Deus! Ajeitou novamente o cabelo e decidiu que se Brenda ou ninguém mais que pudesse ajudá-la
não viesse logo, ela tiraria o vestido e iria para casa com as mesmas calças.
Alguns segundos depois uma criada bateu na porta.
Do pátio da propriedade de Zac, Allan observava a chuva agora mais fraca insistindo em
cair. Ele estava de braços cruzados e apenas desviou o olhar para olhar Fergus de soslaio.
– Quem ganhou? –Ele perguntou com um pequeno sorriso no rosto.
Allan maneou a cabeça com a expressão fechada e isso fez com que Fergus logo concluísse
quem saiu como vencedor do confronto.
– Onde essas mulheres aprendem a manejar espadas? – Allan perguntou olhando para o
guerreiro. – Ela segura a espada com tanta força que os nós de seus dedos ficam brancos, mas em
nenhum momento hesitou em levantar a lâmina. E ainda estava vestido igual a um... Um de nós!
Me pergunto se o conde sabe disso.
– Pelo que me disseram não só ela, mas também as outras irmãs tem um gosto peculiar
pelas espadas. – Fergus soltou uma pequena risada. – Me disseram que a condessa as ensinou.
– É estranho, mas agora eu não ficaria admirado caso Bram já soubesse montar ou até
mesmo manejar uma espada. Ele me disse que ela havia lhe presenteado com uma. – Foi a vez de
Allan sorrir. – Ele é tão gentil, Fergus. É um verdadeiro O’Brien.
– Sim, milorde. Ele é, mas temos que ceder e admitir que lady Lilian fez um ótimo trabalho
todos esses anos. É uma criança saudável e amigável, antes do senhor chegar ele estava
conversando com as criadas e com lady Brenda sobre a maman dele. Ele a ama muito.
– É nítido até mesmo para quem nunca os viu juntos. Ela o salvou! Abriu mão de tantas
coisas só para dar uma vida a meu filho. – A voz de Allan mudou e Fergus notou o tom amargo. –
Aquela maldita o deixou na floresta, tantas coisas passam pela minha cabeça só de imaginar o que
poderia ter acontecido se lady Lilian não tivesse o encontrado.
Ambos ficaram em silêncio.
A chuva agora parecia querer parar e Allan lembrou-se de que quando a tempestade fosse
embora, seu filho também iria. Teriam que dá um jeito naquilo, voltar para Inverness sem Bram
estava fora de questão, mas por outro lado o levar significaria o sofrimento de seu filho e também
o de Lilian.
Não sabia o que fazer.
– O mensageiro já voltou? – Allan indagou.
– Sim. A condessa mandou avisar que caso sua filha ou seu neto voltassem com um fio de
cabelo a menos... – Fergus engoliu em seco. – Ela arrancaria seu nariz e daria aos porcos.
O Highlander esperou a expressão fechada de seu milorde, mas ao invés disso Allan
soltou uma gargalhada. Não foi baixa ou curta, mas uma gargalhada que parecia estar prestes a
explodir seu peito. Fergus ficou boquiaberto, seu milorde nunca sorria, principalmente depois da
partida de Bram, mas agora... Ele sorria abertamente.
Allan sabia que o olhar de Fergus era de total confusão, mas seu enorme sorriso não era
por conta do alerta da condessa e sim pela felicidade dos últimos acontecimentos: ele havia
encontrado seu filho! Seu filho!
Quando ouviu a voz atrás de si sabia que, mesmo parecendo quase impossível, seu sorriso
tinha se alastrado ainda mais.
– Allan? – A voz de Walace ecoou e o menino andou até o pai. – Lady Benda me disse pra
dá isso.
Walace estendeu as mãos e mostrou para Allan alguns morangos que estavam machucados
pelo aperto dos pequenos dedos. Allan levantou seu filho e o girou antes de acomodá-lo nos
braços.
– Obrigado. – Disse beijando a face do menino. – Pelos morangos e por estar aqui.
– Eu molo perto daqui. Esqueceu?
– Nunca me esquecerei! – Respondeu achando engraçado.
Ele pegou um dos morangos e comeu sob o olhar atento de Walace. Quando terminou
depositou outro beijo na bochecha do filho manchando sua pele de vermelho.
– Se você me der um beijo na bochecha também ficarei com uma mancha. – Allan disse o
persuadindo.
O menino depositou um beijo na bochecha dele e viu a mancha vermelha causada pela cor
da fruta também deixada em seus lábios. Walace sorriu abrindo a boca em espanto.
– É mesmo!
Os dois sorriram cúmplices inertes ao olhar cauteloso de Lilian. Ela não sabia como se
sentir naquele momento, mas havia decidido que enquanto Walace estivesse bem, tudo estaria
bem.
Assim ela esperava.
Ah, meu querido Bram... Creio que meu coração vai explodir de tanta felicidade.
Capítulo X
Walace rapidamente correu para os braços de Richard que logo tratou de encher o neto de
beijos. Não se importou de estar em público e ainda relutou quando Alycia quis o segurar. O
pequeno passou os braços em torno do pescoço da avó e depositou um beijo na face dela,
enquanto isso Allan apenas observava.
A chuva já tinha ido embora e estavam no pátio sem preocupações, seu coração se encheu
só de ver o tanto de amor que seu filho tinha naquela família. Depois que as tias abraçaram
Walace, ele voltou para a mãe e Lilian o segurou com firmeza. Ela agora não sabia o que fazer. O
seu lado de mãe protetora queria entrar e trancar-se no quarto com Walace, mas o seu lado
humano que sentia compaixão estava pensando em como seria doloroso para Allan se afastar
novamente do seu filho. Respirou fundo e decidiu que era hora de conversarem e ver o que fariam.
Nenhum dos dois queria ficar longe do menino e considerando que ele morava em Inverness, as
coisas se complicavam mais ainda.
– Vossa graça. – Allan cumprimentou o conde, mas só pôde ver a fúria no olhar de Richard.
– Já pode ir embora! Meu neto e minha filha já estão em casa. – Disse rudemente.
– Papai... – Lilian começou, mas foi interrompida.
– Sei que errei e peço que reconsidere, estava de cabeça quente e acabei agindo por
impulso. Peço perdão por meu ato. – Allan disse devagar encarando Richard. – Mas o fato é que
não podemos negar que Bram... Walace é meu filho e eu não voltarei a ficar longe dele.
– Está dizendo que levará meu neto? – Richard elevou o tom de voz e Alycia ficou em
alerta.
– Não, senhor. – Allan disse rapidamente. – Apenas estou dizendo que teremos que nos
acertar, ao menos por Walace. Por enquanto pretendo ficar em Villat, Zac só voltará daqui a alguns
dias e me ofereceu sua propriedade, mas entendam que mais cedo ou mais tarde terei que voltar
para Inverness e como disse antes: não vou voltar a me afastar do meu filho.
– Papai? – Lilian interveio novamente. – Podemos entrar e conversar? Tenho algumas
coisas para esclarecer. – Ela disse pensando nos anos em que Allan foi obrigado a ficar longe do
filho e de como a bastarda que o colocou no mundo era uma miserável.
Richard assentiu ainda com a expressão fechada.
– Sir Allan, peço que volte mais tarde. Acredito que por agora seria melhor eu mesma
esclarecer os fatos para meu pai.
– Voltarei. – Allan disse. – E novamente peço perdão.
Ele deu as costas para a família Craig e subiu no lombo do cavalo, fez um sinal para seus
guerreiros e logo partiram com a promessa silenciosa de volta. Lilian suspirou aliviada por ele
não ter sido tão cabeça dura e ter ido embora.
– Espero que ele tenha um ótimo motivo pra fazer o que fez. – Daiana disse pegando
Walace dos braços de Lilian. – Não é mesmo, Walace? O que você acha da titia arrancar uma
perna dele?
– Daiana! – Liliana ralhou tentando reprimir o sorriso. – Lhe tirar a mão já basta.
Walace soltou uma gargalhada e logo em seguida beijou o rosto da tia.
– Maman o cortou no ombro. – O menino disse orgulhoso. – E sir Allan me deu uma
espada.
Daiana segurou o pingente por um momento, a noite passada tinha sido um verdadeiro
terror para eles e agora que Walace estava de volta não perderia a oportunidade de o ensinar a
acertar o alvo com uma flecha. Lilian nunca tinha deixado afirmando que ele poderia se machucar,
mas agora não teria quem a segurasse.
– Vamos com a titia. – Ela disse. – Vou lhe mostrar algo.
Lilian observou Daiana seguindo rumo aos estábulos e sorriso, desde a morte de Dimitre
ela parecia tão mal. Ficava feliz em saber que Walace poderia ajudá-la.
– Estou esperando por uma explicação. – Alycia disse calmamente enquanto abraçava a
filha. – Vamos para o escritório.
Ela seguiu para o escritório sendo seguida por sua irmã, se voltou uma única vez para ver
o que Daiana aprontava com Walace e por um momento sentiu a estranha sensação de estar sendo
observada.
Lilian continuava a explicar a situação de Allan sob os olhares atentos de seus pais e de
sua gêmea. Ela também relatou como se sentia diante de tal revelação e foi sincera quando disse
que Walace também tinha o direito de conhecer o pai, mas não deixaria ninguém o afastar dela.
– Eu sinto muito. – Alycia disse. – Vocês dois foram vítimas do destino, ou ainda pior,
vítimas dessa miserável que deu à luz a Walace!
– Também sinto muito, por ele e por você que agora está nessa situação difícil. Só quero
que você e Walace estejam bem. – Richard disse. – E eu sei que meu neto só estará bem se estiver
com você.
– Isso é verdade. – Liliana concordou. – Mesmo sabendo que sir Allan foi obrigado a ficar
longe do filho, nada justifica seus atos impensados. Pobre Walace.
– Ele até teve febre. – Lilian disse sentindo-se pequena e vulnerável. – Não dormiu um
minuto sequer depois que chegou à propriedade de sir Zac.
– Claro que ele não dormiria, sua maman não estava por perto. – Alycia disse com orgulho
beijando a face da filha. – Por agora vamos descansar um pouco, tenho certeza que mais cedo ou
mais tarde vocês vão entrar em comum acordo e tudo ficará bem. Você também não dormiu. – A
lembrou. – Vá descansar, querida. Mande chamar Daiana para que ela traga Walace.
Lilian ficou de pé e sorriu.
– Amo vocês.
– Também amamos você. – Richard disse com um pequeno sorriso no rosto.
Ela saiu do escritório com o intuito de ir até os estábulos, mas no mesmo instante em que
entrou na sala, Daiana também adentrou com Walace nos braços e sua expressão não era uma das
melhores.
– O que aconteceu? – Lilian perguntou aflita.
– Maman! – Walace estendeu os braços.
– O que aconteceu, Daiana? – Perguntou novamente com a voz alterada enquanto abraçava
o menino.
– Estávamos perto dos campos da relva enquanto alguém nos observava e quando o
homem viu Walace veio em nossa direção. – Lilian lembrou-se da sensação de estar sendo
observada. – Ele empunhou a espada, Lilian. Se eu não tivesse sido mais rápida teria me matado e
só Deus sabe o que teria acontecido.
– Onde esse homem estar?
– Fugiu! Consegui acertar uma flecha em seu braço, ainda assim ele conseguiu escapar.
Sabia que não teria chances contra mim. Ele parecia com um guerreiro e dizia umas coisas
estranhas. – Daiana parou quando viu seus pais entrarem na sala. – Ele disse que seu milorde
estava esperando por isso.
Um Highlander?
Lilian franziu o cenho analisando Walace para ter certeza de que ele não estava ferido,
feito isso, voltou-se para sua irmã. Um guerreiro... Mas o que um highlander iria querer com
Walace ou Daiana? Sua irmã se metia em muitas encrencas, mas guerreiros não costumavam ir a
Villat, por isso duvidava que Daiana havia tido problemas com algum highlander.
Seja lá quem for, esperou o momento oportuno para atacar e isso fazia com que o coração
de Lilian se afligisse ainda mais.
Alan sentou-se em frente ao espelho e suspirou. Levou a lâmina até sua mandíbula e
começou a fazer a barba. Ele estava tranquilo apenas pensando nos últimos acontecimento.
Seu filho.
A mãe do seu filho.
Oh, a mãe... Enquanto a lâmina passeava por seu rosto, Allan levou os pensamentos até
Lilian. Era uma mulher forte, corajosa e obstinada e tinha notado tudo isso nos últimos dias em
que tinha passado a ouvir sobre ela. Suspirou. Tinha feito um julgamento errado sobre ela e um
certo remorso lhe atingia, era muito diferente e... O venceu!
Só uma mulher como a Craig poderia ter cuidado de um O’Brien, Zac dissera antes de
partir com Estella. E ele tinha razão: seu filho não poderia ter encontrado uma mãe melhor. Léa
havia sido mãe fisicamente, mas não emocionalmente. Ela teve apoio, amor e cuidado por todos
os lados e jogou tudo isso fora por causa de um maldito inglês. Quando ele pensava em Léa seus
dedos apertavam tanto a lâmina que quase os cortavam.
Respirou fundo a afastando dos pensamentos e voltou a se concentrar em sua atual
situação. Já tinha enviado um mensageiro a Inverness para anunciar a Duncan o reencontro com
seu filho e que dentro de alguns dias estaria voltando, ele precisa voltar. Tinha deixado seu
castelo e suas terras desprotegidas e mesmo sabendo que muitos o temiam poderia ser perigoso,
principalmente agora que o líder do clã McCarty queria se apossar do lago, ele insistia em dizer
que aquele pedaço de terra o pertencia.
Quando ele terminou de fazer a barba, lavou o rosto e depois voltou-se novamente para o
espelho. Muito melhor. Saiu do cômodo e foi na direção das escadas, rapidamente se dirigiu para
perto de seus homens que começavam a acender a fogueira. Ele tinha que voltar pra Inverness,
alguns de seus guerreiros eram casados e tinham famílias que já estavam com bastante saudades.
Juntou-se aos seus guerreiros e sorriu.
– Deve estar repleto de alegria, milorde! Encontrar um filho é realmente uma dádiva! – Um
deles disse.
– Permita-me lhe perguntar, milorde: lady Lilian tem um marido? – Outro highlander
arrastou a voz até Allan.
– Ela não tem marido! – Allan afirmou com tranquilidade enquanto aceitava a bebida que
lhe era oferecida.
– Escute, milorde. – Um dos guerreiros começou se aproximando. – Ela criou o pequeno
O’Brien com tanta coragem que nos deixou impressionados e quando ela derrotou Fergus... Luta
com tanta destreza que parece um de nós.
Allan sorriu ainda mais imaginando o que eles diriam caso soubessem que Lilian também
tinha o derrotado. Fergus abriu a boca para contar quem tinha sido mais uma vítima de lady Lilian,
mas Allan lhe entregou um olhar ameaçador.
– Se ela não tem marido significa que está livre! – O guerreiro que perguntou sobre a
condição de Lilian replicou. – Com todo o respeito por ela ser a mãe de seu filho, milorde, mas
ela é uma mulher esplêndida e toda aquela paixão que usa para lutar encanta qualquer highlander.
– Oh, sim. – Fergus disse com um sorriso irônico no rosto.
Por algum motivo desconhecido, aquilo incomodou Allan. Mesmo sabendo que eles não
tinham nenhum vínculo conjugal que os ligassem, Lilian era a mãe de seu filho e como tal seus
guerreiros deveriam demonstrar respeito. Ele se limitou a tomar a bebida que parecia rasgar sua
garganta enquanto lançava outro olhar ameaçador, mas agora para o guerreiro ao seu lado.
– E seus cabelos negros quando grudam em seu rosto... Qualquer guerreiro derrubaria um
exército por aquela mulher! E suas irmãs não são exceção. – Um highlander comentou. – Diga-nos
milorde: também notou a quão bonita é a mãe do pequenino?
Allan semicerrou os olhos o encarando. Se ele tinha notado? Pra falar a verdade era a
primeira vez em que Allan tentava vê-la não só como a mãe de seu filho, mas como a bela mulher
que ela era. Claro que sua face delicada não remete em nada o seu temperamento. Oh, sim. Tinha
de admitir que Liliana Craig era uma mulher bonita, mas não diria aquilo na frente de seus
guerreiros que pareciam babar feito animais por ela.
Em um movimento rápido, Allan empunhou sua espada e ficou de pé. Colocou a ponta da
lâmina próximo ao rosto do guerreiro que havia feito o último comentário e observou os olhares
temerosos de seus homens.
– Lembrem-se de quem estão falando! – Allan disse com a voz arranhada demonstrando
sua impaciência. – Mesmo não sendo a minha senhora, ela é a mãe do pequeno Bram e filha do
conde. Pensem bem antes de fazerem comentários desrespeitosos, caso contrário não terão que se
ver comigo, mas com a própria lady Lilian.
Os homens ficaram em silêncio e Allan abaixou a espada. Lhe deu as costas e voltou para
dentro da propriedade a procura de Brenda. Não se sentia confortável diante de tais comentários
sobre a mãe de seu filho. Assim que encontrou sua irmã com a damas de companhia, lhe lançou o
convite:
– Estou indo para a propriedade do conde Craig, gostaria de me acompanhar?
Brenda sorriu.
– Claro que sim! Poderei ver Bram novamente e tentar persuadi-lo a me chamar de tia!
Allan sorriu e imaginou quando chegaria o momento em que seu filho o chamaria de pai.
Não sabia ao certo quando isso aconteceria, mas seria o segundo dia mais feliz de sua vida. O
primeiro dia foi quando o reencontrou.
Ele viu sua irmã correndo escada acima decidida a trocar o vestido e voltou-se para trás a
tempo de ver Fergus a observando.
– Algum problema? – Allan perguntou chamando sua atenção.
– Nenhum, milorde. A não ser pelo fato de estarem apostando.
– Apostando pelo quê?
Fergus engoliu em seco.
– Para ver qual Highlander conquistará o coração de lady Lilian.
Allan ficou boquiaberto por um instante. Conquistar Lilian? A mãe de seu filho? Ele fechou
as mãos em punhos ao lado do corpo e encarou Fergus com precisão.
O que Lilian Craig tinha para fazer com que seus guerreiros ficassem daquele jeito?
Meu querido Walace, terei que me acostumar com seu novo nome e também com sua
maman. Tenho que lutar contra um exército inteiro para poder conter o encanto que ela
parece jogar nos guerreiros.
Capítulo XI
Allan O’Brien observava atentamente os detalhes da propriedade do conde Craig. Era um
lugar que todos chamariam de acolhedor e ele ficou feliz em saber que Walace havia vivido até
então nas melhores condições possíveis. Brenda sentou-se, mas ele preferiu ficar de pé olhando
para a escada à espera de seu filho. Alycia adentrou na sala segurando a pequena mão de Walace e
lhes entregou um sorriso acolhedor.
– Se tivessem chegado um pouco mais cedo teriam visto Walace tentando manejar sua
espada de madeira. – Ela disse animada. – Conte para eles, Walace.
– Quase derrotei minha bobó! – O menino falou eufórico.
– Porque você não dá um abraço e sir Allan? Sua maman ficaria muito feliz se você
fizesse isso. – Alycia disse passando a mão nos cabelos do menino.
Walace soltou-se de sua avó e parou diante de Allan que se encurvou e o segurou em seus
braços. Allan depositou um beijo na face do menino enquanto Walace passava os braços ao redor
do pescoço do guerreiro.
– Onde está sua maman? – Allan perguntou lembrando-se do motivo de sua visita.
– Está dormindo. – Richard respondeu adentrando na sala com a expressão preocupada, o
que não passou despercebido diante dos olhos do highlander. – Ela estava muito cansada.
Aproveitarei o fato de você estar aqui para termos uma conversa.
– De acordo. – Allan disse assentindo.
Walace segurou o pingente no pescoço de Allan e passou os dedinhos sobre a pequena
pedra.
– Você gosta, Walace? Todos que pertencem a minha família tem um desses, não é atoa que
você agora usa um.
O menino tocou o presente que havia recebido do guerreiro e o olhou com confusão.
– Eu sou da sua família?
Allan sorriu diante da pergunta.
– Sim, você é. Como também Brenda e outros que você conhecerá em breve.
– Minha maman também é da família? – Walace indagou estreitando os olhos.
– Claro que ela é da sua família, Walace. – Richard disse os interrompendo.
Allan não sabia o que responder, era mais delicado do que imaginava explicar a uma
criança coisas tão complicadas até mesmo para os adultos. Respirou fundo e entregou Walace a
Brenda.
– Nossa conversa poderia ser agora? – Allan perguntou.
– Claro.
Richard depositou um beijo no rosto da esposa e o acompanhou até seu escritório. Pediu
para que sentasse a sua frente e suspirou ao ver a concentração do guerreiro em suas próximas
palavras.
– Minha filha explicou os reais motivos que o fizeram passar tanto tempo longe de Walace
e eu realmente sinto muito. – O conde disse. – Essa conversa será apenas para deixarmos claro
algumas coisas. Sei que como irmão do líder de um clã e guerreiro de tantas batalhas deve ter
acumulado inimigos, eu sei como é isso. Hoje mais cedo alguém tentou fazer mal a Walace.
O coração de Allan pareceu erra uma batida. Mal a Walace?
– Quem o fez? – Perguntou com repugnância.
– Não sabemos, minha filha mais nova estava com Walace quando aconteceu e ela me disse
que o homem se parecia com um guerreiro e a julgar pelo modo que ele maneja a espada ela tem
certeza absoluta que é alguém com bastante experiência. Daiana disse que o homem comentou que
“seu milorde estava esperando por isso”. Se era um guerreiro com um milorde tenho quase
certeza que era alguém pertencente a algum clã.
Allan passou a mão pela mandíbula ainda contrariado. Tinha inúmeros inimigos, mas como
eles poderiam saber de Walace tão rapidamente? As únicas pessoas que sabiam eram seus
guerreiros. O mensageiro ainda não teria chegado a Inverness, então nem sua família sabia da
novidade naquele momento.
– Não tenho como simplesmente apontar o dedo e colocar a culpa em alguém. – Disse
ainda pensativo. – Mas se esse homem pertence a algum clã eu descobrirei. Para ser sincero não
sei como descobriram sobre Bram. Alguém se machucou?
– Apenas o guerreiro. – Richard disse com um pequeno sorriso no rosto. – Daiana, minha
filha mais nova, foi mais rápida e conseguiu acertar seu braço com uma flecha. Seja lá quem for,
agora está sofrendo com a dor.
– Procurarei respostas, mas por enquanto permita que alguns de meus homens fiquem na
vigilância de sua propriedade. Walace é meu bem mais precioso e não posso e nem quero ter de
me deitar com essa ameaça.
Richard se inclinou sobre a mesa e o encarou com firmeza.
– Só não quero que meu neto e nem minha filha se machuquem nas rivalidades sangrentas
dos clãs. – O alertou. – Assim como você, eu também não quero me deitar com essa ameaça os
rondando. Estamos entendidos?
– Não deixarei que nada aconteça a meu filho ou a lady Lilian. Tem minha palavra! Sua
filha salvou a vida do meu filho, devo isso a ela. – Allan disse com a voz rouca. Ele sempre
cumpria com sua palavra.
Quando Richard e Allan voltaram para a sala, Walace brincava com a barra do vestido de
Brenda. Ela sorriu vendo o irmão e com as pontas dos dedos acariciou o rosto do pequenino.
– Verei onde minha esposa estar. – O conde disse dando as costas para os O’Brien.
Allan aproximou-se e sentou ao lado de Brenda.
– Lady Lilian deve estar muito cansada, sequer levantou-se. Olhe o que trouxemos da
cozinha pra você. Mostre a ele, Walace.
O menino lhe estendeu as maçãs e sorriu. Aquele simples gesto encheu o coração de Allan.
Eles ouviram passos e todos se voltaram para a escada por onde Lilian descia. Os cabelos negros
estavam bem alinhados e o vestido vermelho realçava a cor de seus olhos, era a primeira vez que
Allan a via completamente limpa. Na primeira vez que se viram ela estava suada, cansada e
descabelada por conta da luta com Fergus. Da segunda ela estava coberta de lama e no dia em que
lutaram ela vestia roupas de homem. Tinha a visto com o vestido de Brenda, mas não estava
completamente arrumada como naquele exato momento.
Lilian descia as escadas graciosamente. Quem a visse naquele momento não imaginaria
que aquela milady educada e aparentemente frágil manejava espadas e saia por aí derrotando
highlanders.
– Lady Lilian! – Allan foi o primeiro a ficar de pé. Ele queria mudar as primeiras
impressões que ela tinha dele: de guerreiro bruto e mal educado. –Espero que esteja bem.
– Maman! – Walace abraçou as pernas de Lilian e lhe estendeu os braços. Ela o segurou
com firmeza e voltou a olhar para Allan.
– Estou muito melhor, obrigada. Espero que ele não tenha feito nenhum estrago em seu
vestido. – Lilian disse para Brenda.
– Não o fez, estava apenas brincando. Ele é uma criança tão amorosa que tenho vontade de
apertá-lo.
Como mãe orgulhosa, Lilian sorriu.
– Walace é uma criança bastante especial. Espero que não tenha os feito esperar muito,
estava realmente cansada. – Com a mão livre, ela esfregou ligeiramente os olhos e Allan notou
uma certa palidez.
– Não se preocupe com isso. Allan estava conversando com o conde e até alguns
momentos atrás a condessa me fazia companhia. E onde está suas irmãs?
– Acho que ainda não voltaram, a casa está bastante silenciosa. – Lilian sorriu ainda mais.
– Elas foram até a propriedade da minha avó e sinceramente não sei quando voltam.
Sem ao menos perceber, os olhos de Allan pousaram sobre os lábios de Lilian. A boca de
tom avermelhado sorria em contraste com o belo rosto que ela tinha e por um momento Allan se
perguntou como seria a vida dela se não tivesse cruzado com Bram. Provavelmente estaria casada
com alguém que possuía algum título e com um ou dois filhos, mas agora ela estava com o seu
filho nos braços e aquilo lhe causava uma estranha sensação de alívio.
– Walace, você poderia mostrar a lady Brenda o jardim? – Lilian perguntou beijando o
menino.
Ele assentiu prontamente e assim que desceu do colo da mãe, segurou a mão da tia.
– As fores favoritas da maman são as rosas. Quais são as suas? – Walace indagou a
conduzindo para fora.
Quando Allan percebeu que Walace não poderia mais ouvi-los, voltou-se para Lilian. Ela
ainda estava pálida.
– Soube pelo conde que sua irmã foi atacada e possivelmente o alvo era Walace. Ele está
bem?
– Graças a Deus não está ferido, mas ainda me preocupo. – Comentou e em um gesto
involuntário, levou a mão a cabeça. Por um momento viu pontos negros a sua frente e sentiu como
se estivesse caindo, mas braços fortes a seguraram e a conduziu até uma cadeira.
– Você realmente está bem? – Allan perguntou colocando a mão sobre a testa dela. – Está
com febre. – Allan a ajeitou e a ouviu respirar fundo algumas vezes.
– Passei tempo demais debaixo de chuva. – Lilian olhou para a mão que ainda segurava
seu braço. Seu olhar subiu até o rosto de Allan e observou sua face que agora estava sem a barba.
Oh, ela tinha de admitir que Allan O’Brien era um homem bonito e o modo como ele a
olhava naquele exato momento estava fazendo seus olhos dançarem sobre seu rosto.
– Já estou melhor. – Disse passando a mão pelo rosto.
– Não é o que parece. Está pálida e se eu não tivesse lhe amparado, teria um encontro com
o chão.
Ela apoiou sua cabeça na parte de trás do assento e encarou o teto. Sua visão ainda estava
escurecida e esfregou as têmporas na tentativa de amenizar a dor que agora lhe atingia.
– Precisa voltar pra cama e descansar até que esteja realmente bem. – Ele a repreendeu e
segurou sua mão. Lilian sentiu como se brasas quentes tivessem encostado em sua pele. Allan
observou atentamente os calos dela e franziu o cenho. – A quanto tempo treina com as espadas?
– Desde meus doze anos. – Ela respirou fundo mais uma vez e o encarando.
– Chamarei sua mãe.
No momento exato que pensou em deixá-la, Lilian segurou seu braço.
– Por favor, não o faça. Já estou melhorando e não quero preocupá-los mais do que já
tenho feito nos últimos dias. Minha mãe ainda está se recuperando da morte do meu avô e eu não
quero trazer mais problemas.
Allan começou a pensar no que faria. Ela não estava bem e aquilo o deixou inquieto, se
Bram voltasse veria como sua maman estava e ficaria preocupado. Ele olhou para a mulher
teimosa a sua frente e ponderou, tudo o que ela precisava era descansar e parar de ser tão cabeça
dura.
– Já que não quer preocupar sua mãe poderia ao menos pensar em fazer a coisa mais
sensata nesse momento: voltar para o quarto e descansar.
– Já estou melhor! – Afirmou em tom mais firme e ficou de pé.
Quando Lilian abriu a boca, Allan a segurou e em um movimento rápido passou um de seus
braços pelos joelhos dela e a ergueu. Reconhecia que poderia muito bem levar umas bofetadas
dela, mas viu o quanto Lilian estava fraca e se aproveitou desse fato.
– Me coloque no chão! – Ela ralhou entre os dentes sentindo outra pontada na parte lateral
da cabeça. – Seu highlander imbecil!
– Eu não gosto quando me desrespeitam, milady! – Disse subindo o primeiro degrau. – Sua
boca é muito atrevida. Então, por favor, a mantenha fechada ao menos até eu colocá-la na cama.
Imagine só... – Allan disse sorrindo. – Você agora parece uma criança.
– Ora, não caçoe de mim! – Lilian lhe desferiu um tapa no ombro, mas sabia que não tinha
causado efeito algum. Sentia-se enjoada e tonta. – Ponha-me no chão! É meu último alerta.
– E o que fará? Dessa vez não está em condições de empunhar uma espada e eu não quero
que Walace a encontre nesse estado. – Allan alcançou o corredor ainda com ela em seus braços e
ponderou qual seria seu quarto. – Além do mais, quem protegerá Bram quando eu não estiver por
perto? Se a segurança e bem-estar do meu filho dependem do seu, então farei de tudo para que as
coisas fiquem equilibradas. Qual é o seu quarto, milady? – A voz grossa de Allan entrou em seus
ouvidos com certa doçura.
Por um lado, ele tinha razão: não poderia ficar doente sabendo que seu filho estava em
possível perigo. Respirou fundo reconhecendo que precisava descansar antes que aquilo piorasse.
– Terceiro a esquerda. – Respondeu suspirando e encarando o peito de Allan. Sem saber o
real motivo sentiu suas bochechas esquentarem com o fato de estarem tão perto um do outro.
– Está corada? – Ele perguntou com um sorriso presunçoso no rosto.
– O quê? Porque estaria? – Sua voz praticamente rasgou sua garganta e Lilian rogou para
que ele não percebesse o quão quente estava sua face e ela duvidou que fosse por conta da febre.
Ele permaneceu com o pequeno sorriso e abriu a porta com um leve chute, agradeceu pelo
fato de estar entreaberta. Caminhou até a cama e a colocou com cautela sobre o leito.
– Agora descanse! – Sua voz rouca não deu espaço para objeções.
– E Walace? – Perguntou se ajeitando sobre os travesseiros.
– Ficarei mais um pouco com ele e explicarei tudo para seus pais. Procurarei a pessoa que
tentou fazer mal a Walace e o matarei. – Allan disse com tanta tranquilidade que acabou por
convencê-la. – Agora descanse! – Repetiu puxando o cobertor e a puxando em um gesto rápido.
A olhou por um momento e pensou no que seus guerreiros diriam caso o visse colocando
aquela mulher na cama como se fosse uma criança.
– Até breve. – Disse saindo do quarto e fechando a porta atrás de si.
Assim que ficou seguro no corredor, esfregou os olhos com as pontas dos dedos.
Precisaria cumprir sua palavra de mantê-la segura e faria de tudo para que isso acontecesse.
Cara lady Lilian Craig, você é linda quando estar calada.
Capítulo XII
Lilian permanecia deitada ainda sentindo-se indisposta. A dor de cabeça havia passado,
mas a sensação de fraqueza ainda permanecia. Walace estava deitado ao seu lado alisando os fios
negros dos cabelos dela e suspirou vendo como sua mãe parecia abatida.
– Maman está melhor?
– Estou sim! – Respondeu beijando a face dele.
– Está quente.
– Mamãe ainda está com febre, mas vai passar logo. Verá que amanhã estarei correndo
atrás de você.
Walace a encarou com a expressão pensativa.
– Maman, si Allan é da família?
– Sim, ele é da sua família. – Lilian suspirou antes de continuar. Mais cedo ou mais tarde
teria que contar a ele qual sua relação com Allan. – Walace, você lembra quando me perguntou
quem era seu pai há algum tempo atrás? – Ela acariciou a bochecha do filho com ternura.
Mesmo que ele não lembrasse, aquele dia ainda estava bastante vivo em sua memória.
Lembrava-se de não saber o que lhe responder e passou bastante tempo em silêncio, só depois
disse que seu pai estava viajando e ela não sabia quando ele voltaria. Walace simplesmente
assentiu parecendo saber que sua mãe estava mentindo e voltou a brincar, mas nessa noite ele teria
a resposta.
– Sir Allan é seu papai. – Lilian disse o olhando com cautela. – Eu lhe disse que ele estava
viajando, mas agora ele voltou.
Walace pareceu ponderar sobre as palavras da mãe e movimentou os dedinhos ainda
segurando os cabelos dela.
– Por isso ele disse que eu ela da família?
– Sim, você é da minha família e da família dele. Lady Brenda é sua titia igual a Miranda,
Amanda, Liliana e Daiana. – Lilian sorriu tentando aliviar a tensão. – E ele quer conhecer você
melhor. Você o aceita como seu papai?
O pequeno franziu o cenho e olhou fundo nos olhos de Lilian.
– Você ainda vai ser minha maman?
– Para sempre! – Afirmou o beijando.
– Ele não vai me levar embola como da outla vez? – Perguntou temeroso.
– Eu não deixarei e dessa vez ele quer fazer as coisas certas. Digamos que seu papai tem
cabeça de vento. Não pensa muito direito. – Falou alisando os cabelos loiros dele.
– Ele sabe que sou filho dele?
O sorriso de Lilian se alargou.
– Claro que sabe! E ele o ama muito, Walace.
O menino apenas assentiu passando os braços pelo pescoço de Lilian e beijou a bochecha
dela.
– Amo bocê maman. Pra semple! – Sussurrou no ouvido dela.
Os olhos de Lilian lacrimejaram.
– Também amo você, querido. Para sempre.
Ela se aconchegou nos pequenos braços que a envolviam e fechou os olhos esperando que
o sono viesse. Seus pais haviam ido até a casa de sua avó paterna e ela não sabia a hora que
voltariam. Ainda era cedo, mas ela e Walace já estavam prontos para dormir, não sabia se suas
irmãs tinham voltado e estava relativamente sozinha, a não ser pelos criados e os três guerreiros
que Allan havia mandado.
Tudo ficaria bem.
Voltou a fechar os olhos e caiu em um sono profundo.
O barulho parecia vir de longe, mas os movimentos frequentes de Walace ao seu lado
fizeram Lilian acordar. Sentou-se na cama com certa dificuldade sentindo a cabeça latejar e tentou
focar nos barulhos. O que estaria acontecendo?
No mesmo momento veio em sua mente a ameaça que sondava Walace, se forçou a levantar
e seguir até a porta para trancá-la. Não teria forças pra lutar mesmo com sua espada estando no
quarto. Caminhou com dificuldade e quando estendeu a mão para trancá-la, a porta se abriu
bruscamente.
Um homem apareceu na entrada do cômodo e a encarou por um breve momento, outro
guerreiro se juntou a ele e fez o mesmo.
– É ela? – O segundo perguntou.
– Sim!
O que estava na entrada deu um passo à frente e ela se voltou para Walace. No mesmo
instante em que ela tentou correr para perto do filho, mãos grandes seguraram seus cabelos e
Lilian sentiu a dor na cabeça aumentar.
– E esse é o bastardo!
Ainda segurando seus cabelos, o homem a encarou com certa repugnância. Ela viu os olhos
negros se estreitaram e sentiu um calafrio subir por sua espinha.
Onde estariam seus pais e suas irmãs? E os guerreiros de Allan?
Sentiu o estômago revirar quando o outro homem segurou Walace.
– Soltem meu filho! – Ela urrou e sentiu como se sua garganta estivesse se rasgando.
– Vamos levá-la também! – O que a segurava disse e só então Lilian notou o ferimento em
seu braço. Era o infeliz que Daiana havia acertado mais cedo!
O desespero tomou conta de Lilian. Ela estava fraca demais para se defender ou defender
seu filho. Sentiu-se vulnerável e pontos negros apareceram em seu campo de visão. Parecia que
ela estava caindo em um abismo sem fim e a dor em sua cabeça aumentou ainda mais. Estava
perdendo as forças e os sentidos. No momento seguinte, Lilian só lembrava do total desespero de
não poder salvar Walace.
Allan estava sentado próximo a fogueira enquanto alguns guerreiros já tinham pegado no
sono. Seus pensamentos estavam voltados para o ataque que Walace havia sofrido. Tinha muitos
inimigos, porém, o mais provável era os guerreiros de McCarty.
Os guerreiros de McCarty possivelmente estavam o seguindo e acabaram descobrindo
sobre Walace, era uma possibilidade bastante concreta.
Desse modo, eles usariam Walace para chantageá-lo e conseguir as terras onde o lago
estava localizado. Se Allan perdesse o lago significaria que seus animais e uma parte das pessoas
que vivem nas terras dos O’Brien ficariam sem água e consequentemente morreriam de sede ou
Allan teria que pagar para eles utilizarem o lago.
– Aquele bastardo só pensa em si mesmo! – Rosnou pensando na ousadia daqueles
miseráveis.
Se algo tivesse acontecido a Walace, ele ficaria destruído e não sabia se algum dia voltaria
a se recuperar. Levantou-se e caminhou em direção a entrada da propriedade, mesmo Zac sendo
seu amigo não gostava de se aproveitar e não se sentia bem usando a propriedade dele como
moradia.
Teria que voltar para Inverness.
– Milorde. – Allan se virou para encarar um dos guerreiros. – Um menino acabou de
deixar isso.
Allan segurou o bilhete com o cenho franzido.
Seu filho e a linda mãe dele são um preço justo por um lago?
– Onde está o menino? – Allan perguntou entre os dentes.
O guerreiro o conduziu até o garoto, ele era maior que Walace e suas roupas e aparência
refletiam suas condições de vida. Estava magro demais.
– Quem lhe mandou trazer isso? – Allan segurou a camisa do menino que o olhou com
aflição.
– Foi um guerreiro, senhor. – Respondeu em um sussurro.
– Como ele era?
– Eu... eu não sei. – O menino começou a fungar e a tremer diante dos olhos negros de
Allan.
– Milorde, ele é apenas uma criança. – Fergus disse se inclinando para ficar mais próximo
do menino. – Você só precisa lembrar de como esse guerreiro era e o que ele lhe disse.
Ele olhou assustado para Allan e depois pousou os olhos na face de Fergus. Respirou
fundo tomando coragem e falou:
– Ele me disse pra vir e entregar o bilhete, em troca me deu comida. Depois foi embora.
Eu es-tava faminto. – Gaguejou.
Allan o soltou e se voltou para Fergus. Sua cabeça chegava a latejar só de pensar que
Lilian e Walace estavam em perigo. Mas como eles haviam sido capturados? Tinha deixado
homens na propriedade do conde e não fazia ideia de como isso teria acontecido.
O menino apontou para a espada de Fergus e seu lábio inferior tremeu.
– Ele tinha uma dessas! – Afirmou.
Allan olhou para o menino por um instante e depois urrou tirando de sua garganta um som
de ódio. Se a pessoa que escreveu o bilhete tinha uma espada daquelas, significava que era um de
seus homens. Um traidor!
– VOU MATAR SEJA LÁ QUEM FOR! – Gritou irado. – Preparem os cavalos, vamos
para a propriedade do conde. Preciso saber como isso aconteceu e... – Allan parou por um
instante. Os guerreiros que estavam com ele na propriedade de Zac não saíram um momento
sequer o que significaria que nenhum dali seria o traidor, mas os que ficaram na casa de Lilian...
Oh, Deus.
Ele mesmo tinha colocado a ameaça mais perto da presa, mas se fosse assim lady Daiana
teria o reconhecido e nenhum dos guerreiros estavam com ferimento.
Tinha que descobrir a verdade por trás dessa história o mais rápido possível.
Querido Walace, sinto meu coração partir em mil pedaços. Se algum bastardo infeliz
tocar em algum dos dois, o matarei com minhas próprias mãos.
Capítulo XIII
O homem se inclinou para fitar Lilian com precisão e um pequeno sorriso surgiu em seu
rosto. Quando Allan ’Brien soubesse que seu filho e a mãe da criança estavam em suas mãos
declararia que o lago era dos McCarty.
Lilian estava encostada no tronco da árvore e Walace estava sentado em seu colo. Ele
tremia de frio e ela fez o melhor que pôde para aquecê-lo com sua temperatura corporal. Ainda
estava com febre e julgou que a quentura ajudaria seu filho. Só sabia que estavam ali por algum
motivo relacionado a Allan e aquilo fez todo seu corpo tremer.
– Acha que vai demorar? – O guerreiro perguntou se voltando para o outro homem que
fazia caretas enquanto analisava o ferimento no braço.
– Claro que não.
– Acha mesmo que ele vai abrir mão das terras por causa desses dois?
O outro parou de analisar o braço e se voltou para o guerreiro com um sorriso presunçoso
no rosto.
– Por esses dois ele fará tudo. – Ele encarou Lilian com a mão sobre a ferida. – Sua
querida irmã pagará por isso! Espero que aquele miserável venha logo.
O lábio inferior de Lilian tremeu e ela apertou ainda mais os braços ao redor de Walace.
Eles tinham a arrastado floresta adentro e só Deus sabia quais seriam os próximos passos.
– Tudo ficará bem, querido. – Ela murmurou próximo a orelha de Walace. – Seu papai já
está vindo.
O aconchegou em seus braços e suspirou. Esperava do fundo do coração que tais palavras
se concretizassem.
Allan engoliu em seco alheio a conversa do conde e sua esposa enquanto ele só conseguia
pensar no que fazer. Dois de seus guerreiros estavam feridos e havia descoberto quem era o
traidor: Phillip. Aparentemente era um homem leal, há alguns anos havia se mudado para as terras
dos O’Brien juntamente com seu pai.
Aquele infeliz.
– Temos que encontrar minha filha e meu neto! – Richard disse segurando a espada. – Vou
degolar o infeliz que fez isso.
– Vossa graça. – Um dos homens que estavam de guarda na propriedade do conde se
pronunciou. – Nós sentimos muito, não conseguimos proteger lady Lilian e nem o pequenino.
Aquele maldito traidor nos pegou desprevenidos.
– Vocês não têm culpa. – Allan declarou se voltando para eles. – Deveria ter me precavido
mais. Eu mesmo trarei os dois de volta.
– O senhor ao menos sabe onde eles estão? – Alycia perguntou beirando a fúria. – Se
querem o maldito lago, o dê. Se querem dinheiro ou posses o daremos também, só quero minha
filha e meu neto de volta.
Allan suspirou frustrado. Abdicar o lago seria o mesmo que declarar a miséria de muita
gente. Entretanto, continuar naquele impasse significaria mais horas sem notícias sobre Lilian e
seu filho.
Era uma situação muito delicada.
– Se eu não voltar até o amanhecer comecem a procurar por lady Lilian e Walace. – Allan
disse dando as costas para todos.
– Para onde vai? – Richard indagou com o cenho franzido.
– Conheço as artimanhas de Phillip. Ele não é um dos melhores guerreiros, vai cometer um
erro ou outro. Preciso averiguar com meus próprios olhos os possíveis lugares que aquele infeliz
tenha levado meu filho.
Allan montou o cavalo e incitou o trote antes de qualquer réplica. Enquanto o vento gélido
cortava sua pele, Allan passou todos os acontecimentos da noite em sua mente. A única pessoa que
teve contato mais recente com o traidor foi o garoto que lhe entregou o bilhete.
O menino estava sentado perto da fogueira enquanto Fergus andava de um lado para outro
tentando se acalmar. Até aquele momento não tinha recebido nenhuma notícia de Lilian ou Walace.
Havia ficado ali na esperança de Phillip se arrepender e acabar por voltar, mas isso não
aconteceu. Como foi lhe ordenado: manteve o menino por perto, mais cedo ou mais tarde poderia
precisar de alguma informação dele.
Allan apareceu em cima do enorme cavalo e desceu rapidamente quando o animal parou. A
passos largos alcançou Fergus que parou esperando por alguma informação.
– Alguma notícia, milorde?
– Ainda não, Fergus. Essa agonia está me matando! Onde está Brenda?
– Estava aqui agora a pouco, mas entrou por causa do frio.
Allan se voltou para a criança perto do fogo e apertou os lábios.
– Preciso que me diga onde lhe entregaram o bilhete. – Não era um pedido.
– Perto da floresta, senhor. – O menino falou fungando e se encolhendo na tentativa de se
proteger do frio. – Eles me disseram para vir o mais rápido possível.
– Pode ser que Phillip ainda esteja por perto. Ele está com uma mulher e uma criança,
seria complicado ir muito longe mesmo estando a cavalo. – Fergus disse.
– Tinha mais alguém com ele? – Allan perguntou para o menino.
– Não, senhor.
– Não acho que ele esteja sozinho. – O guerreiro concluiu. – Não teria como ele ter levado
os dois sem a ajuda de mais alguém. Em que parte da floresta vocês se encontraram?
– Depois do lago.
Allan suspirou assimilando as informações e encarou Fergus.
– Não deixe esse menino ir embora antes que eu volte com Walace. Quando tudo isso se
resolver decidimos o que fazer com ele.
– Sim, milorde.
O vento gélido praticamente rasgava a pele da mulher e seus pés estavam doloridos por
conta do dia árduo de trabalho. Tinha ganhado poucas moedas, mas seriam o suficiente para
comprar alguma comida no dia seguinte. Estava na esperança de encontrar seu irmão para lhe
contar as novidades, mas se desesperou ao saber que ele estava em encrencas e uma das grandes.
Parou em frente ao enorme portão da propriedade de sir Zac e suspirou.
O esganaria assim que pusesse os olhos sobre ele.
O portão estava aberto, mas ela hesitou em atravessá-lo. Era uma ninguém e se a vissem
entrando daquela forma no meio da noite, poderiam acusá-la de tentativa de roubo. Mas quem
havia mandado deixar o portão aberto?
Respirou fundo tomando coragem e adentrou na propriedade.
De longe podia ver a enorme propriedade que se estendia ao lado de um pequeno jardim,
mas o que mais lhe chamou atenção foi a figura pequena próxima a fogueira. Os rumores sobre o
clã O’Brien tinham se espalhado como fogo entre os moradores do vilarejo e ela tinha temido pela
vida do pequeno Callum quando alguns de seus vizinhos o viram dizendo que iria entregar algo
aos highlanders. O que ele tinha na cabeça?
Ela pigarreou para chamar a atenção de Callum e no mesmo instante o menino se voltou
para ela.
– Vitória!? – Callum levantou-se rapidamente com os olhos fixos na irmã.
– Vamos para casa, Callum. Agora! – Ela não lhe deixou espaço para objeções. Callum
olhou para Fergus que se levantava.
– Essa é sua irmã? – O guerreiro perguntou olhando para a mulher a sua frente. Os cabelos
loiros de Vitória estavam revoltos por conta do vento e seus olhos refletiam a impaciência.
Quando o menino assentiu, Fergus prosseguiu: –Creio que não saiba, mas Callum só poderá voltar
para casa quando meu milorde voltar.
Vitória franziu o cenho irritada e encarou seu irmão.
– Venha agora, Callum! – Ordenou ignorando as palavras do guerreiro.
Callum deu um passo à frente, mas Fergus o segurou levemente pelo braço.
– Acho que não expliquei muito bem, milady. Seu irmão está nos ajudando a encontrar o
filho do meu milorde que assim como Callum não passa de uma criança. Um bárbaro o sequestrou
e Callum até agora nos deu informações preciosas, ainda precisaremos dele caso até o amanhecer
ainda não tenhamos encontrado a criança e sua mãe.
Ela tirou o cabelo do rosto ainda confusa.
– Não entendo como Callum possa ajudar e já está muito tarde e frio para ele ficar aqui
fora, por favor, o deixe ir. – Ela amenizou o tom de voz, mas Fergus sabia que não poderia deixar
Callum ir embora.
Suspirou pensando no que fazer.
Ora, ela era irmã dele! É claro que estaria preocupada e a qualquer momento iria procurá-
lo.
– Já que não quer deixá-lo, por favor, espere com ele até que meu milorde retorne. É um
caso de vida ou morte, milady.
Milady.
Aquela palavra soava estranho a seus ouvidos já que nenhum homem a considerava uma
milady. Ela era uma ninguém que vivia morrendo de fome.
Vitória engoliu em seco.
– Sei que seu milorde deve estar desesperado, mas preciso levá-lo de volta. Não posso
passar a noite aqui esperando.
– Algum problema, Fergus?
O guerreiro se virou para ver Brenda com uma manta sobre seus ombros. Ela se aproximou
do trio e parou buscando explicações.
– A irmã de Callum veio buscá-lo. Estou tentando lhe explicar a situação, mas ela insiste
em levá-lo.
– Sou Brenda O’Brien e gostaria que considerasse o pedido. – Brenda disse olhando para
a mulher aparentemente mais velha que ela. – Se quiser podemos esperar lá dentro. Insisti para
que Callum entrasse, mas ele se recusou. Meu sobrinho e a mãe dele estão em perigo e seu irmão
está nos ajudando.
Vitória não sabia o que fazer, mas na manhã seguinte ela precisava trabalhar novamente
entre os comerciantes se quisesse ter o comer, e passar a noite ali no frio não seria nada
agradável. Ela não poderia entrar naquela propriedade como se fosse uma convidada, seu vestido
e pele suja mostravam muito bem onde era seu lugar. Suspirou derrotada.
– Esperaremos aqui fora. – Vitória disse e Fergus liberou Callum. – Mas assim que seu
milorde voltar iremos para casa.
Callum abraçou a irmã, a conduziu para perto do fogo e a fez sentar em um dos troncos.
Fergus acompanhou Brenda até perto da porta e parou quando ela já estava sob um teto.
– Depois insista novamente para que entrem. Está muito e frio e nem mesmo você deveria
estar aqui fora. – Brenda disse apertando ainda mais a manta ao seu redor.
– Não se preocupe comigo. – Fergus falou com um pequeno sorriso. – Não é atoa que são
irmãos, são dois orgulhosos que preferem congelar nesse frio. Volte para dentro, milady. Se tiver
alguma notícia a avisarei.
– Obrigada, Fergus. – Brenda agradeceu lhe entregando um pequeno sorriso e se virou para
adentrar de vez.
Fergus se voltou para a mulher que se esquentava ao lado do irmão e suspirou. Teria que
lhes fazer companhia até Allan voltar.
Allan estreitou os olhos quando o cavalo se aproximou da floresta. Mesmo sob a luz do
luar o lugar estava escuro e não poderia ver qualquer vestígio de Lilian ou Walace. Fez com que o
animal andasse um pouco mais a adiante da floresta, mas ainda era inútil.
Nenhum sinal deles.
O jeito seria entrar na floresta. Phillip não levaria Lilian para alguma cabana já que algum
morador poderia ter visto e ela sendo filha do conde logo seria reconhecida. Ele não seria burro a
esse ponto. Ou seria?
Allan desceu do animal e andou um pouco mais entre as árvores. Apenas ouvia o barulho
de alguns animais e aquele mistério todo estava o agonizando. Segurou a espada ainda estreitando
os olhos e adentrou ainda mais na floresta, olhando ao redor ele avistou algo reluzir. Se
aproximou o mais rápido que pôde e se inclinou para segurar o objeto. Era um brinco... Ele
lembrou-se da imagem de Lilian descendo as escadas e logo percebeu que era dela.
Estava na direção certa.
Continuou a andar com cautela por conta do barulho de seus passos. Começou a ouvir
murmúrios e aquilo fez seus sentidos se aguçarem, chegou mais perto e se apoiou em uma das
árvores. Seu coração pareceu errar uma batida.
De onde estava podia ver Lilian sentada tentando esquentar Walace que estava encolhido
em seus braços, estava escuro demais para perceber se ela ainda permanecia pálida, mas seus
ombros estavam encolhidos e ela tremia levemente.
Um homem desconhecido por ele se aproximou de Lilian e tentou tocar seu cabelo, antes
que ele a alcançasse, Lilian deu uma bofetada em sua mão.
Allan saiu de trás da árvore e se aproximou devagar. Onde estava Phillip? Sua pergunta
logo foi respondida com a figura do homem que segurou o ombro do outro que estava agachado
próximo a Lilian.
– A deixe em paz! – Phillip disse rudemente. – Assim que a devolvermos eu...
– Esqueceram de me convidar para a pequena reunião?
A voz rouca de Allan fez com que os homens se voltassem para ele levemente assustados.
O homem se levantou cauteloso e ficou ereto diante de Allan.
– Acho melhor vocês saírem da frente do meu filho, caso contrário arrancarei o coração de
cada um e darei para os lobos comerem. – Allan falou entre os dentes.
Ele vislumbrou Phillip empunhar a espada sendo acompanhado pelo outro. Os dois homens
encaravam Allan com precisão e Phillip foi o primeiro a investir contra o highlander. Allan
levantou a espada antes que a lâmina de Phillip o atingisse, empurrou o traidor para trás e sentiu o
sangue ferver.
Ele teria seu castigo.
Enquanto os dois lutavam o outro homem, que até aquele momento Lilian não tinha
descoberto seu nome, se virou para ela. Ele se agachou e com rapidez retirou Walace de seus
braços. O menino começou a chorar e Lilian procurou forças o suficiente para ao menos se
colocar de pé. Não conseguiu, mas antes que o homem pudesse se distanciar, ela se inclinou e
segurou seu tornozelo. O seguraria a noite inteira se fosse preciso.
Lilian se desesperou ao ver Allan ainda lutando com o guerreiro.
– Allan! – Ela tentou gritar, mas aos seus ouvidos não saiu alto o suficiente. – Allan!
– Me solte! Sua...
– Papai! – Walace gritou interrompendo o homem que o segurava.
Por um momento Allan ficou paralisado. Seu filho o tinha chamado de papai? Oh, Deus.
Aquilo era demais para seu coração.
Encarou Phillip que já estava cansado e o empurrou com força. Não tinha tempo para
perder com uma luta, investiu contra Phillip com destreza enquanto soltava um rugido de fúria.
Usou sua força para ir de encontro com a lâmina e conseguiu lançar a espada do traidor para
longe.
– Sabe o que fazemos com traidores? – Allan perguntou com a mandíbula trincada e a
lâmina de sua espada sobre o peito de Phillip. – Você não só nos traiu como também sequestrou
meu filho e a mãe dele. Não merece nosso perdão.
Allan não pensou duas vezes antes de enfiar a lâmina no peito de Phillip. Estava na hora de
matar o outro. Ele agradeceu por Walace estar olhando para a figura de Lilian segurando o
tornozelo do bárbaro ao invés de o ver matando um homem.
Se aproximou e colocou a lâmina da espada no pescoço do homem.
– O solte agora! – Urrou com toda fúria.
O homem afrouxou os braços ao redor de Walace e o menino se livrou dele com destreza, a
criança correu para onde estava sua maman e a abraçou com força.
– ANDE! – Allan ordenou fazendo um pequeno corte no pescoço do bárbaro.
O homem andou devagar e seus passos vacilaram por um momento, Allan lhe deu um
empurrão. Quando estavam fora das vistas de Walace, Allan voltou a encostar a espada no
pescoço dele.
– Quem o enviou? – A voz fria do highlander fez o homem estremecer.
– Liam McCarty. – Ele disse com cautela.
– Lamento você não poder entregar o recado para ele.
– Que recado?
– Que o lago pertence aos O’Brien e nem seu milorde e nem ninguém poderá o tomar! Seu
miserável!
Com apenas um golpe, Allan empunhou a espada fazendo com que seu corpo fosse
separado do corpo. Deu as costas para o cadáver e voltou a andar até onde Lilian e Walace
estavam. Allan segurou Walace com força e o abraçou junto ao peito.
– Já estou aqui meu pequeno. Tudo ficará bem. – Ele sussurrou próximo a orelha de
Walace. – Você está bem? – Perguntou olhando para Lilian que respirava fundo com a cabeça
encostada no tronco.
– Agora estou. – Disse fazendo careta e logo em seguida se encurvou para o lado e
vomitou o que tinha jantado.
– Maman ficará bem? – Walace perguntou.
– Ficará sim, meu filho. – Ele respondeu o colocando no chão e se agachou para ficarem
da mesma altura. – Eu gostei de você me chamando de papai.
– Minha maman disse que meu papai estava vindo. – Walace disse fungando por conta do
choro. – E você veio.
– Sempre virei. – Allan passou a mão pela face de Walace e deu um beijo na bochecha
dele. – Agora precisamos cuidar da sua maman e sempre que quiser poderá me chamar de papai.
De acordo?
Walace assentiu e se voltou para Lilian. Allan pediu para que seu filho segurasse em suas
vestes e não o soltasse, ele se aproximou de Lilian e segurou seu cabelo enquanto ela ainda
vomitava.
Foi naquele momento em que Allan percebeu o quanto ele precisava protegê-los. Ela tinha
sacrificado tanto para ter Walace por perto e ainda faria de tudo por ele. Agora era a hora dela
descansar um pouco e desfrutar com tranquilidade os dias com Walace e seria dever dele cuidar
de ambos. Isso era o mais certo a se fazer.
Pelo bem de Walace.
Pelo bem de Lilian.
E também para o bem dele mesmo.
Meu querido Walace, creio que chegou a hora de pôr as coisas em seu devido lugar.
Tomarei a decisão mais certa a se fazer, mesmo que isso faça sua maman querer me degolar.
Capítulo XIV
Os raios de sol adentraram através das pequenas brechas da janela e bateram no rosto
pálido de Lilian. Enquanto ela dormia, Walace alisava os fios de cabelos dela com seus pequenos
dedos e Allan observava tudo em silêncio. Ele mantinha o queixo apoiado nas mãos atento a todos
os movimentos de Walace que parecia preocupado com sua mãe, o menino passou o pequeno dedo
indicador na bochecha dela e se voltou para Allan.
– Ela vai demorar pla acodar?
– Acho que sim. – Allan disse devagar. – Ela precisa descansar. Pensei que você também
iria querer dormir até mais tarde.
Walace o olhou de soslaio e desceu da cama indo em sua direção. Allan o segurou e o
sentou em seu colo.
– Meu bobô já foi? – Walace perguntou segurando o pingente de seu pai.
– Acho que não, você quer estar com ele? – Perguntou passando uma de suas mãos sobre o
cabelo do menino.
Allan teve a maior dificuldade para levar Lilian e Walace em seu cavalo, tanto ela quanto
Walace estavam sonolentos e ele havia decidido levá-los para a propriedade de sir Zac já que era
mais perto. Pediu para Brenda ajudar Walace e novamente separasse alguma veste para Lilian
enquanto algumas criadas a ajudavam com o banho quente. Depois disso ela e Walace haviam
praticamente desmaiados em cima da cama.
Ele havia passado a noite na cadeira.
Havia mandado Fergus recompensar o menino do bilhete e levá-lo de volta para casa em
segurança e um mensageiro havia sido enviado ao conde.
– Quelo! – Walace respondeu, mas logo em seguida ele juntou as sobrancelhas. – É pla te
chamar de papai?
Allan abriu um enorme sorriso.
– Só se você quiser, mas devo dizer que ficaria muito feliz caso você só me chamasse de
papai. De acordo? – Perguntou beijando a face do pequenino.
– Sim.
– Agora vamos procurar seu avô? Tenho que falar com ele.
– Espela! – Walace desceu do colo do pai e voltou a subir na cama, depositou um beijo na
face de Lilian e se juntou a Allan segurando a mão que cobria a sua.
Os dois caminharam rumo a porta e antes de fechá-la Allan lançou um último olhar para
Lilian.
Richard abraçou seu neto pela quarta vez enquanto os irmãos O’Brien os observavam. O
conde vasculhava o corpo do menino para ter a certeza de que ele não estava machucado e havia
agradecido a Allan por ter salvado sua filha e seu neto. Fergus parou a uma distância considerável
e trocou um olhar com seu milorde, Allan pediu licença e foi diretamente falar com o guerreiro.
– Algum problema, Fergus? – Allan perguntou com a voz rouca.
– A irmã de Callum se recusa a aceitar a recompensa, senhor. – Disse irritado, o que era
estranho já que Allan nunca tinha o visto daquela maneira. Aliás nunca tinha presenciado Fergus
nem ao menos elevar o tom de voz. Allan o analisou com precisão e percebeu que o highlander
estava completamente encharcado.
– O que aconteceu com suas vestes, Fergus?
Ele pigarreou antes de continuar e sentiu o olhar de Brenda sobre ele.
– Digamos que eu e lady Vitória tivemos um desentendimento, nada com que se preocupar.
E se ela insistir em não aceitar por conta de seu orgulho entregarei para Callum, ele parece ter
mais juízo do que a irmã.
– De acordo. – Allan sentenciou.
Ele deu as costas para o guerreiro e voltou a se juntar aos que o esperava.
– Brenda, por favor, cuide de Walace por um momento. – Allan se voltou para o conde. –
Se não for muito incomodo gostaria de falar com o senhor.
– Pode falar. – Richard disse.
Quando Brenda e Walace adentraram na propriedade, Allan suspirou. Não seria uma
conversa fácil, mas quanto antes melhor.
– Qual seria o assunto?
– Sobre lady Lilian, Walace e os acontecimentos da noite passada. Acho que está
lembrando quando disse que protegeria aos dois. – Richard assentiu e ele prosseguiu. – Eu disse
que faria de tudo para os mantê-los seguros, mas não foi isso que aconteceu. Novamente corri o
risco de perder meu filho e ainda por cima sua filha se envolveu e também se colocou em risco.
Como vossa graça mesmo disse: tenho muitos inimigos e quando souberem que meu ponto fraco se
chama Walace estarão à espreita e simplesmente não posso fechar os olhos e fingir que tudo
permanecerá bem.
– Aonde exatamente quer chegar com isso?
Allan tinha ensaiado aquelas palavras inúmeras vezes durante a madrugada, mas agora
diante do conde tudo parecia ter fugido de sua memória. Havia sido o mais otimista possível, mas
não tinha como negar o perigo que Walace estaria exposto.
– Tenho pensado em algumas formas de deixar Walace seguro e consequentemente também
a lady Lilian. Sei o quanto ela abdicou para ficar com Walace e sei também que ela não se
arrepende. Vossa graça, a única forma de resolvermos o problema de como ficaremos quando eu
precisar voltar para Inverness, manter Walace seguro e ainda recompensar Lilian por todo o
cuidado e amor que ela mantém pelo meu filho é... – Ele pigarreou antes de continuar. –É
casando-se com ela.
Os olhos de Richard se arregalaram enquanto ele procurava algum vestígio de ironia na
voz e expressão de Allan, não encontrou nada disso. Na verdade, enxergou determinação nos
olhos escuros e aquilo fez com que ele se preocupasse.
– Casar com Lilian? – A voz do conde saiu estrangulada. – Tem consciência do que está
falando?
– Claro que tenho! Sei que o mais difícil será colocar isso na cabeça de sua filha. Se eu me
casar com Lilian poderemos ir para Inverness e eu poderei manter tanto Walace quanto ela sob
segurança. Sei que o senhor e sua família fariam de tudo para protegê-los, mas não seria a mesma
coisa dela estar em minha fortaleza.
Frustrado, Richard passou as mãos pelo rosto.
– Minhas filhas só se casam por amor. – Afirmou. – Acha mesmo que Lilian aceitaria
casar-se com você? Apesar de ter salvado minha filha você a fez sentir a dor de perder Walace.
– Já me arrependi disso. – Falou passando a mão pela mandíbula. –Apenas quero sua
permissão para o casamento.
– E pretende casar-se sem o consentimento de minha filha? – O tom irritado era nítido.
– De forma alguma. – Allan trincou os dentes pensando no que fazer. De uma coisa tinha
certeza: se Lilian não quisesse casar-se com ele o conde não daria o consentimento. – Vamos fazer
um acordo: se lady Lilian aceitar casar-se comigo o senhor terá que nos dá sua permissão.
– Acha mesmo que conseguirá? – Richard perguntou levantando uma das sobrancelhas.
– Garanto que não me chamam de destemido só pela forma como uso uma espada, mas
também como posso ser bastante destemido na persuasão. Temos um acordo?
Richard ponderou por um momento. Lilian também tinha o direito de conhecer alguém e se
apaixonar, mas o problema seria quem. Absolutamente ninguém tinha interesse pelo matrimônio
com ela por causa de Walace. Pensando por esse lado Lilian também tinha o direito de casar-se e
se sentir segura em um lar além da propriedade da família.
– Se conseguir que ela concorde terá minha permissão. – Richard disse. –Mas lhe advirto
que não permitirei que nem você e nem ninguém machuque o coração da minha filha. Se for se
casar com ela terá que respeitá-la e aceitar o modo como ela foi criada, minhas filhas são
mulheres determinadas e eu não deixarei que nenhum homem tire a liberdade delas. De acordo?
– Sim, senhor. Tem minha palavra quanto a isso. – Allan disse apertando a mão do conde.
Se fosse para persuadir Lilian sobre casamento, faria da melhor forma possível.
Quando Allan voltou para o quarto, Brenda e Walace ainda velavam o sono de Lilian. Ela
parecia submersa em um tipo de paz interior que Allan não queria interromper.
– Ela ainda deve estar cansada. – Brenda comentou. – Mas acho que seria melhor acordá-
la para poder se alimentar. Não comeu nada até agora. E o conde?
– Voltará daqui a pouco com a condessa e as irmãs de Lilian, farei o que sugeriu. Peça, por
favor, para algumas criadas trazerem o desjejum para ela.
Brenda assentiu e chamou Walace para acompanha-la. O menino voltou a beijar a face da
mãe e correu para junto da tia. Quando saíram do quarto Allan se aproximou da cama e sentou-se
ao lado de Lilian, seus dedos foram para a face dela e ele sentiu que sua temperatura estava se
normalizando. Sem ao menos perceber seus dedos circulavam os detalhes do rosto dela e mesmo
com as pálpebras fechadas ele lembrava muito bem da cor daqueles olhos atrevidos, seu dedo
passeou pelo nariz de Lilian e desceu até os lábios dela. A cor natural tinha voltado e Allan se
inclinou para admirá-la mais de perto. Precisava acordá-la, mas ela ainda parecia emanar uma paz
interior que o deixou conturbado. Quantas noites ele havia passado acordado pensando em seu
filho enquanto ela também permanecia acordada, mas consolando o menino que Deus havia
colocado em seu caminho.
Aquilo o deixou intrigado.
– Lilian! – A chamou colocando a mão no ombro dela. – Precisa acordar!
Ela se mexeu preguiçosamente e quando abriu os olhos se viu perto demais do olhar
intenso de Allan. Lilian suspirou soltando o ar cansado e se desviou dos olhos escuros que a
fitavam. Sentou-se rapidamente na cama e olhou em volta a procura de seu filho.
– Onde está Walace? – Perguntou ainda confusa e tentou alinhar seus cabelos colocando
algumas mechas atrás da orelha.
– Está com Brenda. Você está bem?
Lilian esfregou os olhos e olhou para o vestido, agora amassado, que Brenda havia lhe
emprestado. Ficou de pé para se colocar a uma distância considerável de Allan. Estavam sozinhos
no mesmo quarto... As criadas teriam o que fofocar mais tarde.
– Estou ótima. – Ela disse. – Já posso voltar para casa.
Allan também ficou de pé e a encarou.
– Sua mãe está vindo buscá-la, mas tome o desjejum antes de partir. – Ele começou a
andar na direção de Lilian rodeando a cama. – Alguns daqueles homens ousaram machucar você?
– Não, pelo menos não muito. Puxaram meu cabelo, mas isso não foi nada comparado ao
fato de que queriam levar Walace. – Lilian baixou o tom de voz sentindo um aperto no peito.
Allan parou diante dela e delicadamente segurou seu queixo para que ela pudesse lhe olhar
nos olhos.
– Eu sinto muito. – A voz rouca dele ecoou dentro do quarto com firmeza. – Não deixarei
ninguém voltar a lhe machucar. – Ele passou sua mão livre sobre os cabelos dela. – Sinto muito
eles terem a machucado, já cuidei deles.
Lilian tentou puxar o ar para dentro, mas parecia que alguma coisa estava tirando a
autonomia de seu corpo. Incomodada, recurou um passo. No mesmo instante ela sentiu
desequilibrar-se e soltou um som abafado na medida em que sentia seu corpo caindo, mas ao invês
de sentir o choque contra o chão, sentiu o aperto dos braços de Allan ao redor de sua cintura.
Os mesmos braços que a seguraram em cima do cavalo na noite anterior.
– Parece que está sempre caindo quando eu estou por perto, lady Lilian. –Ele comentou
com pequeno sorriso.
Lilian ficou ereta sentindo o queixo liso dele roçar contra sua bochecha, respirou fundo e
Allan se afastou o suficiente para seus olhares ficarem frente a frente. O olhar dele foi diretamente
para seus lábios vermelhos e ela permaneceu quieta como se estivesse em um tipo de transe.
– Você é linda, lady Lilian. – Allan disse unindo seus rostos e a ouviu respirar fundo. –
Não precisa usar a desculpa de estar caindo para estar em meus braços.
Ele colocou suas mãos no rosto dela e juntou seus lábios. De inicio ela permaneceu
parada, mas quando sentiu Allan segurar sua nuca acabou por se render. Ele sentia algo pulsar
dentro de si enquanto a beijava e colocou uma de suas mãos nas costas dela.
Lilian colocou sua mão no ombro dele e ponderou em empurrá-lo, mas no mesmo momento
em que esse pensamento passou por sua mente os braços de Allan segurou os ombros dela e seu
corpo afastou-se por completo. Ela o olhou corada enquanto tentava regulamentar sua respiração.
Oh, meu Deus! Ele tinha a beijado... Eles tinham se beijado!
Ela apoiou-se em um móvel próximo a janela e baixou seu olhar para o chão. Como
voltaria a olhá-lo depois daquilo? Estava constrangida o suficiente para mandá-lo sair. Abriu a
boca para lhe dizer algo, mas foi interrompida pelas batidas na porta.
– Entre! – Allan ordenou sem tirar os olhos de Lilian que ainda parecia estar se
recuperando.
A criada adentrou com o desjejum sobre uma bandeja e Lilian aproveitou a deixa.
– Peço licença, sir Allan. – Ela disse levantando o olhar. – Preciso de um tempo sozinha
para me alimentar e me preparar para voltar para minha casa.
Ele apenas assentiu e com passos largos chegou ao corredor.
Lilian não sabia o real motivo dele ter feito aquilo, mas se sua intenção foi deixá-la
desconcertada, havia conseguido.
Ah meu pequeno Walace, por alguns momentos sua maman tirou minha respiração.
Capítulo XV
Lilian desceu as escadas da propriedade de sir Zac com Walace nos braços e um sorriso
amarelo no rosto, ainda precisava se recuperar por completo, mas não queria se afastar de seu
filho.
– Já está pronta? – Alycia perguntou ao lado de Liliana e Daiana.
Os olhos de Lilian observaram a sala e suspirou aliviada quando percebeu que não havia
nenhum sinal de Allan, ainda estava confusa e constrangida com o acontecido e se dependesse
dela o evitaria o máximo possível.
– Sim. – Respondeu e se voltou para Brenda e Fergus que permaneciam parados perto dos
degraus. – Obrigada pela hospitalidade.
– Não precisa agradecer, você é a mãe de Walace e consequentemente é da família. –
Brenda disse sorrindo.
Ela não soube reagir diante de tal declaração, se sentia desconfortável em pensar que
pertencia aquela família já que não tinha nenhuma ligação com ela, apenas Walace tinha. Lilian
apenas assentiu e se voltou para Fergus.
– Obrigada pelo apoio que nos deu. – Agradeceu.
– Apenas cumpri com meu dever, milady. – Ele disse sorrindo para Walace que lhe mandou
um aceno.
– Se despeça de sua tia, Walace. – Lilian pediu o colocando no chão.
Walace abraçou as pernas de Brenda e a moça se inclinou para beijar a face dele.
– Até mais, Walace!
O menino voltou para junto da mãe e segurou a mão dela, depois de mais alguns
cumprimentos Lilian e toda sua família saíram da propriedade. À sua espera estava uma
carruagem e alguns cavalos que Lilian julgou ser para seus pais.
Ela e suas irmãs seguiram para a carruagem ainda paparicando Walace.
– Milady!
Lilian se voltou para trás para ver quem a chamava e se viu diante de dois guerreiros que a
olhavam com admiração.
– Ficamos muito felizes em saber que esteja recuperada. – Um deles disse. – E o pequeno
O’Brien também. Aqui está, milady. – Ele esticou a mão revelando algumas rosas. – São para a
senhorita.
– Ah... Muito obrigada. – Lilian disse pegando as rosas e sentindo-se confusa.
– Com todo o respeito, milady. Tem o mesmo cheiro de sua pele. – O homem disse abrindo
um pequeno sorriso depois de ter beijado o dorso da mão dela.
– Obrigada. – Repetiu.
– Isso também é para a senhorita. – O outro disse estendendo para ela um pequeno
pingente. – Comprei com os comerciantes. Sei que está acostumada a ter joias deslumbrantes, mas
escolhi especialmente por ter a mesma cor de seus olhos.
Lilian segurou a pequena pedra azul e sorriu ainda mais. Em tão pouco tempo aqueles
homens haviam adquirido tanta admiração por ela?
– Não deveriam ter se incomodado tanto. – Ela disse também lhe oferecendo a mão. – É
muito bonito.
– Não tanto quanto seus olhos. – O highlander disse beijando a mão dela, mas não a
soltou. – Devo dizer que a milady é uma mulher excepcional, a forma como cuidou do pequeno
O’Brien e como maneja a espada nos deixou... Completamente eufóricos.
Lilian permaneceu sorrindo, há muito tempo não recebia aquele tipo de elogio. Primeiro o
beijo com Allan e agora aquilo.
– Qual é o nome dos senhores?
– Rurik Graham, milady. – O que lhe deu as flores disse.
– O meu é Vagn Davidson, as suas ordens. – O outro respondeu.
– É um enorme prazer, senhores. Eu realmente fico honra...
– O que está acontecendo aqui? – A voz rouca de Allan ecoou como um trovão entre eles e
Lilian viu os dois guerreiros recuarem um passo.
– Milorde! – Disseram em uníssono.
Allan se aproximou parando entre Lilian e os highlanders, ele cruzou os braços encarando
os guerreiros de forma perigosa e depois olhou para os artefatos nas mãos de Lilian.
– Quem lhe deu isso? – Perguntou semicerrando os olhos.
– Acho que não lhe diz respeito, senhor. – Lilian disse com ironia. – Agora se me der
licença... Cavalheiros. – Ela acenou para os guerreiros e se voltou para Allan. – Passar bem,
milorde.
– Foram vocês? – Ele perguntou encarando os homens que se entreolharam com receio.
– Sim, foram eles. Algum problema? – Lilian indagou irritada, mas quando o olhar dos
dois cruzaram-se, ela sentiu os lábios formigarem lembrando-se do beijo. Respirou fundo
afastando essa lembrança e desviou o olhar de Allan. – Até mais cavalheiros.
Ela deu as costas para os homens que a encaravam e adentrou na carruagem. Sentou-se à
frente das irmãs e colocou Walace em seu colo. O menino segurou as flores e a cheirou com
curiosidade.
– Papai quem deu? – Ele perguntou com um olhar interrogativo.
– Seu pai não teria capacidade para isso, Walace. É um bufão! – Ralhou irritada. – Aquele
cabeça de vento acha que só porque é o milorde pode mandar em todos!
– Parece que alguém está muito irritada. – Daiana disse sorrindo. – Teria sido o bufão ou
os guerreiros quem despertou a pequena fera?
– Acho que o bufão. – Liliana respondeu soltando uma gargalhada.
– Meu papai tem a cabeça de vento? – Walace perguntou sorrindo como se aquilo fosse
motivo de alegria.
– Sim, isso eu garanto! – Lilian sentenciou beijando a face do pequenino.
Allan observava a comitiva que havia o acompanhado até Villat. Eram guerreiros bravos
que tinham orgulho de pertencerem ao clã O’Brien e se não fosse por Phillip que um dia esteve no
meio deles, diria que havia escolhido os melhores homens de seu clã para acompanhá-lo.
– Escutem bem o que falarei: não quero nenhum guerreiro presenteando lady Lilian, de
acordo? – Não era necessariamente um pedido de opiniões, era uma ordem!
– Sim, milorde! – Todos responderam em uníssono, mas o olhar de Allan ainda pairava
entre Rurik e Vagn.
– Espero que entendam que ela é a mãe do meu filho e minha futura esposa. – Disse
arqueando a sobrancelha ainda com o olhar obscuro. – Estão dispensados.
Murmurando entre si o pequeno exército se dissipou. Fergus se aproximou de seu milorde
e o encarou com precisão.
– Diga, Fergus. – Allan bufou sabendo que seu guerreiro sempre tinha algo a dizer.
– Me perdoe a intromissão, milorde. Mas lady Lilian sabe que será sua futura esposa? – A
voz de Fergus havia saído com ironia e reprovação.
Allan pigarreou.
– Ainda não. – Respondeu com naturalidade.
– E já pensou no que ela fará com o senhor quando descobrir que anda dizendo isso?
Ele franziu o cenho imaginando Lilian com uma espada correndo em sua direção, mas logo
essa imagem foi mudada pelo beijo que ele lhe dera mais cedo. Se para casar-se teria que domar a
pequena fera, então o faria. Agora que já tinha alertado seus guerreiros do perigo que seria estar
rondando Lilian, precisava encontrar uma maneira de fazê-la aceitar o casamento.
Não seria hipócrita o suficiente em afirmar que não tinha pensado em usar Walace a seu
favor, mas descartou essa possibilidade quando se deu conta de que iria ferir Lilian. Não sabia
como convencê-la, mas teria que arquitetar um plano o mais rápido possível.
O sol sequer havia nascido quando Allan tinha levantado. Mesmo agora quando
reencontrou Walace e tendo total certeza de seu bem-estar, ele não conseguia dormir
tranquilamente. Era torturante passar tanto tempo acordado enquanto todos desfrutavam de horas
de sono. Começou a jogar pequenas pedras dentro do lago apenas para se distrair, seu cavalo
estava deitado ao seu lado parecendo tranquilo e Allan levou os olhos para o papel que estava em
seu bolso.
– Sabe que só farei isso pelo bem do meu filho. – Ele disse com a voz rouca. – Aquela
mulher é impossível! Não aceitaria minha proposta. Passaremos um ano e um dia juntos e se por
uma intervenção divina nós convivermos como marido e mulher renovaremos os votos ou até
mesmo nos casaremos diante de Deus.
O cavalo relinchou ao seu lado e Allan o encarou.
– Devo estar ficando louco. Conversando com um cavalo... – Resmungou sorrindo. – Me
casarei com ela e tentarei ser o melhor marido de todos, ela merece. Além de garantir a segurança
de Walace poderei lhe dá tempos de paz, sem preocupações e sem olhares acusadores para ela.
Ela será a nova senhora O’Brien e colocará aquele castelo de ponta a cabeça. Está na hora de
resolvermos isso de uma vez por todas.
Allan foi conduzido para dentro por uma criada e sentou-se esperando para que Lilian
viesse ao seu encontro. Walace desceu as escadas correndo e pulou no colo do pai enquanto Allan
beijava a face dele. Ele sentou Walace em seu colo e voltou a beijá-lo com ternura.
– Estava morrendo de saudades. – Allan disse passando as pontas de seus dedos pelos fios
loiros dele.
– Papai?
Aquilo era música para os ouvidos de Allan.
– Sim, meu querido? – Ele respondeu com um sorriso no rosto.
– Bocê vai embola?
– Não, quem disse isso?
– Minha maman disse que eu e ela basta, então você está soblando. –Walace respondeu o
olhando em interrogativa.
O guerreiro abraçou o filho com firmeza e beijou o topo de sua cabeça.
– Não irei embora e se eu for o levarei comigo. – Allan disse. – Nunca o deixarei e
sempre que precisar estarei por perto. É uma promessa e os highlanders sempre cumprem com
sua palavra. Está bem assim?
– E minha maman? – Indagou se afastando do pai e o olhando com o cenho franzido.
– Sua maman também irá, mas ainda é o nosso segredo.
Walace sorriu e passou os braços ao redor do pescoço do pai.
– Ela falou de segulança. – Walace disse próximo a orelha de Allan. – Ela vai ficar na
segulança?
– Sim, ela e você. – Allan disse preocupado com o tom de voz de seu filho. – Estaremos
todos em segurança e lhe garanto que farei sua maman bastante feliz.
– Plomete?
– Prometo! – Allan firmou.
– Amo você. – Walace disse repousando a cabeça no ombro do pai.
Aquilo fez os olhos de Allan marejarem. O sentimento de amor por aquele pequeno ser o
invadiu de forma bruta. Ele o amava. Duas palavras eram o suficiente para deixar Allan
completamente impotente.
– Eu também amo você. – Allan disse fungando. – O amo mais do que tudo.
Eles se mantiveram abraçados durante algum tempo. Allan respirava fundo processando
aquele amor tão forte e constatou que simplesmente não suportaria perdê-lo novamente e mesmo
se estivesse no meio de seus guerreiros não teria se importado em chorar na frente deles quando
Walace dissesse aquelas palavras mágicas.
– Está chorando? – A voz de Lilian o despertou e o guerreiro passou a mão por seu rosto
limpando os vestígios de lágrimas.
– Não, apenas caiu algo em meu olho. – Falando ficando de pé segurando Walace.
– Acredito. – Lilian disse com ceticismo.
– Ele cholou porque eu disse que amava ele. – Walace disse sorrindo para a mãe.
Aquilo fez a expressão de Lilian mudar por completo. Isso significava que seu filho tinha
criado um vínculo com o pai, vínculo esse que ela temia ser prejudicial ao seu relacionamento
com Walace.
– Ele é um cabeça de vento chorão. – Disse para amenizar a expressão de seu rosto. – Uma
criada me disse que queria falar comigo.
– Sim, mas essa conversa é sobre um assunto delicado. – Allan disse lançando um olhar
para Walace.
– Walace, que tal você ir conversar um pouco com sua tia Liliana? Mamãe precisa
conversar a sós com seu pai.
Walace assentiu e beijou a bochecha de Lilian para em seguida correr escada acima. Assim
que tiveram a certeza de que ele não poderia ouvir nada, se entreolharam.
– O que foi dessa vez? – A voz de Lilian saiu rude e aquilo fez Allan ponderar sobre suas
próximas palavras.
– Vim para lhe dar uma notícia nada agradável. – Ele disse ficando sério e sua voz
mudando de tom. – Recebi isso ontem a noite, um mensageiro de Edimburgo levou para Inverness
e depois o trouxe até aqui. – Allan estendeu para Lilian o papel gasto.
Com rapidez ela desamassou o papel e começou a ler, a medida que sua mente ia
processando aquelas palavras uma angústia se abateu sobre si.
Estou voltando em buscas de resposta sobre Bram.
Léa
– É... A sua esposa? – Perguntou com a voz trêmula.
– Ela não é minha esposa! – Allan disse entre os dentes. – É apenas a mulher que deu à luz
a Walace.
– Mas aqui diz que ela está voltando... Quer dizer, voltando para Inverness e... E está em
busca de Walace! – Lilian sentiu seu estômago revirar-se. – Oh Deus, ela não porá os olhos em
Walace! Ela... Allan, por favor, me diga que essa infeliz não tem nenhum direito sobre meu filho.
Ela foi embora e o deixou na pior situação possível.
– Lilian eu...
– Preciso que me diga, Allan! – Ele viu o horror surgir nos olhos dela e apertou os lábios
com força. Lilian estava sofrendo.
Ele engoliu em seco e se aproximou segurando os ombros dela.
– Lilian, eu preciso que você se decida. Caso aceite ao menos fingir sermos marido e
mulher você será a senhora O’Brien e consequentemente terá direitos sobre Walace. É claro que
eu não deixarei essa infeliz encostar um dedo sequer no nosso filho, mas queria que você pensasse
no assunto também por esse lado. Mesmo que Walace tenha sido criado aqui, as origens e o sangue
dele é de um O’Brien.
Lilian sentiu seus ombros se encolheram. Sentia-se bastante vulnerável depois da chegada
de Allan e principalmente quando ele estava muito perto. Colocou as mãos sobre o rosto em sinal
de cansaço e fechou os olhos com força.
– Parece que desde que você chegou todos querem tirar Walace de mim. –Ela disse com a
voz embargada e no momento seguinte começou a chorar.
Allan a abraçou com ternura e esperou até seu choro cessar. Havia feito tolices, como
sempre.
– Lilian?
Ela sentiu todos os seus músculos tensos e por um momento se permitiu ser fraca. Tudo em
sua vida tinha se tornado tão complicado depois de Walace e ainda por cima tinha que se manter
sempre forte para todos. Queria ao menos ter uma chance de ser fraca como todo mundo, mas as
necessidades de Walace estavam novamente presentes e ela precisava pensar nele.
– Me casarei com você. – Disse ainda chorando. – Passaremos o Handfasting convivendo
e depois veremos o que fazer, mas tem que me prometer que se essa mulher ousar voltar não
encostará em Walace.
– Claro que prometo. – Falou alisando suas costas. – Ele é nosso filho, Lilian. Ninguém
ousará tentar tirá-lo de nós, isso eu garanto.
Ele beijou a testa dela e esperou que se recuperasse. Por um lado, estava satisfeito por ela
ter aceito e por outro estava sentindo-se culpado. Seria uma grande batalha interna, mas por
enquanto ele decidiu apenas acalmá-la. Queria vê-la bem e agora que seria sua esposa, era seu
dever zelar por seu bem-estar e segurança.
Ah, e também cuidar para que nenhum bastardo ouse cortejá-la novamente. A apertou ainda
mais em seus braços e se inclinou para beijá-la delicadamente nos lábios. Lilian permaneceu
imóvel, mas Allan segurou seu rosto com delicadeza e o acariciou.
– Agora que aceitou ser minha esposa farei de você a mulher mais feliz da Escócia. É uma
promessa e highlanders cumprem com sua palavra. – Ele disse com a voz rouca voltando a beijá-
la com mais intensidade.
Senhora O’Brien, esteja pronta para sua recompensa. Por ter criado e amado nosso
filho e principalmente por tê-lo feito me amar.
Capítulo XVIII
Lilian olhou-se no espelho e suspirou com força. Sua mão tremia levemente e a aflição em
seu olhar era nítido para qualquer um que a olhasse. O vestido azul que usava estava em contraste
com a cor de seus olhos e ela segurava o pequeno buquê de rosas vermelhas. Não poderia
acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Estava se casando e por algum motivo aquilo
estava lhe deixando temerosa. Tinha acertado com Allan que ele não tocaria um dedo sequer nela
sem sua permissão e a respeitaria em todos os aspectos, mas por que ela permanecia tão nervosa?
Seus pais haviam concordado já que ela estava fazendo aquilo para o bem de Walace e por mais
que soubesse que seu pai era contra casamento sem amor, viu nos olhos dele a esperança de que
realmente aquele casamento viesse a ter amor.
Respirou fundo e se voltou para Walace que permanecia sentado na cama.
– Está linda, maman. – Ele disse abrindo um enorme sorriso.
– Obrigada, querido. – Lilian disse se aproximando dele. – A maman tem uma coisa pra te
contar. Hoje eu e seu papai vamos nos casar e vamos morar juntos.
– Bobó disse isso. – Walace murmurou ficando em pé ainda em cima da cama e abraçando
a mãe. – Amo você, maman. Você e o papai.
Lilian beijou a face do pequeno e o apertou ainda mais entre seus braços.
– Também amamos você, mas quero lhe dizer que amanhã eu, você e seu papai estaremos
indo para outro lugar. – Ela disse com cautela.
– E o bobô? E a bobó?
– Eles não vão. – Lilian o sentou em seu colo e o encarou com precisão. –
Teremos que ir sozinhos, mas sempre vamos voltar para visitá-los e eles também vão nos
ver.
– Não vamos molar mais aqui? – Indagou com a voz tristonha.
– Não, mas lhe prometo que continuaremos a sermos muito felizes. Você poderá cavalgar
com seu papai pelos enormes campos e vamos morar em um grande castelo.
Walace abraçou a mãe com força e respirou fundo como se fosse um adulto.
– Mag também vai?
– Claro que vai e quando chegarmos em Inverness ele viverá perto de nós. De acordo?
– Sim. – Ele desceu do colo dela enquanto Alycia colocava seu rosto para dentro do
quarto.
– Já está na hora! – Afirmou adentrando. – Seu pai já está nos esperando. Você está linda.
– Obrigada. – Lilian disse ficando de pé.
– Walace, porque você não vai esperar com seu avô? Pode ser, querido?
O menino assentiu saindo para o corredor. Alycia encarou a filha com precisão e se
aproximando a abraçou com força.
– Parece que todas as minhas tentativas foram frustradas. – Comentou beijando a face da
filha.
– Que tentativas?
– Bom, um dos meus objetivos era que você e suas irmãs encontrassem alguém que
realmente a amassem e a respeitassem. Vocês se casariam e todos permaneceriam felizes.
– E não foi assim que aconteceu? – Lilian perguntou respirando fundo. –Miranda e Robert
se amam, da mesma forma que Amanda e James.
– Sim, mas eu e seu pai quase ficamos de cabelos brancos até chegarem ao amor. Não
quero nem lembrar como foi complicado na primeira em que Miranda iria se casar e depois teve
todos os problemas com Robert. Amanda nem me fale! – Alycia disse sorrindo. – Abandonou o
noivo no altar, mas o domou como uma boa guerreira que é. E você... – A condessa alisou a face
de Lilian com delicadeza. – A minha pequena guerreira agora vai casar-se para proteger seu filho.
Mas dizem que os melhores metais são provados ao fogo, quem sabe não tenha que ser assim com
todas nós. Me dói saber que você não está tendo o amor que merece, mas saiba que eu e seu pai
continuaremos aqui e vamos para Inverness fazer algumas visitas. Quero garantir que aquele
highlander a respeita.
– Não se preocupe, mamãe. Eu e Allan tivemos uma conversa séria e decidimos que
respeitariamos um ao outro.
– Assim espero, caso contrário terei que arrancar um olho daquele rosto bonito.
As duas sorriram cúmplices e voltaram a se abraçar.
– Eu amo você, querida. – Alycia disse.
– Também te amo, mãe. – Lilian se apertou ainda mais nos braços dela sentindo as
lágrimas nos olhos.
Assim que se separaram, foram juntas para a sala. Ao avistar a filha descendo as escadas
Richard ficou de pé. Se aproximou de Lilian e a abraçou.
– Você está linda! – Ele disse sorrindo.
– Obrigada, papai. – Lilian beijou a bochecha dele coberta pela barba e o encarou. – Você
também está lindo.
O conde fechou os olhos com força respirando fundo e fez uma careta quando se voltou
para Alycia.
– Eu nunca me acostumarei com isso. – Comentou entre os dentes. – Esses bastardos
sempre fazem isso: vêm até minha casa e levam uma das minhas filhas.
– Não é como se tivéssemos às levado a força. – James disse sorrindo em um dos cantos
da sala.
– Isso é verdade. – Robert concordou apertando a mão do cunhado.
– Calados! – Richard rugiu. – Saberão do que estou falando quando isso acontecer com
minhas netas.
– O quê!? – James e Robert falaram em uníssono se olhando como se arquitetassem um
plano.
– Prometa que nos avisará sobre qualquer problema. – Richard falou segurando suas mãos.
– Eu prometo, papai. – Lilian disse sorrindo. – Não se preocupem com nada. Não quero
que fiquem aqui aflitos por mim, eu e Walace vamos ficar bem. Além do mais quem precisa se
preocupar é sir Allan, não sabe no que está se metendo.
Todos sorriram e Fergus adentrou fazendo uma pequena reverência.
– Sir Allan me mandou ver se a milady não tinha desistido. – O guerreiro disse a olhando
com diversão.
– Eu já estou indo, Fergus. – Lilian disse e se voltou para o canto da sala onde dois
convidados especiais pareciam acuados. – Fergus, me faria um favor?
– Mas é claro, milady. Daqui a alguns instantes será a senhora do clã. – Fergus disse com
admiração.
– Quero que faça companhia a lady Vitória durante a comemoração. –Lilian se voltou para
a mulher loira que a olhava com surpresa. – Se não fosse por ela e seu irmão talvez Allan não
teria me encontrado naquela noite. De acordo?
– Milady, eu...
– De acordo! – Fergus concordou interrompendo Vitória. – A acompanharei por toda a
comemoração. Dou minha palavra.
Lilian podia jurar que viu a mulher corar diante de todos. Não sabia o que tinha se passado
entre ela e Fergus, mas a ligação entre os dois era nítida.
– Hora de irmos. – Amanda disse.
– Não estou apressado. –Richard afirmou, mas quando viu o olhar recriminador de Alycia
segurou o braço da filha. – Já que temos que ir faremos isso de uma vez.
Lilian concordou com a cabeça e se deixou ser conduzida pelo pai. Enquanto caminhavam
na direção do jardim ela sentiu as mãos soarem e engoliu em seco. Estaria tomando a decisão
certa?
Allan parou de andar de um lado para o outro quando percebeu a movimentação ao longe.
Lilian Craig caminhava calmamente em sua direção. O rosto iluminado por alguns raios de sol fez
com que toda a atenção do guerreiro se voltasse para ela. Sentiu um frio na barriga e franziu o
cenho, nem mesmo nos campos de batalha tinha sentido aquilo e o nervosismo não fazia parte de
sua vida. Mas ali estava ele: casando-se novamente, mas agora sentia... Medo?
Medo de fazê-la sofrer, medo de não conseguir colocar no rosto dela o sorriso que havia
visto algumas vezes.
Quando Lilian parou diante dele, Allan lhe estendeu a mão e assim que suas palmas se
uniram ele sentiu o coração se acalmar.
– Você está linda. – O highlander disse próximo a orelha dela.
Lilian sentiu um calafrio subir por nuca e o encarou com precisão. Ele também estava
bonito. Muito bonito para falar a verdade. Como não era um casamento religioso Richard quem
iria realizar a cerimônia, se colocou à frente de ambos e respirou fundo. Depois de algumas
palavras, onde deixou claro que haveria derramamento de sangue caso o highlander fizesse sua
filha sofrer, pediu para que os noivos se encarassem.
Assim que Allan se voltou para Lilian seus olhos se conectaram, ela respirou fundo
observando os olhos profundos dele enquanto uniam suas mãos formando o símbolo do infinito.
Seu pai colocou uma corda ao redor de suas mãos e começou a recitar os termos daquela união,
Allan não conseguia se concentrar nas palavras de seu sogro. Lilian estava bem ali a sua frente e
se tornando sua mulher. Seus olhos vagaram pelo rosto dela e mais uma vez constatou o quanto ela
era linda.
– Você é linda. – Repetiu apenas movendo os lábios sem emitir nenhum som para não
interromper Richard. Foi o suficiente para Lilian entendê-lo.
– Vocês aceitam? – O conde perguntou.
– Sim. – Responderam juntos e um pequeno sorriso brotou nos lábios dele.
Richard desfez o nó da corda desamarrando as mãos dos noivos. Eles estariam juntos
durante um ano e um dia, tempo em que Allan pretendia fazê-la muito feliz.
– Falta só uma coisa. – Allan disse a encarando.
– O quê?
– Isso. – Ele respondeu se inclinando e unindo seus lábios.
Allan colocou a mão nas costas de sua esposa e a apertou junto de si. Lilian sabia que os
olhares estavam fixos neles, mas naquele momento não se importou. Segurou a camisa de Allan
com força e sentiu todo o nervosismo ir embora, era incrível a capacidade que ele tinha de fazer
com que a mente dela nublasse com um simples ato.
Assim que se separaram o guerreiro segurou a aliança com as pontas dos dedos e a
encarou.
– Você é minha esposa e prometo respeitá-la como tal. – Ele segurou as mãos quentes dela
e deslizou a aliança por seu dedo. Retirou de seu sporran um pingente idêntico ao qual ele levava
no pescoço e o levantou na altura de seu rosto. – Seja bem-vinda a família, Lilian Craig O’Brien.
Lilian sabia que apenas os membros da família dele tinham um daquele e o gesto de Allan
fez o coração dela errar uma batida. Ela era da família... Ela e seu filho tinham encontrado um
lugar – além do seio de sua família – para pertencerem.
Ah, minha querida esposa... Você agora faz parte da família e nós protegemos e
amamos a família.
lala
Capítulo XIX
Allan e Lilian estavam parados lado a lado vendo como todos pareciam se divertir. Alguns
se arriscaram na dança escocesa enquanto outros pareciam aproveitar bem da bebida e comida
que eram servidas. Ela tinha visto como sua mãe e irmãs haviam se esforçado para prepararem
tudo aquilo em apenas três dias. Lilian segurava o pingente entre seus dedos ainda pensando no
grande significado que aquilo tinha.
– A festa está ótima. – Ele comentou pigarreando.
– Prestígio de mamãe. Digamos que ela não se sai bem só com uma espada na mão, mas
em qualquer outro aspecto. Na minha opinião é uma mulher espetacular.
– Então já sei a quem você puxou. – Allan disse tentando buscar os olhos dela.
– Allan O’Brien, você é um péssimo marido. – Afirmou com ironia. – Se não me tirar para
dançar agora terei que convidar um de seus guerreiros para me dar essa honra.
O highlander sorriu e segurou sua mão, a conduziu para onde outros dançavam e a segurou
pela cintura.
– Sabe o que Walace me disse a pouco? – Allan perguntou encostando seu rosto no dela e
Lilian pôde sentir a barba rala lhe fazer cócegas. – Que sua maman deixou que ele levasse Mag
conosco. Gostaria de saber quem é Mag.
Lilian teve que respirar fundo para organizar seus pensamentos.
– É um potro que ele ganhou algum tempo atrás. Na verdade, o nome dele é Magnus, mas
Walace acha complicado demais pronunciar esse nome, então o apelidou de Mag. – Lilian passou
um de seus braços pelo pescoço de Allan e o encarou. – Nós teremos que nos aturar um ano e um
dia e eu não quero ter que ficar discutindo ou simplesmente odiar essa situação só por estar
acontecendo por um motivo nada convencional. Além do mais não fará bem a Walace conviver
com duas pessoas que demonstram sempre estarem em um campo de guerra.
– O que pretende sugerir? – Ele perguntou com um sorriso presunçoso no rosto.
– Foi mais uma decisão do que uma sugestão da minha parte. – Lilian mordeu o lábio
inferior tentando encontrar a melhor forma de proferir as próximas palavras. – Decidi que
passarei esse tempo da melhor forma possível. Você provavelmente passará o dia todo ocupado,
mas quero que você proporcione a Walace tudo o que ele merece.
– E quanto a você? – Perguntou com a voz rouca.
– Essa união não foi justa com nenhum de nós dois, mas vou fazer coisas que ultimamente
não tenho feito porque tenho que cuidar de Walace. Por favor, não pense que estou reclamando.
– Nunca pensaria isso de você. – Allan depositou um beijo casto na face dela. Era
estranhamente familiar e reconfortante a forma como os dois tinham começado a se acertarem. –
Também tem o direito de querer as coisas.
– Quero passar algum tempo em cima de um cavalo apenas vagando por suas terras. Passar
uma noite inteira caçando... – Um sorriso brotou nos lábios dela. – Eu nunca cacei. Na única
oportunidade que tive papai me proibiu, quero fazer isso. Quero nadar em um lago durante uma
tempestade. Ah, e ensinar a Walace a pronunciar as palavras corretamente.
– Tudo isso até o final do Handfasting?
– Sim, e você terá que me ajudar. – Lilian buscou os olhos dele. – Faz muito tempo que
deixei de fazer essas coisas.
– Até mesmo se você quiser uma estrela terei que dá um jeito de ir pegá-la. – Allan disse a
fitando. – Prometi que a faria feliz e assim será. Apenas confie em mim, Lilian.
– Assim o farei. – Respondeu. – Agora eu só preciso de um pouco de paz.
– E terá! – Allan segurou delicadamente o rosto dela e acariciou sua bochecha. – Tudo o
que você quiser, terá. Até o final do Handfasting você será a mulher mais feliz da Escócia.
Ela não sabia o que dizer, só aproximou ainda mais seus rostos e o beijou levemente nos
lábios. Aquilo desconcertou Allan, parecia que mil raios haviam caído sobre si e o deixado em
estado de choque. A única coisa que conseguiu fazer foi abraçá-la com força e enterrar seu rosto
nos cabelos negros de sua esposa.
– Acho que está na hora de sairmos daqui. – Disse com precisão. Segurou a mão de Lilian
com firmeza e caminharam em direção ao enorme cavalo que os esperavam.
– Maman! – Lilian se voltou para trás encontrando Walace que abraçou suas pernas. –
Quelo ir com vocês! – Choramingou.
Lilian o segurou nos braços e beijou sua bochecha.
– Mas é claro que você irá conosco. Mamãe só estava esperando seu pai desamarrar o
cavalo para poder ir pegá-lo. – Ela disse sorrindo e ao se voltar para Allan o viu fazendo uma
careta. – Não é mesmo, Allan?
– Claro que sim. – Resmungou se aproximando de ambos. – Iremos para a outra
propriedade de Zac. Ele a deixa fechada, mas ontem pedi para as criadas limparem tudo e já levei
dois baús com suas coisas.
– Obrigada. – Ela disse notando o quanto ele era prestativo.
– Vamos?
Lilian suspirou.
– Vamos. – Respondeu sentindo o nervosismo voltar ao seu corpo.
Léa encarou o homem à sua frente com fúria e soltou um rugido alto o suficiente para que
todos ao seu redor pudessem ouvir.
– O QUE ESTÁ ME DIZENDO?
– É o que ouviu, Léa! Terá que ir embora assim que amanhecer. – Jacob Bells disse com
raiva enquanto levava a taça até seus lábios. – Meu pai está vindo e se encontrar você em minhas
terras tomará tudo o que tenho e não vou perder minha herança por causa de você.
– E para onde acha que vou? – Indagou entre os dentes.
– Não me importo! A pior coisa que eu fiz foi ter lhe trazido para cá. Maldita a hora que eu
te conheci!
Ela ficou de pé respirando freneticamente enquanto seu rosto ficava vermelho de raiva.
– Eu não tenho pra onde ir!
– Quer um conselho? Volte para a Escócia, se continuar aqui será presa e torturada. Além
de ser escocesa é uma assassina infeliz. Acha mesmo que os pais de Anne deixará esse assunto
quieto? Vão caçar você como um animal e eu não quero e nem posso fazer nada para conter isso.
Você escolheu assim, Léa. Agora arque com as consequências.
Léa avançou para cima do homem e desferiu um soco em seu peito.
– A culpa não foi só minha. Você me ajudou, está lembrado? Os pais de Anne saberão
disso, eu vou contar tudo se não me ajudar!
– Conte e vamos ver em quem eles acreditam: no esposo fiel e respeitável da filha querida
deles ou na selvagem, maldita e escocesa! Agora me solte!
Jacob a empurrou com tamanha força que Léa foi parar ao chão. Ela sentia fúria e ódio se
misturarem a sua humilhação perante as duas criadas que a observava com naturalidade.
– Amanhã você partirá.
– Não vou sair daqui. Sou a senhora desse lugar!
– Você nunca foi nada neste lugar. – Jacob disse com escárnio parando e se agachando
onde ela estava jogada. – Volte para as terras de seu marido. Já perdeu seu filho, mas quem sabe
você ainda não pode ser a senhora de lá porque aqui você nunca passou de uma ninguém que
decidiu fugir com o primeiro que pudesse lhe tirar da Escócia.
Jacob cuspiu na face de Léa com nojo e ficou de pé arrumando suas vestes.
– Mande alguém tirar esse animal daqui. – Resmungou passando por ela e fechando a porta
atrás de si.
Léa mordeu o lábio com força sentindo o gosto de sangue em sua boca. Ela até poderia ir
embora, mas ele teria o que merecia.
Meu querido Bram, se sua mãe tem medo de escuro terei que ser a luz dela.
Capítulo XX
A propriedade dos Craig's havia acordado com grande agitação causada pelas inúmeras
pessoas que circulavam pela mesma. Os netos do conde foram os primeiros a acordaram e
consequentemente acordaram Richard para a habitual brincadeira no jardim, era nítido para todos
o quanto as crianças da família amavam o avô e aquilo simplesmente enchia o coração de Alycia.
– Só de pensar que hoje será nosso último dia com Walace... O pai de vocês passou maior
parte da noite planejando nossa ida a Inverness. – Alycia disse encostando o rosto no vidro da
janela.
– Ele não vai sossegar até vocês passaram alguns dias com Lilian e Walace em seu novo
lar. – Amanda falou sorrindo observando as cartas em sua mão. –Sua vez Miranda.
– Queria saber qual é o problema de vocês. – Alycia resmungou e suas filhas a olharam
confusas. – Nós as criamos, damos amor e eu as ensinei a manejar espadas. Então algum bastardo
vem e vocês simplesmente se vão. São umas ingratas! – Ralhou se voltando para as filhas.
Caminhou até a mesa e sentou-se na cadeira vazia entre Daiana e Amanda.
– Mamãe? – Miranda a chamou com o semblante preocupado. – Você está bem?
– Estou! – Afirmou. – Só estou um pouco preocupada com sua irmã.
– Tudo ficará bem. – Liliana a tranquilizou. – Lilian domará sir Allan com tanta astúcia que
um dia veremos aquele highlander correr atrás dela feito um bobo.
Todas sorriram cúmplices e logo em seguida Daiana colocou suas cartas sobre a mesa.
– Venci! – Disse sorrindo. – De novo!
– Mamãe! – Maira adentrou correndo e parou diante de Miranda. Ela estava suada e com a
respiração ofegante. – Papai está coberto de lama!
– Verei o que Robert está aprontando. – Miranda resmungou seguindo a filha para fora.
– Também quero jogar. – Alycia disse se acomodando ainda mais na cadeira.
A criada responsável pela propriedade se aproximou da condessa e se inclinou para
anunciar um novo visitante. Alycia sabia que muitos estranhavam o fato de não terem mordomo,
mas depois do último decidiu que não se arriscaria. Quando a mulher pronunciou o nome de quem
a esperava na sala, franziu o cenho estranhando.
– Eu já estou indo. – Ela falou ficando de pé. – Comecem sem mim.
Quando Alycia adentrou na sala o visitante fez uma pequena reverência.
– Vossa graça! – A comprimentou com cordialidade. – Não sei se está lembrada, mas sou
sir Niels Dudley. Faz algum tempo que eu e minha família fomos embora de Villat, mas ainda
conseguimos criar um vínculo com a família Craig.
– Claro que me recordo! – Alycia afirmou lhe entregando um pequeno sorriso. – Como vai
sua família? Saíram daqui tão depressa e nunca deram notícias.
– Estão todos bem, obrigado por perguntar. Tivemos que ir as pressas porque meu avô
havia falecido e tínhamos que administrar as terras que ele deixou e eu tive que ir para a guarda
real. – Disse com certo pesar. – Só agora tive a oportunidade de voltar e decidi lhes fazer uma
visita, espero não estar incomodando.
– Certamente que não! Vamos para o jardim, Richard está brincando com as crianças.
Niels sorriu abertamente enquanto acompanhava a condessa.
– É admirável a afeição que ele tem por crianças.
– Oh, você não imagina o quão fascinado ele é pelos netos.
Niels pigarreou assim que pararam no pátio e olhou ao seu redor buscando algo.
– E como vai suas filhas?
– Graças ao bom Deus, todas ótimas!
– E lady Lilian? Ela está? – Perguntou esperançoso.
– Lilian casou-se. – Respondeu com cautela se voltando para ele. – Partirá para Inverness
ainda hoje.
A condessa viu o homem à sua frente manear a cabeça parecendo surpreso. Ele respirou
fundo e encarou o chão tentando ordenar seus pensamentos.
Ele ainda não sabe sobre Walace... Alycia se lembrou.
– Muitas coisas aconteceram depois que partiram. Lilian teve que enfrentar muitas coisas
desde então.
– Cheguei tarde demais. – Ele lamentou ainda sem olhá-la. – Me disseram que ela tem um
filho, mas não me contaram nada sobre casamento. É realmente verdade que ela encontrou a
criança na floresta?
– Sim, e por isso mesmo ela teve que casar-se. – Alycia disse. –Richard! Temos visita!
O conde encarou sua esposa e logo reconheceu o homem ao seu lado. Caminhou até eles
com certa pressa e quando parou diante de Niels lhe estendeu a mão.
– Quem diria que voltaríamos a vê-lo! – Richard comentou. – Como seu pai está?
– Bem, obrigado.
– Com licença. – Alycia disse os deixando.
– Vejo que está diferente. – Richard disse.
– É o que todos dizem. Vossa graça, acabei de saber que lady Lilian se casou, posso saber
quem foi o felizardo?
– Allan O’Brien de Inverness, ele é o pai do meu neto. – Richard murmurou. – Creio que já
soube do filho de Lilian.
– Sim, primeiro me disseram que ela havia fugido e tido um filho. Claro que não acreditei
e acabei de confirmar com a condessa que ela o encontrou na floresta. Enfrentou a todos para ficar
com ele, essa atitude não me surpreende vindo de Lilian Craig. – Ele disse dando um pequeno
sorriso.
– Sei que não veio aqui para ver a mim ou minha esposa. Ela casou-se ontem e mesmo que
tivesse vindo antes tenho minhas dúvidas se conseguiria impedir isso. – O conde disse lembrando-
se do motivo pelo qual havia fixado em sua mente o rosto daquele cavalheiro, no passado ele
estava rondando uma de suas filhas. – A vida de Lilian agora se resume em proteger seu filho.
– Está me dizendo que ela se casou por causa do menino?
– Também, mas ela e Allan estão muito bem juntos. – Richard tratou de deixar claro.
Quando o conde se calou, Walace apareceu correndo em direção ao avô. O menino se
jogou nos braços dele e o envolveu em um abraço.
– Bobô!
– Você dormiu bem? – Richard perguntou beijando a face dele.
– Sim!
– Walace, este cavalheiro é sir Niels. Diga olá para ele.
– Olá sir.
– Olá Walace, como você está? – Niels perguntou sorrindo para o menino.
– Bem!
Quando Niels ouviu passos se voltou para onde Lilian adentrava. Ela parecia exatamente
igual desde a última vez que se viram. Seus olhos azuis se fixaram nele com surpresa e Niels
sentiu algo estranho em seu peito quando ela sorriu. Exatamente igual... E pensar que ele foi o
primeiro homem a beijá-la... Aquele pensamento encheu sua mente, mas foi interrompido pelo
homem alto e forte que apareceu seguindo Lilian. Allan o olhou imaginando quem seria um dos
conhecidos da família Craig, mas parou quando viu Lilian abraçar o homem com euforia.
– Ah, meu Deus eu não acredito! Niels! – Lilian desfez o abraço e o olhou atentamente. –
Você está ótimo!
– E você continua linda. – Ele disse sorrindo e voltou a abraçá-la diante dos olhos
semicerrados de Allan.
Não existiam formalidades entre eles?
O guerreiro se aproximou e com um puxão rápido na cintura de Lilian a afastou de Niels.
– Ele estava te apertando demais! – Allan disse entre os dentes. – Você poderia ficar
sufocada.
– Eu estou bem! – Ela afirmou tirando as mãos de Allan sobre si. – Como você está, Niels?
E sua família? Vocês não mandaram nenhuma notícia desde a última vez que nos vimos.
– Não tive a oportunidade. – Niels disse ainda sorrindo, mas quando se voltou para Allan
o sorriu murchou. – É um prazer conhecê-lo. Sou Niels Dudley, capitão da guarda real.
– Tornou-se capitão? – Lilian perguntou ainda mais surpresa.
– Acabei de assumir esse posto.
– Fico muito feliz por você, Niels. Era tudo o que queria. – Comentou recordando algumas
conversas que tiveram no passado.
– E eu sou Allan O’Brien. – O guerreiro proferiu com a voz rouca. – Esposo e pai do filho
de Lilian O’Brien. E um dos milordes do clã O’Brien. Sabe, eu sou conhecido como deste...
– Acredito que já conheça meu filho! – Lilian disse interrompendo Allan e estendendo as
mãos para Walace.
Ela estava o ignorando? E na frente de todos?
Allan trincou os dentes contrariado e encarou o rosto de sua esposa com desdém.
– Nosso filho. – Ele resmungou.
– Já fomos apresentados, tenho certeza que é uma criança amável até porque você quem o
criou. – Niels disse cordialmente.
– Obrigada!
– Levarei Walace para ver os primos. – Richard disse levando o neto para longe.
– Sua mãe contou-me que partirá para Inverness.
– Hoje mesmo, talvez mais cedo do que o planejado. – Allan se adiantou quando Lilian
abriu a boca. – Foi um prazer conhecê-lo e sei o quanto deve ter ocupações, então até algum dia
sir Niels.
Allan colocou o braço ao redor da cintura de Lilian novamente e ela o encarou cruzando os
braços.
– Não seja tão indelicado, Allan! – Ela murmurou entre os dentes. – Niels, se quiser fique
um pouco mais.
– Ele está ocupado!
– Allan! – Ela ralhou entre os dentes tentando disfarçar o constrangimento.
– Não se preocupe Lilian, seu marido tem razão. – Niels disse encarando Allan com
consideração. – Tenho pendências a resolver e você merece esse dia entre sua família. – Foi
muito bom revê-la.
Niels deu um passo à frente, mas Lilian o parou e voltou a abraçá-lo retirando novamente
as mãos de Allan sobre si. O highlander encarava os dois com os olhos sombrios e ele sentiu o
sangue subir para sua cabeça rápido demais.
– Nos veremos em alguns tropeços da vida. – Ela disse sorrindo.
– Assim espero. – Niels tocou os cabelos dela e encarou Allan novamente com um sorriso
presunçoso. – Até mais.
Lilian depositou um beijo na face dele e ele retribuiu da mesma forma.
– Adeus! – Allan rugiu diante da cena e viu o bastardo se afastar dando um aceno.
Assim que Niels estava fora de suas vistas, Lilian suspirou lembrando-se de como ele foi
uma pessoa importante para ela. Não só por ter sido com ele seu primeiro beijo, mas ser um dos
poucos a ouvir sobre seus sonhos utópicos.
– O que foi? – Ela indagou assim que notou o olhar de desagrado de Allan.
– Você e esse Niels se conhecem a muito tempo? – Perguntou com clara irritação na voz. –
Pelo jeito que se cumprimentaram podia jurar que o conhece desde o dia em que nasceu.
Ele cruzou os braços de forma brusca e estalou o pescoço ainda a encarando.
– Se não o conhecesse o suficiente senhor O’Brien, poderia jurar que está com ciúmes. –
Ela disse sorrindo e lhe dando as costas.
– Não estou com ciúmes! – Afirmou a seguindo. – Só achei realmente desnecessário você
o cumprimentar daquela forma, o que as pessoas dirão? Nos casamos ontem e...
– Allan, fazia algum tempo que eu não o via e ainda queria saber o motivo da mudança
rápida dele com sua família, mas você não deixou. Niels foi alguém importante para mim.
Allan parou de andar por um momento e franziu o cenho diante das infinitas possibilidades
por trás daquele importante para mim.
– Lilian, por acaso você e esse Niels... – Ele pigarreou. – Quais as possibilidades de
vocês já terem tido algum envolvimento afetivo?
– Porque acha isso? – Ela perguntou se voltando para ele.
– Porque você suspirou quando ele saiu. Suspirou Lilian! E você estava ao lado do seu
marido! E ainda o abraçou como velhos amigos, e sem falar na felicitação por ele ter se tornado
capitão da guarda real. Ah, e aquele olhar que ele deu quando vocês se abraçaram pela última
vez... – Allan disse fechando a mão em punho na altura do rosto. – Eu deveria ter ao menos o
enfrentado por tamanha ousadia.
– De que olhar está falando? – Lilian tentou soar séria, mas não conseguia reprimir o
sorriso.
– Ele me olhou como se dissesse “já beijei sua esposa”. – Disse com indignação. – E
ainda ousou tocar seus cabelos.
Allan levantou a mão para tocar os fios negros dela, mas sentiu o tapa em sua palma.
– Allan, quero que fique claro uma coisa: eu e Niels seremos amigos pra sempre. E
quando eu digo pra sempre estou querendo dizer que mesmo que passemos anos sem nos ver
quando nos reencontrarmos vamos nos abraçar e será como se nunca estivéssemos longe.
– Bastante reconfortante! – Allan disse aumentando o tom de voz exasperado e encarou sua
mão. – Sou seu marido, Lilian. Posso tocar seu cabelo.
– Em meu cabelo toca quem eu permitir. – Ralhou lhe dando as costas novamente. – E se
quer saber... – Ela engoliu em seco. – Você tem razão: Niels já me beijou.
– O QUÊ? – Ele soltou um grunhido com raiva e segurou o braço de Lilian a fazendo se
virar. – Agora preferiria que não tivesse me contado, todas as vezes que eu o encontrar, e espero
que não seja nunca mais, vou me lembrar que ele já te beijou e isso...
– Isso te faz sentir o que, highlander? Ciúmes?
– Você é minha esposa, Lilian. É normal que eu me preocupe com a nossa reputação de
casados.
– Bom, já que não é ciúmes acho que você não se importaria se eu e Niels...
– Não ouse terminar essa frase! – Berrou mostrando ainda mais irritação. – Se despeça de
sua família, partiremos para Inverness depois do meio dia.
– Mas só iriamos no final da tarde.
– Mudanças de planos! – Murmurou a soltando e começou a andar na direção oposta.
– Bufão! – Lilian urrou para que ele escutasse, mas Allan a ignorou por completo.
Quando havia acordado naquela manhã ele não estava na cama, e quando terminou de se
arrumar juntamente com Walace não havia o encontrado em parte alguma. Só depois de
terminaram o desjejum ele apareceu para levá-la pra casa e durante todo o caminho permaneceu
calado.
Seja lá o que estivesse acontecendo ele não havia lhe contado e ela imaginou se seria falta
de confiança da parte dele. Tinha de admitir que Allan havia sido gentil na noite anterior e ainda
teve o episódio da madrugada. Mas tinha que lembrar-se de que Allan era um highlander
orgulhoso que não demonstrava em público nenhum tipo de afeição, a não ser quando estava com
Walace.
Mas porque havia o provocado? O silêncio incômodo enquanto ele a trazia havia
despertado inquietação nela e as lembranças de como ele havia a confortado na noite anterior
eram bastante nítidas. Ela queria provar pra si mesma que da parte dele poderia existir
sentimentos, mas ele mostrou que ainda permanecia o destemido de sempre.
Meu querido e amado Bram, quando se perde um guerreiro é quase o mesmo que
perder um braço, porque além da dor do momento você sentirá falta em todos os momentos.
Apenas queria poupar sua mãe, mas aquela cabeça dura fez com que a dor e a irritação se
misturassem. Uma mistura perigosa para um O’Brien.
Capítulo XXI
Allan e os guerreiros já estavam prontos apenas aguardando Lilian e Walace para partirem.
Lilian iria a cavalo enquanto Walace e Brenda desfrutariam da carruagem. Lilian primeiro se
despediu dos sobrinhos para então se despedir dos cunhados e de suas irmãs. Assim que parou
diante da mãe, Alycia lhe abraçou fortemente.
– Faça uma boa viagem, querida. E lembre-se de nos mandar notícias. Eu amo você! – Ela
disse beijando a face da filha e olhando de soslaio para Richard que se apertava contra Walace.
– Tem certeza que já é a hora de irem? – O conde perguntou com expectativa.
Lilian não respondeu, mas abraçou o pai juntamente de Walace e beijou sua bochecha
mesmo sentindo a barba dele lhe espetar.
– Sentirei sua falta, de todos vocês. – Afirmou chorosa e voltou a descansar a cabeça no
peito do pai.
– Também sentirei a falta de vocês e assim que puder irei visitá-los. –Richard disse
beijando a face da filha. – Seu marido já está avisado de que o matarei caso você e meu neto
voltem com um fio de cabelo fora do lugar.
Ela sorriu cúmplice e segurou Walace nos braços.
– Nós amamos vocês. – Alycia declarou se aconchegando junto ao marido e acenando para
Lilian.
Walace ser juntou a Brenda dentro da carruagem e Lilian rumou em direção ao seu cavalo.
O montou com astúcia e encarou Allan que ainda parecia distante.
– Vamos! – Ele ordenou com a voz rouca e o semblante preocupado.
Os cavalos iniciaram o trote e Lilian sentiu seu coração apertar à medida que se afastavam
da propriedade dos Craig. Allan sempre se mantinha à frente de todos com o maxilar cerrado e
Lilian notou que não só ele, mas todos os guerreiros pareciam concentrados demais e ela achou
aquilo muito estranho. Eles sequer estavam conversando entre si e o silêncio crucial tomou conta
de todos.
Lilian sentia-se desconfortável e frustrada por não saber o que estava acontecendo.
Aproximou seu cavalo de Fergus que parecia abatido e o encarou enquanto seu cavalo permanecia
trotando de acordo com o ritmo dos outros.
– Fergus, o que está acontecendo? – Ela perguntou com a voz trêmula. – Todos estão
abatidos. Aconteceu alguma coisa que eu não esteja sabendo?
Fergus encarou as costas de seu milorde que permanecia na liderança e depois voltou seu
olhar para Lilian.
– Um mensageiro vindo de Inverness chegou nesta madrugada e as notícias não foram nada
boas. – Fergus fez uma careta e Lilian imaginou o quão grave seria a notícia.
– E o que houve?
– O líder de nosso clã está ferido. Duncan O’Brien, o irmão de sir Allan, está à beira da
morte e só um milagre poderá salvá-lo.
Lilian respirou fundo e observou o quão rígido Allan estava em cima do cavalo. Por isso
tiveram que partir mais cedo, ao menos ele tinha dado algum tempo para Lilian e Walace se
despedirem. Se fosse ela e uma de suas irmãs estivesse ferida largaria tudo e iria o mais rápido
possível, mas ele a esperou e lhe deu a chance de passar um tempo com sua família.
– Como isso aconteceu? E os guerreiros do clã e tudo mais?
– Ele estava cavalgando com seu filho mais velho. Ragnar tem apenas sete anos, mas já
começou a ser treinado. Kiara, a esposa do milorde que ainda está se recuperando do parto de
poucos dias é filha de um inglês. – Fergus baixou o tom de voz para pronunciar as últimas
palavras.
– Então ela é inglesa? – Lilian ficou boquiaberta. – Mas ele é o líder de um clã escocês,
como casou-se com uma inglesa?
– Duncan estava em terras inglesas os espionando quando ajudou a lady Kiara. Ela estava
sofrendo uma tentativa de sequestro e os dois se apaixonaram, mas o pai dela, como esperado, não
aceitou a união deles. Quando descobriu que Duncan era escocês decidiu casá-la com outro, um
miserável inglês. Mas dessa vez quem não aceitou foi meu milorde e um dia antes do casamento
forçado a raptou e a trouxe para a Escócia. Mesmo já casados e com dois filhos o pai dela, vez ou
outra, trama contra Duncan e parece que dessa vez foi certeiro. Por isso estamos indo mais cedo,
se nosso milorde morrer... – Fergus pigarreou. – Perder um guerreiro é quase o mesmo que perder
um braço, porque além da dor do momento você sentirá falta em todos os momentos. É isso que sir
Allan diz. –Fergus fez uma expressão de dor e encarou o céu acima dele. – Sir Allan quer ter ao
menos a chance de vê-lo com vida. Nem que seja pela última vez.
– Allan não me contou sobre o mensageiro e ainda ficamos toda a manhã em Villat, e se...
E se não chegarmos a tempo?
– Chegaremos! – Fergus praticamente rugiu e depois maneou a cabeça arrependido por ter
elevado o tom de voz. – Não vamos parar durante a noite, seguiremos viagem mesmo que chova
pedra.
Lilian incitou ainda mais o trote do cavalo e parou assim que ficou lado a lado de Allan.
Ela engoliu em seco sem saber as palavras certas para confortá-lo, mas o encarou com certo
pesar.
– Eu sinto muito. – Murmurou vendo o quanto a expressão dele estava neutra, não
expressava absolutamente nada. Ele permaneceu calado. – Podemos conversar? Fergus me contou
o que houve e eu...
– Não quero conversar. Não agora, Lilian. – Ele soou triste. Aquilo fez com que ela senti-
se um pesar dentro de si, percebeu que não gostava quando ele se sentia assim.
– Sei que estar sofrendo, por isso não vou insistir. Mas estarei aqui se quiser conversar. –
Ela disse estendendo a mão e colocando sobre a dele que apertava as rédeas com tanta força que
os nós de seus dedos estavam brancos.
Allan a olhou rapidamente e assentiu ainda sem mudar sua expressão.
– Vamos dá uma rápida parada apenas para você, Brenda e Walace descansarem. Depois
retomaremos.
– Não precisamos parar! – Lilian se apressou.
– Vocês precisam se alimentar. – Ele disse selando os lábios, um sinal claro de que aquela
conversa não iria muito longe.
Lilian assentiu e continuou no mesmo ritmo dele. Seguiram assim até o final do dia.
Quando o sol se pôs a enorme lua cheia apareceu para iluminar o caminho e Lilian agradeceu a
Deus por isso. Allan deu o sinal para que parassem e os guerreiros começaram a descer do lombo
dos cavalos. Acenderam o fogo e outro que era responsável pela comida começou a cozinhar o
guisado.
Lilian aproveitou para ver Walace e quando constatou que ele brincava com as duas damas
de companhia de Brenda, decidiu procurar Allan. Por trás de algumas árvores o highlander estava
sentado com a cabeça enterrada nas mãos. Ela se aproximou devagar e se ajoelhou a sua frente
para ficarem da mesma altura e acariciou os cabelos dele da mesma forma que ele havia feito com
ela na noite anterior.
– Tenha só um pouco de fé, Allan. Tudo ficará bem. Seu irmão vai sobreviver.
Allan levantou a cabeça e assim que o olhar de ambos se encontraram, ele desabou no
choro. Ele simplesmente deixou que as lágrimas banhassem seu rosto e Lilian o abraçou para
confortá-lo. Ela sentiu seu ombro ficar encharcado e continuou a afagar os fios negros dele. O
ouviu chorar por um longo momento e quando ele se afastou a encarou com intensidade.
– Ele não pode morrer, Lilian. Simplesmente não pode!
– E não vai. Tudo vai ficar bem, você verá. – Lilian disse voltando a abraçá-lo enquanto o
choro cessava.
– Por isso não queria conversar, se tivesse o feito desabaria ali mesmo na frente de todos.
– Não é problema nenhum chorar na frente dos outros, Allan.
– Não posso demonstrar fraqueza. – Disse com pesar. – Meu pai nos deu uma educação
rígida. Nunca tivemos a permissão de ao menos sorrir na frente dos outros, ele julgava que um
líder que agia com o coração seria um fraco e acabaríamos por perder nossas terras.
– Não conheci seu pai, mas devo dizer que ele não sabe nada sobre o coração. Demonstrar
sentimentos na frente dos outros não é admitir ser fraco. Apenas mostra que você tem um coração
e que também é humano. Mas eu já vi você sorrindo e devo dizer que é um dos sorrisos mais
bonitos que eu já vi. – Ela disse lhe entregando um sorriso terno.
– Duncan costumava ser um carrasco. Nada de demonstrações em público, mas aí ele
conheceu Kiara e seu mundo pareceu ficar de ponta cabeça.
– E aconteceu com você quando conheceu sua primeira esposa. – Lilian disse contrariada.
– Se engana. Teve amor da minha parte, mas não foi assim com ela. Eu permanecia o
mesmo de sempre, duro feito pedra, mas meu pequeno Walace nasceu. Então foi a vez do meu
mundo ficar de ponta cabeça. Lembro-me de quando meu pai morreu e Duncan teve que assumir o
clã, como ele era o mais velho se tornou nosso líder e fez tudo ao contrário do que nosso pai
instruiu. Ele é um bom homem, Lilian. Não merece morrer dessa forma, ele... Ele acabou de ser
pai novamente e ama Kiara de forma incondicional. Se alguma coisa acontecer com ele não sei se
ela aguenta, não sei se eu aguentarei... – E novamente Allan O’Brien chorou.
Lilian voltou a abraça-lo e esperou pacientemente até a respiração dele se tornar regular e
o choro cessar. Quando terminou, ele se afastou de Lilian, mas segurou seu rosto.
– Você foi a única pessoa que me viu chorar assim. – Ele disse com a voz rouca.
– Sinto-me honrada. – Ela disse com certa ironia. – Mas o que você acha de levantar-se e
irmos ver Walce. Tenho certeza de que ele vai fazê-lo se sentir melhor.
– De acordo. – Ele disse dando um beijo casto nos lábios dela. – Obrigado por estar ao
meu lado.
– Não precisa agradecer, mas peço que da próxima vez que algo tão sério assim acontecer
eu seja comunicada. Você simplesmente não falou nada até a hora que chegamos à casa de papai.
– Queria poupá-la e também estava atordoado. Então teve aquele Niels pra completar, não
estava com cabeça para nada.
– Maman! – Walace apareceu correndo enquanto uma das mulheres ia atrás dele.
– Pode deixá-lo. – Lilian a avisou. – Obrigada!
A mulher assentiu e se foi os deixando sozinho. Walace se aproximou rapidamente, mas
quando percebeu que Allan tinha chorado seus passos lentos tomaram conta dele.
– Você cholou? – Walace perguntou com a voz embargada.
– Só um pouquinho. – Allan respondeu esticando os braços para o menino. – Porque você
não vem aqui filho?
Walace se aproximou e sentou-se no colo do pai depositando dois beijos na face dele.
– Maman diz que dois beijos saram. – Ele disse com seriedade.
– Isso é verdade, já estou me sentindo melhor! – Allan afirmou o abraçando fortemente.
Lilian apertou a bochecha de Walace e respirou fundo. Esperava sinceramente que o irmão
de Allan sobrevivesse e que finalmente ele voltasse a sorrir, aquele sorriso amplo e aberto que só
de imaginar lhe enchia o coração. Ela parou de pensar por um instante para poder observar seu
marido e seu filho conversando, pareciam dois adultos e ela sorriu imaginando como seria quando
realmente Walace fosse um adulto.
Ela e Allan estariam juntos? Por algum motivo a dúvida a fez ficar ressentida. Ela queria
estar junto dele? Aquela era a pergunta que seu coração insistia em fazer, mas ainda não tinha
encontrado a resposta certa.
Meu querido Bram, creio que você e sua maman vieram para ser a calmaria do meu
mundo conturbado, e eu agradeço por isso.
Capítulo XXII
Lilian sentia suas costas doerem e respirou fundo lembrando a si mesma que aquela pressa
tinha motivo e que já estavam mais próximo de Inverness. Depois que amanheceu só pararam para
comerem, já estava anoitecendo, mas eles ainda não tinham parado para jantar. Lilian também
sabia que Walace estava entediado na carruagem, mas naquele momento não poderia fazer nada.
Antes ela estava sempre ao lado de Allan na frente de todos, mas o cansaço havia a vencido e
acabou ficando para trás.
Respirou fundo algumas vezes sentindo seus olhos pesarem e tinha que manter uma grande
concentração para não acabar caindo e sendo pisoteada pelos animais. Quando abriu a boca para
pedir para pararem a voz de Fergus ecoou entre os homens.
– Estamos chegando!
Ela suspirou com alívio e com mais alguns trotes pôde ver o enorme castelo se erguendo
além das montanhas mais baixas. Parecia uma fortaleza e por um momento Lilian ficou encantada
com a beleza daquele lugar. À medida que se aproximavam ela imaginava deitando-se em uma
cama macia e finalmente dormindo tranquilamente a noite inteira, mas ainda se lembrava do choro
de Allan e sabia que isso poderia voltar a acontecer depois que ele visse o irmão.
Assim que atravessaram os portões alguns criados se aproximaram para ajudá-los, Lilian
desceu do cavalo e logo foi na direção da carruagem. Brenda entregou Walace em seus braços e se
apressou para adentrar na propriedade em busca do irmão.
Allan respirou fundo diante da entrada e se voltou para trás, tinha que admitir que estava
com medo e por isso buscou os olhos de Lilian. Ele o chamou com um gesto de mão e viu como
ela andava com dificuldade com Walace nos braços, se aproximou e segurou seu filho que lutava
contra o sono.
– Está muito cansada? – Ele indagou a olhando de cima a baixo.
– Não muito. Vá ver seu irmão, Allan. – Disse estendendo os braços para segurar Walace,
mas Allan não deixou.
– Queria que viesse comigo. – A voz rouca dele adentrou em seus ouvidos de forma suave.
Lilian apenas assentiu e o acompanhou. No mesmo instante que adentraram no castelo
Lilian se surpreendeu quando uma senhora apareceu no topo da escada. Os olhos da mulher
marejaram e ela rapidamente desceu os degraus e abraçou Allan.
– Oh, meu Deus. Esse é o pequeno Bram? – A mulher perguntou com agitação e sorriu para
Lilian.
– Sim, Eulália. É meu filho. – Allan disse com orgulho. – E Duncan? E Kiara?
– Graças a Deus estão bem, seu irmão já está fora de perigo e até está falando. Passou a
noite inteira ardendo em febre, mas quando amanheceu deu sinais de melhora. Kiara também está
se recuperando bem e ela se recusou a ficar afastada dele, estão no mesmo aposento. – A mulher
disse com alívio. – O pequenino que nasceu é tão lindo. Você precisa conhecer seu sobrinho.
Allan deu um pequeno sorriso e olhou para sua esposa.
– Lilian essa é Eulalia, desde que minha mãe morreu ela cuidou não só de mim, mas de
Brenda e de Duncan. Eulalia essa é Lilian O’Brien, minha esposa e mãe de Walace.
– Quem é Walace? – Eulalia perguntou franzindo o cenho.
– Bram não é mais o nome dele. – Allan disse.
Eulalia abraçou Lilian com tanta força que ela jurou ouvir seus ossos estalando, a mulher a
segurou pelos ombros e a encarou profundamente.
– É um prazer conhecê-la, senhora. Tem todo nosso agradecimento por ter cuidado do
pequeno Bram. Allan nos contou muita coisa através de cartas. Bem-vinda ao clã O’Brien.
– Obrigada, e também é um prazer conhecê-la. – Lilian disse sorrindo.
– Eulalia, por favor, peça para que preparem algo para os guerreiros e lhes avisem sobre a
melhora de Duncan. Estávamos todos muito preocupados, eu levarei Walace para algum quarto e
verei meu irmão.
– Deixamos alguns quartos prontos para a sua chegada.
Allan assentiu e começou a subir as escadas sendo acompanhado por Lilian.
– É um lugar encantador e fico muito feliz que seu irmão esteja melhor. –Ela disse lhe
entregando um pequeno sorriso.
– Espere só para ver o nosso castelo. Tenho certeza que também vai gostar.
Allan colocou Walace na cama, que protestou assim que saiu dos braços do pai e Lilian
teve que lhe acalmar prometendo voltar logo. Quando voltaram para o corredor Allan segurou sua
mão e caminharam até o quarto principal. A porta estava entreaberta e Lilian viu o casal abatido
sobre a cama, a mulher estava sentada com as costas encostada na cabeceira enquanto o homem
enorme que tinha traços de Allan estava deitado sonolento.
O highlander se aproximou da cama do irmão soltando a mão de Lilian. Uma sensação de
vazio percorreu seu corpo e ela olhou para a mão que antes estava entrelaçada com a de Allan.
Aquilo lhe pareceu estranho e quando se voltou para o leito percebeu que a esposa de seu cunhado
sorria.
– Você deve ser Lilian. – Kiara disse com a voz fraca enquanto Allan e Duncan trocavam
algumas palavras. – Se aproxime, por favor.
Lilian se aproximou e lançou um olhar para Allan que sorria segurando a mão de irmão,
eles falavam tão baixo que ela se perguntou se aquilo seria mesmo possível.
– Obrigada por cuidar de Bram e fico feliz que ele tenha encontrado alguém que realmente
o amasse.
– Não precisa agradecer, eu também amo meu filho incondicionalmente.
– Não estou falando do menino. – Kiara disso. – Estava falando de Allan.
Os irmãos O’Brien às olharam com curiosidade e Allan encarou Lilian por um momento,
ela simplesmente não soube o que dizer, mas desviou o olhar de seu marido ao ouvir o pequeno
choro.
– Parece que ele está novamente com fome. – A voz arrastada de Duncan ecoou com
dificuldade.
Kiara fez menção de levantar-se, mas Lilian se adiantou.
– Eu pego.
Lilian se aproximou do pequeno berço e observou a pequena figura se mexer
cautelosamente. Na verdade, ela não sabia como segurá-lo de maneira adequada. Quando
encontrou Walace ele tinha quase um ano e não era mais um ser tão pequenino como aquele e
quando Lilian segurou o bebê em seus braços temeu derrubá-lo.
– Ele é tão pequeno. – Comentou andando devagar fazendo o caminho de volta para a
cama, o entregou a Kiara e percebeu a agilidade que ela tinha.
– Não sabe como fiquei insegura quando dei à luz a Ragnar, mas meus instintos
simplesmente me disseram o que fazer, também saberá quando der à luz a um filho.
Dar à luz a um filho?
Por um momento isso pareceu intrigante para Lilian. Não tinha carregado Walace em seu
ventre e muito menos sentido as dores do parto ou o amamentado e ela não sabia se algum dia
passaria por essas experiências, mas sorriu só de imaginar um ser tão pequeno sendo gerado por
ela. Lilian deixou os irmãos conversando e saiu do quarto para deixá-los mais à vontade, quando
voltou para o cômodo onde Walace estava encontrou Eulália tentando fazer o menino dormir, mas
todas as tentativas foram frustradas.
Quando a senhora saiu do cômodo Lilian buscou sua camisola dentro do único baú que os
guerreiros tinham colocado ali em cima. Depois de trocar de roupa voltou para junto do filho e
deitou-se ao seu lado. Rapidamente sentiu os olhos pesarem e quando Walace começou a mexer
em seus cabelos se viu caindo em um sono profundo.
Algum tempo depois ela acordou com um barulho e sentou-se na cama assustada. As velas
ainda estavam acesas e ela ouviu Allan praguejar enquanto balança a mão.
– Me desculpe, eu acordei você. – Ele disse se abaixando e segurando o caco de vidro. –
Vou jogar isso fora.
– Sua mão está sangrando. – Lilian murmurou ficando de pé e se aproximando. – Deixe-me
ver isso.
Ela segurou a enorme mão do guerreiro e suspirou.
– Não foi muito fundo. – Allan disse. – Volte a dormir, você deve estar muito cansada.
– Não tanto quanto você. Quase não se alimentou durante a viagem e até agora não o vi
comendo nada.
– Eu jantei, acabei de fazer isso pra falar a verdade. Como veria se estava dormindo? –
Indagou com um sorriso presunçoso no rosto.
– Engraçadinho. – Lilian respirou fundo quando ficaram em silêncio e Allan sorriu ainda
mais.
– Vou te mostrar uma coisa. – Ele disse segurando a mão dela com a mão que não estava
machucada e saíram para o corredor.
Allan a conduziu para outras escadas e eles subiram em meio ao escuro, ele percebeu
quando ela tremeu ao notar a escuridão e passou o braço por sua cintura tomando cuidado para
não a machucar. Quando terminaram de subir os degraus, Lilian agradeceu pela enorme lua que se
erguia sobre suas cabeças. Estavam na sentinela do castelo.
Não era possível ver muita coisa a noite, mas ela viu algumas tochas que se erguiam pelo
vilarejo e se estendia de um lado do castelo. A lua ainda iluminava os topos das enormes
montanhas e o vento gélido percorreu sua pele, mas ela não se importou. Iria amar ver aquela
paisagem durante o dia, quando pudesse ver claramente todos os aspectos daquele lugar. Allan se
livrou do vidro e respirou fundo ao sentir que estava em casa.
– Eu passava horas aqui, principalmente depois que meus pais morreram. Eu, Duncan e
Brenda chegamos até mesmo a dormir sob as estrelas as contando só para esquecermos que lá
dentro não teria ninguém para nos abraçar antes de dormir. Meu pai era duro, mas quando
estávamos apenas nós cinco éramos uma família feliz.
– Quantos anos tinha quando ele morreu?
– Doze, Duncan tinha quinze. Logo depois minha mãe morreu. Duncan teve que intensificar
os treinos, ele teria que assumir o clã mais cedo do que o imaginado.
– Seu sinto muito. – Lilian disse passando as mãos pelos ombros por conta do frio.
Allan a abraçou pelas costas para esquentar sua pele e percebeu o quanto ela ficou tensa.
Propositalmente, ele beijou sua nuca e encostou seus lábios na orelha dela.
– Você é linda. – Sussurrou com a voz rouca.
Ele não só sentiu a tensão que tomou conta do corpo dela, mas também o modo como ela
segurou sua mão. Ele não sabia quando, mas algo tinha mudado entre eles, não eram mais dois
desconhecidos que queriam ficar com Walace e garantir seu bem-estar. Haviam se conhecido no
curto espaço de tempo que haviam convivido, Allan diria que foi o mês mais agitado de sua vida,
mas eles não tinham trocado muitas confidências sobre suas respectivas famílias ou sentimentos.
Eles haviam se conhecido apenas por gestos e Allan julgava que atitudes eram melhores
que palavras.
– Está muito frio aqui, acho melhor entrar. – Lilian se desvencilhou dele e saiu sem o olhar,
antes que ela chegasse nos degraus sentiu o pé descalço se desequilibrar e ela cair sentada perto
da escada. Ela ficou frente a frente com a escuridão e aquilo lhe amedrontou.
Allan se aproximou rapidamente e ao invés de ajudá-la a levantar, sentou-se ao seu lado.
– As vezes me pergunto como uma mulher como você tem medo do escuro. – Ele disse
melancolicamente e a puxou pelos ombros para junto de si.
Lilian repousou sua cabeça sobre o peito dele e suspirou.
– Eu também não sei, simplesmente tenho pavor.
Ele beijou a testa dela e inclinou sua cabeça a encarando. Beijou os lábios dela com
delicadeza e viu o quanto ela pareceu se acalmar.
– Olhe para cima, Lilian.
Quando ela o fez viu a enorme quantidade de estrelas, não tinha reparado muito nisso,
estava ocupada demais apenas observando a lua e as coisas à sua frente. Allan deitou-se e a
levando consigo e a acomodando em seu peito ainda observando as estrelas.
Ela estaria fazendo a mesma coisa com sua vida? Olhando demais para os lados e nunca
para frente?
Allan estava do seu lado da forma mais carinhosa possível e seu coração simplesmente
não sabia que rumo tomar, poderia muito bem entrar e pedir para que ele se afastasse, mas ela não
queria isso. Sentia-se segura nos braços. Lilian passou um de seus braços pela cintura dele e
apoiou sua cabeça em sua mão para encará-lo.
– É um lugar magnífico. – Ela disse sorrindo.
– Sabia que iria gostar. – Allan bocejou e fechou os olhos por um instante. – Estou tão
aliviado que não me importaria em ter que passar a noite em claro.
– Mas você merece descansar, andamos tanto que eu simplesmente não sei como conseguiu
ficar tanto tempo em cima do cavalo. – Lilian voltou a se deitar sobre o peito de Allan e suspirou.
– Acho melhor entrarmos. – Ele comentou sentando-se, mas as mãos de Lilian o impediram
de levantar-se.
– Antes de ir preciso lhe dizer uma coisa. – Disse com a voz trêmula. –Allan, você é lindo
e sinceramente estou me afeiçoando a você. – Falou sem rodeios o deixando sem falas.
Allan a olhou com cautela e logo depois sorriu. Sem pestanejar ele se aproximou ainda
mais e a beijou com paixão. Até aquele momento o mais próximos que estiveram foi quando
dormiram ao lado de Walace.
– Pois devo confessar, lady Lilian... – Ele começou com a voz rouca. – Que eu já estou
afeiçoado a muito tempo.
Ele voltou a beijá-la para então Eulália aparecer no topo da escada ruborizada para avisar
que Walace estava os procurando.
Meu querido Walace, se sua maman continuar apenas olhando para frente eu a farei
olhar para cima e ver as estrelas que estão iluminando seu caminho.
Capítulo XXIII
Lilian estava tão cansada que quando acordou descobriu que todos já haviam desfrutado do
desjejum e Allan tinha saído com Walace. Eles tinham dormido na mesma cama, mas com Walace
entre eles choramingando por tê-lo deixado sozinho e quando ele finalmente voltou a cair no sono
todos já estavam mais do que exaustos. Depois que Eulália a deixou a par da situação, ela voltou e
permaneceu na cama encarando o teto pensando nos acontecimentos passados. Tinha que admitir
que seus sentimentos em relação a Allan não eram superficiais, mas era algo ao qual ela
desconhecia e por isso estava temerosa. Não queria ter o coração quebrado.
Suspirou imaginando o que faria já que seu marido e filho não estavam e simplesmente não
sabia onde Brenda havia se entocado. Ficou de pé e saiu para o corredor a procura de algo para
fazer, desceu as escadas rapidamente e quando chegou à sala encontrou Eulália.
– Deseja alguma coisa, senhora? – A mulher perguntou sorrindo.
– Não exatamente, se Allan chegar antes que eu volte poderia avisá-lo que fui caminhar
pelo vilarejo?
– Mas é claro, com quem a senhora vai? – Eulalia perguntou. – Já que a senhora não
conhece nossas terras poderia se perder.
Lilian sorriu com cumplicidade para a mais velha.
– Não se preocupe, voltarei bem. Ontem deu para ver em qual direção o vilarejo fica,
voltarei logo. – Afirmou dando as costas para a mulher e caminhando na direção da saída.
Os raios de sol bateram em seu rosto e Lilian sorriu, procurou por seu cavalo em meio aos
dos guerreiros e como não o encontrou procurou por Fergus. O highlander estava sentado em uma
das grandes rochas, ele parecia cabisbaixo e Lilian se aproximou preocupada.
– Aconteceu alguma coisa, Fergus? – Lilian perguntou parando diante dele. Ele a encarou
com os olhos pesando e Lilian logo percebeu que ele não estava bem. – Fergus! – Ela se
aproximou ainda mais e tocou seu ombro. – Você está bem?
– Bebeu a noite inteira, senhora. – Um dos guerreiros disse. – Depois que recebemos a
notícia de que nosso milorde estava bem, Fergus se afundou na bebida.
Lilian apenas assentiu e segurou o rosto do highlander.
– Fergus?
– Vitória? – A voz grogue e arrastada dele fez com que Lilian franzisse o cenho.
– Eu não sou a Vitória. – Respondeu lembrando-se da troca de olhares entre eles no dia de
seu casamento. – Poderia levá-lo para dentro?
– Claro, senhora. – O guerreiro disse se aproximando e apoiando Fergus colocando um dos
braços dele sobre seus ombros.
Lilian esperou que eles estivessem dentro do castelo para então voltar a procurar por
Duque, foi quando ouviu o relinchar do cavalo chamando sua atenção. Ela sorriu ao ver que era
ele.
– Finalmente o encontrei, cuidaram bem de você? – Ela indagou alisando o focinho dele.
Montando no lombo do cavalo, Lilian incitou seu trote. O vilarejo ficava a uma pequena
distância do castelo e não seria difícil encontrá-la já que era notável o fluxo das pessoas entre o
vilarejo e o castelo. À medida que se aproximava Lilian podia ouvir as conversas paralelas entre
eles. As pequenas casas se misturavam com alguns comerciantes. Lilian desceu do cavalo
encantada com a forma que os acontecimentos se desenrolaram entre eles e amarrou duque perto
de uma taberna.
Se aproximou dos comerciantes e começou a observar as mercadorias. Depois de um
tempo às deixou de lado e caminhou em meio a pequena multidão.
Ao longe ela podia ver algumas lavadeiras no rio e as crianças correndo de um lado para o
outro. Caminhou até próximo delas e sentou-se perto do rio para lavar o rosto, encarou seu
próprio reflexo na água e sorriu para si mesma lembrando-se de que estava feliz. Bom, tinha que
admitir que seu casamento tinha tomado um rumo melhor do que ela esperava e ainda tinha Walace
que parecia estar desfrutando a presença do pai da melhor forma possível.
Tudo estava bem.
Quando Lilian ficou de pé um grito agudo e desesperado chegou a seus ouvidos, as
mulheres que antes levavam correram na direção das crianças e logo em seguida na direção do
poço. A mulher que estava pendurada gritava enquanto chorava para dentro do poço.
– A criança caiu! Alguém nos ajude! – A mulher gritou na direção dos comerciantes.
Absolutamente ninguém se mexeu. Os comerciantes se aglomeraram, mas ficaram a
observar de uma certa distância. Aquilo indignou Lilian, com passos rápidos ela se aproximou
furiosa.
– A criança caiu no poço, façam alguma coisa para ajudá-la! – Lilian gritou.
– A criança e a mãe não passam de dois sassenach. Dois ingleses que não merecem nossa
ajuda! – Um dos homens falou cuspindo no chão sendo acompanhado dos murmúrios dos outros
que o apoiavam.
– Devo lembrar-lhes que a senhora desse clã também é uma inglesa. –Lilian disse ainda
mais ríspida. – A criança e a mulher não têm culpa de nada.
O homem franziu o cenho a observando da cabeça aos pés e depois fez uma careta.
– E quem você pensa que é para falar conosco dessa forma? – Perguntou dando um passo
na direção dela.
– Sou Lilian Craig O’Brien, esposa de Allan O’Brien. – Disse levantando o queixo e o
encarando. – E eu exijo que você ajude a criança.
A mulher na beira do poço continuava a chorar compulsivamente enquanto falava algumas
palavras para o filho.
– Esposa do milorde? O mais engraçado é que ninguém ficou sabendo desse casamento. –
O homem disse com escárnio. – Se quer que o sassenach saia do poço o tire você!
Lilian bufou com fúria enquanto o bastardo lhe dava as costas e se afastava sendo seguido
pelos outros. Ela se voltou para as mulheres e se aproximou com passos vacilantes, precisava
fazer alguma coisa. Ficar sentada esperando que alguém viesse para salvá-lo seria a mesma coisa
que declarar a morte da criança.
– Preciso de uma corda grande! – Ela disse para uma das mulheres que parecia mais
calma.
– Minha filha já foi buscar. – A mulher respondeu.
Lilian abriu caminho até o poço e olhou para a escuridão, um tremor percorreu seu corpo.
Conhecia o desespero que aquela mãe estava passando e sabia que ajuda era sempre bem-vinda
nessas horas.
– Como é o nome dele? – Lilian perguntou.
– Caleb. – Alguém respondeu.
– Caleb! Consegue me ouvir? – Ela gritou para o eco.
– Sim. – A voz trêmula do menino lhe atingiu com temor.
– Ele sabe nadar?
– Sabe, mas não tem tanta habilidade. – A mãe de Caleb respondeu entre lágrimas.
– Caleb, preciso que me escute. Vou descer para pegá-lo, mas enquanto isso preciso que se
mantenha firme. Está me ouvindo?
– Sim. – Ele repetiu monotonamente.
Quando a corda chegou às mãos de Lilian ela enrolou uma das pontas em sua cintura e
entregou a outra nas mãos da mulher mais próxima a ela.
– Preciso que todas vocês ajudem a puxar a corda quando eu mandar um sinal, colocarei
Caleb para subir primeiro e logo em seguida serei eu.
As mulheres assentiram e Lilian sentou-se sobre o poço. Respirou fundo algumas vezes e
depois de verificar que a corda estava bem amarrada, pulou. A água gelada percorreu sua pele a
fazendo afundar por um momento, quando voltou a superfície começou a tossir para expulsar a
água que tinha engolido e procurou o menino em meio a escuridão.
– Caleb! – Ela o chamou tirando o cabelo molhado do rosto.
– Estou aqui. – Ele disse estendendo o braço para tocá-la, ela se aproximou devagar e
encostou-se junto ao menino.
– Já vou lhe tirar daqui.
Desamarrou a corda de sua cintura com certa dificuldade pela ausência de luz e tateou até
chegar à cintura do menino. Amarrou a ponta dando vários nós para garantir que ele não cairia e
depois olhou para cima de onde poderia ver alguns rostos e alguma luz.
– PUXEM!
Caleb começou a ser puxado lentamente, Lilian podia ouvir os dentes dele baterem de frio
e sentiu-se aliviada por ele já está a salvo. Quando ele foi totalmente puxado ouviu os gritos de
animação das mulheres por receberem o menino de volta. Pouco tempo depois a corda voltou para
junto dela e ela repetiu o ato a atando em sua cintura.
– PUXEM! – Ela gritou novamente.
Foi a vez dos dentes dela baterem e para completar o escuro ainda lhe assombrava.
Percebeu a corda sendo puxada, mas ela simplesmente não se moveu.
– Está nos ouvindo?
– Sim! – Lilian respondeu de volta.
– É muito pesado para nós. – Uma das mulheres respondeu e Lilian fechou os olhos com
força buscando uma solução.
Ela não julgava ser muito pesada, mas seu vestido... A água o fez ter um peso maior.
Precisaria tirá-lo se quisesse ser salva. Mas como faria aquilo? Respirou fundo constatando que
não teria outra solução. Desatou a corda e começou a tirar o vestido, ela teve que mergulhar para
poder tirá-lo por sua cabeça e afastou as vestes para longe de si. Não poderia tirar as roupas de
baixo e teriam que retirá-la dali com ou sem vestido.
– Tentem novamente! – Ela gritou refazendo os nós da corda.
As mulheres a puxaram e Lilian logo percebeu que estava sendo levantada, suspirou com
alívio enquanto seu corpo caminhava na direção da luz e quando finalmente chegou à borda do
poço, pôde ver a preocupação nos rostos a sua volta.
– Você está bem? – A mãe de Caleb lhe perguntou.
– Sim. – Lilian disse tossindo e se encostando sentindo o vento agora gélido e cortante.
Quando ela levantou os olhos viu alguém abrir caminho entre as mulheres e Allan apareceu com a
expressão fechada.
Ele se aproximou passando os olhos pela ausência de vestes para então tirar a manta de
seus ombros e colocar sobre ela. A cobriu com rapidez e passou um de seus braços pelos ombros
dela e a conduziu para longe da pequena aglomeração.
– Você está bem? – Ele perguntou com a voz rouca próximo ao ouvido dela.
– Sim. – Repetiu com a voz trêmula sentindo muito frio.
Com agilidade ele a colocou em cima do cavalo e montou com a mesma astúcia. Incitou o
trote de seu cavalo o mais rápido possível e enquanto seguiam para o castelo Lilian sentiu que ele
bufava contrariado. Estava furioso? Se sim, não sabia o motivo e naquele momento Lilian decidiu
apenas preocupar-se em se aquecer e se manter bem até chegarem no castelo.
– Ela precisa de um banho com água quente. Eulalia, por favor, preparem algo forte para
ela. – Allan disse assim que adentraram no castelo e passou um de seus braços pelas pernas de
sua esposa a segurando como um bebê.
Subiu as escadas rapidamente e só quando entraram no quarto ele a soltou. Allan se
mantinha nervoso e inquieto enquanto esperavam as criadas.
– Precisam ir buscar Duque. – Ela disse e Allan assentiu. – Aconteceu alguma coisa com
seu irmão?
– Ele continua bem. – Respondeu rispidamente olhando pela janela e respirando fundo, se
virou para ela e quando se aproximou suas palavras saíram de forma rude. – O que tem na cabeça,
Lilian? Poderia ter morrido naquele poço ou até mesmo morrer com um grande resfriado. Deveria
ter pedido ajuda e não descer naquele lugar como uma louca!
– Ninguém queria ajudar, esse foi o problema. Se recusaram só porque o menino e a mãe
são ingleses, o que queria que eu fizesse?
– Se fosse sensata teria vindo ao castelo pedir algum guerreiro para ajudá-la! – Ele estava
com uma fúria anormal, seu cenho estava franzido e sua voz saia entre os dentes.
– Me lembrarei disso quando outra criança estiver correndo o risco de morrer e eu ter que
ficar parada apenas olhando!
Allan passou as mãos pelos cabelos em sinal de nervosismo e andou pelo quarto para
tentar se acalmar. As criadas adentraram com água quente para o banho de Lilian. Depois disso
uma delas permaneceu no quarto para ajudá-la.
– Poderia nos dá licença? – Lilian perguntou irritada.
– Eu ajudarei minha esposa. – Allan proferiu.
– Não preciso de sua ajuda. – Ela revidou. – Agora nos dê licença, Allan!
Ele a olhou de cima a baixo e depois para a criada.
– Saia! – Allan ordenou para a serva que assentiu e obedeceu.
Lilian o olhou desafiante se perguntando o motivo para toda aquela irritação. Allan
caminhou até a porta e a trancou com chave para então se voltar para ela.
– Agora somos só nós dois, Lilian. – Ele disse caminhando em sua direção com os olhos
de um predador.
Meu querido Walace, o que fazer quando sua maman me tira a paciência que não
tenho?
Capítulo XXIV
Allan parou diante de Lilian e retirou a manta de seus ombros.
– Qual era a necessidade de ficar sem o vestido? – Perguntou a encarando.
– Era pesado demais e elas não iriam conseguir me puxar de volta. Quero me banhar em
paz, Allan. Então, por favor...
– Sabe que foi tolice, não é? Se jogar no poço mesmo para salvar o menino?
– Não poderia simplesmente fazer nada, não diante de uma mãe que estava desesperada e
eu tenho certeza absoluta que faria a mesma coisa.
– Sim, eu faria, mas... – Allan a segurou pelos ombros fechando os olhos com força. – Eu
lhe disse que meus pais morreram, mas não disse como. Meu pai morreu em um de seus confrontos
e minha mãe... Ela estava no vilarejo ajudando algumas pessoas, estávamos sendo atacados e no
mesmo momento em que ela teve a certeza que eu, Duncan e Brenda estávamos bem correu para
ajudar nosso povo. – Lilian viu seu rosto se retorcer de dor e também tocou o ombro dele. –
Estávamos perdendo e ela precisava se esconder para não ser morta e se jogou no poço. Não tinha
lugar mais seguro naquelas circunstâncias, mas ninguém apareceu para tirá-la de lá porque meu
pai tinha morrido. Estávamos tão atordoados com a morte de meu pai que quando nos lembramos
de procurá-la era tarde demais.
– Eu sinto muito. – Lilian disse o abraçando. – Sinto muito mesmo, Allan.
– Sei que sente, mas não quero que volte a se arriscar desse jeito. – Ele disse a afastando e
voltando a segurá-la pelos ombros. – O poço onde minha mãe morreu foi abandonado, mas
tivemos que abrir outro. Se tivesse acontecido alguma com você como acha que Walace ficaria? E
sua família? E eu, Lilian? Como acha que eu ficaria?
As palavras dele não só encheram seus ouvidos, mas também seu coração. Simplesmente
pareciam fluir de dentro dele com tanta familiaridade que chegou a surpreendê-la.
– Ah, que se dane! – Ela disse para logo em seguida se aproximar ainda mais e beijá-lo.
Colocou seus dedos entre os fios negros dele e o puxou para si. A quem queria enganar?
Allan não era apenas um guerreiro rude, era carinhoso, intenso e tão amoroso que sua imagem de
milorde quase desaparecia nesses momentos.
– Lilian... – Ele murmurou sobre os lábios dela.
– Onde Walace está? – Perguntou sem se afastar.
– Está com Eulália.
– Ótimo! – Lilian disse voltando a beijá-lo, sentia seu coração pulsar forte dentro do peito
e não se importou de estar com as vestes molhadas.
Allan sentia-se inebriado pelos beijos daquela mulher, estavam muito próximos e aquilo
poderia trazer consequências irreversíveis e para ser sincero Allan estava ansiando pelas
consequências.
– Lilian, não terá como voltar atrás. – Ele disse separando seus lábios dos dela.
– Sei disso e é por isso que eu tenho certeza. – Lilian disse beijando o rosto dele. – Você é
uma pessoa incrível, Allan. Um pai maravilhoso e um marido... Teimoso às vezes, mas também
incrível.
Ele não disse nada, mas voltou a beijá-la a conduzindo para seu leito.
– Eis aqui sua recompensa por todo o esforço pelo nosso filho. – Ele disse com a voz
rouca a beijando.
– E qual seria essa recompensa?
– Meu amor por você. – Ele disse com os lábios grudados nos dela. – Eu amo você, Lilian.
Por um momento tudo pareceu parar para ela. Os olhos de Allan permaneciam em seu rosto
e o coração dele batia tão rápido que tinha a sensação de estar em um campo de batalha.
– Amo a forma como cuida do nosso filho, amo o fato de fazê-lo me amar e principalmente
amo a força que tem dentro de você. Sua paixão pelas coisas que acredita e sua boca atrevida...
– Eu também amo você, Allan. – Ela murmurou. – A forma como luta pelo seu povo e sua
família. O jeito que trata e se derrete por Walace.
Ele sorriu beijando a testa dela e voltou a beijar seus lábios.
– Agora será para sempre, Lilian. – Ele sussurrou.
– E quem disse que não seria? – Perguntou sorrindo para então se beijaram com paixão.
Naquele momento Lilian só tinha uma certeza: estava indo em uma direção desconhecida,
mas seu coração tinha lhe dado a resposta de suas perguntas em relação a Allan. O amava e isso
para ela seria o suficiente.
Ragnar e Walace brincavam enquanto Eulalia dava algumas ordens para as criadas
servirem o jantar. Ela não tinha visto Allan e nem Lilian desde o almoço e já estava quase
escurecendo. Eles não tinham almoçado e não seria ela a interrompê-los.
– Tome cuidado, Ragnar. Walace é muito menor que você. – Ela alertou o menino que
assentiu e continuou a brincar com o primo com as espadas de madeira.
– Quando minha maman vai terminar de descansar? – Walace perguntou passando a mão
pelos cabelos que estavam encharcados de suor.
Eulalia corou por um momento e olhou para as criadas que seguraram o riso.
– Eu não sei, querido. Por enquanto continue a brincar. – Ela respondeu voltando a atenção
para seus afazeres.
Enquanto ela se movia pela cozinha Allan adentrou com um sorriso no rosto, rapidamente
Walace correu em sua direção e abraçou suas pernas.
– Onde está a maman? – O menino perguntou estendendo os braços para o pai.
– Está no quarto. – Respondeu beijando a face de Walace e o segurando no colo. – E me
pediu para vir busca-lo, você precisa de um banho. – Allan disse cheirando seu filho com
diversão. – Eulalia, por favor, mande alguém nos servir no quarto.
– Tio, o senhor acha que meu pai vai demorar para poder voltar a cavalgar? – Ragnar
perguntou com expectativa.
– Mas é claro que não, daqui a alguns dias você dois estaram treinando novamente. –
Allan disse passando a mão pelos cabelos do sobrinho.
Deu as costas para as mulheres e saiu com Walace. Quando chegaram no quarto
encontraram Lilian sentada em frente ao espelho penteando os cabelos. Os fios negros e molhados
faziam com que eles reluzissem, Walace desceu do colo de Allan e correu até ela.
– Maman!
Lilian o sentou em suas pernas e beijou sua testa.
– Está tão suado, o que estava fazendo? – Ela perguntou.
– Blincando com o Ragnar! Eulalia disse que vocês estavam descansando.
– Oh sim, meu querido. – Allan disse se aproximando com um sorriso presunçoso no rosto.
– Estávamos descansando.
Lilian também sorriu com as bochechas coradas e levantou-se com Walace nos braços.
– Você precisa de um banho, Walace. – Ela disse o colocando no chão.
Depois do banho de Walace e o jantar servido no quarto eles foram comer, na maior parte
do tempo Walace falava sobre suas brincadeiras com seu primo.
– Nem você e nem Ragnar podem ir muito longe. – Allan o alertou. – Só podem brincar
perto do castelo. Tudo bem?
– Sim. – O menino concordou sorrindo para o pai.
Allan colocou a mão sobre a de Lilian e em seguida se esgueirou sobre a mesa e beijou os
lábios dela.
– Você pode beijar minha maman? – Walace perguntou com curiosidade.
– Mas é claro que posso. – Allan respondeu e se aproximou dele. – E você e eu não
podemos mais ninguém beijá-la a não for eu. De acordo?
– Allan! Ele não vai esquecer isso nunca. – Ela disse o repreendendo com o olhar.
– Isso é ótimo!
Eles sorriram cúmplices e quando terminaram todos foram para a cama. Walace deitou-se
entre eles e suspirou mexendo nos cabelos de Lilian. O menino segurou uma mecha do cabelo de
Allan e uniu com uma do de Lilian como se estivesse comparando.
– O meu é mais bonito, não acha? – Allan perguntou provocando sua esposa.
– Diga a ele, Walace. – Ela pediu com delicadeza beijando o rosto dele.
– O da maman é mais bonito! – Walace disse sorrindo para o pai.
– Viu só? – Lilian disse e estendeu a mão para segurar a de Allan. – Nunca se esqueça
disso highlander.
– Nunca poderei esquecer. – Ele disse tocando os cabelos dela por cima dos pequenos
dedinhos de Walace.
Allan se esgueirou por cima do filho e tornou a beijar sua esposa.
– Eu te amo, Lilian. – Ele disse beijando a testa dela. – E também amo você, Walace. –
Allan beijou a face do filho e deitou-se.
– Eu também amo vocês. – Ela disse sorrindo.
Allan suspirou e encarou o teto com satisfação. Estava em casa novamente e não pelo fato
de estarem nas terras O’Brien, mas estava em casa pelo fato de estar com sua família e com as
pessoas que amava.
Finalmente havia encontrado um lar.
Meu querido Walace, lar não é simplesmente para onde vamos depois de um dia
cansativo. Lar é para onde vamos quando sentimos dor porque sabemos que iremos receber
conforto e eu encontrei meu lar. Meu lar chama-se Lilian e Walace O’Brien. Eu amo vocês.
Capítulo XXV
Lilian viu os irmãos O’Brien se despedirem e enquanto eles trocavam algumas palavras,
Kiara a abraçou.
– Foi um enorme prazer conhecê-la. Tenho certeza que da próxima vez em que estiver aqui
eu e Duncan estaremos completamente recuperados e poderemos fazer uma enorme comemoração.
– Ela disse sorrindo.
– Tenho certeza que sim.
– E quem sabe quando voltarmos a nos ver você já não esteja esperando um bebê.
– Meu Deus! – Lilian abriu um pequeno sorriso enquanto corava. – Acho... acho que ainda
é muito cedo para isso, acabamos de nos casar.
Kiara sorriu como se escondesse alguma coisa e olhou para o marido e o cunhado que se
levantava. Duncan seguia em repouso contra sua própria vontade, mas estava muito melhor do que
antes.
– Espero que cuide bem de meu irmão, lady Lilian. – Duncan disse sorrindo. – Ele pode ter
a cabeça dura às vezes, mas no fundo é mole feito criança.
– Parece alguém que eu conheço. – Kiara disse com sarcasmo.
Allan envolveu Lilian pelos ombros e sorriu.
– Acho que encontrei alguém mais teimoso do que eu. – Ele disse. – Brenda ainda ficará
aqui, disse que só voltará quando você estiver completamente recuperado.
– Ela havia comentado. – Kiara falou.
Depois de mais algumas palavras, todos se despediram e Allan conduziu sua esposa para
fora. Walace se despedida de Eulália enquanto alguns guerreiros preparavam os cavalos e quando
tudo estava pronto, Lilian segurou a mão de seu filho para então montar no cavalo.
– Espere! – Allan disse se aproximando. – Antes de partimos tenho que fazer uma coisa.
– O quê?
– Reconhece esse homem? – Fergus empurrou o homem que acabou se desequilibrando e
caindo.
– É o comerciante! – Lilian disse. – O que não quis me ajudar a tirar o menino do poço.
Quer dizer, ninguém quis.
– Levante-se! – Allan ordenou para o homem que logo se pôs de pé.
– Milorde, eu...
– Sabe quem é esta mulher? – A voz de Allan estava afiada como uma espada e até mesmo
Lilian se preocupou. – Você não só mostrou ausência de compaixão como também desobedeceu a
sua senhora. Minha esposa, Lilian O’Brien.
– Milorde, eu não sabia... eu... eu... – O homem esfregava freneticamente as mãos em sinal
de nervosismo.
– Quero que peça perdão a sua senhora, aqui diante de todos. – Allan disse com
impaciência.
Lilian queria dizer que não era necessário, mas lembrou-se de que se aquele homem
tivesse ajudado ela nem precisaria entrar no poço.
– Perdão, senhora. Eu não sabia que meu milorde havia se casado. – O homem disse a
olhando com um misto de ressentimento e revolta.
– Está perdoado, mas devo lhe alertar que mesmo que eu não fosse esposa de Allan
deveria ter medido suas palavras. – Disse para então assentir.
Fergus o segurou pelos ombros e o tirou das vistas de Lilian.
– Não precisava ter feito isso, mesmo assim obrigada. – Ela disse sorrindo para Allan e
ele se aproximou.
– Bom, as pessoas tem que respeitar a senhora das terras O’Brien, não acha? Você é minha
esposa e eu não deixarei ninguém a insultar, pelo menos não sem uma retaliação. Agora temos que
ir. – Falou beijando a testa dela e aproximou seus lábios de sua orelha. – Quando chegarmos no
castelo teremos uma tarefa árdua pela frente.
– E qual seria? – Perguntou com um sorriso presunçoso no rosto.
– Colocar Walace para dormir em outro quarto!
– Mas... Eu não sei Allan, ele é tão pequeno e desde que o encontrei nunca dormiu longe de
mim. – Ela afirmou o olhando com desagrado.
Allan olhou para seus homens que já montavam nos cavalos e depois se voltou para ela.
– Minha cara esposa, se Walace continuar dormindo conosco como acha que seguiremos
fazendo o que fizemos ontem?
Ele a viu corar e depois ficar boquiaberta.
– Vocês descansalam ontem? – Walace perguntou atento ao que os pais conversavam.
– Oh, sim Walace. Nós descansamos. – Lilian disse semicerrando os olhos para Allan que
sorria abertamente caminhando até seu cavalo.
Assim que Allan estava sobre o lombo do animal, Lilian entregou Walace para ele e subiu
no cavalo que a esperava. Em pouco menos de duas horas eles estariam no castelo de Allan e
Lilian esperava sinceramente ter um longo momento para realmente descansar, mas o que Allan
disse estava martelando em sua mente: como faria Walace dormir em um quarto separado?
Assim que Lilian fechou a porta atrás de si, Allan a segurou pela cintura e beijou seu
ombro.
– Agora que Walace dormiu preciso cumprir minha promessa. – Ele disse a virando e
beijando seus lábios com paixão.
– Que promessa? – Perguntou ainda junto a ele se deixando ser conduzida pelo corredor.
– Prometi a Walace um irmão e acredite senhora O’Brien, eu faço de tudo para cumprir
uma promessa. – Ele disse sorrindo presunçosamente e abriu a porta de seu quarto. A soltou
apenas por um momento para fechar a porta quando ouviu uma voz familiar pelo corredor.
– Milorde!
Lilian observou o corredor a tempo de ver a mulher correndo e abraçando Allan
envolvendo seus braços no pescoço dele. A mulher enterrou seu rosto no pescoço dele enquanto
Allan permanecia com mãos para o alto fitando Lilian com os olhos sobressaltados.
– Milorde, acabei de saber que tinha voltado e... – A mulher parou quando Lilian pigarreou
a interrompendo, o semblante dela se modificou enquanto observava Lilian da cabeça aos pés.
– Greta, acho que ainda não conheceu minha esposa. – Ele disse se colocando ao lado de
Lilian. – Essa é Lilian, a nova senhora desse castelo.
– E também do milorde. – Lilian disse sorrindo para a mulher. – É um prazer conhecê-la,
Greta.
A mulher não disse nada, apenas olhou para Allan como se buscasse uma explicação e
como não obteve respostas sorriu sem humor.
– Não sabia que tinha casado, milorde. Acabei de voltar do vilarejo e as notícias não
correm tão rápido assim.
– Se me derem licença irei deitar-me.
Lilian lançou um olhar para Allan antes de adentrar no cômodo, ele olhou para a mulher
que permanecia parada a porta e respirou fundo.
– Greta...
– Eu já entendi, milorde. Sinceramente lhe desejo muitas felicidades. – Ela disse com
receio. – Mas se ainda me quiser não me importarei de estar casado. –Murmurou baixando o tom
de voz.
– Greta, peço que não me procure mais com essas intenções. A mulher que me aguarda lá
dentro é a mesma que eu aprendi a amar e a respeitar com todas as minhas forças.
– Tinha me dito que seria incapaz de amar novamente! – Greta lembrou com a voz
arranhada.
– Isso é verdade, mas encontrei uma mulher que é tão teimosa que simplesmente me fez
amá-la e mesmo que eu quisesse não poderia evitar. Agora boa noite, Greta.
Ela assentiu e lhe deu as costas, quando chegou no final do corredor começou a correr e a
soluçar enquanto chorava. Allan suspirou aliviado por ela ter ido embora e adentrou no quarto
fechando a porta.
Lilian estava sentada a frente do espelho penteando os cabelos e ele parou diante dela.
– Espero que não esteja irritada. – Ponderou com cautela.
– Não, ouvi a conversa com a Greta. – Ela disse fazendo uma careta. – E gostei da parte
que você me ama e me respeita com todas as suas forças.
Ele sorriu beijando o ombro dela e acariciou sua bochecha.
– Preciso saber de uma coisa, Allan.
– Diga.
– Você e Greta estiveram juntos muitas vezes?
– Não. – Ele respondeu. – Quando voltei da primeira busca por Walace fiquei sem rumo,
bebia quase todas as noites e Greta me fazia companhia, mas sempre deixei bastante claro que
nunca teríamos algo sério. Meu único objetivo era encontrar Walace e quando finalmente consegui
também encontrei você. – Ele disse e ela se virou para olhá-lo.
– Eu amo você Allan e se por acaso nós ainda tivermos que nos encontrar com uma de suas
antigas companhias, prefiro que me avise agora. – Proferiu severamente e ficou de pé.
– Ficou com ciúmes, Lilian? – Ele perguntou com um sorriso presunçoso no rosto.
– Nem um pouco! – Ela deitou-se na cama e fechou os olhos por um momento, respirou
fundo e quando voltou a abri-los encontrou Allan ao seu lado só de calça.
– Você não achou que eu deixaria de tentar cumprir minha promessa, não é?
Allan segurou o rosto dela e a beijou com carinho. Lilian levou a mão a barriga dele e
sentiu sua pele esquentar com o toque. O guerreiro continuou a beijá-la e Lilian não hesitou
quando ele segurou sua cintura.
– Estou preocupada com Walace. – Ela disse quando ele liberou seus lábios apenas para
beijar seu pescoço.
Ele tinha lábios tão quentes...
– Não se preocupe. – Ele disse com a voz rouca. – Se eu cumprir com a promessa Walace
sempre abrirá mão de dormir com você, só para ter inúmeros irmãos.
– Inúmeros? – Ela perguntou sorrindo, mas Allan não respondeu pois logo voltou a beijar-
lhe nos lábios.
– Só o suficiente para encher o castelo.
A gargalhada dela ecoou pelo quarto mesmo sem querer e Allan sentiu seu coração pulsar
dentro do peito como se estivesse em um campo de batalha. Só Lilian para fazer com que ele se
sentisse daquela forma, como se mil sentimentos passassem por seu coração e sua mente rodasse
com outros mil pensamentos.
Os dois sendo apenas um só.
Isso que era realmente um lar.
Meu querido Walace, a minha promessa continua de pé e acredite: farei de tudo para
cumpri-la.
Capítulo XXVII
Nos dias que se passaram Lilian notava as mudanças tanto no castelo como em sua vida.
Era rotineiro Walace levantar antes do sol nascer e sempre bater na porta do quarto dos pais e
Allan ou Lilian sempre eram obrigados a levantar-se e destrancar a porta.
– Ao menos não é no meio da noite. – Allan sempre dizia com um sorriso presunçoso no
rosto.
Lilian percebeu o quanto Walace crescia e seus cabelos loiros estavam escurecendo para
um tom de castanho. De início ela não sabia como iria ser a senhora do castelo não tendo a
mínima ideia do que fazer, mas então decidiu que se o castelo sobreviveu até aquele dia sem ela
com toda a certeza continuaria a sobreviver. Quando Allan saia para resolver algum assunto ela
dedicava seu tempo corrigindo a fala de Walace e já sentia a diferença nas palavras do filho.
Allan se esforçava ao máximo para sempre estar presente, havia deixado a barba crescer e
sempre se deliciava com a gargalhada de Lilian quando ele beijava seu pescoço. Claro que havia
dias que não tinha quem segurava Lilian e ela e Allan acabavam brigando, mas Walace sempre
dava um jeito de novamente unir os dois.
Haviam se passado onze meses.
Dentro de um mês e um dia o Handfasting terminaria e Lilian já estava se preparando para
finalmente casar-se diante de Deus. Havia mandado mensageiros para sua família os convidando
para o casamento e Eulália já havia se disponibilizado para cozinhar.
Lilian sentou-se na cama e observou a aliança em seu dedo, Allan chegaria a qualquer
momento e o simples pensamento dele entrando no castelo fazia seu coração estremecer. Fazia
cinco dias que ele havia viajado para se encontrar com outros guerreiros na fronteira e ela não
poderia ir já que alguém teria que ficar com Walace. Ela levantou-se e quando saiu para o
corredor encontrou Walace agachado próximo a parede.
– Walace?
Ele levantou-se rapidamente e colocou as mãos para trás escondendo algo, Lilian se
aproximou e franziu o cenho enquanto observava o menino com cautela.
– O que tem aí, Walace? – Ela perguntou.
– É uma pedra. – Ele disse arrastando a língua para puxar o r.
– É mesmo? Então me mostre.
O menino apertou os lábios pensando no que fazer e respirou fundo.
– Está bem. – Ele disse por fim e mostrando as mãos, assim que ele abriu a palma Lilian
viu uma pedra, mas não era uma pedra comum, o objeto verde que parecia um cristal reluziu
quando Walace o segurou entre os dedinhos.
– Onde você encontrou isso?
– Lá fora, estava com o Mag quando as patas dele tirou a terra e eu achei isso. Ele caiu no
chão aqui, mas não queblou.
– Quebrou.
– Quebrou. – O menino repetiu.
– E porque não me mostrou antes? Sabe que entre nós não tem segredos. – Ela disse
beijando a face do menino.
– Mas eu disse que era uma pedra.
Lilian franziu o cenho intrigada constatando que seu filho estava certo.
– Tudo bem, guarde essa pedra para brincar, até porque foi você quem achou. Mas
precisamos ir lá fora, seu pai pode chegar a qualquer momento.
– Temos que ajudar Mag, ele está preso. – O menino disse com nervosismo.
– Preso onde?
– Na lama!
Walace adentrou em seu quarto e colocou a pedra embaixo do travesseiro, voltou para
junto da mãe e segurou a mão dela enquanto a conduzia em direção as escadas.
– Eu estava com ele blincando de se esconder, mas o Mag não me achava e quando fui ver
ele estava preso na lama. Ele vai poder sair, maman?
– Claro que vai meu amor. Eu prometo que farei de tudo para ele sair são e salvo. Tudo
bem?
Ele assentiu ainda sem olhá-la e continuaram a andar. Quando chegaram do lado de fora do
castelo Walace continuou a conduzi-la até Mag que levantava as patas em uma tentativa inútil de
tentar sair do lamaçal. Assim como todos o pequeno potro tinha crescido e Lilian se preocupava
com o fato de que provavelmente ele seria maior que Walace.
– E agola maman?
– Agora. –Lilian o lembrou. – Bom, agora eu vou ter que tirá-lo.
– Precisa de ajuda, senhora? – Um dos guerreiros perguntou a vendo tirar os sapatos.
– Não, obrigada. Quer dizer... – Ela segurou a mão de Walace e entregou ao guerreiro. –
Por favor, cuide dele só por um momento.
O guerreiro assentiu e viu sua senhora prender o cabelo no alto da cabeça, como tinha
chovido no dia anterior era possível ver lama por todos os lados e ela até poderia imaginar como
Allan chegaria.
– Acho melhor eu fazer isso, senhora.
– Eu insisto em fazer. – Ela respondeu se aproximando de Magnus e sentindo seus pés
afundarem na lama. – Vamos lá, Magnus. – Murmurou segurando as rédeas do potro e o puxando.
Colocando mais força ela puxou as rédeas a ponto de o potro relinchar, as mãos dela
doeram e acabou por soltar a corda caindo no chão sujando todo o vestido de lama. Ela fez uma
careta tentando se limpar enquanto Walace gargalhava.
– Foi engraçado. – Ele disse entre as risadas.
– Eu faço isso, senhora. – O guerreiro insistiu se aproximando e ajudando a levantar-se. –
Milorde não gostaria de saber que eu a vi assim e não ajudei.
– Tudo bem. – Disse se rendendo. – Mas porque ele não sai daí?
– A lama deve está muito grudenta. – O homem disse se agachando perto das patas do
potro, segurou uma com força e a levantou. Fez a mesma com a outra e sorriu. – Agora só faltam
duas. Bast! Bast!
O outro homem apareceu e logo se aproximou para ajudar, levantaram o potro e assim que
o colocaram firme em terra seca, Walace vibrou de felicidade.
– Obrigada. – Lilian agradeceu e depois olhou para seus pés e o vestido. –Estou toda suja
e...
O trote forte de cavalo fez com que ela se calasse e todos olhassem para os portões. A
frente de todos sobre o maior cavalo estava Allan. Assim que os olhos dele se encontraram Lilian
abriu um sorriso e segurou a mão de Walace para se aproximarem. Assim que o cavalo parou,
Allan desceu do lombo do animal e andou com pressa na direção de sua família.
Primeiro abraçou Walace o colocando nos braços e o jogando no ar.
– Como está o guerreiro mais destemido desse clã? – Ele perguntou beijando a face do
menino.
– Bem. – Ele respondeu sorrindo. – Maman caiu na lama!
– Estou percebendo. – Ele disse colocando Walace no chão e sorrindo para a esposa, se
aproximou e beijou seus lábios sem se importar com os olhares ou com o fato dela estar
completamente suja. Ele também não estava diferente. –Senti muitas saudades.
– Eu também. – Ela sussurrou assim que se separaram e Allan beijou rapidamente o
pescoço dela fazendo com que um sorriso se formasse em seu rosto. – Allan... Preciso de um
banho. E você também!
– Oh sim, tem lama em todos os lugares e a única coisa que me fez continuar mesmo sob a
chuva foi a certeza que eu veria vocês. – Falou abraçando Lilian e notando que ela estava
descalça. Por um momento o corpo dela vacilou e Allan a segurou mais forte. – Está se sentindo
bem?
– Sim, só estou um pouco fraca. Ainda não comi nada e...
– Não comeu nada? – Ele perguntou a encarando com cautela.
– Eu só esqueci e não me olhe assim. Parece que eu sou a criança. – Disse exasperada
segurando o braço de Allan. – Vamos entrar, você precisa descansar.
– E você se alimentar! Depois do banho faço questão de averiguar se realmente se
alimentou. – Ele disse segurando a mão de Walace. – Não podemos deixar sua maman doente não
é mesmo filho?
– Claro que não! – O menino respondeu sorrindo e encarou sua mãe. –Está ouvindo,
maman?
Lilian revirou os olhos e parou ao notar que sua mente também revirou, viu pontos pretos a
sua frente e apertou ainda mais o braço de Allan.
– Lilian! – Ele a chamou com a voz rouca e a segurou pela cintura. – Vou te levar para
dentro.
Antes que ele a colocasse nos braços viu alguns guerreiros correndo na direção dos
portões, segurou Lilian junto de si e se voltou para a entrada.
Seria a pior visão que ele teria.
Lucrécia desceu rapidamente da carruagem e um sorriso perverso se mostrou em seu rosto
assim que percebeu a surpresa no olhar de Allan. Ela caminhou até o guerreiro com passos firmes
e ao mesmo tempo que focava no highlander, seus olhos também estavam atentos a mulher ao seu
lado.
– Meu querido Bram! – Ela disse parando e pousando seu olhar no menino. – Venha aqui
dá um beijo na vovó!
Vovó?
Lilian franziu o cenho e buscou respostas no rosto de Allan, mas ele estava indecifrável e
assim que a mulher deu mais um passo, ele segurou firme a mão de Walace.
– O que faz aqui, Lucrécia? – Ele perguntou com os olhos semicerrados.
– Vim ver meu neto, faz anos que não tenho notícia dele e simplesmente não resisti. – Ela
disse com a voz aguda, o que fez com que Lilian enrugasse o nariz. – Soube que se casou
novamente, é um prazer. Sou Lucrécia Farney, sogra de Allan.
– Acho que se enganou, a única sogra que Allan tem é minha mãe. – Lilian disse. – E eu
tenho certeza senhora, que ela se chama Alycia Craig.
O sorriu morreu no rosto da mulher e seus olhos novamente pousaram em Walace.
– Deixe que o menino venha me abraçar, Allan. Sou a avó dele.
Allan cerrou o maxilar entrando em conflito, sabia que ela não tinha culpa do que Léa
havia feito, mas lembrava-se bem das inúmeras vezes que ela havia ajudado Léa com seus planos.
– Ele está aqui a quase um ano e você nunca veio visitá-lo. O que mudou agora? – A voz
dele saiu raivosa e aquilo fez com que Lilian se preocupasse, se ele estava daquele jeito era
porque tinha motivos.
Ela maneou a cabeça e sorriu novamente. Foi quando um pé foi posto para fora da
carruagem, devagar a mulher desceu e quando se colocou de frente Allan fixou o olhar nela com
fúria e escárnio. O cabelo loiro ia até o meio das costas e ela parecia frágil e quebrável até
mesmo com o vento.
Lilian sentiu que Allan a soltava, mas só para avançar na direção da mulher.
– Vou matá-la! – Ele rugiu avançando e Lilian teve a certeza que seus dias calmos
acabariam.
A única coisa em que eu pensava era como eu a mataria: com minhas próprias mãos
ou com a espada?
Capítulo XXVIII
Allan sentiu o sangue pulsar com força em suas veias e a única coisa em que ele pensava
era em como mata-la ali mesmo sem traumatizar Walace. Quando ele chegou a um passo para
agarrá-la pelo pescoço, Fergus e outro guerreiro o segurou.
– ME SOLTEM! ESTOU ORDENANDO!
– Milorde, por favor, se acalme. Sabemos o motivo de sua revolta, mas seu filho está aqui!
– Fergus disse o empurrando para longe. – Olhe para ele!
Allan se voltou para trás e viu como Walace agarrava com força as pernas de Lilian,
respirou fundo algumas vezes e encarou a mulher com fúria.
– Vá embora daqui! – Ele urrou. – Vá embora sua miserável e nunca mais volte!
– Allan eu...
– Você não ouviu? – Lilian disse se aproximando. –Vá embora! Se não for por si mesma eu
a arrastarei pelos cabelos.
– Tenho uma ordem do príncipe. – Léa disse levantando o queixo. – Sei que abandonei meu
lar, mas a corte me ofereceu uma oportunidade.
Allan soltou uma risada cética e começou a andar em círculos em busca de calma, se
Fergus desse uma brecha ele a mataria.
– Posso até imaginar o tipo de favor que está fazendo para o príncipe lhe conceder isso. –
Ele disse com escárnio e olhou para uma das criadas. – Leve Walace para dentro.
– Podemos conversar? – A voz de Léa saiu chorosa. – Eu... Estou completamente
arrependida. Se arrependimento matasse...
– Você ainda estaria viva, sua miserável bastarda! Quero que vá embora, eu não me
importo com a ordem do príncipe, quero você fora das minhas terras sua assassina.
Léa sentiu seu corpo tremer.
– Dê uma chance para ela, Allan. A coitadinha não sabia o que estava fazendo e se você ao
menos ouvi-la... – Lucrécia disse, mas logo foi interrompida.
– NÃO PRECISO OUVIR NADA! ESSA MISERÁVEL MERECE QUE EU A
ESTRANGULE!
Lilian compartilhava da revolta de Allan e sentiu seu coração pulsar com força, respirou
fundo quando Walace já não poderia ver ou ouvir algo daquela briga, se aproximou de Allan e
tocou seu ombro.
– Vá embora, caso contrário vai se arrepender.
– Quem é você? – Léa perguntou.
– Sou esposa de Allan, senhora desse castelo e mãe do filho dele. Quer mais alguma coisa
ou isso já basta para você?
Léa olhou para sua mãe buscando alguma resposta e depois se voltou para Lilian, seus
olhos se encheram de raiva e ela respirou fundo como se tentasse se controlar.
– Não sabia que tinha se casado, para alguém que dizia que me amava soube rapidamente
arranjar uma nova senhora para o castelo. E ainda teve um herdeiro depois de nosso Bram. – Ela
começou a chorar e seus soluços aumentaram, Lucrécia se aproximou e abraçou a filha. – Estou
arrependida Allan, e faria qualquer coisa para você acreditar nisso.
– Se você me dê as costas e ir embora eu realmente acreditaria.
– Isso não! – Ela disse limpando o rosto com a palma da mão. – Eu quero conhecer meu
filho, ele deve estar enorme.
– Não graças a você. – Lilian rebateu cruzando os braços fazendo uma promessa silenciosa
de que caso ela se aproximasse de Walace levaria uns tapas.
– Estou falando com Allan e não com você! – Léa disse entre os dentes dando um passo à
sua frente. – Com toda a certeza deve estar desfrutando de todos os benefícios de senhora do
castelo, mas o amor de Allan foi unicamente meu!
– Isso é o que você pensa. Quando conheci minha amada esposa, Lilian, percebi que o que
eu sentia por você era apenas encanto. Amor eu só sinto por ela.
Léa respirou fundo algumas vezes e se segurou no braço de sua mãe.
– Tenho uma ordem do príncipe, expliquei a ele minha situação e ele me entendeu. Eu não
era feliz aqui Allan e você sabe disso, nós casamos apenas para unir os clãs. Meu pai me obrigou!
– Ela disse o encarando.
– Se tivesse ido embora e deixado meu filho simplesmente não me importaria, mas você o
levou. O levou e ainda o deixou na floresta abandonado à própria sorte! Se não fosse por Lilian
meu filho estaria morto e a culpa seria sua! – Allan cuspiu as palavras e passou as mãos pelo
rosto tentando se acalmar, simplesmente foi inútil.
– O príncipe me concedeu permanecer nessas terras por um mês. – Ela disse com
convicção. – Se quiser pode ler a carta e até mesmo mandar um mensageiro, você terá que me dá
um teto durante os trinta dias e caso você decida que quer voltar para mim nos casaremos.
Allan a encarou com ceticismo e esperou que ela desse algum sinal de mentira, como não o
fez sorriu sem humor. Mas ele mandaria sim um mensageiro e se aquilo fosse mesmo verdade faria
de tudo para encontrar-se com o rei e reverter aquela situação.
Lilian a encarava sem nunca desviar seu olhar, sua vontade era de arrastá-la pelos cabelos
e pisotear sua face para que ela lembrasse sempre de nunca mais voltar para as terras dos
O’Brien, mas Lilian tinha em mente que se ela falava com tanta convicção com toda a certeza tinha
essa carta em mãos e aquilo seria ruim para Allan. Ter um rei contra seu clã seria como admitir
sua derrota e a perda de todas as terras, o rei provavelmente iria querer guerra contra os O’Brien
e seria muito sangue derramado.
– Não ficará aqui! – Ele afirmou.
– Então terei que solicitar o rei. – Disse com falso pesar. – Vamos mamãe.
– Se arrependerá quando o rei vier com seus guerreiros assim que souber que passou por
cima de suas ordens. – Lucrécia disse acompanhando a filha para a carruagem.
– Mande um beijo para meu pequeno Bram. – Léa disse lhe entregando um pequeno sorriso
e entrando na carruagem. – Caso mudem de ideia estarei aguardando até amanhã a tarde na
propriedade de minha tia.
Quando se afastaram Lilian soltou o ar que não havia percebido que prendia, parecia que
estava entre duas espadas e qualquer movimento resultaria em sua morte.
– Allan, o que vamos fazer? Se o rei vier e...
– Eu não me importo. Me matem se for preciso, mas essa mulher não ficará em minhas
terras. Deve-se imaginar o que ela está fazendo para conseguir tão grande favor do príncipe, ela
não fica aqui e essa é minha palavra final.
Ele seguiu a passos largo para o castelo e Lilian respirou fundo antes de acompanhá-lo.
Nunca tinha presenciado uma guerra, mas tinha certeza que sempre começava com um
desentendimento. Ele não se importava com as consequências e ela também não queria se
preocupar, não enquanto Walace estava seguro, mas o problema era que ela se importava com os
inocentes que também enfrentariam as consequências.
Se importava o suficiente para fazer alguma coisa.
Allan respirava fundo diversas vezes enquanto descansava seu rosto nas mãos, seus olhos
estavam fechados enquanto sua mente sempre voltava para o momento em que aquela bastarda
adentrava em suas terras.
As mãos de Lilian passeavam por suas costas tirando não só a lama de seu corpo como
também uma parte de seu nervosismo. Precisava manter a calma, mas como isso seria possível
enquanto Léa estivesse viva? O que a fez voltar? Amor com toda certeza não seria, nem por ele e
nem por Walace. A fortuna de Jacob deveria ter acabado, Léa não o deixaria se ainda estivesse
vivendo como sempre desejou.
– Pensei que iria matá-la. – Lilian disse passando seus dedos pelos ombros dele.
– E iria se Fergus não tivesse me impedido.
– Se fosse longe de Walace eu teria o ajudado. – Allan deixou uma risada escapar e Lilian
relaxou seus músculos. – Se ela ousar chegar perto de você ou de Walace terá o mesmo destino de
Magnus.
– Que seria?
– Ser atolado na lama, mas a diferença era que ela não iria sair. Nunca!
As mãos de Lilian desceram para o meio das costas dele e Allan estremeceu. Se mexeu
dentro da tina e segurou a mão dela.
– Eu não sei o que ela pretende, mas uma vez lhe prometi que aquela mulher não tocaria em
Walace e vou cumprir com minha palavra, disso possa ter certeza. – Ele beijou os dedos de Lilian
e virou o rosto para ver se ela sorria, quando concluiu que sim voltou a ficar ereto.
– Se ela estava na Escócia a tanto tempo por não voltou antes? Deve ter ficado esse tempo
todo com alguém da corte já que ela conseguiu tal feito.
– Não tem como sabermos quando ela voltou para a Escócia.
– Na verdade tem, lembra-se da carta que ela lhe enviou? A que dizia que estava voltando
enquanto estávamos em Villat?
Allan voltou a fechar os olhos com força e agradeceu o fato de estar de costas para ela,
caso contrário perceberia que escondia algo. Precisava contar logo a verdade.
– Lilian eu...
– Sei que não a quer aqui e eu também não. – Ela o interrompeu ficando de pé. – Mas se o
príncipe enviar guerreiros sabe que sangue inocente será derramado, não sabe?
Ele apenas assentiu trincando o maxilar.
– Eu estava pensando em algo...
– Se for o que eu estou imaginando nem termine de pensar. – Ele disse se virando. –
Aquela mulher não pode ficar aqui.
– Mas se sangue inocente for derramado não me perdoarei, sei que está acostumado com
guerras e até mesmo a matar seus inimigos, mas eu não conseguiria dormir pensando que alguém
inocente morreu. E se for você, Allan? E se for eu ou até mesmo...
Allan ficou de pé com rapidez e a calou com um beijou. Suas mãos passaram pela cintura
dela e subiram até o pescoço. Ela também precisava se acalmar. Quando ele separou seus lábios,
a abraçou com ternura.
– Tudo ficará bem, Lilian. – Ele disse com a voz rouca.
– Tive uma ideia e se der certo nunca mais precisaremos nos preocupar com essa mulher.
Ele a soltou para olhá-la nos olhos e segurou suas mãos.
– E que ideia seria essa?
– Primeiro teríamos que mandar um mensageiro até a corte, se a única coisa que você tiver
que oferecer para aquela bastarda durante os trinta dias for um teto tudo estará feito. A farei
desistir, ela espera que de alguma forma você volte para ela e lembre-se de como você a amava.
– Eu só amo você, Lilian. Essa miserável não vai conseguir nada além de ódio de minha
parte.
– Sei disso. – Ela disse o beijando nos lábios. – E eu também amo você. Não podemos
negar teto a ela, mas e se ela por si só desistir?
– O que ela quer é um boa posição e posses por toda a sua vida. – Allan constatou.
– Vamos seguir a minha ideia, mande o mensageiro hoje mesmo para o príncipe e assim
que tivermos a confirmação ela vem para nossas terras. – Ela disse e Allan sorriu, simplesmente
amava como aquela mulher e sua petulância sabiam conduzir todas as situações. – Depois deixe
comigo. Eu a farei desistir.
– Confio em você, mas e se...
– Apenas confie em mim, Allan. Ela vai implorar para ir embora. Também vou precisar
que envie um mensageiro para Aberdeen.
– Para Aberdeen?
– Quando Amanda e James se casaram e foram morar em Aberdeen digamos que Amanda
encontrou empecilhos bem difíceis na propriedade e soube muito bem controlá-los. Precisarei da
ajuda dela.
– Um empecilho como Léa?
– Um que teve coragem de matar a própria irmã. – Lilian afirmou com pesar. – Mas com
Amanda aqui as coisas ficarão mais fáceis, enquanto isso quero que você e Walace fiquem longe
dessa mulher.
– Não precisa nem pedir.
– Agora saia daí, Allan. Seu banho já terminou.
Ele voltou a segurá-la pela cintura e a beijá-la.
– Ainda não posso, minha cara esposa. Você ainda não se banhou e eu como um esposo
prestativo a ajudarei. – Ele disse sob os lábios dela. – De acordo?
Ela sorriu.
– E quando é que eu não estou de acordo? – Lilian perguntou antes de entrelaçar suas
pernas ao redor do quadril dele.
A única coisa que eu posso fazer meu pequeno Walace, é confiar cegamente em sua
maman. E isso simplesmente é a coisa mais certa a se fazer.
Capítulo XXIX
Léa estava deitada pensando em como seus planos estavam mais do que arruinados. Pelo
que ouviu Allan tivera outro filho depois de Bram e do jeito que as coisas iam ele provavelmente
não aceitaria que ela passasse os trinta dias em suas terras. Lucrécia adentrou no cômodo e
sentou-se ao lado da filha com euforia.
– Tenho novidades, a único herdeiro de Allan continua sendo Bram!
– Mas aquela mulher não era a mãe do filho dele? – Ela perguntou com escárnio.
– Eu lhe disse que ele havia casado por algum motivo especial, não por amor já que assim
que ele chegou em Villat arranjou essa noiva. Ela encontrou Bram na floresta em que você o
abandonou!
Léa enrugou o nariz como se estivesse com nojo de algo e encarou a mãe.
– Aquele menino que estava lá era o Bram, não era? – Lucrécia afirmou. –Ele está grande e
continua parecido comigo, isso é bom. Todas as vezes que ele olhar para o nosso filho lembrará
da cor dos meus cabelos e de como era estarmos juntos.
– Ou lembrar de quem o salvou. Essa tal de Lilian é filha de um conde e mesmo estando do
seu lado devo admitir que fez um grande sacrifício para ficar com o menino. – Lucrécia disse
mordendo o lábio inferior. – Allan gosta do amor que ela sente por Bram, você deve provar que
ama o menino tanto quanto ela.
– O que será mais difícil do que ele acreditar que eu estou arrependida. –Léa levantou-se e
começou a andar de um lado para o outro. – Tenho que inventar algo, ele não vai ceder tão fácil e
mesmo que eu tenha até mesmo dado informações dos ingleses a corte em troca desse favor eu não
conseguirei mais nada. Allan sabe que eu fugi por conta própria com Jacob e ainda levei Bram só
para vê-lo sofrer.
Uma criada bateu na porta do quarto e quando teve a autorização, adentrou com a carta em
mãos. Léa abriu a carta rapidamente a quando terminou de ler olhou para sua mãe sorrindo
vitoriosa.
– Ele aceitou! – Ela gritou eufórica. – Sabia que Allan iria lembrar do nosso tempo de
casados! Essa tal de Lilian não sabe o que a espera! – Léa bateu palmas e depois abraçou a mãe.
– É uma pena que você não tenha conseguido nada com Jacob. – Lucrécia se lamentou. –
Se não fosse por isso estaríamos agora mesmo na Inglaterra desfrutando de tudo. A culpa de tudo
isso é sua! Se tivesse continuado com Allan até hoje você continuaria rica ou se ao menos tivesse
aceitado casar-se de verdade ao invés de um Handfasting você ainda seria a senhora do castelo.
– Eu não era feliz, mamãe. Simples assim. E a senhora mais do que ninguém sabe que eu
também não queria ter sido mãe, passei três dias agonizando para poder colocar aquele menino no
mundo.
Lucrecia maneou a cabeça por um momento, a ideia viera rapidamente a sua mente e ela se
viu diante da solução de todos os seus problemas.
– É isso! Você tem que colocar no mundo o segundo filho de Allan.
O sorriso morreu nos lábios de Léa e ela voltou a sentar-se na cama.
– Eu não vou voltar a colocar outra criança no mundo. Além do mais Allan nunca
permitiria isso.
– Podemos dá um jeito, uma única oportunidade e tudo será resolvido. O Handfasting dele
acaba e ele casa-se com você já que nunca abandonaria um filho.
– Eu não sei mamãe, ter ficado grávida uma vez foi sufocante e sinceramente não sei se
conseguirei novamente.
Lucrécia deu um pequeno tapa nas mãos de sua filha e a olhou carrancuda.
– Pois trate de querer, por sua culpa estamos nessa situação. Seu pai está morto Léa e o
que ele me deixou está a um ponto de se acabar. Pense muito bem nisso, se os ingleses quiserem
vir aqui para lhe prender não vai lhe restar esperanças.
– ELES NÃO VIRÃO! – Ela disse de sobressalto. – Eles não podem vir mamãe, a morte
seria melhor.
– Mas se descobrirem que você matou Jacob e a esposa você estará condenada a masmorra
pelo resto da sua vida.
Léa passou as mãos pelo rosto e abraçou suas pernas com força.
– Você não sente absolutamente nada por Bram?
– Nada e isso é culpa de Allan. Quando papai me forçou a casar-se com ele expliquei que
não queria e mesmo assim ele insistiu. Se ao menos tivesse negado papai não teria como me
forçar. – Ela fez uma pausa antes de continuar. – Allan me disse que se depois do Handfasting eu
não estivesse amando-o me liberaria do compromisso, isso seria perfeito se Bram não tivesse
sido concebido. Se não fosse por Bram eu não precisaria fugir e teria me casado com tudo que eu
mereço, mas esse menino teve que vir ao mundo. Se eu fechar os olhos posso me lembrar daquela
sensação que senti durante os três dias que ele me atormentou sem querer sair de mim mesmo
tendo chegado a hora.
– E o que fará se Allan voltar para seus braços? Bram vai sempre estar com vocês.
– Por mim a bastarda com que ele está casado pode levá-lo, para bem longe de
preferência. A única coisa que eu quero é que Allan me dê novamente o título de senhora daquele
castelo e que eu volte a ter a vida de antes, mesmo não o amando.
Léa respirou fundo e só então percebeu que fechava os punhos com tanta força que acabou
por ferir sua palma. Era só mais uma marca de tantas outras que a perseguia.
Allan observava Lilian que enrugou o nariz diante de seu prato e o afastou. Notou que ela
estava pálida e colocou a mão em seu pescoço e depois em sua testa.
– Não é febre. – Ele constatou cerrando os olhos ainda a observando atentamente.
– Maman está doente? – Walace perguntou preocupado. – Ela nem comeu.
– Não estou doente. – Afirmou tirando as mãos de cima dela. – Apenas não quero comer
agora.
– Ontem quase não comeu e hoje só comeu uma maçã, está nervosa?
– Um pouco, aquela mulher virá hoje e não tem como eu me acalmar. – Ela disse sendo
rude mesmo sem querer. – Só não estou com fome.
Lilian levantou-se irritada e seguiu para fora da sala de jantar, Allan encarou seu filho
buscando o motivo para aquela tempestade da parte dela.
– Meu querido Walace aqui vai outro conselho sobre mulheres: elas ficam irritadas como
você mesmo quando não foi você. – Disse com um pequeno sorriso no rosto. – E sua mãe parece
uma leoa.
– Acho que ela não quer comer porque está ruim. – Walace levou um pouco do ensopado a
boca fazendo uma careta.
– Se voltar a dizer que meu ensopado está ruim farei vocês dois tomarem o que restante
que está no caldeirão! – A voz de Amanda surgiu atrás deles e Allan sorriu imaginando como
Richard lidava com seis mulheres sob do mesmo teto.
– Cunhada, acho que Walace queria dizer que está ótimo. Juro a você que nunca comi algo
igual. – Ele disse reprimindo um sorriso. – Não é mesmo filho?
– Não, está ruim papai! – O menino cruzou os braços. – Maman disse que é feio mentir.
Amanda semicerrou os olhos e encarou o cunhado com cautela.
– Vou ver como minha irmã estar.
Lilian estava encurvada próximo a vasilha e respirava com dificuldade enquanto tentava se
recuperar, tudo que ela havia comido desde a noite passada estava ali dentro em forma de líquido.
Sentia-se tonta e quando ficou ereta viu pontos pretos a sua frente. Sentou-se na cama e respirou
fundo.
– Lilian? – Amanda se aproximou e ajoelhou-se ao seu lado. – Está se sentindo bem?
– Definitivamente não! – Ela grunhiu com dificuldade. – O que colocou naquele ensopado?
Amanda franziu o cenho e Lilian sorriu.
– Estou falando sério, Lilian. Allan me disse que ontem você também não se sentiu bem.
– Porque eu não tinha comido.
– E agora que comeu colocou tudo pra fora?
Lilian não respondeu, apenas segurou a mão da irmã e se deitou.
– Estou muito feliz que esteja aqui. – Ela disse com ternura. – E tenho certeza que assim
que o mensageiro chegar em Villat mamãe também virá.
– Foi até bom você ter mandando aquele mensageiro. – Amanda tinha chegado pela manhã
e já sentia saudades da outra parte de sua família.
– James não se incomodou de ter ficado sozinho com as crianças?
– Ele não tem que se incomodar já que ele é o pai. Um dia ele vai ter que aprender a viver
sem mim. – Amanda disse sorrindo. – Maisa e Ian não poderiam ter um pai melhor e posso lhe
garantir que agora eles estão brincando no jardim e espero que na minha volta eles não tenham
colocado fogo na propriedade.
– Isso não, James não pode ser pior que você na cozinha a ponto de colocar fogo em tudo.
– Lilian soltou uma gargalhada.
– Engraçadinha. – Amanda ficou de pé. – Vou pedir que preparem um chá para você, mas
Lilian... Sugiro que converse com Allan.
– Sobre o que?
– Sobre nomes, vai precisar caso você realmente esteja grávida.
Grávida.
Grávida.
Grávida.
– GRÁVIDA? – Lilian se engasgou com a própria saliva e teve que tossir antes de
prosseguir. – Grávida?
– Ora Lilian todos os sinais apontam para isso e eu e você sabemos muito bem que
oportunidades não faltaram.
– Mas eu só vomitei, não significa que eu esteja grávida. – A voz dela saiu áspera e se viu
levando a mão até a barriga.
– Não foi só isso, além de vomitar não está se alimentando corretamente e tenho certeza
que se sente tonta e fraca, acertei? – Como Lilian afirmou, Amanda lhe deus as costas. – Volto
logo.
Lilian fechou os olhos pensando naquela possibilidade. Estaria grávida? Quando Allan
descobrisse... Oh Deus, ele ficaria louco. Mesmo contragosto seus olhos lacrimejaram e sentiu seu
coração pulsar só com a possibilidade de um pequeno ser estar crescendo dentro dela. A figura de
Allan se formou na porta do quarto e ela levantou os olhos para ver seu sorriso que logo se
desmanchou ao notar que ela estava chorando.
– O que aconteceu? – Com passos rápidos ele se aproximou da cama e sentou-se ao seu
lado.
– Nada... Quer dizer, aconteceu, mas... – Ela passou os braços pelo pescoço dele e o
abraçou com força, sentia como ele estava tenso ainda sem respostas e sorriu assim que a
respiração dele atingiu sua nuca.
– Preciso saber o motivo do seu choro, Lilian. – Ele disse com a voz rouca segurando seu
rosto.
– Amanda e eu achamos que... Que estou grávida!
Os olhos de Allan passaram de seu rosto para sua barriga. Hesitando ele pousou sua mão
ali e respirou fundo.
– Ainda não temos certeza, mas talvez nosso filho esteja aqui dentro. – Ela disse
colocando a mão sobre a dele.
Allan sentia seu coração pulsar à medida que ele processava as últimas palavras de sua
esposa. Seu filho poderia estar no ventre da mulher que amava e isso era música para seus
ouvidos, já poderia imaginar uma pequena Lilian o fazendo subir pelas paredes e o incendiar de
tanto amor. Ele a abraçou com ternura e logo em seguida beijou seus lábios com paixão, um
sorriso bobo brincou em seus lábios e a fitou com amor.
– Eu te amo. – Ele sussurrou ainda com os lábios grudados nos dela. – A amo tanto que
poderia enfrentar toda a Escócia só para ter você. Toda a Escócia e os exércitos de todos os
países juntos.
– Eu também amo você, Allan. O amo tanto que nem pode imaginar.
– Eu posso sim e sei o quanto é verdadeiro. Você é a mulher da minha vida Lilian, sempre
será!
E voltou a beijá-la. Amava aquela mulher com todas as suas forças e não seria Léa ou
qualquer outra pessoa que o faria deixá-la ir. O lugar dele seria sempre ao seu lado e naquele
momento Allan se deu conta de que se Lilian não existisse, ele também não poderia existir já que
eles agora eram um só.
Ah meu querido Bram, acredito que finalmente consegui cumprir a minha promessa.
Capítulo XXX
Amanda Craig Foster recostou-se na irmã e suspirou enquanto seus olhos observavam
atentamente a carruagem que adentrava nas terras de Allan. Sabia muito bem como lidar com
empecilhos como aquele e pelo que já tinha ouvido sobre Léa tinha certeza absoluta que seria
difícil expulsá-la, mas nada que um bom plano das Craig não resolvesse.
Quando a carruagem parou Allan cerrou seu maxilar e sentiu a fúria crescer dentro de si,
simplesmente não sabia como um ser poderia ser tão cruel e miserável quanto Léa.
Léa desceu da carruagem com um pequeno sorriso no rosto e caminhou até eles com
satisfação, Lucrécia estava ao seu lado também com um sorriso satisfeito e maneou a cabeça para
a filha.
– Onde está meu pequeno Bram? – Léa perguntou olhando fixamente para Allan ignorando
a presença de Lilian e Amanda.
– Quem é Bram? – Amanda perguntou com ironia.
– É o meu filho! – Léa mirou Amanda com precisão e franziu o cenho. –Quem é você?
– Seu filho? – Lilian a olhou com desdém. – Em primeiro lugar Walace não é seu filho, a
única coisa que você fez de bom nessa vida foi tê-lo colocado no mundo. Não o criou então
certamente não é a mãe dele. Eu sou a mãe de Walace e caso eu veja você se aproximando dele
cortarei seus dedos. – Lilian cruzou os braços com firmeza a vendo ficar surpresa por sua
resposta.
– E respondendo sua pergunta eu sou Amanda Craig Foster, e para você que é uma simples
ninguém, se refira a mim como senhora Foster ou senhora Craig.
– Walace... – Léa pronunciou com cautela. – Mudou o nome do nosso filho, Allan?
– Ele é meu filho. – Ele rosnou entre os dentes.
– Não é o que eu me lembro, você costumava passar quase a noite inteira acariciando
minha barriga e sussurrando o quando eu estava bonita grávida.
– E você sempre se virava me dando as costas com raiva. – Ele disse sorrindo, mas sem
humor. – Não pense que o fato de estar aqui me deixa feliz ou me faz lembrar dessas coisas, muito
pelo contrário, sua presença me faz querer pegar a espada e corta sua garganta lentamente.
Léa respirou fundo diante da expressão confusa no rosto da mãe, ele não iria ceder tão
facilmente.
– Você lembra de como me amava, sei disso. Mas por agora estou cansada, preciso de um
banho e estou faminta. Se me derem licença vou para meu quarto.
Léa deu as costas e caminhou alguns passos na direção do castelo, Lucrécia ficou parada
notando a forma presunçosa que Lilian sorria.
– Seu quarto não é por aí. – Lilian disse com firmeza. – Se me permite a acompanharei.
– Não entendo.
– Mas vai entender, lady Léa. – Amanda disse com escárnio seguindo sua irmã.
Enquanto caminhavam se afastando cada vez mais do castelo Léa sentia a fúria crescendo
dentro de si, deveria ter desconfiado que por trás de toda a aceitação teria algo planejado pela
bastarda Craig. Ela parou diante dos estábulos e se voltou para Allan ainda confusa.
– O que viemos fazer aqui? – Lucrécia perguntou.
– Estou lhe apresentando seus aposentos, continuem me seguindo por favor. – Lilian
caminhou à frente delas e adentrou no estábulo em silêncio.
Havia dois cavalos se alimentando de um lado e do outro havia duas camas improvisadas
com feno. Mesmo com o cobertor e arrumada, Léa poderia imaginar o quão desconfortável aquilo
seria. Encarou Lilian com fúria e depois Allan.
– Vamos dormir aqui?! Acho que não entendeu muito bem, a carta do príncipe dizia que...
– Dizia que teríamos que lhe dá um teto durante os trinta dias, simples assim. Bom, o
estábulo tem um teto e isso é o suficiente. Deveria me agradecer já que minha própria irmã fará
questão de cozinhar para vocês. – Lilian disse meneando a cabeça na direção de Amanda. – Tenha
certeza que isso é mais do que muita gente tem.
– Vai deixar a mãe do seu filho dormir em um estábulo, Allan? – Ela gritou com o tom de
escárnio na voz.
Allan a olhou com ceticismo e passou o braço em volta da cintura de Lilian.
– A mãe do meu filho dormirá ao meu lado no quarto principal do castelo, como tem feito
todas as noites desde que nos casamos. – Ele disse beijando a bochecha de Lilian.
Eles começaram a sair dos estábulos e Léa encarava as costas de todos com fúria. Olhou
ao redor novamente e sentiu-se humilhada por ter que dormir com os animais. As palavras de
Jacob ressoaram em sua mente e sentiu um arrepio subir por sua espinha, ele dissera que ela era
um animal e por ironia do destino agora estava dormindo com os cavalos.
– Temos que dá um jeito nessa maldita! – Lucrécia disse sentando-se no lado que foi
improvisado para ela. – Allan está rastejando aos pés dela como fazia com vocês antes de fugir!
A mente de Léa ficou paralisada por um momento lembrando-se de Jacob, ela ao menos lhe
presentou com uma morte rápida e sem dor, diferente de sua esposa. Ele havia a persuadido a
envenená-la e por fim cedeu, ela a matou com frieza enquanto observava a pobre moça agonizando
sentindo o veneno em seu corpo.
– O que disse? – Ela perguntou sentando e respirando fundo.
– Que ele está da mesma forma que era com você antes de fugir! – Lucrécia rosnou
revirando os olhos.
– Ele nunca vai me perdoar, mamãe.
– Quem precisa do perdão dele? Só precisamos das posses.
– Mas ele conseguiu amar alguém que o consolou. – Léa disse pensativa. – E é isso que eu
farei: vou consolá-lo quando ele descobrir que a bastarda Lilian também fugiu.
Lucrécia franziu o cenho confusa.
– E porque ela fugiria?
Léa levantou o olhar com um pequeno sorriso no rosto, ter um filho estava fora de questão
para ela, mas se fosse para tudo dar certo teria que tirar Lilian do caminho.
E era exatamente isso o que ela faria.
Lilian colocou Walace nos braços e beijou a face do menino com carinho. O colocaria para
dormir para então ir se deitar, ela precisava ter a certeza que ele estaria bem ou não iria conseguir
pregar o olho.
– Eu o levo até lá em cima. – Allan disse o tirando dos braços de Lilian.
– Eu posso levá-lo, como faço todas as noites. – Ela disse caminhando ao seu lado.
– Mas se realmente estiver grávida não poderá carregar Walace pra cima e pra baixo como
sempre faz, fará mal ao bebê. – Allan disse semicerrando os olhos – E terá que se alimentar
melhor, parar de cavalgar e descansar mais.
– Não estou doente, posso muito bem continuar a minha vida da mesma forma.
– Maman está grávida? – Walace perguntou sonolento.
– Ainda não sei meu amor, mas prometo que assim que minha barriga começar a crescer e
eu ficar gorda igual a uma vaca teremos certeza. – Ela disse sorrindo e arrancando gargalhadas do
menino.
– Você não vai ficar gorda feito uma vaca. – Allan ralhou. – Vai ficar linda, a mulher mais
incrível de toda a Escócia e eu estou ansioso para ver o rostinho da nossa lilianzinha.
– Mas eu quelo um irmão. – Walace disse.
– Quero. Vamos ter que esperar para ver querido, mas acostume-se ao fato de que poderá
ser uma menina.
– Se for uma menina eu e você teremos que nos preparar, Walace. Vamos colocar para
correr todos que tentarem se aproximar. – Allan disse com seriedade.
– Bobó também disse isso. – Walace falou bocejando.
Lilian revirou os olhos e abriu a porta do quarto. Allan colocou Walace na cama e
observou sua esposa deitar-se ao lado do filho com cautela. Walace começou a afagar os cabelos
da mãe com ternura e Allan sorriu. Simplesmente não se cansava de ver o quanto se amavam.
Quando Walace finalmente caiu no sono profundo, Lilian se levantou e saiu do quarto sem
fazer barulho sendo seguida por Allan. Assim que pisaram no corredor, Allan passou seus braços
pelos joelhos dela e a colocou no colo.
– Você é linda. – Ele sussurrou em seu ouvido.
– Você também é lindo. Meu esposo! – Ela disse beijando a bochecha dele. – Eu te amo.
– Eu também te amo, minha Lilian. – Ele disse com os lábios grudados no rosto dela. – E
não vejo a hora desse mês terminar e finalmente casar-mos diante de Deus e ficarmos juntos para
sempre.
– Ficaremos juntos pra sempre mesmo que você não queira. – Lilian disse sorrindo.
– E você acha mesmo que eu não iria querer uma coisa dessas?
– Você não pode mais se livrar de mim, Allan O’Brien. – Ela disse descendo dos braços
dele para adentrar no quarto.
– E quem disse que eu quero? – Perguntou fechando a porta atrás de si e a beijando com
paixão.
– Você é meu, Allan. – Ela murmurou contra os lábios dele.
– Somos um do outro. – Afirmou voltando a beijá-la.
Lilian se virou na cama encontrando o lado de Allan vazio, puxou o travesseiro dele para
junto de si e o abraçou se perguntando onde estaria seu marido. Nos três dias que se passaram ela
tinha visto Amanda continuar a colocar em prática seus planos mirabolantes. Léa e Lucrécia
seguiam tendo que comer o ensopado de Amanda, ou continuar com fome, Amanda não tinha
colocado mais ervas apenas para vê-las trabalhando.
Durante a manhã elas tinham que ir ao lago e lavar os cobertores, depois limpar o estábulo
diante da supervisão de Amanda que era bastante exigente, depois poderiam comer e voltar para
pentear os cavalos.
As duas se mantinham bem longe do castelo e Lilian imaginou que fosse por medo. A porta
do quarto se abriu e Allan adentrou. Seus cabelos estavam molhados e Lillian sentiu seu cheiro
invadir suas narinas assim que ele se deitou ao seu lado.
– Tem visita pra você lá embaixo. – Ele disse encostando seus lábios nos dela. – Não me
deixaram acordá-la.
– Mamãe já chegou? – Ela perguntou sentando na cama enquanto ele assentia. – Vou me
trocar.
– Espera. – Allan a segurou pela cintura e fez com que ela deitasse novamente. – Você nem
me deu bom dia.
– Bom dia. – Ela disse sorrindo e voltando a beijá-lo. – Walace já acordou?
– Está lá embaixo falando o quanto seu bobô é ótimo com as espadas. –Allan disse
revirando os olhos. –Eu nunca o vi falando assim sobre o pai dele.
Lilian gargalhou passando os dedos entre os fios de cabelo dele.
– Você é um guerreiro muito ciumento, Allan. Comigo, com Walace, Brenda...
– Com todos que eu amo. – Ele disse beijando o maxilar dela. – Ainda me lembro daquele
seu amigo.
– Ah, Niels. O que tem ele?
– O que tem ele? – Allan fez uma careta a encarando. – Ele só ficou muito decepcionado
em saber que você tinha casado. E foi com ele que você deu seu primeiro beijo! Isso me faz
querer vomitar.
– Não foi diferente quando eu conheci Greta. – Lilian disse sentando. –Não é como você
não tivesse um passado, mas isso não importa. Eu estou aqui agora e com você.
Allan voltou a beijá-la e depois a olhou com ternura.
– E eu nunca a deixaria se afastar.
– Agora eu vou levantar. – Lilian disse antes de beijá-lo. – Preciso me trocar e ver como
nossas hóspedes estam.
Allan ficou deitado a vendo se afastar, depois fechou os olhos pensando como seria o
encontro de Léa com a senhora Craig.
Assim que Lilian desceu as escadas os braços da mãe a envolveram em um abraço, quando
se separaram Alycia passou a mão pelo rosto da filha.
– Você está bem? – Alycia perguntou em tom maternal.
– Estou ótima, mamãe. Estou muito feliz que esteja aqui. – Ela disse sorrindo para logo em
seguida caminhar na direção do pai.
Richard e Lilian se abraçaram com ternura.
– Olha o que o bobô trouxe. – Walace disse mostrando para a mãe sua nova espada de
madeira.
– É lindo. – Lilian comentou beijando a face do filho.
– Walace, vamos deixar os adultos conversarem? – Brenda se aproximou lhe estendendo a
mão. – Vamos caminhar um pouco?
– Eu vou acompanhar vocês. – Alycia disse sorrindo e segurando a pequena mão do neto. –
Voltaremos logo, por favor, não deixem Amanda fazer nosso almoço.
– Mamãe! – Amanda ralhou enquanto todos sorriam.
Assim que os três saíram, Allan e Richard começaram uma conversa amistosa e Lilian e
Amanda saíram seguindo para o estábulo. Ao longe podiam ver alguns vestidos mal lavados
estendidos e Lilian sorriu imaginando como elas lavaram aquilo. As duas adentraram no estábulo
a tempo de ver Léa colocando mais vestidos dentro de um baú.
– Já estão indo embora? – Amanda perguntou com falso pesar na voz.
– Não é o que queriam? Conseguiram! Vou embora para nunca mais colocar meus pés nessa
terra maldita! – Léa rosnou entre os dentes se aproximando de Lilian. – Faça bom proveito de
Bram e Allan, nunca significaram nada para mim.
– É um favor você faz. – Lilian disse notando o quão fácil tinha sido a desistência delas,
Lucrécia seguia juntando seus pertences em silêncio enquanto Léa jogava os vestidos com fúria.
– Espero sinceramente que tenham uma vida infeliz! – Léa disparou fechando o baú. –
Tenho certeza que você planejou toda essa vingança desde o dia em que eu passei por aquele
portão.
– Na verdade pensei em como te matar desde que você enviou aquela maldita carta! –
Lilian disse entre os dentes.
Léa franziu o cenho confusa.
Carta?
– Eu não mandei nenhuma carta. – Léa disse a encarando com cautela.
– Suas mentiras soam tão sinceras que qualquer um poderia cair em seu veneno. – Lilian
lhe deu as costas e começou a andar pelo estábulo. – Você é tão cínica que escreveu aquela carta
como se tivesse saído para passear e estava voltando como se nada tivesse acontecido.
– Já lhe disse que não enviei nenhuma carta. – Léa disse se voltando para o baú. – Não
tenho mais porque mentir e sinceramente acredite no que quiser. Quem enviou a carta apenas quis
lhe enganar, acredita mesmo que eu perderia meu tempo com coisas como você?
– Acho melhor controlar sua língua antes que eu a corte. – Amanda disse cruzando os
braços na altura do peito.
Quis lhe enganar.
Mesmo sabendo que Léa não era confiável em algo ela tinha razão: ela não tinha mais
porque mentir.
– Quando voltou à Escócia? – Lilian perguntou.
– Faz três meses. – Léa disse dando de ombros.
Em poucos dias faria um ano que aquela maldita carta havia chegado. O coração de Lilian
batia forte enquanto sua mente se forçava a não acreditar no que era óbvio.
Vim para lhe dar uma notícia nada agradável, ele dissera. Recebi isso ontem a noite, um
mensageiro de Edimburgo levou para Inverness e depois o trouxe até aqui.
Estou voltando em buscas de resposta sobre Bram.
Allan tinha a enganado! Tudo agora parecia fazer sentido, tinha sido por causa da carta que
ela havia se casado com ele e tudo não passou de uma farsa para persuadi-la! Ela havia sofrido
pensando que Léa poderia voltar e tirar Walace dela...
Aquele mentiroso bastardo.
Lilian sentiu a fúria crescer dentro de si e saiu do estábulo com passos firmes. Ela sentiu
os raios de sol atingirem seu rosto ao mesmo tempo que Richard e Allan caminhavam lado a lado,
ela viu quando quando os olhos de seu esposo observaram sua expressão e Allan rapidamente
franziu o cenho notando o quanto ela estava irritada.
Lilian parou diante de Allan.
– Acontece... – Allan foi interrompido pela bofetada que Lilian havia disparado contra
ele.
– Você é um mentiroso! – Ela urrou entre os dentes diante da expressão confusa de seu pai.
– Você mentiu pra mim sem ao menos se preocupar como eu sofreria!
A mente de Allan trabalhou rapidamente lembrando-se da maldita carta.
– Lilian eu...
– Não tem explicação, Allan! – Lilian começou a andar de um lado para o outro. – Você
sabia que eu não aceitaria me casar com você, por isso forjou tudo aquilo! Você... Você viu como
eu fiquei depois que li e mesmo assim seguiu em frente.
– Só estava tentando proteger vocês! – Allan tentou se aproximar, mas Lilian bateu em sua
mão.
– Não encoste em mim, Allan O’Brien! Estou fervendo de raiva!
– Você forjou a carta? – A voz de Richard saiu arranhada e Allan trincou os dentes.
– Lilian eu amo você, acha mesmo que teríamos descoberto esse sentimento se
continuássemos a se enfrentar daquela forma? Teríamos nos matado!
– Pelo menos você não seria um mentiroso. Estaria morto, mas não mentiroso. – Lilian
rebateu. – Você deveria ao menos ter me contado depois de tudo.
– E você teria reagido da mesma forma!
– E COMO QUERIA QUE EU REAGISSE? QUE O AGRADECESSE POR TER
MENTIDO E ME ENGANADO?
Naquele momento algumas pessoas já tinham se aglomerado observando Lilian gritando
com o milorde do castelo. Entre elas estava Greta. Já sabia que Brenda tinha saído com Walace e
preferiu visitar sua mãe como de costume para não levantar suspeitas.
Allan olhou em volta e respirou fundo. Esse seria o preço a ser pago por sua mentira: uma
bofetada e um bom sermão na frente de todos.
– Amor, eu sei que errei. – Allan começou a encarando. – Mas não...
– ALLAN! – A voz de Brenda ecoou entre eles e todos se voltaram para ela que corria na
direção do castelo.
– Onde está mamãe e Walace? – Amanda perguntou em um murmúrio.
Allan foi ao encontro de sua irmã e a segurou pelos ombros.
– Onde está Walace? – Ele bradou em agonia.
– A condessa está lutando, me pediu para vir buscar ajuda. – Brenda disse ofegante. –
Walace não quis deixar a avó.
Antes mesmo que Allan pudesse pensar, Fergus lhe estendeu a espada e ele ficou ereto. Se
aproximou de Lilian mesmo contra sua vontade e a segurou firme pela cintura depositando um
beijo em seus lábios.
– Vou buscar nosso filho. – Disse rapidamente lhe dando as costas e seguindo na direção
de onde Brenda havia chegado.
Allan, Fergus e Richard seguiram junto de alguns guerreiros enquanto Amanda abraçava
sua irmã. Lilian sentiu seus joelhos enfraquecerem e começou a ser conduzida por Amanda para o
castelo.
– Mantenham as duas dentro do estábulo. – Lilian disse para um dos guerreiros que
rapidamente seguiu para cumprir a ordem de sua senhora.
– Eles trarão Walace de volta. – Amanda disse.
– Sei disso, mas... – Lilian não conseguiu mais se segurar e então desabou em lágrimas.
Sentia uma estranha sensação em seu peito e mesmo sabendo que estavam em maior
numero, um mal pressentimento a fazia temer por todos.
Meu querido e amado Walace, sabe muito bem que eu daria minha vida por você e por
sua mãe.
Capítulo XXXIII
Ao longe Allan conseguiu ver a condessa lutando, seu filho permanecia um pouco afastado
e assim que viu seu pai correu em sua direção.
– O leve para o castelo, Fergus. – Allan ordenou entregando Walace ao guerreiro.
Alycia empunhou a espada para o homem que tentou tirar seu neto e o fez cair no chão. Ela
parou por um instante lembrando a si mesma que não era mais tão jovem. Ela arfava com o
cansaço e agradeceu quando a lâmina de uma espada rasgou a carne daquele infeliz no ombro. Ela
sentou-se ainda cansada enquanto o homem gritava de dor ao mesmo tempo que Allan retirava a
lâmina lentamente.
Allan segurou o homem pelo ombro ferido e o fez ficar de pé.
– Quem o mandou aqui? – Allan perguntou entre os dentes enquanto Richard ajudava a
esposa.
– Milorde, por favor, não me mate. – O homem implorou soltando um gemido pela dor.
Milorde.
Isso significava que ele vivia nas terras dos O’Brien.
– Se não quiser um corte em seu pescoço responda à pergunta! – Alycia disse se
aproximando.
– Lady Greta me ofereceu uma boa recompensa, senhor. – O homem respondeu
rapidamente temendo que a ameaça daquela mulher se concretizasse. Ele tinha percebido o quanto
ela era ágil e astuta com a espada.
– Greta? – Allan franziu o cenho ainda segurando o infeliz. – O que pediriam? Dinheiro?
Terra?
– Ela disse que teríamos diamantes, elas viram o pequeno Bram com diamante!
Allan o soltou fazendo com que ele caísse no chão.
– Será punido por sua traição! – Allan disse para ele.
– Elas? – Alycia perguntou franzindo o cenho.
– A antiga senhora do castelo. – O homem tratou de responder diante do olhar da condessa.
Allan fechou as mãos em punho sentindo a raiva pulsar, Léa não era uma humana. Era uma
infeliz miserável que não pensava duas vezes quando o assunto eram seus interesses.
– Aquela miserável sairá das minhas terras hoje. Por bem ou por mal. –Allan disse
caminhando de volta para o castelo a passos largos.
Quando Amanda finalmente convenceu Lilian a se deitar, Fergus adentrou no corredor com
Walace nos braços. Amanda o levou para ver a mãe enquanto saia ordenando que ela continuasse
a descansar.
– Pegaram o homem? – Amanda perguntou.
– A condessa estava lutando, não vi o final da luta já que Allan me ordenou que viesse. –
Fergus respondeu andando ao seu lado.
– Lilian ordenou que mantivessem as duas cobras no estábulo até Allan retornar. Estou
preocupada com Lilian, toda essa confusão pode fazer mal ao bebê.
– Espero que nada de mal aconteça com ela. – Fergus disse. – Ah, senhora Foster?
– Apenas Amanda, por favor.
– Amanda... O pequeno Walace pediu para guardar isso. – Fergus entregou o diamante para
Amanda que segurou o objeto boquiaberta.
– Onde Walace conseguiu isso?
– Fiz a mesma pergunta e ele disse que foi aqui mesmo perto do castelo.
Amanda franziu o cenho enquanto observava atentamente o diamante. Como se uma batalha
tivesse sido travada em sua mente, ela desceu as escadas rapidamente e mesmo sem ter ordenado,
Fergus a seguiu. Amanda saiu do castelo com fúria ao mesmo tempo que Allan cruzava seu
caminho.
Ele estava sendo movido pela raiva e por isso mesmo não viu quando alguns cavalheiros
cruzaram suas terras. Allan passou por seus guerreiros e adentrou no estabulo encontrando Léa e
Lucrecia gritando.
– Ainda bem que você chegou, Allan. Eles não querem me deixar sair daqui e eu... – Léa
foi interrompida quando Allan se aproximou e segurou seus longos cabelos loiros. – Solte-me
agora mesmo, Allan.
– A soltarei, não se preocupe!
Allan a arrastou para fora sobre os olhares curiosos e a empurrou fazendo com que ela
caísse arranhando parte do rosto, quando ela levantou o olhar sentindo o rosto arder seu coração
quase parou. Ela engoliu em seco observando atentamente quem estava em cima do cavalo.
– Oh, meu Deus. – Lucrecia murmurou temendo o que estava por vir.
– Sir Allan, por favor, não gaste seus esforços com essa miserável. – O homem falou
entregando um olhar de desprezo para Léa. – Sou o conselheiro do príncipe da Escócia e estou
aqui para liberá-lo da ordem que permitia que essa mulher ficasse sob seu teto.
Sem pensar duas vezes, Léa engatinhou até Allan e abraçou sua cintura ainda de joelhos e
iniciou um choro compulsivo.
– Por favor, Allan. Me ajude! Eles vão me matar!
Allan a empurrou para longe e fitou o homem a sua frente.
– Esses cavalheiros que vieram comigo são ingleses. – O conselheiro disse. – Estão aqui
para prendê-la pela morte de Jacob Bells e sua esposa.
– Vocês prometeram que me protegeria! – Léa gritou entre os dentes ficando de pé.
– Se não a entregarmos teremos problemas com a corte inglesa e a Escocia não aprova
assassinos. – O conselheiro disse com escárnio.
Dois dos homens desceram do cavalo e seguraram Léa.
– NÃO PODEM FAZER ISSO! SOU INOCENTE, NUNCA MATEI NINGUÉM! – Léa se
debatia enquanto ataram suas mãos.
– Por favor, Allan faça algo para impedir! – Lucrécia disse com os olhos marejados.
– Sinceramente? – Allan disse entre os dentes. – Espero que sua filha morra nas mãos dos
ingleses.
Allan deu as costas mesmo ouvindo os gritos e insultos de Léa, e agradeceu internamente
quando viu Richard arrastar o homem que tentou levar Walace.
Mais ainda faltava Greta.
– Saia das minhas terras agora mesmo! – Allan rosnou para Lucrecia. –Onde está a mãe de
Greta?
– Não será preciso importunar a pobre senhora. – Lilian apareceu na entrada do castelo
guiando Greta com uma adaga próximo a seu pescoço. – Ela estava vasculhando o quarto de
Walace.
– Lilian, vá descansar! – Alycia ordenou se aproximando. – Nós cuidaremos dessa mulher.
Lilian mudou seu olhar para os homens que arrastavam Léa sem piedade e respirou fundo,
aquela mulher apenas estava pagando por todas as suas maldades.
Alycia empunhou a espada trocando de lugar com Lilian e fez com que Greta se
ajoelhasse.
– Por favor, senhora. – Ela disse baixo sentindo-se humilhada.
– Acho que você não pediu por favor quando decidiu sequestrar meu neto. – Alycia a
analisou com cuidado e observou o horror nos olhos da mãe daquela mulher. – Sua sorte é que eu
tenho piedade da pobre mulher que a colocou no mundo, por isso não cortarei sua garganta, mas
farei com que você se lembre da condessa Craig quando se olhar no espelho.
– O que vai fazer? – Greta perguntou aflita.
– Seus cabelos não são muito grandes. – Amanda disse se aproximando. –Eles demoram
para crescer?
Greta não respondeu e sentiu a lâmina apertar ainda mais em seu pescoço.
– Minha filha fez uma pergunta! – Alycia disse entre os dentes. – E eu não gosto quando
fazem minhas filhas esperarem.
– Sim, eles demoram a crescer!
– Ótimo! – Amanda disse em um tom animado.
– Acho que eles vão demorar ainda mais depois que minha espada os cortarem. Fio a fio.
– Alycia disse com um sorriso malicioso nos lábios.
Quando Walace caiu no sono agarrado ao diamante, Lilian beijou sua face e respirou
fundo. Léa estava bastante longe e nunca mais voltaria, Greta teve a lição que merecia e o homem
que tentou sequestrar Walace foi expulso das terras, não antes de ter levado alguns socos de Allan.
E Lucrécia... Lilian não sabia para onde ela tinha ido, mas provavelmente havia ido pedir abrigo
para a tia que Léa tinha dito.
Ter seu filho em segurança era o que dava tranquilidade para Lilian e o fato dele estar sã e
salvo era motivo o suficiente para ela dormir sem receio. Levantou-se devagar para não acordar o
pequenino e saiu do quarto fechando a porta atrás de si.
Ela encontrou Alycia no corredor que a esperava.
– Você está bem? – Alycia perguntou passando um dos braços ao redor dos ombros da filha
e começaram a andar lado a lado.
– Sim, e a senhora?
– Estou ótima! Fazia algum tempo que não lutava com alguém desconhecido, mas seu pai
está irritado.
– Por que?
– Ele acha que eu me arrisquei demais. – Alycia revirou os olhos. – Ele sabe que eu sou
invencível.
Lilian sorriu.
– Mas eu também fiquei com medo, tive uma sensação horrível quando Allan saiu atrás de
vocês. E papai está certo! – Lilian viu sua mãe franzir o cenho. – Ele só tem medo de perdê-la.
– Também tenho medo de perder seu pai, vocês, meus netos. Qualquer pessoa que eu ame.
Não sabemos quando algo poderá nos acontecer, por isso temos que amar cada dia mais. Nunca se
sabe quando vamos acordar e não encontrar quem amamos ao nosso lado.
Lilian ficou calada e respirou fundo.
– Allan pediu para vir falar comigo?
– Na verdade não. – Alycia parou. – Sei que ele errou, mas não seja tão dura com ele.
Imagine só se não tivessem se casado, não teriam descoberto esse sentimento e como você ficaria
caso perdesse Allan?
– Devastada. – Ela murmurou.
– Já tem sua resposta. – Alycia beijou a testa da filha e lhe deu as costas caminhando para
o lado oposto.
Tomando coragem, Lilian adentrou em seu quarto onde a velas já estavam acesas e ela
sorriu lembrando que Allan havia dado ordens para que assim que o sol sumisse as velas fossem
acesas. Lilian vestiu sua camisola e sentou-se à frente da penteadeira.
Enquanto penteava os fios negros a porta se abriu e Allan adentrou devagar, seus passos
lentos não fizeram barulho e em silêncio ele se colocou atrás dela.
– Sei que está irritada. – Ele começou cauteloso. – Mas saiba que não estou arrependido.
– Deveria! – Lilian se colocou de pé e se virou para encará-lo. – Você mentiu pra mim,
Allan. Me devo ao menos um pedido de desculpas.
– Não vou fazer isso. – Allan deitou-se na cama presunçosamente e viu os olhos de sua
amada esposa brilharem de irritação.
– Então é assim? Não vamos resolver isso?
– Eu já resolvi: não vou pedir desculpas e assunto encerrado. – Allan se virou na cama lhe
dando as costas e ouviu quando ela bufou com frustração.
Lilian terminou de se pentear ainda irritada e foi se deitar, ficou de costas para Allan e se
cobriu dos pés a cabeça tentando ignorá-lo. Não demorou muito para ela ouvir o barulho da cama
e logo em seguida a respiração de seu marido em sua nuca. O braço de Allan envolveu sua cintura
e com apenas um movimento, ele a puxou para perto de si.
– Sabe porque não pedirei desculpas? – A voz rouca de Allan fez com que ela sentisse frio
na barriga.
– Porque é um bufão.
Allan sorriu.
– Não, porque se eu não tivesse forjado aquela carta nós não teríamos nos casado e eu não
teria te amado como amo agora. Não teria decorado suas manias e nem mesmo me acostumado
com o seu cheiro grudado em mim por qualquer lugar que eu vá. Não teria me acostumado a me
deitar nessa cama ao seu lado sabendo que quando acordar a minha esposa e meu filho me farão
companhia no desjejum. Não teria conhecido as maluquices das mulheres da sua família e
principalmente... Não teria você aqui e agora e isso provavelmente seria o meu fim. Por isso eu
não vou pedir desculpas.
Lilian o encarou com ternura esquecendo-se da raiva, seus olhos marejaram sentindo seu
coração bater forte e envolveu seus braços no pescoço dele.
– Eu amo você! – Ela murmurou.
– Eu também te amo! – Allan disse para então beijá-la.
Seus lábios a beijaram com agilidade e quando se afastaram Lilian acariciou o lado que
ela tinha batido.
– Doeu muito? – Ela perguntou fazendo beicinho.
– Está doendo até agora. – Allan fingiu tristeza arrancando gargalhadas de sua esposa.
– Oh, meu querido esposo. Terei que beijá-lo até que se sinta melhor.
– Você tem uma mão pesada, então terá que me beijar por muitos e muitos anos. – Allan
disse perto de sua orelha.
– Obrigada, Allan. – Ela disse beijando o ombro dele. – Por ter salvado nosso filho
novamente e por me amar.
– Eu é quem agradeço, minha Lilian. Por ter finalmente me trazido a vida.
E então Lilian acariciou os fios negros de Allan fazendo com que ele se aproximasse ainda
mais dela. Um amor completo. Verdadeiro. E aquilo bastava para os dois.
Minha amada e querida Lilian, acredito que mesmo que você quisesse eu nunca
poderia deixar de amá-la.
Capítulo XXXIV
Léa sentia a garganta seca quando foi jogada para dentro da cela e quando ouviu o cadeado
fechar seu coração praticamente parou. Era o seu fim. Lucrécia provavelmente tinha ido buscar
abrigo com sua tia e encontrado, mesmo que tenha que sofrer algumas humilhações viveria muito
melhor que ela.
Sentou-se no chão pela falta de uma cama e retirou os sapatos para revelar a vermelhidão.
Seu estômago roncava e sua pele estava manchada não só pelos machucados, mas também pela
sujeira.
Uma sombra se formou na entrada e Leá levantou o olhar para ver o homem baixo que a
observava com atenção.
– Quem é você? – Ela sussurrou com a voz rouca por conta da ausência de água.
– Sou o pai da mulher que você matou. – Ele respondeu. – Sou o homem que passou anos
de sua vida cuidando e zelando por uma milady para você e aquele infeliz acabar com a vida da
minha filha.
Léa permaneceu calada.
– Espero que seus dias aqui sejam os piores possíveis, o que me dá mais alívio é saber
que Jacob foi morto por você. Assim ele também provou do próprio veneno. Que você tenha
longos dias de sofrimento. – O homem disse com escárnio para então lhe dá as costas e partir.
À medida que as horas passavam ela sentia mais frio, fome e sede. Léa nunca imaginou que
o silêncio seria tão torturante e mesmo que houvesse mais prisioneiros, ela não conseguia ouvir
nada.
Estava sozinha em um verdadeiro abismo.
A morte seria melhor, ela pensou. Não sabia se se sentia frustrada ou furiosa por estar
naquele lugar, a verdade era que ela não sentia nada. E aquilo era mais perturbador do que
qualquer sentimento.
Ano de 1453...
Allan caminhava tranquilamente observando as grandes montanhas que rodeavam suas
terras, ele tinha cortava o cabelo novamente e tirado sua barba e mesmo que tivesse passado
quatro anos depois de seu casamento, Lilian afirmava que ele não tinha mudado absolutamente
nada naquele período de tempo.
Ele parou para observar de longe sua esposa que estava sentada vendo as crianças
brincarem. Eles tinham achado mais diamantes, mas de todos eles, Allan tinha a certeza que o
maior era sua família.
Se aproximou devagar e sentou-se ao seu lado beijando sua face.
– Como estão nossos filhos?
– Todos ótimos! – Ela respondeu e se aconchegando nos braços dele.
Walace já estava com seus nove anos, e Kendrew e Kristal com três.
Os cabelos de Walace agora se resumiam em fios castanhos e os cabelos dos gêmeos eram
negros iguais ao de Lilian.
– E Kristal não insistiu mais?
Lilian sorriu.
– Sabe que quando ela completar cinco anos não vou mais esperar.
– Não acha muito cedo pra ela ganhar uma espada, mesmo sendo de madeira?
– Claro que não, Walace também ganhou uma nessa idade e não quero que as coisas sejam
diferentes para ela só porque é uma milady.
– A mais impetuosa de todas. – Allan murmurou enquanto sua filha corria em sua direção.
Kristal passou os braços ao redor do pescoço do pai e depositou um beijo em sua
bochecha.
– Se comportou bem? – Allan perguntou enquanto a menina assentiu.
– Mas não querem me deixar blincar. – Kristal disse apontando para Walace e Ragnar que
brincavam com as espadas de madeira sob o olhar atento de Kendrew.
– É que você é muito pequena e eu detestaria saber que se machucou. –Allan disse
beijando os dedinhos dela.
– Que tal eu e você tomarmos um banho no rio? – Lilian perguntou colocando o cabelo da
filha para trás.
Kristal a olhou com um pequeno sorriso presunçoso no rosto sabendo muito bem o que sua
mãe tinha em mente. Só porque Allan não a deixa brincar daquela forma não significava que Lilian
pensava a mesma coisa.
– Quelo! – Ela respondeu estendendo os braços para a mãe.
Lilian beijou Allan demoradamente e ficou de pé para segurar a mão de Kristal.
– Depois der algo para os meninos comerem e se chover coloque Kendrew rapidamente
para dentro. – Lilian disse lembrando-se que ultima vez que uma tempestade caiu em Inverness,
Allan ficou um tempo embaixo da chuva com os filhos e Kendrew tinha ficado doente.
– Eu aprendi a lição, Lilian. – Allan disse ficando de pé.
– Que bom! – Ela sorriu. – Eu amo você.
– Também amo você. – Ele respondeu a beijando novamente enquanto ouvia a pequena
Kristal reclamar baixinho. – Espero que ela sinta nojo disso pra sempre.
– Só nos seus sonhos, Allan O’Brien. – Lilian disse colocando a filha nos braços.
Enquanto caminhavam se afastando, Allan as observava atentamente sempre lembrando a
si mesmo que elas eram as joias que tinha que proteger para sempre. Do outro lado seus filhos
seguiam brincando e Allan já poderia imaginar os quão valentes guerreiros eles seriam.
Ele tocou o pingente em seu pescoço sentindo orgulho.
De seu lar.
De sua esposa.
De seus filhos.
Todos eles, o maior diamante de sua vida.
Minha pequena e querida Kristal, aqui vai o primeiro conselho de sua mãe sobre os
cavalheiros da Escócia. Se ele for um highlander de Inverness, pegue sua espada e o enfrente
para ganhar seu coração e ser a senhora de seu castelo.
Kendrew
Significado: "Varonil, valente".
Kristal
Significado: Aquela que guarda Cristo dentro de si.
NOTA DA AUTORA
Caro leitor(a), você deve está se perguntando o que aconteceu com Vitória, Fergus e
Brenda. Bom, existe um conto chamado No coração do guerreiro onde será descrito o desfecho
desse triângulo amoroso. Ano que vem estará disponível na Amazon.
Devido a alguns empecilhos, que incluem um TCC, só poderei retornar com Liliana ano que
vem. Conto com a compreensão de todos.
Para saber mais, basta me acompanhar nas redes sociais:
Perfil no Wattpad: @wang_soo
Perfil no Instagram: @soo_wang12
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS
LILIANA – AS IRMÃS CRAIG (LIVRO IV)
A maior virtude de Liliana Craig é a compaixão e é movida por esse mesmo sentimento
que ela acaba indo – depois de arduamente convencer seus pais – para um vilarejo afastado para
cuidar de alguns feridos. Com o mesmo dom de seu tio, ela parece ter encontrado seu lugar no
mundo. Em uma noite chuvosa ela acaba encontrando um homem a beira da morte, mesmo dando o
melhor de si o cavalheiro acaba não resistindo e morre em seus braços, mas antes ele lhe dá um
pingente e a faz prometer que protegeria aquilo com todas as suas forças.
Brayan Mcmillan estava esgotado, com fome, sede e sem ter parado durante dias a única
coisa em que ele pensava era em encontrar seu pagamento e finalmente voltar para sua fortaleza.
Ao chegar ao lugar combinado acaba descobrindo que seu devedor está morto, mas deixou seu
pagamento reservado em uma cabana no vilarejo. Quando ele vai revogar o que é seu por direito,
acaba por descobrir que a mulher de cabelos negros e olhos claros usava a prova de que ela era o
pagamento.
Sendo arrastada para a fortaleza pelo desconhecido, Liliana jura que ele pagaria por tudo,
mas ela não sabia o quão ferido e solitário aquele bárbaro poderia ser. Passando dias com
Brayan, Liliana percebe que o melhor lugar para ser aceita é no coração de alguém.
E agora mais do que nunca, uma pessoa extremamente agradecida por você ter lido até
aqui! Obrigada! *-*
Todas as imagens usadas nas ilustrações e para a capa foram retiradas do site pixabay.com