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SUMÁRIO

OS DOCENTES Página 3

CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE Página 5

INVASÔES BIOLÓGICAS Página 10

GEOTECNOLOGIA APLICADA À CONSERVAÇÂO Página 17

DIREITO AMBIENTAL Página 21

ÉTICA E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS Página 40

SUSTENTÁBILIDADE SÓCIOAMBIENTAL Página 68

TURISMO SUSTENTÁVEL DE BASE LOCAL Página 80

PLANEJAMENTO AMBIENTAL E GESTÃO PARTICIPATIVA Página 97

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OS DOCENTES
Adriana Paese
É bióloga pela Universidade Federal de São Carlos, Mestre em Ecologia e Recursos Naturais e
Doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela mesma universidade. Atualmente é Especialista em
Geoprocessamento da organização Conservação Internacional e colaboradora da Universidade
Federal do Amapá. Atua principalmente no tema Conservação da Biodiversidade.
Disciplinas nos cursos: Geotecnologia aplicada à Conservação e Visita de Campo
Contato: adripaese@gmail.com

Cecilia P. Alves Costa


É Bióloga pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mestre e Doutora em Ecologia pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atua como professora do Departamento de
Botânica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com as disciplinas de "Política e Gestão
Ambiental" e "Economia Ambiental". Também desenvolve pesquisa nas áreas de Ecologia e
Restauração da Biodiversidade.
Disciplinas nos cursos: Conservação da Biodiversidade e Visita de Campo
Contato: cepacosta@yahoo.com.br

Liza Baggio
É advogada pela Fundação Eurípedes Soares da Rocha de Marília, São Paulo, Mestra em Filosofia
do Direito com ênfase em Direito Ambiental Internacional, pela Universidade Paris X Nanterre,
França, e faz especialização em Gestão, Educação e Política Ambiental na Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE). Atua na área de Direito Ambiental.
Disciplina nos cursos: Direito Ambiental
Contato: lizabaggio@hotmail.com

Marcelo Pelizzoli
Possui graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS),
Especialização em Ciência Política, Mestrado em Antropologia Filosófica e Doutorado em Filosofia
pela PUCRS. Atualmente é professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atua nas
áreas Filosofia prática, Bioética e Meio Ambiente.
Disciplinas nos cursos: Ética e Resolução de Conflitos e Síntese e Avaliação
Contato: opelicano@gmail.com

Michele de Sá Dechoum
É Bióloga e Mestre em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atua
principalmente nos temas Gestão de Áreas Protegidas, Invasões Biológicas e Restauração de Áreas
Degradadas. Trabalha no Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul da The
Nature Conservancy - TNC
Disciplinas nos cursos: Invasões Biológicas e Visita de Campo
Contato: mdechoum@institutohorus.org.br

Carla Jeane Helfemsteller Coelho


Possui graduação em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição -
FAFIMC/RS (2000) e mestrado em Educação sobre o tema da Ética sob orientação do professor Dr.
Pergentino Stéfano Pivatto pela Pontificia Universidade Católica /RS (2004). Atualmente é doutoranda
em Educação junto ao Programa de pós graduação da UFBA e Pesquisadora junto ao GEPEASE
(Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Ambiental de Sergipe) e Projeto Sala Verde_UFS.
Disciplinas nos cursos: Planejamento Ambiental e Gestão Participativa, Síntese e Avaliação e
Trabalhos em Grupo
Contato: ccfilos2@yahoo.com.br

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Severino Rodrigo Ribeiro Pinto
É Biólogo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestre em Biologia Vegetal e
doutorando em Biologia Vegetal pela UFPE. Atua nas áreas de Ecologia Vegetal, Conservação da
Biodiversidade, Efeitos da Fragmentação de Habitats e Sistema de Informações Geográficas (SIG).
Disciplinas nos cursos: Conservação da Biodiversidade e Geotecnologia aplicada à
Conservação
Contato: severinorodrigo@yahoo.com.br

Thomas Enlazador
É Bacharel em Direito com especialização em Ecoturismo, Legislação e Educação Ambiental e
mestrando pelo PRODEMA - Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). Atua principalmente nos temas Educação Ambiental, Cultura de Paz
e Economia Solidária
Disciplinas nos cursos: Sustentabilidade Sócioambiental e Turismo Sustentável de Base Local
Contato: ecopedagogia@gmail.com

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CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
Docentes
Cecília P. Alves Costa – Professora do Departamento de Botânica, CCB/UFPE.
Contato: cepacosta@yahoo.com.br
Severino Rodrigo – Pesquisador do CEPAN e doutorando em Biologia Vegetal, CCB/UFPE.
Contato: severinorodrigo@yahoo.com.br

Ementa
Esta disciplina pretende estimular cada estudante a uma reflexão crítica sobre a importância da
biodiversidade, desde o contexto de seu próprio cotidiano até uma escala global, identificando as
maiores ameaças e as conseqüências das políticas nacionais e internacionais para sua conservação.
Além disso, a disciplina pretende apresentar as alternativas econômicas e sustentáveis para explorar
essa biodiversidade, bem como para sua manutenção a médio e longo prazo nas unidades de
conservação.

Objetivo
Capacitar os gestores de Unidades de Conservação a:
a) identificar os serviços ambientais prestados pelas UC’s;
b) identificar atividades geradoras de impacto ambiental;
c) identificar e prever as conseqüências destas atividades para a manutenção da biodiversidade
e dos serviços ambientais a curto, médio e longo prazos;
d) elaborar estratégias que minimizem os efeitos de tais impactos;
e) planejar o zoneamento da unidade e da paisagem do entorno de forma a maximizar a sua
efetividade em conservar a biodiversidade e os serviços ambientais;
f) identificar e monitorar indicadores ambientais;
g) efetivar o cumprimento de todos os objetivos da criação da UC.

Conteúdo Programático
• Mata Atlântica: conceito, biodiversidade e situação atual
• Métodos para estimativa e monitoramento da biodiversidade
• Serviços ambientais prestados pela Mata Atlântica
• Causas e conseqüências do desmatamento e outros impactos ambientais
• Os desafios das mudanças climáticas
• Desafios da conservação da biodiversidade dentro das UC’s e seu entorno
• Recuperação de áreas degradadas
• Planejamento de Unidades de Conservação e seu entorno
• Extinções de espécies
• Manejo da vida silvestre
• Ferramentas para ajudar na conservação da Mata Atlântica

Metodologia
Dinâmicas de grupo, simulações, aulas expositivas e exercícios de planejamento de UC’s e seu
entorno. Visita à UC e diagnóstico ambiental.

Bibliografia Básica
Cullen JR, L., Rudran, R. & Valladares-Pádua, C. B. 2003. Métodos de Estudos em Biologia da
Conservação e Manejo da Vida Silvestre. 1. ed. Editora UFPR, Curitiba, PR. 665 p.
Kageyama, P. Y. ; Oliveira, R. E.; Gandara, F. B. 2003. Restauração ecológica de ecossistemas
naturais. FEPAF, Botucatu, SP. 340 p.
Meirelles Filho, J. 2007. O livro de ouro da Amazônia. Ediouro. 400 p.
Primack, R.B. & Rodrigues, E. 2001. Biologia da Conservação. Editora Planta, Curitiba, PR. 328 p.
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Porto, K., Cortez, J. A., Tabarelli, M. 2006. Diversidade biológica e conservação da floresta Atlântica
ao norte do Rio São Francisco. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, Coleção Biodiversidade
14, v. 1. 280 p.
Santos, R.F. 2004. Planejamento Ambiental: teoria e prática. Editora Oficina de Texto, SP. 184p.

1. Histórico
No final da década de 60, a degradação ambiental começa a ser discutida
internacionalmente. O principal motivo para isso é a publicação do livro “Primavera Silenciosa”, em
1962, onde Rachel Carson denuncia que o DDT que vinha sendo aplicado nas lavouras dos Estados
Unidos estava sendo encontrado no organismo de aves a milhares de quilômetros dali e até mesmo
no leite materno, podendo causar câncer e alterações genéticas. A publicação deste livro fez com que
as pessoas compreendessem que todos podemos sofrer as conseqüências das ações humanas que
vêm sendo irresponsavelmente empreendidas em qualquer local do planeta. Uma reunião
internacional feita posteriormente promovida pelo “Clube de Roma” com o objetivo de discutir as
implicações destes problemas para o crescimento econômico concluiu que temos que impor “Limites
ao Crescimento” (título do documento publicado em 1972), pois os recursos ambientais são limitados
e dependemos deles para nossa sobrevivência. Neste cenário surge a “Biologia da Conservação” que
tem por objetivo o estudo das conseqüências das atividades humanas nos recursos naturais, nos
ecossistemas e na sobrevivência de espécies animais e vegetais. Os resultados destes estudos são
então usados para o delineamento de ações que sirvam para evitar ou minimizar os efeitos danosos
das atividades humanas, de modo a “conservar” a imensa variedade de formas de vida existentes no
planeta.

2. O que é biodiversidade?
De acordo com o Fundo Mundial para a natureza (1989) é: “a riqueza da vida na terra, os
milhões de plantas, animais e microorganismos, os genes que eles contêm e os locais que esses
organismos ajudam a construir no meio ambiente”. Portanto, todos esses níveis de diversidade
biológica (espécies, genes e ecossistemas) são necessários para a sobrevivência contínua das
espécies e das comunidades naturais e todos são importantes para a espécie humana.

3. Por que proteger a biodiversidade?


A diversidade de espécies fornece recursos e alternativas de recursos para as pessoas; por
exemplo, uma área de floresta com muitas espécies produz uma ampla variedade de plantas e
produtos animais que podem ser usados para a alimentação, abrigo e medicamentos. Logo, se essa
diversidade for utilizada de forma irracional todos esses serviços fornecidos pela natureza não serão
mais disponíveis.
Além disso, não precisamos associar uma vantagem para os seres humanos para reconhecer
que cada espécie tem um valor intrínseco, cada uma contém informações únicas acumuladas em
centenas a milhares de anos ao longo de sua evolução.

4. O que são serviços ambientais?


Serviços ambientais são funções naturalmente desempenhadas pelos ecossistemas e que
são essenciais para a qualidade de vida humana e de outros seres. Atualmente a relevância destas
funções para as atividades econômicas e sociais tem sido reconhecida, de forma que tais funções
passaram a ser reconhecidas como serviços ambientais. Neste novo contexto fica claro que se a
natureza presta serviços eles deveriam ser valorizados, pois, uma vez que deixem de ser prestados
implicaram em prejuízos sócio-econômicos. Alguns dos serviços prestados pela natureza são: a
regulação climática, o armazenamento de carbono, a ciclagem de água, a polinização, a manutenção
da biodiversidade, a retenção e manutenção da fertilidade do solo, dentre centenas de outros
serviços. Assim, se os ecossistemas são destruídos estes serviços deixam de ser prestados. Este é o
caso, por exemplo, da perda de fertilidade do solo decorrente da remoção das florestas, que tem
como uma de suas conseqüências o gasto de dinheiro com fertilizantes sintéticos, que por sua vez
levam a uma série de outros prejuízos ambientais.
Uma vez que estes serviços começam a ser valorizados, estão se criando mecanismos para
remunerar aqueles que conservam as florestas, sejam públicas ou privadas, de modo a garantir que
estas continuem a existir. O protocolo de Quioto é um dos maiores exemplos disso, onde a

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capacidade das florestas em armazenar carbono está sendo negociada a partir da criação dos
mercados de carbono.

5. Quais os locais que possuem alta diversidade biológica?


As florestas tropicais são os ecossistemas terrestres que possuem o maior número de
espécies de organismos por unidade de área (dentre plantas, animais, fungos e microorganismos).
Apesar de cobrirem apenas 7% da superfície terrestre, elas concentram metade das espécies do
mundo. Um exemplo de floresta tropical é a Mata Atlântica brasileira, local que bateu o recorde
mundial de diversidade, já que na Bahia foram encontradas mais de 400 espécies de árvores em um
único hectare de floresta!!! Dada a magnitude de sua importância, a Mata Atlântica está na lista dos
biomas mais importantes do mundo, sendo considerada um “hotspots”, ou seja, um “ponto quente” de
biodiversidade. Para ser classificada como “hotspots” uma área precisa ter alta diversidade de
espécies, inclusive espécies endêmicas (ou seja, espécies que não estão presentes em outros
lugares do mundo) e estar altamente ameaçada. Este último critério é aceito para regiões onde
restam menos de 20% da cobertura original da vegetação nativa. No caso da Mata Atlântica, restam
apenas cerca de 8% da cobertura original, o que coloca este bioma como o segundo mais ameaçado
do mundo (o primeiro é a floresta de Madagascar). No entanto, na região de Mata Atlântica ao norte
do Rio São Francisco (que abrange os estados de Alagoas até o Rio Grande do Norte) restam menos
de 4% da floresta nativa, de modo que este é o trecho de floresta tropical mais devastado do mundo.
“É neste cenário que você gestor de Unidades de Conservação da região nordeste terá que atuar.
Isso faz com que seu trabalho seja um dos mais desafiadores do mundo, por outro lado, dá a você a
oportunidade de fazer parte da história da reconstrução da floresta que outrora foi a mais rica do
planeta.”

6. O que são corredores de biodiversidade?


Corredores de biodiversidade são extensas áreas onde a conservação da biodiversidade é
pensada em uma escala regional, que combina várias unidades de conservação e remanescentes de
vegetação nativa. Assim, o objetivo das áreas escolhidas para a implantação de corredores de
biodiversidade é propiciar o máximo de conectividade entre os elementos naturais da paisagem,
fomentando atividades econômicas compatíveis com a conservação dos recursos naturais. Para isso
há um planejamento da configuração da paisagem, de modo a se selecionar áreas destinadas a
restauração da cobertura florestal, aumentar a permeabilidade da matriz e planejar o crescimento
sócio-econômico e urbano. Veja mais detalhes em www.corredor.org.br.

7. Quais os critérios para escolher locais prioritários para a implantação de


novas unidades de conservação?
Atualmente a forma mais efetiva da escolha de novas unidades de conservação é feita
através de modelos que combinam a diversidade de espécies dos mais diversos tipos de organismos
(por exemplo, insetos, fungos, aves, répteis, anfíbios, mamíferos, plantas vasculares, etc.) com
características da paisagem, como tamanho dos fragmentos de uma dada região, porcentagem da
área dessa região coberta por vegetação nativa, tipo de matriz (a atividade desenvolvida no entorno
dos fragmentos, por exemplo, cana-de-açúcar, pastagens), pressão antrópica, dentre outros. No
entanto, está claro que apenas as unidades de conservação não são suficientes para garantir a
manutenção da biodiversidade a médio e longo prazo, de modo que a restauração da cobertura
vegetal nativa e o desenvolvimento de atividades sustentáveis precisam ser estimulados. A página
www.corredores.org.br disponibiliza o documento “Planejando Paisagens Sustentáveis”, onde uma
série de critérios são apontados para a seleção das áreas prioritárias para conservação da
biodiversidade.

8. Como recuperar áreas degradadas?


O planejamento ambiental da paisagem fornece subsídios para se avaliar quais são as áreas
prioritárias para a recuperação. No entanto, de modo geral podemos priorizar as áreas muito
inclinadas, topos de morro, nascentes e as áreas ao longo de rios, ou seja, as áreas que o código
florestal designa de áreas de preservação permanente. A recuperação destas áreas deve ser
priorizada, pois a sua degradação implica em perda de solo fértil, assoreamento e contaminação de
rios com conseqüente redução na qualidade e quantidade de água para consumo humano,
diminuição da pesca, dentre outras graves conseqüências. Os detalhes de como proceder para a
recuperação de áreas degradadas podem ser encontradas em www.cepan.org.br/promata.
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9. Como trabalhar com uma educação ambiental que contribua para a
conservação?
Mais detalhes podem ser encontrados na apostila sobre “Ética e Educação ambiental” (2º
módulo), porém é imprescindível que as atividades propostas sejam práticas e contextualizadas no
cotidiano dos educandos. O livro “Nossa Vida como Gaia” pode ser uma boa fonte de inspiração de
como fazer isso, bem como o livro “Alfabetização Ecológica”.

10. O que é uma área protegida?


São áreas destinadas a proteção dos ecossistemas naturais e podem ser tanto em ambiente
terrestre quanto marinho. As Unidades de Conservação são uma das categorias de áreas protegidas.
Porém há outros tipos, como por exemplo, as reservas da biosfera e as reservas do patrimônio
natural. Há também pessoas físicas e jurídicas que compram áreas para fins de proteção do
ecossistema natural, sem, no entanto, formalizar estas áreas como unidades de conservação.

11. O que são impactos ambientais?


Segundo a resolução Conama 01/86, impactos ambientais são alterações ambientais (físicas,
químicas e/ou biológicas) causadas por atividades humanas e que afetam:
a) a saúde, a segurança e o bem-estar da população humana;
b) as atividades sociais e econômicas;
c) a biota (que inclui todos os seres vivos);
d) as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
e) a qualidade dos recursos ambientais.

12. Quais são as atividades humanas que mais causam impactos ambientais?
As atividades humanas causadoras dos maiores impactos ambientais são:
a) as atividades agrícolas baseadas em monoculturas, latifúndios e transgênicos,
b) a pecuária intensiva e extensiva em larga escala,
c) as atividades que contribuem para o aquecimento global, como as duas citadas acima (já que
dependem do desmatamento) e aquelas cuja energia é baseada na queima de combustíveis
fósseis (ex. parte do transporte e indústrias),
d) o consumismo,
e) a aglomeração de pessoas em grandes centros urbanos,
f) o crescimento populacional humano (mas a má distribuição e gestão dos recursos é de longe
o maior problema),
g) a globalização e o capitalismo,
h) corrupção e burocracia
i) educação escolar alienante e desvinculada do cotidiano,
j) desigualdades sociais entre pessoas e países, ambas agravada pela cobrança da dívida
e(x)terna,
Tais atividades são a base e ao mesmo tempo conseqüência do modelo econômico e
político atual que abrange a maior parte dos países do mundo. Compreender isso pode levar a um
sentimento de impotência naqueles que estão comprometidos com a gestão adequada do meio-
ambiente, no entanto, é imprescindível para que as ações sejam focadas nas causas reais da
degradação ambiental, a fim de que seja de fato possível viabilizar um desenvolvimento
“verdadeiramente” sustentável.

13. Quais as conseqüências das atividades humanas geradoras de impacto


para a conservação dos ecossistemas naturais?
As atividades mencionadas no item anterior são responsáveis direta ou indiretamente pelo
desaparecimento dos ecossistemas naturais. O grande problema é que a extensão desta destruição
compromete o funcionamento e a conservação das áreas naturais que ainda restam. Entenda abaixo,
porque isso pode acontecer.
a) Fragmentação da floresta - esse processo consiste de uma diminuição e divisão de uma
área contínua de floresta (Figura 1). Como resultado, temos pequenas manchas de floresta com
diferentes formas. Estas manchas ficam imersas em locais onde não ocorre floresta, esses locais são
conhecidos como matriz. Na região nordeste, em sua maioria, essa matriz está representada pela

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cana-de-açúcar. As principais causas da fragmentação de floresta são provenientes de interferências
humanas como construção de estradas, estabelecimento de áreas para a agricultura, loteamento
para construção civil entre outras.

ÁREA CONTÍNUA
Fragmentação
DE FLORESTA

Figura 1. Processo de fragmentação florestal.


Matriz Não Florestada

b) Destruição e degradação do local de ocorrência das espécies - as espécies animais e vegetais


podem ser prejudicadas também pela destruição do seu local de ocorrência. Essa destruição se dá
principalmente pela poluição ambiental sendo essa poluição representada principalmente pela
utilização de pesticidas, os produtos químicos e o esgoto liberado pelas indústrias e por
comunidades, emissões de fábricas de automóveis e a erosão das encostas. Os efeitos gerais da
poluição na qualidade do ar, na qualidade da água, e até mesmo no clima da terra são causas de
grandes preocupações, não apenas como ameaças a diversidade biológica, mas também por causa
dos seus efeitos na saúde humana.

c) Superexploração - os seres humanos sempre caçaram ou exploraram recursos naturais para


sobreviver. Enquanto as populações humanas eram pequenas e seus métodos de coleta não eram
sofisticados, as pessoas podiam colher e caçar as plantas e animais de seu ambiente de maneira
racional, sem prejudicar a existência das espécies. Entretanto, assim que as populações humanas
cresceram, o uso do ambiente se intensificou. Métodos de colheita se tornaram muito mais eficientes.
Com isso uma quantidade maior de espécies pôde ser explorada de modo mais eficiente, levando a
uma diminuição muito brusca da quantidade de indivíduos nas populações. Essa alta exploração de
espécies por atividades humanas é conhecida como superexploração.

d) Introdução de espécies exóticas - algumas espécies possuem ocorrência restrita a determinados


ambientes. Essa restrição é conseqüência de barreiras climáticas e ambientais para a dispersão.
Quando uma espécie é introduzida em um ambiente no qual a mesma não ocorre, essa espécie pode
competir com uma espécie nativa, ou seja, uma espécie que ocorre naturalmente nesse ambiente.
Como a espécie introduzida não possui nenhuma característica restritiva para esse novo ambiente,
como por exemplo uma outra espécie que possa se alimentar dela, essa espécie exótica consegue
excluir a espécie nativa levando-a a desaparecer.

14. Quais as espécies que possuem maior risco de extinção?


As espécies que possuem maior risco de desaparecer do meio ambiente estão listadas
abaixo em categorias. Essas espécies precisam ser cuidadosamente monitoradas e enquadradas em
projetos de conservação.
• Espécies com área de ocorrência limitada,
• Espécies com uma ou poucas populações,
• Espécies com populações pequenas,
• Espécies com populações que estão diminuindo,
• Espécies que precisam de grandes áreas, como os predadores de topo,
• Espécies de grande porte,
• Espécies que fazem migração,
• Espécies que são caçadas.

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INVASÕES BIOLÓGICAS

Docente
Michele de Sá Dechoum – The Nature Conservancy
Contato: mdechoum@institutohorus.org.br

Ementa
Fornecer aos gestores uma base científica sobre espécies exóticas invasoras e invasões biológicas,
para aplicação prática no campo em controle de invasoras em unidades de conservação.

Objetivos
• Fornecer conceitos básicos e definições usadas na ciência das invasões biológicas.
• Apresentar contexto atual de problemas de invasões biológicas.
• Analisar conceitos ecológicos chave para interpretar invasões biológicas.
• Analisar aspectos críticos de estratégia de manejo, incluindo atividades de prevenção,
estabelecimento de prioridades de controle ou erradicação.
• Fornecer diretrizes para manejo de espécies exóticas invasoras em unidades de conservação
e seu entorno.
• Identificar processos de invasão biológica em campo.

Conteúdo Programático
• Conceitos básicos e introdutórios sobre a ciência das invasões biológicas
• Diagnóstico de processos de invasão
• Impactos econômicos, sociais, culturais e à saúde
• Impactos ambientais, à diversidade biológica e a ecossistemas
• Conceitos – Introdução, potencial de invasão, adaptação, dispersão, vetores, rotas de
dispersão
• Manejo de invasoras
• Prevenção e detecção precoce, controle e erradicação
• Marcos legais nacionais e internacionais
• Programas globais e internacionais e fontes de informação
• Espécies Invasoras e Planos de Manejo de Unidades de Conservação e seu entorno
• Invasões biológicas na Mata Atlântica – estudos de caso

Metodologia
Aulas expositivas/participativas, exposição de vídeo, trabalhos em grupo, vivência, análise e
discussão de estudos de caso e de estratégias para gestão de unidades de conservação e seu
entorno, no que diz respeito a invasões biológicas. Visita à UC e diagnóstico de processos de
invasão, com definição de medidas de controle.

Bibliografia Básica
www.institutohorus.org.br
http://i3n.iabin.net

BASKIN, Y. A plague of rats and rubber-vines. The growing threat of species invasions. The
Scientific Comitee of Problems on the Environment (SCOPE). Island Press, Washington, 377 pp. 2002
COBLENTZ, B.E., 1990. Exotic organisms: a dilemma for conservation biology. Conservation Biology,
4(3): 261-265.
ELTON, C. S. The ecology of invasions by animals and plants. The University of Chicago Press,
Chicago. 181p. 1958.

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FERNANDEZ, F. A. S. Invasores de outros mundos: perda de biodiversidade por contaminação
biológica. In: Anais do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, 4. Curitiba: Fundação O
Boticário de Proteção à Natureza - Rede Nacional Pró Unidades de Conservação. v.2, p. 52-63. 2004.
MATTHEWS, S. América do Sul invadida - a crescente ameaça das espécies exóticas
invasoras. Programa Global de Espécies Invasoras (GISP). 2005.
ZILLER, S.R. & DECHOUM, M.S. Degradação Ambiental causada por plantas exóticas invasoras ras para e
soluções para o manejo em unidades de conservação de proteção integral. In: Barbosa, L.
0
M. & Junior, N.A.S. (eds.). Anais do 58 Congresso Nacional de Botânica. Instituto de
Botânica de São Paulo, São Paulo. p.356-360. 2007.

Espécies Exóticas Invasoras


Espécies exóticas são aquelas que ocorrem fora de seu hábitat natural. Já espécies exóticas
invasoras são plantas, animais e outros seres vivos que, uma vez introduzidos a um novo ambiente,
como resultado de introdução acidental ou intencional por atividade humana, se adaptam, se
reproduzem e exercem dominância, ameaçando espécies, hábitats ou ecossistemas (Convenção da
Diversidade Biológica, Decisão VI/23).
Essas espécies adaptam-se ao novo ambiente e passam a se reproduzir, de modo que o
aumento populacional tende a eliminar espécies nativas e a dominar o novo ambiente, provocando
danos a ecossistemas, à saúde de populações humanas ou mesmo aos sistemas de produção,
provocando grandes danos econômicos.
A dispersão de espécies exóticas invasoras é hoje reconhecida como uma das maiores
ameaças ao bem-estar ecológico e econômico do planeta e se equiparam aos impactos das
mudanças climáticas.

Processo de Invasão
O processo de invasão pode ser compreendido como uma série de etapas sucessivas - para
atingir cada uma, a espécie deve ultrapassar uma série de barreiras (Richardson et al., 2000). A
primeira barreira é a geográfica (o oceano, uma cadeia de montanhas, uma região desértica). A
espécie que consegue ultrapassar esta barreira com ajuda humana intencional ou acidental é
considerada “introduzida”.

BARREIRA GEOGRÁFICA

INTRODUÇÃO

BARREIRA AMBIENTAL

ESTABELECIMENTO

BARREIRA DE DISPERSÃO

INVASÃO

Por Sergio Zalba, Universidad del Sur, Argentina, adaptado de Richardson et al. 2000. Naturalization
and invasion of alien plants: concepts and definitions.

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A segunda barreira é relacionada às limitações ambientais que condicionam a capacidade
reprodutiva de espécies introduzidas. Quando a espécie passa a se reproduzir e formar populações
auto-sustentáveis, ela é denominada uma espécie “estabelecida”.
A terceira barreira inclui características ambientais (presença de predadores naturais, falta de
agentes dispersores, etc.) que inibem a dispersão de espécies estabelecidas. Uma espécie invasora
é aquela que ultrapassa esta barreira e avança extensivamente sobre o novo hábitat.

Impactos ambientais
Espécies exóticas invasoras são a maior causa de perda de biodiversidade em áreas
protegidas e em ilhas oceânicas. Os impactos ambientais de espécies exóticas invasoras variam de
acordo com cada espécie e ambiente. O impacto mais freqüente decorre da dominância do meio
invadido, o que implica a expulsão de espécies nativas, a redução de populações naturais, por vezes
com risco de extinções locais (Ziller & Galvão, 2002). Podem ocasionar a quebra de cadeias tróficas,
a alteração de ciclos naturais, de características químicas ou físicas de solos e do equilíbrio hídrico,
especialmente quando há invasão de espécies arbóreas sobre ambientes campestres ou de cerrado
(Ziller & Galvão, 2002).
Alterações nos ciclos ecológicos são comuns, desde a mudança no regime de incêndios
naturais por plantas que são altamente inflamáveis, até o rebaixamento do lençol freático por maior
consumo de água e a alteração química de solos por injeção de nitrogênio, especialmente por
leguminosas (Ziller, 2000). O desencadeamento de processos erosivos é comum na invasão de
ecossistemas abertos, naturalmente compostos de heliófitas, por plantas de maior porte que, em
função de sombreamento, eliminam a cobertura natural e expõem o solo à erosão. Por conseqüência,
ocorre a sedimentação em áreas úmidas e corpos d’água, com impactos negativos sobre os
ecossistemas aquáticos.
Esses processos de invasão biológica têm conseqüências em cadeia – por exemplo, plantas
invasoras que aparentemente beneficiam algumas espécies da fauna trazem desequilíbrios, pois, à
medida que a invasão se avoluma, ocorre dominância da invasora e, enquanto as populações de
espécies vegetais nativas diminuem, as populações das espécies da fauna que se alimentam da
invasora aumentam. Isso pode levar ao estabelecimento ou à acentuação de relações ecológicas
desarmônicas intra e inter-específicas.
A transformação de áreas naturais pela dominância de invasoras tende a favorecer apenas
um pequeno número de espécies oportunistas da fauna nativa, alterando o equilíbrio dinâmico e a
estrutura dos sistemas estabelecidos, incluindo cadeias/teias alimentares e interações ecológicas
existentes entre as espécies. Estudos de médio prazo realizados na África do Sul mostram que a
remoção de invasoras e a conseqüente redução da dominância geram aumento na biodiversidade
(Working for Water, s/d).

Introdução
Ao longo de sua história, a humanidade tem transportado milhares de espécies para fora de
suas regiões de ocorrência natural. Muitos animais e plantas foram e são movidos propositalmente,
com intenção de promover segurança alimentar, disponibilidade de combustível ou atender a outras
necessidades associadas a diferentes atividades humanas.
Outras espécies, todavia, viajam desapercebidas em carregamentos de sementes, madeira,
ou na água de lastro de navios. Frequentemente também, a introdução de espécies exóticas é
promovida por projetos econômicos baseados em argumentos técnicos questionáveis, que prometem
grandes retornos, mas não consideram, ou evitam apontar os riscos potenciais da introdução em
relação a outros valores, culturais, econômicos e ambientais.
O fracasso econômico das iniciativas de introdução de espécies sem estudos adequados de
mercado é mais freqüente do que o sucesso, especialmente se considerarmos a socialização dos
prejuízos e a concentração dos restritos benefícios. Exemplos contundentes no Brasil são o
caramujo-gigante-africano, a rã-touro e o javali.

Vetores
Vetores são meios físicos pelos quais espécies exóticas são transportadas. Alguns exemplos
são: água, bóias de navegação, containers, correspondência, correntes, embalagens, barcos de
recreação, equipamentos de mergulho, equipamento de pesca e mergulho, água de lastro, calçados,
veículos terrestres, vento, etc.

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Rotas de dispersão
Refere-se aos caminhos por onde as espécies viajam. É importante que se conheça a rota de
dispersão de uma espécie para que possamos saber qual o histórico de transporte da espécie pelo
mundo, quantas vezes a mesma foi introduzida e qual o intervalo de tempo até que se torne invasora
em diferentes tipos de ambientes.

Prevenção e detecção precoce


A Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica (CDB), da mesma forma que a lei
ambiental brasileira, está estabelecida com base no princípio da precaução. Diz que a incerteza
científica não deve ser usada como justificativa para se postergar ações em prol da conservação
ambiental.
No caso de espécies exóticas invasoras, a inação é especialmente dolosa, pois o processo
de invasão é crescente e não se resolve sem interferência humana. A falta de providências para
conter invasões biológicas pode ser classificada como omissão e enquadrada na Lei de Crimes
Ambientais (Lei 9.605/98).
A prevenção é a alternativa mais econômica, mais eficiente e preferível, e deve ser colocada
como prioridade principal. Se a prevenção não foi efetiva e uma espécie invasora foi introduzida, a
detecção precoce e a resposta rápida são cruciais para prevenir seu estabelecimento e invasão.
O objetivo preferencial dessas ações é a erradicação. Se isso não é possível, a solução está
no controle prolongado.

Controle e erradicação
Sendo o processo de invasão biológica gradativo, é muitas vezes difícil que seja percebido
enquanto está ainda na melhor fase para erradicação. Depois que a espécie já se tornou invasora e
dominou o ambiente, é difícil encontrar uma forma de resolver o problema e atingir a erradicação da
espécie, seja em função do alto custo ou simplesmente pela dificuldade de se eliminar a última planta
invasora de uma floresta ou campo, ou de retirar o último peixe exótico de um rio.
Definindo-se os métodos para iniciar, a ação não deve ser postergada. Toda ação de controle
deve ser registrada em detalhe, incluindo informações sobre a localização de cada atividade, espécie,
situação e extensão da invasão, métodos empregados e, em caso de controle químico, diluições e
produtos empregados.
Após a execução da ação de controle, é necessário que seja estruturado um sistema de
repetição dos tratamentos e de monitoramento por meio de repasse, o que inclui a quantificação dos
resultados obtidos. A determinação dos intervalos de tempo para repasse depende da espécie
controlada e da credibilidade atribuída à eficácia do método de controle utilizado; ou seja, quanto
maior a incerteza, menor o intervalo de tempo para repasse.
No processo de aprendizado científico é importante retornar após um período máximo de 3
meses, e menor quando se tratar de plantas herbáceas ou arbustivas, que têm capacidade de se
recuperarem em períodos muito breves se o controle não é eficiente. O ponto chave da eficiência de
controle de plantas invasoras é impedir que se renove o banco de sementes ou de plântulas oriundas
de reprodução vegetativa, sendo importante conhecer os períodos de maturidade e intervalos
reprodutivos das espécies. Isso nem sempre é possível, sendo interessante, nesses casos, que os
repasses sejam executados mensalmente, até que a informação seja adquirida pela experiência.
No repasse deve-se verificar o percentual de sucesso do método de controle empregado,
para se viabilizar que seja ajustado visando o aumento da eficiência; deve-se, ainda, refazer o
controle para remover plantas que sobreviveram ou que foram esquecidas.
A não realização de repasses periódicos seguramente leva à frustração da experiência de
controle, pois é muito difícil que uma população seja erradicada com uma ação única ou que haja
100% de eficiência na eliminação de plantas e do banco de sementes. Essa condição somente é
possível em situações de invasão muito inicial, quando ainda não há banco de sementes
estabelecido. Ainda assim, essa certeza é sempre uma lacuna e não dispensa a atividade do
repasse.

Estabelecimento de prioridades para controle


A priorização para controle por local de ocorrência dentro da uma unidade de conservação,
por exemplo, tem por objetivo maximizar as oportunidades de erradicação precoce de espécies com
potencial invasor e otimizar esforços de modo a cobrir o máximo de área, assim como áreas de alta
importância biológica, no tempo mais curto possível.
13
A definição de prioridades por espécie deve ser feita considerando-se o potencial de invasão
de cada espécie e a situação populacional da mesma no que se refere ao número de indivíduos e ao
grau de dispersão. Espécies com maior potencial invasor que ocorrem em pequenas populações,
espécies de fácil erradicação e indivíduos isolados de espécies com alto potencial invasor ainda sem
expressão de invasão são prioridades.
O estabelecimento de espécies exóticas invasoras em ambientes naturais parece ser
fortemente favorecido por uma maior degradação e/ou impactos diretos sofridos na área de
ocorrência. Em decorrência, essas áreas são as menos prioritárias para controle imediato se não há
recursos para implementar todas as ações ao mesmo tempo. Por outro lado, devem ser alvo de
manejo e monitoramento constantes, visando a detecção precoce de processos de invasão e ação
imediata nesses casos.

Métodos de controle de plantas


Os métodos de controle de plantas podem ser divididos em três grupos: controle mecânico ou
físico, controle químico e controle biológico. Em geral se emprega combinações desses métodos para
ganhar eficiência ao invés de usar métodos isolados.

Controle mecânico
Consiste na remoção física das plantas, seja por arranquio, escavação ou corte. Tem boa
eficiência como método isolado apenas para plantas que não apresentam reprodução vegetativa.
Como a grande parte das espécies exóticas invasoras rebrota com facilidade e rapidamente após o
corte e costuma estabelecer um banco de sementes, é quase sempre necessário combinar o controle
mecânico ao controle químico. Não se recomenda o arranquio de plantas que formam banco de
sementes longevo, pois o ato de revirar o solo traz à superfície sementes depositadas em camadas
mais profundas, até então com poucas condições ambientais para germinação.

Controle químico
Embora ocasionalmente haja polêmica referente ao uso de herbicidas para controle de
espécies exóticas invasoras, especialmente em áreas legalmente protegidas que têm como objetivo a
conservação da biodiversidade, herbicidas, graminicidas e outros produtos químicos constituem
ferramentas essenciais para se alcançar bons resultados no controle de invasões biológicas e em
processos de restauração ambiental. A negação de evidências científicas e de experiências
consagradas no mundo com o uso de herbicidas pode levar a perdas significativas de áreas naturais
de alto valor biológico (Sigg, 1999).
A aplicação de produtos químicos para o controle de espécies exóticas invasoras em
ambientes naturais é feita de forma totalmente distinta do tradicional uso agrícola de alto impacto,
com aplicações extremamente localizadas, em geral diretamente sobre o toco ou o caule das plantas-
alvo. Os tratamentos são de pequeno volume, sendo os instrumentos aplicadores mais comuns
pequenas bisnagas ou aspersores de volumes entre 1 e 2 litros. Os tratamentos mais comuns são:
a) corte de árvores e aplicação de herbicidas sobre o toco, para evitar rebrote;
b) anelamento de plantas lenhosas e aplicação de herbicida na base do anel, para acelerar
a morte em pé e inibir o rebrote;
c) abertura da casca da planta lenhosa na base do tronco para aplicação de herbicida;
d) no caso de gramíneas e outras plantas herbáceas, para evitar o uso de aspersão em
grande volume é comum realizar-se roçada e aplicação de herbicida na base das
touceiras quando inicia o rebrote.

Todo o uso de herbicida é feito com adição de corante para que o aplicador tenha perfeitas
condições de visualizar as áreas afetadas. Isso otimiza o volume de produto utilizado e confere
segurança à operação, dado que qualquer vazamento, respingo ou acidente é facilmente localizado.
Não existe receituário único para o uso desses produtos. Cada espécie responde melhor a
determinado princípio ativo e é fundamental apoiar-se em experiências já existentes no mundo para
iniciar esses trabalhos.

Controle biológico
Fundamenta-se na introdução de agentes de controle em geral originados do mesmo
ambiente de distribuição natural da espécie a ser controlada. Experiências falhas de controle
biológico no passado, realizadas sem o devido cuidado exaustivo nos testes de adaptação desses
14
agentes, produzem ainda uma impressão errônea de que o método não deve ser empregado. Em
muitos casos, porém, de invasões de grande extensão, o controle biológico é a única solução viável.
Alguns exemplos de grande sucesso são o controle de palma (Opuntia ficus-indica) no Parque
Nacional de Kruger, na África do Sul, pela inoculação de um fungo; a introdução de um gorgulho
predador de sementes na África do Sul para diminuir a dispersão de acácia-negra (Acacia mearnsii),
que tem valor econômico e não pode ser erradicada; e o controle de aguapé (Eicchornia crassipes)
no Lago Vitória, na África, pela introdução de coleópteros.

Métodos de controle de animais


Assim como já dito para o controle de espécies vegetais, é importante que se priorize
espécies e localidades para controle, visando-se obter maior eficiência nas ações implementadas em
um curto intervalo de tempo e com menores custos. Sendo assim eliminar populações incipientes
deve ser prioritário - é mais econômico evitar o estabelecimento de uma população invasora do que
tentar a sua erradicação quando já se encontra bem fixada.
Outro aspecto importante a ser considerado é que a ação deve ser imediata no caso de
detecção de início de processos de invasão - atuar sem demora, por precaução, nos casos em que o
controle ou a eliminação de uma espécie exótica invasora seja fácil. O fato de se esperar uma
evidência estatisticamente comprovada pode levar à perda de populações de espécies ameaçadas
ou endêmicas.
Para se desenvolver estratégias para controle de fauna, é importante realizar ensaios prévios
sempre que possível, para ter melhor noção do esforço a ser despendido, e ainda, quando há mais
de uma espécie a se controlar, medir as conseqüências provocadas pelo controle de uma sobre as
demais e considerar o risco para espécies não-alvo.
À medida que o controle vai sendo realizado, vai ficando mais difícil encontrar os indivíduos
da espécie alvo de controle, tanto pela diminuição na densidade da população, quanto por
conseqüências advindas da atenuação dos impactos provocados pela espécie – por exemplo, o
controle de uma espécie que traz como impacto o pisoteio da vegetação, levará ao aumento do porte
e da cobertura de vegetação nativa, o que dificultará a visualização dos indivíduos da espécie animal.
A escolha do método a ser utilizado vai variar de acordo com o grupo a que a espécie
pertence, com a situação populacional encontrada e com as condições ambientais locais. É
importante ressaltar que os métodos devem ser os menos dolosos possíveis, resultando em mortes
rápidas e sem sofrimento para o animal. O principal objetivo é controlar espécies invasoras e
conservar a diversidade nativa.
Campanhas de informação e conscientização pública são bastante recomendáveis,
principalmente no que diz respeito aos impactos trazidos por espécies exóticas invasoras e à
necessidade de controle das mesmas.

Veja na tabela abaixo algumas possibilidades de métodos de controle para fauna invasora:
Grupo Técnica de controle
Peixes Captura direta
Armadilhas (com redes, tarrafas, etc.)
Pesca elétrica
Tóxicos (rotenona, antimicina)
Narcóticos (anestésicos)
Dessecação
Controle biológico
Anfíbios (sapos, rãs e pererecas) Captura manual
Armadilhas
Controle das posturas
Métodos químicos (aspersão em folhas)
Drenagem
Fumigação com água quente
Quelônios (tartarugas) Captura manual
Armadilhas
Lagartos e lagartixas Captura manual
Armadilhas
Tiro

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Ofídios (cobras ou serpentes) Captura manual
Armadilhas
Iscas e outros atrativos
Tiro
Exclusão
Tóxicos (fumigação de cargas)
Cães treinados
Aves Captura manual
Armadilhas
Iscas e outros atrativos
Tiro
Tóxicos
Mamíferos Captura manual
Armadilhas
Iscas e outros atrativos
Tiro (com cães, helicópteros, Judas, sebes,
batidas ocasionais)
Tóxicos
Judas
Exclusão (cercados)
Imuno-anticoncepção
Esterilização

Referências Bibliográficas

INSTITUTO DE RECURSOS NATURAIS; UNIÃO MUNDIAL PARA A NATUREZA; PROGRAMA DAS


NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE. A estratégia global da biodiversidade – diretrizes
de ação para estudar, salvar e usar de maneira sustentável e justa a riqueza biótica da Terra.
Curitiba: World Resources Institute/Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. 232p. 1992.

Sigg, J. O papel dos herbicidas na conservação da biodiversidade. California: California Exotic


Plant and Pest Council News, summer/fall. (acessado em 31 de julho de 2007,
http://www.institutohorus.org.br/inf_download.htm#artigocien).

Working for Water, s/d. The Environmental Impacts of Invading Alien Plants in South Africa.
Cape Town: Department of Water Affairs and Forestry. 20p.

Ziller, S. R. A Estepe Gramíneo-Lenhosa no segundo planalto do Paraná: diagnóstico ambiental


com enfoque à contaminação biológica. Tese de doutoramento. Curitiba: Universidade Federal do
Paraná. 268p. 2000.

Ziller, S. R. & Galvão, F. A degradação da estepe gramíneo-lenhosa no Paraná por contaminação


biológica de Pinus elliottii e P. taeda. Revista Floresta, 32(1): 41-47. 2002.

Fontes de informação
www.institutohorus.org.br
http://tncweeds.ucdavis.edu
www.gisp.org
www.feral.org
www.hear.org

16
GEOTECNOLOGIA APLICA À CONSERVAÇÃO
Docentes
Severino Rodrigo – Pesquisador do CEPAN e doutorando em Biologia Vegetal, CCB/UFPE.
Contato: severinorodrigo@yahoo.com.br
Adriana Paese – Conservação Internacional
Contato: adripaese@gmail.com

Ementa
A disciplina Sistema de Informações Geográficas trabalha com gerenciamento de imagens e métricas
de paisagem. O SIG é uma ferramenta muito utilizada para planejamento espacial de áreas
protegidas, pois pode otimizar as ações de consolidação dessas áreas.

Objetivos
Capacitar os gestores de UC’s a:
• identificar os serviços ambientais prestados pelas UC’s;
• identificar atividades geradoras de impacto ambiental;
• identificar e prever as conseqüências destas atividades para a manutenção da
biodiversidade e dos serviços ambientais a curto, médio e longo prazos;
• elaborar estratégias que minimizem os efeitos de tais impactos;
• planejar o zoneamento da unidade e da paisagem do entorno de forma a maximizar a sua
efetividade em conservar a biodiversidade e os serviços ambientais;
• identificar e monitorar indicadores ambientais;
• efetivar o cumprimento de todos os objetivos da criação da UC.

Conteúdo Programático
• Mata Atlântica: conceito, biodiversidade e situação atual
• Serviços ambientais prestados pela Mata Atlântica
• Impactos ambientais
• Recuperação de áreas degradadas
• Introdução a Biologia da Conservação
• Planejamento Ambiental: Ecologia da paisagem aplicada ao planejamento de UC’s e seu
entorno
• Manejo da vida silvestre
• Extinções da vida silvestre
• Fragmentação de hábitats e conservação da Mata Atlântica

Metodologia
Aulas expositivas, discussão de texto, estudos de caso e exercícios de planejamento de UC’s e seu
entorno a partir da análise de imagens aéreas e dados sócioeconômicos da região. Visita à UC e
diagnóstico ambiental.

Bibliografia Básica
Cullen JR, L., Rudran, R. & Valladares-Pádua, C. B. 2003. Métodos de Estudos em Biologia da
Conservação e Manejo da Vida Silvestre. 1. ed. Editora UFPR, Curitiba, PR. 665 p.
Kageyama, P. Y. ; Oliveira, R. E.; Gandara, F. B. 2003. Restauração ecológica de ecossistemas
naturais. FEPAF, Botucatu, SP. 340 p.
Primack,R.B. & Rodrigues, E. 2001. Biologia da Conservação. Editora Planta, Curitiba, PR. 328 p.
Porto, K., Cortez, J. A., Tabarelli, M. 2006. Diversidade biológica e conservação da floresta Atlântica
ao norte do Rio São Francisco. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, Coleção Biodiversidade
14, v. 1. 280 p.
Santos, R.F. 2004. Planejamento Ambiental: teoria e prática. Editora Oficina de Texto, SP. 184p.

17
1. O que é um Sistema de Informação Geográfica?
Um Sistema de Informação Geográfica (SIG) é um sistema de hardware, software,
informação espacial e procedimentos computacionais, que permite e facilita a análise, gestão ou
representação do espaço e dos fenômenos que nele ocorrem.

2. Para que serve e quem usa o SIG?


O SIG é uma ferramenta que pode gerenciar uma grande quantidade de dados referentes a
diversas medidas como por exemplo: dados biológicos, dados espaciais como área, quantidade de
floresta, número de pessoas que vivem em uma determinada área. O SIG também é muito utilizado
para agilizar um grande volume de informações de modo a facilitar a sistematização de informações
geradas. Segue abaixo listado que se utiliza dessa ferramenta tão importante:
a) empresas prestadoras serviços especializados em dados espaciais, como de Topografia,
Aerofotogrametria, Cartografia e Sensoriamento Remoto, que vêem a tecnologia SIG como
repositório dos dados que geram;
b) empresas de consultoria em Engenharia e áreas afins que vêem a tecnologia SIG como um aliado
poderoso na solução dos problemas de seus clientes;
c) as empresas e órgãos estatais que em suas atividades utilizam SIG no planejamento,
administração, monitoramento e gerência do meio físico regional e federal;
d) prefeituras municipais que utilizam SIG para solução de cadastros técnicos voltados a atividades
de planejamento e gestão urbana, tributação, controle de tráfego, meio ambiente, saneamento e
outros;
e) concessionárias de serviços públicos que planejam, projetam, implantam, operam e gerenciam
redes de água, esgoto, eletricidade, gás, telefone e TV a cabo;
f) empresas públicas responsáveis por atendimentos a emergências e gerenciamento de riscos
ambientais;
g) empresas agrícolas e florestais, em suas atividades de planejamento, projeto, implantação, cultivo,
colheita e transporte de produtos;
h) empresas de mineração, em suas atividades de planejamento, projeto, implantação e prospecção
e lavra de recursos naturais;
i) universidades e institutos de pesquisa em suas atividades de ensino, pesquisa e desenvolvimento
científico e tecnológico.

3. O que é uma coordenada geográfica?


As coordenadas geográficas são linhas imaginárias, medidas em graus, minutos e segundos,
através delas podemos definir a posição de um ponto na superfície da Terra.
4. Qual equipamento nos fornece as coordenadas geográficas?
O equipamento GPS (sistema de posicionamento global) é o responsável pela obtenção das
coordenadas geográficas e funciona com o auxílio de um sistema de posicionamento por satélite
americano, utilizado para determinação da posição de um receptor na superfície da Terra ou em
órbita. Existem atualmente dois sistemas efetivos de posicionamento por satélite, o GPS americano e
o Glonassrusso. Logo abaixo na figura 1 podemos visualizar um GPS manual.

4. Qual equipamento nos fornece as coordenadas geográficas?


O equipamento GPS (sistema de posicionamento global) é o responsável pela obtenção das
coordenadas geográficas e funciona com o auxílio de um sistema de posicionamento por satélite
americano, utilizado para determinação da posição de um receptor na superfície da Terra ou em
órbita. Existem atualmente dois sistemas efetivos de posicionamento por satélite, o GPS americano e
o Glonassrusso. Logo abaixo na figura 1 podemos visualizar um GPS manual.

18
Figura 1. GPS manual.

5. Qual o programa de computador utilizado para gerenciar imagens e os


dados do GPS?

O nome do programa é Arc View e logo abaixo segue os passos básicos para a utlização dessa
ferramenta.

ARCVIEW - PROCEDIMENTOS BÁSICOS

A tela inicial possibilita você criar um novo projeto com um novo visualizador (viewer) ou um projeto
em branco.

ABERTURA DE UM NOVO VIEWER:

Extensões *.shp:

Os arquivos que abrem como imagem no ArcView tem a extensão shp. Eles funcionam como
transparências sobrepostas e possuem informações armazenadas em tabelas.

Ferramentas básicas:

O visualizador possibilita utilizar ferramentas de zoom, seleção de pontos e polígonos,


medição, texto.

ABERTURA DE SHAPES JÁ CONFECCIONADOS:


Você pode trabalhar com shapes já prontos com informações anexadas.

Adição de shapes:

Selecione a opção Add Theme ou clique no botão , então selecione os temas


desejados. Os temas adicionados irão aparecer em ordem na barra lateral esquerda.

19
Manipulação dos shapes:

Os shapes podem ser reorganizados (quanto a sua ordenação) através do mouse pela barra
lateral esquerda. O shape para aparecer deve estar com um vezinho (v), assim ele está “ativado”.
Para que ele esteja “selecionado” basta clicar no botão do tema desejado na barra lateral esquerda.

Seleção de pontos e polígonos em um shape:


Os polígonos ou pontos que compõem um shape podem ser selecionados individualmente

em um mesmo shape através da ferramenta Select Feature .. Clicar e arrastar. As informações


selecionadas também serão mostradas na tabela de informação do shape.

Acesso a tabela do shape:

Para ter acesso a tabela do shape utilize a ferramenta Open Theme Table . A tabela
de informações de capa ponto ou polígono que compões o shape irá aparecer. O que estiver
selecionado no viewer também aparecerá selecionado na tabela.

Alterações na tabela:
No menu Table selecione Start edit para inserir ou deletar informações na tabela. Lembre-se
de sempre selecionar Stop Edit que realizar alterações.

Utilize a ferramenta de texto para escrever ou deletar informações na tabela.


Identificando shapes:
De volta ao viewer você pode ter acesso a algumas informações dos polígonos e pontos de

um shape através da ferramenta Identify .

CRIAR UM PROJETO:
Adicionando shapes:
O projeto feito estará sempre com os mesmos shapes organizados desde o último save. Ao
incrementar seu projeto sempre salve.
Salvando projeto:
No menu File selecione Save Project. Certifique-se que você não irá mover os
arquivos salvos de pasta, pois quando carregar seu projeto, ele não encontrá os arquivos
movidos da pasta em que foram salvos.

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DIREITO AMBIENTAL
Docente
Liza Baggio – Advogada Ambiental.
Contato: lizabaggio@hotmail.com

Ementa
O Direito Ambiental busca regulamentar a utilização dos recursos naturais a fim de garantir a
sobrevivência das gerações presentes e futuras. Para tanto, defende um modo de desenvolvimento
sustentável, onde questões econômicas, ambientais e sociais possam interagir de maneira
harmônica. Esta disciplina visa, portanto, analisar as principais normas jurídicas relacionadas à
gestão de Unidades de Conservação, instrumentos indispensáveis para se promover a utilização
sustentável destas áreas.

Objetivos
Capacitar os gestores diretos e indiretos de Unidades de Conservação, através da apresentação de
alguns conceitos básicos de direito e da legislação que regula a utilização destas áreas, para que
sejam capazes de consultar e interpretar as normas ambientais existentes contribuindo assim com
sua efetiva aplicação.

Conteúdo Programático

• Hierarquia das Normas Jurídicas. Competência em matéria ambiental.

• Direito, Meio Ambiente e Direito Ambiental.

• Evolução e Princípios do Direito Ambiental.

• Normas relacionadas à gestão de Unidades de Conservação da Mata Atlântica:

a) Constituição Federal de 1988 - art. 225;


b) Código Florestal - Lei 4.771/65;
c) Política Nacional do Meio Ambiente - Lei 6.938/81;
d) Crimes Ambientais – Lei nº. 9.605/98;
e) Sistema Nacional de Unidades de Conservação - Lei 9.985/00 e Decreto 4.340/02;
f) Lei 11.428/06 - Utilização e Proteção da Mata Atlântica;
o
g) Lei n 11.516/07 - Dispõe sobre a criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade;
h) Resoluções CONAMA.

• Questões importantes para a gestão de Unidades de Conservação:

a) Conceito, Categorias e Procedimento de Criação de UC’s;


b) Mosaico de UC’s e corredores ecológicos;
c) Plano de Manejo;
d) Conselho Gestor;
e) Compensação Ambiental;
f) Zona de amortecimento;
g) Reavaliação de UC’s não previstas no SNUC;
h) Regularização Fundiária;
i) Área de Preservação Permanente e Reserva Legal;
j) Ação Civil Pública.

• Como a legislação ambiental pode auxiliar na gestão de UC’s?

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Metodologia

Aulas expositivas/participativas, análise de legislação, estudos/simulações de casos.

Bibliografia
Antunes, Paulo de Bessa - Direito Ambiental - 10ª edição - Editora Lumen Júris, 2007.
MILARÉ, Edis, Direito do Ambiente, 5º ed., Editora RT, 2007.
Machado, Paulo Affonso Leme - Direito Ambiental Brasileiro, 15ª ed., Editora Malheiros, 2007
Reale, Miguel - Teoria Tridimensional do Direito, 5ª ed., Editora Saraiva, 2003.

Fontes de Informação

www.brasilpnuma.org.br/
http://www.pnud.org.br/home/
http://www.mma.gov.br/

1. Hierarquia das Normas Jurídicas e Competência em matéria ambiental.

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

PRIVATIVA
DA UNIÃO
(CF/88, art. 22, incisos IV, XII e XXVI)
EXCLUSIVA
DOS ESTADOS DOS MUNICÍPIOS
(CF/88, art. 25, §§ 1º e 3º) (CF/88, art. 30, inciso I)

CONCORRENTE
ENTRE UNIÃO, OS ESTADOS E O DISTRITO FEDERAL
(CF/88, art. 24, incisos VI, VII e VIII)
SUPLEMENTAR
DOS MUNICÍPIOS
(CF/88, art. 30, inciso II)

22
COMPETÊNCIA EXECUTIVA

EXCLUSIVA

DA UNIÃO DOS ESTADOS DOS MUNICÍPIOS


(CF/88, art. 21, (CF/88, art. 25, §§ (CF/88, art. 30,
incisos IX, XVIII, 1º, 2º e 3º) incisos VIII e IX)
XIX, XX e XXIII)

COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA

COMUM

DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DISTRITO


FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS
(CF/88, art. 23, incisos III, IV, VI, VII e XI)

Art. 21. Compete à União: (competência executiva exclusiva)

IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico


e social;

XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de
seu uso;

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos;

XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a
pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e
seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:

XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

II - desapropriação;

IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;

23
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(competência administrativa comum)

I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico,
artístico ou cultural;

V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento


básico;

X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores
desfavorecidos;

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e


minerais em seus territórios;

Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;

V - produção e consumo;

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do
meio ambiente e controle da poluição;

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;

IX - educação, cultura, ensino e desporto;

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados
os princípios desta Constituição (competência legislativa e executiva exclusiva):

§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição.

§ 2º - Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás
canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua
regulamentação.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 5, de 1995)
24
§ 3º - Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a
organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Art. 30. Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local; (competência legislativa exclusiva):

II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (competência legislativa suplementar):

V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse
local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; (competência executiva exclusiva):

VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano; (competência executiva exclusiva):

IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora


federal e estadual. (competência executiva exclusiva):

Nosso ordenamento jurídico (as leis/regras que regulam a vida em sociedade) é composto por
diversas espécies de normas que diferem uma das outras pelo seu procedimento de elaboração,
função e grau de hierarquia (ordem de importância). O jurista austríaco Hans Kelsen visando ilustrar a
hierarquia existente entre essas normas desenvolveu a idéia de uma pirâmide jurídica, que será
apresentada a seguir de maneira simplificada, com o objetivo nos fornecer noções que nos permitirão
compreensão dessa realidade.

Constituição Federal

Leis Complementares, ordinárias, delegadas e MP’s

Decretos, resoluções, instruções normativas,


portarias, circulares, ordens de serviço

No topo da pirâmide estão as normas constitucionais, pois a Constituição Federal é a nossa lei
suprema, de modo que todas as normas infraconstitucionais (abaixo da CF) devem respeito,
obediência, a essa Lei Maior, sob pena de serem declaradas inconstitucionais (através de ações
próprias a esse fim, como por exemplo, a ação direta de inconstitucionalidade) e, por conseguinte,
excluídas do mundo jurídico. No segundo patamar encontram-se (uma abaixo da outra) as leis
complementares, as leis ordinárias, as leis delegadas e as medidas provisórias (que têm força de lei),
sendo que no terceiro estão os decretos, as resoluções, as instruções normativas, as portarias, as
circulares e ordens de serviço, dentre outros atos regulamentadores. Ao final, na base da pirâmide,

25
encontram-se os contratos firmados entre as pessoas, uma vez que este faz lei entre as partes
contratantes.

A Lei 4.771/65, que instituiu o Código Florestal, é uma lei federal ordinária que deve necessariamente
obediência às regras impostas pela Constituição Federal, não podendo, portanto, conter normas que
são contrárias à Constituição. Já a Resolução CONAMA nº303/02, que dispõe sobre os limites da
área de preservação permanente, não pode instituir obrigações que divergem do que foi estipulado
pelo Código Florestal ao tratar deste tema, que por sua vez, deve estar de acordo com as normas
estabelecidas pela Constituição Federal.

Assim, devido à estrutura escalonada das normas jurídicas, tem-se que as normas inferiores
encontram seu fundamento de validade em normas superiores, sendo que todas as normas
existentes no mundo jurídico buscam na Constituição Federal seu fundamento de validade. Ao menos
em tese, pois é sabido que existem atos normativos de diferentes hierarquias que vão de encontro a
princípios constitucionais...

Esta estruturação do poder também pode ser observada em nossa sociedade, na família, nas
empresas e nas repartições publicas. Os filhos (Resoluções CONAMA) devem obediência aos pais
(leis federais) que devem obediência a Deus (Constituição Federal) da mesma forma que o vendedor
deve obediência ao gerente que por sua vez tem um diretor geral como superior.

No sentido horizontal, ou seja, em se tratando de normas jurídicas da mesma hierarquia, a regra da


especificidade deve ser utilizada para a resolução de eventual conflito existente entre estas normas.
A regra é simples: a lei específica é que irá prevalecer se existir contradição com a lei geral.

Ex: se houver contradição entre uma regra do (lei federal) que trata da utilização da Mata Atlântica e
a própria lei nº. 11.428/06 (lei federal), que dispõe especificamente sobre as condições de utilização
deste Bioma, esta última deverá prevalecer, pois é uma lei da mesma hierarquia que o Código
Florestal que regula exclusivamente a utilização da Mata Atlântica.

2. O Direito Ambiental
Antes de trazer definições que buscam explicar o que é o Direito Ambiental torna-se necessário
refletirmos sobre as duas palavras que compõem esta expressão, ou seja, “direito” e “ambiental”, esta
última aqui entendida como algo que se refere ao meio ambiente, pelo que buscaremos o conceito de
meio ambiente, ou simplesmente de ambiente, como se verá adiante.

2.1. O que é o Direito?

Um grande número de pensadores se debruçou sobre esse tema ao longo de nossa história, de
modo que existem várias teorias a respeito do que seja o direito. Devido ao objetivo restrito dessa
apostila não se fará um apanhado histórico dessas idéias, nem se buscará sistematizá-las ou mesmo
compará-las, sob pena de se desviar do foco do presente curso.

Assim, optou-se por trazer aqui o conceito de Direito desenvolvido por Miguel Reale ilustre jurista,
filósofo e poeta, que, a nosso ver, se destaca pela sua contemporaneidade e complexidade,
traduzindo com um brilhantismo único esse fenômeno que se repete em todas as civilizações.

De acordo com a Teoria Tridimensional do Direito de Miguel Reale, o Direito não se resume a um
conjunto de normas que regulam a vida em sociedade, nem pode ser reduzido à condição de fato
social, ou erigido à categoria de valores universais, pois é ao mesmo tempo, fato, valor e norma
interagindo num processo dinâmico, dialético. A partir da valoração de fatos sociais elaboram-se
normas que, por sua vez, intervirão nos fatos que serão novamente valorados, para a formação de
novas regras...

O trecho abaixo transcrito, retirado da obra denominada Teoria Tridimensional do Direito, traduz de
maneira sucinta o pensamento do autor:

26
(...) a norma é a indicação de um caminho, porém, para percorrer um caminho, devo partir de
determinado ponto e ser guiado por certa direção: o ponto de partida da norma é o fato, rumo a
determinado valor. Desse modo, pela primeira vez, em meu livro Fundamentos do eu comecei a
elaborar a tridimensionalidade. Direito não é só norma, como quer Kelsen, Direito, não é só fato
como rezam os marxistas ou os economistas do Direito, porque Direito não é economia.
Direito não é produção econômica, mas envolve a produção econômica e nela interfere; o
Direito não é principalmente valor, como pensam os adeptos do Direito Natural tomista, por
exemplo, porque o Direito ao mesmo tempo é norma, é fato e é valor.

Miguel Reale Teoria Tridimensional do Direito, 5ª ed., Editora Saraiva, São Paulo, 2003, p. 564

Entender que o Direito não se resume a uma compilação de regras nos permite uma compreensão
holística desse fenômeno, o que se revela essencial para o entendimento de todos os ramos do
Direito, em especial do Direito Ambiental que, baseando-se nos fatos/dados relacionados à situação
atual do meio ambiente natural e social busca conciliar valores/interesses opostos existentes neste
contexto, visando à formulação de normas que, de um modo geral, irão regular a utilização dos
recursos ambientais pelo homem, sem, contudo, impedir o desenvolvimento socioeconômico
nacional.

2.2. O que é o meio ambiente?

Paulo Affonso Leme Machado, precursor do Direito Ambiental pátrio, em seu livro Direito Ambiental
Brasileiro nos relembra que a palavra ambiente origina-se do latim – ambiens, entis, que significa
“que rodeia”, e mantém seu significado original nas línguas portuguesa, francesa, italiana e inglesa.

Edis Milaré, utilizando-se do conceito trazido por Bernard J. Nebel, explica que

“Em linguagem técnica, meio ambiente é a combinação de todas as coisas e fatores externos ao
indivíduo ou população de indivíduos em questão” e conclui que, de maneira mais precisa, (o meio
ambiente) “é constituído por seres bióticos e abióticos em suas relações e interações. Não é mero
espaço circunscrito – é realidade complexa e marcada por múltiplas variáveis.”

Ainda de acordo com Edis Milaré, no sentido jurídico a expressão meio ambiente pode ser utilizada
sob duas perspectivas: uma ampla e outra estrita. Numa concepção ampla abrangeria toda a
natureza original (natural: solo, água, ar, fauna, flora) e artificial (humano: edificações, equipamentos,
e alterações produzidas pelo homem), assim como os bens culturais correlatos, enquanto que pela
visão estrita o meio ambiente seria “a expressão do patrimônio natural e as relações com e entre os
seres vivos”.

A lei que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) define em seu artigo 3º
inciso I o meio ambiente como sendo “o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

2.3 Conceito de Direito Ambiental

Diante do exposto, podemos afirmar que o Direito Ambiental é o resultado da valoração dos fatos
sócio-ambientais que nos vem sendo apresentado nas ultimas décadas, traduzido em normas que
regem a utilização dos recursos naturais em defesa do desenvolvimento sustentável.

Entretanto, antes de se analisar conceitos é importante sinalizar que, para a compreensão do Direito
Ambiental é necessário interpretar a interação entre fato, valor e norma (que compõem esse direito) e
se ter em mente que ele faz parte de um sistema jurídico maior e mais antigo, estruturado num
contexto onde a sustentabilidade ambiental nem sempre foi uma preocupação.

Também não se pode esquecer que as questões ambientais atuais interessam aos homens na
medida em que elas interferem na qualidade de vida deles por representar uma fonte de recursos

27
necessários à sua sobrevivência. Esta visão utilitária pode ser observada nos textos de leis e acordos
internacionais (Princípios da Declaração de Estocolmo e Rio, CF/88).

Por fim, vale lembrar que nossa sociedade, de uma maneira geral, possui comportamentos
ambientalmente insustentáveis (ausência de planejamento familiar, consumismo, alta produção de
resíduos associada à má gestão destes...) Nesse cenário o Direito Ambiental aparece buscando
conciliar o aparentemente inconciliável (na sociedade que temos atualmente como modelo) questões
econômicas, sociais e ambientais, em busca do desenvolvimento sustentável.

Não se pode esquecer, entretanto, que o Direito não tem vocação para mudar os valores e os
comportamentos éticos que regem a relação entre o homem e a natureza. Ao contrário, ele traduz
estes valores, que se encontram expressos nas diversas leis existentes. Sem esta reflexão a respeito
de nosso modo de vida e a consciência de que nossas atitudes causam uma série de impactos
negativos ao meio ambiente - o que implica numa revisão de conceitos visando a construção de um
modelo de desenvolvimento que possibilite a interação harmoniosa entre o ser humano (social e
econômico) e a natureza (ambiental) – a efetividade do Direito Ambiental será prejudicada, e a
realização do desenvolvimento sustentável utópica.

Estudiosos da matéria apresentam definições a respeito do Direito Ambiental levando em conta seu
objeto, sua função e características, como demonstra os conceitos abaixo transcritos:

Para Paulo de Bessa Antunes, em sua obra intitulada Direito Ambiental

“O Direito Ambiental pode ser definido como um direito que se desdobra em três vertentes
fundamentais, que são constituídas pelo direito ao meio ambiente, direito sobre o meio ambiente e
direito do meio ambiente. Tais vertentes existem, na medida em que o Direito Ambiental é um Direito
humano fundamental que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida, ao
desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos naturais. Mais do que um Direito autônomo, o
Direito Ambiental é uma concepção de aplicação da ordem jurídica que penetra, transversalmente,
em todos os ramos do Direito. O Direito Ambiental, portanto, tem uma dimensão humana, uma
dimensão ecológica e uma dimensão econômica que se devem harmonizar sob o conceito de
desenvolvimento sustentado”.

De acordo com Paulo Affonso, em seu livro Direito Ambiental Brasileiro,

“O Direito Ambiental é um Direito sistematizador, que faz a articulação da legislação, da doutrina e da


jurisprudência concernentes aos elementos que integram o ambiente. Procura evitar o isolamento dos
temas ambientais e sua abordagem antagônica. Não se trata mais de construir um Direito das Águas,
um Direito da Atmosfera, um Direito do Solo, um direito florestal, um Direito da fauna ou um Direito da
biodiversidade. O Direito Ambiental não ignora o que cada matéria tem de específico, mas busca
interligar estes temas com a argamassa da identidade dos instrumentos jurídicos de prevenção e de
reparação, de informação, de monitoramento e de participação”.

Segundo William H. Rodgers Junior,em sua obra Environmental Law,

“O direito Ambiental é o Direito da economia doméstica planetária, protegendo o planeta e sua


população das atividades que transformam a terra e sua capacidade de manutenção da vida”.

3. Evolução e Princípios do Direito Ambiental Internacional.


3.1. Direito Internacional: conjunto de normas que regula as relações entre os atores (Estados
Membros “Países” e Organizações Internacionais) que compõem a sociedade internacional.

- Estados Membros: população, território e governo soberano.

- Organizações Internacionais: ONU, OMC, OIT, OEA UNESCO, FMI, LIONS CLUBS
INTERNATIONAL, Associação Internacional para o Desenvolvimento da Apnéia, Fédération
Internationale de Volleyball, etc... )
28
3.2. Atos Multilaterais Assinados pelo Brasil no Campo do Meio Ambiente
http://www2.mre.gov.br/dai/meamb.htm

- Convenção para a Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas - 12/10/1940 - Decreto
n. 58.054 de 23/03/1966
- Convenção Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico - 14/05/1966 - Decreto n.
65.026 de 20/08/1969
- Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio - 22/05/1985 - Decreto n. 99.280
de 06/06/1990
- Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima – 09/05/1992 – Decreto n.
2.652 de 01/07/1998
- Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima -
11/12/1997- Decreto n. 5.445 de 12/05/2005

3.3. Breve Histórico do Direito Ambiental Internacional

• Conferência de Estocolmo - Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente


Humano, na Suécia

- 5 a 16 de junho de 1972

- 113 países

- criação do PNUMA

- reconhecimento dos princípios gerais do Direito Ambiental Internacional (Declaração com


26 princípios)

Princípios 2 a 7

- preservação dos recursos naturais (ar, água, solos, flora, fauna, amostras representativas
dos ecossistemas naturais) /utilização racional destes recursos no interesse das gerações
presentes e futuras;
Princípios 8 a 26

• Necessidade de:

- desenvolvimento econômico e social;

- planejamento demográfico;

- planificação/gestão, do recurso à ciência e tecnologia, da troca de informações e da


cooperação internacional;

- definição de normas e critérios relacionados à responsabilidade por danos ambientais e


indenização das vítimas;

- eliminação e a destruição de armas nucleares;

Princípio 1: O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições


de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e
gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as
gerações presentes e futuras. A este respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid,
a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de
dominação estrangeira são condenadas e devem ser eliminadas.

Princípio 2: Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, a terra, a flora e a fauna e
especialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser preservados em
benefício das gerações presentes e futuras, mediante uma cuidadosa planificação ou ordenamento.
29
Princípio 3: Deve-se manter, e sempre que possível, restaurar ou melhorar a capacidade da terra em
produzir recursos vitais renováveis.

Princípio 5: Os recursos não renováveis da terra devem empregar-se de forma que se evite o perigo
de seu futuro esgotamento e se assegure que toda a humanidade compartilhe dos benefícios de sua
utilização.

Princípio 8:O desenvolvimento econômico e social é indispensável para assegurar ao homem um


ambiente de vida e trabalho favorável e para criar na terra as condições necessárias de melhoria da
qualidade de vida.

Princípio 11: As políticas ambientais de todos os Estados deveriam estar encaminhadas para
aumentar o potencial de crescimento atual ou futuro dos países em desenvolvimento e não deveriam
restringir esse potencial nem colocar obstáculos à conquista de melhores condições de vida para
todos. Os Estados e as organizações internacionais deveriam tomar disposições pertinentes, com
vistas a chegar a um acordo, para se poder enfrentar as conseqüências econômicas que poderiam
resultar da aplicação de medidas ambientais, nos planos nacional e internacional.

Princípio 13: Com o fim de se conseguir um ordenamento mais racional dos recursos e melhorar
assim as condições ambientais, os Estados deveriam adotar um enfoque integrado e coordenado de
planejamento de seu desenvolvimento, de modo a que fique assegurada a compatibilidade entre o
desenvolvimento e a necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente humano em benefício de
sua população.

Princípio 19: É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às
gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos
privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta
dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre
a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente
essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio
ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de
protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos.

Princípio 21: Em conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios de direito
internacional, os Estados têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos em aplicação de
sua própria política ambiental e a obrigação de assegurar-se de que as atividades que se levem a
cabo, dentro de sua jurisdição, ou sob seu controle, não prejudiquem o meio ambiente de outros
Estados ou de zonas situadas fora de toda jurisdição nacional.

Princípio 22:Os Estados devem cooperar para continuar desenvolvendo o direito internacional no
que se refere à responsabilidade e à indenização às vítimas da poluição e de outros danos
ambientais que as atividades realizadas dentro da jurisdição ou sob o controle de tais Estados
causem a zonas fora de sua jurisdição.

Princípio 24: Todos os países, grandes e pequenos, devem ocupar-se com espírito e cooperação e
em pé de igualdade das questões internacionais relativas à proteção e melhoramento do meio
ambiente. É indispensável cooperar para controlar, evitar, reduzir e eliminar eficazmente os efeitos
prejudiciais que as atividades que se realizem em qualquer esfera, possam Ter para o meio
ambiente, mediante acordos multilaterais ou bilaterais, ou por outros meios apropriados, respeitados
a soberania e os interesses de todos os estados.

• Conferência de Nairobi, no Quênia

- 10 a 18 de maio de 1982, Conferência das Nações Unidas - PNUMA

- avaliação da situação e, principalmente, dos resultados da aplicação dos princípios da anterior;

30
- necessidade de avançar no processo e seleção de duas prioridades: a criação de unidades de
conservação e a recuperação de áreas degradadas.

• Relatório Brundtland de 1987

- 1980: retomado o debate sobre questões ambientais pela ONU. Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento, sob a presidência da primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem
Brundtland

- 1987: elaboração do Relatório “Nosso Futuro Comum” que concebe o Desenvolvimento


Sustentável como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer
a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

- Reafirma uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados
e reproduzido pelas nações em desenvolvimento, ressaltando os riscos do uso excessivo dos
recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas;

- Aponta para a incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentável e os padrões de


produção e consumo vigentes.

- Sugere medidas a serem tomadas internamente pelos países em busca do Desenvolvimento


Sustentável:

• limitação do crescimento populacional;


• garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo;
• preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
• diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes
energéticas renováveis;
• aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em
tecnologias ecologicamente adaptadas;
• controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores;
• atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).

- Sugere medidas a serem tomadas conjuntamente pelos países em busca do Desenvolvimento


Sustentável:

• adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de


desenvolvimento (órgãos e instituições internacionais de financiamento);
• proteção de ecossistemas importantes e fragilizados, como a Antártica, oceanos
• banimento das guerras;
• implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela Organização das
Nações Unidas (ONU).

* Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU (CDS):criada em dezembro de 1992,


constituída por países membros da ONU (participação de ONG’s), se reúne anualmente para
avaliar os progressos e as barreiras para a implementação dos compromissos assumidos na
RIO-92

* Comissão Nacional de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS):


criada em 1997 através do Decreto de 26.02.97, (vinculada à Câmara de Recursos Naturais da
Presidência da República, e presidida pelo Ministério do Meio Ambiente) com a finalidade de
propor políticas e estratégias de desenvolvimento sustentável e coordenar a elaboração e
implementação da Agenda 21 Brasileira, é Constituída de representantes de diversos ministérios
e da sociedade civil, incluindo empresas, cientistas e ONGs.

• Conferência do Rio – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento (CNUCED)

31
- Rio-92 /Eco-92 (3 a 14 de junho de 1992)

- 180 países

- a cooperação prevaleceu sobre o conflito. Preocupações globais abriram novos caminhos para o
diálogo multilateral.

- adoção de compromissos:
Convenção Sobre a Mudança do Clima
Convenção sobre a Biodiversidade
Declaração sobre Florestas.
Declaração do Rio (27 Princípios)
Agenda 21

Princípios da Declaração do Rio

Princípio 1; Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento


sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.

Princípio 2: Os Estados, de acordo com a Carta das Nações Unidas e com os princípios do direito
internacional, têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias
políticas de meio ambiente e de desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades
sob sus jurisdição ou seu controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de
áreas além dos limites da jurisdição nacional.

Princípio 3 :O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas
equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e
futuras.

Princípio 4: Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental constituirá parte


integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste.

Princípio 5: Para todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o
desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, a fim de
reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da
população do mundo.

Princípio 7: Os Estados irão cooperar, em espírito de parceria global, para a conservação, proteção
e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre. Considerando as diversas
contribuições para a degradação do meio ambiente global, os Estados têm responsabilidades
comuns, porém diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que lhes
cabe na busca internacional do desenvolvimento sustentável, tendo em vista as pressões exercidas
por suas sociedades sobre o meio ambiente global e as tecnologias e recursos financeiros que
controlam.

Princípio 8: Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada
para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo,
e promover políticas demográficas adequadas.

Princípio 9: Os Estados devem cooperar no fortalecimento da capacitação endógena para o


desenvolvimento sustentável, mediante o aprimoramento da compreensão científica por meio do
intercâmbio de conhecimentos científicos e tecnológicos, e mediante a intensificação do
desenvolvimento, da adaptação, da difusão e da transferência de tecnologias, incluindo as
tecnologias novas e inovadoras.

Princípio 10: A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível
apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso
32
adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas,
inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a
oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a
conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será
proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à
compensação e reparação de danos.

Princípio 11: Os Estados adotarão legislação ambiental eficaz. As normas ambientais, e os objetivos
e as prioridades de gerenciamento deverão refletir o contexto ambiental e de meio ambiente a que se
aplicam. As normas aplicadas por alguns países poderão ser inadequadas para outros, em particular
para os países em desenvolvimento, acarretando custos econômicos e sociais injustificados.

Princípio 12: Os Estados devem cooperar na promoção de um sistema econômico internacional


aberto e favorável, propício ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável em todos
os países, de forma a possibilitar o tratamento mais adequado dos problemas da degradação
ambiental. As medidas de política comercial para fins ambientais não devem constituir um meio de
discriminação arbitrária ou injustificável, ou uma restrição disfarçada ao comércio internacional.
Devem ser evitadas ações unilaterais para o tratamento dos desafios internacionais fora da jurisdição
do país importador. As medidas internacionais relativas a problemas ambientais transfronteiriços ou
globais deve, na medida do possível, basear-se no consenso internacional.

Princípio 13: Os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à


indenização das vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados irão também
cooperar, de maneira expedita e mais determinada, no desenvolvimento do direito internacional no
que se refere à responsabilidade e à indenização por efeitos adversos dos danos ambientais
causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu
controle.

Princípio 15: Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser
amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de
danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão
para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

Princípio 16: As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos
ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o
poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse
público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais.

Princípio 17: A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional, será efetuada para as
atividades planejadas que possam vir a ter um impacto adverso significativo sobre o meio ambiente e
estejam sujeitas à decisão de uma autoridade nacional competente.

Princípio 18: Os Estados notificarão imediatamente outros Estados acerca de desastres naturais ou
outras situações de emergência que possam vir a provocar súbitos efeitos prejudiciais sobre o meio
ambiente destes últimos. Todos os esforços serão envidados pela comunidade internacional para
ajudar os Estados afetados.

Princípio 22: Os povos indígenas e suas comunidades, bem como outras comunidades locais, têm
um papel vital no gerenciamento ambiental e no desenvolvimento, em virtude de seus conhecimentos
e de suas práticas tradicionais. Os Estados devem reconhecer e apoiar adequadamente sua
identidade, cultura e interesses, e oferecer condições para sua efetiva participação no atingimento do
desenvolvimento sustentável.

Princípio 27: Os Estados e os povos irão cooperar de boa fé e imbuídos de um espírito de parceria
para a realização dos princípios consubstanciados nesta Declaração, e para o desenvolvimento
progressivo do direito internacional no campo do desenvolvimento sustentável.

33
Agenda 21

• Programa de ação para viabilizar a adoção do desenvolvimento sustentável e


ambientalmente racional pelos Estados Membros.

• Roteiro para a implementação de um novo modelo de desenvolvimento

- sustentável quanto ao manejo dos recursos naturais e preservação da biodiversidade,

- equânime e justo nas relações econômicas entre os países, na distribuição da riqueza


nacional entre os diferentes segmentos sociais,

- economicamente eficiente

- politicamente participativo e democrático.

Estatísticas sócio-ambientais : (RDH/1998 do PNUD1 :Padrões de Consumo para o


Desenvolvimento Humano

• 20% (1/5) da população mundial, localizada nos países do Norte, industrializados,


consomem 80% dos recursos naturais

- 45% da carne, enquanto as mais pobres (também um quinto) consomem menos de 5%. A
média do consumo de proteínas em França é de 115 gramas por dia. Em Moçambique, é de 32
gramas;

- 58% da energia total, enquanto as mais pobres consomem menos de 4%; os países de maior
rendimento geram 65 % da eletricidade mundial;

-84% do total de papel, enquanto as mais pobres consomem 1,1%. A média dos países
industrializados é de 78,2 toneladas de papel por cada mil pessoas, enquanto a média registrada
nos países mais pobres se situa nas 0,4 toneladas por cada mil habitantes;

• 20% (1/5) da população mundial possui:

- 87% dos veículos existentes em todo o mundo, enquanto os mais pobres têm menos de 1%. Os
países industrializados registram uma média de 405 automóveis por cada mil habitantes. Nos
países da África Subsaariana, a média corresponde a 11 veículos por cada mil e, na Ásia Oriental
e na Ásia Meridional, o valor é de 5 veículos por cada mil habitantes.

- 74% do total de linhas telefônicas, enquanto as mais pobres só têm 1,5%. Na Suécia, na Suíça
e nos Estados Unidos, existem mais de 600 linhas telefônicas por cada mil pessoas. No
Afeganistão, no Camboja e no Chade, só existe um telefone por cada mil habitantes.

• Conferência de Joanesburgo, na África do Sul

- Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+10)

1 O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é a rede global de


desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, presente em 166 países. Seu mandato central
é o combate à pobreza. Trabalhando ao lado de governos, iniciativa privada e sociedade civil, o
PNUD conecta países a conhecimentos, experiências e recursos, ajudando pessoas a construir uma
vida digna e trabalhando conjuntamente nas soluções traçadas pelos países-membros para fortalecer
capacidades locais e proporcionar acesso a seus recursos humanos, técnicos e financeiros, à
cooperação externa e à sua ampla rede de parceiros- http://www.pnud.org.br/pnud/

34
- 26 de agosto a 4 de setembro de 2002

- balanço das lições e resultados obtidos a partir dos acordos firmados entre os participantes
da Rio-92

- analisou conjuntamente as questões ambientais e desenvolvimentistas

4. Quais as principais normas do Direito Ambiental Brasileiro relacionadas


à gestão de Unidades de Conservação da Mata Atlântica?
4.1.Constituição Federal de 1988

CAPÍTULO VI - DO MEIO AMBIENTE

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas; (Regulamento: Lei 9.985/00 - SNUC)

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à


pesquisa e manipulação de material genético; (Regulamento: Lei 9.985/00 - SNUC) (Regulamento: Lei
nº.11.105/05 -OGM)

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; (Regulamento: Lei 9.985/00 - SNUC)

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento:
Lei nº.11.105/05 -OGM)

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem


risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento: Lei nº.11.105/05 - OGM)

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a


preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (Regulamento : Leis
9605/98 – Crimes Contra o Meio Ambiente, 9.985/00 – SNUC)

§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado,
de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,


pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.

§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense


e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.

35
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal,
sem o que não poderão ser instaladas.

4.2.Código Florestal – Lei nº. 4.771/65

Principais assuntos de interesse deste curso:

conceitos de : utilidade pública, interesse social, pequena propriedade rural ou posse rural familiar:

área de preservação permanente (definição, localização, casos de supressão)

Reserva Legal (definição, porcentagem, recomposição, compensação, procedimento de averbação)

Servidão Florestal

4.3.Política Nacional do Meio Ambiente – Lei nº. 6.938/81

Principais assuntos de interesse deste curso:

Conceitos de: meio ambiente, degradação da qualidade ambiental, poluição, poluidor, recursos
ambientais

Princípios, objetivos e instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente

Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA ( composição e funcionamento)

Conselho Nacional do Meio Ambiente- CONAMA (composição e atribuições)

Licenciamento Ambiental (competência, procedimento)

4.4.Crimes Ambientais – Lei nº. 9.605/98

Principais assuntos de interesse deste curso:

Crimes contra a Flora e Fauna

Crimes contra a Administração Ambiental

Infração Administrativa

4.5.Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) Lei nº. 9.985/00

Principais assuntos de interesse deste curso:

Conceitos de: unidade de conservação, conservação da natureza, diversidade biológica, recurso


ambiental, preservação, proteção integral, conservação in situ, manejo, uso indireto e indireto, uso
sustentável, extrativismo, recuperação, restauração, zoneamento, plano de manejo, zona de
amortecimento, corredores ecológicos

Objetivos e diretrizes do SNUC

36
Categorias, criação, implantação e gestão das UC’s

Reservas da Biosfera

4.6.Utilização e Proteção da Mata Atlântica – Lei nº.11.428/06

Principais assuntos de interesse deste curso:

Definições, objetivos e princípios do regime jurídico do bioma Mata Atlântica

Proteção da vegetação primária e secundária em seus diferentes estágios de regeneração

Proteção do bioma mata atlântica nas áreas urbanas e regiões metropolitanas

Incentivos econômicos e creditícios


o
4.7.Lei n 11.516/07 - Dispõe sobre a criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade
o o
Modifica o inciso III do caput do art. 6 da Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000, que passa a ter a
seguinte redação:
o
Art. 6 O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições:

III - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em caráter supletivo, os órgãos
estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e
administrar as unidades de conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de
atuação. (Redação dada pela Lei nº 11.516, 2007)

4.8.Resoluções CONAMA

Resolução CONAMA Nº 001/1986 - "Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para o
Relatório de Impacto Ambiental - RIMA" - Data da legislação: 23/01/1986 - Publicação DOU:
17/02/1986

Resolução CONAMA Nº 237/1997 - "Regulamenta os aspectos de licenciamento ambiental


estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente" - Data da legislação: 22/12/1997 - Publicação
DOU: 22/12/1997

Resolução CONAMA Nº 278/2001 - "Dispõe contra corte e exploração de espécies ameaçadas de


extinção da flora da Mata Atlântica" - Data da legislação: 24/05/2001 - Publicação DOU nº 138, de
18/07/2001, págs. 51-52

Resolução CONAMA Nº 302/2002 - "Dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de


Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno" - Data da
legislação: 20/03/2002 - Publicação DOU: 13/05/2002

Resolução CONAMA Nº 303/2002 - "Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de


Preservação Permanente" - Data da legislação: 20/03/2002 - Publicação DOU: 13/05/2002

Resolução CONAMA Nº 312/2002 - "Dispõe sobre o licenciamento ambiental dos empreendimentos


de carcinicultura na zona costeira" - Data da legislação: 10/10/2002 - Publicação DOU: 18/10/2002

Resolução CONAMA Nº 317/2002 - "Regulamentação da Resolução Nº 278, de 24 de maio de 2001,


que dispõe sobre o corte e exploração de espécies ameaçadas de extinção da flora da Mata
Atlântica." - Data da legislação: 04/12/2002 - Publicação DOU nº 245, de 19/12/2002, pág. 244

37
Resolução CONAMA Nº 331/2003 - "Institui a Câmara Técnica de Unidades de Conservação e
demais Áreas Protegidas" - Data da legislação: 25/04/2003 - Publicação DOU nº 082, de 30/04/2003,
pág. 197

Resolução CONAMA Nº 357/2005 - "Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento
de efluentes, e dá outras providências." - Data da legislação: 17/03/2005 - Publicação DOU:
18/03/2005

Resolução CONAMA Nº 369/2006 - "Dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública,


interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de
vegetação em Área de Preservação Permanente-APP" - Data da legislação: 28/03/2006 - Publicação
DOU: 29/03/2006

Resolução CONAMA Nº 371/2006 - "Estabelece diretrizes aos órgãos ambientais para o cálculo,
cobrança, aplicação, aprovação e controle de gastos de recursos advindos de compensação
ambiental, conforme a Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza-SNUC e dá outras providências." - Data da legislação:
05/04/2006 - Publicação DOU nº 067, de 06/04/2006, pág. 045

Resolução CONAMA Nº 378/2006 - "Define os empreendimentos potencialmente causadores de


impacto ambiental nacional ou regional para fins do disposto no inciso III, § 1o, art. 19 da Lei no
4.771, de 15 de setembro de 1965, e dá outras providências" - Data da legislação: 19/10/2006 -
Publicação DOU: 20/10/2006

Resolução CONAMA Nº 387/2006 - "Estabelece procedimentos para o Licenciamento Ambiental de


Projetos de Assentamentos de Reforma Agrária, e dá outras providências" - Data da legislação:
27/12/2006 - Publicação DOU: 29/12/2006

Resolução CONAMA Nº 388/2007 - "Dispõe sobre a convalidação das Resoluções que definem a
vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da Mata
Atlântica para fins do disposto no art. 4o § 1o da Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006" - Data
da legislação: 23/02/2007 - Publicação DOU: 26/02/2007

Resolução CONAMA Nº 391/2007 - "Define vegetação primária e secundária nos estágios inicial,
médio e avançado de regeneração da Mata Atlântica no Estado da Paraíba" - Data da legislação:
25/06/2007 - Publicação DOU: 26/06/2007

5. Como proceder à pesquisa da legislação ambiental em vigor?


Site da presidência da Republica que possui base de legislação federal atualizada -
http://www.presidencia.gov.br/legislacao/

Site da Assembléia Legislativa dos Estados e das câmaras municipais


Site do Ministério do Meio Ambiente e dos órgãos ambientais federais e estaduais
http://www.mma.gov.br/
www.cprh.pe.gov.br/
www.sudema.pb.gov.br/
www.ima.al.gov.br/

Coletâneas de Legislação Ambiental

6. Temas importantes para a gestão de UC’s


6.1 Unidades de Conservação: O que é? Qual a sua função? Como é o procedimento para
sua criação? Quais a categorias e subcategorias existentes?
Lei n.º 9.985/00 (SNUC) art. 2º, inciso I, arts. 4º, 5º, 7º a 22
Decreto 4.340/02 arts. 2º, 3º, 4ºe 5º
38
6.2. Mosaico de UC’s e corredores ecológicos: O que é qual sua função?
Lei 9.985/00 arts. 2, XIX e arts. 25, 26
Decreto 4.340/02 arts. 8 a 11

6.3.Plano de Manejo: Qual sua função? Como é o procedimento para sua elaboração?
Lei 9.985/00 arts. 27 e 28
Decreto 4.340/02 arts. 12 a 16.

6.4. Conselho Gestor: Qual é a sua função? Como é o procedimento para sua criação?
Lei 9.985/00 arts. 2, XVII, 29
Decreto 4.340/02 arts. 17 a 20

6.5. Compensação Ambiental: O que é? Como é calculada e qual sua destinação?


Lei 9.985/00, art.36
Decreto 4.340/02 arts. 31 a 34

6.6. Zona de amortecimento: O que é? Como é calculada e qual sua função?


Lei 9.985/00, arts. 2, XVIII e 25
Decreto 4.340/02 art. 11

6.7. Reavaliação de UC’s não previstas no SNUC: O que é? Qual a sua finalidade?
Lei 9.985/00 art.55
Decreto 4.340/02 art. 40

6.8. Regularização Fundiária: O que é? Qual o procedimento adotado?


Lei 9.985/00 arts. 42, 45

6.9. Área de Preservação Permanente e Reserva Legal: O que é? Qual a sua função?
Lei 4771/65 arts. 2, 3, 16

6.10. Ação Civil Pública: Qual sua função? Como ela pode ser útil para a proteção de UC’s?
Lei 7.347/85 art. 1, inciso I

7. Como a legislação ambiental pode auxiliar na gestão de UC’s?

39
ÉTICA E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Docente
Marcelo Pelizzoli – Professor da UFPE.
Contato: opelicano@gmail.com

Ementa
Em nosso contexto de crise ecológico-econômica, é suscitada a construção de novas posturas a
partir do chamado “paradigma ecológico”. Isto leva aos novos desafios de capacitação/consciência
pessoal e social, para a manutenção vital, ou sustentabilidade, exigindo o que chamamos de “postura
de defesa socioambiental”. Tal implica a reflexão sobre paradigmas anti-socioecológicos e o
rastreamento destes em nossos hábitos e ações.

Objetivos
• Promover uma discussão conjunta em torno da Ética (e Educação) desde o atual estado da
crise sócioambiental (Sensibilizar para a Ecologia Profunda)
• Introduzir teórica e praticamente a ferramenta mediadora da CNV (Comunicação não-
violenta)
• Promover consciência, estratégia e dinâmica participativa para lidar com pessoas, grupos e
disputas.

Conteúdo Programático
* (Vídeo)

1. Apresentação do Professor
2. O que diz pra você essa disciplina ? Significado, importância, finalidade (tendo em vista o
trabalho do gestor) (pontual)
2.1. Apresentação da Proposta – passo a passo
3. Discussão sobre Ética
+ O que mais nos incomoda/inquieta neste ponto Ética e Ambiente, nas tuas vivências ?
No quadro: O que é Ética ? (dela decorrem outras nas respostas. Qual o papel do exemplo ? Teórica
(discurso) e prática. Há uma ética universal ?. Inata ou adquirida ? Genética? Dicotomia Certo e
Errado, meu gueto X o teu, Bem X Mal... Sombra. Ética = Moral ? Ethos grego.) Pq ser ético?? É
possível uma ética sem fé ?
3.1 – Dinâmica espelho-sombra. Bode, Ovelha.
4. Representação em aula
Círculo, podendo ser na forma de confronto entre partes, que por afinidade se aproximam. Papéis
voláteis. Usineiro, ecologista verdista, Ibama, comunidade carente que invade a área, consumidor
jovem urbano rebelde, pessoa desanimada com tudo, floresta de um local (vc pode acolher as
pessoas ?), monocultura de cana, amane...
Conflitos em jogo:
Reserva com muro X comunidade. Comunidade do entorno jogando lixo e roubando. (“Zona de
amortecimento Social”). Pescadores no Mangue, área de proteção.Pessoas dentro da unidade
(guarda). Necessidade de sobrevivência; Macaxeira X Mata. Animais domésticos mortos na UC com
arma. (que diferença moral há entre a vida de um animal raro e um doméstico ?). Como ele se sente?
(o significante “IBAMA”)

Intervalo

5. Apresentação teórica da Comunicação Não-violenta


5.1 - Rememorar o conflito:

40
a) Negativo: Imagine uma conversa muito ruim que você teve, e que o diálogo fracassou fortemente.
Que sentimentos são evocas daquele momento ? Como era o tom da voz ? Lembra do tipo de
palavras ou expressão ? O que marcou ? O que vc tentou fazer ?

b) Positivo: Com foi ? Por que deu certo ? O que vc sentiu ? Que tipo de palavras ? Como vc ficou
depois ?
(As pessoas vão relatando, e o facilitador vai levantando mais perguntas a cada vez.
Pode anotá-las no quadro ou PC. Nisso, vai tb. dando teorias e casos.)

* Voltar à C N V (quadro-resumo)

Almoço

* Video de diálogo – conflito.


* Abertura para a Justiça Restaurativa – Comunitária (Escritórios populares de mediação):
http://br.youtube.com/watch?v=I0_AmLYlO5g
* Terapia Comunitária: http://www.msmcbj.org.br/arq.php?id=19&do=d&ext=wmv&nome=TC.wmv

* - Dinâmica da teia (cigarro)

6 – Em pequenos grupos, discutir como ocorre a educação ambiental na UC que vc pertence?


Se não há, em que circunstâncias e como você percebe a necessidade da EA ?
+ Quais ações podemos fazer ? (como é a gestão participativa ali?) Apresente ao grande grupo.
(* Prof. expõe, síntese. O que é ambiente ? O que é educação ? Libertadora. 3 níveis.
Edu. Participativa. Questão ecológica questão antropológica/sociológica (antropocentrismo X...))
(Pas de negativité !) (sala de convivência...)

6.1 - Percepção do ambiente (sala)


MEIO AMBIENTE e NATUREZA, onde está Meio Ambiente; onde está a Natureza?
Respostas imediatas. Faire percevoir chaque part a la place, oú s´arrive aux personnes, l´emotion,
au dedans. Voici les trois ecologies. Naturel, Polítique et Subjetivité. E tb. introduzir o conceito de
ETHOS grego, que significa a casa, e as relações nestas três dimensões. Environement natural,
político, vizinhança, família, e Environement moral pessoal, que tb. se liga aos outros, mais ainda da
família.

7 – Ecopsicologia (data show)


(Como nos sentimos com problemas tão grandes ? “Fim do mundo”? Com as contradições que
vivemos ?) (Voltar ao passado ?) (A crise é da natureza ?)

Metodologia
Aulas expositivo-reflexivas questionantes. Análise de conceitos-chave envolvidos na temática e
exemplos. Análise de casos e vídeo. Teatralizaçao. Vivência na natureza. Músicas. Fórum síntese.

Bibliografia
• PELIZZOLI, Marcelo. A emergência do paradigma ecológico. Petrópolis: Vozes, 1999.
• _________________. Correntes da ética ambiental. Vozes, 2003.
1. BOFF, Leonardo. Ética da Vida. SP: Sextante, 2005.
2. CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. SP: Cultrix. (1982) /& CAPRA, F. Conexões ocultas. SP:
Cultrix, 2004.
3. CARTA DA TERRA. Princípios e Valores para um futuro Sustentável – ECO 92.
4. DALAI Lama. Ética para um novo milênio. Editora GMT, 2000.
5. DIAS, Genebaldo Freire. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. São Paulo: Gaia, 2002.
6. (The) EARTHWORKS GROUPS. 50 pequenas coisas que você pode fazer para salvar a Terra.
Círculo do livro. (1989)
7. FÓRUM brasileiro de ONGs e movimentos sociais para o meio ambiente e desenvolvimento. Brasil
século XXI - os caminhos da sustentabilidade cinco anos depois da Rio-92. FASE, RJ, 1997, 504
p. & tb. A RIO-92
8. GOLEMAN, D. & Dalai Lama. Como lidar com emoções destrutivas. SP: Ediouro, 2002
41
9. GONZALES, Alberto P. Lugar de médico é na cozinha. RJ: Ed. Estácio de Sá/Editora Rio, 2006.
10.GRüN, Mauro. Ética e educação ambiental. SP, Papirus, 1996.
11.GUATTARI, Félix. As três ecologias. SP, Papirus, 1993.
12.HANH, Thich Nhat. Aprendendo a lidar com a raiva. SP: Sextante, 2001.
13.LEI N0 9.795. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação
Ambiental e dá outras providências.
14.MACY, J. & MOLLY. Nossa vida como Gaia. SP: Ed. Gaia, 2005.
15.MANCE, Euclides A . Como organizar redes solidárias. DP&A Ed. 2003.
16.MELLO, Anthony de. Auto-libertação. SP: Loyola, 1987.
17.MORIN, Edgar. Terra-Pátria. Editora Sulina. São Paulo, 1995.
18.ROSENBERG, Marshall. Comunicação não-violenta. SP: Ágora, 2006.
19.SINGER, Peter. Ética prática. SP: Ed. Martins Fontes.
20.TAGORE, Rabindranath. Sadhana - o caminho da realização. Editora Paulus, SP, 1994.
21.TENNER, A vingança da tecnologia. SP: Campus,1997.
22.TOLLE, Eckhart. O poder do agora. SP: Sextante, 2002
23.ZWEIG, S. & ABRAMS J. (Orgs). Ao encontro da sombra. SP: Cultrix, 1991.

Filmes importantes:

Quem somos nós ? / A carne é fraca / Terráqueos / Janela da Alma / Matrix / À primeira vista /
Kundun / Uma verdade inconveniente / vídeos de E. Tolle / Super Size Me / Tiros em columbine /
Gandhi / The Corporation / O ponto de mutação

Vídeos: The meatrix, Midiatrix, o pum da vaca,

Mito da Caverna atual


http://br.youtube.com/watch?v=WkWQ6jB3jm0&NR=1

Nossa vida como Gaia


A partir de Macy & Molly

A maior destruição em nosso mundo não está sendo infligida por tiranos psicopatas ou
terroristas. Está sendo feita por pessoas comuns – obedientes á lei, frequentadores de igrejas, chefes
de família, adeptos da moral – que desfrutam de seus veículos esportivos, de suas férias no exterior e
de seus hamburguers, indiferentes à fonte desses prazeres e de seus custos. ...quando todos os
efeitos não contabilizados de sua produção e consumo forem somados.
Viver numa sociedade assim gera em nós conflitos profundos, mas os tabus impedem de falar
disso, ou mesmo enxergar, são sutis, fortes e complexos. Ser bom, ou até inteligente, significa
participar da fraude comunal, como o transe alcoólico. (27)

Cap 1 – Optar pela Vida

Hoje eu tomo o céu e a terra com testemunhas contra vocês: eu lhe propus a vida ou a morte, a
benção ou a maldição. Escolha portanto a vida, para que você e seus descendentes possam viver.
(Deut.30,19)

Qual é o nosso momento de vida na Terra ? Extraordinário...


Civilizações enormes (Fenícios, Roma imperial, Impérios na China...) declinaram. Apogeu e declínio
parecem andar juntos. E junto a destruição (além de desagregação social) de seus habitat naturais.
Os alertas quanto aos efeitos da Sociedade de Consumo Industrial estão dados há tempos. A
economia coloca-se em seus últimos estertores, baseada num consumo pretensamente infinito.
Estamos em xeque. O que aguarda o presente e o futuro, as crianças ?
Assim como um câncer em crescimento acaba destruindo seus sistemas de suporte de vida
ao destruir seu hospedeiro, a economia global em expansão contínua está destruindo lentamente seu
hospedeiro – o ecossistema da Terra (Lester Brown, State of the World, 1998)

42
A opção por um mundo sustentável

Podemos escolher a vida. Podemos satisfazer nossas necessidades sem destruir o sistema que
sustenta nossa vida. Sociedade sustentável. Incontáveis grupos, instituições, pesquisas, lutas sociais
e ambientais estão se organizando, aprendendo e agindo para o novo paradigma. Só haverá um
mundo digno de se viver se passarmos da Sociedade de Crescimento Industrial para a de
Sustentação da Vida.

A Grande virada

Algo está tomando impulso, graças a opções conscientes de pessoas e grupos. (31)
3 áreas ou dimensões estão sendo encetadas: 1. ações para reduzir danos ambientais e humanos. 2.
análise das causas estruturais e criação de alternativas estruturais; 3. mudança fundamental de
cosmovisão e de valores.

I – Agindo em defesa da vida na Terra

Inclui todas as ações em prol da vida, política, legislativa, educacional etc: bloqueios, ações
juridicas, boicotes, desobediência civil e outras formas de protesto.

• Documentar os efeitos deletérios á saúde e ao ecossistema da SCI, no seu uso de energia,


consumo, químicas, pesticidas, tóxicos, aditivos alimentares, fazendas do agronegócio etc.
• Campanhas por leis mais rigorosas e o cumprimento das mesmas.
• Participação e pressão política sobre governos e autoridades. Poder publico
• Fazer lobby contra acordos internacionais de comércio que ameaçam a vida. (Nafta etc)
• Fazer estardalhaço sobre práticas empresariais danosas, ilegais, não-éticas ou injustas
• Boicotar empresas social e ambientalmente danosas; cartéis, mega-corporações etc.
• Fazer barreiras e vigílias em lugares onde está havendo destruição ambiental. Fechas
trânsito etc.
• Promover alojamento, alimento e assistência aos sem-teto, sem-terra, aos pobres.

É um trabalho heróico sim, onde conflitos de interesse surgem, crises, desânimos, pequenas vitórias,
riscos aos ativistas tb. Quando assumimos posição de destaque, recebemos muitos ataques.
Podemos para e respirar tb. Nosso trabalho salva vidas e ecossistemas.

II - Análise das causas estruturais e criação de instituições alternativas

Quais são os acordos tácitos que criam fortunas obscenas para uns poucos e miséria para muitos?
Que causas entrelaçadas levam-nos à uma economia insaciável que usa tudo como objeto, deposito
ou esgoto? É preciso coragem para enfrentar isso...(33)
È preciso dar-se conta de como a SCI depende de nossa participação ! Ela tem muitas
fragilidades, e está num caminho de auto-devorar-se. Em todo caso, a crítica deve vir sempre
acompanhada de ações concretas e alternativas. Estamos num período de transição (MLP)
As ações que provêm de nossas mãos podem parecer pequenas, mas são as sementes do
amanhã.

Exemplos de iniciativas:

• Aulas e grupos sobre a questão ecológica em sua ligação com a economia global e local.
Busca da economia solidária, justa, trocas, organizações dos pequenos etc.
• Serviços educacionais para conscientizar sobre custos ecológicos e humanos do consumo
atual (ex. Worldwatch Institute...)
• A criação de novas e mais precisas medidas de riquezas, valoração ambiental, substituindo a
visão do PIB
• Serviços baseados na comunidade para mediação de conflitos, substituindo processos
jurídicos burocráticos e distantes.

43
• Estratégia de programas de CNV e defesa não violenta, com base na sociedade civil. Ação
de não-violência. (34)
• Redução da dependência de combustíveis fósseis e nucleares e conversão para fontes
renováveis (sol, ventos, biomassa, etc.)
• Difusão de fundos de cooperativas de terra como formas de propriedade não individualizada
• Modalidades colaborativas de moradia, repúblicas e ecovilas...
• Iniciativas locais criando jardins comunitários, cooperativas de consumo e comercialização;
banco de habilidades; agricultura comunitária e orgânica; projetos de recuperação de rios,
bacias...
• Programas de reciclagem e produção de compostagem comuns e municipais.
• Métodos naturais, holísticos de saúde e bem-estar, valendo-se da capacidade de auto-cura
do corpo e da mente.
• Moedas locais, baseado na permuta de bens e serviços, de modo que os recursos dos
cidadãos circulem dentro de suas comunidades em vez de irem para empresas
multinacionais ou megas.
• Novos empreendimentos educacionais, para além de servir tecnicamente ao industrialismo,
abrindo para as crianças seu mundo natural e o capital intelectual de suas comunidades

• Sistemas de comunicação eletrônica onde podemos reforçar as lutas, trocar informações,


estratégias e coordenações á margem da burocracia e da mídia de massa controlada por
corporações.

III – Mudança na percepção de realidade em termos cognitivos e espirituais

Estas novas instituições nascentes não podem se enraizar e sobreviver sem que haja valores
profundos que a sustentem. (35)
Os insights e experiências nos ajudam a realizar essa mudança e são como o cubo da roda, estão
no centro. Nossas consciências são interpeladas de vários modos. Surge pelo lamento pelo mundo e
pelas pessoas é um sinal disso. Surge tb. pela alegria dos avanços do pensamento científico com as
novas lentes que focam a realidade, pela teoria quântica, astrofísica, sistemas vivos, Gaia... e um
suspiro de alívio diante da ultrapassagem do reducionismo e materialismo... e suas cosmovisões que
alimentam a SCI. Ou podemos nos comover com as tradições de sabedoria antigas, indígenas, ou
místicas, ou em nossas próprias religiões, resgatando o sagrado
Agora, em nossa época, estes 3 rios fluem juntos: angústia por nosso mundo; avanços científicos;
ensinamentos dos ancestrais. Estamos despertando para o planeta vivo... A reorganização de nossas
percepções libertam-nos em algo das garras da SCI, das ilusões acerca do que precisamos ter e de
nosso lugar na ordem das coisas.

Os ingredientes do despertar são incontáveis, e incluem:

• teoria dos sistemas vivos, revelando a auto-organização da realidade e a presença da mente


na Natureza.
• Teoria de Gaia, nosso corpo maior
• Ecologia Profunda e movimento ecológico de longo alcance, resgatando-nos do
antropocentrismo
• Budismo engajado e correntes similares da tradição hindu, sufi, hasídica, taoísta, com
ensinamentos de respeito à Vida, a interdependência de tudo, e a base da prática espiritual
como ação social.
• O ressurgimento de tradições xamânicas e o modo animado como podemos conhecer nossa
identidade e o Eu em termos relacionais.
• Ecopsicologia, para além da patologia individual, questionando nosso estar no mundo.
• O movimento pela vida simples ou simplicidade voluntária, para além dos padrões de
consumo deletérios
• Música e arte expressando nossa interconexão, incorporando sons, imagens da Natureza,
interações. Cultura. (37)

44
Adentrei a vida da floresta marrom, e a grande vida dos antigos cumes, a paciência da pedra; senti
as mudanças nas veias, na garganta da montanha, um grão em muitos séculos, temos nosso
tempo, não o seu; e fui o riacho, escoando os galhos da floresta; e fui o alce bebendo; e fui as
estrelas, fervendo de luz, vagando solitárias, cada qual senhora de seu próprio ápice; e fui a
escuridão. Ao redor das estrelas, incluí-as, elas eram parte de mim. Fui ainda a humanidade, um
líquen móvel, na face da pedra redonda... Como posso expressar a dignidade que encontrei, que
não tem cor, mas clareza. Não o mel, mas o êxtase... (Robinson Jeffers)

Essa mudança de identidade salvará vidas nos traumas sociopolíticos e ecológicos que nos
aguardam... (Quando os mercados e suprimentos entrarem encontrarem esgotamento, as
instituições financeiras entrarem em colapso, as ondas de choque podem nos encobrir, trazendo
caos e medo.)
As percepções que teremos na terceira dimensão da Grande Virada poupam-nos de sucumbir
ao pânico ou á paralisia. Sabemos que não existe salvação particular.
Quando estivermos distraídos e receosos, e os prognósticos são adversos, é fácil permitir o
entorpecimento do coração e da mente (38) O maior perigo é o torpor...

CAP II – O grande perigo: Apatheia, mortificação da mente e do coração

A destruição do mundo em nossas vidas é o que nos deixa meio loucos...


Destruir o que recebemos como confiança: como suportar isso?

Os perigos que ameaçam a vida na terra são tão graves que mal podemos acreditar que existem
de fato. As vezes os p. sinais de perigo, que deveriam chamar nossa atenção e unir por ações
coletivas, tendem a causar o efeito inverso. Nosso interesse por distrações sustenta indústrias
bilionárias que nos dizem que tudo estará bem desde que compremos, e preferimos não pensar
no mal por trás. Compramos coisas sem saber onde são feitas, como e o que levam, bem como o
mal que têm causado. Escolhemos candidatos sem saber. Teremos nos tornado calejados,
niilistas ? Despreocupados com a Terra ? Pode parecer assim. Muitos divulgam info ainda mais
terríveis para nos provocar. Fazem pregações sobre deveres morais, como se não nos
preocupássemos. Seus alarmes e sermões em geral aumentam nossas resistências contra o que
parece poderoso demais, complicado demais, por demais fora de nosso controle.
Apatheia significa não sofrer. Incapacidade ou recusa a sentir a dor. Qual é a dor que
sentimos – e que tentamos não sentir – neste planeta e época? São perdas muito vastas. É a dor
pelo mundo. (42)

DOR pelo mundo

Somos bombardeados pelos noticiários e pela vida ao nosso redor com sinais de perigo –
demissões, famílias sem lar, lixo tóxico, guerras, armas nucleares... Tudo isso faz com que
sintamos medo e tristeza, mesmo que não expressemos. Em virtude de nossa nat. humana,
repartimos essas reações profundas. Dor. Sua fonte está menos na preocupação pelo eu
individual do que na apreensão pelo sofrimento coletivo.. com o que acontece tb. com o legado
dos ancestrais, e com as gerações que virão, e com o corpo vivo da Terra.
Aquilo de que estamos tratando é análogo ao sentido original da compaixão: “sofrer com”. Dor
pelo mundo, vivida por todos nós.
Ninguém está isento, assim como ninguém pode existir sozinho e auto-suficiente no espaço
vazio.
45
Essa dor é o preço da consciência em um mundo ameaçado e em sofrimento. Não apenas é
natural, mas é um componente necessário para nossa cura coletiva. ... como em qq organismo, é
um sinal de alerta e procura causar uma ação. Portanto, o problema não está nesta dor, mas em
sua repressão... (43)

* Fontes psicológicas de repressão

Nenhuma fonte física nos impede de devotar coragem e criatividade á luta socioambiental. O
que então está inibindo ? Primeiro examinemos então as razões psicológicas da repressão...
Medo da dor
Medo do desespero
Medo de parecermos mórbidos
Falta de confiança em nossa inteligência
Medo da culpa
Medo de causarmos perturbação

Medo de não sermos patrióticos


Medo de parecermos fracos e emotivos
Crença em um eu separado
Medo da falta de poder
FONTES econômicas de repressão: (49)

Comunicação não-violenta2
Marshall B. Rosenberg

1 – Dar de todo coração (Tradução direta do inglês por Márcia Gama)

DANDO DE CORAÇÃO

O coração da Comunicação Não Violenta

O que eu quero na minha vida é compaixão, um relacionamento entre mim e os outros baseado numa
doação mútua a partir do coração. – Marshall Rosenberg

INTRODUÇÃO

Acreditando que natural em nós é dar e receber num modo compassivo, tenho estado preocupado a

maior parte da minha vida com duas questões. O que acontece para desconectar-nos de nossa

natureza compassiva, levando-nos a nos comportar violenta e exploradoramente? E, contrariamente,

2 Resumo literal da tradução espanhola Comunicacion no violenta, Ediciones Urano – Barcelona.


Prof. Marcelo Pelizzoli (opelicano@ig.com.br)

46
o que permite que algumas pessoas estejam conectadas à sua natureza compassiva mesmo sob as

mais difíceis circunstâncias?

Minha preocupação com estas questões começou na infância, por volta do verão de 1943,
quando nossa família se mudou para Detroit – Michigan. Na segunda semana após nossa chegada,
irrompeu uma luta racial a partir de um incidente num parque público. Mais de 40 pessoas foram
mortas nos dias que se seguiram. Nossa vizinhança estava situada no centro da violência e
passamos três dias trancados em casa.
Quando a disputa racial terminou e a escola começou, eu descobri que um nome poderia ser
tão perigoso quanto a cor da pele. Quando a professora falou meu nome durante a chamada, dois
meninos olharam furiosamente para mim e me vaiaram – “você é um ‘kike’?”, eu nunca tinha ouvido
falarem assim antes e não sabia que essa palavra era usada por algumas pessoa de modo pejorativo
para referir-se a judeus. Após a aula, os dois estavam esperando por mim: derrubaram-me no chão,
chutaram-me e me bateram.
Desde aquele verão em 1943, eu tenho examinado as duas questões que mencionei. O que
nos possibilita, por exemplo, estar conectados à nossa natureza compassiva mesmo sob as mais
difíceis circunstâncias? Estou pensando em pessoas como Etty Hillesum, que permaneceu
compassiva mesmo enquanto era submetida às grotescas condições de um campo de concentração
alemão. Como ela escreveu no seu jornal, naquela época:
“Eu não sou facilmente amedrontável. Não porque eu seja brava mas porque eu sei que estou
lidando com seres humanos, e eu devo tentar, o mais possível, entender cada coisa que qualquer um
faça. E o que foi realmente importante para essa manhã: não que um decepcionado jovem oficial da

Gestapo gritou para mim, mas que eu não senti indignação em vez de uma real compaixão, e
gostaria de lhe ter perguntado “Você teve uma infância muito infeliz, sua namorada o abandonou?”.
Sim, ele olhou perturbado e dirigiu chateado e enfraquecido. Eu deveria ter começado a tratar dele ali
mesmo, por saber que um jovem como aquele é perigoso tão logo seja deixado perdido na espécie
humana.” – Hillesum, Etty : Uma Memória

Enquanto estudava os fatores que afetam nossa habilidade para sermos compassivos, eu fui
confrontado com o papel crucial da linguagem e nosso uso das palavras. Tenho desde então
identificado uma abordagem específica para comunicação – falar e ouvir – que nos leva a dar de
coração, conectando-nos conosco mesmos e com os outros de modo que permite florescer nossa
natural compaixão. Eu chamo essa abordagem de Comunicação Não Violenta, usando o termo não-
violência como Gandhi a usou – para referir-se ao nosso estado natural de compaixão quando a
violência some do nosso coração. Embora nós não possamos considerar nosso modo de falar
‘violento’, nossas palavras freqüentemente levam a machucar e provocar dor, para nós mesmos e
para os outros. Em algumas comunidades, o processo que estou descrevendo é conhecido como
Comunicação Compassiva; a abreviatura “CNV” é usada através desse livro para referir-se à
Comunicação Compassiva ou Não Violenta.

Um meio de focalizar a atenção

O CNV está fundado em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem nossa habilidade

para permanecermos humanos, mesmo sob difíceis condições. Ele não contém nada de novo; tudo o

que foi integrado ao CNV é conhecido por séculos. A intenção é nos lembrar do que nós já sabemos

– sobre como nós humanos fomos levados a nos relacionar uns com os outros – e ajudar-nos a viver

de modo a manifestar concretamente esse conhecimento.

O CNV nos orienta a redefinir nossa maneira de nos expressarmos e ouvirmos os outros. Ao
invés de ser habitual e automáticas reações, nossas palavras tornam-se respostas conscientes
baseadas firmemente em nossa consciência do que estamos percebendo, sentindo, e desejando.
Somos levados a nos expressar com honestidade e clareza, enquanto damos aos outros respeitosa e
47
empática atenção. Em qualquer troca, nós vamos ouvir nossas próprias necessidades mais profundas
e aquelas dos outros. O CNV nos treina para observar cuidadosamente, e para sermos capazes de
especificar comportamentos e condições que nos afetam. Aprendemos a identificar e claramente
articular o que nós estamos concretamente querendo em determinada situação. A forma é simples,
embora poderosamente transformadora.
Como o CNV substitui nossos antigos padrões de defesa, retirada ou ataque em face de
julgamento crítico, nós começamos a perceber a nós mesmos e aos outros, bem como as nossas
intenções e relacionamentos, sob nova luz. Resistência, defensividade e reações violentas são
minimizadas. Quando nós focamos na clarificação do que está sendo observado, sentido e
necessitado, ao invés de focarmos no diagnóstico e julgamento, nós descobrimos a profundidade de
nossa própria compaixão. Através dessa ênfase na escuta profunda – para nós mesmos e para os
outros – o CNV encoraja o respeito, atenção e empatia, e propicia um mútuo desejo de dar com o
coração.
Embora eu me refira a isso como um “processo de comunicação” ou uma “linguagem da
compaixão”, o CNV é mais que um processo ou linguagem. Num nível mais profundo, ele é um
avançado lembrete para manter nossa atenção focada num lugar onde nós mais provavelmente
encontraremos o que procuramos.
Há uma história de um homem sob uma lâmpada de rua procurando por alguma coisa nos
quatro cantos. Um policial que ia passando perguntou o que ele estava fazendo. “Procurando pelas
chaves do meu carro”, respondeu o homem, que parecia ligeiramente bêbado. “Você as deixou cair
aqui?”, perguntou o policial. “Não”, respondeu o homem, “Eu as deixei cair no beco”. Vendo a
expressão desconcertada do policial o homem se apressou em explicar, “Mas a luz aqui é muito
melhor”.

Acho que meu condicionamento cultural me levaria a focalizar minha atenção em lugares
onde eu encontre mais provavelmente o que quero. Desenvolvi o CNV como um caminho para treinar
minha atenção – para acender a luz da consciência – em lugares que tenham o potencial de produzir
o que estou buscando. O que eu quero na minha vida é compaixão, um fluxo entre mim e os outros
baseado em mútua doação de coração.
Esta qualidade de compaixão, a que eu me refiro como “doação de coração” está expressa
na seguinte canção, de autoria de minha amiga Ruth Bebermeyer:
Eu nunca me senti dando mais
Que quando você toma de mim
Quando você entende a alegria que sinto de dar a você
E você sabe que minha entrega não é feita
Para deixá-lo em débito comigo
Mas porque quero viver o amor que sinto por você

Receber com gratidão


Pode ser a maior dádiva
Não há como separar os dois
Quando você se entrega a mim
Eu lhe dou minha acolhida
Quando você toma de mim
Eu me sinto entregando a você.

(Canção Dar a – 1978 – de Ruth Bebermeyer

Quando nós damos de coração, o fazemos de modo que uma alegria brota mesmo se não
estamos desejosos de enriquecer a vida da outra pessoa. Este tipo de doação beneficia a ambos, o
doador e o recebedor. O recebedor aproveita o presente sem se preocupar com as conseqüências
que acompanham presentes dados sem medo, culpa, vergonha ou desejo de ganhar. O doador se
beneficia de melhoria da auto-estima que resulta quando nós vemos nossos esforços contribuírem
para o bem estar de alguém.
O uso do CNV não requer que as pessoas com as quais estamos nos comunicando sejam
conhecedores do CNV ou mesmo estejam motivados a se relacionar conosco compassivamente. Se
nós estamos dentro do princípio do CNV, motivados somente para dar e receber compassivamente, e
fazer qualquer coisa que possamos para deixar os outros saberem desse nosso único motivo, eles
48
aderirão ao processo e eventualmente seremos capazes de responder compassivamente a outrem.
Eu não estou dizendo que isso sempre acontece rapidamente. Reafirmo, entretanto, que a compaixão
inevitavelmente floresce quando estamos certos dos princípios e processos do CNV.

O MODELO CNV (Tradução de Márcia Gama – Espaço Família)

Quatro componentes do CNV :

• Observação
• Sentimento
• Necessidade
• Demanda

Para chegar ao mútuo desejo de dar de coração, focalizamos a luz da nossa consciência em quatro
áreas – referidas como os quatro componentes do modelo CNV.
Primeiro, observamos o que está realmente acontecendo numa situação: o que estamos
observando os outros falarem ou fazerem está enriquecendo ou empobrecendo nossa vida?
O truque é ser capaz de articular esta observação sem introduzir qualquer julgamento ou
avaliação – simplesmente dizer o que as pessoas estão fazendo que gostamos ou não gostamos. Em
seguida, dizemos como nos sentimos quando observamos estas ações: estamos feridos, magoados,
alegres, espantados, irritados, etc.? E terceiro, dizemos que necessidades nossas estão ligadas aos
sentimentos que identificamos. A consciência desses três componentes está presente quando
usamos o CNV para esclarecer e expressar honestamente como estamos.

Por exemplo, uma mãe pode expressar esses três elementos ao seu filho adolescente
dizendo: “Felix, quando eu vejo duas bolas de meia sob a mesinha de centro e uma terceira junto à
TV, eu me sinto irritada porque eu preciso de mais ordem nas salas que usamos juntos.”
Ela poderia seguir imediatamente com o quarto componente – uma solicitação específica:
“você poderia colocar suas meias no seu quarto ou na máquina de lavar?” Este quarto componente
esclarece o que estamos querendo da outra pessoa que poderia melhorar nossas vidas ou tornar a
vida mais maravilhosa para nós.
Assim, parte do CNV é expressar aqueles quatro componentes de informação muito
claramente, verbalmente ou por outros meios. O outro aspecto dessa comunicação consiste em
receber os mesmos quatro componentes de informação dos outros. Nós nos conectamos com eles
primeiro sondando o que eles estão observando, sentindo e precisando e então descobrindo o que
poderia nos enriquecer recebendo a quarta parte, sua solicitação.
Quando nós mantemos nossa atenção focada nas áreas mencionadas e ajudamos os outros
a fazerem o mesmo, estabelecemos um fluxo de comunicação, indo e vindo, até a compaixão
manifestar-se naturalmente: o que eu estou observando, sentindo e necessitando; o que eu estou
requerendo para enriquecer minha vida; o que você está observando, sentindo e necessitando; o que
você está requerendo para enriquecer a sua vida.

Modelo CNV

Quais as ações concretas que estamos observando que estão afetando nosso bem-estar;
Como nos sentimos em relação ao que estamos observando;
Quais as necessidades, valores, desejos, etc., que estão criando nossos sentimentos;
Quais as ações concretas que estamos demandando de modo a enriquecer nossas vidas.

As duas partes do CNV são:

1. Expressar-se honestamente através dos quatro componentes do método;


2. Receber com empatia através dos quatro componentes.

Quando usamos este modelo, podemos começar tanto por expressar-nos, quanto por ouvirmos o
outro com empatia. Embora venhamos aprender a ouvir e a expressar verbalmente cada um

49
desses componentes nos capítulos 3 a 6, é importante ter em mente que o CNV não consiste de
uma fórmula fechada, mas adapta-se a várias situações assim como a estilos pessoais e culturais
diversos. Enquanto eu por conveniência me referir ao CNV como um “processo” ou uma
“linguagem”, é possível experimentar todas as quatro partes do modelo sem dizer uma única
palavra. A essência do CNV é está baseada em nossa consciência desses quatro elementos, não
em palavras que sejam trocadas.

APLICANDO O CNV EM NOSSA VIDA E NO MUNDO

Quando usamos o CNV em nossas interações – conosco mesmo, com outra pessoa ou num grupo –
tornamo-nos fundamentados em nosso estado natural de compaixão. Essa é consequentemente uma
abordagem que pode ser efetivamente aplicada em todos os níveis de comunicação e em diversas
situações:
- relacionamentos íntimos;
- famílias;
- escolas;
- organizações e instituições;
- terapia e aconselhamento;
- diplomacia e negócios;
- disputas e conflitos de qualquer natureza.

Algumas pessoas usam CNV para criar maior profundidade e cuidado em seus relacionamentos:

“Quando eu aprendi como eu posso receber (ouvir), bem como dar (expressar), através do
uso do CNV, eu fui além do sentimento atacado e ‘ofendido’ para realmente ouvir as palavras e
extrair os sentimentos subjacentes. Eu descobri um homem muito ferido com quem eu fui casada por
28 anos. Ele me pediu o divórcio na semana anterior ao workshop do CNV. Para encurtar a história,
estamos aqui hoje, juntos, e eu aprecio a contribuição dada para o nosso ‘final feliz’. Aprendi a ouvir
sentimentos, expressar minhas necessidades, aceitar respostas que eu não queria ouvir. Ele não está
aqui para me fazer feliz, nem eu estou aqui para criar felicidade para ele. Nós dois temos aprendido a
crescer, a aceitar e a amar, de modo que possamos cada um ser preenchidos.” (participante de um
workshop em San Diego)

Outros o usam para construir melhores relacionamentos no trabalho. Uma professora


escreveu:

“Tenho usado CNV na minha classe de educação especial há cerca de um ano. Ele pode
funcionar mesmo com crianças que tenham atraso na linguagem, dificuldades de aprendizagem, e
problemas de comportamento. Um estudante em nossa classe cuspia, xingava, gritava, e arranhava
os outros estudantes com lápis quando eles chegavam perto de sua mesa. Chamei-lhe a atenção
dizendo “ Por favor, diga de outro jeito. Use sua fala de girafa.” (bonecos ‘girafa’ são usados em
alguns treinamentos como um auxiliar pedagógico para demonstrar o CNV). Ele imediatamente
parou, olhou para as pessoas para as quais sua raiva era direcionada, e disse calmamente: “Você
poderia por favor sair da minha mesa? Eu sinto muita raiva quando você fica muito perto de mim. O
outros estudante pôde responder com alguma coisa como ‘Desculpe! Esqueci que isso o aborrece’.
Eu comecei a pensar sobre a minha frustração com essa criança e a tentar descobrir o que
eu estava necessitando dele (além de ordem e harmonia). Realizei quanto tempo eu dispensei ao
planejamento da aula e como minha necessidade de criatividade e contribuição foi sendo cortada de
maneira a administrar seu comportamento. Eu senti também que não estava atendendo às
necessidades educacionais dos outros estudantes. Quando ele estava perturbando na classe , eu
comecei a falar, “preciso que você compartilhe minha atenção”. Isso deve ter acontecido centenas de
vezes por dia, mas ele absorveu a mensagem e geralmente se envolveu na lição.
(professora de Chicago – Illinois)

50
2 – A comunicação que bloqueia a compaixão
(Tradução resumida literal e provisória do espanhol – Marcelo Pelizzoli – Uso particular)

Não julgueis e não sereis julgados... (Mateus, 7,1)

Os juízos moralistas

Um tipo de comunicação que alija da vida é a dos juízos moralistas que pressupõem uma
atitude errônea ou malévola por parte das pessoas que não atuam de acordo com nossos valores.
“Teu problema é que és muito egoísta” etc. Jogar a culpa em alguém, insultar, rebaixar, pôr etiquetas,
criticar, comparar emitir diagnósticos são distintos modos de formar juízos. (29)
“Mais além do que está bem e do que está mal, encontra-se um campo. Ali nos
encontraremos”.
Esse tipo de análise de outro ser humano é apenas uma trágica expressão de nossos p.
valores e necessidades. (30) Trágica porque potencia uma atitude defensiva e de resistência nas
pessoas.
No entanto, quando os demais decidem atuar de acordo com nossos valores e nec. porque
têm medo ou se sentem culpados ou envergonhados, o preço que nos toca pagar é realmente alto.
É importante não confundir juízos de valor com juízos moralistas; todos fazemos os primeiros
a respeito das coisas da vida.
O. J. Harvey, Univ. do Colorado, investigou a vida toda a relação entre violência e linguagem.
Há bem mais violência nas sociedades onde se etiqueta as pessoas como bons e maus e se
está convencido de que as más merecem castigo, do que nas sociedades onde se tem em conta as
necessidades dos demais. Nos EUA 75% dos programas de TV um protagonista golpeia ou mata
alguém.
Para Andrew Schmookler, em Out of Weakness (a causa da fraqueza), a base de toda
violência (verbal, física, psicológica...) há um esquema mental que joga a culpa do conflito na atitude
equivocada do inimigo. Ele tb atribui a causa da violência na incapacidade de pensar em si mesmo e

nos demais a partir do ângulo da vulnerabilidade: o que sentimos, o que tememos, o que desejamos,
o que nos falta etc. (32)

As comparações

Em How to make yourself miserable, Dan Greenberg demonstra com humor o poder das
comparações. Se alguém aspira a ser sinceramente desgraçado a única coisa que deve fazer é
comparar-se aos outros.
Esta forma de pensar impede sentir compaixão por nós e pelos outros.

A negação da responsabilidade

O uso da expressão “ter que” demonstra (como na frase: “gostes ou não tens que fazer isso”)
ilustra até que ponto nossa responsabilidade pessoal por nossos atos se vê obscurecida por esse
modo de falar. Já a expressão “fazer sentir” (como em “vc me faz sentir culpada”), constitui outro ex.
de como a linguagem nos leva a negar nossa resp. pessoal a respeito do que sentimos e o que
pensamos.

* Negamos a responsabilidade de nossos atos quando atribuímos sua causa a:


• Forças difusas e impessoais (fiz pq tinha que fazer)
• Nossa situação, um diagnóstico ou nosso histórico pessoal ou psicológico (bebo pq sou
alcoólatra)
• O que fazem os demais (todo mundo faz)
• Ordens da autoridade
• Pressões de grupo (comecei a fumar pq meus amigos o faziam)
• Políticas, normas e regras institucionais (expulsão como “política da escola”)
• Papeis adotados segundo sexo, posição social ou idade
• Impulsos irrefreáveis (minha gula foi maior) (34-35)

51
Ex. pág. 35 (cozinhar contra a vontade)

Outras formas de comunicação que alijam da vida

A manifestação de nossos desejos expressa na forma de exigência é outra faceta da L. que bloqueia
a compaixão.
A comunicação que alija da vida tb. se encontra ligada ao conceito de que há certos atos que
merecem recompensa enquanto outros merecem castigo. Trata-se de um esquema mental expresso
através do verbo “merecer” (“merece um castigo pelo que fez”). (37)
A maioria de nós elabora uma L. que nos leva a etiquetar, comparar, exigir e emitir juízos
mais do que ter consciência do que sentimos e necessitamos.

3 – Observar sem avaliar

* Ver POEMA pág. 39

O 1 componente da CNV comporta a separação entre observação e avaliação.


Observações são importantes para comunicar com clareza e sinceridade o que sentimos e
queremos. Misturado com a avaliação, reduzimos as chances de a outra pessoa entender.
A CNV não nos diz que sejamos 100% objetivos e não tenhamos avaliações. Mas que
mantenhamos um separação. A CNV é um sistema de L. que rechaça as generalizações estáticas;
em lugar disso, as observações devem basear-se em coisas específicas do momento e contexto.
“Nossa L. é um instrumento imperfeito criados por homens ignorantes que viveram há muito tempo. É
um L.animista que nos convida a falar de coisas estáveis e constantes, similitudes, normalidades e
tipos, de transformações mágicas, problemas simples e soluções definitivas. (40)
Krishnamurti disse certa vez que observar sem avaliar constitui a forma suprema da
inteligência humana. (43)
* Ex. do diretor falador (p. 44-45)
* Cópia quadro pag. 46-47.

Ex. das mulheres grávidas (p. 48-50)

4 – identificar e expressar os sentimentos


O 1 componente da CNV é observar sem avaliar; o 2 é expressar o que sentimos.
Em vinte anos de perambulando por instituições docentes dos EUA não recordo de alguém
perguntar como eu me sentia.
Temos metido na cabeça: o que os outros querem que eu diga e faça ? (54)
(as pessoas têm dificuldade para reconhecer e dizer o que sentem) tal dificuldade é muito
corrente, sobretudo no caso de advogados, engenheiros, agentes de polícia, diretores de empresa e
militares de carreira... No âmbito familiar o preço a pagar quando alguns dos membros não sabem
comunicar suas emoções é muito alto. (55)
“ estou casada com um homem maravilhoso, mas não sei nunca quais são seus
sentimentos”... Ex. do marido e mulher. “viver com uma parede” (Pág. 56)
A expressão de nossa vulnerabilidade inclusive no trabalho tem efeito salutar... (57)

Distinguir entre o que sentimos e o que pensamos

Não nos expressamos claramente e a nossos sentimentos quando usamos frases como:
Sinto que tu deverias ter sabido.
Sinto-me fracassado
Sinto-me como se vivesse com uma parede.

Sinto que sempre devo estar disponível


Sinto que isso não serve para nada

Sinto que Amy é muito responsável


Sinto que meu chefe é manipulador

52
Na CNV distinguimos entre palavras que expressam sentimentos reais e as que descrevem o que
cremos ser:

1. Do que cremos ser: Sinto-me incapaz como guitarrista (não expressa o sentimento)
2. Expressão de sentimentos reais:
Sinto-me decepcionado pela minha falta de capacidade para guitarrista
Sinto-me impaciente ...
Sinto-me frustrado...

Agora dou exemplos de afirmações que podem ser tomadas como sentimentos, mas que na
verdade revelam antes como cremos que se comportam os outros do que o que verdadeiramente
sentimos:
* VER Cópia da pág. 60-63

5 – Assumir a responsabilidade por nossos sentimentos


O 3 componentes da CNV pressupõem o reconhecimento da raiz de nossos sentimentos. A CNV
diz que aquilo que fazem ou dizem os demais pode ser o estímulo, mas nunca a causa, de nossos
sentimentos. Estes são o resultado de como elegemos tomar o que os outros dizem, assim como
nossas necessidades e expectativas particulares nesse momento. (65)
* Ver Cópia da pag. 66-67

Quanto mais estreitamente conectamos nossos sentimentos com nossas necessidades, tanto
mais fácil será para os demais que respondam de modo compassivo.
O mecanismo consistente em motivar alguém fazendo com que se sinta culpado estriba em
atribuir aos demais a resp. dos n. próprios sentimentos. Há de se ter em conta que as crianças que
aceitam tal responsabilidade e modificam seu comportamento de acordo com os desejos de seus pais
não atuam de modo espontâneo, senão apenas para evitar sentirem-se culpadas. (68)
Há todo um cabedal de expressões habituais que evitam a resp. por nossos sentimentos:
1 – Uso de modo de falar de caráter impessoal: “Esse tipo de coisa me tira fora do sério” .

2 – Frases nas quais somente se faz referência ao que fazem os demais: “Incomoda-me que não
me felicites no dia do aniversário”. Se não comeres tudo, mamãe vai ficar muito triste”.
3 – Uso da expressão “Eu me sinto...(emoção) porque (ref. ‘a pessoa designada por seu nome ou
pronome pessoal): “se me sinto triste é pq tu havias me dito que me querias”. “Estou enfadado porque
meu chefe não manteve a promessa”.

As necessidades que estão na raiz de nossos sentimentos

Todos os juízos, críticas e diagnósticos que emitimos, assim como interpretações que fazemos
dos demais, são expressões de nossas p. necessidades. Se alguém nos diz: “Tu não me entendes”,
está dizendo que suas nec. de ser compreendido não estão satisfeitas.
Sempre que manifestamos nossas necessidades de um modo indireto e nos valemos de
avaliações, interpretações e imagens, o mais provável é que os demais percebam críticas em nossas
palavras e que, portanto, se defendam ou ataquem.
Acostumamo-nos a crer que são os demais quem se equivocam quando não vemos satisfeitas
nossas necessidades. (70)

Enumeremos algumas das necessidades humanas que todos compartilhamos:

Autonomia
* escolher nossos p. ideais, objetivos e valores.
* escolher o modo de conseguir isso

Comemocações
• Comemorar a criação da vida e os ideais alcançados
• Comemorar as perdas dos queridos, dos ideais etc.
Esparcimento

53
• Comunhão espiritual
• Harmonia
• Beleza
• Inspiração
• Ordem
• Paz
Integridade
• Autenticidade
• Criatividade
• Propósito
• Valia

Interdependência
• Aceitação
• Afeto
• Amor
• Apoio
• Apreciação
• Comunidade
• Compreensão
• Confiança
• Consideração
• Contribuição ao enriquecimento da vida (poder pessoal)
• Empatia
• Proximidade
• Respeito
• Segurança emocional
• Sinceridade (aprendendo nossas limitações)
• Tranqüilidade

Nutrição física
• Água, ar, alimento
• Contato
• Descanso
• Expressão sexual
• Movimento, exercício
• Proteção frente ‘a ameaças
• Moradia

A dor de expressar nossas necessidades frente à dor de não expressá-las

Como a mulher se vê na sociedade como um ser cuja obrigação mais excelsa consiste em
cuidar do demais, é freqüente que se lhe ensine a ignorar suas necessidades. (73)
“Acabo de me dar conta que passei 36 anos com seu enfadada com seu pai porque não
satisfazia minhas necessidades e agora vejo que era porque não as expressava claramente”
Por que lhe custava tanto falar abertamente ? família, cultura etc. Acabou tendo medo de
manifestar aos demais o que desejava porque pensava que somente receberia críticas e
desaprovação. (74)

Passar de ser escravo de nossas emoções a libertação das mesmas expressando-as

ETAPA 1: usamos aqui o termo “escravidão emocional”; consideramo-nos responsáveis pelos


sentimentos dos demais. Cremos que devemos nos esforçar constantemente para fazer felizes os
demais. Trata-se de uma atitude que nos leva a ver as pessoas próximas como uma verdadeira
carga. (75)

54
Trata-se da resposta habitual daqueles que vêem o amor como negação de suas p.
necessidades de ser amado. (76)

ETAPA 2: Aqui nos damos conta do elevado custo que é assumir a resp. pelos sentimentos
dos demais e tentar nos adaptarmos a eles ‘as nossas expensas. Quiçá nos irrite pensar que
desperdiçamos a vida, que respondemos pouco ‘as solicitações de nossa alma. Chamo essa etapa
de “etapa ofensiva”, pq acostumamos a fazer comentários ofensivos como: “este é um problema que
só afeta a ti ! Eu não sou responsável por teus sentimentos”. Sabemos bem do que somos
responsáveis, mas não sabemos do que somos responsáveis diante dos demais de modo que não
nos escravizem emocionalmente.
Pode ocorrer que, quando sairmos da etapa da escravidão emocional, sigamos arrastando
resíduos de temor e sentimento de culpa no que se refere ‘as nossas necessidades. (77) Aqui se
pode aprender a manifestar os desejos e arriscar afrontar-se com o desgosto dos demais.

ETAPA 3: Chamada “liberação emocional”, respondemos ‘as necessidades dos demais com
compaixão, nunca por medo, sentimento de culpa ou vergonha. Uma vez nessa etapa, já estamos
plenamente convencidos de que não chegaremos nunca a satisfazer nossas necessidades a custa
dos demais. A liberação emocional implica expressar claramente quais são nossas necessidades,
mas manifestando tb que temos que temos em conta as necessidades dos demais e que nos
interesse vê-las satisfeitas. (78)
Resumo pág. 79.

6 – O que queremos pedir aos demais para enriquecer nossa vida

Os 3 primeiros componentes da CNV: o que observamos, sentimos e necessitamos. O 4 e


último é que ela se ocupa do que queremos pedir aos demais para enriquecer nossa vida.
O uso da linguagem de ação positiva
Em 1 lugar, temos de expressar o que pedimos, não o que não pedimos. (83) exemplos pag.
84-85
Além de usar uma L. propositiva, devemos evitar as frases de sentido vago, abstrato,
ambíguo, e formular nossos pedidos em forma de ações concretas que os demais possam aceitar.
(86)

Frequentemente usamos uma L. vaga e abstrato para indicar como queremos que alguém se
sinta, ou seja, sem nos referirmos a uma ação concreta que esperamos dela para que consiga
alcançar esse estado. (87)

Façamos nossos pedidos conscientemente

Limitamo-nos a pronunciar palavras servindo-nos dos demais como uma espécie de


caderneta onde vamos jogando-as. (89) Exemplo: PAG. 90.
Creio que sempre que dizemos algo a uma pessoa, lhe pedimos algo em troca. Algumas
vezes pode simplesmente tratar-se de uma conexão empática, uma mera corroboração verbal ou não
verbal de que nossas palavras ficaram claras.

Solicitemos a confirmação de nossas palavras

Para isso, o melhor será pedir claramente uma resposta à outra pessoa com o fim de saber
como entendeu nossas palavras e poder corrigir qq interpretação incorreta. “Está claro?” “Sim, te
entendo”, para estar seguro de que a outra pessoa realmente está nos compreendendo”. (91)

Peçamos sinceridade

* “Eu gostaria que vc me dissesse o que sentes a respeito do que acabo de dizer e quais são
as razões desses sentimentos.”
* “Eu gostaria que me dissesses se crês que minha idéia terá êxito, e se pensas que não, o
que crês que possa impedir o êxito”
* “Eu gostaria que vc me diga se está disposto a fazer aquilo que combinamos. (93)

55
Fazer pedidos a um grupo

Sempre que nos dirigimos a um grupo sem saber com clareza o que queremos dele, o mais
provável é que se produzam discussões que não conduzem a nada. “Não vejo claramente que
resposta tu esperas de nós a respeito do tema que expuseste”. Poderias dizer-nos que tipo de
intervenção nos solicitas?
É freqüente que as conversas se prolonguem indefinidamente sem satisfazer as
necessidades de ninguém pelo simples fato de que a pessoa que estabeleceu um tema não sabe
muito bem o que quer.

Os pedidos frente às exigências

Quanto mais censuremos ou maltratemos os demais ou façamos com que sintam culpados,
mais provável será que interpretem nossos pedidos como exigências.
Quanto mais censurada, maltratado ou culpada se sentir uma pessoa, mais provável é que
translade essa carga a suas futuras relações e perceba exigências ali onde só há pedidos.
• Exemplo. pág. 96

Quanto mais nos empenhemos em interpretar uma negativa de outra pessoa com um
rechaço, mais provável será que nossos pedidos sejam recebidos como exigências, o qual conduz a
uma profecia que leva em si seu cumprimento, pois quanto mais percebam exigência, menos
satisfação terão em nossa companhia.
Pedir: “Te importas de pôr a mesa ?” “Em vez de ponhas a mesa por favor.” (97)
• Exemplo Pág. 98

Precisemos nossos objetivos quando pedimos algo

Se nosso objetivo estriba unicamente em influenciar a pessoa e modificar sua conduta, ou em


fazer sobressair a nossa, a CNV não será uma ferramenta adequada. O método está pensado para
aqueles que querem que os demais mudem e respondam, mas somente se optam por fazê-lo de bom
grado. O objetivo da CNV consiste em estabelecer uma relação baseada na sinceridade e na
empatia. Quando os demais confiam em que nosso propósito primordial é a qualidade da relação e

que esperamos que o processo satisfaça as necessidades de todos, podem confiar que nossos
pedidos são realmente isso e não exigências camufladas. (99)
Nas fases iniciais de aplicação do processo, pode ser que utilizemos a CNV de forma mais
mecânica, sem percebermos de todo nossa intenção subjacente.
Muita gente percebe exigência em nós. Principalmente se ocupamos posição de autoridade e
falamos com pessoas que tiveram experiências ruins com figuras de autoridade.
“Inadaptados socialmente e emocionalmente”, “aluno problema”... Impressionou-me ver como
esse tipo de etiquetas pode converter-se em profecias que levam em si seu cumprimento. Ao colocar
etiquetas nas pessoas atuamos com elas de modo que contribui a potencializar a conduta que
pretendemos evitar, e que vemos como confirmação de nosso primeiro diagnóstico. (100)
Observemos em nossos pedidos se não há elementos de exigências, tais como:
• O deveria haver suposto que tinha que deixá-lo todo limpo
• Ela tem que fazer o que peço
• Eu mereço que me dêem uma mão
• Tenho motivos para querer que fiquem até mais tarde
• Tenho direito ao descanso (102)

* Pág. 102: Canção de Brett. Resumo pág. 103. CNV em ação: pág.104

7 - A recepção empática
A empatia consiste numa compreensão respeitosa do que os demais experimentam. Chuang-
Tzu disse que a verdadeira empatia requer escutar com todo o ser: “Escutar com a alma, exige

56
esvaziar todas as faculdades. Então se capta de modo direto que aquilo que se tem diante de si
jamais poderá ser ouvido pelo ouvido ou compreendido pela mente.”
Em nossa relação com os outros se produz a empatia quando sabemos nos desprender de
todos os ideais preconcebidos e dos prejuízos. Martin Buber, filósofo judeu...: “Em que pese todas as
similitudes, cada situação (107) de vida, como uma criança recém nascida, tem um novo rosto que
não havia aparecido nunca nem voltará a aparecer. Exige pois um modo de atuar onde não se pode
prever de antemão. Não exige nada de outro momento vivido do passado, senão presença,
responsabilidade: nos exige a nós mesmos.”
No lugar da empatia, podemos cair, em troca, na tendência de dar conselhos, tranqüilizar ou
explicar qual é nossa postura ou sentimentos. A empatia, ao contrário, requer toda atenção na
mensagem que a outra pessoa nos transmite. Damos aos demais o tempo e o espaço que
necessitam para expressar-se plenamente e sentir-se compreendidos. “Não se limite a fazer algo;
esteja presente” (ditado budista)

OBSTÁCULOS ao estar presente:

• Dar conselhos (“creio que deverias... Como é que não...?”)


• Tratar de animar o outro. (“isto não é nada, vou contar o que me ocorreu”)
• Tentar instruir
• Tratar de consolar (“não é culpa sua; fizestes o possível”)
• Contar alguma história parecida
• Desviar a questão (“anda, anima-te. Isso não é nada...”)
• Compadecer-se (“oh! Coitado...”)
• Interrogar (“quando começou isso?”)
• Dar explicações
• Corrigi-la (“não, isto não ocorreu assim”) (109)

Quando queremos “ordenar as coisas” e intencionamos que os demais se sintam mais


confortados, deixamos de estar presentes. (109)
Na verdade, o tipo de compreensão intelectual de um problema impede a presença que a
empatia requer. Quando pensamos no que uma pessoa nos diz tentamos ver como conectá-la com
nossas teorias, o que fazemos é submetê-la à observação, e não estar com ela. O elemento-chave
da empatia é a presença, que nos permite colocarmo-nos no lugar do outro e entender o que está se
passando. Oferecer simpatia é diferente de oferecer empatia.
Exemplo PAG. 111 e pág. 112

Parafrasear

Para confirmar se entendemos bem o que a outra pessoa quer transmitir, sente e necessita,
assim como no que nos pede para enriquecer sua vida, é possível que queiramos expressar e aclarar
o que entendemos.
Para confirmar se entendemos bem o que quer transmitir a outra pessoa, deveremos
parafrasear a conversação que sustentamos com ela.
A CNV aconselha que o parafraseado se formule através de uma série de perguntas, que não
só revelarão o que temos entendido, senão que tb suscitará as correções oportunas por parte de
nosso interlocutor.
Exemplos:
• que observaram os demais: “Reagem assim porque semana passada saí muitas vezes”.
• O que sentem e que necessidades geram seus sentimentos: “estás incomodado porque
gostarias que reconhecessem os muitos esforços que fizeste ?
• O que pedem: “Gostarias que te expusesse as razões que me levaram a dizer o que
disse ?”

Observe a diferença com as perguntas abaixo:


• O que dissestes que eu fiz ?
• O que foi ? Por que te sentes mal ?
• O que vc quer que eu faça ?

57
Esse grupo de perguntas solicita informação sem primeiro aprofundar na realidade de nosso
interlocutor. Pode dar a impressão que somos um tipo de professor de escola que queremos
submeter os outros a exame ou um psicólogo que trabalha em um caso clínico. Melhor dizer então:
Entendo, mas eu gostaria de aclarar o que dissestes. Importaria a você dizer o que eu fiz para que
me veja desse modo ?
Quando o outro pergunta se entendemos o que disse, neste caso tb. é bom parafrasear o que
ouvimos, pode ser mais tranqüilizador do que apenas dizer “sim, entendo”. (115)
É de suma importância, ao parafrasear o que disse nosso interlocutor, o tom de voz que
empregamos. Sempre que uma pessoa escuta o que dissemos que ela disse, é particularmente
sensível ao menor matiz de crítica ou de sarcasmo.
Devemos tb estar preparados para a possibilidade de que alguém interprete de modo errôneo a
intenção que nos move ao parafrasear suas palavras. Neste caso, insistiremos em nossos esforços
para captar os sentimentos e necessidades do outro, e é possível que vejamos então que não é que
ele não se fie em nossas motivações e necessidades, mas que não confia em sua capacidade de
compreender nossas intenções antes de escutar nossa paráfrase. Quanto mais praticarmos, mas
compreenderemos uma verdade muito simples: por trás de todas as palavras que permitimos que nos
intimidem não há mais do que seres humanos com suas necessidades insatisfeitas que nos pedem
que contribuamos para seu bem-estar. Somente nos sentimos desumanizados quando temos uma
imagem despectiva de outras pessoas ou abrigamos idéias negativas a respeito de nós mesmos. “O
que opinam os demais de mim? Esta é uma frase que devemos deixar de lado para nos sentirmos
benditos (bendecidos) (J. Campbell) Sentimo-nos benditos quando começamos a ver como um
presente o que nos dizem os demais e que previamente havíamos interpretado como uma crítica ou
uma acusação, quando começamos a vê-lo como a oportunidade de dar algo a alguém que sofre.
(117)
Parafrasear não é perder tempo, mas o contrário: permite ganhar (ahorrar) tempo.
* Exemplo: pág. 119
Receber uma confirmação clara de que alguém está conectado empaticamente conosco é
uma experiência comovedora.

Manter a empatia

Se nos lançamos precipitadamente a fazer o que nos pedem, as vezes não transmitimos um
verdadeiro interesse em seus sentimentos e necessidades, pelo que quiçá creiam que temos pressa
em nos liberar deles ou por arreglar (ordenar) seus problemas. Ao manter a atenção centrada no que
lhes ocorre, ao demais, oferecemos-lhes a oportunidade de explorar seu interior e expressar-se
plenamente.

Como saberemos se conseguimos ou não a adequada empatia com nosso interlocutor ?


Seremos conscientes desse fenômeno ao advertir que nosso p. corpo se libera tb de uma tensão
parecida. Outro sinal, mais evidente, é que a pessoa se cala. (121)

Quando a dor impede-nos de nos conectar empaticamente com os outros

“Quanto maior a atenção posta em escutar nossa voz interior, melhor ouviremos a voz de
fora”. Se sabemos praticar a empatia conosco mesmo, sentiremos aos poucos uma liberação de
energia que permitirá com que nos situemos na pele de nosso interlocutor. (121)
Se, a pesar de tudo, a outra pessoa está tão presa por sentimentos intensos que nem sequer
nos escuta e persiste na conduta, o último recurso é nos retirar fisicamente da situação conflitiva.
(122)

8 – O poder da empatia
“Quando alguém te escuta com todo seu ser sem julgar, nem querer mudar-te, sentes algo
maravilhoso. Resulta surpreendente ver que algo que não tinha solução tem quando há alguém que
te escuta”. (C. Rogers) (129)

A empatia e a capacidade de ser vulnerável

58
Se me sinto humilhado ou tenho a sensação de que se aproveitam de mim, talvez me sinta
demasiado ferido, furioso ou assustado para poder conectar empaticamente com meu interlocutor.
Nestas circunstâncias convirá que opte por retirar-me fisicamente e oferecer empatia a mim mesmo
ou solicitá-la de uma fonte confiável.
Seja como for, não há nada que não se possa traduzir em sentimentos e necessidades
comuns a todos os seres humanos.
Ex.: pág. 132-133
Ex. pág. 134-135

A decepção as vezes nos converte em excelentes estrategistas da comunicação.


Não se deve usar nunca a palavra “mas” quando se fala com uma pessoa furiosa.

A empatia para animar uma conversa apagada

As conversas perdem vitalidade quando nos desconectamos com os sentimentos e


necessidades que geram as palavras e dos pedidos associados a tais necessidades. É a situação
que frequentemente produz-se quando a gente fala sem ter plena consciência do que sente,
necessita ou pede.
Quando mais tempo aguardamos, mais nos custará mostrar civilizados quando intervirmos. O
mote que nos leva a intervir não é reclamar um espaço para nós, senão ajudar a pessoa que fala a
conectar com a energia vital que se esconde por trás do que diz.
Outro modo de animar uma conversa consiste em expressar abertamente nosso desejo de
uma melhor comunicação e pedir a informação necessária para estabelecê-la. (139) (ex. pág. 139)
As conversas que não têm interesse para o que escuta tampouco têm para o que fala...
“Se vc fala além da conta, o que preferes: que quem ouve finja que o escuta ou que o
interrrompa ?”
Quando falamos pretendemos enriquecer os demais com nossas palavras, não lhes enfadar.

A empatia com o silêncio

Uma das recomendações mais difíceis de seguir é a empatia com o silêncio, especialmente
quando manifestamos nossa vulnerabilidade e queremos saber como os demais reagem. (140-1)

Resumo
Graças a nossa capacidade de empatia nos permitimos ser vulneráveis, absorvermos a
violência potencial, saber escutar a palavra NÃO sem tomá-la como um rechaço pessoal, infundimos
vida a uma conversa apagada e até chegamos a captar os sentimentos e necessidades expressos
com o silêncio.

9 – A expressão plena da ira


A ira nos brinda com a oportunidade única de aprofundar mais na CNV.
São pessoas submetidas ‘a opressão e discriminação que aspiram a aumentar sua força para
conseguir que se opere uma mudança em sua vida. Essa classe de pessoas se inquieta quando ouve
falar de “comunicação compassiva”, ou CNV, devido ao fato de que mv foram obrigadas a sufocar
sua ira, encher-se de paciência e aceitar as coisas tal como estão.
O processo seguinte não ensina a sufocar a ira, mas manifestar de modo pleno. (145)

É necessário distinguir entre estímulo e causa

O primeiro passo para expressar de forma plena a ira é desvincular os demais de qq resp. a
respeito dela. Precisamos nos libertar de idéia como: “Ele (a) faz com que me enfureça quando se
comporta assim”. Esse modo de pensar nos leva a expressar a ira maltratando ou culpando o outro.
Mas a conduta dos demais é só estímulo e não causa. São coisas distintas.
É muito fácil cair nesse hábito em nossa cultura que se serve do sentimento de culpa para controlar
as pessoas. Nessa classe de cultura, é importante que se nos induza enganosamente a crer que está
em nossas mãos fazer com que os demais se sintam de um determinado modo.
Onde o sentimento de culpa passa a ser uma tática de manipulação e coação, é útil confundir
estímulo e causa. (146)
59
As crianças que se acostumam a escutar frases como: “Mamãe e papai ficam muito tristes
quando vc recebe notas ruins”, acabam crendo que sua conduta é a causa da infelicidade dos pais.
Observa-se a mesma dinâmica entre pessoas unidas por laços de intimidade: “Me senti realmente
decepcionado quando não viste me ver no dia de meu aniversario”. Usamos a língua de muitos
modos para nos convencer que se nos sentimos como nos sentimos é porque os outros o fizeram.
Surge a ira quando: nos enfadamos e buscamos culpados, ou seja, quando optamos por
fazer o papel de Deus e julgar ou culpar a outra pessoa por ter se equivocado ou feito algo que
merece castigo. A causa da ira provém de nosso modo de pensar, mesmo que estejamos
conscientes disso. Ex. pág. 147
Sempre que estabelecemos contato com nossas necessidades, ou que busquemos nos
tranqüilizar, tenhamos traçado um objetivo ou nos apraza estar a sós, estabelecemos contato com
nossa energia vital. Nossos sentimentos poderão ser intensos, mas não ficaremos enfadados. A ira é
o resultado de um modo de pensar que alija da vida e nos desconecta de nossas necessidades.
Indica que analisamos e julgamos alguém em lugar de ver que necessitamos algo que está fora de
nosso alcance.
Devemos em todo momento iluminar com a consciência os sentimentos e necessidades da
outra pessoa. Não é que se reprima a ira, senão que esta deixa de produzir-se sempre que
consigamos estar plenamente presentes nos sentimentos e necessidades da outra pessoa.

A ira sempre encerra algo que é útil para a vida

Ela pode converter-se em algo valioso se a utilizamos como um despertador que nos avisa,
que nos informa que temos uma necessidade insatisfeita e que, se persistimos em nosso modo de
pensar, não é provável que a satisfaçamos. No entanto, a ira apanha (acapara) nossa energia e a
canaliza para o castigo dos demais e não a satisfação de nossas necessidades. Devemos trocar a
frase: “estou incomodado porque eles...” por: “estou incomodado porque necessito...”. (149)

Todas as formas de violência têm origem no auto-engano, (ver o caso do preso sueco – p.
150) e ex. pag. 151.
Quando temos a cabeça cheia de juízos e análises sobre outras pessoas e por isso
discriminamos que são más, ambiciosas, irresponsáveis, mentirosas ou enganosas, que contaminam
o ambiente, valorizam mais a ganância do que a vida ou se comportam como não deve, poucas
pessoas haverão que se interessem em satisfazer nossas necessidades. (152)
Quanto mais acusações e juízos as pessoas percebam em nossas palavras, mais na
defensiva estarão e mais agressivas se tornarão conosco, e menos lhes importarão as nossas
necessidades no futuro.

Quatro passos para expressar a ira

1 – Efetuar uma pausa, parar e apenas respirar. Abster-se de culpar o outro.


2 – Identificar quais sentimentos provocaram nossa ira.
3 - Prestamos atenção aos pensamentos que nos surgem. Encontraremos expressões de
necessidades insatisfeitas, dos outros e nossas.
4 – O passo seguinte é nos concentrar nas necessidades que estão por trás destes
pensamentos. (153) (ver fala da pag. 154)

Antes de tudo, oferecer empatia

Quando mais nos identifiquemos com o que lhes leva a comportar-se de um modo que não
satisfaça nossas necessidades, mais provável será que nos respondam do mesmo modo.
“Você sente...” “Sente frustração...” “Sente necessidade de...”
Sempre que nos centramos nos sentimentos e necessidades dos outros, experimentamos o
que nos une: que todos somos seres humanos. (155)
...desfruto mais do trato com os seres humanos se não me concentro no que pensam.
“Depois de dez minutos prestando atenção ao que ele disse, calou-se; sentia-se
compreendido... Então eu quis fazê-lo participar do que eu sentia...” (156)
“Eu não queria que esse homem percebesse acusação alguma em minhas palavras; somente
que se desse conta do que eu havia sentido quando ele fizera sua observação” (157)
60
Quando nos damos conta de que a pessoa com quem falamos se sente culpada de algo, é
sinal de que devemos moderar o tom, retificar e prestar mais atenção a seus problemas.
Reunas todos os juízos negativos de tua cabeça e te perguntes: quando formulo um juízo
sobre uma pessoa, o que eu necessito e na realidade não tenho ? Deste modo te acostumarás a
centrar-te em tuas necessidades insatisfeitas e não nos juízos que possas fazer sobre outras
pessoas.
Julgar os demais e jogar-lhes a culpa converteu-se, para nós, em uma segunda natureza.
(158) Se queremos praticar a CNV devemos proceder com lentidão, refletir antes de falar, e as vezes
nos limitar a respirar profundamente e guardar silêncio. A aprendizagem do método e sua aplicação
requer tempo. Resumo pág. 159.

10 – O uso protetor da força


Em caso as partes podem chegar ao acordo de que não estão de acordo.
As vezes temos situações em que pode ser necessário o uso da força. Aqui, a CNV exige
estabelecer uma diferença entre o uso da força protetora e da força punitiva.
A função da protetora é impedir danos ou injustiças. A intenção do uso punitivo é que as
pessoas se vejam (acarreem) com as conseqüências de seu mal proceder. Agarrar um menino que
corre pela rua em perigo é usar força protetora. (167) Já a força punitiva pode pressupor o ataque
físico ou psíquico, como dar uma surra ou recriminar (“você é louco? Não tem vergonha?”)
Veja-se a obra Nonviolent Social defense, de Robert Irwin. O uso protetor da força deriva do
fato de que há pessoas que se comportam de modo prejudicial para si e para os outros e que
ignoram isso.
O processo corretor consistirá em educar, não em castigar. A ignorância pressupõe a) não ter
consciência das conseqüências de nossos atos; b) ser incapaz de ver como satisfazer nossas
necessidades sem prejudicar aos demais. C) crer que temos direito de castigar ou ferir outras
pessoas porque “merecem” e d) abrigar alguma idéia errônea, como por exemplo a de que “uma voz”
nos ordena que matemos alguém.
A ação punitiva já parte da base de que as pessoas cometem atos reprováveis porque são
malvadas e, para emendar a situação é preciso forçá-las a arrependerem-se. O “corretivo” que se
aplica é administrado através de uma ação punitiva a fim de que 1)sofram e vejam o erro de seu
proceder b) se arrependam c) mudem.
...o que se consegue simplesmente com a ação punitiva é que a outra pessoa sinta
ressentimento e hostilidade e que se intensifique sua resistência à conduta que precisamente
gostaríamos que ela adotasse. (168)

Tipos de força punitiva

Os castigos físicos, por exemplo as palizas, constituem um dos usos punitivos da força.

O que a mim me preocupa é que o temor que os filhos sentem do castigo corporal possa
obscurecer sua consciência da compaixão que subjaze ás exigências de seus pais.
Tb. comparto as preocupações de muitos pais pelas conseq. sociais dos castigos físicos.
(169)
Há outros usos punitivos não físicos da força. Um deles é culpar a outra pessoa com o
propósito de desacreditá-la. Um pai, por exemplo, pode etiquetar seu filho de “inepto”, egoísta,
imaturo, se vê que ele não se comporta de um determinado modo.

O preço do castigo

Quando fazemos algo com o único propósito de evitar o castigo, afastamos a atenção do
valor que tem cada ação em si mesma. Em lugar disso, nos concentramos nas conseq. que nos
sobreviria se não fizéssemos o que foi pedido. Assim, sempre que se recorre à força punitiva,
decresce a auto-estima .(170)
O que eu recomendo em tais situações (agressões entre crianças...), por exemplo quando
uma criança bate na outra depois de ter sido ofendida, posso mostrar empatia a ela dizendo: “vejo
que estás enfadada porque querem que te tratem com mais respeito”. No caso de minha suposição

61
estar certa e a criança considere assim, na continuação expressarei meus sentimentos e
necessidades e formularei meus pedidos sem atribuir a ela nenhuma culpa. Ex... 171

Perguntas que manifestam as limitações do castigo

+ O que eu quero que essa pessoa faça que seja diferente do que faz normalmente ?
+ Que razões quero que tenha esta pessoa para fazer algo que lhe peço ?

A CNV propicia uma atitude moral baseada na autonomia e na interdependência, o que nos
induz a responsabilidade de nossos atos e ver que nosso bem-estar e dos demais são uma e só
coisa.
O uso protetor da força nas escolas

È preciso diferenciar entre CNV e permissividade. Alguns professores que usam CNV as
vezes não intervém em situações conflitivas e problemáticas, mas as ignoram.
Enfim, o castigo lesiona a boa vontade e a auto-estima e desloca nossa atenção do valor
intrínseco de uma ação e suas conseq. externas.

11 – Como nos liberar a nós mesmos e aconselhar os demais


A CNV nos permite traduzir em sentimentos

CARTA DA TERRA
Março 2000

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a


humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais
interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes
promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica
diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade
terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável
global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica
e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra,
declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida,
e com as futuras gerações.

Terra, Nosso Lar


A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva
com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura

exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A
capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da
preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade
de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus
recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade,
diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A Situação Global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental,
redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo
arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e o
fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos
violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da
62
população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança
global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro


A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou
arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais
dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as
necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a
ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a
todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global
está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos
desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos
podemos forjar soluções includentes.

Responsabilidade Universal
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de
responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com
nossa comunidade local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um
mundo no qual a dimensão local e global estão ligadas. Cada um compartilha da
responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família humana e de todo o
mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é
fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da
vida, e com humildade considerando em relação ao lugar que ocupa o ser humano na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar
um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança,
afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável
como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações,
empresas, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEIT AR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA


1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a) Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor,
independentemente de sua utilidade para os seres humanos.
b) Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual,
artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.


a) Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever
de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.
b) Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica
responsabilidade na promoção do bem comum.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e
pacíficas.
a) Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as
liberdades fundamentais e proporcionem a cada um a oportunidade de realizar seu pleno
potencial.

63
b) Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a consecução de uma
subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.
4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.
a) Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas
necessidades das gerações futuras.
b) Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, a longo
prazo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.
Para poder cumprir estes quatro amplos compromissos, é necessário:
II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA
5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial
preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.
a) Adotar planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis
que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de
todas as iniciativas de desenvolvimento.
b) Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo
terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da
Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.
c) Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçadas.
d) Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que causem
dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos
daninhos.
e) Manejar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida
marinha de formas que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a
sanidade dos ecossistemas.
f) Manejar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e combustíveis
fósseis de forma que diminuam a exaustão e não causem dano ambiental grave.
6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o
conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.
a) Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais
mesmo quando a informação científica for incompleta ou não conclusiva.
b) Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará
dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano
ambiental.
c) Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas globais,
cumulativas, de longo prazo, indiretas e de longo alcance.
d) Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de
substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
e) Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades


regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
a) Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e
garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.
b) Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos
energéticos renováveis, como a energia solar e do vento.
c) Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias
ambientais saudáveis.

64
d) Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e
habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas
sociais e ambientais.
e) Garantir acesso universal a assistência de saúde que fomente a saúde reprodutiva e a
reprodução responsável.
f) Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num
mundo finito.
8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a ampla
aplicação do conhecimento adquirido.
a) Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com
especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.
b) Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas
as culturas que contribuam para a proteção ambiental e o bem-estar humano.
c) Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção
ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.
III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA
9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.
a) Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não-
contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e
internacionais requeridos.
b) Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência
sustentável, e proporcionar seguro social e segurança coletiva a todos aqueles que não
são capazes de manter-se por conta própria.
c) Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem, e permitir-
lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.
10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o
desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.
a) Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações.
b) Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em
desenvolvimento e isentá-las de dívidas internacionais onerosas.
c) Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a
proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.
d) Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem
com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas
conseqüências de suas atividades.
11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o
desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de
saúde e às oportunidades econômicas.
a) Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência
contra elas.

b) Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica,


política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão,
líderes e beneficiárias.
c) Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a educação amorosa de todos os
membros da família.

65
12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e
social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual,
concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.
a) Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas em raça, cor, gênero,
orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
b) Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e
recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.
c) Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu papel
essencial na criação de sociedades sustentáveis.
d) Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.
IV. DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ
13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes
transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação inclusiva na
tomada de decisões, e acesso à justiça.
a) Defender o direito de todas as pessoas no sentido de receber informação clara e
oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades
que poderiam afetá-las ou nos quais tenham interesse.
b) Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação significativa
de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.
c) Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de
associação e de oposição.
d) Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais
independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça
de tais danos.
e) Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
f) Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes, e
atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde possam ser
cumpridas mais efetivamente.
14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos,
valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.
a) Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes
permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.
b) Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na
educação para sustentabilidade.
c) Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no sentido de aumentar a
sensibilização para os desafios ecológicos e sociais.
d) Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência
sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
a) Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de de
sofrimentos.
b) Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem
sofrimento extremo, prolongado ou evitável.
c) Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas.

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.


a) Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as
pessoas, dentro das e entre as nações.

66
b) Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na
resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.
c) Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura
não-provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos,
incluindo restauração ecológica.
d) Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa.
e) Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção ambiental e a
paz.
f) Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com
outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da
qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE
Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo
começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta
promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.
Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de
interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com
imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global.
Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas
próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo
global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca iminente e
conjunta por verdade e sabedoria.
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar
escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a
unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de
longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a
desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de
comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos
chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas
é essencial para uma governabilidade efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar
seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos
internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um
instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida,
pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela
paz, e a alegre celebração da vida.

THE EARTH CHARTER INITIATIVE, INTERNATIONAL SECRETARIAT | THE EARTH COUNCIL


| P.O. Box 319-6100 | SAN JOSE, COSTA RICA
TEL: +506-205-1600 | FAX: +506-249-3500 | EMAIL: info@earthcharter.org

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SUSTENTABILIDADE SÓCIOAMBIENTAL

Docente
Thomaz Enlazador – Educador ambiental
Contato: ecopedagogia@gmail.com

Objetivos Gerais
1. Capacitação do educando ao tema Sustentabilidade, aumentando seu leque de ferramentas
na recuperação, preservação e conservação ambiental;
2. Despertar a práxis da sensibilização SocioAmbiental, salientando o direito e dever de cada
ser humano sobre o que pode e o que deve ser feito, para melhorar a vida; de outros seres
vivos, fauna e flora, e conseqüentemente, nossa própria vida;
3. Demonstrar alternativas para práticas de consumo alternativas e sustentáveis;
4. Concentrar-se nas tecnologias alternativas ao sistema capitalista vigente, demonstrando o
que é, como surgiu e como funciona a Economia Solidária no Brasil;
5. Criar um espaço para a implementação prática de um Mercado de Trocas utilizando moeda
social, como alternativa socioeconômica à comunidade do entorno de uma UC;
No final do módulo os educandos estarão aptos a buscar novos caminhos para empreender
iniciativas que levem a Cultura da Sustentabilidade através de ações práticas no dia a dia,
construindo de forma direta e indireta uma política de preservação consciente, satisfazendo as
necessidades básicas sem prejudicar as necessidades das gerações futuras, entendendo que sua
participação ativa na construção de um meio ambiente equilibrado não se restringe apenas ao local
de onde parte sua iniciativa e sim na sua casa, na sua escola, no seu bairro, empresa, organização,
associações, nos grupos informais, religiosos, políticos, enfim... Tornar-se um agente multiplicador de
técnicas de melhoria para uma sociedade carente de informações e gestores de UC's atuantes
ecologicamente. Através dos conhecimentos adquiridos, os valores e ética, as experiências e a
determinação tornarão os educandos aptos a agir.
Conteúdo Programático e Cronograma
Módulo 1 (3 horas) – Consumo, meio ambiente e cidadania.
• Práticas Sustentáveis
• Consumo Sustentável
• Práxis Pós Capitalista
• Princípios e Fundamentos da Eco pedagogia
Módulo 2 – (2 horas) Práticas para a Sustentabilidade Local
• Princípios e fundamentos da Permacultura
• Articulação em Rede
Módulo 3 – (3 horas) Economia Solidária e Sustentabilidade Social
• Fundamentos da teoria social sobre economia solidária
• Experiências sustentáveis, participativas e solidárias
• Tecnologias sociais e geração de renda em comunidades
• Mercado de Trocas e moedas sociais

METODOLOGIA
A metodologia utilizada no curso é em forma de módulos. Estes foram elaborados de forma a
se constituírem em espaços de reflexão, criação e construção do conhecimento partilhado.
Contaremos com aulas presenciais utilizando além de amplo debate, recursos como documentários,
aulas com recursos de data show, dinâmicas circulares e integrativas e mercado de trocas.

68
A chegada do novo milênio, trouxe uma nova onda de reflexão e ação. O momento em
que nosso Planeta - Gaia, vive, é ímpar, crucial, sem precedentes. Somos parte dessa
epopéia histórica e temos a rara oportunidade de mudar o rumo da “nossa nave” e ajudar na
preservação das presentes e futuras gerações. Não temos mais tempo, a contagem regressiva
já começou... Nossa atitude deve mudar, reciclar, renovar e transcender. O comprometimento
individual no AQUI – AGORA , irá favorecer a corrente pela sustentabilidade e essa forte ação
em rede, sensibilizará a todos que ainda não acordaram do sono profundo e continuam
maltratando nossa mãe natureza.

As Mudanças Ambientais e Climáticas Globais-Locais (GLOCAL), nunca estiveram tão


eminentes. A maré sobe e os muros caem, o clima muda a cheia esvai, a terra racha e a semente
cala, o mangue seca e o lixo sai... A necessidade de uma ação contínua e participativa, buscando
soluções imediatas e a longo prazo já são conhecidas, é chegada finalmente, a hora da
implementação. A parceria entre sociedade civil, poder público e setores privados é a tônica
principal para o enriquecimento e materialização dos debates. Todos podem e devem se envolver
com a temática Socioambiental, não temos mais alternativas. O meio ambiente ecologicamente
equilibrado é um bem de uso comum do povo e fundamental para a sadia qualidade de vida. Assim
voga o artigo 225 da nossa Constituição Federal, citando o poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
O tempo voa e as mudanças se acumulam. Os padrões de consumo são insustentáveis. Se
consumíssemos como os Norte-Americanos, precisaríamos de aos menos três planetas para suprir
essa hiper-demanda. Fomos e estamos direcionados a consumir, a buscar o que é mais prático,
rápido, descartável, barato, enfim, nos tornamos de certo modo compulsivos pelo consumo e isso
causou um efeito danoso ao meio ambiente e a nossa sociedade. Qual a relação dessas práticas com
a Sustentabilidade. Cuidar do meio ambiente é cuidar de nós mesmos. A responsabilidade é
coletiva – difusa, pertence a cidadãs e cidadãos; Coerentes na práxis ambiental, atuando,
contratando, consumindo e produzindo ações, produtos e serviços que façam parte de um Universo
Solidário e Sustentável.

INTRODUÇÃO
A expressão “desenvolvimento sustentável” surgiu em 1980, na “Estratégia mundial de
preservação”, tendo recebido posição de destaque no relatório Brundtland na Comissão Mundial das
Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a expressão foi consagrada em 1992
pela Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – ECO 92,
realizada no Rio de Janeiro. Agora nos preparamos para a Rio + 20, 20 anos depois da maior reunião
global sobre o meio ambiente. O panorama é bem diferente. Pesa o compromisso de cada nação,
refletindo diretamente na vida de quase 7 bilhões de habitantes e em cada canto do Globo Terrestre.
Com o passar dos anos, grandes transnacionais, governos, programas de responsabilidade
sócioambiental, ongs e afins, se apropriaram do termo e deram distintas definições e usos para essa
terminologia. A prática adotada nas ações que envolvem a terminologia Desenvolvimento Sustentável
estão longe de questionar com profundidade as raízes das relações sociais e produtivas do sistema
69
capitalista. Essa relação gera tendências de comportamento com a natureza, que lhes são
particulares. A visão superficial sobre essas relações e a ausência de um questionamento profundo,
embasado na Sustentabilidade Social, deixa janelas abertas para a continuidade desse sistema já
instalado, que adere uma lógica degradante, onde o “Desenvolvimento Sustentável” cai como uma
luva, para justificar e compensar sua cadeia de produção ilimitada e insustentável.
Dois instrumentos importantes para a implementação de “ações sustentáveis” são a Agenda
21 e a Carta da Terra. Eles foram gerados também na ECO 92 e a Agenda 21 foi subscrita por 179
países. A expressão “Agenda” tem o sentido de planejar a participação de toda a sociedade civil,
setor privado e governo, convocando-os para participar e assumir compromissos que visem
solucionar problemas a curto, médio e longo prazo. A Agenda 21 prevê a implantação de uma
Agenda 21 Nacional (em andamento), Estadual e municipais, além disso pode ser aplicada em
escolas, empresas, bairros e comunidades sendo um ótimo instrumento para o enraizamento de
práticas sustentáveis onde vivemos, estudamos e trabalhamos.
O Slogan da Agenda 21: “Pensar Global e Agir Local”
Mesmo diante de tantas evidências, ainda é pequeno o número de ações para
implementação de políticas públicas, projetos e diretrizes que fomentem a consciência ambiental.
Um grande avanço que precisa ser incorporado pelos estados e municípios foi a Lei que instituiu a
Política Nacional de Educação Ambiental. O artigo 1º da Lei nº 9.795/99 define o conceito de
Educação Ambiental: “Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.”
Uma tendência global na área ambiental e a análise da nossa “pegada ecológica”. São
diversos cálculos que passam pelos quilômetros que percorremos em automóveis e aviões, uso
racional de eletrodomésticos, compra de alimentos orgânicos, consumo de menos embalagens e
sacolas plásticas entre outras ações cotidianas explicitadas no almanaque. A partir de um cálculo
sistêmico chegamos a um X de emissão de gases do efeito estufa e a um total de árvores que
devemos plantar para seqüestrar o carbono emitido. Esse “eco X” do quanto estamos colaborando
ou não para a sustentabilidade planetária e como podemos reverter e aprimorar nossa práxis diária
irá enriquecer a qualidade de vida pessoal, coletiva e global.

A Terra deve ser vista como um organismo vivo e em contínua evolução, ela é o nosso
endereço e é a partir dela que promoveremos a educação, reeducando nosso olhar para a
prática da Cultura da Sustentabilidade. A preservação do meio ambiente depende da
consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação. É aqui que entra em
cena a Pedagogia da Terra, a Ecopedagogia. Ela é a pedagogia de promoção da aprendizagem
do "sentido das coisas a partir da vida cotidiana", como dizem Francisco Gutiérrez e Cruz
Prado, na obra Ecopedagogia e cidadania planetária.

Princípios do Desenvolvimento Sustentável Definidos na Agenda 21


(Texto extraído da Agenda 21)

Construído com a participação de atores relevantes do governo e da sociedade, através de


diferentes formas de consulta e debate, o documento Cidades Sustentáveis, em elaboração pelo
Consórcio Parceria 21, tem por objetivo geral subsidiar a formulação da Agenda 21 brasileira com
propostas que introduzam a dimensão ambiental nas políticas urbanas, vigentes ou que venham a ser
adotadas respeitando-se as competências constitucionais, em todas as esferas de governo.
Incorpora também os principais objetivos da Agenda 21 e da Agenda Habitat, considerando
breve revisão da Agenda Habitat, o documento discrimina as principais estratégias de enfrentamento
das questões urbanas ambientais, entre as quais se destacam as relacionadas com: integração
setorial e espacial; planejamento estratégico; descentralização; incentivo a inovação; verificação dos
custos ambientais e sociais dos projetos econômicos e de infra- estrutura; novos padrões de
consumo dos serviços urbanos e fortalecimento da sociedade civil e dos canais de participação.
A partir dos conceitos e indicações do marco teórico, foram definidas as premissas que
nortearam a realização do trabalho:
1. O desenvolvimento sustentável das cidades implica ao mesmo tempo em crescimento dos
fatores positivos para a sustentabilidade urbana e na diminuição dos impactos ambientais,
social e econômicos indesejáveis no espaço urbano.

70
2. A indissociabilidade da problemática social urbana e da problemática ambiental das cidades
exige que se combinem dinâmicas de promoção social com as dinâmicas de redução de
impactos ambientais no espaço urbano.
3. A sustentabilidade urbana deve se inserir no contexto efetivo da conjuntura e das opções de
desenvolvimento nacional.
4. Reconhecendo a eficácia da ação local, deve-se promover a descentralização da execução
das políticas urbanas e ambientais.
5. Deve-se equilibrar mitigação com inovação das práticas urbanas existentes que apresentem
componentes de sustentabilidade.

Objetivos específicos
Os objetivos específicos incorporam os principais objetivos definidos na Agenda 21 e Agenda Habitat.
Da Agenda 21, dentre aqueles voltados para a promoção do desenvolvimento sustentável dos
assentamentos urbanos, destacam-se:
• Oferecer a todos habitação adequada;
• Aperfeiçoar o manejo dos assentamentos humanos;
• Promover o planejamento e o manejo sustentável do uso da terra;
• Promover a existência integrada de infra-estrutura ambiental: água, esgotamento sanitário,
drenagem e manejo de resíduos sólidos;
• Promover sistemas sustentáveis de energia e transporte nos assentamentos humanos.
• Promover atividades sustentáveis na indústria da construção.

AS FERRAMENTAS PARA A PRÁTICA DA SUSTENT ABILIDADE SOCIOAMBIENT AL

ECOVILAS (fonte: IPEMA – Instituto de Permacultura da Mata Atlântica)


Ecovilas são agrupamentos humanos que buscam a auto sustentabilidade e o baixo impacto
ambiental .A eco casa é um elemento fundamental para construção de assentamentos mais
sustentáveis. A descentralização de nossas necessidades é a solução para atingirmos mais
facilmente este objetivo. A Ecovila é uma extensão da eco-casa, é um planejamento de ocupação de
uma área onde irão morar várias famílias com um mínimo de impacto possível e com convivência
social e trabalhos comunitários. A idéia é se criar vilas auto suficientes, gerando trabalho, conforto,
vida social, saúde, educação, com o mínimo impacto ambiental.
Habitações auto sustentáveis são um paradigma da arquitetura do novo milênio, onde os
assentamentos populares irão consumir menos energia elétrica, reciclar seu dejetos, economizar
água com reciclagens de esgoto e captação de água de chuva. Ecovilas possuem áreas verdes em
sistema agroflorestais, servindo tanto para o reflorestamento quanto para a preservação ambiental,
lazer e produção de alimentos para os moradores.
O desenvolvimento habitacional hoje provoca grande impacto ambiental e sobrecarrega o
sistema de fornecimento de produtos básicos municipais como o abastecimento de água, emissão de
esgoto, lixo e consumo elétrico. Se não adotarmos uma política de sustentabilidade em nossas
cidades entraremos em constantes colapsos.

Quais são as necessidades e princípios de uma Ecovila?


Água
A água é fundamental Se não houver água suficiente para as necessidades básicas, nossa
vida começa a correr perigo. Uma ecovila deve criar soluções locais para o fornecimento da água,
reciclar e reutilizar as águas servidas cinzas (pias, chuveiros, lavabos e tanque) e negras (vaso
sanitário).
Energia
Para considerar-se uma ecovila, deve-se criar sistemas alternativos, não poluentes e
renováveis para o fornecimento de energia. Utilizar energia solar, eólica e mini hidrelétricas são
soluções a curto prazo eficientes. Pode-se optar por uma central energética comunitária ou
individual. A ecovila utiliza energia não poluente e de baixo impacto.
Lixo
Deve haver um sistema de reaproveitamento dos resíduos orgânicos e a reciclagem total dos
resíduos sólidos. A gestão pode ser descentralizada, separado por habitação para facilitar a
reciclagem.

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Alimentos
A ecovila busca a sustentabilidade também no fornecimento de alimentos sem agrotóxicos.
Pode-se produzir uma grande quantidade de alimentos dentro das ecovilas ou incentivar agricultores
da região a se tornarem produtores orgânicos. Organizar feiras de produtos regionais para
abastecimento de alimento troca de produtos e informações.
Nas ecovilas consome-se, prioritariamente, produtos naturais que não causam grande
impacto no seu ciclo de produção.
Construções
As construções devem ser feitas de materiais retirados do local da obra ou da região,
utilizando o mínimo possível de material industrializado, energia renovável e natural para
aquecimento e refrigeração. Em uma ecovila as construções estão o máximo possível integradas com
o meio ambiente.
Trabalho
Tem-se a necessidade de criar condições de trabalho que estejam em harmonia com o meio
ambiente para a produção de produtos ecologicamente corretos.
Planejamento ocupacional
O projeto de uma ecovila possui visão sistêmica integrando o meio ambiente natural com as
intervenções humanas. Utiliza os vales para produção; declives para levar água por gravidade;
preserva as áreas verdes e o ecossistema; cria áreas para um desenvolvimento futuro; áreas para
convívio social, áreas de produção comunitária. Dimensiona os lotes de forma que as habitações
estejam rodeadas por áreas verdes, cria acesso facilitado para pedestres e bicicletas além de áreas
de lazer e infra-estrutura básica.
Criam-se zonas onde se concentram as atividades de trabalhos, áreas residenciais e lazer
interligadas por caminhos e rodeadas de cinturões verdes.
Convívio social
Criar espaços que incentivem o convívio social; isto irá aproximar as pessoas que vivem nas
ecovilas, criando relações amigáveis e comunitárias. Qualquer assentamento humano pode se
transformar em uma ecovila, deste que sigam os princípios básicos. Muitas vilas tradicionais podem
se transformar muito rapidamente em ecovilas, mas grandes centros urbanos já terão dificuldades
devido ao excessivo número de habitantes e ao consumo de energia e matéria prima. Para termos
assentamentos ecológicos temos que realizar esta mudança dentro de nós, em nossa casa, e a partir
desta transformação individual, é que conseguiremos transformar nosso bairro, nossa cidade e nosso
país.
(Encontra-se base técnica para a criação de uma ecovila nos princípios da permacultura. São
resgates de antigas técnicas que aliadas a novas tecnologias visam a auto sustentabilidade e o baixo
impacto ambiental para a construção de um mundo em harmonia com a natureza)

A Agroecologia não é apenas uma forma de agricultura

A agroecologia é o estudo de ecossistemas em relação à produção de alimentos, mas leva a


uma mudança de paradigma profunda. Enquanto a agricultura impõe uma função artificial na
paisagem, a agroecologia estuda como podemos nos integrar com o ecossistema já existente, ou
criar ecossistemas análogos. É a mudança do homem dominador da paisagem para o homem
participante na teia de vida complexa que ocupa um espaço.

Em vez de estudar em livros, passamos a nos tornar íntimos de um lugar, conhecendo as


nuances de cada momento, percebendo quando algo mudou: uma planta nunca antes vista, um novo
canto de passarinho jamais ouvido. É se alegrar com a evolução de um sistema que fica cada vez
mais rico em espécies e fertilidade. Mas ao mesmo tempo é aprender a fazer a leitura prática do
local: os produtos para a nossa alimentação, os elementos produtivos que podemos inserir como
parte do sistema já existente. O resultado final é também a nossa alimentação, como na agricultura,
mas o caminho é totalmente diferente.

Os valores da agroecologia são outros. Na agricultura visa-se a produção. Na prática da


agroecologia focaliza-se a saúde do sistema, confiando que este, uma vez harmonizado, levará à
fartura. É aceitar o fato que JAMAIS vamos entender realmente as complexidades da Vida. Mas
podemos dançar juntos, participando nos fluxos e refluxos do ano solar, nas fases da lua, numa
atitude de profunda reverência.

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É confiar que a Mãe Natureza oferece tudo que precisamos para viver, em cada lugar do
planeta. Só cabe a nós entender a dinâmica em potencial de cada lugar. De fato é sair do mundo
tecnocrata e artificial para um mundo simples e real, concreto. A agroecologia além de ser uma forma
de estudar, de observar, se transforma também num estilo de vida, levando ao tão-sonhado Jardim
de Éden onde o homem e a Natureza se integram como um corpo só.

Agrofloresta
Os sistemas agroflorestais (SAFs) ou agroflorestas apresentam como principais vantagens,
frente a agricultura convencional, a fácil recuperação da fertilidade dos solos, o fornecimento de
adubos verdes, o controle de ervas daninhas, entre outras coisas.
A integração da floresta com as culturas agrícolas e com a pecuária oferece uma alternativa
para enfrentar os problemas crônicos de degradação ambiental generalizada e ainda reduz o risco de
perda de produção. Outro ponto vantajoso dos sistemas agroflorestais é que, na maioria das vezes,
as árvores podem servir como fonte de renda, uma vez que a madeira e, por vezes, os frutos das
mesmas podem ser explorados e vendidos. A combinação desses fatores encaixa as agroflorestas no
modelo de agricultura sustentável.
A modelagem de um sistema agroflorestal exige grande conhecimento interdisciplinar de
botânica, de solos agrícolas, de microfauna e microflora de solos, de função ecofisiológica dos
organismos que constituem os vários estratos, de sucessão ecológica e de fitossanidade.
Evidentemente que tudo isso deve vir acompanhado de um prévio conhecimento em agronomia e
silvicultura, já que é nesses dois ramos que se baseia a agrossilvicultura.
Da mesma forma que um sistema agroflorestal pode trazer mais lucros que um sistema
agrícola convencional, ele também pode trazer mais custos, já que existem pelo menos dois grupos
principais de componentes que precisam ser profissionalmente manejados e mantidos dentro de um
sistema agroflorestal: o componente agrícola, que engloba as plantas herbáceas ou arbustivas, e o
componente florestal, que pode ser representado pelas árvores, palmeiras ou outras plantas lenhosas
perenes e de origem florestal.
Existem vários tipos de sistemas agroflorestais, sendo que as variações entre os diferentes
tipos geralmente se limita ao âmbito estrutural e funcional. As variações estruturais mais comuns são:
a composição do sistema (árvores, plantas herbáceas, animais); o arranjo espacial do componente
arbóreo (densidade e distribuição das plantas); o arranjo temporal dos componentes e a estratificação
vertical. Já em relação às variações funcionais podemos destacar a finalidade produtiva da mesma: o
que vai ser explorado economicamente (madeira, fruto, semente, forragem, lenha, etc.); que serviços,
em alternativa aos produtos, podem ser prestados e que outros tipos de benefícios planeja-se
conseguir com a implantação desse sistema (conservação do solo, quebra-ventos, cercas-vivas).
Muito se pesquisa e se discute sobre quais espécies podem se combinar melhor em um
sistema agroflorestal, dentre estas espécies vale destacar o eucalipto, o arroz e a soja, que vem
sendo, em conjunto, amplamente utilizados como base de programas de reflorestamento social da
pequena e média propriedade rural em diversos países, inclusive no Brasil.
Sistemas agroflorestais multiestrato
Os SAFs, como são conhecidos, são a reprodução no espaço e no tempo da sucessão
ecológica verificada naturalmente na colonização de áreas novas ou deterioradas. Não é a
reconstrução da mata original porque inclui plantas de interesse econômico desde as primeiras fases,
permitindo colheitas sucessivas de produtos diferentes ao longo do tempo.
A modelagem de um SAF exige grande conhecimento interdisciplinar sobre solos e sua micro
fauna e micro flora, função ecofisiológica dos organismos que constituem os vários estratos,
sucessão ecológica, além de fitossanidade.
Ernst Götsch, um dos pioneiros dos SAF no Brasil, demonstrou através da revegetação de
uma área devastada pelo manejo incorreto na zona cacaueira da Bahia, que hoje se tornou uma
RPPN, o potencial de sustentabilidade dos SAFs.

73
Economia Solidária

Economia Solidária é uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza (economia)


centrada na valorização do ser humano - e não do capital - de base associativista e cooperativista,
voltada para a produção, consumo e comercialização de bens e serviços, de modo autogerido, tendo
como finalidade a reprodução ampliada da vida. Assim, nesta economia, o trabalho se transforma
num meio de libertação humana dentro de um processo de democratização econômica, criando uma
alternativa à dimensão alienante e assalariada das relações do trabalho capitalista.
Além disso, a Economia Solidária possui uma finalidade multidimensional, isto é, envolve a
dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. Isto porque, além da visão econômica de
geração de trabalho e renda, as experiências de Economia Solidária se projetam no espaço público,
no qual estão inseridas, tendo como perspectiva a construção de um ambiente socialmente justo e
sustentável; vale ressaltar: a Economia Solidária não se confunde com o chamado "Terceiro Setor"
que substitui o Estado nas suas obrigações legais e inibe a emancipação de trabalhadoras e
trabalhadores, enquanto sujeitos protagonistas de direitos. A Economia Solidária reafirma, assim, a
emergência de atores sociais, ou seja, a emancipação de trabalhadoras e trabalhadores como
sujeitos históricos.

Conceito
A economia solidária é um modo específico de organização de atividades econômicas. Ela se
caracteriza pela autogestão, ou seja, pela autonomia de cada unidade ou empreendimento e pela
igualdade entre os seus membros.
Se o empreendimento solidário for de produção, o seu capital será constituído por cotas,
distribuídas por igual entre todos membros, que desta forma, são sócios do empreendimento. O
princípio geral da autogestão é que "todos os que trabalham são donos do empreendimento e todos
os que são donos trabalham no empreendimento."
Quando é focado no consumo, o seu capital será também constituído por cotas, distribuídas
por igual entre todos os membros, que assim se tornam sócios do empreendimento. Neste caso, o
princípio geral da autogestão é que "todos os que consomem são donos do empreendimento e todos
os que são donos consomem no empreendimento".
São exemplos de empreendimentos solidários produtivos: associações ou cooperativas
agropecuárias, industriais, de transporte, de educação escolar, de hotelaria, entre outros. Exemplos
de empreendimentos solidários de consumo são: cooperativas de consumo, habitacionais, de crédito
e mútuas de seguros gerais, de seguro de saúde, clubes de troca, etc.
A administração de um empreendimento é coletiva e democrática. Todas as decisões mais
importantes são tomadas em assembléias de sócios, em que vigora o princípio "cada cabeça um
voto". Se dirigentes são necessários eles são eleitos pelos sócios e podem ter seu mandato revogado
por eles, no caso do desempenho do dirigente for considerado não-aceitável por uma maioria dos
membros.
Dentre os instrumentos usados para facilitar a comercialização dos produtos da economia
solidária, como alternativa ao escambo e com finalidades específicas, existe a moeda social.

Comércio Justo
Comércio justo (Fair Trade em inglês) é um dos pilares da sustentabilidade econômica e
ecológica, ou econológica como vem sendo chamada. Segundo a Wikipedia em inglês, fair trade é
um movimento social e uma modalidade de comércio internacional que buscam o estabelecimento de
74
preços justos bem como de padrões sociais e ambientais nas cadeias produtivas de vários produtos.
O movimento dá especial atenção às exportações de países em desenvolvimento para países
desenvolvidos, como artesanato, café, cacau, chá, banana, mel, algodão, vinho, frutas in natura, e
muitos outros (tradução livre).
Em poucas palavras, é o comércio onde o produtor recebe remuneração justa por seu
trabalho. Neste comércio eliminam-se os intermediários ao mínimo necessário.
Alguns países têm consumidores preocupados com a sustentabilidade e que optam por
comprar produtos vendidos através do comércio justo. Esta opção ética tem permitido que pequenos
produtores de países tropicais possam viver de forma digna ao optarem pela agroecologia, como
agricultura orgânica.
O Comércio Justo é definido pela News! (a Rede Européia de Lojas de Comércio Justo)
como: "uma parceria entre produtores e consumidores que trabalham para ultrapassar as dificuldades
enfrentadas pelos primeiros para aumentar seu acesso ao mercado e para promover o processo de
desenvolvimento sustentado. O Comércio Justo procura criar os meios e oportunidades para
melhorar as condições de vida e de trabalho dos produtores, especialmente os pequenos produtores
desfavorecidos. Sua missão é a de promover a equidade social, a proteção do ambiente e a
segurança econômica através do comércio e da promoção de campanhas de conscientização".

Os Princípios
Todas as organizações envolvidas no circuito do Comércio Justo devem obedecer aos seguintes
princípios:
• A preocupação e o respeito pelas pessoas e pelo ambiente, colocando as pessoas acima do
lucro;
• A criação de meios e oportunidades para os produtores melhorarem as suas condições de
vida e de trabalho, incluindo o pagamento de um preço justo (um preço que cubra os custos
de um rendimento aceitável, da proteção ambiental e da segurança econômica);
• Abertura e transparência quanto à estrutura das organizações e todos os aspectos da sua
atividade, e informação mútua entre todos os intervenientes na cadeia comercial sobre os
seus produtos e métodos de comercialização;
• Envolvimento dos produtores, voluntários e empregados nas tomadas de decisão que os
afetam;
• A proteção dos direitos humanos, nomeadamente os das mulheres, das crianças e dos povos
indígenas;
• A consciencialização para a situação das mulheres e dos homens enquanto produtores e
comerciantes, e a promoção da igualdade de oportunidades;
• A promoção da sustentabilidade através do estabelecimento de relações comerciais estáveis
de longo prazo;
• A educação e a participação em campanhas de sensibilização;
• A produção tão completa quanto possível dos produtos comercializados no país de origem.

Consumo responsável
Significa adquirir algo que seja feito de forma ética. Geralmente, sem agredir ou explorar
seres humanos, animais ou ao meio ambiente.
Isto pode ser feito levando em consideração as seguintes normas:
• compras corretas — favorecendo produtos eticamente corretos, e realizar negociações
baseadas em princípios que primeiramente beneficiem ao bem comum do que ao interesse
próprio, permitindo a negociação para o interesse próprio apenas para perpetuar algum bem
comum além deste interesse.
• boicotes Morais — à compras e negociações que vão ao encontro das proposta anterior.
• Combinação dos anteriores.

Termos alternativos são hábitos de consumo eticamente corretos, compras éticas ou Aquisições
Morais. Usuários destes termos definem três tipos de hipóteses:
1. Compreender o efeito de uma compra, isto é, seus efeitos em todos os seres vivos desde o seu
ponto de extração até seu eventual ponto de distribuição (ver intendência do produto), é do interesse
do consumidor, não apenas o efeito culminante. (terminologia de Paul Hawken)
2. Compras individuais' ou o critério para compras de uma instituição para qualquer tipo de consumo
pode ser definido como uma combinação de padrões fixos, informações especificas de produtos e
75
serviços, tornando fácil a cooperação entre compradores e vendedores para uma escolha ética. Isto
é, algo como um comércio justo, que pode atualmente ter um objetivo significativo ao menos se
pessoas e suas instituições tem definido metas integras em sua área de atuação.
3. A escolha coletiva não deve privar os consumidores de escolhas particulares ou dispor custos
menores para pessoas menos éticas, mas na realidade alterar a composição do mercado para que as
ofertas se tornem melhores (do ponto de vista ético) com o passar do tempo.

Escrituras Hebraicas/Cristãs favorecem expressamente a boa intendência da Terra que Deus


criou para ser responsabilidade do homem. À medida que a sustentabilidade é necessária, comprar
por vaidade ou por status é execrável e deve ser evitada. Esta teoria tem ecos em algumas das
modernas ecovilas que adotaram similares estâncias, efetivamente bloqueando todas as mercadorias
que não satisfação seus critérios morais nos portões de entrada da vila, e confiando na produção
interna de alimentos e ferramentas dentro do possível.
Alguns argumentam que "Comprar é mais importante do que votar", e que a disposição do
dinheiro é um regra muito mais básica em qualquer sistema econômico. Alguns teóricos defendem
que isto é um modo claro de expressarmos nossas preferências morais, i.e., se nós nos importamos
sobre algo mais continuamos a comprar das partes que tem uma alta probabilidade de risco de ferir
ou destruir algo, nós realmente não nos importamos sobre aquilo, e estamos apenas praticando um
tipo de hipocrisia.

Exemplos de Consumo Responsável


• Dê carona - A idéia é reduzir o consumo de combustível, através da prática de dar carona.
Muito utilizada na Alemanha. Em um estudo do Ministério de transportes da Alemanha se
estima que por volta de 2 milhões de motoristas poderiam dar carona aos seus colegas de
trabalho diminuindo o consumo petróleo e a emissão de poluentes.
• Energia Solar - Segundo a Abrava (Departamento Nacional de Aquecimento e Associação
brasileira de Refrigeração, Ar condicionado, Ventilação e Aquecimento) cada metro quadrado
de coletor solar evita a inundação de 56 metros de áreas férteis.
• Troca de eletrodomésticos - Utilização de equipamento com menor taxa de consumo tem
também o mesmo efeito.

Crítica
Os Críticos frequentemente argumentam que esta mudança estrutural é limitada ao
consumismo responsável. Eles citam a preponderância de nicho de mercado como o efeito atual do
consumo responsável. Críticos também argumentam que o consumismo ético é fundamentalmente
anti-democrático. Em seu ponto de vista, o ato de comprar é considerado como um voto e o número
de votos não equivalem a um individuo. Por que o poder financeiro das (corporações, governo,
universidades, etc.) teriam mais votos que as compras feitas por indivíduos. A distribuição de riqueza
leva, portanto, a uma injusta distribuição de votos. Os críticos também argumentam que a contínua
confiança nos métodos inerentemente anti-democráticos levará a sociedade a não mais entender ou
desejar o engajamento civil. Este ponto de vista sugere, entretanto, que para um sistema democrático
ser justo, esta distribuição de votos deve ser igual para todos os pontos de vista, ou que um pequeno
grupo com poucos votos seja irrelevante, querendo dizer nada ou não tenham influência.

Compras Corretas
Compras corretas significam favorecer produtos éticos, sendo eles comercialização justa,
sem crueldade, orgânicos, recicláveis, reutilizáveis, ou produzidos localmente. Esta opção é questão
mais importante desde que ela suporta diretamente a empresas progressivas.

Normas e padrões
Numerosos padrões e normas induzem ao consumo positivo, tais como:
• Comércio justo
• SA8000 - um padrão universal para consumo ético, as vezes não oficialmente chamado
de "abaixo os salários de fome"
• Agricultura orgânica e Biodinâmica
• Associação de Agricultura Orgânica (AAO)
• Ecocert Brazil
• Gama S.A.
76
• IBD - Instituto Biodinâmico
• Lia Ulmasud Ltda.
• MOA - Fundaçâo Mokiti Okada M.O.A.
• Organic Trade Association (Associação Comércio Orgânico)
• Co-op América
• kosher (padrão religioso)
• Halal (padrão religioso)
• Veganismo
• free-range aves domesticas
• Grass fed beef
• Sindicato
• seguro para golfinhos peixe
• Reciclagem
• FSC-certified ("amigos do meio ambiente") madeira
• Produto em Vermelho

Junto com a revelação de ingredientes, algumas informações obrigatórias sobre a origem


de roupas e alimentos são exigências de todas as nações desenvolvidas. Esta prática tem se
expandido em algumas nações desenvolvidas, tais como, na China onde todo item de vestuário leva
o nome, o número de telefone e número de fax da fábrica onde ele foi feito assim um comprador pode
inspecionar as condições de fabricação do mesmo. E, mais importante, provar que os itens não foram
feitos por "trabalhadores presos", usados para produzir mercadorias para exportação foi banidos na
maioria das nações desenvolvidas. Tais normas também são usadas em boicotes, como a marca da
mercadoria Feito na Alemanha foi introduzido em 1887.
Estas normas servem como provas de algum confiança no processo de validação, algum
capital institucional, muitos fazem uma marca registrada ou um bandeira de uma nação. Eles também
sinalizam algum capital social, ou crédito, em alguma comunidade de auditores que devem seguir
estas instruções para validar estas etiquetas. Teoricamente, qualquer uma destas etiquetas podem
ser falsificadas e qualquer auditor ou inspetor pode ser subornado ou corrompido. Um grande inibidor
para o uso das etiquetas padronizadas é a baixa confiança e falta de habilidade para se validar reais
padrões global para que tais etiquetas possam ter algum significado.

Boicote
Boicote moral é a prática de evitar ou boicotar produtos que um consumidor achar que está
associado com procedimentos amorais. Um indivíduo pode escolher boicotar um produto.
Alternativamente, as decisões podem ser a aplicação de um critério reflexivo baseado na moralidade
(ou, na terminologia de éticos, uma teoria de valor) para um indivíduo, família, união, ou outro grupo
(corporações, universidade, governo) tomar as decisões sobre o consumo.
Razões para boicotar produtos incluem:
• Feitoria agrícola, precarização do trabalho, impactos sociais (...)
• Impacto ambiental, marketing para crianças (...)

Corporações
Exemplos incluem corporações que:
• é descoberto adesões a procedimentos sem ética por uma das suas subsidiárias
• invistam uma porção de seus lucros em por exemplo na indústria armamentista
Tais boicotes podem causar grande dano na reputação, sem mencionar a perda dos seus lucros, e
podem, em parte, levar ao desenvolvimento do conceito da responsabilidade social corporativa.

Simplicidade Voluntária
O consumo consciente tem suas raízes na simplicidade voluntária, na qual pessoas reavaliam
seu equilíbrio de trabalho/vida de forma a gastar mais do seu tempo e dinheiro em coisas de real
interesse. Quando as pessoas trabalham menos, há mais tempo para se relacionar com a família e
amigos, voluntariado, hobbies, e serviços comunitários. Um desdobramento natural da opção de
trabalhar menos e gastar menos. Em vez de gastar tempo e dinheiro em compras, as pessoas
engajadas no voluntariado gastam menos. Elas compram mercadorias usando sites como o craigslist,
comercializando com amigos, contentam de o que têm, ou fazem vendas de quintal. Quando eles
compram algo novo, a decisão de compra é feita conscientemente. Um cliente pergunta, “este artigo
77
foi feito preconizando aos meus valores? Estou defendendo a economia local? As pessoas que
fizeram este produto foram tratadas e compensadas razoavelmente? Este artigo foi feito para durar?”
Como resultado destas questões, consumidores conscientes acabam ajudando à agricultura
orgânica, a comercialização-justa e livres de produtor sweat-shop (“Loja de Suor”, este termo surgiu
em 1892 que quer dizer "uma loja ou fábrica que explora seus funcionários com longas jornadas de
trabalho e baixos salários), e negócios locais e independentes. Um dos grandes recursos para tais
mercadorias é o Co-op America.

BIBLIOGRAFIA
CARTA DA TERRA. Princípios e Valores para um futuro Sustentável – ECO 92.
CAVALCANTI, C. (Org.). Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. São
Paulo: Cortez: Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1997.
DIAS, Genebaldo Freire. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. São Paulo: Gaia, 2002.
ENLAZADOR, Thomas. Almanaque para práticas sustentáveis. Recife: 2007. Ediçao
Independente.
0
LEI N 9.795. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação
Ambiental e dá outras providências.
LEGAN, Lúcia. A Escola Sustentável. Imprensa Oficial SP, 2004.
MOLISON, Bil. Introdução a Permacultura. Imprensa Oficial SP, 2001.
LEFF, E. Saber Ambiental: Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. . Petrópolis,
RJ: Vozes, 2001.
LEONARDI, M. L. A. A educação Ambiental como um dos instrumentos de superação da
insustentabilidade da sociedade atual.Vozes, Rj, 2000
MANCE, Euclides A . Como organizar redes solidárias. DP&A Ed. 2003.
PELIZZOLI, Marcelo L. A emergência do paradigma ecológico. Ed. Vozes, 1999.

ANEXO 1

COMPOSTAGEM E ADUBOS ORGANICOS

Compostagem e adubação orgânica

Os fertilizantes orgânicos sólidos e líquidos são todos aqueles materiais de procedência


mineral, vegetal ou animal que podem ser utilizados para fertilizar os solos como um todo e assim
adubar as culturas. Eles devem ter alto valor agregado e baixo custo de aquisição e produção. Eles
podem ser produzidos a partir de matérias primas próprias ou adquiridos de terceiros e se
diferenciam dos adubos convencionais pela sua atividade e atuação sobre o solo, as plantas e o
ambiente, onde normalmente têm efeitos positivos como um todo, produzindo menores impactos que
os convencionais.
Os produtos orgânicos a serem utilizados para a fertilização não podem ser provenientes de
resíduos contaminados por metais pesados e componentes químicos tóxicos e precisam ser
homologados pela legislação e regulamentações das entidades certificadoras de agricultura orgânica,
tanto à nível nacional, quanto internacional.

Descrição dos principais fertilizantes orgânicos


A seguir apresentaremos uma descrição e exemplos dos principais produtos utilizados para a
fertilização de culturas orgânicas.

Corretivos de solo: Em geral os corretivos de solo são necessários para iniciar o processo de
agricultura orgânica em muitos tipos de solo no Brasil. Normalmente é permitida a utilização dos
corretivos em escala abaixo da recomendação oficial das análises de solo, de produtos como calcário
dolomítico, calcário calcítico e calcário magnesiano. Quantidade máxima de 2,0 toneladas/hectare.
Existem outros produtos, como calcário de conchas que também podem ser empregados como
corretivos, mas são pouco utilizados. Posteriormente, quando as condições de equilíbrio com a
utilização de matéria orgânica, adubação orgânica, adubação verde e manejo, vão se adequando,
praticamente não é necessário o emprego de corretivos minerais.

Pós de Rochas: Podem ser utilizados os resíduos em forma de pó das mais diversas rochas
encontradas nas regiões, como complemento nutricional. Ex. Todos os tipos de fosfatos naturais,
78
como de Araxás, Patos de Minas, Apatitas, etc, Pós de Basalto, Granito, Granodiorito, Diabásio,
Micaxisto, Silvenita, Carnalita, Kaineita, etc.
Cinza e Carvão: Podem ser utilizadas as cinzas e carvões da queima de madeiras diversas, resíduos
industriais não contaminantes e bagaço de cana. Cuidado para não utilizar cinzas de queimas, que
possam conter substâncias tóxicas e metais pesados.

Métodos de compostagem:
A compostagem pode se dar de três maneiras:

Aeróbia: Caracteriza-se pela presença de ar no interior da pilha, pelas temperaturas elevadas que
ocorrem, pela liberação de gás carbônico, de vapor de água e pela rápida decomposição da matéria
orgânica, elimina organismos e sementes indesejadas.

Anaeróbia: Caracteriza-se pela baixa temperatura de fermentação, pela ausência de ar atmosférico,


pelos gases que desprendem, principalmente o metano, gás sulfídrico e outros, o que acarreta mau
odor e é mais lenta que a aeróbia e não fica isenta de organismos e sementes indesejadas.

Mista: São métodos em que a matéria orgânica tem uma fase submetida a um processo aeróbio
seguido de um anaeróbio ou vice-versa.
No caso, vamos destacar os processos de compostagem aeróbios.

RECEIT AS DE ADUBOS ORGÂNICOS:

BOKASHI SOLO: Indicado para hortaliças folhosas


Ingredientes: 500kg Solo argiloso; 200kg Farelo de Mamona;
50kg Farinha de Osso; 50kg Farinha de Peixe; 30kg Farelo de Arroz;
170kg Esterco de galinha seco
Inoculante: Fazer um mingau cozinhando batata ou mandioca (fonte de amido), com 40 litros de água
com 3 quilos de açúcar mascavo inoculante 500kg Bain-Food.
Preparo: Misturar os ingredientes. Misturar o mingau com o inoculante, molhando também com água
sem excesso, para manter em torno de 50-55% de umidade. Fazer o monte e cobrir com palha.
Acompanhar a temperatura e revirar quando atingir 50ºC.
Modo de usar em Hortaliças:
Primeiro utilizar composto orgânico e depois acrescentar o Bokashi na dose de 500g/m².

BOKASHI FOSFORADO: Indicado para hortaliças de raízes (cenoura, nabo, beterraba etc.) e para
terrenos com deficiência de fósforo (Fonte: J. Steinberg -Guia Rural)
Ingredientes e preparo: Em 500 quilos de terra virgem, misturar 250 a 300 quilos de farinha de ossos
calcinada, 200 quilos de esterco de galinha, 30 quilos de farelo de arroz ou de trigo e 3 quilos de
açúcar mascavo.
Revolver a mistura diariamente durante três dias e deixe-a descansar por mais uma semana sem
mexer. Nesse composto a temperatura mais alta é favorável para a decomposição dos materiais.
Quando abaixar a temperatura estará pronto.
Aplicação: Em terra fraca pode-se aplicar 1 quilo por metro quadrado; se o solo for bom, bastam 200
gramas no mesmo espaço. Convém alternar o uso desse composto com o bokashi nitrogenado.

BIOFERTILIZANTE COM FÓSFORO E POTÁSSIO - aplicação foliar


Ingredientes: Esterco fresco de bovinos: 50 kg;
Farinha de ossos: 15 kg (fornece fósforo);
Cinzas de madeira: 5 kg (fornece potássio);
Melaço de cana: 4 kg;
Água: 100 - 120 litros (para tambor de 200 litros).
Preparo: Colocar a água no tambor e em seguida os demais ingredientes, mexendo bem. Tampar
hermeticamente, colocando a mangueira para escape dos gases. Deixar fermentar por 30 a 40 dias.
Aplicação: Pulverização de pomares, cafezal ou hortaliças, com 1 a 2 litros do biofertilizante coado
por 100 litros de água.

www.agrorganica.com.br

79
TURISMO SUSTENTÁVEL DE BASE LOCAL
Docente
Thomaz Enlazador – Educador ambiental
Contato: ecopedagogia@gmail.com

EMENTA
Os atrativos ambientais, culturais e sociais dentro e no entorno das Unidades de
Conservação do Nordeste, são subutilizados, deixando-se escapar uma importante chave
para a sustentabilidade local através do planejamento turístico de maneira sustentável como
ferramenta de geração de trabalho e renda para as comunidades que ali residem. O Turismo
Sustentável de base comunitária surge como uma alternativa para a sustentabilidade social,
integrada nos princípios conservacionistas das Unidades de Conservação.

1- Objetivos
• apontar caminhos para a utilização do turismo sustentável de base comunitária
como fonte para a sustentabilidade social e ecológica;
• demonstrar experiências de modelos de visitação em UC’s bem sucedidos;
• diferenciar o turismo predatório do turismo sustentável;
• elucidar as inúmeras formas de se praticar o ecoturismo em UC’s.

2- Programa - Conteúdo
Filme debate sobre experiências de ecoturismo em UC’s e amostragem de curta
sobre Turismo sustentável no Equador.

Introdução expositiva-questionadora:
a. Definições de Turismo Sustentável, Turismo Comunitário e Ecoturismo
b. Histórico do nascimento do turismo sustentável
c. Crescimento e potencialidades do Ecoturismo no Brasil
d. As características e aspectos positivos e negativos
e. Dicas e caminhos para um planejamento ecoturístico

80
3- Metodologia
Aulas com vídeo-debate e expositivas utilizando o recurso do data show. O último
bloco do módulo é uma construção participativa para a construção de uma rede de
colaboração de turismo sustentável nas UC's do NE.

Introdução

O ecoturismo é o segmento do turismo que mais possibilita a valorização e


preservação do patrimônio natural e cultural, viabilizando retornos econômicos,
proporcionando uma educação ambiental, através da conscientização da importância da
preservação do meio ambiente, gerando assim, inúmeros benefícios para comunidade.
Possibilita uma gestão participativa econômica, mantendo a diversidade e estabilidade do
meio ambiente, atuando como instrumento de orientação, sensibilização e equilíbrio entre os
impactos causados pelo desenvolvimento econômico e a necessidade de preservar e
recuperar o meio ambiente.

Segundo a Organização Mundial de Turismo o turismo movimenta mais de 3,5


trilhões de dólares anualmente e é considerado por vários órgãos de pesquisa como um dos
ramos de atividade que mais cresce no mundo, calculando-se que mais de 180 milhões de
pessoas vivem direta ou indiretamente dele. Em vista de gerar interesses distintos, o turismo
passou a segmentar-se em áreas diferentes de atuação, surgindo assim várias modalidades
como:

 Turismo cultural;
 Turismo arqueológico;
 Turismo espiritual e religioso;
 Turismo esportivo;
 Turismo empresarial;
 Turismo indigenista;
 Turismo pedagógico;
 Turismo científico;
 Turismo infantil;
 Turismo da terceira idade;
 Turismo gastronômico;
 Turismo voluntário;
 Turismo rural;
 Turismo de base comunitária;
 Turismo sustentável;
 Turismo Ecológico;
 Ecoturismo.

81
ECOTURISMO
O QUE É?

Cachoeira da Fumaça - Pq. Nacional


da Chapada Diamantina - BA

O turismo ecológico ou ecoturismo vem se desenvolvendo muito nos últimos anos


principalmente nos países que ainda possuem grandes remanescentes de áreas naturais
como o Brasil.

Por ser uma atividade nova, ainda não há consenso na definição do que seja
ecoturismo. Para o Instituto de Ecoturismo do Brasil, ecoturismo “é a prática de turismo de
lazer, esportivo ou educacional, em áreas naturais, que se utiliza de forma sustentável dos
patrimônios natural e cultural, incentiva a sua conservação, promove a formação de
consciência ambientalista e garante o bem estar das populações envolvidas”.

O Ecoturismo deve seguir e respeitar as limitações naturais da região visitada; o


prévio estudo e planejamento dos aspectos ecológicos é imprescindível.

De acordo com a Embratur – Empresa Brasileira de Turismo, nas diretrizes para


uma Política Nacional de Ecoturismo, ecoturismo “é um segmento da atividade turística que
utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e
busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente,
promovendo o bem-estar das populações”.

O nome “ecoturismo” é novíssimo tendo surgido oficialmente em 1985, mas somente


em 1987 foi criada a Comissão Técnica Nacional constituída pelo Ibama e a Embratur,
ordenando as atividades neste campo. Como o Brasil possui ainda regiões relevantes de
áreas naturais e é o país de maior diversidade do mundo, seu potencial ecoturístico é muito
grande, o que tem proporcionado o desenvolvimento desta atividade, com movimentação de
milhões de reais.

Ecoturismo é o mesmo que Turismo Sustentável ?

Novos conceitos e derivações surgem a partir do Ecoturismo. A exemplo da


terminologia Desenvolvimento Sustentável, o Ecoturismo se popularizou e a característica
82
de zelar pela sustentabilidade social e ambiental não está, na maioria dos casos, sendo
respeitada. Muitas agências, pacotes turísticos e empreendimentos em áreas naturais, se
transvestem de Ecoturísticos, aproveitando a grande onda verde, sem seguir preceitos
básicos de respeito pela cultura local e preservação dos recursos naturais.

Para contrapor a “banalização” do termo Ecoturismo e focar em práticas


ambientalmente sustentáveis e socialmente justas no turismo, surge o Turismo Sustentável.
O Turismo Sustentável é definido como toda a prática de turismo que promove o uso
sustentável dos patrimônios ambiental e cultural. Além disso, conserva o ambiente visitado
para que as gerações futuras também possam usufruir dele, com os mesmos (ou até mais)
benefícios. Contempla aspectos ambientais, sociais e econômicos. Segundo o Acordo de
Mohonk, Turismo Sustentável é aquele que visa minimizar impactos ecológicos e sócio-
culturais, enquanto promove benefícios econômicos para as comunidades locais e países
receptores.

O novo paradigma do TURISMO SUSTENTÁVEL leva em consideração a


autenticidade cultural, inclusão social, a conservação dos ambientes naturais, integração
plena e autônoma da comunidade local com os turistas e a criação e geração consensual
dos serviços disponibilizados, como ferramentas fundamentais para o desenvolvimento
econômico de base local (dentro dos princípios da economia solidária) a longo prazo.

Turismo de Base Comunitária

Desenvolvido pela comunidade local, que passa a articular e construir a cadeia


produtiva. A economia é local e a renda fica na comunidade; leva tod@s a se sentirem
capazes de contribuir e organizar as estratégias do desenvolvimento local para um turismo
sustentável.

Definições de Turismo de Base Comunitária

O turismo comunitário é uma atividade econômica solidária que relaciona a


comunidade com os visitantes, desde uma perspectiva inter-cultural, com participação
consensuada de seus membros, propondo o manejo adequado dos recursos naturais e a
valoração do patrimônio cultural, baseado em um principio de equidade na distribuição dos
benefícios gerados. (Complementando a leitura com as definições e modalidades da
Economia Solidária na apostila de Sustentabilidade Socioambiental)

Características do Turismo de Base Comunitária

1. envolve a todos;
2. considera os direitos e deveres individuais e coletivos;
3. elabora um processo de planejamento participativo desde as tomadas de decisões
até a execução das atividades turísticas;
4. é realizado na escala humana;
5. desenvolve a gestão participativa na qual a maioria dos atores sociais de uma
comunidade se envolvem de forma direta e/ou indireta com as atividades, tendo em
vista a melhoria da comunidade e de cada um dos participantes;
6. prioriza a cultura local, a valorização do patrimônio cultural, os desejos e as
necessidades da comunidade;

83
Ecoturismo e Unidades de Conservação
O conceito de Unidades de Conservação é embasado no ideal de áreas naturais
protegidas, ou seja, áreas intocadas e intocáveis, criadas inicialmente para contemplação. O
ponto de origem para a atual conceituação de área protegida é o Parque Nacional de
Yellowstone que foi idealizado em um conceito de valorização da manutenção de áreas
naturais, consideradas como "ilhas" de beleza e valor estético que conduziriam o homem à
meditação.
O grau de importância sobre a existência das UCs extrapola a questão da beleza
cênica a ser preservada; a proteção dos ecossistemas, da fauna e da flora de uma área
natural, são encarados até mesmo como necessidade vital à nossa sobrevivência nesse
planeta. No âmbito do ecoturismo, as UCs possuem enorme destaque; é nestas áreas que
encontramos os maiores e mais bem conservados atrativos, é onde o turista pode satisfazer
suas necessidades turísticas e de lazer: birdwatching, trekking, fotografar, etc. No Brasil, a
primeira Unidade de Conservação criada foi o Parque Nacional de Itatiaia, em 1937. As UCs
são divididas em tipos, ou categorias apresentadas dentro do SNUC – Sistema Nacional de
Unidades de Conservação – Lei 9.985 de 2000.

O ecoturismo é percebido pelos seus adeptos ou tende a ser promovido como:


• uma forma de praticar turismo em pequena escala;
• uma prática mais ativa e intensa do que outras formas de turismo;
• uma modalidade de turismo na qual a oferta de uma infra-estrutura de apoio
sofisticada é um dado menos relevante;
• uma prática de pessoas esclarecidas e bem-educadas, conscientes de questões
relacionadas à ecologia e ao desenvolvimento sustentável, em busca do
aprofundamento de conhecimentos e vivências sobre os temas de meio-ambiente;
• uma prática menos espoliativa e agressiva da cultura e meio-ambiente locais do que
formas tradicionais de turismo.
De acordo com David Weaver, registrou-se o termo pela primeira vez no início
dos anos 80.
O Ecoclub.com define-o como um estado ideal de um turismo que:
• minimiza seu próprio impacto ambiental;
• patrocina a conservação ambiental;
• patrocina projetos que promovam igualdade e redução da pobreza em comunidades
locais;
• aumente o conhecimento cultural e ambiental e o entendimento intercultural;
• e que seja financeiramente viável e aberto a todos.

CRESCIMENTO DO ECOTURISMO

A chamada indústria do turismo é uma das mais emergentes do mundo, crescendo


por volta de 4 a 5% ao ano. Dentro dela, o segmento do ecoturismo é o campeão. O
despertar da população pelo contato com a natureza e pelas questões ambientais e a busca
em espantar o stress das grandes cidades é um dos motivos do crescimento.

Tendo como princípio básico o baixo impacto ambiental, o ecoturismo passou a ser
visto como solução econômica às unidades de conservação, pois atividades tradicionais
existentes, como a pesca e o extrativismo, por exemplo, ora se mostraram insuficientes para
a economia da região, ora não são compatíveis com as normas e restrições destas mesmas
unidades de conservação.

84
BRASIL: MAIOR POTÊNCIA ECOTURÍSTICA DO PLANETA

O Brasil concentra no seu território as principais Ecoregiões do Planeta: Cerrado,


Mata Atlântica, Amazônia, Pantanal, Caatinga, Semi Árido, Áreas costeiras, e
outras micro regiões específicas.

• Flora: Possui aproximadamente 20% das espécies já catalogadas no planeta;


• Fauna: Milhares de espécies endêmicas. Possui a maior diversidade de espécies de
pássaros;
• Extensão Territorial: 8,5 milhões de quilômetros quadrados de terras e milhares de
quilômetros de áreas costeiras;
• Costa: 7.367 quilômetros de linha costeira;
• Recursos Hídricos: Maior bacia hidrográfica do Mundo. Possuí aproximadamente 20%
da água potável do mundo.

Cientes do potencial e do interesse de milhões de pessoas nas atividades


compreendidas no ecoturismo, os setores público e privado direcionaram esforços na
instituição de uma política de desenvolvimento do ecoturismo, originando as Diretrizes para
uma Política Nacional de Ecoturismo, com os seguintes objetivos:

1. compatibilizar as atividades de ecoturismo com a conservação de áreas naturais;


2. fortalecer a cooperação interinstitucional;
3. promover a participação efetiva de todos os segmentos no setor;
4. promover e estimular a capacitação de recursos humanos para o ecoturismo;
5. promover,incentivar e estimular a criação e melhoria da infra-estrutura para a
atividade de ecoturismo;
6. promover o aproveitamento do ecoturismo como veículo de educação ambiental.

A implantação destes objetivos exige ações e estratégias apropriadas, como


regulamentar estas atividades mediante leis, capacitações, troca de experiências entre os
setores envolvidos, desenvolvimento de métodos para avaliação e acompanhamento com
pesquisas estatísticas e levantamento dos problemas, aprimorar a qualidade dos serviços,
fazer divulgação e ainda proceder planos de educação ambiental aos envolvidos,
ecoturistas, guias e a própria população local.

As atividade que compõe o ecoturismo trazem oportunidades para o


desenvolvimento de ofícios, fortalecimento da economia local, empreendimentos
comunitários, como pequenas pousadas, hospedagem solidária na casa dos nativos,
85
restaurantes, serviços de guiagem, comércio de artesanatos,entre outros. Essas metas são
fundamentais para a sustentabilidade sócioambiental da Biorregião que adota atividades de
turismo sustentável. O ecoturismo pode vir a ser um importante instrumento para o
desenvolvimento sustentável preconizado pela Agenda 21.

CARACTERÍSTICAS DO ECOTURISMO BEM PLANEJADO

O pensamento ambiental moderno diz: “É preciso parar de tentar dominar a


natureza e passar a interagir com ela, medindo as conseqüências ambientais de nossos
atos”. Não mais o homem contra a natureza, mas o homem com a natureza lado a lado.
Nesse contexto, a preservação ambiental encontra no Ecoturismo uma forma
interessante para promover a educação e, de certa forma, desenvolver uma atividade
produtiva para as comunidades em questão preservando os recursos naturais.

O Ecoturismo engloba um conjunto de iniciativas que visam harmonizar a


conservação da natureza com a valorização da cultura local e a promoção do
desenvolvimento sustentável.

Projeto Peixe Boi na Ilha de Itamaracá - PE

ASPECTOS POSITIVOS DO ECOTURISMO

• Uso sustentável dos recursos naturais;


• Manutenção da diversidade biológica e cultural;
• Integração do turismo no planejamento e suporte às economias locais;
• Envolvimento das comunidades locais (geração de empregos);
• Capacitação de mão-de-obra (monitores e guias ambientais);
• Fixação das comunidades locais e melhora de seu nível econômico;
• Conscientização através da Educação Ambiental para a comunidade e para os turistas.

Há também a sensibilização de turistas e populações locais para a proteção do


ambiente, do patrimônio histórico e de valores culturais, o fomento de outras atividades
econômicas potencialmente sustentáveis e a melhoria de equipamentos urbanos e de infra-
estrutura.

O ecoturismo, apesar de ser um ramo que atrai um segmento determinado de


turista, ou seja, mais específico, está também ligado ao potencial turístico tradicional,
pois muitos “turistas convencionais” tornam-se em suas viagens vez ou outra,
ecoturistas, utilizando programas oferecidos neste setor. Levando-se em conta que o
turismo convencional pode alcançar em todo o mundo milhões de pessoas
86
anualmente, o ecoturismo pode canalizar alguns milhões também, sem contar os
ecoturistas propriamente ditos.

ASPECTOS NEGATIVOS

• Maior consumo de recursos naturais;


• Impactos ambientais pelo excesso de turistas;
• Crescimento do lixo;
• Desaparecimentos de espécies da fauna e flora;
• Perda de valores tradicionais da população local;
• Especulação imobiliária;
• Empreendimentos impactantes (resorts, hotéis, pousadas, etc) construídos em áreas de
preservação;
• Desrespeito à legislação ambiental;
• Aumento do custo de vida local e adensamento urbano;
• Marketing ecológico duvidoso.

MODALIDADES DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO QUE PODEM SER


DESENVOLVIDADAS ATIVIDADES DE ECOTURISMO:

APA – Área de Proteção Ambiental


Floresta Nacional
Reserva Extrativista
Reserva de Fauna
Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN
Parques Nacionais
Parques Estaduais
Parques Municipais

Nem tudo que reluz é verde !

O ecoturismo é uma das atividades econômicas que mais vem se desenvolvendo.


Como a temática ambiental está em alta e a preservação dos recursos naturais é uma
exigência cada vez maior para uma empresa se firmar no mercado, muitas dessas
“iniciativas ecoturísticas”, utilizam o nome eco e acabam repetindo a mesma cartilha do
turismo em massa ou predatório. Um exemplo claro são os resorts construídos em grande
parte da costa nordestina em áreas de preservação ambiental como mangues, restingas e
remanescentes de mata atlântica. Diferenciar uma iniciativa realmente sustentável de uma
roupagem de marketing verde (Ecoresorts) é um exercício de cidadania ambiental,
auxiliando assim, a construção do desenvolvimento sustentável local.

DIAS PARA UMA BOA GUIAGEM


Você é o responsável pela segurança do grupo!

• O salvamento em ambientais naturais é caro e complexo;


• Calcule o tempo do percurso e fique de olho no tempo;
• Aprenda técnicas básicas de segurança;
• Não esqueça dos equipamentos apropriados;
• Não guie grupos sem previamente conhecer o local;
• Lanterna, água, primeiros socorros, mapas e bússola são indispensáveis;

87
• Leve comidas leves e muito líquido;
• Não arrisque! Vá até onde sua confiança permitir.

Respeite e preserve a fauna e a flora local

Remanescentes de conchas na praia de Maracaípe -


PE

• Resista à tentação de levar “lembranças” para casa como pedras, conchas e plantas do
local;
• Observe os animais à distância e não os alimente;
• Fogueiras matam o solo. Evite acendê-las;
• Evite fumar seu bastão cancerígeno (cigarro);
• Tire apenas fotografias, deixe apenas pegadas e leve para casa apenas memórias.

Cuide das trilhas e dos locais de acampamento

• Mantenha-se nas trilhas;


• Encontre um local para o acampamento. Não o construa!
• Não queime, nem enterre seu lixo, traga-o de volta;
• Acampe há pelo menos 30 metros das fontes de água;
• Evite barulhos excessivos no acampamento;
• Não use sabão, shamppo ou creme dental nas cachoeiras;
• Lembre-se que você é visita. Respeite os moradores.

PONTO DE REFLEXÃO

Quando a ganância tapar os olhos do homem, e não deixar ele sentir que é parte integrante
do todo, portanto, ser vivente da natureza, a situação caminhará para a artificialização do
nosso ambiente. Isso levará a humanidade a achar que o artificial é o natural. Aí estaremos
em uma sociedade de mutantes, e só nos restará o vazio.
Thomas Enlazador

BIBLIOGRAFIA

DIAS, Genebaldo Freire. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. São Paulo: Gaia,
2002.
____. Educação Ambiental: práticas e princípios. 4 ed. São Paulo: Gaia, 1994.
DIAZ, Alberto Pardo. Educação Ambiental como projeto. 2. ed. Porto Alegra: Artmed, 2002.
88
LINDEBERG, K; e HAWKINS, D. Ecoturismo Um guia para planejamento e gestão- – São
Paulo: Senac: 2001.
LOUREIRO, Carlos Frederico B. Trajetória e fundamentos da Educação ambiental. São
Paulo: Cortez, 2004.
LOUREIRO, Carlos Frederico B. et al. Educação Ambiental e gestão participativa em
unidades de conservação. 2. ed. Brasília: IBAMA, 2005.
MACY, Joanna & Molly Y. Brown. Nossa vida como GAIA. SP: Editora Gaia, 2004.
MATHEUS, C. E.; MORAES, A. J.; CAFFAGNI, C. W. Educação Ambiental para o turismo
sustentável. São Carlos:RiMa,2005.
MORIN, E. Terra pátria. Editora Sulina. São Paulo, 1995
NEIMAN, Zysman. (Org.) Meio Ambiente. Educação e Ecoturismo. Barueri: Manole, 2002.
____ . Cidadania e Educação Ambiental. Uma proposta de educação no processo de gestão
ambiental. Brasília: IBAMA, 2003

ANEXO

GUIA PRÁTICO PARA O USO PÚBLÍCO DE UNIDADES DE CONSERVAÇAO


Este Guia é uma produção conjunta IBAMA/GTZ

Introdução

Percorrendo a história das unidades de conservação, deparamo-nos com o


constante interesse em garantir a conservação dos recursos naturais e culturais. No caso
dos Parques Nacionais, associam-se também as possibilidades do acesso da população a
atividades educativas, culturais e recreativas.

O uso das unidades de conservação com propósitos recreativos tem suas primeiras
iniciativas estabelecidas no século XVI e "concretizadas" em 1872, com a criação do
primeiro parque nacional, o Yellowstone National Park. Um dos principais argumentos para
a criação deste parque foi o apelo para o desenvolvimento de atividades recreativas,
agregando-se a elas novos valores, como os da interpretação e educação ambiental.

Atualmente, observa-se como nunca, que um dos principais destinos turísticos têm
sido as unidades de conservação. Desde a década de 80 há um apelo considerável para as
viagens em que os aspectos naturais constituem-se no principal atrativo, e em que os
visitantes têm a oportunidade de conhecer e apreciar a natureza.

O que é visitação?

Pode-se entender visitação como as atividades educativas, recreativas e de


interpretação ambiental, realizadas em contato com a natureza, de acordo com o
especificado nos planos de manejo das unidades de conservação. Seu principal objetivo é
propiciar ao visitante a oportunidade de conhecer, de forma lúdica, os atributos e valores
ambientais protegidos pela Unidade.

Dentre os objetivos estabelecidos pelo Sistema Nacional de Unidades de


Conservação – SNUC, as atividades educativas, recreativas e de interpretação ambiental,
devem ser promovidas pelas unidades de conservação de acordo com os propósitos de
cada categoria de manejo.

89
Visitação Permitida por Categoria de Manejo

Dentro do SNUC, a visitação pode ser realizada da seguinte forma:

 Categoria de manejo Tipos de visitação permitidos Estação Ecológica Objetivo


educacional
 Reserva Biológica Objetivo educacional
 Parque Nacional Educação, interpretação ambiental e recreação em contato com a
natureza
 Monumento Natural Condicionado ao plano de manejo, às normas do órgão gestor e
regulamento Refúgio da Vida Silvestre Condicionado ao plano de manejo, às normas
do órgão gestor e regulamento
 Área de Proteção Ambiental Nas áreas de domínio público, são definidas pelo órgão
gestor
 Floresta Nacional Condicionado ao plano de manejo, às normas do órgão gestor e
regulamento Reserva Extrativista Compatível com os interesses locais e de acordo
com o disposto no plano de manejo
 Reserva de Fauna Condicionado ao plano de manejo, às normas do órgão gestor
 Reserva de Desenvolvimento Sustentável Compatível com os interesses locais e de
acordo com o disposto no plano de manejo
 Reserva Particular do Patrimônio Natural Objetivo turístico, recreativo e educacional
Dentre as categorias de unidades de conservação, os parques nacionais são a única
categoria que conta com regulamentação específica. O Regulamento dos Parques
Nacionais Brasileiros – Decreto nº 84.017, de 21 de setembro de 1979, estabelece
normas quanto aos aspectos físicos (zonas), intensidade, formas e ações associadas
à visitação.

Sem dúvida, a visitação constitui-se numa importante ferramenta ambiental, social,


econômica e política, mas este instrumental deve ser utilizado dentro de critérios
profissionais bem estabelecidos.

Vantagens e Desvantagens

Os impactos da visitação são bastante conhecidos. Para a unidade de conservação,


relacionam-se com a degradação do meio ambiente. Para as comunidades do entorno,
dizem respeito a mudanças socioculturais negativas e à dependência quanto a continuidade
da atividade econômica.

Também os benefícios são bastante conhecidos e reportam diretamente à


valorização da Unidade, além de geração de receita. Para as comunidades do entorno,
relacionam-se principalmente à geração de emprego e renda, além da possibilidade de
novos empreendimentos, impulsionando o desenvolvimento regional com melhoria da
qualidade de vida. O estabelecimento de uma relação equilibrada entre custo e benefício da
visitação fundamenta-se em um eficaz processo de administração das unidades de
conservação, que preveja programas de educação, informação e interpretação
disponibilizados aos visitantes, assim como na implantação de programas de
desenvolvimento sustentável para o entorno das Unidades e, ainda, em coerentes decisões
políticas.

90
Desafios a superar
Alguns pontos de estrangulamento da atividade de visitação, que não ocorrem
somente nas unidades de conservação brasileiras, requerem providências urgentes.
Relacionam-se aos seguintes fatores:
• despreparo dos gerentes para a gestão das atividades de visitação;
• pequeno contingente de pessoal nas Unidades;
• pouca disponibilidade de recursos financeiros para implementação da atividade; e
• falta de planejamento que englobe os atrativos e a população do entorno.

Para as comunidades do entorno, as dificuldades referem-se à pouca qualificação da


população para atender às demandas ligadas ao turismo, assim como recursos financeiros e
mobilização social.

Tendências atuais

Seguindo as atuais tendências administrativas, as atividades de visitação serão


desenvolvidas por terceiros, exceto naquelas atividades em que a presença institucional
deve ser mantida, como a recepção, orientação, informação/interpretação no centro de
visitantes. As atividades terceirizadas devem ser estabelecidas mediante contratos, em que
os principais fatores são:
• manutenção da qualidade dos recursos protegidos;
• segurança e satisfação dos visitantes;
• cumprimento dos objetivos de visitação para a Unidade;
• retorno econômico.

Orientações para recreacionismo de mínimo impacto

As atividades de recreação e aventura em áreas naturais ainda não são


adequadamente exploradas e difundidas no Brasil. Mas os apelos ao ecoturismo e à
visitação pública em unidades de conservação, como os Parques Nacionais, tem crescido
de forma significativa nos últimos anos. Com o aumento de pessoas que buscam pela
beleza e o exílio das atividades ao ar livre, as marcas coletivas no meio ambiente e nos
processos naturais também aumentam. Poluição da água, lixo, distúrbios da vida silvestre e
conflitos com outros visitantes são indicadores ecológicos e sociais de que é necessário
desenvolver uma ética ambiental que proteja e ensine a respeitar as áreas naturais.

Freqüentemente as atividades recreacionistas são realizadas por pessoas ou grupos


técnica e eticamente despreparados. É dever dos responsáveis pela gestão de Unidades
que permitem visitação pública, criar ferramentas capazes de preparar gestores e usuários
para esta missão. Para que este crescimento venha a ser ordenado e o uso dos recursos
potencializados, a fim de atingir os objetivos das unidades de conservação, o zoneamento e
o manejo de áreas protegidas deverão oferecer ao visitante, técnicas apropriadas de
recreação selvagem e contato direto com a natureza primitiva, estimulando um contato
educativo e interativo dos seres humanos com a natureza.

Muitos imaginam equivocadamente que a obrigatoriedade de guias ou a proibição


pura e simples constituem-se em ferramentas eficazes. Desconhecem o potencial que a
aventura possui de desvendar cenários e propiciar vivências com a natureza, que em muito
auxiliam a conquistar aliados e a formar o caráter do usuário de áreas naturais. As pessoas
devem ter a liberdade de escolher como realizá-las, em acordo com o plano de manejo e as
condições de gestão da Unidade.

91
Meios educativos

Certamente, conhecer e divulgar os preceitos da ética ambiental, como as "regras do


mínimo impacto" são imprescindíveis e prioritários para alcançar o objetivo de sensibilizar e
angariar adeptos para a visitação às áreas naturais. Isto pode ser feito por meio de:

*guias, que devem estar treinados para oferecer aos visitantes informações relevantes sobre
como proceder em ambientes naturais;
*centros de visitantes, que podem reunir informações (audiovisuais, escritas, orais) sobre
formas de conduta adequadas ao ambiente das Unidades;
*folhetos, cartilhas e outros materiais impressos de cunho educativo;
*elementos da sinalização, para indicar e estimular comportamentos desejáveis.

Princípios da ética ambiental

As orientações a seguir baseiam-se em princípios desenvolvidos pela Escola Nacional de


Liderança ao Ar Livre, dos Estados Unidos e poderão ser úteis na formulação de materiais
de apoio à ação educativa nas unidades de conservação. Certamente poderão gerar
técnicas adaptadas às diferentes Unidades, considerando características ambientais e tipos
de usos permitidos.

Planejamento e preparação

• Os interessados em visitar a Unidade devem ser estimulados a contatar, antes de sua


viagem, os responsáveis pelo parque ou a área natural escolhida. Desta forma, entrarão em
contato com as regulamentações específicas da área, assim como terão acesso a conselhos
práticos sobre como proceder. Informações úteis sobre roupas, equipamentos e alimentos
mais adequados, por exemplo, podem propiciar uma visita que leve em consideração
impactos mínimos, assim como a segurança dos visitantes.

• Divulgando a área e o que se pode esperar dela: Em algumas áreas públicas não se
permite acampar fora de locais pré-definidos. Mesmo naquelas trilhas e áreas mais
primitivas onde é possível visitação, é preciso estabelecer o nível de impacto tolerado. É
importante que os guias e funcionários da Unidade estejam preparados para informar aos
usuários o que esperar das populações tradicionais, das dificuldades com o terreno, das
condições das trilhas e do clima, bem como regulamentações a respeito da vida silvestre.

• Dê preferência a grupos pequenos: O impacto poderá ser mínimo e mais facilmente


supervisionado por guias se o grupo for menor. Os melhores grupos têm de quatro a seis
integrantes e um máximo de 10 a 12 pessoas por viagem. Conhecendo as regulamentações
da área natural no que diz respeito ao número máximo de pessoas por grupo, os visitantes
já terão planejado este item antes da chegada à Unidade. Mesmo os grupos maiores podem
reduzir o impacto, dividindo-se em grupos menores que optem por diferentes rotas, por
exemplo. O grupo grande pode estabelecer locais de acampamento que acomodem todas
as pessoas e manter um baixo nível de ruído e visibilidade.

• Estimule o uso de equipamento apropriado: Forneça aos usuários da Unidade informações


sobre equipamentos mais adequados para minimizar impactos. Fogareiros portáteis, por
exemplo, evitam o uso de fogueiras. Uma pequena pá de jardim é praticamente
indispensável para cavar os chamados "buracos de gato" e enterrar dejetos humanos.
Roupas e barracas muito coloridas são atraentes nas vitrines das lojas, mas causam
impacto visual a outros visitantes. Roupas e equipamentos em tons terra são menos visíveis
e mais aconselháveis. No entanto, jamais estimule o uso de roupas camufladas; em caso de

92
resgate, este traje pode ser a diferença entre localizar a vítima ou perdê-la. Binóculos,
câmaras e lentes para observações e fotografias a distâncias significativas da fauna também
são recomendáveis, assim como o uso de botas de borracha, que permitam andar em
trechos alagados da trilhas, evitando, assim, o alargamento das mesmas. Contatos com
centros de excurcionismo são interessantes, pois nestes locais se pode coletar muitas
informações válidas para visitantes.

• Aconselhe a reempacotar alimentos: Nas informações que prestar aos visitantes, atente
para a importância de acondicionarem adequadamente os alimentos que trarão para a
Unidade. Os conteúdos de caixas, garrafas e latas devem ser colocados dentro de potes
reutilizáveis, biodegradáveis ou em sacos plásticos. Além de economizarem espaço na
bagagem, reduzirão peso e, principalmente, a possibilidade de gerar lixo nos
acampamentos.

• Considerações especiais sobre animais silvestres: Os guias e funcionários das Unidades


devem estar preparados para fornecer informações mais precisas sobre animais silvestres,
peçonhentos ou não. É necessário garantir a segurança de ambos, visitantes e animais.
Animais silvestres podem ser perigosos, se provocados. Assim como o contato com
humanos pode provocar graves impactos sobre a fauna.

Estimule acampamentos em superfícies resistentes

Práticas de mínimo impacto diferem grandemente para áreas primitivas ou de uso


intensivo. Uma das mais importantes práticas é restringir o acampamento a lugares
resistentes ao impacto, como trilhas e locais próprios para acampamento, comuns em
Unidades bastante visitadas. As áreas mais duráveis incluem rochas, areias, espécies de
plantas resistentes e gramíneas.

• Em áreas populares, uso concentrado: Locais destinados a camping, assim como trilhas,
não possuem cobertura vegetal. Restringir-se ao uso desses espaços garante a
preservação natural das áreas ao redor.

• Estimule o uso de trilhas: Desta forma, minimizam-se os danos causados ao solo e à vida
selvagem. Andar fora da trilha, para evitar rochas ou lama, contribui para formar trilhas
múltiplas. Atalhos normalmente economizam pouco tempo e causam grandes estragos. Os
guias poderão orientar os visitantes e excurcionista a descansarem sobre superfícies
resistentes, como rochas ou solo desnudo, localizados fora da trilha. Além de garantir
privacidade, isto evitará que a trilha fique muito cheia, ocasionando seu alargamento. Em
locais onde a vegetação for muito densa ou não permitir acesso, aconselha-se descansar
em pontos onde a trilha seja larga o suficiente para que outros visitantes possam passar
sem problemas.

• Os acampamentos devem ficar longe das trilhas e fontes de água: Isso ajuda a distribuir o
impacto, proteger as fontes de água de contaminação e ainda manter o sentimento de
solidão. Embora a distância indicada varie dependendo das condições locais, uma boa
distância é acampar pelo menos a 60 ou 70 metros.

• Oriente quanto à escolha do local do acampamento: Locais mais elevados evitam acúmulo
de água da chuva, tornando desnecessário cavar em volta da barraca. Desta forma, o lugar
conserva seu aspecto bem conservado, sem intervenções degradadoras. Aconselhe os
visitantes a não "limparem" os locais, retirando folhas e galhos; esse "lixo" orgânico forma
um bolsão que ajuda a evitar a ação erosiva da água da chuva e é fundamental para manter
a integridade o solo.

93
• Estimule visitantes a manterem a área limpa: Assim, outros visitantes poderão utilizar o
mesmo local. Ninguém quer acampar em um local cheio de lixo e resto de alimentos. Locais
limpos convidam ao uso contínuo, o que ajudará a evitar que o impacto se alastre a outros
pontos. "Naturalizar" novamente o local ao levantar acampamento é uma prática a ser
estimulada. Os visitantes devem aprender a recolocar rochas ou galhos que removeram em
seu lugar de origem, apagando pegadas e outras marcas. O local precisará de tempo para
se reabilitar, mas agindo assim estarão ajudando a fazer com que se torne menos óbvia a
sua presença.

• Evite lugares em que o impacto esteja apenas começando: Muitos locais podem se
recuperar totalmente com um uso limitado. De qualquer maneira, o limiar é eventualmente
alcançado quando o poder regenerativo da vegetação não pode manter a velocidade do
impacto que recebe. O limiar para um sítio em particular depende de muitas variáveis, como
tipo de vegetação, fertilidade do solo e duração da estação de crescimento. Uma vez que
esse limiar é alcançado, o uso contínuo do sítio causará uma rápida deterioração do lugar.

• Evite trilhas e locais de acampamento levemente impactados: Permita a sua recuperação


em pouco tempo. Lugares para acampar que evidenciam o uso leve, com vegetação
dobrada ou amassada devem ser deixados de lado para se regenerar, revertendo sua
condição alterada para o estado original.

Cuidados com o lixo

O lixo não tem lugar na natureza primitiva! Esta informação deve estar presente em
todos os momentos da visitação. Em folhetos, placas, palestras e nas informações
prestadas por guias e funcionários, deve-se enfatizar os problemas gerados pelo lixo aos
ambientes naturais. Para campistas e usuários de trilhas, o simples procedimento de
empacotar tudo aquilo que se desempacota, retomando-o para o local apropriado, garantirá
uma atuação cuidadosa com o local.

• O lixo deve ser disposto apropriadamente: Lixo são as sobras, não de alimentos, mas de
pacotes e invólucros que devem ser trazidos de volta. O lixo que aparentemente é
queimável em geral possui elementos não combustíveis, os quais deixam resíduos quando
queimados. Pequenos invólucros de chocolate, bolachas ou de balas podem cair no solo.
Para aliviar esse tipo de problema, além de manter lixeiras em pontos-chave da Unidade, é
importante informar o visitante para que reempacote esses alimentos em um único
recipiente. Alerte sobre pontas de cigarros, que podem provocar queimadas ou matar os
animais que as ingerem. Estas devem apagadas e colocadas em invólucros de alimentos ou
num pequeno saco que a pessoa carregue consigo. Restos e sobras de alimentos também
podem ser considerados lixo. Todo o tipo de sobra, mesmo a que cai no chão durante o
preparo das refeições devem ser recolhidos. Queimar ou enterrar comida não é
recomendável. As fogueiras de acampamento não têm calor necessário para consumir os
restos completamente. As sobras enterradas são normalmente desenterradas por pequenos
animais. Manter as sobras de comida longe dos animais é importante para prevenir que eles
não se habituem com fontes humanas de alimentos.

• Cuidados com os dejetos humanos: Os dejetos humanos, assim como a água utilizada
para cozinhar ou lavar utensílios devem ter uma destinação tal que evite a poluição de
fontes de água e a proliferação de doenças. Queimar as fezes é uma das maneiras mais
apropriadas de livrar-se delas. Recentes pesquisas mostram que as fezes enterradas se
decompõem mais vagarosamente do que se imaginava. Quando expostas ao calor e luz do
sol podem ser decompostas mais rapidamente. Mas, tendo em vista os problemas sociais,

94
estéticos e possível contaminação de fontes de água, transmissão de doenças patogênicas
por meio de insetos e animais, o mais correto ainda é enterrar.

• Buracos de gato: Este é o meio mais aceitável de depositar as fezes. Devem ser feitos
longe de fontes de água, trilhas e acampamentos e áreas onde possa haver um fluxo para
fontes de água durante chuvas pesadas. Como regra geral, ensine aos visitantes que os
buracos devem ser cavados a pelo menos 80m destas áreas. A decomposição destes
materiais é mais fácil em solo orgânico, cobrindo-se o buraco com este.

• Urina: A urina tem pouco efeito sobre a vegetação ou solo. Em algumas circunstâncias, o
sal da urina pode atrair veados e outros animais silvestres. Estes podem desfolhar as
plantas e cavar buracos para encontrar o sal. Por esta razão, oriente visitantes para que
evitem urinar em plantas verdes, preferindo rochas e locais arenosos, longe de fontes de
água.

• Papel higiênico e produtos de higiene feminina: O papel higiênico não deve ser colorido
nem perfumado, sendo empacotados em sacos plásticos. Não devem ser queimado, pois
esta prática pode ocasionar queimadas em campos e florestas. O mesmo vale para
produtos de higiene feminina. É muito importante não enterrar estes produtos, pois sua
decomposição é lenta e são freqüentemente desenterrados por animais. Estes produtos
devem ser empacotados em sacos plásticos duplos.

• Uso mínimo de sabão: Água quente, pó de café e cinzas podem ajudar significativamente
na limpeza, diminuindo o uso do sabão. Informe visitantes sobre os impactos do uso de
sabões, detergentes e produtos de higiene corporal, especialmente em cursos d’água. Para
quem não dispensa o uso destes produtos, uma boa dica é fazê-lo a uma boa distância das
fontes e riachos, optando pelos biodegradáveis.

• Destinação correta para os restos da pescaria: Oriente os pescadores a limparem o peixe


em suas casas. Em áreas de uso freqüente, as vísceras devem ser enterradas em "buracos
de gato". Já em áreas de uso remoto, as entranhas podem ser jogadas longe do
acampamento, onde serão consumidas por animais ou decompostas rapidamente.

Orientações sobre plantas, rochas e outros objetos de interesse

As pessoas buscam a natureza para desfrutar do belo, da paz e para ter


experiências com o meio ambiente. Permita a todos os visitantes a experiência de encontrar
a vida silvestre, plantas, rochas, artefatos arqueológicos e outros objetos de interesse da
forma como sempre estiveram.

• Sobre danos em árvores e plantas: Os materiais de camping podem ser amarrados à


árvores em vez de pregados nelas. Colher flores, folhas ou parte de plantas pode parecer
coisa insignificante em um ato individual, mas acumulados em lugares de alto fluxo de
pessoas pode causar danos substanciais. Insista com os visitantes na opção de tirar
fotografias em vez de coletar plantas.

• Objetos naturais e artefatos culturais: Objetos naturais de beleza ou interesse devem ser
deixados onde foram encontrados, para que outros também possam descobri-los e desfrutá-
los. Em muitos parques e áreas naturais é proibido recolher objetos, assim como plantas e
flores. A mesma ética se aplica aos artefatos culturais e a sítios arqueológicos e
espeleológicos. Artefatos e sítios arqueológicos e espeleológicos são protegidos por lei.

95
• Cuidados com os animais: Oriente sobre o espaço que o visitante deve guardar dos
animais, para que estes se sintam seguros. Forçar os animais a fugirem, alimentá-los ou
atraí-Ios compromete sua habilidade e atitude naturais. Em épocas de stress natural, como
estiagem, inverno, escassez de alimento, a aproximação pode causar mal ao animal.
Binóculos e lentes fotográficas permitem que sejam vistos e fotografados sem perturbações.

• Impactos a outros visitantes: Rádios portáteis, toca-fitas e telefones celulares levam o


contato urbano para dentro das áreas naturais. Muitos visitantes são perturbados por esse
tipo de intrusão e pelo barulho que fazem. O mesmo se aplica aos animais de estimação.
Informe previamente sobre a possibilidade da entrada destes. Um cachorro bem treinado
pode ser uma boa companhia na trilha, mas causa impacto por cavar, latir, defecar, assustar
animais silvestres e outros visitantes.

Minimize o uso e impacto do fogo

Embora a idéia de ir para a natureza - e não fazer uma fogueira - pareça uma coisa
impensável, o uso de fogareiros se faz necessário. Por causa de impactos excessivos e da
necessidade de madeira para fogueiras, algumas áreas de acampamento proíbem fogueiras
ou apenas as permitem em lugares pré-designados. Os campistas devem ser encorajados a
carregar fogareiros com combustível suficiente para fazer todas as sua refeições. Para
quem depende de fogo como fonte de iluminação, é possível substituí-lo por velas, lanternas
ou lampiões. Regulamentações, condições ecológicas, clima, habilidade, níveis de uso e
madeira para o fogo devem sempre ser considerados para decidir quando fazer uma
fogueira. Se a sua Unidade não faz restrições quanto ao uso de fogueiras, oriente os
visitantes para que:

• Estejam atentos às condições do clima: Na maioria das áreas públicas, fogueiras são
proibidas próximas das árvores ou onde elas crescem vagarosamente. Durante as épocas
de seca, com muito calor e vento, fazer fogueiras pode ser um ato bastante arriscado.

• Usem madeira morta e a queimem completamente: As fogueiras só devem ser feitas onde
haja madeira abundante e, mesmo assim, usando madeira morta ou encontrada no chão.
Galhos quebrados deixam cicatrizes e causam impacto visual na área. A madeira utilizada
para o fogo deve ser larga em diâmetro, aproximadamente da largura do pulso; assim pode
ser partida com a mão, não necessitando de serras ou machados. A madeira deve ser
inteiramente queimada até que restem apenas cinzas ou pequenos pedaços de carvão. As
cinzas devem ser esparramadas sobre um solo vegetal.

• Use anéis de fogo em áreas de alto uso: Em áreas de camping pré-estabelecidas, as


fogueiras devem ser feitas em anéis de fogo já existentes. Encoraje os visitantes a usar os
mesmos anéis de fogo, deixando-os limpos de qualquer resíduo. Se os anéis estiverem
completamente cheios, o carvão deve ser amassado e depois jogado fora em uma área
longe do camping.

• Utilizem montes para fogueiras: Uma pequena plataforma pode ser construída para fazer o
fogo e depois facilmente destruí-lo. Estes montes são feito de areia ou cascalho, formando
uma pequena plataforma circular de aproximadamente 15cm de altura por 70cm de
diâmetro. Um pano pode ser colocado entre a plataforma e o solo para ajudar na limpeza
quando o fogo se apagar. A vantagem desse tipo de fogueira é que ela pode ser feita sobre
quase qualquer tipo de solo.

96
PLANEJAMENTO AMBIENTAL E
GESTÃO PARTICIPATIVA

Docente
Carla Jeane Helfemsteller Coelho Dornelles – Pesquisadora do GEPEASE (Grupo de Estudos e
Pesquisa em Educação Ambiental de Sergipe) e Projeto Sala Verde- UFS. Atua na área de Ética,
Formação e Educação Biocêntrica.
Contato: ccfilos2@yahoo.com.br

Ementa
A disciplina aborda os conceitos de Gestão, Gestão ambiental, Participação e Gestão Participava,
subsidiando ao planejamento e gestão de forma participativa com técnicas, dinâmicas e conteúdos
provocativos à expressão e articulação dos diferentes atores sociais envolvidos em UC, tendo como
procedimento de referência o Plano de Manejo.

Objetivos
• Reconhecer a necessidade e importância de planejamento nas ações relacionadas ao meio
ambiente;

• Refletir e aprofundar os significados dos conceitos de planejamento, gestão, participação,


conselhos gestores, monitoramento, diagnostico e manejo, bem como sua aplicação;

• Diferenciar gestão de gestão participativa;

• Desenvolver a capacidade de efetivar a participação na atuação de gestão na UC;

• Conhecer os principais critérios de atuação em gestão, de forma participativa;

• Explorar e discutir os principais problemas (conflitos) relacionados à gestão em UC


problematizando as propostas de soluções a fim de vivenciar a realidade em que atuam;

• Perceber a importância da conexão entre as diferentes disciplinas trabalhadas no curso para


subsidio da prática de gestão nas realidades em que atuam e busca coletiva de alternativas
aos problemas nas UC.

Conteúdo Programático

• Estudo do significado e aplicação dos conceitos de planejamento, gestão, participação,


conselhos gestores, monitoramento, diagnostico e manejo;

• Diferenciação entre gestão e gestão participativa;

• Breve retrospectiva histórica em tópicos sobre a discussão, preocupação com o Meio


Ambiente no Brasil, destacando na Constituição Brasileira o capítulo sobre o Meio Ambiente
(Art. 225), definição e características de UC no SNUC para RESSALTAR a necessidade
(prevista em Lei) da GESTÃO PARTICIPATIVA

• Princípios, benefícios e obstáculos da Gestão Participativa

• O que é um Conselho?

• Conselho de gestão de UC;


97
• Plano de Manejo: conceito, objetivos, abrangência, abordagem e estrutura (destes itens,
serão apresentados os tópicos)

• Características do Planejamento: Planejamento contínuo, gradativo, flexível e participativo.


Serão apresentados de forma esquemática os tipos de planejamento

• Elaboração do Plano de Manejo: A elaboração do Plano de Manejo é de responsabilidade


da Diretoria de Ecossistemas –DIREC. Desta forma, nesta disciplina serão abordados em
forma de tópicos, os Procedimentos Gerais e Etapas do Plano de Manejo.

• Será solicitada previamente a leitura da Apostila (Roteiro Metodológico de Planejamento –


ABAMA)para acompanhamento da mesma.

• Os Conteúdos do Plano de Manejo: Introdução, Contextualização da UC, Análise da


Região da UC, Análise da Unidade de Conservação, Planejamento, Projetos Específicos,
Monitoria e Avaliação
OBS. Este conteúdo será abordado nesta disciplina em forma de esclarecimento sobre os
itens que abrangem os Conteúdos do Plano de Manejo.

Metodologia Participativa
Exposição participativa, trabalhos em pequenos e grande grupo, relatos de experiências dos
participantes, plenárias em sala de aula, breve diagnóstico das principais características da realidade
nas UC presentes no curso, síntese das discussões por escrito e registro, utilização de técnicas e
dinâmicas, inspiradas no método ZOPP de planejamento e avaliação de projetos por objetivos (Ziel-
Orientierte Projekt Planung) e na metodologia da Educação Biocêntrica.

Bibliografia Básica
Gestão Participativa em Unidades de Conservação – Guia do Conselheiro. IBAMA/NEA/RJ, 2007.

Roteiro Metodológico de Planejamento – Parque Nacional, Reserva Biológica, Estação Ecológica.


IBAMA, 2002.

MATURANA, Humberto e REZEPKA, Formação Humana e Capacitação. Petrópolis, RJ, 2000.

FARIA, Andréa Alice da Cunha Faria e NETO, Paulo Sérgio Ferreira. Ferramentas de Diálogo –
Qualificando o uso das técnicas de DRP – Diagnóstico Rural Participativo. Brasília, MMA, IEB, 2006.

Endereços na Internet onde foram extraídos textos trabalhados:

http://www.amda.org.br/assets/files/cartilhaibama.pdf

http://www.ibama.gov.br/siucweb/unidades/roteiro_metodologico_revisado_05_2005.pdf

 Estudo do significado e aplicação dos conceitos de planejamento, gestão, participação, conselhos


gestores, monitoramento, diagnostico e manejo;
 Diferenciação entre gestão e gestão participativa.

Texto:

PLANEJAMENTO E GESTÃO DO AMBIENTE: Percepção Complexa e Atuação Transdisciplinar.

Roseane Palavizini. Arquiteta Urbanista, Doutoranda em Engenharia Ambiental – UFSC, Mestre em


Urbanismo – UFBA, Especialista em Planejamento Municipal e Gestão Urbana – UFBA e Gestão
Ambiental e Educação Ambiental – UCSal.

RESUMO:
98
Este Artigo parte de uma reflexão sobre os desafios à efetividade do planejamento e da gestão
municipal, considerando os processos de participação social e as relações necessárias entre o
Estatuto da Cidade e as políticas de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Unidade de
Conservação. Nesse contexto, a Agenda XXI e a política nacional de Educação Ambiental surgem
como oportunidade de interação entre essas políticas, favorecendo o diálogo entre diferentes áreas
do conhecimento, valorizando o intercâmbio entre diferentes saberes e culturas e oportunizando o
aprendizado mútuo em um processo contínuo de construção coletiva do bem comum. O
planejamento interativo e a gestão compartilhada e cooperativa são aqui apresentados como
processos que exigem visão complexa da realidade e atuação transdisciplinar. A participação social e
a interação entre as políticas públicas são identificadas como condições necessárias ao
desenvolvimento municipal, exigindo dos técnicos e gestores públicos, privados e sociais um esforço
de diálogo, abertura e coragem para construir uma gestão municipal enraizadora de um projeto de
nação comprometido com a inclusão social e com o desenvolvimento sustentável.

Primavera de 2005

APRESENTAÇÃO

O planejamento e a gestão do ambiente no Brasil consistem na interação entre sistemas de


grande complexidade. A partir da Constituição de 1988 e da Conferência Mundial – Eco 92, as
políticas públicas viveram transformações estruturais, incluindo a participação da sociedade e o
compromisso com o desenvolvimento sustentável. Nesse artigo são destacadas quatro políticas
nacionais que possuem explicitamente essa proposta de construção de uma nação cidadã
sustentável. Essas políticas, chamadas aqui como as leis irmãs, determinam um desafio preciso para
técnicos, gestores e para a sociedade brasileira, qual seja o de abrir o caminho do diálogo entre
diferentes áreas do conhecimento, distintos setores da sociedade e diferentes saberes e culturas,
buscando a construção do melhor para todos sob forma do planejamento e da gestão do ambiente
local.

Nesse contexto o Brasil vem vivendo um processo de crescimento das organizações da


sociedade civil e, conseqüentemente, um aumento da expressão da participação social nas decisões
políticas e na gestão dos interesses públicos do País. A organização cidadã vem ocorrendo de
diferentes formas, identificadas por organizações sociais, organizações da sociedade civil de
interesse público, dentre outras formas definidas por estatuto específico, regulamentando suas
estruturas e formas de operar. Essa multiplicação de formas de organizações da sociedade civil
cresce simultaneamente à inclusão legal da participação social nos processos decisórios de
planejamento e gestão. A interação entre os setores público e privado ganha uma nova aliada, a
sociedade organizada, formando uma aliança entre pares complementares, muitas vezes
conflituosos, voltados à definição e gestão dos destinos dos ambientes e de seus cidadãos.

As Leis Irmãs apresentam diferentes unidades de planejamento e gestão, com seus


respectivos instrumentos de gestão social: o Estatuto da Cidade tem o Município como unidade e os
Conselhos Municipais como organismo gestor; a Política Nacional de Recursos Hídricos tem a Bacia
Hidrográfica como unidade e o Comitê de Bacia como organismo gestor; o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação tem as Unidades de Proteção Integral e as de Uso Sustentável, com seus
Conselhos Gestores Consultivos ou Deliberativos. Agregado a essas políticas está o documento da
Agenda XXI, lançado em 1992, na Conferência Mundial – Eco 92. Esses quatro movimentos chegam
hoje à realidade dos Estados e Municípios, definindo processos próprios, com estatuto específico,
tendo como ponto de convergência a inclusão necessária da participação social e a busca da
construção da sustentabilidade local. A quarta política que compõe as Leis Irmãs é a Política Nacional
de Educação Ambiental, orientando o processo pedagógico de construção da cidadania ambiental, no
ensino formal e não formal, assumindo diferentes formas e expressões. A educação ambiental forma
o elo que liga as demais políticas, construindo o espaço pedagógico do diálogo, da interação, do
aprendizado mútuo e da transformação cultural.

Assim esse artigo trata dos desafios à efetividade do planejamento e da gestão municipal,
reconhecendo a complexidade dos sistemas que interatuam no ambiente, valorizando os processos

99
sociais que se empoderam na direção de assumir seu território e os desafios de aprender fazendo, de
transformar se transformando, de lidar com a permanente incerteza, com as diferenças e com a
crença de que um outro mundo é possível.

1. INTRODUÇÃO: OS DESAFIOS À EFETIVIDADE DO PLANEJAMENTO E


DA GESTÃO DO AMBIENTE NO BRASIL

Ao olhar uma cidade explodindo com variadas e precárias ocupações, pequenos abrigos
criativos entre taboas e sucatas morro acima, rio abaixo, é quase impossível não pensar _ isso é o
que dá a falta de planejamento! Percorrendo o interior dos estados brasileiros e constatando a
implicação do processo de urbanização que desconhece limites e a expansão dos assentamentos,
regularizada sobre mananciais e florestas, ai então não há dúvida _ olha o resultado da falta de
planejamento!

Ao apurar o olhar especialista, percebe-se que a cidade quer urbanizar, o município quer
crescer, o estado quer controlar e o país quer experimentar, e que todos juntos querem garantir o seu
espaço de poder. Constata-se então o esfacelamento do planejamento e se concluí: o problema é um
problema de gestão! Ao considerar os maravilhosos planos elaborados, que nunca conseguiram ser
implementados, certifica-se então de que: o que falta realmente é uma boa gestão para a sua
implementação! Chega-se então a elaborar os planos de gestão como os salvadores, a solução para
todos os insucessos. E ainda assim percebe-se que não se alcançou a efetividade.

Os complexos planos de gestão, que procuram relacionar múltiplas variáveis, continuam


longe de serem eficazes, e então se percebe que há algo mais que precisa ser considerado, para em
fim, chegar à efetividade do conhecimento técnico na construção de um mundo melhor. Parece que o
ato individual do especialista, junto com o poder público, de pensar, decidir e fazer solitariamente o
planejamento e a gestão da vida de todos, está com seus dias contados. Encontra-se então um novo
elemento determinante para que o mundo das idéias passe a habitar o mundo da realidade _ a
participação das pessoas! E a partir desse novo momento da nossa história, as políticas públicas,
através de seu conjunto de leis e programas, passam a incluir a participação social no processo de
planejamento e gestão.

Um momento novo exige um período de abertura e adaptação das pessoas envolvidas, para
a construção de novas relações, atitudes e conhecimentos que possam responder às demandas da
complexa realidade. Gestores públicos, especialistas das mais variadas áreas profissionais e a
sociedade, começam então um processo de aprendizagem e transformação, qualificando-se para um
novo ciclo da história, onde a vida das pessoas, da cidade, do município, do estado e da Nação, deve
ser resultado da construção coletiva de decisões e assumida coletivamente através de uma gestão
participativa.

Neste artigo apresenta-se a complexidade do planejamento e da gestão, na interação entre


três unidades legais de planejamento, com seus respectivos modelos previstos de participação,
reconhecendo os desafios que o processo participativo vem revelando para a sociedade, técnicos e
gestores públicos, ao implementar o planejamento e a gestão de municípios, bacias hidrográficas e
unidades de conservação. Nesse contexto, são apresentadas três teorias, com suas perspectivas
metodológicas, que oferecem uma oportunidade para a construção da Gestão transdisciplinar do
Ambiente, a construção coletiva do melhor para todos, solução na qual o que é melhor para cada um
tem a oportunidade de encontrar um significado pessoal e civilizatório.

2. AS LEIS IRMÃS

O planejamento e a gestão do ambiente ganhou especial complexidade a partir das Leis


Irmãs. A unidade federativa que define o Município, no contexto do Estado e da União, tem o Estatuto
da Cidade (Lei Federal 10.257/2001) como principal referência legal. Essa referência, embora
necessária, não é mais suficiente. As demais unidades de planejamento e gestão definidas nas
outras políticas nacionais constroem uma rede complexa de unidades que atravessa, surperpõe e

100
obriga à interação. A Bacia Hidrográfica é a unidade ecológica estabelecida na Política Nacional de
Recursos Hídricos (Lei Federal 9.433/1997). As Unidades de Conservação de Proteção Integral e de
Uso Sustentável são definidas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei
Federal 9.985/2000). Dessas três políticas destacam-se dois pontos de convergência: a definição de
processos participativos de planejamento e gestão do ambiente, e a busca de uma relação
sustentável entre a sociedade humana e a natureza. Agregando esse movimento nacional, em 1999
foi aprovada a Lei Federal de Educação Ambiental (9.795), ampliando os processos de educação
ambiental e oportunizando a implementação dessas políticas.

FRACTAL DAS LEIS IRMÃS

MUNICÍPIO

(Estatuto da Cidade) & Agenda XXI

Educação Ambiental

BACIA HIDROGRÁFICA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

(Lei das Águas) (Sistema Nacional de Unidades de Conservação)

A participação no processo de planejamento e gestão de municípios e cidades definida no


Cap. IV do Estatuto da Cidade apresenta a gestão democrática da cidade, definida nos instrumentos
a serem utilizados para a efetivação da participação social: órgãos colegiados da política urbana nos
níveis nacional, estadual e municipal; debates, audiências e consultas públicas; conferências nos
níveis nacional, estadual e municipal; debates, audiências e consultas públicas para a gestão
orçamentária; e participação de associações junto aos organismos gestores. Estes instrumentos
prevêem a participação através de eventos em momentos definidos. Para uma atuação da sociedade
de forma estrutural e permanente no processo de planejamento e gestão de cidades e municípios,
certamente são necessários outros instrumentos de gestão que legitimem institucionalmente a
inserção definitiva da sociedade nesse processo. Consultas, seminários e conferências periódicas
são fundamentais para construção de sínteses, mas não constroem um processo participativo
estrutural. Esse pode ser o papel dos conselhos municipais.

A segunda unidade de planejamento nasce da necessidade do País em proteger sua água, a


partir do reconhecimento do aumento da velocidade da degradação dos mananciais. A lei nº 9.433,
de 8 de janeiro de 1997, denominada lei das águas, cria então o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos, definido a bacia hidrográfica como sua unidade de planejamento e gestão.
Essa lei apresenta um conjunto de avançados instrumentos de participação social: o Conselho
Nacional, os Conselhos Estaduais, os Comitês de Bacia Hidrográfica e as Agências de Água. Essa
estrutura, com todos os seus desafios, vem oportunizando a construção de um processo participativo
permanente, capaz de desenvolver a sua autonomia, reconhecendo seus limites, aprendendo com a
experiência e qualificando seus participantes para exercerem a importante missão do planejamento e
da gestão da água em sua bacia, valorizando os aspectos ecológicos e sociais relacionados.

A terceira unidade de planejamento aqui destacada teve origem da necessidade premente de


proteção dos ecossistemas do País, com sua biodiversidade muitas vezes única em todo o Planeta. A
lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação,
definindo as Unidades de Proteção Integral e as Unidades de Uso Sustentável. A criação,
implementação e gestão dessas unidades prevêem a participação social através do conselho
consultivo ou deliberativo, definido em cada uma delas. Nesse caso, existe o instrumento institucional
que define a potencialidade de um processo participativo, fazendo-se necessário que os técnicos e
gestores sejam preparados para mediarem esse processo, lidando com seus aspectos complexos e
dinâmicos, inclusive preparando também as lideranças sociais para se integrarem nesse movimento.
101
Nessas três realidades, onde a participação social é definida em mandato nacional, observa-
se um grande conflito emergente dessas experiências. Os Planos Diretores Municipais, os Planos de
Recursos Hídricos de Bacia e os Planos de Manejo das Unidades de Conservação, historicamente
elaborados por especialistas, passam a ser refletidos e construídos coletivamente entre técnicos,
gestores e lideranças sociais. O planejamento e a gestão do território passa então a exigir a interação
entre as três políticas e os três segmentos, onde os conselhos e comitês devem atuar de forma
integrada, articulando seus respectivos planos diretores e de manejo.

A construção da cultura de participação, diálogo, mediação e construção coletiva exige uma


transformação estrutural na forma de ser e exercer a cidadania e a atividade profissional. Esse é o
grande esforço de aprendizado intenso e mudanças radicais que técnicos, gestores e lideranças
sociais estão vivenciando. No auxílio à construção dessa cultura de interação cooperativa, a
implementação da política de educação ambiental encontra seu fundamento e motivação. As
Comissões Interinstitucionais de Educação Ambiental – CIEA vêm sendo fomentadas pelo Ministério
do Meio Ambiente, influenciando inclusive o Ministério da Educação, no sentido de implementar uma
rede de formadores de cidadãos ambientais, por meio de políticas estaduais e municipais de
educação ambiental. Esse processo, desenvolvido ao lado da implementação da gestão social no
País, vem oportunizar a conexão, a ligação entre pessoas, instituições, segmentos e setores, na
direção da construção coletiva e cooperativa da sustentabilidade.

FRACTAL DA GESTÃO INTERATIVA

MUNICÍPIO – (Plano Diretor Municipal e Agenda XXI)

(Conselhos Municipais)

Educação Ambiental

(Comissão Interinstitucional de EA – CIEA)

BACIA HIDROGRÁFICA (Plano de RH da Bacia) ISSO. DE CONSERVAÇÃO (Plano de Manejo)

(Comitês de Bacia) (Conselhos Gestores)

3. GESTÃO E GERENCIAMENTO – UMA PROPOSTA DE CONCEITUAÇÃO

Para melhor precisar os conceitos de gestão e gerenciamento, comumente confundidos,


apresenta-se nesse artigo uma revisão conceitual com o objetivo de precisar o conceito de Gestão
Social do Ambiente. A revisão tem início com o destaque de alguns autores, passando pelo
entendimento dos conceitos utilizados nas Leis Irmãs.

102
CONCEITOS POR AUTORES

Iniciando pelo dicionário Aurélio, gestão e gerenciamento são considerados sinônimos,


entendidos como ato de gerir, gerenciar, administrar.

A segunda referência é o conceito de gestão amplamente utilizado na ISSO 14.000, que


determina um conjunto de normas ambientais e estabelece um padrão de Sistemas de Gestão
Ambiental – SGA. A norma NBR ISSO 14.001, integrante da ISSO 14.000, conceitua por SGA a parte
do sistema global que inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades,
práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar
criticamente e manter a política ambiental. O gerenciamento ambiental é citado na norma ISSO
14.004, como um dos princípios básicos para orientar a implementação dos SGAs. O conceito de
Sistema de Gestão Ambiental é visto por diferentes autores como o ato de administrar, prever,
organizar, comandar, coordenar e controlar. Nesse contexto, o conceito de gestão utilizado para o
Sistema de Gestão Ambiental da ISSO 14.000 abrange o planejamento, a administração e o
gerenciamento, dentre outras categorias, constituindo-se em um instrumento amplo de conceber o
ciclo de funcionamento de uma estrutura ou organização, incluindo todos os processos necessários à
sua existência.

A terceira referência é o conceito de Gestão Ambiental apresentado em publicações


1
institucionais governamentais, da autoria de Lanna . Gestão Ambiental – processo de articulação das
ações de diferentes agentes sociais que interagem em um dado espaço, visando garantir, com base
em princípios e diretrizes previamente acordados/definidos, a adequação dos meios de exploração
dos recursos ambientais – naturais, econômicos e sócio-culturais – às especificidades do meio
ambiente. Nesse mesmo documento, Lanna apresenta seu conceito de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica – Instrumento que orienta o poder público e a sociedade, no longo prazo, na utilização e
monitoramento dos recursos ambientais – naturais, econômicos e sócio-culturais, na área de
abrangência de uma bacia hidrográfica, de forma a promover o desenvolvimento sustentável. Lanna
apresenta, ainda, em Interfaces da Gestão de Recursos Hídricos: Desafios da lei de águas de 1997,
publicada no ano 2000, o conceito de Gerenciamento Ambiental: conjunto de ações destinado a
regular na prática operacional o uso, controle, proteção e conservação do ambiente e a avaliar a
conformidade da situação corrente com os princípios doutrinários estabelecidos pela Política
Ambiental. O autor distingue o gerenciamento como um dos instrumentos da gestão, precedido de
dois outros instrumentos: Avaliação de Impacto Ambiental e o Zoneamento Ambiental.

Os conceitos de gerenciamento de recursos hídricos e de gestão também são apresentados


2
por Christofidis . Gerenciamento é definido como: conjunto de ações a desenvolver para garantir às
populações e às atividades econômicas uma utilização otimizada da água, tanto em termos de
quantidade como de qualidade. Para o conceito de gestão, o autor cita Bursztyn e Oliveira: um
conjunto de ações, conforme os casos, pode ser de caráter político, legislativo, executivo, de
coordenação, de investigação, de formação de pessoal, de educação hídrica (ou ambiental), de
informação e de cooperação intersetorial, ou mesmo internacional. Percebe-se então que os
conceitos apresentados por Christofidis também consideram a gestão de forma mais ampla.

3
Abordando a gestão ambiental municipal, Franco apresentam os principais temas da gestão
ambiental local: a expansão urbana – planos diretores e planejamento ambiental, Saneamento
Básico, poluição industrial, ruído e conflitos urbanos de vizinhança, poluição do ar por fontes móveis;
áreas verdes: criação e manutenção, comércio e prestação de serviços impactantes, e cidadania
ambiental. A visão da gestão ambiental é dada por este autor em uma perspectiva ampla, envolvendo
as temáticas relacionadas à questão ambiental municipal.

103
CONCEITOS NAS LEIS IRMÃS

Política Nacional de Recursos Hídricos – Lei 9.433/1997.

A Política Nacional de Recursos Hídricos qualifica a gestão em seus fundamentos, no


capítulo I, definindo que a gestão dos recursos hídricos deve proporcionar o uso múltiplo das águas e
deve ser descentralizada, contando com a participação dos setores público, social e de usuários. No
capítulo III, das diretrizes, a gestão é também qualificada como sistemática, devendo adequar a
política de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e
culturais regionais, devendo ainda ser articulada com a gestão do uso do solo e dos sistemas
costeiros. Ainda nesse capítulo a Lei se refere ao gerenciamento, definindo como diretriz a
articulação entre a União e os Estados, tendo em vista o gerenciamento dos recursos hídricos de
interesse comum.

A integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental é definida como


competência dos Poderes Executivos Estaduais e do Distrito Federal na implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos, no Art. 30. No Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, a coordenação da gestão integrada da água surge como primeiro objetivo. Esse Sistema é
integrado de: Conselho Nacional de Recursos Hídricos; Conselhos dos Estados e do Distrito Federal;
Comitês de Bacia Hidrográfica; Órgãos públicos federais, estaduais e municipais, cuja competência
se relacione com a gestão dos recursos hídricos; e as Agências de Água.

A gestão compartilhada é abordada no Art. 39, indicada para os casos de Bacia Hidrográfica
de rios fronteiriços e transfronteiriços. No Art. 44, a promoção de estudos necessários à gestão dos
recursos hídricos é definida como competência das Agências de Água, em sua área de atuação. No
Art. 45, é definida a Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, exercida pelo
Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, como responsável pela
gestão dos recursos hídricos.

Na Política Nacional de Recursos Hídricos, 9.433, a gestão é utilizada como uma espécie de
“guardiã do espírito” da política, estando presente em toda a sua estrutura e levando a ética da lei,
por meio de toda a qualificação que lhe é atribuída: sistêmica; propiciadora do uso múltiplo da água;
descentralizada, integrando a sociedade; adequada às diversidades regionais; articulada e integrada
com as políticas de meio ambiente, de uso do solo e costeira; e compartilhada. Todos esses adjetivos
revelam um conceito de gestão baseado em um processo dinâmico e articulado entre gestores dos
setores: público (federal, estadual e municipal), social e de usuários, tendo como instância máxima,
guardiã desse espírito da Política, a Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos
Hídricos.

O conceito de gerenciamento é marcado no Sistema Nacional de Gerenciamento de


Recursos Hídricos, onde estão os instrumentos de implementação e operacionalização da Política.
Nesse sentido, na Política Nacional de Recursos Hídricos, o gerenciamento surge como a
implementação operacional da Política, enquanto a gestão é a implementação de sua ética, levando o
“espírito da Política” por meio de valores, conceitos e conhecimentos que serão trabalhados com
pessoas. Assim, a gestão é um processo entre pessoas.

104
Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC – Lei 9.985/2000.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação estabelece critérios para a criação,


implantação e gestão das unidades de conservação. Nessa lei, a gestão é abordada com o mesmo
sentido de administração. O Art. 5 define que as diretrizes do SNUC devem assegurar a participação
efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação, o que
permite observar que a criação e a implementação não pertencem à gestão e que a gestão é algo
que deve ser feita com as pessoas. Ainda nesse artigo, as diretrizes devem buscar o apoio de ONGs
para as atividades de gestão das unidades, a saber: estudos, pesquisas científicas, práticas de
educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico, monitoramento, manutenção. Nessa
especificação, a gestão fica caracterizada como um conjunto de atividades a serem administradas. As
diretrizes também buscam assegurar que o processo de criação e a gestão das Ucs sejam feitos de
forma integrada com as políticas de administração das terras e águas, considerando as
condicionantes locais, e dizem ainda que devem garantir recursos para que as unidades de
conservação possam ser geridas de forma eficaz e atender aos seus objetivos. A gestão como
oportunidade de integração entre políticas também é diretriz do SNUC, assim como na lei das águas,
vista anteriormente.

No Art.30, o SNUC se refere ao órgão responsável pela gestão da unidade, e, no Art. 34,
menciona os órgãos responsáveis pela administração da unidade e determina que a administração
dos recursos seja realizada pelo órgão gestor. O Art. 35 dispõe sobre a utilização de recursos na
implementação, manutenção e gestão das unidades, distinguindo esses conceitos daquele de gestão.

Da utilização do conceito de Gestão no SNUC pode-se concluir que se trata de um conceito


plástico, utilizado em sua forma mais ampla, como administração de processos interinstitucionais e
sociais, visando à implementação do Sistema de forma integrada com outras políticas e com a
sociedade; e, em sua forma mais restrita, como administração de processos operacionais, visando ao
funcionamento e aos resultados previstos para cada unidade. Nessa forma mais restrita, a gestão no
SNUC é utilizada com o sentido semelhante ao conceito de gerenciamento da lei das águas.

Estatuto da Cidade – Lei 10.257/2001.

O Estatuto da Cidade dedica o seu capítulo IV à Gestão Democrática da Cidade,


apresentando os seguintes instrumentos para essa gestão: órgãos colegiados de política urbana, nos
níveis nacional, estadual e municipal; debates, audiências e consultas públicas; conferências sobre
assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal; e iniciativa popular de
projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano. O processo participativo
é previsto também no processo de elaboração, fiscalização e implementação do Plano Diretor,
conforme o Art. 40. No Art. 45, a Lei determina a inclusão obrigatória e significativa da participação da
população e de associações da comunidade, com vistas a garantir o pleno exercício da cidadania.

Para o Estatuto da Cidade, a gestão democrática da cidade propõe um conceito de gestão


comprometido com o processo social participativo, junto ao poder público, nas instâncias federais,
estaduais e municipais. A participação social deve estar presente desde o momento da
implementação da política, da elaboração do plano diretor, até a sua implementação, envolvendo a
sociedade em um processo de decidir e realizar os destinos do Estado ou do Município, de forma
conjunta com o poder público. Nessa concepção, a gestão é vista como um processo de interação
entre o setor público e a sociedade, buscando uma atuação articulada, a gestão realizada com
gestores, técnicos, representantes sociais, com a comunidade.

105
A partir desse marco científico e legal, esse artigo propõe os conceitos a seguir:

G estão do Ambiente é um processo social que requer, dinâmica, articulação, interação,


relação, intercâmbio, informação, conhecimento, diálogo entre diversidades, bem como ação
integrada entre o setor público e a sociedade na implementação de uma política. Gestão do
ambiente é também a gestão do conhecimento das pessoas, com suas percepções, interesses,
saberes e cultura.

Gerenciamento do Ambiente é um processo operacional de ações voltadas à


implementação e controle de um plano, programa ou projeto, com instrumentos de avaliação,
indicadores e metas, utilizando técnicas operacionais, com base em um banco de dados,
informação, fluxo e sistematização, com vistas a garantir os resultados esperados no sistema.

4. A GESTÃO TRANSDISCIPLINAR DO AMBIENTE

A gestão transdisciplinar do ambiente emerge da gestão interativa e da gestão cooperativa e


fundamenta-se no planejamento complexo. É condição necessária à gestão transdisciplinar a visão
complexa da realidade e a construção de um planejamento capaz de refletir essa complexidade.
Também é condição fundamental para a gestão transdisciplinar a interação e interdependência entre
o planejamento e a gestão, oportunizando a permanente atualização e transformação do planejado, a
partir do aprendizado com a dinâmica da realidade, vivenciada no processo de gestão. Nesse
sentido, planejamento e gestão são duas faces de uma mesma moeda, ambas se alteram
simultaneamente e permanentemente.

FRACTAL DA GESTÃO TRANSDISCIPLINAR DO AMBIENTE:

GESTÃO TRANSDISCIPLINAR

Formação Humana e Capacitação

GESTÃO INTERATIVA GESTÃO COOPERATIVA

DESAFIOS E CAMINHOS PARA A GESTÃO INTERATIVA

O tema da gestão interativa entre o município, as bacias hidrográficas e as unidades de


conservação, vem se constituindo em condição obrigatória para a construção do desenvolvimento
sustentável local e no País. A Gestão Municipal vem sendo amplamente abordada por diferentes
106
autores, onde o tema central converge para os desafios ao alcance do desenvolvimento sustentável
municipal. A busca por uma gestão municipal comprometida com as questões ambientais é
trabalhada por Philippi Jr. E Marcovitch, em seu artigo Mecanismos Institucionais para o
Desenvolvimento Sustentável, no qual é apresentada a matriz de avaliação de mecanismos
existentes para a obtenção do desenvolvimento ambientalmente sustentável. Dentre os mecanismos
de fortalecimento institucional, está a capacitação técnica, tecnológica e operacional, destacando a
importância do conhecimento nos processos de tomada de decisão.

Articulando os processos em que estão incluídos municípios, bacias hidrográficas e unidades


de conservação, conhecendo os desafios dos seus estatutos legais e constatando a falta de
efetividade na implementação dessas políticas na realidade local, conclui-se pela necessidade de
avanços teóricos, paradigmáticos, metodológicos e de percepção, que auxiliem na construção de um
planejamento e de uma gestão efetiva na realidade local. O desafio do município cresce com a
necessidade de considerar a inclusão social nos processos decisórios, valorizando sua diversidade
de percepções e saberes necessários à construção de um espaço consensual no planejamento e na
gestão do destino do município e das comunidades. Esse desafio cresce ainda mais com a
valorização necessária da dimensão ambiental no contexto da sustentabilidade local e das múltiplas
políticas operantes, com seus mandatos e sistemas específicos.

O que é fácil de constatar é que o que resulta da interação de todas essas políticas, são as
mudanças no território municipal, as mudanças de percepção e atitude dos cidadãos, que também
têm como referência o seu município. Então, pode-se dizer que, tudo converge e culmina na
dimensão municipal e que efetividade dessas políticas interdependem entre si. A gestão de uma Área
de Proteção Ambiental – APA, depende fundamentalmente da gestão municipal na regulamentação
do uso e da ocupação do solo. Assim também a gestão municipal depende das definições previstas
no plano de manejo da APA. Assim também a área de amortecimento de um Parque Nacional
depende do plano diretor municipal, que também depende das restrições previstas no plano de
manejo do parque. O mesmo acontece com os planos de bacia hidrográfica.

Nesse sentido, um avanço possível é incluir a lógica de cada política, dentro das demais.
Nessa rede de interações, todos os pontos podem ser pontos de partida, seja o município, a unidade
de conservação ou a bacia hidrográfica. Geralmente o ponto de convergência é aquele que se
destaca com mais força na região. No caso onde a gestão de bacia é mais forte (ex: bacias com
grande conflito de água), o Comitê e seu plano de recursos hídricos devem interagir com os planos
diretores municipais e apoiar os municípios para o fortalecimento da gestão ambiental municipal.
Assim também com as unidades de conservação, propondo um sistema de unidades de conservação
da bacia, integrando as unidades de conservação existentes. No caso onde a gestão de unidade de
conservação é mais forte (ex: região onde existe parque nacional), o Conselho gestor e seu plano de
manejo devem considerar o apoio às prefeituras na implementação dos planos diretores municipais e
deve prever a gestão por bacia, observando a definição e as relações da unidade de conservação, a
partir dessa unidade ecológica hidrográfica. No caso onde a gestão municipal é a referência (ex:
metrópoles), o poder executivo e o conselho municipal gestor do plano diretor, devem propor o
sistema de unidades de conservação municipal, considerando as unidades existentes, e deve prever
a gestão municipal por bacia hidrográfica, facilitando a gestão ambiental e da água, articulada com as
esferas estadual e nacional.

107
DESAFIOS E CAMINHOS PARA A GESTÃO COOPERATIVA

Não basta compartilhar, é preciso cooperar. Essa frase revela um dos grandes desafios para
a gestão do ambiente. Os conselhos e comitês estão iniciando um processo de aprendizado na arte
de compartilhar, de abrir-se para ser conhecido e estar aberto para conhecer o outro, com suas
diferentes visões de mundo e formas de atuação. Esse intercâmbio já apresenta uma grande
quantidade de desafios, o maior deles é o respeito às diferenças e a sabedoria do diálogo, de
interagir de forma dialógica e inclusiva, dialogando com distintas lógicas e incluindo a riqueza da
diferença, sem sentir-se ameaçado.

A partir do aprendizado do compartilhar, abre-se a possibilidade do aprendizado da


cooperação. O ato de agir com alguém, de ação operada em conjunto, exige outras qualidades para
serem desenvolvidas. A construção coletiva requer método, formas de garantir a valorização da
diversidade na construção de um espaço consensual, onde todos os integrantes se sintam
contemplados e assumam conjuntamente a responsabilidade pelo resultado coletivo.

A cultura da competição, dos desentendimentos crônicos, da não aceitação das diferenças e


dos diferentes, da imposição monológica de verdades absolutas, da briga pelo poder, ainda que seja
por uma palavra, parece estar impregnada na formação de técnicos, gestores e lideranças políticas e
sociais, ou seja, parece fazer parte da cultura de grande parte da nação brasileira. Assim com a
insustentabilidade do modelo de desenvolvimento de uma sociedade, o pensamento e o
comportamento competitivos, reducionistas, excludentes e monológicos, também conformam uma
questão cultural, de formação, de educação.

Nesse contexto, a formação humana e profissional é fundamental para a construção da


gestão cooperativa. Os técnicos e gestores públicos e sociais podem ter sido capacitados
profissionalmente, em um conjunto de teorias e metodologias que os permite desenvolver
tecnicamente um plano, mas que não favorecem ao desenvolvimento de um processo que inclua
múltiplas relações e interações e que exija abertura para os diversos saberes, percepções e
realidades que a gestão do ambiente exige. A formação especialista carece de outras referências
paradigmáticas, teóricas e metodológicas. A gestão cooperativa requer pedagogia, métodos de
mediação e construção coletiva do conhecimento. A gestão cooperativa requer ainda reflexão ética,
de valores, de percepções, de comportamento, da forma de pensar e agir das pessoas requer,
portanto formação humana e capacitação.

Essas políticas nacionais propostas nas Leis Irmãs apresentam pelo menos uma
oportunidade e um desafio aos especialistas e gestores públicos. A oportunidade é a transformação
cultural e cidadã da nação brasileira. O desafio é como realizar processos de grande complexidade,
que sejam verdadeiramente interativos e cooperativos? Com que fundamentos teóricos e
metodológicos? Sem dúvida que estas são questões estruturais. O que se percebe a partir das
experiências vivenciadas no País é que trabalhar com a sociedade exige, não o improviso, mas
criatividade e qualificação.

5. TRÊS TEORIAS PARA A GESTÃO TRANSDISCIPLINAR DO AMBIENTE

A busca da efetividade do planejamento e da gestão do ambiente, incluindo a interação social


com a valorização da diversidade de percepções e saberes, bem como a complexidade ambiental,
leva a busca de novas teorias e metodologias. Nesse artigo são apresentadas três teorias como
oportunidade para a construção de uma percepção complexa da realidade, da abertura e inclusão
dos diversos saberes e do diálogo entre a diversidade de lógicas coexistentes no ambiente. São elas:
a teoria da Autopoiésis, a teoria da Complexidade e a teoria da Transdisciplinaridade.

FRACTAL DO FUNDAMENTO TEÓRICO E METODOLÓGICO:


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TRANSDISCIPLINARIDADE

(Basarab Nicolescu)

Gestão Transdisciplinar do Ambiente

AUTOPOIÉSIS COMPLEXIDADE

(Humberto Maturana) (Edgar Morin)

A Autopoiésis apresenta as relações de interdependência entre unidade e ambiente. De


4
autoria do biólogo Chileno Humberto Maturana , o conceito de autopoiésis parte da caracterização
dos sistemas vivos como sistemas que possuem o poder de auto-organização, autodeterminação e
auto criação. A importância dessa teoria para a gestão do ambiente é o reconhecimento das relações
de interdependência entre a unidade e o ambiente. A autopoiésis mostra que a unidade e o ambiente
se influenciam e transformam-se mutuamente, em um processo de interações sucessivas.
Considerando a unidade uma pessoa, as múltiplas relações entre as pessoas e o ambiente,
determinam e são determinadas pelo processo de aprendizado com o viver, onde as emoções se
apresentam como condição fundamental para a aprendizagem e a transformação.

5
Baseado na teoria da Autopoiésis, Daniel Silva desenvolveu a metodologia pedagógica
denominada por ele de Pedagogia do Amor. Essa pedagogia apresenta um método de construção
coletiva de conhecimento, tendo como ponto de partida a valorização dos diferentes saberes e das
emoções no processo de convivência pedagógica. Esse método, associado a outras técnicas e
dinâmicas, oferece um apoio metodológico de grande eficácia no exercício da gestão interativa e
cooperativa do ambiente.
6
A Complexidade, trabalhada por Edgar Morin em sua obra O Método, oferece uma forma de
percepção capaz de reconhecer as múltiplas dimensões de realidade e de percepção. Essa teoria
permite uma aplicação metodológica ao planejamento e à gestão do ambiente, identificando as
múltiplas dimensões da realidade: a ecológica, a hidrográfica, a de uso e ocupação do solo, a
institucional, a de restrições ambientais, entre outras que sejam percebidas como importantes ao
processo. Além dessas dimensões de complexidade, a teoria também permite o reconhecimento das
diferentes dimensões de percepção: a científica, a cultural, a econômica, a política, a religiosa, a
artística, entre outras.

Por fim, a Transdisciplinaridade, concebida inicialmente por Piaget, foi desenvolvida sob
7
forma de Manifesto da Transdisciplinaridade, por Basarab Nicolescu . Essa teoria apresenta
diferentes oportunidades para a gestão do ambiente. A transdisciplinaridade revela os caminhos para
o diálogo, a abertura para a aceitação da diferença, a inclusão dos diferentes saberes, culturas e
religiões, a perspectiva do transitar, transmutar e transcender. Essa teoria propõe ainda a construção
do espaço de interação fluida, de intercâmbio de saberes, de inclusão da diversidade, de integração
entre partes para a construção de um todo comum. Esse fenômeno é denominado de Sagrado.

A disciplinaridade, a pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são as


quatro flechas de um único e mesmo arco: o do conhecimento.8

109
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em meio aos desafios para a implementação de uma gestão transdisciplinar do ambiente,


cabe ao município um papel de grande importância no cenário local, estadual e nacional, qual seja o
de estar aberto às fronteiras dos diversos saberes, tradicionais e científicos, agindo de forma corajosa
na construção de um novo caminho, onde se revelam três pontos:

ABERTURA PARA NOVAS RELAÇÕES DE PODER

O diálogo entre a política federativa, com suas competências e hierarquias definidas no


cenário político e institucional, precisa ser enfrentado. As unidades de planejamento bacia
hidrográfica e unidades de conservação, ultrapassam as fronteiras federativas e obrigam à
transcendência dessas fronteiras na direção da construção de uma rede complexa de relações de
poder. A inclusão da sociedade civil e do setor econômico nos processos decisórios exige dos
técnicos e gestores públicos a capacidade de diálogo, mediação e compartilhamento do poder,
transcendendo a hierarquia, na direção da construção da rede de relações cooperativas e co-
responsáveis pelo destino do município, do estado e da nação.

FORMAÇÃO HUMANA E CAPACITAÇÃO

A atuação nos processos de planejamento e gestão do ambiente requer dos técnicos e


gestores públicos, privados e sociais, o desenvolvimento de capacidades diferentes daquelas com as
quais eles foram formados. A aceitação das diferentes percepções e atuações, a construção coletiva
de consensos necessários, o compartilhamento das relações de poder, o compromisso coletivo e a
responsabilidade compartilhada, exigem mudança de visão e de comportamento, resultando em uma
mudança pessoal, cultural. O desenvolvimento dessas qualidades fundamentais aos processos de
gestão interativa e cooperativa do ambiente é construído com a vivência e com a educação. Os
processos de formação e capacitação de técnicos e gestores definem ai uma estratégia fundamental.
A formação humana permite a reflexão ética, epistemologia e paradigmática, favorecendo ao
encontro de novas formas de pensamento, percepção e atuação. A capacitação subsidia os técnicos
e gestores com o conhecimento de novos métodos, conceitos e alternativas para o desenvolvimento
de processos dinâmicos, transformadores e criativos de planejamento e gestão.

VALORIZAÇÃO DA CIÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DE NOVAS REFERÊNCIAS


Cada pessoa vê o mundo e age no mundo com o conhecimento que tem. Quando a realidade
não corresponde ao mundo que se pretende construir, é o momento de desconfiar das teorias e dos
métodos que estão construindo essa realidade. Quando as teorias e métodos não conseguem
explicar e transformar a realidade, faz-se necessária a renovação. Há sempre um caminho científico
para a construção de qualquer mundo, e por de traz da ciência, há sempre uma ética. Nesse
contexto, o ponto de partida pode ser o mundo que se pretende construir e a ética que deve permear
esse mundo, e então ir ao encontro da ciência que está trabalhando para esse mundo, e com ela
construir os fundamentos que edifiquem um novo conhecimento e que formem um novo cidadão.
Essa é a importância da ciência na busca de novas referências para um novo mundo. Afinal, quem
não está a serviço da sua própria ética, está a serviço da ética de alguém.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LEI FEDERAL 9.795/ abril 1999 – Política Nacional de Educação Ambiental.


LEI FEDERAL 9.433/ jan. 1997 – Política Nacional de Recursos Hídricos.
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7
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8
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