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D. A.

LEMOYNE

Copyright © 2022
D. A. LEMOYNE
dalemoynewriter@gmail.com

Copyright © 2022
Título Original: A Mãe da Minha Menina
Primeira Edição 2022
Carolina do Norte - EUA
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser
reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou por qualquer
meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou
mecânicos, sem a prévia autorização por escrito da autora, exceto no caso de
breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-
comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

Nome do Autor: D. A. Lemoyne


Revisão: Dani Smith Books
Revisão: Walter Bezerra Cavalcanti
Capa: D. A. Lemoyne
ISBN: 978-65-00-40292-6

Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares, negócios,


eventos e incidentes são ou produtos da imaginação da autora ou usados de
forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas ou
eventos reais é mera coincidência.
Aviso: pode conter gatilhos.

Aviso: A Mãe da Minha Menina, livro 5 da série Irmãos Oviedo, é um


volume único. Por ser com casais diferentes, cada livro da saga pode ser lido
separadamente, mas é provável que o posterior contenha spoilers dos
anteriores.

Rafael Caldwell-Oviedo, o bilionário e maior campeão de golfe da


história, possui um sobrenome que é sinônimo de tradição no mundo inteiro.
Também herdou do pai o poder de sedução.
As mulheres e a imprensa o chamam de príncipe da modernidade. Os
amigos, de cafajeste disfarçado, já que nunca cria laços a longo prazo com
suas parceiras.
Entretanto, o único rótulo que lhe interessa é o de número um.

Em tudo o que faz na vida, Rafe é um vencedor e não seria diferente


quando encontra uma mulher misteriosa em uma festa. Ele nunca joga para
perder e parte para conquistá-la usando cada arma de seu arsenal.
Petal Bartley só quer esquecer por uma noite sua vida de sacrifícios e se

divertir como uma garota de sua idade. Com esse propósito em mente, cair
nos braços do homem lindo é inevitável.
O que nenhum dos dois imagina é que esse encontro terá consequências.
Somado a isso, há alguém tramando para destruir a vida da jovem
batalhadora.
Quando o destino prega uma peça, criando um laço eterno entre os dois,
Rafe terá que fazer o que um Oviedo faz de melhor: proteger sua família
inesperada.
A todos os apaixonados por essa família que tem um lugar especial

no meu coração.

Carolina do Norte, fevereiro de 2022.


NOTA DA AUTORA:

A Mãe da Minha Menina é o sexto e último livro da saga Irmãos


Oviedo(lembrem-se que em dezembro de 2021 em lancei um spin-off
contando a história de Isabel e Stewart).
Calma! O último da primeira geração Oviedo, porque ainda teremos

muito mais desse delicioso clã de sangue quente.


Na presente obra vocês conhecerão a história de Rafe e Petal. Ele, já
tivemos várias pistas da personalidade: um mulherengo desapegado, boa
índole. Encantador, mas completamente avesso a compromisso. Nossa
“pétala”, no entanto, é a primeira vez que aparece em um livro meu.
Escrevi esse romance com o coração apertado. Planejo minhas séries com
muita antecedência, então, assim que acabei Cativo, livro 2 da saga Corações
Intensos, eu já sabia que escreveria os Irmãos Oviedo e fui amando um por

um dos membros dessa família conforme as histórias se desenvolviam.


Guillermo, o responsável; Joaquín, nosso eterno mal-humorado; Martina,
a menina cheia de personalidade; Gael, com todas as suas complexidades
escondidas atrás da máscara de ator; os queridos Isabel e Stewart, cujo livro
me arrancou lágrimas quase que durante todo o processo.
Agora, chegou a hora do nosso Rafe, o campeão. O menino que foi criado
sabendo que seria o número 1 e para o qual o segundo lugar nunca foi sequer
uma opção.
Eu amei escrever esse livro e espero que apreciem também.

Um beijo carinhoso e boa leitura.

D.A. Lemoyne
Prólogo

— Mãe, aquela garotinha parece com frio.


— Onde?
Aponto para uma menina loira e muito pequena, sentada em uma cadeira

de um bar. Tem uma mulher com a mesma cor de cabelo — quase branco —
ao seu lado, mas não parece prestar atenção na criança.
Ela é muito novinha e tem os braços cruzados em frente ao corpo, como se
tentasse se proteger do vento.
— Ali. Pode parar o carro, por favor?
— Não acho seguro estacionarmos aqui, Rafael. Vamos ser multados.
— Mãe, ela está de vestido e faz três graus lá fora!
— Simon, veja se consegue parar rapidinho — ela pede ao nosso

motorista. — O que quer fazer, Rafe?


— Vou dar meu casaco para ela. Nem deveria estar na rua. Já é tarde.
Ela me dá um beijo na testa antes que eu abra a porta.
— Você é um príncipe, Rafael.

— Por quê? Só estou fazendo o que é certo.


Saio antes que venha um guarda e multe Simon. Acho que ele morreria do
coração se acontecesse. Guillermo diz que ele nasceu americano por acaso,
porque é tão certinho quanto um mordomo inglês, apesar de ser motorista.
Aproximo-me da mesa e vejo que ela é a única criança presente, o resto
são só homens adultos com a mulher.
Eles nem notam quando me abaixo para falar com ela. Eu poderia ser
qualquer um e levá-la embora. É o que me dá vontade de fazer, mesmo. Lá

em casa mamãe cuidaria dela direitinho.


— Está com frio?
— Sim — ela responde e balança a cabecinha ao mesmo tempo.
Seus olhos são estranhos, vazios, muito tristes.
Tiro meu casaco e coloco sobre seus ombros.
— Pode ficar com ele, tá?
— Obrigada. Meu nome é Petal e o seu?
— Rafael. Cuide-se, Petal. Eu tenho que ir.
Volto correndo para o carro porque está ventando muito e agora sou eu

quem está congelando.


— Já fez sua boa ação do dia, meu filho?
— Devíamos levá-la embora para nossa casa, mãe. Aquela mulher lá com
ela está muito grávida e bebendo com uns homens. Nem viu quando me

aproximei. Será que a menina vai ficar bem?


— Não podemos resolver todos os problemas do mundo, infelizmente,
filho.
— Mas pelo menos por hoje, a menina-pétala vai ficar quentinha.
— Pétala?
— Ela me disse que se chamava assim. Petal.
— Nome lindo e parece muito bonitinha também.
— É sim. Você que tem boas relações com Deus, coloque ela em suas

orações quando for pedir por nós, tá?


— Pode deixar. Se depender de mim, de agora em diante, Petal vai ser
protegida pelo Nosso Senhor.
Capítulo 1

Petal

Boston — Massachusetts

Seguro a maçaneta da porta do meu quarto, que só puxador do lado de


dentro e mais uma vez prometo que vou consertá-la. Mas então, quando olho
em volta do apartamento pequeno e de paredes manchadas que necessitam de

pintura, afasto a ideia da cabeça.


Preciso economizar para cuidar da saúde da minha tia. Os remédios dela
são caríssimos. Não, nada de pinturas ou maçanetas novas. Enquanto eu não
receber um aumento substancial, já que esse da nova promoção vai ajudar,
mas não resolver nem um décimo dos nossos problemas, não podemos nos
dar ao luxo de gastar com supérfluos.
— Já de pé? — pergunto, dando um beijo na testa do meu irmão que está
parado no corredor. — Pensei que iria aproveitar sua semana de férias da

primavera[1].
— Eu ouvi vocês duas de madrugada. Ela passou mal de novo, né?
— Sim, mas a cuidadora chegará logo. Você pode voltar a dormir.
— Eu sei, mas gosto de estar por perto quando ela não se sente bem.
Prefiro ficar vigilante.

Meu coração se contrai.


Ele é tão novo ainda e mesmo assim, já mostra o tipo de homem que vai
ser quando crescer.
Trago-o para um abraço.
— Você é o melhor irmão do mundo, Phoenix.
Ele enterra a cabeça no meu peito.
— Deus, eu odeio meu nome.
— Titia disse que a primeira opção da nossa mãe para você era Banjo.

— Jesus, estou bem com Phoenix, então. Banjo, sério? Eu nunca


conseguiria um cargo de CEO com um nome desses.
— E para que quer ser um CEO? Profissão mais chata, ficar o dia inteiro
atrás de uma mesa.
— Duas palavras: dinheiro e mulheres. Vou ser rico, cuidar de você e da
titia. Depois, ter uma namorada diferente por semana.
— Vai coisa nenhuma. Não estou te educando para ser um pegador sem
vergonha.
— Sem vergonha, não. Vou respeitar cada uma das minhas namoradas,

mas espero que até eu me casar, sejam muitas.


Sacudo a cabeça sorrindo e tentando não me preocupar tanto. Ele só tem
treze e para um adolescente, é bem tranquilo. Tenho certeza que até chegar na
idade de namorar, mudará de ideia sobre ser um conquistador semanal.

— E por falar em namorado, como foi seu encontro na semana passada?


Nem fizemos a lista dos prós e contras.
Meu irmão criou uma bendita lista, em que eu e ele verificamos possíveis
candidatos a namorado. Até agora houve mais contra do que pró para cada
cara que conheci no último ano.
Nesse ritmo, vou virar freira.
Casados, mulherengos, espertalhões que desejam mulheres para sustentá-
los, ou como foi no caso desse a que ele se refere, um imbecil completo.

— Não foi, por isso nem me preocupei com a lista. Ele é um idiota.
— Por quê? — pergunta, mudando a postura, com seu jeito protetor.
— Não se preocupe, eu o coloquei em seu devido lugar.
— Ele tentou levá-la para a cama, não foi?
— Phoenix!
— Não sei como deixamos passar isso em nossa triagem, Petal. Ele era
novo demais. Precisamos de alguém por volta dos trinta.
Eu começo a rir.
— Não precisamos de nada. Eu me basto. Onde foi que aprendeu essa

palavra “triagem”?
— Lendo jornal. Você não me leva a sério quando falo que vou ser um
CEO, né?
— De que setor?

— Tecnologia. Quero ser como Odin Lykaios[2]. Talvez ele me aceite

como aprendiz. Soube que a Lykaios Systems[3] tem um projeto para


estudantes de baixa renda como eu.
— Mais tarde quando eu chegar do trabalho podemos pesquisar isso
juntos, tá? Agora tenho que ir, senão vou me atrasar. Não posso desperdiçar
essa chance que Deus está me dando. O bônus anual da nova função é quase
um salário.
— Vai dar tudo certo. Nunca vão encontrar uma funcionária melhor do

que você. Se quiser posso ter uma conversinha com seu chefe.
— Nossa, é tentador, mas não, obrigada. — Beijo sua testa outra vez. —
Não entrarei para falar com a titia porque não quero acordá-la, mas você vai
me ligar se houver algo errado?
— Vou sim, mas fique tranquila. Está tudo sob controle.
— Eu te amo, Phoenix.
— Como poderia não me amar?
— Como? — pergunto, já virando as costas para sair.
Assim como acontece toda manhã quando tenho que deixá-los, sofro de

remorso, mas sou a bem dizer única renda da casa e acabo de ser promovida.
Tenho que focar no futuro. Dar condições melhores para a minha família.
Não há espaço para dúvidas. Eles precisam de mim.

— Ah, então você é a nova secretária júnior?


Fico um pouco nervosa porque nunca imaginei que esse homem fosse me
enxergar, ainda mais no meio de tantas funcionárias.
— Hum… sou eu, sim.
— Meu pai falou muito a seu respeito. Disse que é inteligente e
trabalhadora.
Ele estica a mão para me cumprimentar e eu hesito, nervosa para caramba,
porque a pessoa à minha frente não é ninguém mais ninguém menos do que o

filho do meu empregador.


Se o CEO, doutor Augustus Acker, é o rei do mercado de produtos
esportivos nos Estados Unidos, Lleyton é o príncipe.
Um meio distorcido, a julgar pelas notícias nas revistas de celebridade,

não posso me impedir de pensar.


Ele é famoso por se meter em escândalos. Festas com bebidas e mulheres
em excesso, além de confrontos físicos em boates.
Tento me lembrar se li em algum lugar quantos anos ele tem. Eu chutaria
por volta dos trinta, o que é idade mais do que suficiente para alguém parar
de agir como um adolescente irresponsável.
Assim que o pensamento me vem, fico envergonhada. Não cabe a mim
julgar a vida alheia, muito menos o filho do meu empregador. Talvez eu o

tenha feito porque, no fundo, sinto um pouquinho de inveja. Nunca soube o


que é aproveitar, já que desde muito cedo precisei ocupar o lugar da minha tia
como chefe de família, me responsabilizando pela casa, mas principalmente,
pela criação de Phoenix.
— Meu nome é Petal Bartley — falo, enfim estendendo a mão também,
mesmo que me pareça um pouco inapropriado.
Ele a aperta sem muita firmeza.
— Eu sou Lleyton Acker — diz, como se o mundo inteiro não soubesse
disso. — Petal? Que tipo de nome é esse?

— Minha mãe era meio hippie.


— Era?
— Sim — respondo, cortando o assunto porque não gosto de falar sobre a
minha família com estranhos. — Em que posso ajudá-lo, senhor Acker?

— Opa, duas coisas erradas, aqui. Nada de senhor. Somente Lleyton. E


por que acha que precisa me ajudar com alguma coisa?
— Não quero ser rude, mas por qual outro motivo pararia na mesa de uma
secretária júnior?
Ele me olha e levanta uma sobrancelha, de maneira sugestiva, como se
dissesse: “nem imagina, amor?”.
Talvez aquilo funcione com a maioria das representantes do sexo feminino
porque é muito bonito, mas eu sou um ponto fora da curva. Duvido que

qualquer uma das mulheres que ele paquera tenha um décimo das contas que
preciso pagar todo final de mês.
Seu cabelo loiro areia e os olhos verdes não têm qualquer efeito em mim,
a não ser o mesmo de quando admiramos um modelo bonito em um encarte
de uma revista.
Nasci com os dois pés no chão. Sei que não sou mal de se olhar. Minha
aparência chama a atenção. Entretanto, também sei que não faço parte do
universo dele, o que me diz que um cara assim, lindo, bilionário e na casa dos
trinta, só estaria interessado em mim para uma coisa: sexo.

Não sou hipócrita. Deve ser incrível ir para a cama com um homem tão
bonito, mas além de ser o filho do chefe, a maneira como me abordou me diz
que deve fazer isso tão depressa quanto troca de sapatos.
— Posso ser sincera, senhor Acker?

— Por que acho que não gostarei do que vou ouvir? — pergunta, sorrindo.
— Não é nada demais, apenas a verdade. O senhor é lindo e tenho certeza
de que tropeça em mulheres querendo agarrá-lo, mas eu não estou
interessada. Tenho uma tia com esclerose múltipla e um irmão de treze anos
que dependem de mim. Acabei de ser promovida, então para que nós dois não
percamos tempo, vou deixar avisado que ainda que viesse coberto de
diamantes, até mesmo naquelas partes, eu diria não a qualquer convite seu.
Nada é mais importante do que o bem-estar da minha família.

Ele me olha em silêncio e apesar de fingir calma, estou muito ansiosa.


Talvez tenha exagerado e agora dou graças a Deus por não ter mais ninguém
aqui na sala conosco.
— Não pode usar o que eu disse para me demitir ou o processarei por
assédio — completo, porque já estou ferrada mesmo, que diferença faz?
Para minha surpresa, ele gargalha. Não uma risadinha sem graça, ri tanto
que coloca a mão na barriga. Ou melhor, abdômen, porque não tenho dúvidas
de que debaixo daquele terno bem cortado há tantos gominhos quanto em
uma laranja.

Ele torna a esticar o braço em cumprimento.


— Petal Bartley, você é a melhor coisa que me aconteceu nessa semana.
Podemos começar de novo? São poucas as pessoas que teriam coragem de
me falar o que disse.

Aceito o aperto de mãos, pois ele parece estar sendo sincero.


— O desespero é um grande motivador, senhor Acker. Falei sério. Estou
há meses sonhando em ser promovida para dar melhores condições para
minha família. Nada me fará sair do meu caminho.
Capítulo 2

Rafe

Cinco meses depois

Escuto o carryall[4] se aproximar e sou obrigado a interromper a tacada.

— Sabe que não deveria fazer isso, né? — Archer[5] diz.


Ele agora parece minha sombra e mesmo que sejamos muito amigos, não
tenho dúvidas de que essa obsessão em cuidar de mim é recomendação do

seu irmão e também meu cunhado, Raul[6].


— O que eu deveria, é conseguir um cotovelo substituto.
— Sentir pena de si mesmo não combina com você, Rafe.
Ele estica a mão para que lhe entregue o taco de golfe, o que me irrita
ainda mais. Eu me afasto, sentindo meu temperamento emergir. Não quero
descontar nele, então é melhor que me deixe sozinho.
— Não preciso de companhia, Archer.
Na hora que vou me preparar novamente para a tacada, sinto uma pontada
no braço e quase me dobro ao meio de dor. Arremesso o taco longe.

— Porra!
Caio deitado de costas na grama. O braço tapando meu rosto.
— Sua cabeça está fodendo seu corpo e não o contrário — ele diz,
sentando-se ao meu lado.

— Se está tentando começar uma sessão de terapia, não vai funcionar


dessa vez. Poucas pessoas têm a mente mais forte do que a minha, Archer,
mas é lesão atrás de lesão desde os vinte e três anos, caralho!
— E mesmo assim, você é o melhor do mundo no que faz. Uma
verdadeira lenda, Rafe. Não acabou, cara. Só acabará no dia em que você
desistir.
— Meu técnico acha que tenho que me afastar de tudo. Ficar um tempo
fora. Treinando de leve, mas não tentar voltar para o circuito por pelo menos

um ano.
— Deveria ouvi-lo. Eu me arrependo de quando lesionei meu joelho da
primeira vez, ter continuado a forçar. Nunca ficou curado e acho que minha
carreira não durará mais do que um ou dois anos a contar de agora.
Pela primeira vez desde que a conversa começou, tiro a cabeça de dentro
da minha própria bunda. Ando tão autocentrado que esqueço que as pessoas à
minha volta têm problemas também.
— E o que pretende fazer depois?

— Comprar um time[7].

Sento-me para encará-lo, achando que está brincando, mas ele não sorri
como costuma fazer.
Archer é um debochado nato. O tipo de pessoa que você ama ou odeia,
mas seu rosto está sério agora.

— Como consegue lidar com isso? O fim de sua carreira, quero dizer.
— Não muito bem. Se fosse há alguns anos, provavelmente eu iria ladeira
abaixo, enchendo a cara, comendo um monte de mulher, não que eu não
esteja fazendo isso. — Sorri. — O que estou tentando dizer é que
provavelmente eu poria fim na minha carreira antes mesmo que o joelho me
obrigasse.
— E agora pensa diferente?
— Não tão diferente, mas eu e Raul temos conversado muito. Estamos

planejando comprar um time. Começar do zero, com os novos talentos. Tem

um garoto, Bruno Cooper[8], que está se destacando.


— Do jeito que está falando, parece que já tem tudo em vista.
— Não mesmo. Raul tomou a frente, talvez porque para ele seja mais fácil
do que para mim. Meu irmão ama futebol americano, mas desde sempre sabia
que em algum momento iria parar. Eu não. Jogar é o que faço de melhor. Não
vejo alternativa.
Não me lembro de termos uma conversa tão franca antes a respeito do fim
de nossas carreiras. Archer me entende, porque futebol para ele, assim como

o golfe para mim, é oxigênio. Por mais que minha família seja unida, nenhum
deles tem esporte como profissão.
Não é que eu não saiba fazer outra coisa. Eu não quero fazer outra coisa.
Desde pequeno sou um campeão. Competir é a minha vida.

Em algumas lesões anteriores, eu tentei trabalhar na administração dos

hotéis[9] da minha família ao lado de Guillermo[10] e quase enlouqueci. Ficar


trancado em uma prisão de concreto para mim é a morte.
— Competir é tão fundamental como respirar. Não me basta ser um bom
jogador. Desde pequeno treino muito para ser o melhor.
Ele acena com a cabeça, concordando. Em seu campo de atuação, Archer
não é em nada diferente de mim.
— E esse lance de ficar um tempo fora, como seria?

— A única maneira de me recuperar totalmente, segundo os médicos, é ir


para um lugar que não tenha campo de golfe. Caso contrário, vou voltar a
treinar. Eu me conheço e eles também.
— E vai aguentar? Quão longa seria essa retirada?
— Não sei. Um ano, provavelmente.
— Foda-me! Para onde?
— Uma ilha. Só telefone via satélite para falar com a família. No mais,
focar na fisioterapia e treino muito leve.
— Retiro o que eu disse sobre sua cabeça estar fodida, Rafe. Você é

mentalmente forte para caralho.


Olho para o horizonte, onde um jogador está ao lado de um professor e
ainda assim segurando o taco completamente errado. Nem por um milagre ele

conseguirá acertar o cup[11].

— E quanto às mulheres? Vai ficar um ano sem foder?


— Depois do último escândalo envolvendo meu nome, um detox de sexo
não seria nada mal.
Ele gargalha.

— Sabe o que é o melhor? Gael[12] era tachado de bastardo pelas ex e


você, de príncipe. Se eu fosse mulher, Deus me livre e guarde porque sou
bem apegado ao meu pau, eu preferiria mil vezes me envolver com alguém
como ele do que como você. Um pé na bunda certeiro é muito melhor do que

um talvez eterno.
Dou de ombros.
— Minha mãe disse outro dia que herdei isso do papai.
— Está de sacanagem? Stewart com aquela cara séria?
— Agora, né? Depois que dona Isabel o pegou pelo cabresto, mas segundo

ela, não é só fisicamente que somos parecidos, mas no bico doce[13] com as
mulheres também.
— Sua mãe é maravilhosa.

Archer meio que foi agregado à minha família. Por mais que Aurora[14], a

mãe adotiva de Raul, o trate como filho também, acho que ele nunca superará
o fato de ter sido separado do irmão na infância, ainda que a culpa não tenha
sido dela.
— Ela é, sim. A mais forte que eu conheço.

— É estranho com todos os seus irmãos se casando em sequência, como se


tivessem sido contaminados com algum tipo de vírus do amor ou uma merda
assim, que você continue vivendo sua liberdade como se não houvesse
amanhã.
— O roto falando do esfarrapado.
Ele arranca um pedaço de grama perto de seus pés.
— É diferente. Não tive qualquer exemplo de relacionamento homem-
mulher que tenha dado certo. Talvez meus pais biológicos tenham se amado,

mas eu nunca terei certeza. Fui criado por um solitário que tinha namoradas
em série e que viveu sua vida assim até falecer. Já você, teve pais amorosos e
como se não bastasse, seus irmãos são felizes no casamento, se formos levar
em conta a velocidade com que os bebês Caldwell-Oviedo se multiplicam.
— Eu adoro mulheres como gênero, mas não me imagino com uma só.
Relacionamentos exigem dedicação e a minha vida é o golfe.
— Todos os guerreiros dizem isso antes da queda.
— Falou o maior galinha de Boston.
— O que eu posso dizer? Depois que meu irmão se casou com a sua irmã,

precisei manter o bom nome da família. — Ele se levanta, rindo. — Agora


vamos ao que interessa: vai ficar um ano sem sexo, ao que tudo indica, então
que tal fazer uma super despedida? Tenho o melhor programa possível.
Eu me levanto também.

— Não estou no clima, cara.


— Porra, Rafe, você está vivo. Considere isso uma despedida pré-celibato.
— Onde seria?
— Um dos meus patrocinadores vai fazer um baile de máscaras daqui a
uns dias.
— Ah, não. Dispenso. Vou me sentir ridículo de máscara.
— Calma, não acabei de falar. A parte do baile de máscaras é só para a
imprensa. Depois vai ter uma mega festa organizada pelo filho do meu

patrocinador.
— Continua na mesma para mim. Estou de saco cheio de festas em que
sempre vemos as mesmas caras.
— E se não puder ver?
— O quê?
— A partir de meia-noite, a festa vai ser no escuro. Boate, muita bebida,
mulheres lindas. Nada de luz.
— Nunca ouvi falar disso. Restaurante no escuro, sim. Boate, nunca. A
ideia não me agrada. Sobre o restaurante, quero dizer. Sou controlador

demais e gosto de ver se o que estou comendo é o que pedi.


— Não seja ranzinza. Pego você às oito.
— Nem fodendo. Se vamos beber, iremos de táxi.
— Então isso significa um sim?

— Sim, mas se estiver chato, antes mesmo das luzes apagarem, eu caio
fora.
Capítulo 3

Petal

— O que há para pensar?


— Tudo.
— Não seja medrosa.
Olho para o homem que se tornou o mais próximo que tenho, fora o meu
irmão, de um amigo.
Nesses poucos meses em que nos conhecemos, aos poucos fui relaxando

ao conversar com Lleyton Acker. Depois daquele primeiro encontro que me


deixou com uma péssima impressão, ele foi extremamente respeitoso — para
os padrões dele, claro.
Acho que flerta tão fácil quanto respira.
— Não nasci rica, senhor Acker. Festas chiques não fazem parte do meu
mundo.
— Papai ficaria decepcionado se não fosse.
— Besteira. Seu pai ficaria decepcionado se eu não fosse ao baile de gala,
porque caí na besteira de dizer a ele que nunca frequentei um lugar que

precisasse usar vestido longo. Mas ele não daria a mínima se eu faltasse à sua
festa privada no escuro que acontecerá depois. Isso me parece meio sinistro.
— No baile de máscaras só haverá pessoas enfadonhas. Se quer diversão,
sou a pessoa certa para lhe mostrar o mundo.

— Não sei se quero diversão.


— Petal, o velho lhe presenteou com um vestido de grife. Você vai
parecer uma princesa. Não quer uma noite de Cinderela completa?
— Desde que fique claro que você não será meu príncipe.
— Posso saber por que não? — sua pergunta me surpreende, já que ele
nunca mais tentou cruzar a linha — É só por meu pai ser seu empregador?
Penso com cuidado no que responder, porque não quero ferir seus
sentimentos, se é que ele tem algum.

Gosto de Lleyton e ele tem se mostrado atencioso quando se despe


daquela camada de mulherengo.
— Nós sempre seremos ótimos amigos. Nada além.
Não desvio dos seus olhos quando digo aquilo porque não gosto de deixar
nada nas entrelinhas.
— Poderíamos ser mais do que isso.
Ele dá um passo para perto e eu imploro mentalmente para que não tente
nada, porque isso vai destruir nossa amizade. Como se lesse meus
pensamentos, para.

— Não pode saber se não experimentar.


— Já falamos sobre essa questão. Ainda que nós dois fôssemos
compatíveis, e não somos, eu tenho responsabilidades para me preocupar e
zero tempo para romance. E certamente, não para o tipo de romance que você

tem em mente.
— E que tipo seria isso?
— Sexo.
Eu gostaria muito de me perder em uma noite de sexo suado, mas não
com você. Não dificulte as coisas, por favor.
Eu tive somente um namorado na vida e não foi nada memorável, mas
nem posso culpá-lo. Ambos com recém-completados dezoito anos, o que
esperar?

Depois de adulta, das vezes em que tentei sair com alguém, porque não
sou de ferro e preciso de uma pausa mesmo com todos os problemas
financeiros, só tive decepção. Esses encontros nunca foram além de um
jantar.
A lista do “contra” que meu irmão fez só cresce, então oficialmente eu
sequer beijo um rapaz há mais de um ano.
— Não vou negar, mas com você é diferente…
Reviro os olhos.
— Pare ou vou desistir da festa — falo, meio brincando, meio sério

porque não tenho dúvidas de que meia hora depois que o tal baile de
máscaras começar, seguido da festa na escuridão, Lleyton já terá uma
companhia. — Existe uma explicação para seu desejo de sair comigo.
— É mesmo? Do que se trata?

— Todo homem quer o que não pode ter.


Ele ri, o que era justamente minha intenção.
— Espertinha. Tudo bem, você teve sua chance. Quando estiver velha e
toda enrugada, vai olhar para trás e se arrepender de ter deixado escapar esse
belo espécime.
— Nossa, será? — falo, fingindo que estou pensando. — Mas quer saber?
Vou correr o risco.
— Quer que eu te pegue em casa?

— Não, obrigada. Uma Cinderela que se preze chega sozinha na


carruagem. Eu vou de táxi, mas agradeço pela oferta.
Ele sorri, mas o sorriso não alcança os olhos. Eu me sinto mal. Lleyton só
estava sendo ele mesmo e não me ofendeu em nenhum momento.
— Hey.
Já estava se afastando, mas para e olha para trás.
— Obrigada por me convidar para sua festa privada. Tenho certeza de que
vou me divertir muito.
— Sempre às ordens, princesa.

Volto para minha mesa pensando se, depois dessa conversa, não deveria
recusar o convite para a festa após o baile. Mas o problema é que estou muito
curiosa.
Eu provavelmente nunca mais terei outra oportunidade como essa. Não

são as pessoas que estarão lá o que me faz desejar ir. Não dou a mínima para
celebridades. Sangram como todos nós, mesmo que alguns pensem que o
deles é azul. O que me faz querer participar do evento mesmo é o luxo.
Lleyton brincou, mas talvez seja a única noite que terei em minha vida
inteira em que posso fingir que sou uma princesa sofisticada e não uma
secretária júnior com mais contas para pagar do que existem dias no mês.
— Sonhando acordada, Petal?
Tomo um susto quando vejo meu patrão, doutor Augustus Acker, parado

na porta da sala.
— Eu sinto muito. Estava falando comigo? Às vezes me distraio.
Ainda fico um pouco embaraçada na frente dele, apesar de parecer fazer
de tudo para me deixar à vontade. Foi assim desde a primeira vez em que nos
encontramos. Simpático e nem um pouco arrogante.
— Estava pensando na festa para qual o seu filho me convidou depois do
baile.
Ele cruza os braços e sacode a cabeça de um lado para o outro, como se
desaprovasse o evento. Aliás, ele parece desaprovar um monte de coisas em

seu único filho.


— A Noite Escura. — diz.
Depois de meses trabalhando na nova função, ele sabe que eu e Lleyton
somos próximos. No começo pareceu preocupado, mas quando lhe garanti

que não havia nada além de amizade entre nós dois, relaxou.
— O nome parece meio redundante — brinco e ele sorri.
— Não quer ir?
— Tenho medo de me sentir desconfortável mas, ao mesmo tempo, estou
curiosa.
— Se ficar com vergonha, a escuridão será uma aliada. Você e meu filho
se tornaram amigos de verdade, não é?
— Se eu responder que sim, serei despedida?

— Não.
— Sim, acho que podemos dizer que somos amigos.
Ele concorda com a cabeça.
Não é estranho que seu único herdeiro tenha se aproximado de uma
funcionária e que isso não o aborreça?
Eu o encaro em dúvida sobre como perguntar o que quero saber. Não é a
primeira vez que quase toco nesse assunto e acabo recuando.
— Posso lhe perguntar uma coisa?
Ele me olha com cautela e sua postura muda, o que é bem esquisito.

Doutor Augustus sempre foi muito simpático comigo.


— Não prometo responder.
— Tudo bem. Eu não quero ser desrespeitosa. Estou muito feliz por ter
ganhado esse novo posto de trabalho, mas por que eu?

Comecei como auxiliar interno, o que basicamente é um serviço de


escravidão com um nome mais bonitinho. Acho que até a cafeteira tinha mais
prestígio do que eu. Absolutamente todo mundo mandava em mim.
Um dia fui enviada para servir café em uma reunião da diretoria, porque a
copeira que trabalhava diretamente com o CEO havia faltado.
Sabe lá Deus porquê, ele simpatizou comigo e pediu que eu ficasse como
faz-tudo, mas para ele exclusivamente.
Não muito tempo depois, pagou um curso, que só aceitei porque é um

benefício que a empresa concede aos funcionários e agora sou uma secretária
júnior. Não que isso seja algum privilégio, porque há mais quatro como eu só
para servi-lo, mas o salário é muito melhor.
Alguns funcionários ficaram com raiva de mim porque acharam que eu me
aproveitei da improvável amizade com o CEO para galgar na carreira.
Entretanto, por mais que eu me sinta incomodada com os olhares deles,
não poderia me dar ao luxo de recusar a promoção. Cada um que pense o que
quiser, no fim de tudo, estou sozinha para cuidar da minha família. Um prato
de comida quente na mesa, o aluguel pago e meu irmão vestido e calçado

decentemente é mais importante do que dar ouvido à maledicência alheia.


Além disso, o seguro-saúde nessa nova função me permite incluir
Phoenix. Infelizmente, minha tia não, mas ela ainda tem dinheiro que
guardou para sua aposentadoria, o qual eu administro com o maior cuidado, e

aos trancos e barrancos, vamos conseguindo sobreviver.


— Eu gosto de lutadores e você é uma — ele finalmente diz.
— Perdoe-me se o que vou falar vai soar rude. Sou direta em meus
argumentos. Sobre isso de eu ser uma lutadora, boa parte das moças que
trabalham aqui são.
— Nunca conversei com qualquer uma delas, mas com você, sim. É tão
difícil aceitar ajuda?
— Com todo o respeito, mas eu não quero favores. Trabalho para ganhar

meu salário e tento desempenhar minha função o melhor possível, mas nunca
vou aceitar qualquer outro tipo de auxílio injustificado.
— Agora parece que eu é que a ofendi.
— Não mesmo. Só estou esclarecendo que apesar de pobre, não espero
benefícios que não faça por merecer. O senhor me promoveu e eu agradeço.
Trabalho até tarde para que não se arrependa da chance que me deu, mas…
— Petal…
— Por favor, deixe-me concluir. A única coisa que eu tenho na vida é
minha honra. Receber um salário porque trabalho para isso, faz com que eu

possa me olhar no espelho todos os dias. O senhor tem sido um chefe


maravilhoso e parece ser um homem generoso também, mas eu não preciso
de nada além do que me paga como sua funcionária.
Começo a recolher minhas coisas, um pouco envergonhada do desabafo,

mas preciso deixar claro em que ponto estamos, somente para o caso dele
estar pensando algo diferente.
Nunca tentou avanços comigo, mas o que sei sobre homens poderosos?
Nada.
— Não há qualquer interesse oculto. Gosto de você e isso é tudo. Mas
agora sou eu quem quer lhe fazer uma pergunta: se é tão importante para você
preservar seu orgulho, por que aceitou o vestido que mandei entregar na sua
casa?

— Primeiro, porque o senhor disse que eu teria que ir ao baile de máscaras


a trabalho.
Foi a desculpa que ele me deu para que eu vá, e embora eu ache que pode
mesmo precisar de mim lá como assistente, em grande parte acredito que
tenha sido por pena quando eu lhe disse que não fui ao meu baile de
formatura no segundo grau, que seria minha grande chance de usar longo.
— Então aceitou por que não tinha roupa adequada?
— E nem condições de comprar. Considerei seu presente como despesa de
trabalho.

— E foi, mesmo — responde, para meu alívio. — Qual a segunda razão


para tê-lo aceito?
Pego meu celular e coloco na bolsa. Depois o encaro.
— Eu nunca sonho. Não tenho tempo para isso, porque estou sempre

preocupada demais em sobreviver, mas li outro dia que até os realistas


precisam sonhar de vez em quando. Depois que meu trabalho no baile de
máscaras terminar e eu for à "Noite Escura", vou me permitir sonhar por
umas horas.
Capítulo 4

Petal

— Nossa, pela sua cara você parece que está a caminho de um enterro, não
uma festa de bilionários — Phoenix diz.
Olho para o vestido de seda cor de vinho em cima da cama, com certeza

encomendado em alguma personal stylist[15] a mando do doutor Augustus,


porque o bendito ficou certinho em mim.
Ele tem um laço amarrado no pescoço e nada mais prendendo-o ao meu

corpo. Tão colado que parece que foi cortado sob medida. Não sou tímida,
mas ver meus quadris e bumbum tão marcados naquela roupa me deixa
insegura. O tipo sexy não combina comigo. Faço o estilo casual fora do
trabalho, até por falta de recursos mesmo — lá usamos um pretinho básico e

scarpin, que é uma recomendação do RH[16] da empresa.


Quando experimentei o vestido que ganhei do meu patrão, com uma
máscara do mesmo tecido que esconde meus olhos e nariz, deixando ver
apenas uma parte da bochecha para baixo, me senti como uma deusa.
Olhei o nome da estilista na etiqueta e quando fui conferir os preços de

suas roupas na internet tive um mini infarto. Eles começam em cinco mil
dólares. Eu o devolverei com certeza. Deve ser possível ajustá-lo para outra
funcionária caso haja uma situação de trabalho/festa como essa.
— Estou ansiosa — confesso.

— Conte uma novidade.


— Sou muito ansiosa sempre, né?
— Sim, muito, mas dizem que as mulheres de maneira geral são assim.
Eu começo a rir. Só meu irmão para aliviar minha vida, mesmo.
— Está mesmo empenhado em saber tudo sobre o universo feminino para
poder ser um namorador no futuro, é?
Ele concorda com a cabeça.
— E também CEO. Não se esqueça dessa parte. Vou ser tão rico que esse

vestido aqui — diz, pegando e colocando em cima da poltrona com todo o


cuidado. — Você vai poder usar para fazer compras no supermercado.
Sacudo a cabeça com os delírios do meu irmão e depois me jogo de costas
na cama, olhando para o teto. Ele se deita ao meu lado.
— O que há de errado, irmã?
— Nada que eu deva compartilhar com você. Seu mundo ainda é
encantado, Phoenix. Viva sua adolescência e deixe que eu cuido do resto.
— Não sou mais uma criança. Ainda falta muito para me tornar um adulto,
mas gosto de dividir as coisas com você.

Viro-me de lado e olho para ele.


— Sabe o que é? Hoje me dei conta de que às vezes eu nem percebo que
dia da semana é.
— Como assim?

— Não estou reclamando. Você e titia são meu tudo, mas eu mal consigo
me olhar no espelho. Nunca dá tempo de lavar o cabelo com mais cuidado,
sair com amigos. Tenho vinte e um, mas me sinto com cem.
— Por causa da nossa situação financeira?
— Por tudo, eu acho. Estou sempre cansada. Muito cansada. Não sei o que
é me divertir. Vejo as mulheres lá do trabalho conversando e elas parecem tão
alegres e descoladas, sabe? Todo mundo sai às sextas para um barzinho e às
vezes me chamam, mas eu me sinto desmotivada. Ao invés de um lugar cheio

e barulhento, minha cama parece bem mais convidativa.


Ele me encara como se fosse dizer alguma coisa, mas para no meio do
caminho.
— Manda.
— Não quero te deixar triste. — diz.
— O que é?
— Acho que mesmo que você fosse rica, não saberia se divertir. É muito
séria, irmã.
— Pensei que essa fosse uma boa característica.

— É você quem está reclamando de falta de diversão.


— E como eu faria isso?
— Eu não sei, mas posso te ensinar a fazer de conta. Quando estou
preocupado porque você fica sem dinheiro para as compras, eu penso que já

sou um CEO poderoso e posso resolver todos os nossos problemas com um


piscar de olhos. Acreditar no futuro me acalma um pouco.
Passo a mão em seu cabelo, que está um pouco longo demais. Faço uma
anotação mental para levá-lo a um barbeiro na próxima semana.
— Hey, eu não quero que fique ansioso por conta dos nossos problemas.
Vai dar tudo certo.
— Eu não consigo evitar. Quero ajudar e não sei como.
— Basta que continue sendo esse menino maravilhoso, Phoenix. Você não

me dá trabalho, pelo contrário, é meu incentivo para lutar.


— Sou o melhor irmão caçula do mundo, então?
Sorrio.
— Algo bem próximo disso.
— Nesse caso, acho que meus conselhos devem ser seguidos, senhorita.
— E qual seria?
— Brinque de fingir, como eu. Vá a essa festa e divirta-se. Não saberão
que não é uma deles também. Faça de conta que é rica e chique. Amanhã
pode voltar a ser minha irmã novamente, mas hoje, aproveite.

— Será que não vai pegar mal porque de certo modo é uma festa do
trabalho?
— Estou falando da que vai ter depois. A do escurinho.
Gargalho.

— Não deveria discutir sobre essas coisas com você.


— Por que não? Sou seu melhor amigo e quero te ver sorrindo.
— Está certo. Depois que o baile de máscaras acabar, vou me divertir.
Amanhã, tudo voltará ao normal e eu serei a mesma medrosa certinha de
sempre.
Horas depois

Sorrio e aceno com a cabeça pela milésima vez quando alguém conta o
que deveria ser uma piada. Acho que já fiz tanto isso nessa noite que vou

acabar com dor muscular em volta da boca. A única vantagem é que li em um


site que ginástica facial é bom para retardar as rugas.
— Está se divertindo? — Meu empregador pergunta ao meu lado.
Ele me pediu que, se alguma conversa relevante fosse iniciada, que eu
tomasse nota mental e assim que pudesse, passasse para o bloco do meu
celular para lhe enviar na segunda.
— Hum… — respondo, porque tenho um problema sério no que diz
respeito a honestidade. Não consigo mentir nem para salvar minha própria

vida.
— Não está? — insiste.
— O lado positivo é que não era esse o objetivo do baile de máscaras, mas
angariar fundos para sua instituição de caridade. Vim aqui como funcionária.
Fiz uma refeição maravilhosa que nunca poderia pagar, então acho que nesse
caso, diversão é superestimada.
Ele dá um sorriso discreto, como se estivesse constrangido.
— A partir de agora, considere-se liberada. Bonita como está, tenho
certeza de que logo conseguirá se divertir na tal Noite Escura.

— Não é errado? Quero dizer, por eu trabalhar para o senhor, não seria
antiético que eu me divertisse como uma convidada comum?
— Filha, a festa é de Lleyton. Repare que os meus convidados já estão
partindo e essa é minha deixa para sair também. Ninguém depois dos trinta e

cinco deve permanecer em uma festa de jovens. Vejo você na segunda.


Capítulo 5

Petal

Depois que ele sai, passo algum tempo andando pelo salão. Estamos em
uma mansão isolada, a cerca de meia hora do centro de Boston, que foi
alugada especialmente para as festas.
Quando o táxi me trouxe, tantas perguntas foram feitas na guarita cercada
de seguranças antes de me permitirem entrar, que não estranharia se
quisessem saber o tamanho da minha lingerie também.
Coloco a taça de água que estou segurando em uma mesa no canto e

depois, meio que me escondo atrás de uma pilastra, observando os


frequentadores do evento.
Mesmo que eu não soubesse que são bilionários, a postura os denunciaria.
Algo que tenho reparado depois que comecei a trabalhar para o doutor
Augustus é que os muito ricos demonstram poder sem sequer precisar abrir a
boca.
Acho que é a autoconfiança que o dinheiro trás. Têm a cabeça sempre
erguida, como se o mundo lhes devesse reverência. Até mesmo ele é assim.

Começo a circular e percebo que realmente a maior parte das pessoas mais
velhas está indo embora.
Paro no meio do salão e fico em dúvida do que fazer agora. Estou me
sentindo deslocada, mas tentando o meu melhor para não deixar transparecer.

Nesse instante, a máscara que uso é muito bem-vinda, pois cobre até quase
minhas bochechas, que sinto esquentarem.
Aperto minha bolsa de mão com força, louca para sair correndo. Quero
voltar para a segurança e zona de conforto que minha casa representa.
Entretanto, ouço a voz do meu irmão me dizendo para fingir que sou um
deles.
Posso fazer isso?
E então, como se a vida me oferecesse um desafio, quando levanto a

cabeça, eu o vejo parado a cerca de cinco metros de onde estou.


Há muitos homens aqui e a maioria de tão boa aparência quanto, mas ele
se destaca não só pelo tamanho e porte atlético, quanto por um par de
incríveis olhos azuis escondidos atrás de uma máscara de seda negra. O terno,
de corte impecável, assim como a camisa e a gravata também são negros, o
que lhe dá um ar misterioso e extremamente sexy.
Meu coração bate forte no peito, enquanto calor se espalha por todo meu
corpo. Deve ter chegado agora ou eu teria reparado. É impossível estar na
presença de alguém como ele e não notar.

Não consigo ver muito de seu rosto, mas uma barba do mesmo tom escuro
do cabelo recobre o queixo quadrado.
Tem um copo de uísque na mão e passa a vista no salão parecendo
entediado. Quando já estou pensando em ir para o outro lado, para não ficar

como uma idiota que nunca viu um homem bonito na vida, ele foca em mim.
Focar é um bom verbo nesse caso, porque toda sua postura muda. Vejo,
fascinada, ele enrijecer a coluna como um predador pronto para o ataque,
agora absolutamente concentrado em me encarar.
É um olhar de puro interesse masculino.
Sinto um estremecimento percorrer meu corpo e os bicos dos meus seios
despontarem no vestido. Preciso de muita força de vontade para não cobri-los
com as mãos, porque isso só chamaria mais atenção ainda para meu estado.

Prendo o fôlego.
O homem faz com que o termo beleza soe como algo banal.
Manter-me parada não é mais uma escolha, mas como se seu olhar me
prendesse no lugar.
E não estou preparada para o que vem depois.
Os lábios se movem e ele mostra os dentes em um sorriso tão sensual que
me faz imaginar aquela boca percorrendo meu corpo inteiro.
Como se tivesse vida própria, espelhando sua ação, eu sorrio também. Um
sorriso muito envergonhado, mas ainda assim, um sorriso.

As pessoas à nossa volta desaparecem. Não ouço mais as conversas, presa


no campo magnético do homem lindo.
Ele parece que dará o primeiro passo para se aproximar, quando um
moreno alto e muito forte se interpõe entre nós, tampando-o.

Sem jeito por provavelmente ter interpretado errado sua postura, me


afasto.
Onde estou com a cabeça? Ao que consta, ele pode ser até mesmo casado.
Qual a probabilidade de um homem lindo assim não ter alguém?
Subo as escadas para o piso superior, com a intenção de me esconder
depois da paquera fiasco.
A noite está enluarada e como boa parte da casa tem janelas grandes, acho
que do andar superior conseguirei enxergar ao menos a penumbra. Por mais

aventureira que eu tente ser, ficar no escuro com estranhos sendo que a única
pessoa que conheço é Lleyton, é um pouco assustador.
Confiro as horas no meu celular e vejo que tenho mais alguns minutos
antes que as luzes se apaguem.
Estou quase chegando no alto da escadaria quando alguém segura meu
braço. Volto-me para ver quem é e me deparo com Lleyton.
— Já fugindo? As luzes nem foram desligadas.
— Sou tão transparente assim?
— Depois que meu pai saiu de perto de você, ficou parecendo um

peixinho fora d’água.


— Porque esse não é meu habitat natural.
— Esquece isso por hoje. Toma aqui — diz, me oferecendo uma taça de
champanhe.

Olho para a bebida com receio.


— Não estou acostumada a beber.
— Deixa de ser boba, fez vinte e um há algumas semanas. Já tem idade

legal para álcool[17].


— Não disse que nunca bebi — falo, me sentindo ofendida por ele me
tratar como criança. — Apenas que não estou acostumada.
Irritada, pego a taça de sua mão. Ele bate nossos copos em um brinde e
dou um gole.

Tento evitar fazer careta quando a bebida desce pela minha garganta, mas
é difícil. É amarga e faz cócegas no nariz.
— Bom? — pergunta e acho que esconde um sorriso.
— Hum… Não é péssimo.
É, definitivamente eu não sou chique. Achei o tal do champanhe horrível.
— É a pior mentirosa do mundo, Petal.
— Não estava tentando mentir, mas ser educada.
— Sinceridade extrema não se trata de um defeito. Na verdade, é uma das
coisas que mais gosto em você.

Alguma coisa na maneira como ele diz aquilo me incomoda, mas não
consigo identificar o que é e de repente, percebo que não tem mais
importância porque começo a me sentir mais leve, liberada da tensão de
poucos segundos atrás.

Nossa, será que um gole no champanhe me fez ficar bêbada? Eu me sinto


tão bem que volto a levar o copo aos lábios.
— Venha, vamos subir — ele diz. — Quero lhe mostrar algo.
Estou pronta para lhe dizer que não, porque mesmo talvez um pouco
alcoolizada, não quero nada com ele. Não estou tão enferrujada em
relacionamentos para não reconhecer quando um cara quer dar uma desculpa
para ficar a sós comigo.
Só que o meu “não” custa a sair dos lábios, como se o mundo estivesse em

câmera lenta e eu só sacudo a cabeça de um lado para o outro.


Sinto-me definitivamente bêbada.
Antes que ele possa insistir para que subamos, alguém o chama. Mesmo
parecendo irritado, ele pede licença e vai ao encontro da pessoa.
Aproveitando a chance de escapar, subo as escadas.
Já estou no corredor, com a mão na maçaneta do que eu imagino que seja
um dos quartos, quando ouço alguém dizer atrás de mim.
— Encontrei você.
Olho para trás e vejo o moreno lindo e mascarado me encarando. Ele é

ainda mais alto e forte visto de perto.


Por alguns segundos, não consigo falar nada, de tão impactada que estou
com sua presença. Quando a voz finalmente sai, é para formar o comentário
mais estúpido do mundo.

— Daqui a pouco as luzes vão se apagar, né?


Grande, Petal. Não tinha nada mais brilhante para dizer?
Paciência, posso botar a culpa nos dois goles de champanhe.
Como se o universo conspirasse para me poupar de mais vergonha,
naquele exato instante, as luzes se apagam de fato, mas não antes que eu veja
novamente aquele sorriso sexy.
— Temos algum tipo de bruxa aqui? — Ouço sua voz mais de perto agora.
— Não, acho que feiticeira seria melhor. Só isso explicaria me fazer procurá-

la pela festa inteira sem nem ao menos ter certeza se não está com alguém.
— Eu não estou. Subi para fugir da festa — falo, antes que possa me
parar.
O que está acontecendo comigo?
— Aqui em cima parece um programa bem melhor. — diz.
— Não há nada aqui.
— Tem você. E é o que eu quero hoje.
Capítulo 6

Petal

Eu gostaria que a luz estivesse acesa para que pudesse ver o rosto dele.
Quão azarada eu tenho que ser para ser paquerada pelo homem mais
bonito que já vi na vida — se o que a máscara me deixou perceber
complementar o resto do conjunto — e isso acontecer em uma festa escura?
— Você tem um nome?
Geralmente me saio melhor em interações, mas meu cérebro parece ter

virado manteiga de amendoim.


— Todo mundo tem um nome, feiticeira.
Meu instinto manda me afastar, mas eu não consigo. Não é só porque me
sinto um tanto lenta, mas porque eu quero ver onde isso vai dar.
A pulsação acelera a tal ponto que acho que terei um ataque cardíaco.
— Eu sou Petal — ofereço, já que ele não parece disposto a ceder.
Conseguimos ver o contorno dos corpos um do outro, mas nada além
disso.
Estremeço quando sinto-o tocar minha mão, prendendo-a entre as suas e

levando aos lábios.


— Rafael. E então, quer fugir dessa festa comigo?
— Diz, irmos para outro lugar?
— Aham.

— Acho que não. Eu não te conheço.


— Tudo bem, ficamos aqui então, mas não curto muito barulho. Onde
estava indo?
De um jeito estranho, apesar de estar conversando no escuro com o
homem sexy, eu consigo relaxar.
— Fugindo do barulho, também. Isso é esquisito, já que estamos em uma
festa e o barulho deveria ser bem-vindo.
— Vamos ser esquisitos juntos então, Petal. Leve-me para onde pensou

em ir.
— Viria comigo sem me conhecer? Eu poderia sequestrá-lo.
Jesus, o que está havendo comigo? Não sou do tipo que flerta.
É estranho que eu possa sentir seu sorriso mesmo sem conseguir vê-lo?
E minha intuição é confirmada quando ele se abaixa e fala perto da minha
orelha:
— Sequestre-me, então, menina bonita. De repente, fiquei a fim de me
perder.
— Vamos ter que explorar juntos. Nunca vim a essa casa.

Ele segura minha mão e toma a frente.


É uma besteira, mas aquilo faz meu coração disparar. Definitivamente
estou precisando sair com mais caras. Se até um simples segurar de mãos me
emociona, se o tal Rafael tirar meu vestido, vou sonhar com casamento.

Dou risada do pensamento idiota e mais uma vez penso que não deveria
ter bebido aquele champanhe.
— O que houve? — ele pergunta quando entramos no que parece ser um
quarto.
— Um pensamento bobo, somente.
— Você está bêbada?
Sua voz demonstra preocupação.
— Não, e você?

É verdade, eu não estou. Somente fora do meu estado normal. Sou uma
pessoa naturalmente tensa, preocupada, mas nesse instante, é como se todas
as minhas inibições tivessem evaporado.
— Não dirigiria agora, porque álcool não é muito a minha e tomei duas
doses de uísque, mas sei quem é você.
— E quem sou eu, Rafael?
Suas mãos vêm para minha cintura.
— A deusa de cabelo loiro quase branco que fugiu de mim lá embaixo.
Puxo a respiração e o ar vem com dificuldade.

— Agarrei a oportunidade de fugir quando seu amigo entrou na sua frente.


— Por quê?
Dou de ombros.
— Achei que era impossível não estar acompanhado. Mesmo com o rosto

parcialmente coberto, percebi que você é lindo.


Sério, tem algo muito errado comigo.
Cadê o freio na língua, senhorita?
— Eu nunca estou acompanhado.
— Por que não?
— Nenhuma razão, mas prefiro sair sozinho e escolher. Relacionamentos
não são para mim.
Com qualquer outro cara, a declaração me faria sair de fininho,

definitivamente aquilo se encaixaria na lista do “contra” de Phoenix, mas ele


é muito gostoso para eu recuar agora.
— E então o que estamos fazendo aqui, Rafael?
— Nos conhecendo. Antes das luzes apagarem, eu estava pensando em ir
embora, mas depois que te vi, percebi que seria impossível.
— Por quê?
— Sem chance de eu conseguir dormir sem provar essa boca.
Meu coração bate com muita força contra minha caixa torácica.
— É o que vai fazer agora? Provar minha boca?

Ao invés de me responder, a mão aperta meu quadril e a outra me segura


pela nuca.
É um toque sutil, mas ao mesmo tempo completamente dominante e que
me faz perder a força das pernas.

Frio na barriga, calor. Estou sendo consumida por sensações e ele nem me
beijou ainda.
É uma atração carnal, algo que nunca pensei que fosse capaz de sentir.
Quando acredito que vou finalmente sentir seus lábios, ele me surpreende,
soltando minha máscara.
— Por que fez isso?
— Quero tocar seu rosto sem barreiras entre nós, Petal.
Meu Deus do céu, a maneira como o homem fala é tão erótico! É como se

dissesse: vou tirar sua calcinha.


Chego mais perto do corpo dele e levo minhas mãos até sua nuca.
— Quero sentir você também.
A atmosfera é de pura sensualidade e mesmo em minha inexperiência,
consigo perceber que o desejo é mútuo.
O beijo vem sem aviso, forte e gostoso como ele. Não estou preparada
para sentir o que sua boca em mim faz com meu corpo. O local onde sua mão
descansa em meu quadril, queima, formiga e não consigo me impedir de
gemer, colando-me nele. Meu corpo ondula, ansioso e sedento.

Sua reação é me trazer para mais perto, me imprensando contra cada


centímetro de seu físico duro, másculo.
Estou excitada e trêmula, entregue não a um beijo, mas a uma demanda
erótica. A língua de Rafael é safada, exploradora, me obrigando à rendição.

A boca me devora, chupando, mordendo e a única coisa que eu sei é que


quero mais.
Seguro seu cabelo entre meus dedos, puxando com a mesma pegada em
que ele agarra meu quadril.
Ele rosna contra meus lábios e a mão sobe, tocando meu seio por cima do
vestido.
Inclino a cabeça para trás, me oferecendo, querendo tudo o que ele me
entregar.

— Gostosa demais. Vem comigo, Petal. Quero você a noite inteira na


minha cama.
Meu corpo dói de desejo, mas ainda que eu não possa dizer que estou em
meu estado normal, me sobra um fio de racionalidade. Se sairmos daqui, vou
perder a coragem e eu nunca quis tanto algo em minha vida, como estar nos
braços dele.
Assim, ao invés de negar, corro minhas unhas por seu peito, entre a lapela
do blazer, arranhando-o sobre a camisa.
Um som rouco sai do fundo de sua garganta, arrepiando-me.

Ele me suspende, tirando meus pés do chão e posso sentir seu sexo duro
através da roupa.
— Aqui? — pergunta, mordendo meu pescoço.
Não precisa dizer mais nada porque nós dois sabemos do que está falando.

— Sim. Não pare de me tocar, Rafael.


Minha pele está em chamas e eu me desmancho em minha entrega.
Capítulo 7

Rafe

Uma fração de segundo.


Somente por isso eu não deixei de ver a deusa loira platinada a alguns
passos de distância.
Cinco minutos depois que cheguei à festa com Archer, eu já estava
arrependido de ter vindo.
Não me entenda mal, adoro a noite. Sair com amigos, me divertir e no fim,
escolher minha companhia feminina para dividir uma madrugada regada a
bom sexo. É quase que uma rotina atualmente, já que minha última lesão me

afastou do circuito mundial, mas antes de vê-la, essa festa estava chata para
caralho.
Estava, guarde bem esse verbo, porque agora há algo — alguém — que
virou completamente o jogo.
O cabelo dela, solto e longo, é de um tom tão claro que se destaca em
contraste com o vestido, da mesma cor de uma taça de vinho tinto. É isso o
que me prende a atenção em primeiro lugar. Porque mesmo com uma roupa
adequada para uma festa à noite, ela parece cem por cento natural, como uma
brisa fresca, se destacando.

Entretanto, após uma verificação completa, percebo que tudo nela e não só
o tom chamativo do cabelo, me agrada muito.

Ela tem uma cintura fina, daquele tipo que lembra uma pin-up[18] e só
consigo pensar em como ficaria vestida em espartilho de seda negra, cinta

liga e saltos.
Não sinto qualquer vergonha de admitir que devoro seu corpo com os
olhos. A mulher é uma escultura e o vestido colado não deixa muito à
imaginação.
Suas pernas são longas, apesar de poder ser considerada baixinha e mesmo
que completamente cobertas, me excitam. Já as imagino à minha volta
enquanto a seguro pelos quadris, entrando nela.
Finalmente foco em seu rosto e a pego em flagrante, me encarando sem

disfarçar o interesse.
Sorrio porque ela parece uma presa intimidada, mas não desvia o olhar.
Porra, eu daria qualquer coisa para arrancar aquela máscara e ver o que
complementa a boca carnuda. De longe também não consigo definir bem a
cor dos seus olhos, mas terei tempo para isso mais tarde, porque na minha
cabeça, não há dúvidas de que quero a mulher linda para essa noite.
Nunca fui de esperar as coisas acontecerem, então resolvo ir à caça. Levá-
la embora daqui se tornou meu objetivo, mas nesse exato momento, Archer
resolve aparecer, se interpondo entre nós.

— A festa está uma merda. E você tinha razão quanto as máscaras. Estou
me sentindo ridículo. Se a tal Noite Escura não começar logo, estou indo
embora.
— Eu não — falo, olhando por cima do ombro dele.

Foda-se, não consigo encontrar minha deusa misteriosa em lugar algum.


Vendo que não estou prestando atenção nele, olha para trás.
— O que há de errado?
— Vi alguém que eu quero.
— Onde? Aqui parece só ter mulheres com o dobro da minha idade.
— Como se isso fosse problema para você, né?
— Não é mesmo. Eu não discrimino. Desde que seja gostosa, a idade é só
um número.

Mal ouço o que ele diz, correndo os olhos por todo o andar inferior
enquanto circulamos, quando vejo um pedaço de tecido vinho no alto da
escada.
— Achei. Não me espere para ir embora. Vou levá-la comigo.
— Se quer mesmo essa menina é melhor se apressar. Ouvi alguém
dizendo que as luzes se apagarão daqui a poucos minutos.
A escadaria está cheia, não só de pessoas transitando, mas algumas
paradas.
Vejo-a conversando com um cara loiro e aguardo a alguns passos de

distância.
Eu tenho muitos defeitos, mas há uma regra a qual sou fiel: nunca me
envolvo com a mulher de outro. Nem por um segundo considerei que ela
poderia estar acompanhada.

Merda.
Logo depois, no entanto, vejo o sujeito se afastar e a loira continuar seu
caminho.
Sua bunda é empinada, contrastando com a cintura fina. Ela tem um
suave rebolado quando anda, que é sexy para caralho.
— Encontrei você — falo.
Sim, sutileza nunca foi meu forte.
Como eu esperava, ela olha para trás.

A boca de lábios cheios e que agora vejo, são naturalmente vermelhos,


abre e fecha, como se pesasse o que dizer.
— Daqui a pouco as luzes vão se apagar, né?
Não era o que eu esperava ouvir. Achei que alguém tão sensual seria mais
segura do próprio poder, mas ela parece envergonhada.
Como se suas palavras tivessem poder, tudo fica escuro, mas não antes
que eu descubra a cor exata dos seus olhos: azuis como os meus, só que de
um tom bem mais claro.
— Temos algum tipo de bruxa aqui? — sussurro, me aproximando —

Não, acho que feiticeira seria mais apropriado. Só isso explicaria me fazer
procurá-la pela festa inteira quando eu nem ao menos tinha certeza se não
estava com alguém.
Cartas na mesa para que não tenha dúvidas do que desejo.

— Eu não estou. Subi para fugir da festa.


— Aqui em cima parece um programa bem melhor.
É esquisito, mas ao mesmo tempo íntimo conversar no escuro.
— Não há nada aqui.
— Tem você. E é o que eu quero hoje.
Ela demora uns segundos para responder e quando o faz, novamente me
surpreende:
— Você tem um nome?

— Todo mundo tem um nome, feiticeira.


— Eu sou Petal.
Pego sua mão entre as minhas para dar um beijo no dorso.
— Rafael. E então, quer fugir dessa festa comigo?
— Diz, irmos para outro lugar? — gagueja.
— Aham.
— Acho que não. Eu não te conheço.
Sua resposta confirma minha intuição. Apesar de linda e sensual, ela é
somente uma garota.

— Tudo bem, ficamos por aqui então, mas não curto muito barulho. Onde
estava indo?
— Fugindo do barulho, também. Isso é estranho, já que estamos em uma
festa e o barulho deveria ser bem-vindo.

— Vamos ser esquisitos juntos então, Petal. Leve-me para onde pensou
em ir.
— Viria comigo sem me conhecer? Eu poderia sequestrá-lo.
Porra, ela me excita demais. Há muito tempo não preciso jogar para
ganhar uma mulher e o flerte leve do anjo loiro está fazendo meu sangue
ferver.
Abaixo-me para falar perto do lóbulo dela, os lábios roçando a carne
macia.

— Sequestre-me, então, menina bonita. De repente, fiquei a fim de me


perder.
— Vamos ter que explorar juntos. Nunca vim a essa casa.
Pego sua mão e entro no cômodo em que estamos em frente. Mesmo na
penumbra, dá para notar que é um quarto. O formato da cama é
inconfundível.
Se fosse na minha adolescência, ficaria mais do que feliz por ter uma tão a
mão, mas não me agrada a ideia de foder na casa de alguém.
Ela dá uma risada e posso ver também que balança a cabeça de um lado

para o outro.
— O que houve?
— Um pensamento bobo, somente.
— Você está bêbada?

Caso a resposta seja positiva, pararemos por aqui.


— Não, e você?
— Não dirigiria agora, porque álcool não é muito a minha e tomei duas
doses de uísque, mas sei quem é você.
— E quem sou eu, Rafael?
Eu a puxo pela cintura.
— A deusa de cabelo loiro quase branco que fugiu de mim lá embaixo.
— Agarrei a oportunidade de fugir quando seu amigo entrou na sua frente.

— Por quê?
— Achei que era impossível não estar acompanhado. Mesmo com o rosto
parcialmente coberto, percebi que você é lindo.
— Eu nunca estou acompanhado.
— Por que não?
— Nenhuma razão, mas prefiro sair sozinho e escolher. Relacionamentos
não são para mim.
Independentemente do tempo que passe com minhas parceiras, uma
semana, um dia ou uma hora — não as iludo.

— E então o que estamos fazendo aqui, Rafael?


— Nos conhecendo. Antes das luzes apagarem, eu estava pensando em ir
embora, mas depois que te vi, percebi que seria impossível.
— Por quê?

— Sem chance de conseguir dormir sem provar essa boca.


Ela estremece em meus braços.
— É o que vai fazer agora? Provar minha boca?
Jesus, a garota parece apertar os botões certos para me matar de tesão.
Seguro sua nuca, enroscando os dedos em seu cabelo. Encontro o que
estou procurando e desfaço o laço que prende sua máscara.
— Por que fez isso?
— Quero tocar seu rosto sem barreiras entre nós, Petal.

Corro um polegar por seu maxilar e é como encostar em seda pura.


— Quero sentir você também — diz, fechando os braços em volta do meu
pescoço.
Ter pela primeira vez suas mãos em mim, faz o desejo que me queima
desde o momento em que pus os olhos nela, explodir.
Capítulo 8

Rafe

O desejo que a mulher me desperta é algo que beira o incontrolável, é


primal.
Ela cheira bem e nem tenho certeza se está usando perfume. Sua carne é
quente, macia, e tem um odor de fêmea que está me deixando louco.
Não consigo mais esperar e tomo sua boca em um beijo urgente, a
necessidade de sentir seus lábios e de mordê-la transformando o contato em
um ato de quase brutalidade.

Eu a puxo para mim, não permitindo mais qualquer vão entre nós. Preciso
sentir cada curva de seu corpo delicioso.
Petal é toda feminina, quadris largos, bunda grande, peitos tentadores.
Cada reentrância se encaixa perfeitamente contra minha dureza, como se
fôssemos peças de um quebra-cabeça à espera do complemento.
A boca quente se abre como uma flor delicada. Ela se oferece,
implorando para ser tomada, e meto minha língua com gosto, explorando seu
sabor doce.
Treme contra meu corpo e imita minha dança entre seus lábios, as línguas

criando um intrincado labirinto, correndo ao encontro e fugindo, sugando,


lambendo, precisando.
Ela se esfrega em mim, toda entregue, necessitada. Eu a imprenso, aperto,
a faço gemer, mostrando o quanto a quero.

Força contra suavidade, nossos corpos colados queimam mesmo através


do tecido das roupas e meu pau pulsa de vontade de invadir sua carne.
Ela é deliciosamente passional, me mordendo de volta e chupando com
força, puxando meu cabelo sem esconder o quanto está morrendo de tesão
também.
Aperto seus quadris querendo marcá-la, e quando ela se esfrega em mim,
toda dada, eu rosno em sua boca.
Alcanço o mamilo durinho por cima do tecido macio e ela choraminga

quando eu o pinço com o polegar e o indicador.


— Gostosa demais. Vem comigo, Petal. Quero você a noite inteira na
minha cama.
Não costumo levar as mulheres para minha casa, mas a um apartamento
que mantenho para esses encontros, entretanto, sem que eu consiga entender
por quê, quero-a onde eu durmo e que esse cheiro que está dominando meus
sentidos fique misturado nos meus lençóis.
Ela não responde, mas me arranha o peito sobre a camisa, me mostrando
o que quer e que sua urgência é tão grande quanto a minha.

Um urro preenche o ambiente e somente quando ela geme de volta


percebo que veio de mim.
Eu a suspendo, moendo meu pau duro contra sua boceta, as mãos
segurando sua bunda.

— Aqui? — pergunto, porque é a última chance dela escapar.


— Sim. Não pare de me tocar, Rafael.
Eu a carrego para a cama, deitando-a, e mesmo na escuridão, fico um
tempo observando-a, tentando adivinhar o que faltou ver no rosto que eu sei
que é lindo.
— Daria qualquer coisa para acender essa luz.
— Não tem como, e eu prefiro assim.
Deito-me ao seu lado, desenhando o contorno da mandíbula com o dedo.

Beijo seu pescoço e desço, fazendo um caminho com a ponta da língua no


ombro desnudo.
— Tímida?
— Não. Inexperiente. Mesmo que hoje eu esteja me sentindo audaciosa, a
luz me deixaria encabulada.
— Essa noite — falo, soltando a máscara e jogando longe — vai ser
assim, mas na próxima, eu a quero com luz, baby. Você nua em minha cama.
Não sou aquele que faz planos com mulheres, mas me conheço o bastante
para ter certeza de que uma foda de uma noite não vai ser nem perto do

suficiente com essa deusa.


Tiro o blazer e os sapatos.
Deito-me de costas e faço com que me monte.
Mesmo que prefira fazer sexo com a luz acesa porque sou totalmente

visual, há algo de muito erótico em senti-la apenas.


— Solte o vestido para mim.
— Você está com a camisa ainda.
— Depois que tirar o vestido, pode fazer o que quiser com a minha
camisa. Eu não dou a mínima.
Ouço o som baixo de sua risada e vejo os braços indo até seu pescoço.
Agarro seus quadris e, quando movimento-a em cima da minha extensão
dura, ela para o que estava fazendo. Somente a lingerie protege sua boceta, e

mesmo através do tecido, sinto o calor do seu sexo.


— Ahhhhhhhh…
— Solte o vestido, amor.
Observo o tecido descer do pescoço, mas ficar pendurado nos seios
cheios e firmes.
— Abaixe o resto.
— Não vai poder me ver de qualquer modo.
— Eu não quero barreiras entre nós.
— Se está esperando ser seduzido, vai se decepcionar. Eu não sei fazer

isso.
— Acredite quando eu digo que desde que mordeu o lábio e sorriu para
mim lá embaixo, você me seduziu.
Eu me sento e o movimento faz com que o vestido escorregue pelo seu

corpo.
Posso sentir sua respiração pesada, agora que estamos mais próximos.
Ao invés de tocá-la com a mão, abaixo a cabeça e pego só o mamilo entre
meus lábios. Sugo e mordisco, e ela geme, agarrando meu cabelo.
— Eu quero você me entregando esses sons quando eu estiver comendo
sua boceta com a minha língua.
Ela segura meu rosto e, se ajoelhando, toma a iniciativa de me beijar.
Movo a mão entre nós e, com os polegares, acaricio os mamilos rijos.

Petal estremece e me beija duro, tão esfomeada quanto eu mesmo.


— Tira isso.
Puxo seu vestido por cima de sua cabeça, e agora tudo o que sobrou é
uma calcinha que percebo ser fio dental, porque quando toco sua bunda, está
completamente nua.
— Jesus, menina, você é um espetáculo. Esta escuridão vai me assombrar
para sempre. Preciso vê-la nua.
Ela não para de me beijar e, ao mesmo tempo, abre minha camisa.
Impaciente, fogosa. A deusa-pétala é um furacão na cama.

Tanto quanto desejo sua boca em mim, quero prová-la. Então,


aproveitando que está ajoelhada, mordo sua barriga, cheirando, deslizando a
língua até alcançar os mamilos outra vez. Não há mais suavidade em minhas
carícias, mas pura luxúria.

Toco por cima da calcinha encharcada, sem parar de sugar seu peito, o
dedo médio fazendo um vai e vem gostoso no clitóris.
Ela arfa e as pernas se desmancham.
— Quero sentir você nu também.
— Não consigo parar de tocar você, Petal. É como um vício. Quero mais
de sua pele e desse gosto doce.
— Por favor, tire tudo.
Eu a levanto de cima de mim, mas ao invés de fazer o que me pediu,

depois de terminar de tirar minha camisa, puxo sua calcinha pelas pernas.
Beijo o interior de suas coxas e, a cada estremecer dela, meu tesão aumenta.
Ela é muito responsiva e mal posso esperar para senti-la à minha volta, me
apertando e sugando-me para dentro do seu corpo.
Meus dedos seguem um caminho reto até o vértice entre suas coxas.
Reclinado sobre ela, sugo o mamilo e quando meu polegar resvala seu
clitóris, a delícia quase se levanta da cama.
— Porra, eu quero entrar tão duro em você, mas também preciso chupar
essa boceta ou vou enlouquecer.

Coloco suas pernas sobre meus ombros, separo os lábios úmidos com as
duas mãos e mamo seu clitóris. Petal quase se levanta da cama, mas eu não
paro.
Lambo seu sexo de boca aberta e meto a língua muito fundo.

Ela goza mais rápido do que eu previra, molhando minha boca, e eu sugo
tudo, engolindo seu mel.
Levanto-me e fico nu mais rápido do que já me lembro de ter feito, mas
não antes de pegar um preservativo na carteira. Visto-o, prometendo que vou
fazer lento na segunda vez, mas agora preciso muito forte, quero ouvir nossas
carnes se batendo.
Posiciono-me entre suas coxas, apoiado nos cotovelos, e mordisco seu
lábio inferior.

— Quero essa boca em mim ainda hoje, amor.


Ela arfa e aperta meus braços.
— Eu nunca… eu não…
— Nunca? — pergunto sem conseguir acreditar.
Onde essa mulher se escondeu?
— Não, mas quero aprender.
— Jesus, linda, se você fosse mais sexy, juro que me mataria do coração.
Parece que cada coisa que sai dessa boca gostosa é uma provocação.
— Não é.

Passo meu polegar no contorno dos seus lábios e ela suga meu dedo.
Mordo seu pescoço como uma espécie de punição por me deixar tão louco.
Ela geme e de novo os quadris se erguem da cama.
Pego uma de suas pernas e coloco à minha volta, a cabeça inchada do

meu pau testando sua abertura.


— Ahhhhhh…
Beijo não para calá-la, mas para consumi-la, engolindo e degustando tudo
o que estiver ao meu alcance.
Não é um contato gentil, mas impetuoso, selvagem.
Penetro-a com o indicador e gemo quando sinto o quão apertada é.
Massageio seu canal estreito, preparando-a e em seguida, encaixo um
segundo dedo.

Ela se aperta no entorno, pulsando, e eu sei que não posso mais esperar.
— Eu preciso entrar em você.
Separa as coxas e sua submissão me enlouquece.
Encaixo-me e começo a penetrá-la.
Juntos somos como puro aço do meu pau contra a seda de sua boceta;
mesmo através do preservativo, posso sentir sua maciez e quentura.
— Mais — pede.
— Estou tentando não te machucar. Você é muito apertada.
— Eu…

— O quê?
— Está muito… ah… Muito gostoso assim, mesmo doendo um pouco.
Não pare.
Empurro nela para que apenas a cabeça do meu pau entre por completo,

mas ela rebola e eu perco o controle, percorrendo o resto do caminho e


fazendo-a tomar tudo.
— Oh, Deus…
— Porra, que boceta deliciosa, Petal.
Ela morde meu bíceps em resposta.
Começo a me mover, e a cada vez que entro e saio, ela se contrai em volta
da minha ereção.
— Tranque as pernas na minha cintura.

Obedece e eu saio quase todo. Imprimo um ritmo lento para meus


padrões, mas quase gozo quando sinto-a se dilatando cada vez mais.
Quando ela começa a se mover junto comigo, me arranhando e
implorando por mais, meto sem contenção, em golpes profundos e rápidos.
Nós dois estamos tremendo. Eu nunca experimentei algo assim. Ela é um
tesão.
Mantenho um ritmo constante, mas não é o suficiente para satisfazer meu
desejo.
— Fica de quatro para mim. Quero te comer sentindo essa bunda

redondinha nas minhas mãos.


Não espero por uma resposta. Saio dela e a deito de bruços.
— Empina essa bunda, amor.
Ela fica em seus joelhos e mãos, mas eu a puxo para cima e meto nela

assim: uma mão brincando com seus peitos e a outra acariciando o clitóris
rijo. A boca roubando beijos.
A posição é uma delícia, mas não me permite fodê-la como eu quero.
Depois de mordiscar sua orelha, eu a faço se inclinar.
Penetro-a até a base, minhas bolas encostando em seus pelos. Ela se fecha
como uma luva apertada à minha volta, suas paredes internas comprimindo
quase ao ponto da dor.
Merda, vou resistir muito menos tempo do que gostaria, mas eu trouxe

vários preservativos e não pretendo parar nem tão cedo.


Finco uma das mãos em sua bunda dura e, com a outra, enrolo um
punhado de seu cabelo, puxando-o.
— Rebole para mim, gostosa.
Quando ela me obedece, eu começo a comê-la mais rápido, a mão indo
para o clitóris, espalmando sua boceta pingando de tesão.
— Rafael…
Caralho, a mulher consegue me enlouquecer apenas gemendo meu nome.
— Goze comigo.

Abaixo-me para lamber sua coluna e aumento o aperto em seu cabelo e


quadril quando volto a me erguer.
Estou muito perto do gozo, mas quero fazê-la vir junto comigo.
O ritmo da foda é alucinante, cru, puro desejo. Os corpos molhados de

suor escorregam ao contato.


Martelo sem interrupção no corpo apertado, dentro e fora. Ela
choraminga e avisa que vai gozar. Sei que estou à beira do penhasco e não
diminuo a força com que a tomo.
Quando ela me entrega seu gozo em um gemido interminável, sua boceta
me aperta ainda mais.
Continuo metendo e o som do encontro dos corpos se sobrepõe à música
lá fora. Nunca vivi nada tão erótico.

Mudo a posição do quadril e tenho que fechar os olhos quando uma


descarga de tesão ainda mais intenso me atinge.
Gozo e meu orgasmo parece não ter fim, como se nada pudesse romper
nossa conexão.
Mesmo depois de sair dela, eu ainda a sinto.
Deito-me e após descartar o preservativo, a puxo sobre mim.
E então, eu faço algo que jamais imaginei, e mal posso acreditar que sou
eu falando quando digo:
— Isso não acaba hoje. Eu quero mais.
Capítulo 9

Petal

— Onde pensa que está indo? — Ouço uma voz masculina, meio
sonolenta, me perguntar no escuro quando me sento na cama enorme,
tentando me situar no universo.
— Não sei. Levantar, eu acho.
— Ainda não. Quero um pouco mais de você.
Ele me puxa de novo para seus braços e agora que aquela estranha névoa
passou, me sinto um pouco intimidada por estarmos ambos nus.
Entretanto, rapidamente essa vergonha se desfaz quando sinto o calor de

seu abdômen contra meus seios, já que ele me puxou para cima de seu corpo.
Sua mão enrosca em meu cabelo, a boca tomando a minha. Reconheço seu
toque e sabor, aos poucos lembrando o que aconteceu depois que chegamos
ao quarto.
Sinto calor esquentar meu rosto e pescoço.
Eu fui para a cama com um desconhecido. Depois de uma única
experiência sexual frustrada aos dezoito anos — a perda da minha
virgindade — eu fiz amor com um homem do qual eu não sei nada.
Obrigo-me a me afastar um pouquinho porque não consigo pensar com ele

me beijando daquela maneira intensa. Como se a minha boca fosse seu


alimento preferido.
— Qual é o seu nome?
— Achei que já havíamos passado por esse tópico, linda — diz,

mordiscando minha orelha.


Estremeço, meu corpo totalmente aceso outra vez.
— Quis dizer nome completo.
Ele ri e eu não entendo nada.
— Está brincando, né?
— Não estou. Só agora me dei conta de que sei apenas seu primeiro nome
e dormir com estranhos não é algo que eu faço.
Estica a mão para acender o abajur, mas nada acontece.

— Não vão ser acesas até de manhã.


— Como sabe disso?
Fica na ponta da língua contar que trabalho para o pai do dono da festa,
mas me seguro.
— É o que imagino. Qual o sentido de uma festa no escuro e depois
acender a luz? Até porque pode ser que se assustem com a companhia.
Ele ri e juro por Deus que até a risada do homem é sensual.
— Eu sei o quanto você é gostosa. Não preciso de luz para ter certeza
disso.

— Nome — exijo, super sem jeito.


Minha primeira e única experiência sexual foi algo bem apressado no
quarto do meu namoradinho do segundo grau e com os pais dele no andar de
baixo. Então estou muito intimidada agora que a névoa do álcool passou.

— Rafael Oviedo.
É minha vez de dar risada.
— Isso foi engraçado.
— Não sabia quem eu era mesmo... — diz, como se falasse consigo
mesmo.
— Você é o campeão de golfe?
Minha voz sai meio estrangulada e a vontade de correr é muito grande,
mas nem teria essa opção, porque seus dedos começam a correr minha

coluna.
— Não, nesse momento sou o cara que vai te fazer gozar gostoso, Petal.
Nessa segunda vez em que acordo, ele não tenta me impedir de sair e acho
que é porque está dormindo pesado.
Rafael Oviedo!
Jesus Cristo, o que eu fiz?
A ideia de me misturar aos bilionários saiu completamente de controle. O
homem aparece em capaz de revistas com as mulheres mais lindas do mundo.
Começo a recolher minha roupa pelo chão com a ajuda da luz do celular.

São três da manhã e o dia vai demorar muito a clarear. Como prometeu,
provavelmente Lleyton só mandará religar a energia ao amanhecer.
Preciso ir embora daqui o mais rápido possível porque eu não tenho a
menor dúvida de que quando ele souber que sou literalmente a Gata
Borralheira e não uma das ricaças com quem costuma sair, vai se arrepender
do que aconteceu.
Eu não e vou guardar o que vivemos para sempre na memória. Se ao
clarear o dia, ele me rejeitar, eu vou me sentir usada e por enquanto para
mim, esse é um jogo de iguais: nos desejamos mutuamente e fizemos amor.

Além disso, tem o fato de que se eu saísse pela manhã e encontrasse com
Lleyton, morreria de vergonha. Ele iria somar dois e dois e perceber que
dormi com um de seus conhecidos.
Acho que nunca me vesti tão rápido na vida. Toda a letargia da noite

passada desapareceu. Preciso fazer uma anotação mental para nunca mais
tomar champanhe.
Deixo minha máscara no chão. Não há mais qualquer sentido em usá-la,
como ele bem apontou há algumas horas.
Olho para trás e vejo o contorno do corpo masculino em cima da cama. O
meu acende ao me lembrar do que fizemos, das coisas que ele me disse.
Doce Senhor, o homem é um sedutor. Chega a ser injusto com o resto da
humanidade.

Agora que sei quem ele é, tenho seu rosto, que aparece principalmente em
comerciais de uma marca de carro de luxo, claramente na minha memória.
Ele não é só perfeito fisicamente, mas como pude comprovar por essas horas
que passamos juntos, sensual demais.
O primeiro andar está um breu e não consigo ver nada, apesar de escutar
sussurros, provavelmente de alguns casais espalhados.
Também há música ambiente, mas se eu pudesse chutar, diria que a
maioria das pessoas está espalhada fazendo o que eu e Rafe fizemos há
algumas horas.

Deus, preciso sair daqui bem depressa.


Diminuo a luz do celular e mesmo envergonhada por atrapalhar a
privacidade dos outros, uso-o para me guiar para a saída. Erro o caminho
algumas vezes, mas quando vejo uma porta aberta, sigo direto para lá.

Assim que a alcanço, tento ligar para o serviço de táxi, ao mesmo tempo
em que finjo não notar os olhares que os guarda-costas me dirigem.
Há tochas iluminando os jardins, permitindo que vejamos perfeitamente
uns aos outros.
Pelos seus rostos, deixam claro que não é a primeira festa do tipo que
trabalham. Será que sabem o que acontece lá dentro?
Que vergonha!
O telefone está sem sinal.

Droga!
— Táxi, senhorita? — um dos seguranças pergunta, ao se aproximar.
— Sim, mas meu telefone não funciona.
— Aqui às vezes funciona e às vezes não, dependendo da operadora de
telefonia. Doutor Lleyton Acker pôs vários motoristas à disposição dos
convidados, justamente por isso. Se fizer a gentileza de me acompanhar, eu a
levarei até um deles.
Andamos em silêncio até o local onde os carros estão estacionados no
pátio da propriedade e quando chegamos lá, ele abre a porta para mim.

— Muito obrigada — me despeço.


— Para onde, senhorita? — o motorista pergunta.
Depois que lhe passo meu endereço, deito a cabeça no encosto do carro.
Acabou sua noite encantada, Petal. Agora, é hora de voltar para a

realidade e as obrigações com a família.


Para todo o sempre, os momentos passados com Rafael Oviedo serão um
sonho para os dias tristes. Posso seguir o conselho de Phoenix e fingir. Fazer
com que aquele momento dure para sempre em minha memória.
Capítulo 10

Rafe

Desperto e a primeira coisa que percebo é que estou sozinho.


Nu e sozinho em uma casa a qual eu não sei a quem pertence.
Levanto-me da cama e pego o celular no bolso do blazer largado no chão.
Testo o interruptor e nada de luz ainda, então usando a lanterna do
aparelho, resolvo fazer uma vistoria pelo quarto. Além das minhas roupas, há
somente nossas máscaras, lado a lado no chão. A dela, como o sapatinho de
cristal da Cinderela, uma provocação como se me dissesse: venha me pegar.
Preciso de somente um minuto para entender que Petal foi embora.
Assim, sem um adeus, sem me dar seu telefone e nem nada.

Não é inédito fazer sexo por uma noite com alguém que acabei de
conhecer. É muito comum na minha vida, mas é a primeira vez em que a
mulher vai embora antes de mim.
Começo a me vestir, pensando em como fui arrogante ao ponto de não
perguntar porra nenhuma sobre ela, certo de que acordaríamos juntos.
Não, não é arrogância, mas uma questão de fato. As mulheres raramente
encaram o sexo como nós. Por mais que haja um acordo não expresso em
palavras de que será somente uma relação casual como nessa noite, ainda
assim, na maioria das vezes, esperam por mais. Por isso achei que ela estaria

ao meu lado quando eu acordasse.


Será que é essa a sensação que elas têm quando despertam no dia seguinte
e eu já estou pronto para partir?
Em qualquer outra situação, eu não me importaria, mas não tive o

suficiente de Petal ainda. Preciso de mais noites com ela em minha cama
porque não me lembro de já ter experimentado antes uma química sexual tão
intensa com uma mulher.
Eu ainda consigo sentir o gosto doce de sua boceta em minha língua. Os
gemidos de prazer cada vez que martelava gostoso dentro dela.
Porra! Eu quero mais. Preciso encontrá-la.
Meu celular toca e vejo que é Archer.
— Estou indo embora agora. Ainda está na festa?

— Não na festa, mas dentro da casa.


Ele ri.
— Encontrou sua loira.
— O nome dela é Petal. Encontrei e a perdi em seguida. Acordei e havia
ido embora.
— Merda, eu daria qualquer coisa para ver sua cara. Pela voz, percebo
que foi pego de surpresa.
Não compro a provocação dele.
— Eu preciso vê-la ao menos mais uma vez.

— Para quê? Não vai se isolar na tal ilha? Quando voltar ela
provavelmente já estará até casada — debocha.
Sei que ele tem razão com relação a tudo. Qual a chance daquela deusa
continuar solteira por um ano? Mas não estou pronto para ceder tão fácil.

Mais uma noite com ela é tudo o que preciso e então, poderei seguir em
frente.
— Vou descer — respondo, sem me comprometer com relação a Petal. —
Disse que ainda está aqui?
— Sim, do lado de fora, já. A festa ainda está rolando, mas para mim já
deu. Essa coisa de adolescente de foder na casa dos outros não é a minha.
— O que não o impediu de fazê-lo.
Outra risada.

— Não, mas prefiro no apartamento que mantemos para isso.


É, eu não tenho como discordar. O que aconteceu hoje foi surreal. Nunca
me exponho com uma mulher, principalmente por conta da minha imagem
como atleta, mas também, porque por mais de uma vez apareceu uma modelo
com quem saí e outras que nem conhecia, dizendo estar grávida do meu filho.
Sou retratado como um príncipe pela imprensa e sexo com parceiras
aleatórias várias vezes no mês não é exatamente um bom cartão de visitas.
Isso não tem nada a ver com meu contrato com patrocinadores, eu não dou a
mínima para perdê-los, já que uso o que recebo deles para doações a projetos

sociais, mas com o fato de que tira minha concentração do que realmente
importa — o golfe — e também me dá uma dor de cabeça fodida com a
minha família.
Quer deixar dona Isabel louca? Fale sobre a possibilidade de que eu tenha

um filho e não o assumi.


— Estou descendo — falo para Archer e desligo o telefone.
Saio do quarto tentando desviar de algumas pessoas no corredor, que
parece mais cheio do que quando vim atrás de Petal.
Sem medo de errar, essa noite entrará para a história como uma das mais
insanas da minha vida, não só pelo inusitado de transar em uma festa, como
por ela.
Não há chance de que eu vá deixar passar. Vou tentar encontrá-la antes de

viajar. Preciso ouvir seus gemidos mais uma vez antes de me isolar em meu
retiro voluntário.
Piso no último degrau da escada e agora já se consegue ver alguns
contornos dos corpos espalhados pelo ambiente. Gemidos também, o que
significa que há muitas pessoas se divertindo.
Balanço a cabeça, prometendo a mim mesmo que é a última vez que deixo
Archer me arrastar para esse tipo de merda. Mesmo que a festa tenha sido
uma agradável surpresa por conta do encontro com minha Pétala, estou velho
demais para fazer sexo sabendo que há pessoas do outro lado da parede.

Assim que saio da casa, vejo Archer me esperando.


— Essa propriedade é de alguém ou foi alugada para a festa? — pergunto.
— Não faço ideia. Por quê?
— Seria mais fácil se você conhecesse o dono da casa.

— Fácil para quê?


— Perguntar sobre ela.
— Porra, a mulher causou uma boa impressão mesmo. Nunca te vi assim.
— Ela é… — pauso porque não consigo encontrar uma palavra que se
encaixe em como Petal me fez sentir.
Se eu não fosse tão focado na minha carreira ou tivesse a viagem
planejada, consideraria propor algo mais prolongado para ver onde poderia
dar. A química entre nós foi explosiva.

— É o quê?
— Diferente para caralho do que estou acostumado. Toda natural.
— Não acho que esteja falando de silicone.
— Deixa para lá. Você é um idiota.
— E você está começando a falar igual a Raul quando se casou com
Martina. Deixa eu me afastar antes que essa porra de vírus do amor me
contamine.
— Quem falou em amor? Isso é sobre atração sexual.
— Que seja! Mas novamente, como pretende se encontrar com sua loira se

está indo embora?


— Em uma despedida. Eu preciso de mais um pouco dela.
Capítulo 11

Petal

Horas depois

— Você está diferente — Phoenix diz, depois que acabamos de jantar.


Estou de costas para ele, lavando louça, quando se aproxima e encosta no
balcão.
— Diferente como?
— Sorriu o dia todo.

— Talvez porque finalmente tive minha noite de Cinderela. Pena que foi
no escuro.
— Não entendi.
— Deixa para lá. Não é nada que…
— Lá vem você dizer que não é nada que alguém da minha idade precisa
saber. Quando é que vai se convencer de que sou o homem da casa, irmã?
Eu começo a rir, mas depois o olho séria.
— Não existe isso de homem da casa, Phoenix. Esse pensamento é

machista e totalmente antiquado.


— Eu quis dizer para cuidar de você. Protegê-la.
— Ah, sim, mas no sentido carinhoso, né?
— Exatamente. Agora não fuja do assunto. Conheceu alguém?

— Sim, e preciso dizer que valeu por cada segundo desses anos todos sem
namorado.
— Nossa, que susto.
— O que foi?
— Por um momento achei que pudesse ser o filho do seu chefe. Eu não
vou com a cara dele.
— Por que não?
— Não sei explicar. Só não fui com a cara dele.

— Só o viu uma vez!


Houve uma apresentação de jogadores de futebol americano e doutor
Augustos me autorizou a levar alguém para o camarote da empresa. Meu
irmão é louco por qualquer esporte e quase levitou de tanta felicidade. Mas
depois que chegamos em casa, me disse que não gostou de Lleyton.
— Eu não gosto do jeito que ele olha para você — por fim, diz.
— E que jeito seria esse?
— Não me peça para explicar, mas eu não gosto dele. Ele ficou à sua volta
como se você fosse uma coisa e lhe pertencesse.

— Ele é mulherengo, isso sim. Quer qualquer uma que passar na frente
dele, mas não é má pessoa.
— Tudo bem. Não quero estragar seu dia falando sobre aquele homem.
Conte como foi a festa. Tinha muitos atletas?

— Não sei. Com todo mundo usando máscara, não dá para saber quem era
quem.
— Então como conheceu seu namorado?
Bato com o pano de prato nele.
— Não é meu namorado. Foi alguém que eu fiquei.
— Com a luz acesa ainda?
— Sim, mas ambos estávamos de máscara.
— Nomes. Trabalho com nomes.

Sinto meu sangue gelar. Aficcionado por esporte como é, não há maneira
de Phoenix não saber quem é Rafael Oviedo e não estou disposta a
compartilhar a loucura que cometi.
Meu irmão ainda é praticamente uma criança e vai alimentar fantasias
sobre eu namorar um atleta famoso.
— Por quê?
— Queria saber se há chance de que seu namorado secreto seja um atleta.
— Hum… acho que não — desconverso. — Agora, que tal irmos levar a
titia para dar uma volta?

Tia Darcy, que foi quem nos criou, já que minha mãe faleceu no parto de
Phoenix, tem andado um pouco melhor. Nada perto do que eu me lembro de
como era antes da doença se manifestar, mas ainda assim, melhor.
Há cerca de dois anos, ela nos confessou que vinha escondendo os

sintomas de esclerose múltipla. Foi diagnosticada, mas não quis nos


preocupar e não se cuidou. Quando resolveu fazê-lo, é porque a doença já
havia atingido um nível tal que a fraqueza muscular a impedia de sair da
cama com frequência. Para piorar, no fim do ano passado, sofreu um ataque
cardíaco e achei que iria perdê-la.
Tia Darcy é nossa única referência no mundo atualmente. Sem ela,
seremos apenas eu e Phoenix.
Ela anda deprimida e por mais de uma vez, conversando comigo, disse que

pensou em dar fim à própria vida e que só não o fez ainda por nossa causa.
— Acha que ela gostaria de dar uma volta lá fora na cadeira de rodas?
— Sim. Ela fica animada quando saímos.
Ele anda na minha frente, já se encaminhando para o quarto de titia.
— Phoenix.
Olha para trás.
— Você é um menino de ouro.
— Me aguarde. Quando eu me tornar CEO, vou ser um homem de ouro.

Horas depois

— Gostou do passeio, tia Darcy? — pergunto, me abaixando em frente a

cadeira de rodas.
Acabamos de voltar e percebo que ela ainda não está pronta para ir para
casa.
— Sim.
Há um ano ela já quase não fala e quando o faz, a voz sai arrastada, com
dificuldade. Eu, Phoenix e a cuidadora fazemos de tudo para estimulá-la a
conversar, mas parece cada vez mais sem vontade.
Volta e meia eu a pego com o olhar perdido e me pergunto quanto tempo
mais aguentará. Os médicos disseram que a evolução da doença foi muito

rápida. Para uma mulher acostumada a sair para dançar todas as sextas, sua
atual condição deve ser desanimadora.
Ela aponta para algo atrás de mim e quando me viro, vejo um pica-pau em
uma árvore próxima. Titia sempre amou pássaros.

— Lindo — diz.
— Sim, ele é.
— Livre — continua e sinto meus olhos doerem de vontade de chorar.
— Sente-se presa?
Eu sei a resposta. Não é a primeira vez que conversamos sobre isso.
Ela acena com a cabeça.
— E então, o que vocês estão fofocando?
Phoenix volta a se aproximar.

Ele tinha saído para conversar com o vizinho, que estava chegando no
prédio.
Olho para minha tia de uma maneira cúmplice.
— Coisas de meninas, não é, tia?
— Sim — diz. — Beijo — fala e meu irmão se abaixa para fazer o que ela
pediu. — Família.
Eu prendo os dois em um abraço.
— Sim, nós somos uma família.
Capítulo 12

Rafe

— Então não mudou mesmo de ideia com essa coisa louca de ir para uma
ilha deserta? — minha irmã caçula, Martina, pergunta.
Reviro os olhos, mas antes que eu possa falar qualquer coisa, minha

cunhada Olívia[19] intervém:


— Ilha deserta? Guillermo me mostrou as fotos dessa ilha particular e
disse que está até pensando em comprar uma para a família. Não tem nada de
deserto na ilha. É super luxuosa.
— Nem me fale. Eu daria qualquer coisa para ir para uma ilha deserta com

meu Bastardo[20] — Angel[21], mulher do meu irmão Gael, diz.


— Quando? Só preciso de uma data e já se considere sequestrada, esposa.
Os dois trabalham em um calendário complicado para conciliar a agenda,
já que ele é ator e a mulher, cantora, mas de uma forma louca, tem
funcionado.
A conversa se perde, como sempre, em uma interposição de vozes. E isso
porque as crianças já comeram, senão seria muito pior. No ritmo em que os
Caldwell-Oviedo têm nascido, mamãe terá que trocar a sala de jantar por um

refeitório.
Estamos no tradicional almoço de domingo na casa dos meus pais e acho
que é isso o que mais sentirei falta ao me isolar — minha família.
Por outro lado, sei que chegou o momento de dar uma parada definitiva e

pesar meu futuro no esporte. Minhas lesões agora são recorrentes e cada vez
que me machuco, é frustrante para caralho. Já terminei circuitos me forçando,
morrendo de dor, o que agravou ainda mais minha condição.
— O que está pensando? — meu pai pergunta para que só eu ouça. Estou
sentado à sua esquerda.
— Eu não queria ir. Manter-me longe de um campo de golfe é tão
doloroso quanto ficar sem respirar. Não sei fazer outra coisa, pai.
— Talvez seja a vida lhe dando uma chance de um recomeço.

— Não preciso de um recomeço. Gosto do que e de quem eu sou.


— E acha que será assim para sempre?
— Não entendi.
— Já passou dos trinta, Rafe, mas até agora, não manteve qualquer
relacionamento sério. Já andei por essa estrada. Sei como é tentador pular de
galho, mas quer ouvir algo? A cada passo, deixamos um pouco de nós.
Mesmo nos relacionamentos mais fugazes, ainda assim, doamos um pouco de
nós. Só tome cuidado porque pode ser que no fim, não reste nada.
— Foi assim com você e com a mamãe?

— Mais ou menos. Quando Isabel me encontrou, não é que faltassem


partes minhas porque eu as perdi, mas porque nunca existiram. Sua mãe
construiu nosso relacionamento tijolo por tijolo. Eu me apaixonei à primeira
vista, mas fui teimoso demais para admitir e quase continuei solitário para

sempre. Sei que não é esse o seu caso porque nunca levou alguém a sério,
mas não se feche caso aconteça.
— Não gosto de surpresas ou de sair do meu caminho.
— Eu também não gostava. Era arrogante…
— Era?
— Tudo bem, esse é o nosso traço familiar e pode-se culpar totalmente os
Caldwell nesse quesito. Mas voltando, eu era arrogante e achava que não
precisava de alguém. Tinha tudo programado e, no entanto, quando ela

apareceu, todas as minhas certezas se foram.


— Quando soube que era ela a mulher que queria?
Ele dá de ombros.
— Eu apenas soube.
Uma hora e meia depois, seguem-se as despedidas da família e juro por
Deus que parece que eles não vão me ver nunca mais.
— Tio Rafe quero um biquíni da Grécia — Valentina diz.
— Um bem comportado, tio Rafe — Guillermo a imita, erguendo uma
sobrancelha para a filha mais velha.

Após falar com todos, minha mãe vem me abraçar.


— Eu vou morrer de saudade — exagera, beijando minha bochecha.
— Sempre dramática, dona Isabel.
— Não é drama, gosto de todos vocês à minha volta, mas sei que precisa

ir.
Eu a abraço apertado.
— Deseje-me sorte.
— Sempre, meu filho. Meu coração e orações estarão com você.

Dias depois
Enquanto o avião sobrevoa a ilha grega, eu penso, não pela primeira vez,
na loira que fugiu de mim há alguns dias.

Procurei em redes sociais e não encontrei uma Petal. É um nome incomum


e achei que seria bem fácil. Quem não tem rede social hoje em dia? Ela,
aparentemente.
Eu poderia ter me esforçado mais, é claro, mas algo que Archer me disse,

impediu que eu me aprofundasse na busca, contratando um detetive.


Mesmo no escuro e nas poucas horas em que estivemos juntos, percebi o
quão doce a garota era. Apaixonada, sexy. Totalmente deliciosa. Alguém que
merece mais do que eu tenho a oferecer.
A maneira como se entregou, como me deixou beijá-la, devorá-la, mostrou
que não conhece as regras do jogo do qual sou mestre: sexo sem
compromisso.
Foi essa a razão real que não me fez ir atrás dela. Joaquín, apesar de

atualmente ser juiz federal, tem contatos na polícia e com detetives


particulares. Eu demoraria um nada para encontrá-la se tivesse me esforçado.
O aviso de atar o cinto de segurança acende e o avião começa a aterrissar.
Recosto a cabeça na poltrona e fecho os olhos.
Um ano aqui, longe de casa e da família, focado apenas em me fortalecer
para voltar a competir. Não aceito acabar minha carreira lesionado. Eu direi
quando chega.
Coloco a mão no bolso do blazer para pegar o celular, porque muitas
coisas mudaram na minha vida, mas não a exigência de dona Isabel para que

seus filhos avisem que chegaram bem aonde quer que formos.
O telefone provavelmente será meu único contato com o mundo nesse
período, e assim mesmo, somente com a família e meu empresário.
Quando puxo o celular, encontro um pedaço de tecido que acredito ser um

lenço. Tiro-o do bolso, e vejo que é a máscara de seda de Petal.


É como se o universo debochasse de mim, acenando com uma
possibilidade de algo mais do que eu tive até agora.
Afasto o pensamento.
Archer tem razão. Em um ano, muita coisa pode acontecer.
Quando eu voltar, ela provavelmente terá encontrado alguém e acho que
será melhor assim.
Capítulo 13

Petal

Boston

Quatro meses depois

— Festa? — Lleyton pergunta, em frente a minha mesa. É quase como


uma encenação do dia em que conversamos sobre a tal Noite Escura. A

diferença, é que hoje não há nada que ele possa fazer para me convencer a ir.
— Não, obrigada.
— O que há de errado com você?
— Minha tia piorou. Eu tenho dormido mal e vivo preocupada de um dia
chegar em casa e…
Não concluo a frase porque a simples possibilidade me aterroriza.
— Às vezes precisamos deixar as pessoas irem.
Eu sei que o que ele está falando faz sentido, mas me recuso a discutir

algo tão profundo quanto a perda da mulher que é como uma mãe para mim.
— Deseja alguma coisa?
— Você tem andado com um mau-humor infernal, Petal. Aliás, desde que
voltamos da Noite Escura, quando fugiu de mim.

— Eu não fui com você, em primeiro lugar, mas como uma convidada
qualquer, então me dei o direito de circular livre pela casa.
— E o quão livre você circulou?
— O quê?
— Você sumiu por horas e só pela manhã, quando olhei as câmeras, foi
que vi o momento em que partiu da festa.
— Se eu não o conhecesse, diria que isso agora soou um pouco louco.
Sabe, aquela coisa de perseguidor — falo, meio brincando, meio sério.

Por um instante, há algo realmente perigoso em seu olhar e logo me


lembro do que Phoenix me disse sobre ele. Porém, como em um passe de
mágica, desaparece e ele volta a sorrir e parecer leve como sempre.
— Não como um perseguidor, mas como um amigo que gosta muito de
você.
Eu me sinto mal. Lleyton não tem culpa se estou exausta e mal consigo me
alimentar ultimamente.
— E tem sido um bom amigo, ao passo que eu, ajo como uma megera.
Tenho dormido pouco, sinto muito. Mas isso não é desculpa para ser

grosseira.
— Você não foi. Nunca é. Mesmo quando é uma bruxa, você é boa.
— Feiticeira — falo antes que consiga me parar, lembrando-me da
palavra sussurrada por Rafael Oviedo em meu ouvido.

— O quê?
— Nada. Somente algo de que me lembrei. Quanto ao convite para a festa,
a resposta ainda é não. Quero voltar para casa e ficar com a minha família.
Mas obrigada por pensar em mim.
Ele pousa as duas palmas das mãos sobre a minha mesa e se inclina para
frente. Com qualquer outro homem, eu me sentiria ameaçada, mas não com
Lleyton.
— Um dia… — ele começa, mas não continua.

— O quê?
— Nada. Sou um homem paciente, Petal. Só grave isso: um dia.
Ele sai sem qualquer explicação, me deixando para tentar entender aquele
enigma.
Recolho as minhas coisas para voltar para casa. Ao me levantar, uma forte
tontura me atinge. Já é a terceira nessa semana, mas dessa vez eu quase caio,
precisando me apoiar na mesa.
Acho que deve ser falta de sono. Com todos os problemas em relação à
saúde da minha tia, não consigo descansar um só minuto.
Se tudo der certo hoje, vou fazer o jantar, que essa noite é a minha vez, já
que revezo com Phoenix e depois de um banho quente, me jogar na cama.

Nem chego a alcançar a porta da minha sala, quando meu celular toca.
— Petal?
Só pela voz dele, sei que há algo muito errado.
— Phoenix, o que houve?
— Vem para casa. Eu preciso de você aqui.
Horas depois

Quando eu cheguei, a ambulância já estava estacionada em frente ao nosso


prédio. Subi as escadas ao invés de usar elevador de tão nervosa que estava e
durante o caminho de táxi, fiz todas as orações que eu conhecia. Entretanto,
bastou um olhar para o meu irmão que eu sabia que a havíamos perdido.
— Eu não consegui fazer nada — diz chorando e parte meu coração. Eu

não sinto só a minha dor, mas a dele também.


— O que aconteceu?
— Os paramédicos disseram que foi um ataque do coração. Eles
tentaram… eles…
Sei que faz força para se controlar e eu me esforço em dobro porque
preciso ser sua fortaleza, embora nesse momento, tudo o que desejo seja me
encolher em um canto e chorar pela mãe que me criou.
— Não foi culpa sua. Vamos pensar que ela descansou — digo, fazendo o
meu melhor para não cair em pranto.

O médico nos falou, depois do último incidente, que isso poderia


acontecer de novo.
Esse já é o terceiro ataque cardíaco que tia Darcy sofre, mas dessa vez foi
fatal.

— Fique aqui, tudo bem? Eu só preciso vê-la.


— Quero ir junto.
— Depois, Phoenix. Eu preciso… me despedir.
Ele finalmente concorda e eu ando até o quarto dela. No corredor, vejo a
cuidadora da minha tia, que vem até mim e me abraça.
— Ela descansou, filha — diz e eu concordo com a cabeça, mesmo que
por dentro tudo em mim grite que não, eu não estou pronta para abrir mão
dela ainda.

Uma coisa que aprendi com a doença da minha tia, é que o amor pode ser
possessivo e egoísta também. Aquela coisa de que quem ama deixa ir é lindo
na teoria, mas não sou uma santa e sim humana e se pudesse fazer um desejo,
seria de ter minha tia comigo para sempre. Saudável, feliz e sorridente como
era antes da doença.
— Eu gostaria de falar com ela um instante — peço ao paramédico.
— Não podemos demorar.
— Tudo bem.
Ele sai e me deixa sozinho com tia Darcy que parece serena, deitada na

cama, quase como se estivesse dormindo.


Sento-me ao seu lado.
— Temos que ser rápidas, mas não posso te deixar ir antes de dizer o
quanto te amo. Sou ruim para declarações, tia. A senhora sempre disse isso,

né? Lembro quando brincava que tenho tanto amor dentro de mim que ele
transborda sem contenção, que não preciso de palavras. Eu me sinto
exatamente assim agora, porque não existe qualquer uma que possa explicar
o quanto vou sentir sua falta.
Pego suas mãos e beijo.
— Obrigada por não só nos criar, mas fazer com que nos sentíssemos
amados também. Todo o amor que eu dou a Phoenix, eu aprendi com a
senhora. Dê um beijo na mamãe por mim e diga que nós dois vamos ficar

bem.
Levanto-me e começo a me afastar da cama, torcendo para que minha
promessa seja também uma profecia. Eu não posso falhar com meu irmão.
Agora somos nós dois contra o mundo.
Capítulo 14

Petal

Uma semana depois

O doutor Augustus me deu uma semana para viver meu luto.


Eu telefonei para Lleyton para avisar o que havia acontecido e lhe pedir

que contasse ao pai. O certo mesmo seria que eu contatasse o RH[22] da


empresa, mas não queria deixar meu chefe sem lhe dar uma satisfação.
Entretanto, fiquei muito sem jeito de tomar a liberdade de ligar para seu
celular, por não se tratar de um assunto do interesse dele.

Depois que Lleyton me disse que avisaria ao pai, fiquei aliviada, mas logo
em seguida, o doutor Acker me ligou.
Queria saber se precisava de algo e se ofereceu para pagar o enterro — o
que eu recusei, porque minha tia separou dinheiro para isso desde que soube
que estava doente.
Hoje, faltando um dia para retornar ao trabalho, eu desmaiei. Perdi as
forças das minhas pernas na hora em que entrei na cozinha para fazer o café
da manhã do meu irmão. Se Phoenix não tivesse sido rápido, eu teria batido

com a cabeça na quina da mesa.


Ele ficou apavorado e a culpa me atingiu forte. Há tempos venho me
sentindo mal e deveria ter procurado um médico, poupando meu irmão, que
ainda está se recuperando da perda de nossa tia, do sofrimento achando que

algo pode me acontecer. Deus me livre e guarde. Eu preciso me manter forte


para poder cuidar dele.
— Não vai ser nada demais — prometo, antes de entrar na sala do médico.
— Como pode ter certeza?
— Eu conheço meu corpo, Phoenix. Provavelmente é porque tenho me
alimentado mal e dormido pouco.
— Tomara que seja só isso mesmo.
Uma hora depois, eu não sei como tenho forças para sair do consultório.

Meu rosto deve mostrar todo o pavor que estou sentindo porque assim que
me vê, meu irmão vem correndo ao meu encontro.
— Você prometeu que não seria nada de grave! — ele me acusa, ao
mesmo tempo que me abraça apertado, o rosto enterrado no meu peito.
Sinto-me em estado de choque, mas me obrigo a falar, porque não posso
deixá-lo pensar que estou à beira da morte.
— Estou grávida.
Ele me solta e dá um passo para trás.
— O quê?

— Não pretendia contar desse jeito, mas não quero que sinta medo.
Ainda que eu mesma esteja apavorada.
— De quem?
— Da única pessoa com quem estive depois de Allan, meu primeiro

namorado.
Ele abre e fecha a boca e sei que hesita antes de falar.
— Nunca menti para você. Os caras com quem saí, não aconteceu nada.
Foi na festa.
— Na tal Noite Escura?
— Sim.
— E agora? Quero dizer, você falou que ficaram no escuro. O bebê vai
crescer sem um pai?

Sei que ele não está me julgando ao dizer aquilo, mas porque foi algo que
vivemos na pele. Nunca tivemos a presença de pais em casa. Eu sou filha de
um homem com quem nossa mãe se envolveu e cuja identidade nunca
revelou e Phoenix, de outro, um nojento abusador de mulheres que bateu na
nossa mãe quando ela estava grávida e que nunca registrou o filho.
— Eu sei quem ele é e por isso mesmo, estou morrendo de medo de
procurá-lo.
— O quê? Por quê? É alguém perigoso?
— Não, mas muito famoso.

— Você não me contou nada disso!


— Porque achei que nunca mais iria vê-lo, Phoenix. Naquela noite eu fugi
porque sabia que quando ele acordasse e visse que eu não tinha nada de…
não devo falar essas coisas com você.

— E vai falar com quem? Somos só nós dois agora.


— Tudo bem, mas vamos para casa. Podemos conversar pelo caminho.
— Okay sobre ir para casa, mas não quero esperar para conversar. Acho
que estou mais nervoso do que você.
— Por quê?
— Agora serão dois nas suas costas ao invés de um.
Entramos no elevador e eu pego sua mão.
— Tudo vai dar certo. Nem que eu tenha que arrumar mais outros

empregos, eu vou conseguir.


— Mas o pai tem que ajudar também!
— Eu sei, mas primeiro tenho que conseguir contatá-lo. Ele não é alguém
comum.
— Quem é, Petal?
Olho para meu irmão nervosa para caramba só em pensar em revelar a
identidade do pai do meu bebê, mas no fim, me rendo.
— Rafael Oviedo.
— Puta que o pariu!

— Olha essa boca.


— Eu vou ser tio do filho do The Best?
— O quê?
— Calma, eu preciso tomar fôlego. Cara, eu sou muito fã dele. É o melhor

de todos os tempos, de todos os esportes. De todas as gerações.


— Não comece a criar fantasias na sua cabeça, Phoenix — falo,
segurando-o pelos ombros. — As coisas entre nós foram exatamente o que eu
falei. Nos vimos quando as luzes estavam acesas. Ficamos juntos quando elas
apagaram e em seguida, eu fui embora. Fim da história. Não há um conto de
fadas aqui.
— Ele não vai rejeitar seu filho.
— Como pode saber disso?

— Eu acompanho a carreira dele quase como se fosse uma religião.


Pergunte-me qualquer coisa sobre Rafe Oviedo e eu te conto. Tem uma
família enorme. Claro que vai querer seu bebê.
— Eu gostaria de ter essa confiança toda. Ao que me consta, ele pode até
ter uma namorada.
— Não tem. Ele é pegador — fala e depois fica vermelho. — Ou era ao
menos, antes de te conhecer.
— Pelo amor de Deus, Phoenix, pare com essa coisa de “antes de me
conhecer” porque isso nem sequer aconteceu.

— Temos que bolar um plano de como encontrá-lo, mas não vai ser fácil.
— Eu sei. Não trocamos telefone e nem nada.
— Não é disso que estou falando, mas pelo fato de que ele se isolou para
curar da última lesão. Pelo que os sites de esporte estão dizendo, vai ficar fora

por um ano ou mais.


Recosto na parede do elevador, dividida entre o alívio por saber que não
terei que passar tão cedo pelo constrangimento de contar a um estranho, e não
um estranho qualquer, mas um atleta poderoso, que ele vai ser pai, e o medo
de ter que levar a gravidez sozinha.
Segundo o médico, estou de quatro meses, que foi quando aconteceu a
festa, o que significa que dentro de cinco meses, haverá um bebezinho
conosco.

Como vai ser quando eu entrar em trabalho de parto e não houver alguém
por perto?
Meu irmão ainda é muito pequeno para assumir cuidar de mim.
Meu Deus, me ajude!
Começo a me sentir tonta, com dificuldade para respirar.
— Acho que preciso voltar para o consultório. Não estou bem.
Ele aperta o elevador e tornamos a subir. A recepcionista fica assustada
quando me vê e corre para chamar o médico, que já estava iniciando outra
consulta.

Meia hora depois meu diagnóstico saiu: crise de pânico. Disse que foi
provavelmente a notícia da gravidez inesperada, mas que se voltasse a me
sentir assim, que o procurasse.
— Vamos tomar um táxi — falo. — Não acho que seja seguro continuar

caminhando no momento.
Horas mais tarde, depois que finalmente convenci meu irmão de que
estava bem e que ele poderia dormir, ainda estou rolando na cama de um lado
para o outro.
Deus, um bebê!
Levanto-me e vou até o espelho de corpo inteiro dentro do armário. Ergo a
camisola e agora percebo um suave montinho na altura do ventre.
— Eu estou morrendo de medo, filho, mas eu quero você.

E em silêncio, completo:
Queira nosso filho também, Rafael. Não deixe que ele cresça sem o pai
como eu.
Capítulo 15

Rafe

Quatro meses e meio depois

Ouço o helicóptero vindo ao longe e juro por Deus que o som quase me
emociona. Nesse período em que estive aqui, praticamente toda minha
família veio me visitar, chegando aos poucos. Sim, os Caldwell-Oviedo não
entendem muito bem o conceito de retiro ou isolamento.
Entretanto, quando eles vieram, foi no meio da minha estada, há quatro

meses mais ou menos. Agora que sei que está chegando o momento de
retomar minha vida, estou quase enlouquecendo nessa ilha em que tudo o que
tenho para fazer é cuidar da minha saúde.
Eu me sinto melhor, claro. Tanto física quanto mentalmente, mas ainda
assim, meu prazo de ficar isolado venceu. Foi por isso que quando Archer
sugeriu vir me buscar, aceitei.
— Isso aqui é a porra do paraíso — é a primeira coisa que diz ao saltar do
helicóptero.
— Para mim já venceu o prazo de ficar sozinho.

— Ficou mesmo quase um ano sem foder?


— Sério que você viajou horas para saber sobre minha vida sexual?
— Não, idiota, para te levar embora dessa merda. O lugar é legal, água de
cor bonitinha e tal, mas chato para caralho — diz, me abraçando.

— Você chegou a essa conclusão em dois minutos?


— Não precisava nem disso, Rafe. Sem mulher, sem festa e sem jogar.
Vai me dizer que se divertiu?
— Não, mas pesei uma porrada de coisas que estavam erradas na minha
vida.
— Tipo o quê, por exemplo?
— Já parou para pensar que não estamos ficando mais novos a cada ano
que passa?

— Não quero ouvir isso.


— Mas é a verdade, Archer. Até quando vamos ficar saindo todas as
noites fora da temporada?
— Puta merda, você virou um pregador do celibato.
— Não seja cretino. Eu só estive pensando em tudo. Eu vivia um dia após
o outro e nem percebia que o tempo estava correndo.
— Perdeu o foco no esporte?
— Ao contrário. Quero voltar mais do que nunca, mas não adianta
consertar um lado da minha vida quando o outro está todo fodido.

— Sério, Rafe, você está parecendo aqueles monges que se isolam muito
tempo e ficam loucos.
Começamos a andar para a casa.
— Já conheceu algum monge?

— Não, mas imagino que não sejam muito normais. Quem no inferno vai
querer ficar isolado em uma montanha rezando?
Sem perceber, eu começo a rir.
— Puta merda, você chegou não tem dez minutos e já conseguiu bater um
recorde do besteirol.
— Pelo menos melhorou seu humor.
— Não estava de mau humor. Só um pouco ansioso para voltar para casa.
— Para treinar, né?

— Também.
— Cheio de mistérios.
— Lembra da loira da Noite Escura?
— A que te abandonou?
Reviro os olhos.
— Sim. Ela deixou a máscara caída no chão. Nesses meses em que estive
aqui, de vez em quando eu a pegava, e juro por Deus que é como se
conseguisse ouvir a voz dela. Sentir seu cheiro.
— Ai, caralho, mais um guerreiro abatido. — Ri. — Já pensou na

possibilidade dela estar namorando alguém? Se a mulher é linda como você


me falou, a chance de que ainda esteja sozinha é nula.
— Há uma enorme quantidade de variantes que podem fazer com que a
minha ideia de encontrá-la dê em nada, mas quero vê-la ao menos mais uma

vez. E agora, na claridade, onde possa tocar seu rosto.


— E se for feia? Estava de máscara. Vai que…
— Jesus Cristo, Archer, você chegou inspirado. Vamos comer, que a
cozinheira aqui da ilha não é muito bem-humorada. Depois do almoço você
pode me ajudar a fazer as malas. Tem o aspecto e a boca de um ator pornô,
mas a disciplina de um soldado. Vai poder me ajudar a não esquecer nada.
Boston

Dois dias depois

— Vai voltar ao escritório então ou já está liberado para treinar a sério?


— meu irmão, Joaquín, pergunta.

— Sim, estou liberado, mas preciso ver como está meu jogo. Além do
mais, com esse clima, terei que treinar muito indoor. Mas eu me sinto curado
como nunca antes. Sempre que retornava das lesões anteriores, pensava estar
forte o bastante e depois me fodia de novo.
— Não sou a melhor opção como incentivador, mas um realista. Se é isso
o que está esperando, melhor procurar Guillermo.
— Não preciso de uma massagem no ego. Eu sei que tenho um relógio
correndo sobre minha cabeça, Joaquín. Não vou jogar para sempre, mas
quero terminar a carreira com dignidade.

— E depois?
— O que tem?
— Quanto tudo chegar ao fim, o que fará depois?
— Andei pensando nisso. Acho que abrir minha própria empresa de

equipamento para esportes.


— E ficar atrás de uma mesa trabalhando como CEO o dia inteiro?
Suas palavras criam um quadro na minha mente e faço uma careta
involuntária.
— Não me imagino assim.
— Pode contratar um CEO profissional para gerir a empresa e continuar
jogando golfe.
— Sem competir? Isso não funcionaria para mim. Preciso ter alguém para

perseguir. O gosto da vitória.


— Rafe, mesmo com todas as lesões, há muito tempo você não tem
alguém para perseguir. Está em um nível muito superior aos outros.
— Eu sei.
— Modesto — ironiza, dando um dos seus raros sorrisos.

— Não é arrogância, senhor juiz[23], mas uma questão de fato. Uma hora
ou outra alguém vai me vencer, claro, mas até agora, meu maior adversário
foi esse cotovelo fodido.
— Se quer minha opinião, vá qualquer dia desses até a sede nova dos

hotéis[24]. Quem sabe não se decide por ingressar no negócio familiar.


Olho para ele sem responder, porque nenhum de nós acredita naquilo. Por
outro lado, não tenho qualquer alternativa para o futuro por enquanto, então
talvez aceite o conselho.

— Meus treinos serão à tarde e, no início, apenas duas vezes por semana.
Talvez eu dê um pulo lá nos outros dias pela manhã.
— Mamãe está animada para o Dia de Ação de Graças.
— Mas ainda faltam quase duas semanas.
— Como se você não soubesse como dona Isabel é, né? Não duvido que
já esteja fazendo os preparativos para o Natal também.
Eu já ia saindo do seu gabinete quando paro e volto a encará-lo.
— Senti falta disso tudo.

— Do quê?
— Dessa bagunça com a família. O barulho. Antes, por conta das viagens
para competir, eu não valorizava tanto, mas depois de quase um ano
voluntariamente longe dessa confusão, percebi que nunca poderia morar fora
de Boston.
— Diga isso à mamãe. Ela todo domingo perguntava o que será que você
estava comendo, se tinha almoçado direito...
Bem típico de dona Isabel.
Começo a me virar, mas novamente o olho.

— Conhece algum investigador particular?


— É uma piada?
— Claro que conhece.
Joaquín conhece todos na área da justiça em Massachusetts.

— Para quê? — pergunta diretamente, porque nenhum dos membros da


minha família conhece a palavra privacidade.
— Encontrar uma pessoa.
— No que se meteu?
— Não cometi um crime, pelo amor de Deus! Só voltei aos Estados
Unidos há dois dias.
— Então é para quê?
— Esquece.

Ele mexe no celular e escuto um barulho de mensagem no meu.


— Esse nome que eu te dei é o melhor. Se não quiser pegar, porque é
muito ocupado, fale em meu nome. Ele vai aceitar o que quer que você tenha
em mente.
Com um menear de cabeça, me despeço.
Eu vou te encontrar, Petal. Nem que seja para confirmar que aquela
noite não passou de um delírio e que você não é em nada diferente das
outras.
Capítulo 16

Petal

Uma semana depois

— Deixe-me te ajudar com isso — Lleyton diz quando tento erguer uma
caixa que acaba de chegar para o pai dele.
— Não sou uma inválida — falo, um pouco chateada, porque tanto ele
quanto doutor Augustus, desde que descobriram minha gravidez, me tratam
como um cristal, o que me deixa desconfortável.

Depois de passado o susto inicial, eu encarei a surpresa como tudo que


faço na minha vida: sem duvidar por um segundo sequer de que conseguirei
dar conta.
Entre a morte de tia Darcy, um bebê a caminho e ainda cuidar do meu
irmão, não me sobrou espaço para sentir pena de mim mesma. Não há mais
ninguém para olhar por nós, então a opção é ser forte… ou ser forte.
Cerca de três semanas depois que eu soube da gravidez, eu tentei por
todos os meios possíveis entrar em contato com Rafael, mesmo que morrendo
de vergonha.

A única coisa que consegui foram portas batidas na minha cara.


Phoenix descobriu que não é ele quem gerencia nenhuma de suas redes
sociais, e sim assessores. Quando mandei mensagens dizendo que precisava
falar com ele, quem quer que tenha me respondido, mesmo que de forma

gentil, faltou pouco para me dizer: você e um bando de outras mulheres.


Sinto meu corpo gelar e um suor frio descer pela minha coluna quando
me lembro das notícias que li a respeito do pai do meu bebê nas colunas de
fofoca. Eu não poderia ter escolhido alguém pior para me engravidar.
O que tem de boa aparência e excelente atleta também tem sobrando em
ser um mulherengo, cujo nome está envolvido em diversos escândalos,
inclusive sobre algumas doidas dizendo que engravidaram dele.
Desse modo, qual é a chance de que, ao falar a verdade a um de seus

assessores — já que o homem está inacessível, assim como meu irmão me


avisara —, essas pessoas me levem a sério?
No momento, eu sinto medo de tanta coisa que nem sei por onde
começar, mas a principal delas é de não dar conta de arcar com as despesas
de nós três.
Há outra coisa, entretanto, que me assusta ainda mais do que isso: meu
filho crescer sem nunca ter contato com o pai.
— Por onde essa cabecinha linda está viajando?
— O quê?

Eu nem percebi que ele tirara a caixa das minhas mãos.


— Você estava perdida em seus pensamentos.
— Já me conhece o bastante para saber que sou assim.
— É preocupação com o bebê?

Sua pergunta me faz retrair e passar protetoramente os braços em volta do


meu abdômen cheio.
Eu gosto de Lleyton como pessoa, mas alguma coisa no jeito como olha
para minha barriga às vezes me incomoda.
Quando descobriu que eu estava grávida, sumiu por quase duas semanas
da empresa, sem me mandar mensagem ou telefonar, o que foi bem
incomum. O pai também teve uma reação parecida, tanto que fiquei até com
medo de perder meu emprego.

Então, do nada, como se houvesse um acordo entre eles, ambos


começaram a me tratar com muito cuidado, fazendo perguntas sobre minha
alimentação ou se estava dormindo bem.
Os homens da família Acker são realmente estranhos.
Enquanto o pai, no entanto, demonstra uma preocupação mais distante e
talvez até parecendo decepcionado comigo, Lleyton alterna entre uma
atenção sufocante e alguns rompantes de raiva quando eu peço que não fique
tão em cima de mim como tem feito.
— Não é uma preocupação específica, se é isso o que está perguntando, é

como um todo. Acho que pais são assim. Projetamos o futuro dos nossos
filhos vinte anos adiante. Mas não é nada que eu não possa resolver, pode
ficar tranquilo.
— Resolver como? Você está sozinha no mundo.

Suspiro, irritada, e me afasto.


— Não estou. Tenho meu irmão e… o pai do meu bebê.
Seu rosto se transmuta em uma carranca de raiva.
— Mesmo? E onde está esse homem maravilhoso? Caia na real, você está
prestes a dar à luz e quando isso acontecer, quem além de mim estará ao seu
lado?
— Não pedi sua ajuda — falo, muito zangada agora.
Normalmente eu ignoro esses rompantes de descontrole dele, mas hoje

está passando dos limites.


— Eu estou dizendo que estarei do seu lado e acredite quando eu afirmo
que vai precisar muito, e não é somente sobre o bebê que estou falando.
— O quê? Não estou entendendo.
— Ouvi alguns boatos aqui no escritório.
— Que tipo de boatos?
— Nada com que precise se preocupar no momento, mas que no futuro
poderia lhe trazer problemas com a justiça.
Minhas pernas começam a tremer tanto que preciso me sentar.

— Problemas com a justiça? Do que se trata?


— Estão fazendo uma auditoria na empresa, Petal — diz, como se aquilo
esclarecesse tudo.
— E o que eu tenho a ver com isso? Sou uma mera secretária júnior.

Ele me olha em silêncio por um tempo e juro por Deus que meus nervos
pulam dentro do corpo.
— Chegaram até mim alguns documentos acusando-a de estar envolvida
em um esquema.
Meu estômago contrai de medo. Não por causa do que ele está dizendo.
Sei que sou inocente e que os documentos são uma mentira, mas de que isso
leve à minha demissão. Se acontecer, eu, o bebê e Phoenix estaremos
perdidos.

— Eu não sei do que você está falando, mas no que quer que meu nome
esteja envolvido, vou conversar com seu pai e esclarecer todo esse mal
entendido.
Hoje é meu último dia antes de entrar em licença-maternidade, mas de
jeito nenhum vou me afastar antes de resolver essa história.
— Por que razão acha que ele não veio a semana inteira?
— A senhora Hillaine, a secretária principal, disse que ele estava com
uma indisposição estomacal.
— Foi o que ele mandou dizer, mas na verdade não quer proximidade

com você ou quaisquer dos outros envolvidos até que tudo se esclareça. Há
documentos com seu nome, Petal.
Aquilo finalmente me derruba e corro para o banheiro privativo das
secretárias. Ajoelho-me no chão e começo a vomitar. Chega a um ponto que

não há mais nada para sair e sinto muita dor.


Somente a preocupação de fazer algo que fira meu bebê me faz levantar e
lavar o rosto. Antes que eu possa sair do banheiro, no entanto, Lleyton entra
e, me surpreendendo, me puxa para seus braços.
O susto inicial do contato inesperado não me permite reagir, mas alguns
segundos depois eu o empurro. Não adianta.
— Solte-me.
— Shhhh… não se preocupe, eu não acredito em nada do que eles

disseram. Vou cuidar de você.


— Não preciso ser cuidada, apenas que parem com essa história absurda
de auditoria envolvendo meu nome. Não sou culpada de nada.
Ele não diz que acredita em mim, mas a mão acaricia meu cabelo. Tento
novamente me soltar, mas seu aperto em meu entorno não diminui.
— Vai ficar tudo bem, Petal. O que quer que aconteça, estou do seu lado.
Eu não respondo e, depois de um tempo, ele me solta.
Saio do banheiro e vejo que a secretária principal está na minha sala
quando chego lá. Quando vê o filho do nosso patrão aparecer logo atrás de

mim, suas sobrancelhas se unem e, em seguida, os olhos focam no meu


abdômen.
Meu enjoo volta com força porque não preciso ser uma vidente para
perceber o que ela está pensando.

Pego minha bolsa e saio sem me despedir de qualquer um dos dois. Estou
em uma fase delicada da minha gravidez, na reta final, e tudo o que importa é
o meu bebê.
Assim que chegar em casa, vou tentar novamente encontrar Rafael.
Agora, mais do que nunca, preciso de uma segurança para quando nosso filho
ou filha nascer.
Naquela mesma noite

— Eles estão mentindo! — Phoenix grita, revoltado, depois que eu lhe


conto sobre a auditoria da qual Lleyton me falou.
Parece agitado, andando de um lado para o outro da sala. Meu irmão
amadureceu ainda mais nesses últimos meses, após o falecimento de tia

Darcy. A cada dia eu o vejo se transformar de adolescente para um


homenzinho. E por mais que isso me encha de orgulho, me faz sofrer
também, pois está perdendo uma fase importante se preocupando com
problemas que não são dele e que chegaram cedo demais em sua vida.
— Vem cá — falo, abrindo os braços, e depois de hesitar por um instante,
ele aceita o carinho. — É claro que tudo não passa de uma mentira. Não fique
nervoso. Vou provar que não tenho nada a ver com essa sujeira.
— E quanto ao Rafe?
— Tentei novamente e nada. O jeito vai ser esperar que volte aos Estados

Unidos mesmo.
— Poderíamos procurar a família dele.
— Já pensei nisso e procurei também. Deu em nada. Eles parecem fazer
parte da realeza. São blindados. Não há um número de telefone que conste

nas listas disponíveis ao público.


Tento me levantar, mas uma dor forte nas costas me atinge.
— Ai, meu Deus!
— O que foi?
Em um segundo ele já está ao meu lado.
— O bebê. Ligue para Lleyton.
— Não, eu posso resolver tudo. Odeio aquele homem. Ele fez você ficar
preocupada hoje.

— Você é menor de idade. Se algo me acontecer, te entregarão e ao meu


filho para o serviço social. Por mais que a ideia não me agrade, Lleyton é o
único adulto à mão. Então, não discuta comigo e faça o que eu estou
mandando.
Horas depois

Por todas as coisas que vêm acontecendo nesses últimos meses, eu


imaginei esses momentos vezes sem conta, e ainda que com muito medo do
futuro, achei que seria um dia feliz. Entretanto, enquanto seguro minha

filhinha, que acabei de decidir que se chamará Willow, para manter a tradição
de mamãe por nomes hippies, tudo o que sinto é vontade de chorar.
Não me permito, claro.
Phoenix acaba de entrar e parece tenso como uma corda de violão
esticada, e se eu quebrar, ele vai desabar junto.
— Ela é tão linda, mas o cabelo não parece que vai ser claro como o
nosso.
— O pouco cabelo, né? Talvez fique em um meio-termo entre o meu e o
do pai.

— Sim, provavelmente — diz. — Eu vou encontrá-lo, Petal. Nem que eu


tenha que ficar plantado na frente de um dos hotéis da família, eu vou
encontrar o pai da minha sobrinha.
— Não é mais The Best, como o chamava antes?

— Isso quando ele era um atleta do qual eu era fã, mas agora, para provar
que ele é mesmo The Best, vai ter que ser homem e assumir a filha.
— Não fale essas coisas. Não sou uma inocente que foi seduzida por um
canalha, Phoenix. Houve uma conexão real entre nós e provavelmente esse
tipo de relacionamento no mundo dele é comum. O que aconteceu foi que o
destino resolveu intervir e criar suas próprias regras.
— Tudo bem. Estou confuso e falando um monte de mer… de besteira.
Aquele… hum… senhor que diz que é seu amigo está no corredor.

— Lleyton?
— Sim, ele chegou quase em seguida, quando você entrou em trabalho de
parto, e parece que ele próprio é o pai do bebê. Eu vou dizer de novo: não
gosto dele, mas como é minha irmã mais velha, a obedecerei e o deixarei por
perto.
— Não quero discutir sobre isso agora. Vou amamentar o bebê e depois
pedir para a enfermeira avisar quando ele puder entrar, tá?
— Sim, vou dizer isso a ele.
Capítulo 17

Petal

Três semanas depois

— Vou passar aí mais tarde. Precisamos conversar.


— Só um instante, Lleyton — peço, enquanto acomodo Willow no berço.
Pode parecer loucura da minha cabeça, mas toda vez que o ouço dizer
essas palavras, sinto meu coração contrair. Talvez seja ingratidão, porque
como eu mesma falei a meu irmão, ele é o único conhecido que tenho fora da

família.
Depois de me ver no hospital, assim que trouxe Willow ao mundo, ele
tem sido uma presença constante em nossa casa.
Dois dias depois que voltei para o meu apartamento, ele apareceu dizendo
que não me preocupasse com os boatos, pois resolveria tudo e nunca deixaria
que sequer pensassem em me incriminar. Não estou em posição de recusar
ajuda, ainda mais do filho do dono da empresa na qual meu nome está
supostamente envolvido em tramas.
Tentei ligar para o contador da companhia, mas ele não me atendeu,

então, por enquanto, até que a minha filha complete um mês de vida, Lleyton
é toda minha ligação com o mundo externo, assim como minha chance de me
livrar de qualquer injustiça.
Doutor Augustus também não retornou ao escritório, e o que se noticia é

que seu estado de saúde anda abalado.


— Sobre o quê? — finalmente respondo, sentando-me em uma poltrona
perto do berço, de onde posso ver minha filha.
— O futuro. Sobre o que mais seria?
Fecho os olhos, exausta.
— Não comece com essa história, por favor.
Já desisti de qualquer sutileza. Ele parece obcecado em se casar comigo e
assumir Willow como filha, fazendo o mundo acreditar que ela é nossa.

Nunca vai acontecer. Ela tem um pai, e mesmo que Rafael ainda não
saiba disso, eu jamais os impediria de participarem da vida um do outro,
agindo como uma covarde e me escondendo atrás de uma mentira.
Há uma chance de que ele não seja uma boa pessoa e que diga que não
quer nossa menina, embora só essa possibilidade já me faça ter vontade de
chorar, mas eu preciso ter certeza.
No momento, a única coisa que me preocupa é limpar meu nome. Já até
andei pesquisando uns advogados só para o caso de ser formalmente acusada
de alguma coisa.

Da última vez em que me visitou, Lleyton trouxe um documento em que


parece que fiz transferências bancárias para um paraíso fiscal, mas eu nem
me preocupei, porque a ideia é tão absurda que parece piada. Qualquer um
que olhar minha conta corrente verá que tudo não passa de uma brincadeira

de mau gosto de um desocupado.


De qualquer modo, pretendo ver um advogado ainda essa semana.
— Não acho que você entendeu o que eu disse.
— Pois eu acho que entendi, sim. Já conversamos sobre a ideia de me
tornar sua esposa mais de uma vez, e minha resposta continua sendo a
mesma: não, obrigada.
— Precisa baixar um pouco essa autoconfiança. Esse navio já partiu do
porto, Petal. Eu lhe ofereci uma alternativa mais do que generosa, mas não

sou o tipo de homem que é rejeitado e continua correndo atrás. Agora o


problema é outro. A situação mudou e, pelo que eu soube, sua prisão pode
acontecer a qualquer momento.
Eu pulo da poltrona tão rápido que quase caio.
— O quê? Do que você está falando? Que história é essa de prisão? Não
me disse nada disso, só sobre umas acusações ridículas e provas que
poderiam ter sido fabricadas!
— O cenário mudou. Parece que descobriram provas reais ligando seu
nome. Como sou seu amigo, convenci papai de recebê-la e ouvir sua versão

dos fatos. Cuidado com o que vai falar, no entanto, ele só lhe dará uma
chance. Marquei um encontro para vocês dois hoje, na casa dele.
— Pensei que seu pai estivesse mal de saúde. Não o prejudicarei levando
problemas para ele?

— Meu pai é feito de aço, Petal. Não quebra tão fácil. Agora não seja
tola e agarre essa oportunidade.
— Que horas devo ir?
— Ao meio-dia. Não se atrase. Sabe o endereço?
— Sim, claro. Os seguranças me deixarão entrar?
— Obviamente já estão avisados. Agora trate de convencer o velho de
que você está sendo sincera e esse inferno todo vai passar.
Estou tremendo inteira, mas ao mesmo tempo, cheia de adrenalina.

Começo a andar para a porta, mas antes que eu a alcance, Phoenix


aparece.
— Eu consegui!
— Agora não, Phoenix.
— Agora sim, Petal. Encontrei Rafael. Não brigue comigo, mas nos dois
últimos dias fiquei do lado de fora do prédio para ter certeza de que era ele.
— O quê? Não está dizendo coisa com coisa.
— Os sites que perseguem celebridades estavam dizendo que ele voltou
aos Estados Unidos e que estava sendo visto na nova sede dos hotéis

Caldwell-Oviedo, que pertence à família dele. Fiquei de plantão ontem e


anteontem pela manhã e vi que chega sempre no mesmo horário. Temos uma
hora até que consigamos encontrá-lo.
Olho para o relógio.

— Onde fica esse hotel?


— Não é um hotel, é um prédio inteiro, onde ficam os escritórios de toda
rede de hotéis. Dá vinte minutos de táxi. Vamos lá, temos que tentar ao
menos. E se ele viajar de novo?
Sei que ele tem razão e não posso hesitar antes de me decidir.
— Faça uma malinha para Willow e pegue a fórmula somente para o caso
de eu não ter onde amamentá-la. Talvez eu tenha que tomar uma decisão
drástica e não vou ter paz se não souber que vocês dois estão bem.

— Do que você está falando?


— Agora não, Phoenix. Não posso perder tempo. Vamos encontrar Rafael
e no caminho eu lhe explico o que está acontecendo. Agora, depois de me
ouvir, vai fazer exatamente o que eu mandar, entendeu?
Ele me encara de olhos arregalados e eu me sinto horrível por assustá-lo
desse jeito, mas a palavra “prisão” mencionada por Lleyton não sai da minha
cabeça.
— Tudo bem, irmã. Diga o que eu tenho que fazer e obedecerei.

Quase uma hora depois

Entro no prédio muito parecido com o do escritório onde eu trabalho,


ainda que bem mais moderno, com o coração quase saindo pela boca.
Eu e Phoenix ficamos parados na entrada, torcendo para que, assim como
nos dias anteriores, Rafael Oviedo aparecesse.
Eu quase não acreditei quando finalmente o vi.
Agora, à luz do dia, me parece quase impossível que aquele homem
poderoso tenha se interessado por mim, ainda que em uma noite que mais
tenha se parecido com um sonho.

Aliás, desde que comecei a pesquisá-lo na internet, toda aquela


madrugada pareceu fruto da minha imaginação.
Quando ele desceu do carro, entretanto, o físico, que foi para onde meus
olhos se dirigiram primeiro, não deixou dúvidas de que é ele.

Usa a mesma barba que a máscara permitiu entrever e o cabelo é negro


como a noite. Andou de cabeça erguida, orgulhoso e sem focar em nada, a
não ser no caminho à sua frente.
Apresso-me para conseguir alcançá-lo e Phoenix fica alguns passos atrás.
Meu irmão me disse que logo após a entrada, há cancelas com seguranças nas
quais as pessoas têm que mostrar um crachá para poderem passar. Se ele
atravessá-la, eu o perderei.
Assim, mesmo morrendo de vergonha pelo que estou prestes a fazer,

chamo seu nome.


Nada acontece e tento outra vez. Já estou começando a entrar em pânico.
Ele está somente a poucos passos da cancela agora, então desisto de qualquer
sutileza.
— Rafael Oviedo, você por aqui!
A voz soa tão alta que várias pessoas se voltam para me encarar. Eu odeio
chamar atenção, mas é o bem-estar da minha filha e do meu irmão que está
em jogo.
Ele demora a olhar para trás e, por um instante, acho que vai seguir em

frente sem me dar ouvidos.


— Rafeeeeee! — grito, porque já passei da fase de tentar manter a
dignidade.
Quando ele finalmente se volta, seu olhar é pura confusão, como se

estivesse diante de alguém insana, e eu morro um pouco por dentro.


— Eu a conheço, senhorita?
Sua pergunta soa fria e alta o suficiente para que as pessoas parem para
prestar atenção em nós.
— Ainda não — digo, porque não é nada mais do que a verdade —, mas
vai conhecer. Assim como a sua filha. Willow, diga oi para o papai.
Dou um passo para o lado e seus olhos se arregalam quando vê o carrinho
com minha garotinha, mas eu não tenho tempo a perder.

Viro-me e vejo Phoenix se aproximar. Ele sabe o que terá que fazer daqui
por diante.
— Do que está falando? — Rafael pergunta quando torno a encará-lo,
mas dessa vez sua testa se franze em reconhecimento.
Abaixo-me para dar um beijo em Willow quando noto meu irmão parar
perto do carrinho.
— Ela é nossa, Rafael. Nossa filha.
— Petal?
Meu coração idiota dispara por ele não só se lembrar da minha voz, como

do meu nome.
— Sim, sou eu. Meu irmão vai lhe explicar tudo, mas agora eu preciso ir.
Cuide deles só por hoje, por favor. Eu vou voltar.
Beijo a cabeça de Phoenix e saio correndo antes que ele possa dizer

qualquer coisa.
Capítulo 18

Rafe

— Rafael Oviedo, você por aqui! — alguém grita meu nome e fico muito
tentado a ignorar a mulher escandalosa.
Pela minha visão periférica, percebo que algumas pessoas olham para mim
e também provavelmente para quem está às minhas costas.
Custo um pouco a virar para trás.
Estou com um mau-humor infernal, e apenas vim para a nova sede dos
hotéis porque ficar apenas indo nos treinos mais leves nesse começo vai me
enlouquecer.

— Rafeeeeee! — a criatura repete e eu finalmente me volto.


Por incrível que pareça, a voz irritante não combina com a minúscula
deusa loira à minha frente. Uma sensação esquisita me atinge, como quando
estamos sonhando: sabemos que não é real mas, ao mesmo tempo, o cenário e
a pessoa nos parecem familiares.
Meus olhos correm livres por ela e, quando chegam ao rosto, tenho certeza
de que nunca a vi.
Mesmo vestida como um esquimó, protegida por um casaco enorme e
gorro também, a mulher é linda demais.

Entretanto, ainda que com toda a beleza, estou em um dia de merda e nem
um pouco interessado em interagir.
— Eu a conheço, senhorita?
— Ainda não, mas vai conhecer. Assim como a sua filha. — Ela dá um

passo para o lado e só então vejo um carrinho de bebê coberto com uma capa,
provavelmente para proteger sua ocupante do frio rigoroso do inverno de
Boston. — Willow, diga oi para o papai.
Fico em estado de choque.
Filha?
Ela se vira para trás e percebo que um adolescente loiro se aproxima.
— Do que está falando? — exijo quando volta a me encarar.
Entretanto, dessa vez, como se alguém estivesse dispondo peças de um

jogo à minha frente, sua altura, um pedaço do cabelo loiro branco que escapa
do gorro, o queixo pontudo e a boca de lábios cheios me trazem memórias.
Eu sei quem é ela. A mulher que não sai da minha cabeça há meses.
Abaixa-se, afasta o plástico que protege o carrinho e beija o bebê. Não
consigo ver a criança ainda, no entanto.
— Ela é nossa, Rafael — diz, e agora que sua voz não soa mais histérica,
tenho certeza de com quem estou falando. — Nossa filha.
Sou um cara frio. Eu preciso ser porque o esporte no qual sou mestre exige
precisão e autocontrole, mas nesse momento a expressão “coração saindo

pela boca” se encaixa como uma luva em mim.


— Petal? — testo o nome, mesmo que eu já saiba a resposta.
Ela não volta a me olhar nos olhos, como se estivesse muito
envergonhada, mas diz:

— Sim. Meu irmão vai lhe explicar tudo — meneia a cabeça em direção
ao adolescente —, mas agora eu preciso ir. Cuide deles só por hoje, por
favor. Eu vou voltar.
E então, após beijar o menino, ela simplesmente sai correndo e nos deixa.
Eu não preciso olhar em volta para perceber que há uma pequena multidão
se formando e seja lá o que signifique essa situação, precisamos sair daqui.
— Venha comigo — falo ao garoto e me aproximo do carrinho.
Ele se interpõe entre mim e a garotinha, o que novamente não me permite

vê-la.
— Para onde? — pergunta, parecendo pronto para uma briga.
É bem jovem. Talvez uns quinze ou menos, mas sua postura é agressiva ao
proteger a menina.
— Subir. É isso ou daqui a pouco nossa imagem estará estampada em cada
revista do país.
Na verdade, eu não duvido que várias fotos já tenham sido tiradas, pois
mesmo que noventa por cento das pessoas que frequentam esse edifício sejam
funcionários, hoje em dia qualquer espirro que se dê vai parar na merda da

internet.
Ele me ignora e fala qualquer coisa para o bebê, que resmunga. Depois,
novamente fecha a capa que protege o carrinho e me encara.
— Eu sou Phoenix Bartley, irmão da Petal. Podemos conversar lá em

cima, mas se tentar fazer qualquer coisa para machucar minha sobrinha, eu
mato você.
Não estica a mão para me cumprimentar.
— Acho que já sabe meu nome. Venha comigo, Phoenix, e então poderá
me explicar o que está acontecendo aqui.
Ele se posiciona atrás do carrinho e eu preciso me controlar para não me
abaixar e olhar o pequeno ser que Petal afirmou ser uma parte de mim.
Quando alcançamos a cancela, o segurança finge não ter assistido nada da

cena que ocorreu há pouco, mantendo uma expressão neutra, embora eu saiba
que não há chance de que cada pessoa em um raio de um quilômetro não
tenha visto ou ouvido tudo.
Abro espaço para que o rapazinho entre com o carrinho, ao qual se agarra
como se sua vida dependesse disso, mas quando começa a se encaminhar
para os elevadores comuns, eu o chamo.
— Por aqui, Phoenix. Subiremos por outro elevador.
Cada um de nós, até mesmo Gael e Martina, que têm ainda menos do que
eu a ver com os negócios da família, possui uma sala em um dos últimos

andares deste edifício da nova sede, projetado pelo mais renomado arquiteto

do país, que também é o CEO de sua própria empresa, Lucas Ward[25]. Para
termos acesso a elas, usamos um elevador privativo.
Um ascensorista está esperando, mas quando o garoto tenta entrar com o

bebê, a roda prende no piso, fazendo com que o carrinho oscile.


O bebê geme e aquilo me desperta do transe, porque até aquele momento
eu esperava que fosse tudo um sonho.
Eu me abaixo e ergo o carrinho para que consiga passar, e quando as
portas se fecham, digo:
— Abra esse plástico. Aqui é aquecido. Não precisa deixá-la enjaulada.
Sou meio claustrofóbico, e só de ver o bebê daquele jeito faz com que eu
sinta a gola da minha camisa ficar mais apertada.

— É a primeira vez que ela sai à rua. Não completou um mês ainda.
Não preciso de uma calculadora para fazer contas. Sou excelente em
matemática e tenho uma memória fodida de boa. Se a garotinha tem menos
de um mês, há uma chance sim de que seja minha. Eu lembro perfeitamente
da data da festa porque foi pouco tempo antes de que embarquei para a
Grécia.
Incrivelmente, a situação louca não me abala tanto. Das outras vezes em
que tentaram me responsabilizar por paternidade, as acusações foram virtuais
e eu só soube através dos jornais e revistas, mesmo que tenha feito o exame

de DNA para desmentir a mãe em questão. Agora, entretanto, que a


consequência da minha vida de prostituto pode estar bem diante dos meus
olhos, tudo o que eu sinto é vontade de olhar para ela.
— Abra — falo, porque o garoto não fez qualquer movimento para

mostrá-la para mim.


— Não. Somente quando chegarmos à sua sala. Sabe-se lá quem andou
nesse elevador? Quer que sua filha fique doente?
É a segunda pessoa a chamar a bebê, Willow, de minha filha e dessa vez o
choque é um pouco menor.
— Tenho sobrinhos, mas não entendo tanto de bebês — defendo-me.
Quando o elevador para, eu sei que não encontrarei ninguém no andar. Se
decido vir ao escritório para fingir me interessar pelos negócios da família,

aviso a funcionária que é designada como minha secretária. Costumo fazer


isso do elevador, mas hoje a privacidade é mais do que bem-vinda.
Sigo na frente deles, depois de conferir que consegue tirar o carrinho do
elevador. Finalmente dentro da sala, aponto o sofá para que ele se acomode.
Ignorando-me, ele enfim abre a “prisão” do bebê.
— Quer vê-la?
Eu quero? Sim, quero. Nada em minha vida fica pela metade. O abstrato
também não funciona comigo. A expressão ver para crer se encaixa em mim
como uma luva.

— Sim.
Ele se abaixa e pega a bebê, uma coisinha minúscula e envolta em um
cobertor com vários tons de rosa.
— Eu vou te explicar tudo, mas primeiro precisa saber que minha irmã

tentou te encontrar desde que soube da gravidez, há cerca de seis meses.


— Eu estava fora dos Estados Unidos.
— Sei disso… sou… era seu fã.
— Era?
Ele ainda não me mostra a criança.
— Sim, por enquanto, eu era seu fã. Só posso ter certeza se vou continuar
gostando de você depois de ver como vai tratar minha sobrinha e Petal.
Sem medo de errar, é a conversa mais louca que eu já tive na vida.

— Quantos anos você tem?


— Quatorze, mas não se engane com isso. Sou uma criança para a lei, mas
posso lutar pela minha família com unhas e dentes.
Apesar da vontade fora de hora de rir, eu não o faço. Não sei nada do
menino, mas reconheço a dignidade quando a vejo.
Ele está falando sério.
— Não tenho qualquer intenção de ferir sua família e se essa bebê for
minha, eu a assumirei.
Quanto a isso não há qualquer dúvida. Um Caldwell-Oviedo não cresce

longe da família.
Mesmo que tente disfarçar, posso ver o alívio em seu rosto.
— Quer pegá-la?
Dou um passo para perto e somente aceno com a cabeça, concordando.

Estou muito nervoso, como se fazendo parte de uma realidade paralela.


Quando acordei hoje, imaginei um dia normal e que depois de um tempo
aqui no escritório, sairia para treinar. E então, como se a vida mostrasse que
não adianta muito antecipar e planejar, me deparo com a possibilidade de ser
pai.
Ele estica os braços, mas posso ver que hesita.
— Não vou machucá-la. Tenho vários sobrinhos. Já segurei muitos bebês
— digo, um pouco irritado.

— Pesquisei tudo sobre você, mesmo que eu já soubesse bastante antes de


ser informado que ficou com a minha irmã. Como eu lhe falei, era seu fã. Eu
nunca deixaria que chegasse perto delas duas se pensasse que é uma pessoa
ruim.
A bebê resmunga como se estivesse impaciente porque ele ainda não me
entregou-a e finalmente eu vejo seu rosto.
Ela é muito pequena, um pedacinho de gente de nada, e seus olhos estão
fechados, apesar da boquinha estar contraída em um bico de choro. Mas
como se soubesse que esse é um momento importante para nós, ela os abre,

me encara e a expressão suaviza.


Dou um passo para trás. Por tudo o que sei de escutar minha mãe e
cunhadas, os olhos de um bebê podem mudar de cor, mas nesse instante, eles
são da exata tonalidade que apenas eu e meu pai temos na família. Olívia, a

esposa de Guillermo, brinca dizendo que é um azul de desenho animado,


parecendo lente de contato, e a menina, Willow, possui olhos exatamente no
mesmo tom.
Capítulo 19

Rafe

Eu a seguro com cuidado e alguma coisa no corpo minúsculo e quente faz


com que uma sensação de paz se espalhe pelo meu peito. Estudo seu rosto
com a mesma atenção a que dou à última tacada em um campeonato,
tentando adivinhar a verdade por trás das microexpressões.
— Você é minha? — pergunto, me afastando com ela nos braços e dando
as costas para o garoto.
Sim, sei que é idiota conversar com um bebê, mas ela parece entender
minha pergunta porque a mão pequenina se estica, como se tentasse tocar

meu rosto.
— Eu sou seu pai, Willow?
Ela sorri e uma emoção como nunca experimentei se espalha dentro de
mim.
Eu sou pai?
Isso não é uma surpresa apenas, é algo que mudará todas as regras do jogo
da vida.
— Minha irmã não mente. Sei que você não a conhece, já que só se viram
naquela Noite Escura, mas Petal é a pessoa mais honesta do mundo.

— Para onde ela foi? Por que pediu para que tomasse conta de você? —
obrigo-me a perguntar, embora não consiga desviar os olhos do bebê, e
parece que é recíproco.
— Não preciso que ninguém tome conta de mim.

Volto a encará-lo.
— Não sei nada sobre vocês e o contrário possivelmente é verdade, pois
mesmo com todas essas pesquisas que fez, Phoenix, talvez não tenha
encontrado o principal: não fujo de responsabilidades. Sua irmã, seja lá por
qual razão, disse que eu deveria ficar com vocês dois até que ela volte e é
exatamente o que vai acontecer.
Ele me olha e eu tenho certeza de que está louco para discordar, mas
depois de um suspiro, senta-se no sofá. Acomodo-me em uma poltrona à sua

frente, sem lhe devolver o bebê que, agora, voltou a fechar os olhos e parece
cochilar.
— Pode deitá-la no carrinho, se quiser.
— Não, estou bem assim. Agora conte-me da sua irmã. Para onde ela foi?
— Ela estava de licença-maternidade, mas trabalha como secretária júnior.
— Pausa. — Olha, é uma história bem longa.
— Eu estou com tempo.
— A primeira coisa que vou lhe dizer, é que não existe pessoa mais
verdadeira no mundo do que Petal. Ela nunca…

Meu telefone celular vibra, interrompendo sua fala.


— Eu preciso atender.
Entrego-lhe a bebê e vejo quando a deita no carrinho.
Ando até a janela.

— Doutor Rafael?
Sei quem está chamando. O detetive que contratei para descobrir sobre a
mulher que, de uma maneira ou de outra, parece estar destinada a fazer parte
da minha vida.
— Sim?
— Gostaria de me reunir com o senhor hoje.
— Não é um bom dia. Adiante-me o que descobriu.
— Tenho um relatório pronto.

— Ótimo, fale agora. Depois pode me enviá-lo por e-mail.


— Bem, a mulher se chama Petal Bartley, vinte e um anos, até pouco
tempo morava com a tia e o irmão.
Olho para trás e percebo que Phoenix está atento à conversa. Faço um
sinal com a mão, apontando a outra sala e me dirijo para lá.
— Morava com a tia?
— Sim, ela faleceu. Agora só restou a senhorita Bartley e o irmão. A
mulher de quem lhe falei, Darcy Bartley, os criou. Tia materna, nenhum dos
dois jamais teve contato com os pais, que suponho que sejam diferentes, já

que o do menino, Phoenix, tem nome, sobrenome e endereço.


— Pode me detalhar tudo isso no relatório que me enviará, o que quero
saber agora é sobre ela.
— Moça normal. Trabalhadora, sustenta a família com sua função como

secretária na Acker Sports, servindo diretamente ao presidente da empresa,


Augustus Acker.
O pai do anfitrião da Noite Escura, segundo Archer me contou depois.
— E o que mais?
— Não tem ficha criminal, nem sequer uma multa de trânsito, talvez
porque não dirija — ele fala rindo, como se achasse graça na própria piada.
— Eu revirei a vida dela do avesso e não há esqueletos no armário.
— E quanto a homens?

Ele pausa.
— O que vou dizer agora vai soar bem estranho. Ela não parece ter um
namorado, mas… hum… acabou de ter um bebê.
— Crianças não são feitas sem a participação de um homem na equação
— falo, escondendo informações. Não há porque revelar sobre Willow agora.
— Eu sei disso, mas eu fui até o fundo na vida da menina e não encontrei
nada além de um namoradinho no ensino médio. Entretanto, ninguém
atualmente que justificasse o nascimento de um bebê.
— Continue procurando — falo, mesmo que por dentro, cada vez mais a

certeza se firme dentro de mim.


Apesar disso, não estou nem perto de ser ingênuo, então, assim que
desligo o telefone, completo uma ligação para meu empresário.
— Preciso que um médico discreto e de extrema confiança venha à sede

das empresas da minha família.


— O que aconteceu? Alguém doente?
— Ouça o que vou lhe falar e juro por Deus que se fizer qualquer
comentário agora, estará demitido. Não preciso de conselhos no momento.
Quero que quem quer que você envie, traga um kit de DNA. Na outra sala, eu
tenho um bebê que alegam ser meu e…
— Rafe…
— Eu não brinquei quando disse que vou demitir você, Luigi. Minha

cabeça está acelerada e tudo o que preciso é de uma fodida resposta


científica.
— Tudo bem. Posso conseguir isso em uma hora.
— Mande-o subir direto para a minha sala. Deixarei avisado com os
seguranças. Ah, e eu preciso desse resultado o mais rápido possível.
— Isso é o de menos. Usaremos a mesma empresa de Cincinnati, como
fizemos da última vez que uma louca alegou que você era pai do filho dela.
Mandarei que levem o kit por avião. Amanhã à tarde já terá sua resposta.
— Estou esperando o médico. Não sairei daqui até que tudo se resolva.

Desligo, volto para a sala e vejo a apreensão no rosto do adolescente.


— Com quem você estava falando?
— Um investigador que coloquei para descobrir quem era sua irmã.
— O quê? — Ergue-se, o rosto transmutado em ira. — Por quê? Minha

irmã não é uma criminosa!


— Acalme-se. Mesmo antes de vocês aparecerem aqui, eu já iria procurá-
la.
Ele volta a se sentar.
— Por quê?
— Isso não é da sua conta. Agora, antes de terminar aquela história do
porque sua irmã saiu correndo, deixe-me contar algo. Chamei um médico
para fazer um exame de DNA.

— Não vai machucá-la só porque não consegue acreditar em nós — diz,


andando até o carrinho e se posicionando de maneira protetora ao lado dele.
— É indolor. Pegarão um pouco de saliva de dentro da bochecha dela e da
minha. Isso é tudo. O resultado sai em vinte e quatro horas.
— E o que vai acontecer quando tiver certeza? Porque eu sei que ela é sua.
É quase comovente a fé que ele tem na irmã.
— Se Willow for minha, eu vou assumi-la.
— Não vai tirar a filha da minha irmã.
— Eu não tenho qualquer intenção de fazer isso. Um filho precisa crescer

perto da mãe.
— Talvez Petal vá precisar de ajuda.
Ele tenta soar corajoso e eu não consigo deixar de gostar do garoto. É uma
criança, mas com uma força excepcional.

— Por que, Phoenix?


Ele se senta e puxa o carrinho para mais perto de si.
— Estão acusando-a de ter se envolvido em um esquema para roubar o
dinheiro da empresa em que trabalha e enviar para fora do país.
— O quê?
— Isso não aconteceu. Somos pobres. Mesmo que a minha irmã não fosse
a melhor pessoa do mundo, e ela é, faz sentido passarmos necessidade se ela
estivesse com tanto dinheiro?

— Passam necessidade? O que falta?


— Não passamos fome, se é isso que está perguntando. A vida é apenas…
difícil, mas minha irmã é uma guerreira.
Algo dentro de mim se contorce. Ela atravessou a gravidez inteira sozinha,
tendo que cuidar da família e de si mesma, enquanto eu estava vivendo meu
retiro em um paraíso grego. Racionalmente, sei que não tenho culpa porque
não fazia ideia da situação, mas ainda assim o mal-estar não diminui.
— Não sei muito a respeito dessa história de esquema — ele continua —,
e acho que nem ela sabe, mas a ideia é tão idiota que até agora, Petal não

havia levado a sério. Então hoje me contou que Lleyton Acker, o filho do
chefe dela, telefonou dizendo que havia risco de que fosse presa e que para
evitar isso, deveria ir se encontrar com o pai dele, doutor Augustus. Foi por
isso que minha irmã pediu para tomar conta de nós. Ela me explicou na vinda

para cá que tem medo de que criem provas falsas e a prendam. Daí, eu e
Willow seremos entregues ao serviço social. Não me importo comigo, mas
não pode deixar que levem Willow, Rafe.
O medo o faz esquecer da maneira formal como estava me tratando antes e
agora tudo o que vejo é um adolescente tentando agir como um adulto, mas
completamente apavorado.
— Isso não vai acontecer. Independentemente de Willow ser minha ou
não…

— Ela é.
— Qualquer que seja o resultado do teste de DNA, sua irmã deixou vocês
dois comigo e ninguém os levará embora. Fique aqui um instante.
Volto para a outra sala e ligo para a pessoa de mente mais pragmática da
minha família depois de mim mesmo.
— Joaquín, o quão cheio está seu dia?
— O que houve, Rafe?
— Preciso que venha me encontrar. Estou na sede das empresas. Não fale
com nossos pais ou nenhum dos outros por enquanto.
Capítulo 20

Petal

Uma vez eu assisti uma reportagem antiga, sobre uma sobrevivente de um


campo de concentração da Segunda Guerra Mundial, em que o repórter
perguntava como ela havia conseguido atravessar os horrores que lhe foram
impostos.
Sua resposta vai ao encontro do que estou sentindo hoje: “não fazemos
ideia de quão fortes somos, até que precisamos ser”.
Talvez, se eu fosse sozinha no mundo, o que Lleyton me disse mais cedo
ao telefone teria me deixado paralisada pelo medo, mas tudo o que sinto é a

adrenalina correndo em minhas veias e a necessidade de limpar meu nome


para poder seguir em frente.
As duas pessoas que realmente contam precisam de mim, e mesmo que
agora Rafael já saiba que tem uma filha, Willow e Phoenix são de minha
responsabilidade.
Desço do táxi em frente à mansão do senhor Augustus e mal posso
acreditar que após meses sem ver meu empregador, eu esteja indo ao seu
encontro para jurar minha inocência.
Ele vai acreditar em mim? Sim, vai, porque eu não irei embora até

convencê-lo. Ele não deve estar tão mal de saúde ou não concordaria em me
receber.
Uma voz no fundo da minha mente diz que eu deveria ter procurado um
advogado antes de vir, então eu me lembro dos programas de detetive que

assisti com meu irmão no Investigação Discovery. Neles, os policiais sempre


diziam que quem pede por um advogado é porque tem algo a esconder, já que
o ônus da prova é de quem acusa.
Ando até a guarita, preparada para milhares de perguntas por parte do
porteiro. Apesar de nunca ter vindo aqui, sei mais ou menos como funciona a
vida dos ricos e a mente daqueles que zelam por sua segurança. Qualquer um
que não pertença ao meio é considerado uma ameaça.
Surpreendentemente, no entanto, assim que digo meu nome, o homem me

deixa passar e me instrui como chegar até a casa. Há uma boa distância entre
a guarita e a entrada da mansão que já vi algumas vezes em revista, mas o
frio me faz apressar o passo e em menos de cinco minutos chego à porta.
Uma empregada, uma senhora que deve ter por volta dos cinquenta anos,
vem abrir, provavelmente avisada pelo segurança e depois que me identifico,
ela me leva até o segundo andar.
— Achei que o encontraria na sala.
— Doutor Augustus não tem se levantado, mas eu fui instruída pelo
segurança, para que a deixasse entrar — ela confirma o que eu imaginara.

A casa, pelo que posso notar, além de obviamente enorme, é muito escura
também e penso que combina com a personalidade do meu chefe. A escada é
larga e o corrimão, de madeira maciça quase negra.
Assim que chegamos ao corredor, para minha surpresa, ela diz:

— Basta bater na porta e em seguida, ir encontrá-lo.


— Mas eu não acho que deva…
— Ele me falou hoje cedo que estaria à sua espera. Já estou no meu
horário de ir embora. Não o faça esperar.
Antes que eu possa protestar, porque me sinto constrangida em estar em
uma situação tão íntima com um homem que, apesar de sempre ter sido bom
para mim, não tenho qualquer proximidade além de um relacionamento de
patrão e empregada, ela me deixa.

Dois minutos depois, ainda estou congelada no lugar, muito insegura sobre
o que fazer quando ouço uma porta bater lá embaixo.
Ensaio mentalmente o que dizer ao meu chefe, mas não consigo organizar
uma frase sequer a não ser: eu sou inocente do que quer que estejam me
acusando.
Deus, foi um erro ter vindo aqui. Eu realmente deveria ter procurado um
advogado antes.
Tiro as luvas e seco as duas mãos úmidas — fruto do nervosismo — no
meu jeans. Finalmente alcanço a maçaneta.

O quarto mais parece uma outra casa. Há uma antessala com uma espécie
de hall, onde um móvel pesado, com um espelho em cima, me deixa ver o
quanto estou pálida. Mais à frente, outra porta antes que eu alcance o
aposento principal.

Dessa vez, ao tocar nela, respiro fundo, pois sei que talvez a partir dessa
conversa, meu futuro seja decidido.
Ao contrário do que esperava, o quarto está todo no escuro, mas posso ver
o contorno do corpo dele em cima da cama.
Sem que eu consiga entender a razão, aquilo me causa arrepios.
— Doutor Augustus? Sou eu, Petal. Sua empregada me disse que estava
me esperando, mas se não se sente bem... — falo, ao mesmo tempo em que
procuro pelo interruptor — posso ir embora.

Quando o encontro, imediatamente acendo-o e, então, é como apagar e


acordar dentro de um pesadelo, porque o meu chefe, o homem que me deu a
chance de crescer e melhorar minha vida, o mesmo que não foi para mim
nada além de um protetor, está deitado em cima da cama com uma faca
enterrada até o cabo em seu peito.
Um som alto e incessante como o de um animal ferido ecoa em todo o
ambiente, e somente depois de alguns segundos, percebo que são meus
gritos.
Eu não consigo me mexer, nem para me aproximar e nem para sair

correndo, mas ouço um movimento atrás de mim. Quando volto-me para


olhar, vejo a mesma empregada que me recebeu, parada.
— Ele… ele… — começo, mas ela me interrompe:
— O que você fez?

— O quê?
Ela anda até a cama.
— Você o matou!
— Não!
Como em câmera lenta, vejo-a pegar o celular e, em choque, escuto-a falar
com a polícia.
Não muito tempo depois, Lleyton entra.
— Ela matou seu pai! — a mulher acusa.

— Não! — grito novamente porque não consigo dizer mais nada.


— Sim, você fez! — a louca continua.
— Por que, Petal? — ele pergunta, como se eu fosse uma estranha, como
se fizesse algum sentido o que a mulher está dizendo.
— Lleyton, pelo amor de Deus, você não pode acreditar nisso.
— Não? Eu nem sei mais quem é você — fala, como se não fôssemos
amigos. — Mas de uma coisa pode ter certeza: não sairá disso impune.
São as últimas palavras que ouço antes de perder os sentidos.

Não sei quanto tempo demoro para despertar, mas entro em pânico
novamente quando vejo alguns policiais dentro do quarto. Quando veem que
eu acordei, um deles me ergue do chão sem qualquer delicadeza.
Como as séries policiais as quais assisto, ele começa a ler os meus

direitos, mas eu não falo nada e o homem sacode meu braço até que eu
responda que entendi.
Lleyton observa tudo à distância, mas não há mais nada em seu rosto que
lembre a pessoa com quem convivi por quase um ano, e sim indiferença,
desprezo.
Meus seios doem do leite porque já passou da hora de amamentar Willow
e quando penso do que eles estão me acusando, assim como na minha

filhinha, entro em pânico.

Eles descem cada um segurando meus braços, como se eu fosse fugir. Há


um carro de polícia parado em frente à mansão, mas que me façam entrar,
algemam minhas mãos.
— Eu preciso dar um telefonema — digo, mas o policial já está me

empurrando para o banco de trás da viatura.


Já dentro, entretanto, eu penso: para quem?
Não sei o número de Rafael, e Phoenix nunca carrega seu celular.
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, mas os aperto com força.
Não vou chorar. Eu sou inocente, e sei disso.
Lembro-me novamente dos programas sobre crimes que eu assisti.
Mesmo com a cena horrível à minha frente, da qual sei que nunca me
esquecerei, eu não toquei naquela faca. Não há nada que comprove que sou

uma assassina. Tudo o que preciso é me acalmar e assim que chegar na


delegacia, pedir por um advogado.
Estou tentando racionalizar do mesmo modo com que faço em qualquer
área da minha vida, mas meu corpo inteiro treme.
Cuide deles, Rafael. Cuide da minha família, por enquanto. Eu vou voltar.
Capítulo 21

Rafe

O médico acabou de sair do meu escritório e agora estou esperando


Joaquín.
Durante o curto espaço de tempo em que o homem colheu material para o
exame de DNA, Phoenix ficou em cima como um urso protegendo seu filhote
e mexeu comigo a maneira protetora com que ele age sobre a criança que,
possivelmente, é minha.
— Eu preciso do número do celular da sua irmã. Já faz mais de duas horas

que ela saiu e nada garante que vá voltar.


— Mer… porcaria, eu esqueci meu telefone em casa. Mas se puder me
emprestar um, posso tentar falar com ela.
— Pode usar um fixo — falo, apontando para a mesa.
— Daqui a pouco eu ligo. Antes preciso dar a mamadeira de Willow.
— Deixe que eu dou.
Ele me olha como se tivesse nascido um terceiro olho em mim.
— Eu lhe disse que tenho sobrinhos. Sei trocar fraldas e dar uma
mamadeira, pelo amor de Deus!

Ele vai até uma malinha presa no carrinho.


— Não sei se ela vai gostar da fórmula porque nunca tomou, mas já
passou da hora de comer.
Ele põe a mamadeira na mesinha ao meu lado e eu me levanto para pegar

o bebê, que dorme tranquilamente, mesmo depois que a tenho em meus


braços.
Estou um pouco destreinado porque a criança que foi mais próxima a
mim, de todos os meus sobrinhos, era Valentina, já que Guillermo sempre a
deixava na casa da minha mãe.
— Não a deite totalmente para alimentá-la.
— Calma aí, cowboy. Esse não é meu primeiro rodeio.
Ele finalmente confia ir até o telefone.

Pego a mamadeira e destampo.


— Hey, Willow, hora do almoço.
Na verdade, passou muito da hora do almoço, mas não faço a menor ideia
de quantas vezes os bebês precisam comer.
Ao escutar minha voz, ela abre os olhos. Aqueles olhos tão iguais aos
meus.
De repente, me sinto um idiota por ter feito o teste de DNA, pois cada
célula do meu corpo sabe que essa criança é minha.
Sim, eu estou segurando a minha menina. Um bebê que eu fiz com uma

desconhecida, em uma noite de loucura.


Uma mulher que pode estar correndo risco de ser presa nesse instante.
— Vai ficar tudo bem, amor. Vou trazer sua mãe de volta e você vai poder
mamar à vontade, mas agora seja uma boa garota e aceite este lanchinho

improvisado.
Ela abre a boca pequenina quando coloco o bico em seus lábios, mas
assim que prova o líquido de cor esbranquiçada, faz uma cara de desgosto.
— Eu sei, o leite da sua mãe deve ser muito melhor, mas encare isso como
um desafio, Willow. Nós, os Caldwell-Oviedo, não nos dobramos a uma
comidinha meia-boca. Vamos lá.
Somente depois da quarta tentativa ela começa a mamar e eu me sinto
como um cretino vaidoso por tê-la convencido.

— Ninguém atende o telefone. Vai direto para a caixa postal.


Não percebi que Phoenix estava ao meu lado, nos observando.
— É algo normal de acontecer?
— Não. Minha irmã é a pessoa mais responsável do mundo, Rafe…
hum… Rafael.
— Basta Rafe.
— Tudo bem — diz, sentando-se na mesinha de centro, provavelmente
para ficar mais perto de mim e da sobrinha — Petal é correta e responsável.
Ela carregava a casa nas costas mesmo antes da nossa tia Darcy falecer.

— O que aconteceu?
— Ela sofreu um infarto, mas já estava doente há anos.
— Eu sinto muito.
— Nós também. Ela foi muito boa em nos criar e nem chegou a conhecer

Willow. O que acontecerá se Petal… se ela…


— O quê?
— Se ela não voltar?
— Acredita na história de que poderia ser presa?
— Só um idiota pensaria que Petal cometeria um crime, mas o mundo está
cheio de idiotas.
— Nisso eu concordo. Um dos meus irmãos está vindo. Assim que Willow
acabar de mamar, a devolvemos para o carrinho, para dormir. Quando

Joaquín chegar, vamos nos reunir para pensar no que fazer para encontrarmos
sua irmã.
— Acredita que ela é sua? Mesmo sem o resultado do exame de DNA,
acredita que Willow é sua filha?
— Eu acredito haver uma grande chance, sim. Temos os mesmos olhos,
mas eu não minto, Phoenix. Sou conhecido por ser sempre brutalmente
sincero. Eu preciso ver esse resultado porque não posso agir com o coração
nesse caso. Trazer um bebê para minha família significa fazer minha mãe, pai
e irmãos acreditarem que há um novo membro Caldwell-Oviedo. Será uma

grande decepção se, no fim de tudo, não for verdade.


— E você a quer? Porque falou sobre sua família, mas eu sei que ela é sua
porque acredito na palavra da minha irmã. Willow é sua filha, mas você a
quer?

Não hesito.
— Se Willow for minha filha, ela é um pedaço de mim, Phoenix. Como
poderia não querê-la?
Ela solta o bico da mamadeira como se soubesse que estamos falando
sobre ela. Olha-me fixamente como se do mesmo modo que eu tentasse
entender quem é na minha vida, quisesse saber o mesmo.
— Ela está sorrindo.
— Isso é bem raro. Geralmente ela sorri apenas na hora do banho. — diz.

— Você precisa fazê-la arrotar, mas se quer um conselho, me dá ela aqui


porque costuma golfar com os arrotos.
— Como sabe tanto?
— Porque ela e Petal são meu mundo. Sei tudo sobre as duas.
— Só me diga como fazê-la arrotar. Posso lidar com isso.
— Coloque-a na vertical e dê tapinhas suaves nas costas. Não costuma
demorar.
Como ele disse, na segunda vez que bato nas costas da bebê, ela dá um
arroto barulhento.

— Jesus!
— Não viu nada. Daqui a pouco vou trocar as fraldas dela e daí você vai
ver o que é estrago.
A porta da minha sala se abre e meu irmão entra. Com seu estilo nada sutil

característico, já chega causando problema.


— O que, no inferno, está acontecendo aqui?
— Não pragueje na frente da minha sobrinha — Phoenix diz e ele o
ignora.
— Rafe.
— Nós já vamos conversar, Joaquín. Deixa eu só fazer a Willow dormir.
A propósito, esse aqui é Phoenix.
— E isso deveria significar alguma coisa para mim? —pergunta, sem fazer

qualquer movimento para cumprimentar o irmão de Petal.


— Depende, se você quiser chegar perto da sua sobrinha, que vem a ser
minha também, é melhor começar a melhorar os seus modos… Joaquín, não
é mesmo? — Phoenix devolve, sem se deixar intimidar e eu quase rio da
situação louca.
— Joaquín, espere-me na outra sala. Já nos falamos.
— Não. Quero explicações agora.
— Só depois que Willow dormir.
Ele se senta em uma poltrona e cruza as pernas. Sinto-o me observando

enquanto ando de um lado para o outro com a bebê, como já vi Guillermo


fazer várias vezes com Valentina. Em pouco tempo um ronquinho suave
começa a vibrar de Willow e eu a levo até o carrinho.
Depois que me certifico de que está bem acomodada, chamo os dois.

— Na outra sala, para não acordá-la.


Dez minutos depois, quando termino de contar o básico, omitindo os
detalhes da noite escura em respeito a Phoenix, Joaquín já não parece prestes
a ter um infarto.
— Essa história de ser presa, há algum fundamento para que você creia
que sua irmã poderia ter ido embora e abandonado vocês?
Phoenix, que estava começando a se acalmar, pula do sofá parecendo
disposto a ir para cima de Joaquín.

— Não, ela nunca faria isso — eu respondo e faço um gesto com a mão
para o garoto se sentar outra vez.
— Como pode ter certeza?
— Porque acredito nele. E também porque o detetive particular que você
me indicou virou a vida dela do avesso e não achou nada além de uma mulher
trabalhadora.
— Então ela não estar atendendo o telefone só pode significar duas coisas:
ou está ferida em algum hospital, ou foi de fato presa.
— O quê? — o menino pergunta, pálido.

— Phoenix, ele só está esclarecendo as possibilidades, não significa que


qualquer uma das hipóteses seja verdade.
— Eu vou dar uns telefonemas, mas não posso me envolver diretamente
porque isso iria prejudicá-la mais do que ajudar. Se vazar para a imprensa que

sua… — Ele pausa sem saber como continuar, porque nem eu mesmo sei. —
Enfim, se vazar para a imprensa que a moça tem algum envolvimento
comigo, vão falar em favorecimento, caso tenha sido mesmo presa.
— Preciso de um advogado.
— Eu sei, mas calma por enquanto. Deixe-me falar com Enrico

Lambertucci[26]. Se ela foi detida, ele vai descobrir sem que precisemos
mostrar nossas caras por ora.
Há muito mais que eu quero dizer, mas não na frente do garoto e Joaquín

quem sugere.
— Por que não os leva para sua casa? Não pode ficar com a garotinha
aqui. Acione o motorista e nós desceremos em seguida.
— Virá conosco? E Bianca e as crianças?
Ele se levanta e vai até a janela. Sei que o que quer que tenha para me
falar, não quer fazê-lo na frente de Phoenix.
Quando o alcanço, diz:
— Vou telefonar para Bianca e pedir que fique com os dois lá em casa.
Pedirei que não conte nada para o resto da família, mas se Petal foi presa,

talvez seja preciso que você vá até a delegacia e nesse caso, alguém tem que
tomar conta dos dois.
— Tudo bem, vamos fazer isso. Essa história de fraude, no que pode dar?
— Rafe, você me conhece. Eu não me posiciono sem saber os dois lados

da história. Deixe-me falar com Enrico e até chegarmos à minha casa, garanto
que ele descobrirá o paradeiro da garota.
Cinco minutos depois, descemos pelo elevador privativo e agora as
pessoas sequer disfarçam o quanto estão prestando atenção em nós. Enquanto
empurro o carrinho com Willow, meu irmão passa o braço em volta dos
ombros de Phoenix, que parece ter esgotado toda sua combatividade e se
deixa guiar passivamente.
Capítulo 22

Rafe

— Eu esqueci meu telefone em casa. Como vou poder falar com você e
saber o que está acontecendo? — Phoenix pergunta.
— Use o da minha esposa. Ou mesmo o fixo quando chegar lá — Joaquín
diz enquanto o motorista acomoda o carrinho de Willow no porta-malas. —
Ela tem o número de Rafe.
Depois disso, ele se dirige ao próprio veículo enquanto entro com Willow
e Phoenix. A porta já está quase se fechando quando Joaquín volta a aparecer.
— Aqui, use a cadeirinha de Miguel — fala, referindo-se ao filho caçula.

— Não podem andar de carro por Boston com ela no colo.


— Nós andamos quando viemos — Phoenix confessa com o rosto
vermelho. — Não temos carro e minha irmã estava desesperada.
— Foi uma situação de emergência — meu irmão, para minha surpresa,
pondera. — Agora que há uma a mão, devemos usá-la.
Depois que prende a cadeirinha no banco traseiro e acomodamos Willow,
meu irmão se vai.
— A esposa dele não ficará aborrecida de ficarmos lá, Rafe?
— Não é assim que a minha família funciona, Phoenix. Cuidamos uns dos

outros.
— Eu não sou da família — ele diz, olhando para fora.
— Se Willow é minha filha e você tio dela, então, sim, é da família agora.
— Eu só quero minha irmã de volta. Petal não procurou você por causa do

seu dinheiro. Mesmo que o mundo inteiro vá pensar isso porque somos
pobres, ela tentou encontrá-lo porque disse que não queria que Willow
crescesse sem pai como nós, e principalmente, porque ficou com medo de ser
presa depois do que aquele homem, Lleyton Acker, inventou.
— Inventou?
— Eu não gosto dele e acho que armou para Petal.
— Por quê?
— Ele a olha… não sei explicar. Eu sempre o odiei. O homem a olhava

como se ela fosse uma coisa que lhe pertencesse. Quando descobriu que
estava grávida, a pediu em casamento. Queria que minha irmã fingisse para o
mundo que Willow era deles.
— O quê?
— Ele não sabe quem é o pai de Willow, pois Petal guardava esse segredo
a sete-chaves. Disse que nunca contaria a alguém antes que você mesmo
soubesse. Lleyton ficou obcecado em se casar com a minha irmã e assumir o
bebê. Petal disse que não, porque a filha dela tinha pai e ele, você no caso,
tinha o direito de saber a verdade.

Aos poucos, conforme ele vai falando sobre a irmã, apesar do breve
contato que tivemos, uma ideia mental vai se formando sobre quem é a
mulher com quem passei uma noite de prazer.
Nova, trabalhadora, honesta. Mãe amorosa, se levar em conta o quanto

Willow parece bem cuidada.


— Eu vou trazer sua irmã de volta.
— Não quero nada além disso. Nós nunca fomos ricos e nem precisamos
de dinheiro para sermos felizes. Eu vou ser CEO quando crescer e proteger as
duas. A única coisa que peço é que seja bom para Willow. Nós crescemos
sem pai e ela merece ter o dela por perto.
Depois disso, ele torna a olhar pela janela e não fala mais nada até
chegarmos à casa de Joaquín.

Atravessamos o portão e Bianca já está do lado de fora esperando, mesmo


que a temperatura esteja abaixo de zero. A esposa do meu irmão é tão
carinhosa quanto a minha mãe, assimilando completamente o conceito de
família como nós, os Caldwell-Oviedo, o entendemos.
— Sejam bem-vindos — ela diz, e já dá um abraço em Phoenix. Depois,
pega Willow do meu colo.
Não tenho dúvidas de que durante o caminho para cá, Joaquín deve ter lhe
avisado da situação.
— Não conte nada aos outros, por enquanto — peço o que já havia dito ao

meu irmão.
— Não se preocupe com isso, Rafe. Só vá lá e traga a mãe dessa menina
linda de volta. Agora acho que devemos entrar porque está muito frio.
Ela vira as costas e andando para a casa, sendo acompanhada pelo olhar

atento de Phoenix.
— Promete me ligar assim que souber de alguma coisa? — pede.
— Tem minha palavra.
— Mesmo que ela… mesmo se…
— Eu vou te avisar. Você já mostrou ao longo do dia que é um homem,
Phoenix. Eu o tratarei como tal. Vou encontrar sua irmã, custe o que custar.
Grave o número dela aqui no meu telefone. Vou continuar tentando ligar.
Passo o aparelho para ele, que digita rápido.

— Vou esperar notícias — diz, esticando a mão e depois de me


cumprimentar, segue para dentro de casa.
— Já sei onde ela está — Joaquín diz, se aproximando.
— O quê? Por que não falou na frente dele? Viu o quanto estava
preocupado com a irmã.
— Vamos até meu carro. Está um frio filho da puta aqui fora.
Joaquín não usa motorista e os guarda-costas que o acompanham, seguem-
no atrás, em outro veículo. Após fechar a porta, diz, sem preâmbulos:
— Ela foi presa, mas não pelo que está pensando. Foi por homicídio.

— O quê? Que absurdo é esse?


— No caminho para cá, Enrico me ligou. Ele levou um piscar de olhos
para descobrir onde a garota estava. Não sabemos dos detalhes, mas eu já
providenciei um advogado criminalista. Como eu disse antes, não posso me

envolver porque vai prejudicá-la mais do que ajudar, mas pedi que Enrico me
indicasse o melhor defensor criminal que conhece, e sua resposta foi Matheus
Berardi, o padrasto da cunhada dele, Samantha Devereaux. Ou melhor,

Samantha Lambertucci[27], já que é casada com o irmão de Enrico,

Gabriel[28]. Ele só pega casos muito especiais atualmente, mas aceitará o de


Petal como um favor pessoal. Sendo inocente ou culpada, se há alguém com
chance de livrá-la de uma condenação, é ele.
Apesar de todas as informações que me solta, eu só consigo imaginar a

mulher com quem provavelmente tenho uma filha, na cadeia.


— Por tudo que sei dela, não seria capaz de matar.
— Não estou dizendo que é culpada, Rafe, mas aprenda uma coisa:
qualquer um é capaz de matar, dependendo do que esteja em jogo.
Não tenho como discordar do que diz. Se por uma hipótese, alguém
invadisse minha casa e ameaçasse qualquer um dos meus familiares, eu
mataria sem pensar duas vezes.
— Presa onde? O que quer que tenha acontecido, precisamos tirá-la de lá.
— Matheus já foi encontrá-la, mas como houve um suposto flagrante,

segundo um detetive repassou a Enrico, talvez consigam mantê-la lá por ao


menos vinte e quatro horas.
Eu começo a protestar, mas ele me interrompe.
— Confie em mim, Rafael. Seja o que for que tenha acontecido, ela vai

responder em liberdade. Sua garota não é boba. Assim que chegou à


delegacia, pediu por um advogado e eles não a atenderam. Infringiram a lei
ao interrogá-la sem um representante legal, mesmo após ela ter pedido por
um.
— Quero vê-la.
— Tem certeza disso?
— Sim. Se Willow for minha, Petal também é de uma certa forma, e até
que a verdade seja esclarecida, terá o meu apoio.
Capítulo 23

Rafe

Eu nunca entrei em uma delegacia na minha vida. Pode parecer uma coisa
idiota, mas é um fato. Por que precisaria? Sou um atleta, e o mais próximo
que já passei da justiça até hoje, tirando os exames de DNA que precisei fazer
para ter certeza de que não era pai das crianças que me atribuíam, foi ser
irmão de Joaquín.
Eu me despedi dele logo depois da nossa conversa e pude ver pelo seu
rosto o quanto lhe custou me deixar ir, mas antes de qualquer coisa, Joaquín
sempre consegue analisar a situação do lado de fora. Até para mim, que sou
um leigo em termos de leis, sua presença poderia realmente prejudicar, ou ao

menos diminuir, as chances de que Petal tenha um tratamento justo.


Se há algo que aprendi pela quantidade de atenção que recebo da imprensa
é que uma mentira se dissemina muito rápido. Para que começassem a
espalhar que Petal estava sendo favorecida diante da justiça por ter alguma
ligação com um juiz federal, pouco custaria.
O motorista estaciona em frente à delegacia, mas antes que eu possa
descer, vejo através da janela do veículo Guillermo se aproximar.
De maneira alguma me espanta que Joaquín o tenha avisado. Uma coisa
que nunca vai mudar em minha família é que não importa com que idade eu

esteja, meus irmãos mais velhos sempre me verão como o caçula dos
homens.
Abro a porta, mas ele faz um gesto para que eu não desça.
— Vamos para o tribunal. Matheus conseguiu uma audiência ainda hoje,

para que um juiz estipule a fiança[29] e Petal seja solta.


— Presumo que você já sabe de tudo?
— Sim, tanto quanto você e Joaquín, mas isso não importa agora, e sim
conseguirmos pôr em liberdade a mãe da sua filha.
Ele nem questiona o DNA, dando como certo de que Willow é de fato
minha.
— Por que não está louco?
Guillermo, de todos, é o mais nervoso por ter precisado, aos vinte e cinco

anos, quando nosso pai sofreu o primeiro AVC, assumir todas as


responsabilidades da nossa família.
— Eu estou. Não gosto de qualquer situação não planejada, como sabe
bem, mas no momento, o que importa é que a mãe da minha sobrinha talvez
esteja sendo acusada injustamente. Todo o resto pode esperar.
Hesito antes de fazer a pergunta que eu quero. Embora eu intua que ela é
inocente, eu não sei nada sobre Petal além do que o detetive e Phoenix me
contaram.
— E ela é inocente? — pergunto.

— Quanto você sabe?


— Pouco. Quando deixou as crianças comigo, ela disse que voltaria, mas
não o fez. Horas depois, Joaquín descobriu que havia sido presa, acusada de
matar o ex-chefe, mas não sei os detalhes.

— Para o tribunal — ele avisa ao motorista e depois volta a se concentrar


em mim. — Conversei com Matheus.
— Achei que era Joaquín quem o conhecia através de Enrico Lambertucci.
As famílias sempre se deram bem porque Joaquín e Gabriel estudaram na
mesma universidade, mas não sabia da proximidade com o tal Matheus.
— Sim, é Joaquín quem é próximo dos Lambertucci, mas agora já entrei
na jogada e me apresentei a Matheus.
— Conte-me o que aconteceu.

— Não foi ele quem me disse, mas o detetive que é conhecido de Enrico, e
ele me repassou. Como deve saber, sem a autorização de Petal, Matheus não
pode nos relatar nada por causa do acordo de confidencialidade presumido
entre advogado e cliente.
— Tudo bem. O que exatamente estão alegando?
— Ela foi se encontrar com o patrão.
— Sim, isso eu sei.
— Parece que a empregada a flagrou no quarto com Augustus Acker
morto com uma faca enterrada no coração.

— Foda-me!
— Eu sei. A única coisa que me intrigou, e à polícia, é que, segundo o
detetive disse, o morto era um homem grande e sua… hum… Petal é um
pingo de gente.

— Sim, ela é pequenina.


— Enfim, não sabemos muito, mas pelo que Joaquín me disse, Matheus é
o melhor no que faz. Ele vai cuidar do caso com todo empenho.
— Ela ainda está amamentando, Guillermo.
— Porra, eu não sabia disso.
— A bebê só tem um mês de vida e precisou tomar fórmula hoje pela
primeira vez.
— Rafe, nós vamos resolver isso. Não posso prometer que ela sairá livre

após o julgamento, porque não sei nada sobre essa mulher e acredito que
você também não, mas Matheus disse que garante que ela irá para casa ainda
hoje, embora seja certo que o juiz estipulará uma fiança muito alta.
— Eu tenho mais dinheiro do que tempo de vida para gastar. Não importa
o quanto peçam, pagarei. O importante é trazer Petal para perto da filha.
— Quando sai o resultado do teste de DNA?
— Amanhã à tarde. Até lá, não quero contar nada para nossos pais. O
Natal está perto e sabe como mamãe fica emotiva nessa época. Não quero que
se iluda para, em seguida, se decepcionar.

Minutos depois, o motorista para o carro em frente ao tribunal para


descermos.
Dezenas de pessoas sobem e descem as escadarias do edifício, apressadas
e totalmente indiferentes a nós.

Guillermo pega o telefone a fim de se instruir com Joaquín para onde


devemos nos dirigir, já que a audiência é pública, e em pouco tempo estamos
parados em frente à porta de madeira onde um guarda, com uma expressão
fechada, se encontra.
Guillermo o cumprimenta com a cabeça e abre a porta.
Eu demoro segundos somente para encontrá-la, mesmo de costas, em
meio à sala cheia.
Uma figura pequena, agora sem o gorro, deixando ver o cabelo loiro-

branco.
Um senhor está ao seu lado e presumo que seja o advogado, mas há
também duas mulheres sentadas com eles. Mal nos sentamos e ouço o juiz
bater o martelo e dizer:
— A fiança está estipulada em cinco milhões de dólares. A senhorita não
pode deixar o estado em hipótese alguma, ou ela será revogada.
Ouço o que ele diz, mas estou mesmo concentrado nas costas dela, que se
movimentam como se estivesse convulsionando.
Mesmo de longe posso ver o que acontece. Ela está chorando. As mãos

tapando o rosto. Não um choro comum, mas fruto de puro desespero, como
se que prestes a ter um colapso.
E nessa hora eu tenho certeza de sua inocência.
Capítulo 24

Petal

Eu não consigo parar de chorar. Ouço muito ao longe, os advogados que


vieram me defender, e disseram que foi a pedido de Rafael, falarem comigo.
Principalmente o senhor Matheus Berardi.
A única coisa que posso pensar, no entanto, é que daqui a pouco poderei
ver minha filhinha e Phoenix.
Sou amorosa com aqueles com quem me importo, mas não naturalmente
emotiva — mais para fechada, na verdade — , mas nesse instante, é como se
não pudesse controlar as emoções, como se tudo o que guardei uma vida
inteira viesse à tona.

— Senhorita Bartley, ouviu o que o juiz disse? Está livre.


Aceno com a cabeça, ainda sem descobrir o rosto. Ele toca meu ombro e
mesmo morrendo de vergonha pelo meu descontrole, eu o encaro.
Está me oferecendo um lenço para que eu possa secar as lágrimas.
— Obrigada pelo que fez — obrigo-me a falar. — Não sei como
conseguiu, mas acho que deve ter sido Rafael quem concordou em pagar essa
fiança tão alta, né? Não sei como funciona, mas em relação aos seus
honorários, depois o senhor pode me dizer como posso parcelá-los?
Tento parecer corajosa porque não há alternativa, mas sei que nem que eu

trabalhe como uma escrava a vida inteira conseguirei quitar essa dívida.
— Seu caso é pro bono.
— O que isso significa?
— Não vou cobrar.

— Obrigada por me defender e por acreditar na minha inocência.


Ele fica em silêncio e eu o olho, horrorizada.
— Não acredita na minha inocência?
— Não tenho fatos o suficiente para presumir isso, mas em que acredito
não importa, e sim, que a defenderei. Com base em tudo o que me contou,
começarei uma investigação.
Aceno com a cabeça, me forçando a parar de chorar.
Ninguém aqui me conhece ou é meu amigo. Eu só tenho minha filha e

Phoenix e apenas eles importam.


— O que acontecerá agora?
— A senhorita está solta.
— Eles pegaram minhas coisas.
— Os documentos serão devolvidos, mas quanto à sua bolsa, assim como
o aparelho celular, não. Provavelmente o reterão como prova.
— Prova de quê? Eu não fiz nada.
— É o procedimento padrão, senhorita.
— Então eu posso ir? Eu não… — Meu rosto fica quente porque não sei

como dizer aquilo, mas é necessário. — Vão devolver somente os


documentos ou minha carteira também? Eu não tenho dinheiro algum
comigo.
Uma das advogadas que o auxiliam cochicha para ele e aponta atrás de

nós. Quando olho para onde indicou, vejo Rafael e um homem que lembra
vagamente suas feições e físico —, mas com o cabelo mais claro —, ao seu
lado.
Ambos de terno, Rafael usando o mesmo de quando o encontrei hoje pela
manhã. Os dois estão focados em mim e parecem absolutamente seguros,
onipotentes.
Sinto-me pequena e não tem nada a ver com minha altura, mas pela
situação.

Eu sempre fui orgulhosa por nunca ter aceitado favores e nem precisar
baixar a cabeça para alguém, mas agora, depois de passar horas sendo
interrogada, e depois mais uma em uma cela, acusada de um crime que não
cometi, a humilhação da situação e da desvantagem de reencontrar Rafael
dessa maneira, faz meus joelhos bambearem.
Oscilo e preciso me apoiar na mesa.
O advogado faz um gesto como se fosse me apoiar, mas eu faço que não
com a cabeça.
— Eu estou bem. Gostaria por gentileza que pedisse para devolverem ao

menos meu dinheiro para que eu possa tomar um táxi. Devo encontrar minha
filha.
— Acho que o senhor Oviedo a levará até ela.
— Tudo bem, obrigada.

Volto a me sentar para esperar que tragam minhas coisas. Concentro-me


na madeira gasta da mesa, em cada reentrância do móvel usado, qualquer
coisa para não ter que pensar que daqui a alguns minutos terei que enfrentar o
pai da minha filha.
O que será que ele está pensando? Provavelmente o mesmo que o
advogado. Por que seria diferente?
Não importa, eu não preciso que ele goste de mim, mas que, caso me
aconteça algo, tome conta de Willow.

Então lembro do meu irmão... O que será de Phoenix se eu for


condenada?
A vontade de chorar volta, mas não me permito. Lágrimas não servirão de
nada. Eu preciso ser forte para enfrentar tudo.
Entretanto, a única coisa que quero no momento é ver as duas pessoas
mais importantes da minha vida.
— Aqui, senhorita Bartley — o advogado torna a falar, pondo meus
pertences à minha frente, inclusive o casaco.
Não me fizeram colocar qualquer uniforme de presidiário como acontece

nos filmes, talvez porque eu nem tenha chegado a sair da delegacia, mas
ficaram com meu casaco.
Depois que me levanto, visto-o, recolho o dinheiro e documentos, e viro-
me para o advogado.

— Como saberei quando procurá-lo novamente?


Ele me entrega um cartão.
— Falta uma semana para o Natal, nada acontecerá até o início do
próximo ano, então aconselho a aproveitar para ficar com sua família por ora
e deixar o resto comigo. Eu darei um jeito de entrar em contato.
— Tudo bem. Obrigada aos três por… hum… pelo bom serviço.
Não sei quem são as pessoas que estão no tribunal, mas ele está lotado e
pode ser loucura da minha mente, mas sinto todos os olhos em mim.

Mesmo morrendo de vergonha, recuso-me a baixar a cabeça, ainda que


precise trincar os dentes para impedir meu queixo de bater.
Não foco em nenhum lugar específico enquanto caminho, embora esteja
andando na direção de Rafael. Quero saber com quem ele deixou minha filha.
Antes que eu possa alcançá-lo, no entanto, a última pessoa que desejo
entra na minha frente.
Lleyton Acker.
O falso amigo. O miserável que se fazia de protetor, mas que quando eu
realmente precisei de ajuda, optou por me virar as costas.

— Não precisava ter acontecido nada disso — ele fala alto o suficiente
para que somente eu ouça, mas as palavras quase não passam de sussurros. —
Se tivesse cedido desde o começo, não precisaria passar por isso, mas você
foi estúpida e preferiu se entregar a outro. Estragou todos os meus planos.

Seu olhar é ensandecido e mesmo no meio de tantas pessoas, um arrepio


de medo me atravessa.
— O quê?
— Agora está sozinha.
Por minha visão periférica, vejo alguém se aproximar e dizer:
— Não, ela não está sozinha. Petal tem a mim.
Rafael Oviedo.
O pai da minha filha está se expondo para me defender.
Capítulo 25

Rafe

No caminho para a delegacia, dei uma olhada nos jornais pelo celular para
ver se encontrava alguma notícia sobre a morte de Augustus Acker e, como
esperava, havia não só fotos do homem assassinado, como também do filho,
Lleyton. Com relação ao segundo homem, tenho certeza de que nunca vi
antes, ou se vi, não me causou grande impressão, porque não me lembrava de
seu rosto.
Entretanto, agora tenho gravada as feições do homem que queria assumir
minha possível filha como dele sem sequer me dar a chance de conhecê-la.

Chame de territorialismo, ou seja lá qual for a porra de rótulo, mas antipatizei


instantaneamente com o filho da puta.
Quando a audiência terminou e eu vi Petal se aprontando para ir embora,
sabia que viria ao meu encontro. Não tenho dúvidas de que deve estar
morrendo de vontade de reencontrar sua família.
Ela se virou e eu esperava que o choro que testemunhei continuasse, mas
apesar do rosto pálido e os olhos inchados do pranto recente, há tanta
dignidade em sua postura enquanto caminha para mim que a admiração pela
mulher aumenta a níveis estelares.

Suas passadas não são firmes, no entanto.


A força interior que emana dela vai na contramão de sua fragilidade
física.
Será que comeu? Vi que os miseráveis a deixaram sem o casaco.

Todos esses pensamentos se atropelam, porém, quando alguém se interpõe


em seu caminho.
Sua postura muda, enrijece e o gene Caldwell-Oviedo, que é uma mistura
que beira o homem das cavernas protetor, aflora.
Mesmo de costas, sei quem está falando com ela. Lleyton. O filho do
falecido.
Não entendo porra nenhuma de leis, mas não acho que deveria se
aproximar da pessoa acusada de matar seu pai.

Quando os alcanço, ouço a parte final do que, para mim, soa como uma
ameaça.
— Estragou todos os meus planos. Agora está sozinha.
— Não, ela não está sozinha. Petal tem a mim.
Ele olha para trás e por um instante, parece confuso.
— Rafael Oviedo? O que tem a ver…
Eu o encaro sem fazer qualquer movimento para me explicar, e aos
poucos, percebo que junta as peças.
— É ele o pai de Willow? Agora está explicado porque não quis se casar

comigo.
Acho que a ira que sente é tão grande que não faz ideia do quanto está se
expondo. Nos expondo, na verdade, mas nessa altura do campeonato, eu não
dou a mínima.

Petal não diz nada, apenas me encara, e por trás dela, os advogados que a
defendem se aproximam.
— Boa tarde, Matheus. Sou Rafael Oviedo. Há alguma maneira de que
esse indivíduo seja impedido de se aproximar dela?
— O quê? Não sou eu quem está sendo acusado de assassinato.
Ao ouvir a sentença, os olhos da única pessoa com quem me preocupo
nesse instante perdem o foco. Somente a velocidade do meu reflexo a impede
de cair.

— Ela vai desmaiar — meu irmão avisa assim que a suspendo nos braços,
já desacordada.
— Deve se afastar, senhor Acker. — Ouço Matheus dizer. — Ou serei
obrigado a pedir uma ordem de restrição. Suas palavras para mim soaram
como ameaça.
— Podemos resolver isso depois, agora ela precisa ser atendida — falo.
Um guarda se aproxima e nos indica uma sala em anexo.
Saio sem olhar para trás, deixando que o advogado resolva a questão por
ora, porque a minha vontade é de partir para cima daquele miserável. Eu só

precisei de poucos minutos ao lado de Lleyton Acker para entender o


desprezo que Phoenix sente por ele.
— Eu estou bem. — Ela diz quando a deito em um sofá na saleta.
— Você desmaiou.

— Eu não comi nada além do café da manhã. Foi por isso.


Não discuto porque não quero aborrecê-la ainda mais, mas ambos
sabemos que o que diz não é verdade. O que a fez perder os sentidos foi uma
combinação de um dia que mais parece um pesadelo.
— Onde está Willow e Phoenix?
— Com a minha cunhada. Estão protegidos, não se preocupe.
— Obrigada. Por tudo, na verdade.
Ela não olha em meus olhos quando diz isso, o que me incomoda. Parece

arisca, como se eu também fosse o inimigo.


— Aqui. — Guillermo lhe entrega um suco e um sanduíche que só Deus
sabe como conseguiu tão rápido.
— Não sei se consigo comer.
— Consegue sim. Rafe disse que está amamentando ainda. Precisa se
alimentar por Willow.
Seu rosto ganha uma coloração avermelhada depois do que ele fala e ela
dá um gole no suco.
— Quero ver minha filha, Rafael.

Fica na ponta da minha língua dizer “nossa”, mas me seguro.


— Vou pedir que Joaquín leve ela e Phoenix para meu apartamento. Eles
nos encontrarão lá.
— Eu quero ir para minha casa.

— Não. — falo.
— Não o quê?
— Você é inocente do que a estão acusando?
— O quê? — pergunta, indignada, tentando se levantar do sofá. — Como
tem coragem de me perguntar algo assim?
— Responda, Petal.
— Claro que sim. — Afasta o alimento sem aceitar mais nada.
— Então estará mais protegida comigo. Até que tudo se resolva, ficará sob

meus cuidados.
— Por que me quer por perto? Você não acredita em mim. Nenhum de
vocês acredita. Por que eu faria algo tão horrendo com um homem que não
foi nada além de bom comigo? Que me tirou da função de auxiliar de
serviços gerais, pagou um curso e me transformou em secretária júnior?
— Não me contou nada disso — Matheus diz.
Eu nem havia percebido que ele estava conosco.
— O senhor só me perguntou sobre a razão que me fez ir até a casa do
doutor Acker e o que vi lá — responde, apertando os olhos como se estivesse

visualizando a cena.
— Então agora estou perguntando. O quanto antes me passar os detalhes
da relação de vocês, melhor.
— Não havia qualquer relação, a não ser a de empregador e funcionária.

Não há muito para ser dito. Um dia a copeira faltou e eu fui servir cafezinho
para o CEO, o doutor Augustus, em seu lugar. Ele simpatizou comigo, me
ofereceu para fazer um curso pago pela empresa, que por sinal poderia ser
feito por qualquer funcionário, ou eu nunca concordaria e foi isso.
— Nunca teve qualquer relacionamento íntimo com seu patrão?
— O quê? O senhor tem ideia de que ele poderia quase ser meu avô?
— As mesmas perguntas que estou lhe fazendo, senhorita — Matheus diz,
inabalável —, a promotoria fará caso decidam dar prosseguimento com a

acusação de homicídio.
Capítulo 26

Rafe

O homem já está começando a me irritar, mas me lembro do que Joaquín


disse: se alguém tem chance de fazê-la ser absolvida, é ele, então
contemporizo.
— Responda às perguntas, Petal. Quanto mais ele souber, melhor poderá
defendê-la.
— Nunca houve nada entre mim e meu empregador. Conversávamos
quando calhava de encontrá-lo e na festa em que eu e Rafael… hum… em
uma festa há cerca de dez meses, chamada Noite Escura, que foi organizada
pelo filho dele, o doutor Acker pagou pelo meu vestido. Mas eu o devolvi

depois e só aceitei mesmo porque não tinha uma roupa adequada para aquele
compromisso de trabalho.
Ela não encara nenhum de nós e eu me sinto mais protetor do que nunca.
Petal está desnudando a alma, mostrando sua maneira simples de viver para
completos estranhos. A menina só tem vinte e um anos e está lidando com
mais merdas do que pessoas muito mais velhas aguentariam.
— E quanto ao homem lá fora, Lleyton Acker?
— Quando me conheceu, deu em cima de mim. Eu o afastei. Não tinha
tempo e nem vontade de me envolver com o filho do patrão. Minhas

obrigações eram mais importantes do que um fim de semana de diversão com


um playboy. Depois disso, achei que havíamos nos tornado amigos. Fui à tal
festa da noite escura, após o baile de máscaras e nenhuma outra mais que
envolvesse os amigos dele. Minha vida não comporta esse tipo de coisa.

Meses depois, descobri que estava grávida.


— Alguma chance dele ser pai da sua filha?
— Ouviu uma palavra do que eu disse? Ele nunca encostou em mim!
— Quem é o pai de sua menina, então?
— Eu. Willow é minha.
Todos os olhos da sala se voltam para mim, mas principalmente os da
mulher que é a mãe da minha menina.
— Continue, por favor, senhorita. — Matheus se recupera mais rápido do

que os outros e finge não estar espantado.


— Quando minha filha nasceu, na verdade, até mesmo um pouco antes,
ele ficou obcecado em se casar comigo e assumi-la. Eu me recusei porque
Willow já tinha um pai.
— Foi uma oferta generosa da parte dele — o advogado diz, e eu
desconfio que é para testá-la.
— Generosa para quem? Eu me sentiria um ser humano horrível se ao
menos não desse a chance de Rafael conhecer a filha. Eu nunca me casaria
com um homem para garantir comodidade financeira. Não tenho medo de

trabalhar, doutor.
— Certo — o advogado fala de maneira mais branda agora. — E o que
aconteceu depois?
— Antes mesmo de Willow nascer, Lleyton veio com uma conversa de

que estavam me investigando dentro da empresa por um suposto desvio de


verbas para um paraíso fiscal. Isso coincidiu com doutor Augustus começar a
trabalhar de casa por problemas de saúde. Ao mesmo tempo que eu queria
conversar diretamente com meu patrão para saber que história era aquela, não
me preocupei porque a ideia era completamente absurda. Moro em um
apartamento alugado de somente dois quartos. Bairro simples e estava muito
grávida. Qualquer um com meio neurônio poderia ver que eu não tinha nada
além do que minha conta bancária apontava.

— Alguém mais falou com a senhorita a respeito dessas acusações?


— Não, somente Lleyton mesmo. Então minha filha nasceu. Ele insistiu
no casamento e eu disse não. Até que hoje pela manhã ele me telefonou
falando que eu seria presa por conta do tal esquema. Entrei em pânico. Meu
irmão é menor de idade e somos apenas nós dois.
— E o pai da sua filha? — pergunta, como se eu não estivesse presente, e
posso estar ficando louco, mas há um certo tom de acusação em sua voz.
— Ele não sabia do bebê. Esteve fora do país e todas as vezes em que
tentei contatá-lo, me deparei com portas fechadas. O mesmo com relação aos

outros membros da família Caldwell-Oviedo — diz, a voz sumindo no fim.


— Entendo. Acho que temos o suficiente por ora.
— Eu posso ir ao toalete? — ela pergunta, com uma expressão de dor
depois que os advogados se despedem.

— O que há de errado, Petal?


— Eu deveria ter amamentado várias vezes já. Meus seios…
— Merda — Guillermo fala. — Ela deve estar morrendo de dor, Rafe.
Olívia já passou por isso. Ela vai precisar de uma bomba para tirar o excesso
de leite.
Ele pega o telefone e vejo-o dar instruções ao motorista para que compre
uma antes de descermos.
— Vamos embora. Precisamos chegar em casa para que possa resolver

seu… hum… problema.


— Tudo bem, mas ligue para sua cunhada. Eu quero ver minha família.
Quinze minutos depois, já dentro do carro e depois de nos despedirmos de
Guillermo, ela deita a cabeça no encosto e eu aproveito para observá-la.
A mulher é deslumbrante, mais do que eu podia supor a partir das
lembranças daquela noite. Suas feições nesse instante, entretanto, estão
contraídas e intuo que seja parte por dor, mas também por tensão.
— Acredito em você.
Ela abre os olhos e vira a cabeça para me olhar.

— Nunca machucaria alguém, Rafael. Também não roubei.


Aceno com a cabeça.
— Nós vamos provar sua inocência.
— E quanto ao resto?

— Fiz um exame de DNA hoje cedo. Eu precisava ter certeza.


— Ela é sua.
É minha vez de recostar a cabeça no assento e fechar os olhos. Não vivo
através de talvez, mas certezas. Meu coração diz que a menina é minha,
mesmo que a ciência ainda não tenha dado a confirmação.
— Parece que estou dentro de um pesadelo e não consigo acordar. Não era
assim que tinha planejado contar sobre nossa filha.
— Nós usamos preservativos. — tento racionalizar.

— Consegue se lembrar daquela noite, ao menos?


— Eu me lembro de tudo.
— Eu não sei como aconteceu. Se estiver pensando que engravidei de
propósito, não foi. Eu amo minha filha. Ela é a luz da minha vida, mas Deus
sabe que não era uma boa hora para ter um bebê, e muito mais do que isso, eu
planejava que quando tivesse um, seria com o pai do meu lado.
— Eu não tinha como saber…
— Não estou acusando-o de nada, Rafael. Nós dois fomos responsáveis,
ou talvez o destino tenha decidido que deveríamos ter um laço eterno. O que

estou tentando lhe dizer é que não sou uma de suas mulheres. Não estava
ansiosa para gerar um bebê seu ou de quem quer que fosse. Não lido bem
com situações não planejadas.
Ignoro a raiva em sua voz.

— Não a acusei de me dar o golpe.


— Mas pensou.
— Há de convir comigo que foi um… — Eu me interrompo antes de falar,
mas ela é esperta.
— Um azar, você ia dizer. — Parece sentida. — Sim, para você pode ter
sido, e tenho que confessar que quando descobri da gravidez, tomei um susto
danado, mas minha filha é meu oxigênio. Ela vai crescer sabendo o quanto é
amada, Rafael. Gostaria muito que fosse por nós dois, mas se não for

possível, suprirei seu papel.


— Não disse que não a quero.
Ela não fala mais nada e como o irmão fez hoje cedo, vira-se para a janela.
Capítulo 27

Petal

É estranho estar ao lado de alguém que é, sem medo de errar, a pessoa que
mais conhece meu corpo além de mim mesma.
As horas que passei com Rafael na festa de Lleyton não foram uma noite
de sexo somente, mas ele parecia determinado a desvendar cada pequeno
pedaço meu com sua boca e mãos.
Calor esquenta meu rosto ao me lembrar da intimidade porque ao mesmo
tempo, não sei nada a seu respeito além do que li nos jornais.
Havia uma enorme quantidade de seguranças nos esperando quando

saímos do tribunal. Nenhum repórter, no entanto, graças a Deus. A última


coisa que quero é prejudicar a imagem do “príncipe americano”, como a
imprensa o chama, embora eu não tenha dúvida de que, se continuar ao meu
lado, acabará envolvido em toda essa sujeira.
Pelo visto ele, ou o irmão, que me foi apresentado como Guillermo, se
antecipou tentando afastar os curiosos. Talvez tenha sido exagero, não sei.
Doutor Augustus também vivia cercado de guarda-costas.
E então, como se uma venda me fosse tirada da frente dos olhos, eu
finalmente penso pela primeira vez — penso realmente — na cena que vi na

mansão.
No começo, eu sinto como se um calafrio alcançasse minha coluna.
Depois, pequenos tremores começam em minhas mãos e pés. Em seguida,
meus lábios ficam dormentes.

O horror do que testemunhei, um ser humano assassinado, se sobrepõe a


alguém tentar me incriminar.
Olho para o lado e Rafael está me observando.
Eu não sei se é o que vê no meu rosto ou porque abro a boca e não sai som
algum. Talvez as lágrimas grossas e quentes que escorrem em minhas
bochechas, mas ele me puxa para os seus braços.
A primeira reação é empurrá-lo porque não quero que me console.
Ou sentir o calor do corpo que o meu imediatamente reconhece.

Ou a proteção que a mão grande e o físico musculoso me oferece.


Sou sozinha e preciso aprender a continuar sendo.
Ele não recua. Ao contrário, solta meu cinto e me puxa para seu colo.
Reluto um pouco mais antes de me render, porque seria muito fácil me
acostumar a essa proteção, à sensação de pertencer.
Fácil e perigoso, porque ainda que ele seja o pai da minha filha e cada vez
eu acredite mais, devido à sua postura até agora, que estará ao meu lado nesse
pesadelo, ele não é nada meu e sim, de Willow.
— Não.

Eu nem sei por que estou protestando.


Não, eu não quero achar tão bom ser abraçada por você.
Não, eu não devo me aproximar tanto porque vou acabar me
machucando.

Não me solte, eu preciso de mais um pouco do seu calor.


— Shhhhh… você teve um dia de merda, amor. Minha mãe diz que
abraços curam tudo.
— A avó da nossa filha — falo, fungando.
Ele afasta meu rosto para me olhar, os polegares passando nas minhas
bochechas como na noite em que ficamos.
— Sim, a avó da nossa filha.
— Você acredita em mim?

Ele balança a cabeça, concordando.


— Prometa-me que vai cuidar dela, Rafael. De Phoenix também. Não
tenho o direito de te pedir isso, mas vou fazer assim mesmo. Meu irmão é um
garoto de ouro. Não o deixe ser posto para adoção.
— Ninguém vai ser posto para adoção, Petal. Eu não vou parar até provar
que você é inocente.
— Não tem como prometer isso.
— Tenho, sim. Eu vou virar o mundo do avesso e encontrar o verdadeiro
culpado, então você vai poder criar nossa filha como deve ser.

Enterro a cabeça em seu peito, me permitindo ter esperança. O medo não


passou, mas a certeza de que ele acredita em minha inocência aos poucos me
faz parar de chorar.
Nem percebo que dormi — e ainda por cima no colo dele — até que o

carro para.
Abro os olhos e tento sair.
— Consegue andar?
— Hum… sim. Eu nem sei como cochilei. Não sou de dormir durante o
dia e além disso — aponto para os meus seios e desvios nossos olhos —,
estou com dor.
Ele me mostra uma sacola no chão do carro.
— Guillermo pediu ao motorista que comprasse uma bomba. Pode tomar

um banho e depois fazer… isso.


— Tirar o leite.
— Aham.
Agora é ele quem parece sem jeito.
— Willow precisa mamar. Ela nunca tomou fórmula antes.
— Não gostou muito.
— Como sabe?
— Ela fez uma careta horrível quando dei.
— Você alimentou minha filha?

— Nossa filha.
— Não sabia disso naquela hora.
— Soube quando vi os olhos dela. São iguais aos meus e os do meu pai.
— Podem mudar.

— Duvido. Minha mãe disse que os dos meus irmãos mudaram, mas
tinham diferentes nuances de azul. Essa cor do meu é única. Herdei do meu
pai.
É uma situação estranha. O motorista saiu do carro para nos dar
privacidade e eu continuo no colo dele. Parece que temos muita coisa para
falar, mas ainda assim, não sabemos o que dizer.
— Do mesmo jeito que você, eu não planejei ter uma filha. Até hoje de
manhã, minha única meta real na vida era o golfe, mas tem minha palavra de

que me esforçarei para ser o melhor pai que eu puder. Willow não vai ser
rejeitada por mim. Nunca.
— Não gosto de promessas porque tenho medo de me decepcionar, mas a
essa me agarrarei. É tudo o que peço, seja bom para nossa menina.
Ficamos nos olhando na semiescuridão do automóvel. Parece que estamos
destinados à penumbra.
Por um instante eu esqueço-me de tudo o que aconteceu hoje e sou
novamente transportada para aquela noite no escuro, onde me desprendi de
todas as responsabilidades e medos e apenas vivi.

— Eu também me lembro — diz, como se pudesse ler minha mente.


Nem tento negar. Não há por quê, quando sei que meu rosto me entrega.
Ele se aproxima e eu estremeço em antecipação, mas o farol de um carro
nos ilumina, quebrando o encanto.

Saio de seu colo com o susto de ter sido flagrada, mas ele ainda não se
mexe, me olhando com aqueles olhos incríveis.
— Eu estava procurando você — fala, antes de abrir a porta e me deixar
sem entender nada.
Capítulo 28

Rafe

Ela parece muito sem jeito enquanto subimos no elevador até minha
cobertura triplex.
Encostada na parede oposta, finge que não me observa, mas sei que o faz,
mesmo que de maneira indireta.
Saio com mulheres desde que praticamente entrei na adolescência e estou
mais do que acostumado a fazer sucesso com o sexo feminino.
Geralmente recebo a atenção sem muito entusiasmo, mas assim como
aconteceu na primeira vez em que nos encontramos e a despeito da loucura

que foi o dia de hoje, custa para caralho me manter parado, quando tudo o
que anseio é terminar a distância entre nós e continuar de onde fomos
interrompidos dentro do carro.
Sim, é egoísta, mas também humano que eu deseje a mulher por quem
fiquei obcecado durante meses, mesmo que este talvez esteja sendo o pior dia
da sua vida.
— Não tenho roupa para trocar. — Quebra o silêncio.
— Diga-me o que precisa. Faça uma lista e posso providenciar até amanhã
de manhã.

— Tenho tudo em casa. Não é necessário comprar roupas para mim.


— Não acho seguro que vá até lá por enquanto, então temos duas opções:
ou você faz a lista do que vocês três necessitam, ou posso ir com Phoenix até
seu apartamento e pegar.

— Faria isso?
— Por que não?
— Porque você é… você.
— Humano?
— Um campeão. Alguém famoso.
— E o pai da sua filha, também.
Ela engole em seco e acena com a cabeça, os olhos focados na minha
boca.

Merda, suas reações a mim não ajudam em nada para que eu controle meu
desejo.
— O que vai ser? Decida. — Obrigo-me a voltar à situação prática.
— Pode me emprestar algo para dormir hoje? Amanhã tenho certeza de
que meu irmão pode pegar nossas coisas. Não muitas. Apenas… por um
tempo.
— Não há um prazo para vocês irem. — Acabo de decidir.
Não a deixarei longe da minha vista, onde alguém — o verdadeiro
criminoso — poderia machucá-la.

— O quê? Não pode estar falando sério, Rafael. É completamente ridículo


ficarmos aqui indefinidamente.
— Por quê?
— Não é óbvio?

— Não para mim.


— Cada um de nós tem a própria vida. Você é um cara solteiro e…
— E?
— Não se faça de desentendido. Sabe muito bem do que estou falando.
O elevador para e as portas se abrem.
Digito o código para destrancar a porta e por um momento ela fica imóvel
no hall.
— O que foi?

— Não posso ficar aqui com o meu irmão.


— Qual é o problema?
Ela gira o corpo para me encarar.
— Olha, eu não quero ser ingrata. Você está sendo mais do que generoso
em querer nos hospedar, mas essa não é nossa realidade.
— Se Willow é minha filha, sim, essa é a realidade dela.
— Mas não a de Phoenix, Rafael. Eu nasci com os dois pés bem plantados
no chão. Riqueza e luxo não me impressionam, mas meu irmão é só um
adolescente.

Aproximo-me dela.
— Você está ansiosa para caralho, Petal. Por que não pensa somente dois
passos à frente? Entre, tome um banho, faça o que precisa para a dor que está
sentindo passar. Eu vou ligar para meu irmão e pedir que traga nossa filha e

Phoenix. Quanto a todo o resto, podemos conversar com calma amanhã.


Ela parece constrangida.
— Não quis bancar a mal-educada ou ingrata.
— Não sou o cara mais sensível do mundo, então não precisa pisar em
ovos comigo. Na verdade, eu prefiro honestidade a qualquer fingimento.
— Tudo bem. Pode me mostrar o quarto onde ficaremos?
Seguro sua mão e começo a andar para a escada. Ela tenta se soltar, mas
não permito.

— Há quartos no segundo e terceiro andar.


— Onde fica o seu?
— No terceiro.
— Vamos pegar um no segundo, então, se não se importar.
— Por quê?
— Willow acorda para mamar e às vezes fica manhosa, custando a pegar
no sono.
— Isso é normal?
Dá de ombros.

— Não sei. É meu primeiro bebê, mas acho que sim. Faz parte da
personalidade dela gostar de chamar atenção.
— Tão pequenina assim?
— Aham. Ela já tem suas preferências.

De repente, me vejo muito ansioso por aquelas informações.


— Me dê um exemplo.
— Adora a hora do banho. Massagem nos pezinhos, coisas assim.
— Eu perdi isso tudo.
— Ainda terá tempo para recuperar. Se quer mesmo estar presente na vida
dela, nunca o impedirei.
— Não me importo que durmam no mesmo andar que eu. — Decido. —
Phoenix pode ficar aqui no segundo.

— Você não tem a menor ideia do que é estar morrendo de sono e acordar
com um bebê com cólica. Acredite em mim quando eu digo que é melhor
ficarmos por aqui mesmo. Também não precisamos de mais de um quarto.
Posso me ajeitar com meu irmão se houver uma cama de casal.
— Não. Fiquem no terceiro. Deixe Phoenix aqui. O que precisa para
Willow?
Ela desvia os olhos.
— Isso não faz sentido. Temos tudo o que é necessário em nossa…
— Do que precisa, Petal?

— Um berço. Banheira. Acho que meu irmão consegue desmontar o berço


dela se você tiver paciência para esperá-lo quando for buscar nossas coisas.
— Não. Ela precisa ter um aqui também.
Na verdade, um quarto inteiro. Sim, estou tão acelerado quanto a acusei há

pouco, mas o que passa pela minha cabeça é que preciso abrir espaço para
minha filha em minha vida, tanto figurativa quanto espacialmente.
Depois do que falo, ela parece louca para sair correndo.
— Está com vergonha de mim.
— Como poderia ser diferente? Não nos conhecemos.
— E no entanto, fizemos um bebê.
Desvia nossos olhares.
— Mostre-me meu quarto, já que quer que fiquemos no terceiro andar.

Quando chegamos lá, não lhe dou opção, indicando o quarto ao lado da
minha suíte.
— É maior do que os dois juntos do meu apartamento.
É minha vez de dar de ombros.
— Comprei como investimento. Viajo muito durante a temporada. Mal
paro em casa.
— Eu li no jornal… — começa e se interrompe. — Olha, não ache isso
estranho porque quando você me falou seu nome naquela noite, eu lembrei do
seu rosto dos comerciais que faz, mas juro que na hora em que chamou minha

atenção naquela festa, não fazia ideia de quem era. Enfim, o que estou
tentando dizer é que, assim que eu soube que estava grávida de nossa filha,
fui pesquisar mais a seu respeito. Descobri sobre as lesões. Viajou para se
cuidar, né?

— Sim, eu precisava de uma pausa.


— E conseguiu ficar curado?
— Espero que sim. Só terei certeza quando voltar a competir.
— Phoenix te chamava de The Best antes de saber que você era o pai de
Willow. Ele ficou louco quando descobriu… — O rosto fica vermelho. —
Nossa, parece uma conversa de assediadora psicopata com uma celebridade,
mesmo que eu nunca tenha sido sua fã… sem ofensa.
— Não me ofendo. Algumas pessoas consideram golfe chato.

— E não é?
— Não. É um dos esportes que mais exigem concentração e precisão.
— É a sua vida. — Concordo com a cabeça e ela continua. — É mais do
que faz para ganhar dinheiro, né? É sua paixão.
— É o que sou.
— Um campeão?
Não há qualquer ponto em mentir.
— Sim, um campeão. Somente a vitória me interessa. Ser o número um.
No meu mundo não há espaço para o quase.

— Espero que Willow herde essa autoconfiança. Sou insegura sobre tudo.
— Mas é corajosa, e isso às vezes conta mais do que a autoconfiança.
Muitas pessoas em seu lugar hoje teriam quebrado.
Ela dá um sorriso triste.

— Não se engane. Sinto-me quebrada em mil pedaços. Só me acostumei a


esconder bem. Agora, eu realmente preciso tirar um pouco desse leite ou não
conseguirei amamentar Willow quando ela chegar.
Entrego-lhe a sacola com a bomba que eu estava segurando.
— Vá para o chuveiro, ou o que quer que deseje fazer primeiro. Deixarei
algo em cima da cama para que possa vestir. Há escovas de dente novas
dentro do armário.
Saio do quarto e entro no meu, pegando uma cueca boxer e uma camisa

social que nela se transformará em vestido.


Coloco em cima da cama da suíte em que ficará. Depois que saio, pego o
celular para ligar para Joaquín.
— Guillermo disse que a soltaram — ele fala assim que atende.
— Sim, sob fiança, como você previu. Ela vai ficar comigo. Os três
ficarão.
— Tem certeza disso?
— Tenho, sim. Ela passou a gravidez inteira sozinha e está atravessando
um verdadeiro inferno. Não posso deixá-los agora.

— Poderia prover todo o conforto para os três sem precisar se envolver


tanto.
— Willow é minha filha, Joaquín. Deixar de me envolver não é mais uma
opção.

— Está certo das duas coisas, então: que o bebê é sua filha e que ela é
inocente?
— Sim, estou.
— E pretende ser um pai presente?
— O que acha? Não fugirei às minhas responsabilidades.
— Se quer mesmo ser um pai no sentido completo da palavra e não um
provedor, pode dar adeus às saídas na noite. Não há maneira de que consiga
conciliar seus programas com modelos, morando com a mãe de sua filha.

— Não estou preocupado com isso, quero recuperar o tempo perdido com
a minha menina.
— Qual das duas?
— Boa noite, Joaquín. Pedirei ao motorista que vá buscar Willow e
Phoenix.
Capítulo 29

Petal

Depois de tirar uma quantidade razoável de leite dos meus seios, a dor
diminui e eu entro no chuveiro quente. O jato é forte e parece atingir todos os
lugares certos do meu corpo, relaxando os músculos doloridos de tensão.
Sou feita de material duro, resistente, pelo simples fato de que não havia
outra opção. Minha vida nunca foi fácil desde que me entendo por gente.
Minha mãe, apesar de ser maravilhosa para mim, não era muito responsável
com a minha criação.
Eu não me lembro de um momento enquanto eu crescia, no breve período

de pouco mais de sete anos em que convivemos, já que ela faleceu no parto
de Phoenix, em que não houvesse um namorado diferente a cada mês em
nossa casa. Eu mal tinha tempo de me acostumar ao novo “papai” e em uma
piscada de olhos, ele desaparecia e outro ocupava seu lugar.
Talvez seja a razão pela qual eu odeio mudanças e sempre busco
estabilidade. A insegurança de não ter nada “meu”, fosse material ou mesmo
uma pessoa, fez com eu me tornasse alguém que se agarra à zona de conforto
com unhas e dentes.
Desse modo, tudo o que está acontecendo, mesmo se não fosse a seriedade

de ser acusada de assassinato, é uma espécie de pesadelo.


Estou sendo obrigada a lidar com tudo o que fugi pela vida inteira — o
inesperado — e não ter um plano “b”.
Quando minha mãe engravidou de Phoenix, eu já morava com tia Darcy.

Ela me disse que se ofereceu para terminar de me criar, e mamãe não


demonstrou resistência. Meu irmão vir ficar conosco seria uma consequência
natural, acho que mesmo que ela não tivesse falecido ao dar à luz.
Do jeito dela, sem muita condição financeira, tia Darcy criou para mim e
Phoenix um universo “normal”. Refeições nas horas certas, roupa limpa,
alguém que nos botasse para dormir e perguntasse como foi nosso dia.
Minha visão de paraíso, após uma primeira infância de inseguranças.
Com o amor da minha tia, seus bons conselhos e meu irmão ao lado, eu

tinha minha família e depois de adulta, um norte.


Um trabalho assalariado e planos — ainda que não muito grandiosos, dada
nossa situação — para o futuro.
Nem mesmo a gravidez de Willow, que me assustou para caramba,
conseguiu me desestruturar.
Isso tudo mudou hoje, quando minha força interior foi testada.
Em um espaço de poucas horas, fui estilhaçada e obrigada a me colar outra
vez. Sei o caminho que devo seguir — ser forte pela minha filha e o meu
irmão — mas nesse momento, enquanto a água quente escorre pelo meu

corpo, eu não sinto um grama de energia dentro de mim.


Pela primeira vez depois de adulta, estou deixando alguém tomar as rédeas
da minha vida, assim como decisões sobre ela. E tanto quanto isso é
assustador, é um alívio também, porque se há algo que aprendi hoje, é que

sou feita de carne e osso como todo mundo.


Eu não me sentia forte por orgulho, mas porque não havia alternativa.
Hoje, quando todas as minhas camadas foram descascadas, eu vi o quão
fácil posso quebrar.
Encosto a testa na parede do boxe do chuveiro, pensando no que
significará para minha família, principalmente para Phoenix, ser acolhido na
casa de Rafe. Eu preciso conversar com meu irmão e fazê-lo entender que é
uma situação temporária, porque não quero que se magoe. Por melhor que

Rafael tenha se mostrado, ninguém muda do dia para a noite. Uma coisa é ele
assumir nossa filha e ser um bom pai para ela, outra, é trazer para junto de si
uma família que não é dele, interrompendo sua vida de celebridade playboy.
— Petal. — Ouço-o chamar do lado de fora do banheiro. — Está tudo
bem?
Fecho a torneira, pego a tolha e vou até a porta, que está fechada.
— Sim, já estou saindo.
Depois de me enrolar na toalha, abro uma brecha.
— Sinto muito se demorei.

— Abra a porta.
Deus, por que tem que ser tão excitante esse tom de comando em sua voz?
— Não me vesti ainda.
— Eu sei.

Respiro fundo e faço o que me pede.


Não tive tempo de me secar, então a água escorre pelo meu corpo e
cabelo.
Quando estamos frente à frente, vejo que tomou banho também. Veste
jeans e uma camiseta branca que marca todos os músculos de seu abdômen,
peito e braços.
— Vou molhar seu chão todo. Preciso acabar de me secar. — Justifico,
querendo preencher o silêncio.

Nenhum dos dois se move, mas os olhos dele me percorrem inteira,


parando na altura dos seios, mal cobertos pela toalha.
— A dor passou?
— Sim.
— O banho estava gostoso?
Senhor, esse homem é quem devia ser preso.
Não é justo alguém com essa beleza ser tão sexy também. Não é a toa que
as mulheres parecem se estapear por sua atenção, de acordo com o que li nas
revistas de fofoca.

A lembrança é um choque, me trazendo rapidinho para o mundo real.


Dou um passo para trás.
— Sim — finalmente respondo. — Já vou sair. Só preciso de mais alguns
minutos para terminar de me aprontar.

Ao invés de se afastar, ele entra no banheiro.


— Deixei roupa em cima da cama, mas fiquei preocupado com sua
demora.
— Por isso está aqui?
— Não.
— Por que, então?
— Eu te procurei.
— Sabia onde eu estava.

— Não estou falando de hoje, de agora. Antes de tudo. Eu estava te


procurando.
— O quê?
— Contratei um detetive para encontrá-la.
— Por quê?
Meu coração bate tão forte que tenho medo de que ele possa ouvi-lo.
— Porque o que aconteceu naquela noite não foi o suficiente.
Eu achei que era uma pessoa direta, mas o homem não parece ter freio na
língua.

— Você queria mais sexo — digo, não como uma acusação, mas como um
lembrete para mim mesma de com quem estou lidando: um cara acostumado
a ter as mulheres que quiser, bastando para isso lançar aqueles olhos incríveis
sobre a “vítima”.

— Sim — responde, me surpreendendo pela sinceridade.


— Eu não sou casual, Rafael. Aquilo que aconteceu conosco na Noite
Escura não é algo comum em minha vida. Não pense que por estar aqui na
sua casa, nós…
Ele ignora o que eu digo, vindo para ainda mais perto e fico imprensada
contra o balcão da pia.
— Você é a mãe da minha filha e me quer.
— Ser a mãe de sua filha não lhe dá qualquer direito sobre mim.

— Eu não disse que dava, mas que ainda a desejo. O que há de errado em
continuar de onde paramos?
— Tudo. Eu também tenho lembranças daquela noite, mas enquanto que
para mim foi uma espécie de sonho, já que não é meu modo normal de agir,
para você tenho certeza de que não foi mais do que a repetição de muitas
outras ficadas com mulheres.
Antes que eu consiga prever seu próximo movimento, ele me ergue,
sentando-me em cima da bancada da pia. Abaixa a cabeça, alinhando nossos
rostos. Sua respiração se mistura com a minha, me deixando trêmula.

— Rafael.
Ele não me permite falar mais nada. Pega meus braços e coloca em volta
de seu pescoço.
Deixo-me guiar como uma boneca, um frio gostoso se espalhando pela

barriga.
Não me beija direto como pensei que faria, mas roça a barba contra minha
bochecha.
Gemo, deliciada com o contato.
— O que quer que eu diga? Não sou um santo, mas eu não minto. Ainda a
quero. Você não foi apenas mais uma na minha cama.
Suas palavras terminam com qualquer resistência.
Mandando para o inferno o medo de acreditar nele, puxo sua cabeça para

mim.
Ele não perde tempo e me beija como se estivesse faminto.
Nossos dentes se chocam. Não há nada de carinhoso ou doce no encostar
dos lábios, mas desejo, luxúria.
Quase me deito na bancada e choramingo quando sinto seus dedos na
minha coxa, somente a centímetros do meu sexo.
Ele pega minha mão e coloca sobre sua extensão. Está dura e grossa e em
resposta, sinto-me escorrer de vontade de tê-lo dentro de mim.
Quando seus dedos alcançam o vértice entre as minhas pernas, novamente

não há sutileza, a mão espalma, abarca todo meu sexo.


— Solte a toalha.
Não sobra espaço para vergonha. Ele é pura sedução e eu não consigo
resistir.

Eu faço o que manda e ele se abaixa, tomando um seio dolorido na boca.


Ao mesmo tempo em que um de seus dedos entra em mim, o polegar
massageia meu ponto de prazer.
Para minha vergonha, pouco mais de um minuto se passa e eu me
desmancho em seus braços.
Como em um sonho, vejo-o abrir o jeans, mas o som da campainha lá
embaixo o interrompe.
Ele me encara, congelado, como se ainda estivesse em dúvida sobre

ignorá-la e somente então, eu me lembro de algo.


— Eu não posso.
— Você me quer — fala, como uma acusação. O rosto tenso.
— Sim, apesar de não devermos, mas não é disso que estou falando. Não
posso… hum… ter relações. Existe um prazo depois que se tem bebê.
Olha-me confuso e em seguida, parece sem jeito.
— Eu te machuquei?
Recolho a toalha tentando fechá-la, mas ele a tira das minhas mãos e me
cobre.

— Não, mas eu não poderia… ir até o fim. O médico falou trinta dias[30].
— Quanto tempo falta?
— Pouco mais de uma semana, mas não vai acontecer nada. Não
podemos. Não devemos — minto para mim mesma porque se continuarmos

sob o mesmo teto, eu sei que sim, vai acontecer.


Ele me pega no colo e caminha para o quarto, sentando-me na cama.
— Vista-se, eles devem ter chegado — diz, quando a campainha volta a
tocar.
— Ouviu o que eu disse? Não podemos ficar juntos.
Ignora o que falo e caminha para a porta.
— Vou recebê-los. Esperaremos no primeiro andar.
Capítulo 30

Rafe

Saio do quarto frustrado e envergonhado em igual medida. No entanto, a


parte minha que se preocupa com a saúde de Petal, predomina no momento.
Eu quase a fodi sobre o balcão do banheiro como um adolescente ansioso.
Quando fui encontrá-la, apesar do desejo latente, não tinha qualquer
intenção de seduzi-la.
Não naquela hora, ao menos.
Não sou hipócrita. Eu a quero e tão certo quanto o sol nasce a cada dia, a
terei novamente.
Entretanto, ao ir até sua suíte, minha intenção era realmente verificá-la,

porque já fazia mais de meia hora que se trancara no banheiro.


Ao me deparar com a mulher deliciosa envolta em uma toalha apenas, o
corpo pingando do banho recente, cheirando a sabonete e a ela, as boas
intenções foram para o inferno.
Desço as escadas, fazendo-me uma promessa mental de que vou
desacelerar. Mesmo que seja inegável que as coisas entre nós dois sempre
tiveram um ritmo próprio, dessa vez, há muito mais em jogo.
Quando finalmente me encontro no hall, vejo que Joaquín já entrou, claro.
Como dito antes, minha família e o conceito de privacidade andam em

caminhos opostos.
— Você demorou a abrir — ele diz, ao mesmo tempo em que Phoenix
pergunta.
— Onde está minha irmã?

Ouço passos na escada e quando olho para trás, ela está descendo
correndo, não com a roupa que separei, mas em um roupão negro, que
provavelmente pegou no quarto de hóspedes.
Assisto como que em câmera lenta o que se segue.
Sem falar nada, ela vai até o meu irmão e tira Willow de seu colo. Abre os
braços e puxa Phoenix para perto, virando as costas para nós.
Eles não conversam, mas é óbvio que os dois estão chorando, enquanto
minha menina resmunga baixinho.

Eu não poderia afirmar quanto tempo se passa, mas nem eu ou Joaquín os


interrompemos.
Estranhamente, porque antes de hoje, tirando Petal, eu não sabia da
existência dos outros, eu me sinto excluído.
Phoenix é o primeiro a falar.
— Eu nem acredito que você está aqui. Nunca antes eu quis tanto ser um
adulto para poder te proteger.
O menino se tornou em um curto espaço de tempo uma das minhas
pessoas favoritas. É uma criança ainda, mas com um caráter admirável.

— Vai ficar tudo bem, irmão. Eu não fiz nada. Como poderiam me
condenar?
Ele concorda com a cabeça.
— Willow sentiu sua falta.

Ela suspende um pouquinho nossa menina.


— Verdade, amor? Sentiu falta da mamãe? — Cheira-a e volta a apertá-la
contra o corpo. — Você comeu, Phoenix?
Jesus, a mulher passou por um inferno, mal se alimentou e consegue
priorizar a filha e o irmão antes de si mesma.
Petal é inacreditável e não é difícil de entender a adoração que o irmão
tem por ela.
— Comi, sim. — Faz um gesto de cabeça para Joaquín e apenas então ela

parece se lembrar de nós. — A esposa dele me deu almoço e jantar. Ela


mesma que cozinhou. Não foi a empregada.
— Obrigada — ela diz ao meu irmão, mesmo sem fazer qualquer
movimento para se aproximar dele. — Meu nome é Petal Bartley. —
Continua formalmente.
— Eu sei quem é você. Matou aquele homem?
Phoenix, que parecia relaxado, faz menção de tomar a defesa da irmã, que
o para com um gesto.
— Não. Ele já estava morto quando cheguei, mas não vou falar mais nada

sobre isso na frente da minha filha.


Noto que não se refere a Phoenix, o que mostra que trata o irmão em pé de
igualdade.
Joaquín vai até ela.

— Esse bebê é de Rafe? — ele pergunta.


— Pare — interrompo. — Isso aqui não é um interrogatório e nem você é
mais um promotor. Willow é minha.
— Ela é sua sobrinha. Não me importo que não goste de mim — Petal diz,
como se eu não tivesse falado nada. — No entanto, pedirei o mesmo que a
Rafe. Se acontecer algo comigo, protejam os dois.
— Não fale isso — Phoenix parece a um passo de quebrar.
— Se é inocente, não acontecerá nada com você. Provaremos isso a

qualquer custo. Agora eu tenho que ir.


Sem fazer caso da atitude defensiva dela, ele se aproxima e dá um beijo na
cabeça de Willow, depois bagunça o cabelo de Phoenix.
— Me dê notícias, Rafe. — Se encaminha para a porta, mas para. — Ah, e
avise nossos pais sobre toda a situação. Não há maneira de que não noticiem
isso por todo o país amanhã. Guillermo acha que te fotografaram no tribunal.
Uma hora depois

Bianca mandou jantar para todos, mas para ser honesto, eu não estou com
fome e sim, empenhado em observar a mulher que caiu de paraquedas em
minha vida.

Depois de conferir que a irmã estava bem, Phoenix me pediu que o levasse
até o quarto, provavelmente por estar exausto.
Quando voltei a descer, vi que Petal estava mexendo nos armários e
esquentando o jantar no microondas.
Pôs a mesa na cozinha mesmo e eu me sento para vê-la se mover. É como
se tivesse feito isso a vida inteira.
Tirando refeições leves, posso contar nos dedos de uma mão quantas vezes
comi em casa e o cenário familiar, íntimo, com Petal tomando a frente para

nos alimentar, e Willow deitada no carrinho, lembra muito a vida dos meus

irmãos.
— Não tem muita comida no armário — diz, parecendo à vontade. — Se
vamos ficar por uns dias, vou ter que fazer compras.
— Eu estava viajando.

— Não foi uma crítica. É a sua vida, Rafael. Não tem que me dar
satisfação. Só estou dizendo que precisamos de alimentos saudáveis. Não sei
se tem empregada, mas enquanto nos quiser na sua casa, posso cozinhar.
Preciso me ocupar ou vou enlouquecer pensando no que pode acontecer no
futuro.
— O bebê já não ocupa seu tempo?
— Ela é muito tranquila. Não sei se tem alguma viagem marcada, mas se
ficar por perto, verá que nossa filha é uma santa. Se estiver alimentada e seca,

ela não reclama.


— Porque é pequena ainda, né?
Ela retira a comida do microondas e vejo que é um tipo de carne ensopada.
Só então percebo que há também arroz e algumas batatas já quentes em cima
da mesa.
— Acho que sim, mas talvez tenha herdado meu temperamento. Não sou
do tipo que reclama, mas que agradece por cada dia.
Anoto mentalmente tudo que diz, empenhado em conhecê-la mais e mais.
— O que pretendia fazer quando chegasse a hora de voltar ao trabalho?

Porque seu irmão me disse que estava de licença-maternidade.


Ela se senta no lado oposto ao meu na mesa.
— Eu tinha esperança de que até lá já o tivesse encontrado e…
Olha para o prato, parecendo envergonhada.

— E o quê?
— Pudesse dividir os custos de uma creche comigo. Mas só se quisesse
mesmo, caso contrário, eu daria um jeito — termina, orgulhosa.
— Petal, olhe para mim.
Ela demora um pouco a obedecer.
— Dinheiro nunca vai ser um problema na vida dela, ou mesmo na sua e
na de Phoenix.
— Eu e meu irmão não somos sua responsabilidade.

— Tome isso como um empréstimo. Não pode trabalhar no momento e


são meus hóspedes. Proverei o que for necessário. Pensei sobre o que disse de
pegarmos roupas e outros itens na sua casa. Não é necessário. Deixe tudo lá.
Amanhã sairemos para compras.
— Está louco? Você não é uma pessoa comum. Não pode ir às ruas com
um bebê e com uma acusada de assassinato.
— Com minha filha e a mãe dela.
— E sua família? O que seus pais vão achar?
— Saberemos amanhã de manhã. Pretendo contar aos dois logo que

amanhecer. Agora coma, Petal. Se não por você, por Willow.


Capítulo 31

Rafe

Antes mesmo de descer para encontrar meus hóspedes — posso chamá-los


assim, ou “família inesperada” seria um termo melhor? — pego o celular para
ligar para meus pais.
O que me preocupa nem é mais o resultado do exame de DNA, porque eu
sei que ela é minha, mas que surja alguma notícia nos jornais sobre minha ida
com Guillermo ao tribunal. Não quero preocupá-los além do necessário.
É muito cedo, mas a essa altura, ao menos meu pai já deve estar acordado.

Depois do segundo AVC[31], ele finalmente criou juízo e começou a se


cuidar.

Depois do terceiro toque, como esperava, atende.


— Filho?
— Papai, tudo bem? Pode colocar no viva-voz? Quero falar com você e a
mamãe ao mesmo.
— Rafe, é a mamãe — dona Isabel diz, mostrando-me que ele fez o que
pedi — Você está bem?
— Estou, mãe, mas precisava falar com os dois juntos. Preciso que me
ouçam, okay?

— Rafael Caldwell-Oviedo, o que você aprontou? Está falando do mesmo


jeito que fazia quando era posto de castigo no colégio.
Merda, ela consegue me fazer sentir como quando eu tinha oito anos,
mesmo já sendo um adulto. Certas coisas nunca mudam.

— Estou tentando dar a notícia devagar.


— Preferimos que despeje tudo de uma vez, filho — papai fala de sua
forma direta e que todos nós herdamos.
— Tudo bem, vamos lá. Eu acho que tenho uma filha. Na verdade, eu
tenho certeza de que tenho uma filha e seu nome é Willow.
— O quê? — Minha mãe é a primeira a reagir. — Isso não tem graça,
Rafe. Eu nem tomei café e não estou com humor para piadas.

— Não é piada, mãe. Quanto a tomar café, que tal virem para minha casa?
Assim poderiam conhecer a nova integrante do clã.
— Rafael, você está usando drogas? Chegou da Grécia há pouquíssimo
tempo. Que história é essa de bebê?
— Mãe, se você se acalmar, posso explicar a situação, mas depois gostaria
que viessem para cá. Há muito a ser conversado e não quero fazer isso por
telefone.
— Tudo bem. Estamos ouvindo.
Quinze minutos e muitas interrupções depois, meu pai diz:

— Estamos indo. É só o tempo de tomarmos banho e seguiremos direto


para aí.
Desligo o telefone, disposto a avisar Petal sobre o convite que fiz aos
meus pais.

Tomo uma chuveirada rápida e ando até o quarto ao lado. Não bato na
porta, com medo de acordar o bebê, mas quando a abro, fico paralisado com a
cena à minha frente.
Petal está encostada na guarda da cama, sentada, mas de olhos fechados.
A camisa que lhe emprestei encontra-se aberta, os seios desnudos e
Willow mama um deles. A mãozinha pequenina sobre o outro.
Congelo diante da beleza da visão e só então entendo a importância da
ligação das duas.

Petal não é somente a mãe da minha filha, mas sua fonte de alimento,
segurança e amor.
Ando devagar para não interrompê-las, mas ao mesmo tempo, incapaz de
deixá-las.
Petal abre os olhos, sonolenta e acho que não tem certeza se sou real
porque não faz qualquer movimento para se cobrir.
Sento-me do lado delas e percebo o momento que desperta completamente
porque puxa a camisa, tentando esconder o seio que Willow segura.
Sobreponho minha mão à dela.

— Deixe-me ver vocês.


O bebê resmunga e ela cede. Não sei quanto tempo se passa, mas Petal não
volta a me encarar, parecendo concentrada em cuidar das necessidades da
filha.

— Quantas vezes ela acorda durante a noite? — pergunto, me sentindo


culpado porque não ouvi nada.
— Algumas. Já estou acostumada. Ela é como uma bezerra. Enquanto tem
leite, mama.
— Pretende continuar amamentado-a?
— Sim, até o leite secar, é essa minha intenção, mas agora, com essa
situação… eu não sei….
Entrelaço nossos dedos.

— Vai continuar fazendo se é isso o que quer. Ninguém vai levá-la para
longe da nossa menina.
Ela não tenta se soltar.
— O que faz de pé tão cedo?
— É meu horário normal de acordar, mas não foi por isso que vim.
— Por que, então?
— Convidei meus pais para tomarem café da manhã conosco.
Ela abre a boca e torna a fechar.
— Como lhe disse ontem, eles precisavam saber por mim. É assim que as

coisas funcionam em nossa família. Não temos segredos uns com os outros,
mesmo que isso não seja uma opção, de qualquer modo.
— Como assim?
— Na primeira reunião de nossa família que comparecer, entenderá.

Ela fica quieta e eu sei a razão. Já comecei a compreender como sua mente
funciona.
— Pense em um dia de cada vez. Nós dois somos planejadores, Petal e do
que isso nos serviu? Estamos aqui, pais de um bebê que não programamos…
— Mas que é muito amado por mim.
— Sim, mas que não foi planejado. As certezas que ambos tínhamos em
relação ao futuro terão que ser reeditadas. Então proponho que vivamos um
dia de cada vez. No momento, quero apresentar vocês três aos meus pais.

Depois, a prioridade é juntarmos provas de sua inocência.


— Achei que o advogado estava cuidando disso.
— E está, mas meu irmão, que agora é juiz, foi promotor criminal e
mesmo que não possa se envolver diretamente em seu caso, tenho certeza de
que não sobrará um tapete em Boston que ele não procure embaixo. Na
verdade, agora mesmo, a vida de Lleyton Acker está sendo virada do avesso.
Eu não sei se foi ele quem matou o pai ou se mandou alguém fazê-lo, mas
mexeu com a família errada. Nós não ameaçamos, agimos. Quando
descobrirmos quem armou para você, o exporemos e faremos com que pague

pelo mal que lhe causou e não só pelo assassinato.


Como se concordasse com o que digo, Willow resmunga.
Ela começa a erguê-la e baseado na experiência de ontem, acho que é a
hora do arroto.

— Posso?
— Talvez ela vomite.
— Eu sei, mas precisa arrotar, né? Phoenix me explicou. Sei também que
pode ser barulhenta.
Estico os braços para pegar o bebê e pela minha visão periférica vejo que
fecha a camisa.
— Bom dia, menina. Como passou a noite? — pergunto à minha filha.
Não abre os olhos.

A boquinha ainda se move como se estivesse mamando.

— Acho que ela não é uma pessoa da manhã[32]. — diz.


— Isso temos em comum, então.
Trago-a para meu ombro.
— Na verdade, ela dormiu melhor do que o normal, mas não quero
acostumá-la à cama. Em casa sempre passou a noite no berço porque li em
uns sites para mães de primeira viagem que se deixarmos o bebê dormir
conosco, depois é mais difícil fazê-los aceitar a própria caminha.
Menos de um minutos depois, ela solta uma sequência de três arrotos e nós

dois rimos.
— Ela é meio escandalosa. Precisa melhorar os modos, né, bebê? — a mãe
diz.
Petal se ajoelhou na cama para se aproximar de nós e como ontem à noite,

me sinto ligado às duas como se aquele contato matinal fosse algo normal.
— Meu Deus! Disse que seus pais estão vindo. Preciso pegar minha roupa

lá na lavanderia do segundo andar[33]. Não posso recebê-los vestindo uma


camisa somente.
Em um pulo, ela já está de pé.
— Acalme-se, dá tempo de se vestir.
— Outra coisa: chamou-os para tomar café da manhã, mas café e leite é
somente o que tem na despensa. O que vão comer?

— Petal, minha mãe me conhece há mais de trinta anos e sabe que aqui em
casa não há comida. Não tenho dúvidas de que chegará com um café da
manhã pronto capaz de alimentar duas dúzias de pessoas.
Capítulo 32

Petal

Desço as escadas com Willow no colo, dizendo a mim mesma que não
tenho nada a temer. Não importa quanto dinheiro tenham, os Caldwell-
Oviedo são pessoas de carne e osso como eu.
Vesti o pulôver branco, meu jeans e tênis. A mesma roupa com que estava
ontem, só que limpa e me sinto um pouco melhor do que somente de calcinha
e a camisa de Rafael.
Willow está linda, de macacão cor-de-rosa e lacinho no pouco cabelo que
tem. Acordou bem-humorada e já deu vários gritinhos enquanto eu fazia o

meu melhor para banhá-la na pia do banheiro.


— Está na hora de conhecer seus avós, meu amor. Vamos torcer para que
sejam boas pessoas como seu papai e tios, né?
Phoenix desceu na frente com Rafael e assim que chego ao primeiro
andar, ouço pessoas conversando.
Meu estômago está em nós de nervosismo, mas respiro fundo enquanto
ando até a cozinha, me esforçando para parecer calma.
— Aí estão vocês — uma mulher mais velha e muito linda, diz. — Sou
Isabel Oviedo.

Seu rosto é amigável e eu escolho focar nela ao invés do homem ao lado


de Rafael e que só de olhar rapidamente, parece uma cópia madura do pai da
minha filha.
— Bom dia — respondo sem graça. — Meu nome é Petal e essa é… —

Puxo o ar, porque não vou mentir, não importa que o exame de DNA não
tenha ficado pronto ainda. — Sua neta, Willow.
— Olá — diz, acho que para nós duas. — Posso pegá-la?
— Sim.
Entregar minha filha a outra pessoa que não seja o pai não é algo que eu
faça com facilidade. Desde ontem, Willow tem passado por mais colos do
que fez em suas três semanas de vida.
Depois que lhe dou meu bebê, ponho as mãos nos bolsos de trás do jeans,

ou corro o risco de pegá-la de volta.


De repente, do nada, minha pulsação acelera.
Puxo respirações, mas é inútil.
Quem são essas pessoas? Estou confiando minha filha a eles! E se, na
verdade, o que querem é tirá-la de mim?
— Petal?
A voz de Phoenix parece vir de quilômetros de distância. Eu me sinto
como naquele dia no elevador quando descobri que estava grávida.
— Eu quero minha filha.

— Minha irmã não está bem — Phoenix diz e então sinto os braços de
Rafael ao meu redor, enquanto fala com os pais.
— Sente-se. — ele diz para mim, guiando-me ao sofá. — Ela comeu
pouco desde ontem. Pode ser isso. Pai, pegue um suco desse que a mamãe

trouxe.
Escondo o rosto nas mãos depois que o obedeço, mas ele se ajoelha à
minha frente, e me descobre.
— Hey, o que há de errado?
— Vai tirar Willow de mim? Tudo o que disse ontem era mentira?
— Não. De onde veio isso?
— Entrei em pânico. Esse não é meu mundo. Ela é de vocês, mas minha
também. Não podem ficar com minha filha.

Dessa vez é o pai dele quem fala.


— Nada disso vai acontecer, menina. Nós, os Caldwell-Oviedo, não
separamos famílias, as agregamos. Ninguém vai tirar Willow de você. Sejam
bem-vindos ao clã.
Depois do vexame do primeiro contato com os avós da minha filha, o
senhor Stewart, Rafael e Phoenix, foram até nosso apartamento pegar
algumas roupas para o meu irmão, que se recusou a aceitar novas. Aproveitei
para pedir que trouxesse as minhas também.
É uma boa coisa que além de hoje ser sábado, falte somente uma semana

para o Natal. Phoenix só terá que retornar às aulas até o início do ano[34].
— Está mais calma? — dona Isabel pergunta.

Acabei de colocar Willow no carrinho para dormir.


— Na medida do possível, sim. Desculpe-me pelo show.
— De tudo o que Rafe me contou, você está sendo até bem serena. No seu
lugar, estaria em pânico.
— Eu estou, mas não posso me dar ao luxo de demonstrar. Phoenix e
Willow dependem de mim. A senhora parece muito tranquila para quem
recebeu uma notícia de uma neta inesperada.
— Bebês não me assustam. Quanto mais, melhor. O que me deixa

nervosa, é o que estão tentando fazer com você. Culpando-a de um crime que
não cometeu.
— Como sabe que não cometi?
— Além da reação que teve quando achou que tiraríamos sua filha de

você, já se encontrou com três dos meus cinco filhos, principalmente o mais
desconfiado deles. No caminho para cá, falei com Joaquín. Ele acredita em
sua inocência, caso contrário não estaria trabalhando para tentar inocentá-la.
— Ele está?
— Sim. Ainda não sabe nada sobre nós, Petal, mas o principal que precisa
entender é que somos um todo. Você é mãe da minha neta. Phoenix, tio.
Logo, ambos são nossos também, agora.
— A senhora é mãe, então deve imaginar o desespero que fiquei quando

fui presa ontem. Eu nem estou falando do horror da cena de encontrar meu
chefe morto em seu quarto, mas porque ninguém parecia acreditar em mim.
Não conseguia me defender porque a ideia de que pudessem pensar que eu
machucaria alguém, qualquer um, era tão absurda! Mas aquela mulher ficava
repetindo que eu o matara.
— Que mulher?
— Acho que uma empregada do doutor Augustus. Foi ela quem abriu a
porta para que eu entrasse, mas não posso ter certeza, já que nunca havia ido
lá antes.

— Ela disse que a viu matá-lo?


— Não, pelo que me lembro, ela só ficava repetindo para Lleyton que o
matei.
— Estranho.

Franzo minha testa.


— Sim. E agora que estamos falando sobre isso, eu não dei detalhes sobre
essa empregada ao advogado. Talvez seja o pânico do que vivi que me faça
lembrar das coisas desse modo, mas ela parecia me odiar.
— Acha que foi ela quem o matou?
— Não sei. Por que faria aquilo? Se formos seguir um raciocínio lógico,
por mais horrível que seja, faz mais sentido que tenha sido Lleyton. Afinal,
foi ele quem me disse para conversar com seu pai.

— Petal, eu sei que na sua situação é difícil ter fé nas pessoas, mas
acredite em mim quando eu digo que faremos o impossível para provar sua
inocência.
— Obrigada. — Olho para minhas mãos. — Eu não quero prejudicá-lo.
Estou falando sobre a carreira dele.
— Rafe não funciona desse modo. Ameaças não o fazem recuar.
— Eu virei o mundo dele de cabeça para baixo.
— Não, vocês viraram um do outro. Um bebê não se faz sozinho.
Não detalhei a maneira como conheci Rafael, mas presumo que ela saiba,

se for me ater ao que ele disse sobre não haver segredos na família. Apesar
disso, nem por um instante ela me olhou com menosprezo.
— Gosta de Natal? — pergunta, de repente.
— Gosto sim, por quê?

— É minha época favorita do ano e espero que passem conosco. Mas


ainda não comprei tudo o que preciso. Rafe me disse que falta muito para
montar um quarto para Willow. Pensei em darmos um pulinho no shopping, o
que acha?
— Eu não sei. Ela é muito pequena ainda para ficar no meio de multidões.
— Ligo para Bianca e pergunto se podemos deixá-la lá.
— Mas ela já tem três crianças, pelo que meu irmão me falou.
— Sim, e quer muitas mais.

— Ir ao shopping seria uma boa ideia porque preciso de um celular novo,


mas não posso demorar. Vou tirar um pouco de leite para a próxima mamada,
mas preciso voltar antes da seguinte porque não a quero tomando fórmula.
— Não vamos demorar. Esqueça os presentes. Basta escolhermos o berço
e o básico para o bebê. Mesmo seu telefone podemos providenciar para
entregarem aqui.
— Por que está fazendo isso?
— Não entendi.
— Entendeu, sim. A essa altura, provavelmente meu rosto já está

estampado nos jornais, então por que sair comigo? Se expor?


— Quando a acusaram de um crime que não cometeu, pensaram estar
lidando com uma menina sozinha, desprotegida. Agora, saberão que não é
nem uma coisa e nem outra, mas a mãe da minha neta. Quem a caluniar a

partir desse momento, arcará com as consequências.


Cerca de meia hora depois, estamos saindo para a casa de Bianca, para
deixar Willow, quando a porta do apartamento se abre e um homem aparece.
Eu levo poucos segundos para decidir que não gosto dele porque a
maneira que me olha e à minha filha é como se fôssemos lixo.
— Luigi, o que faz na casa do meu filho?
Dona Isabel soa um pouco rude, o que me espanta, porque até agora,
apesar de bem enérgica, foi um doce comigo.

A expressão dele muda quando encara a matriarca Oviedo.


— Dona Isabel, bom dia. Vim trazer pessoalmente o resultado do exame
de DNA para Rafael, mas agora percebo que o problema é muito maior do
que o nascimento de um bebê.
Ela anda até ele e pega o envelope de sua mão.
— Pode esclarecer sua colocação?
— Ela — diz, movendo a cabeça na minha direção — está com o rosto
estampado em todos os jornais do país e…
— Pense bem no que vai falar — a mãe de Rafael o interrompe, sem fazer

menção de abrir o envelope. — Pode custar seu contrato com meu filho.
Agora que já fez o que precisava, peço que se retire.
Ele parece que vai protestar, mas para a tempo e começa a andar para a
porta.

— E Luigi — dona Isabel continua. — Não entre mais no apartamento de


Rafe sem avisar. Petal está morando com ele agora.
Capítulo 33

Rafe

Acabamos de chegar na casa de Petal, mas nem conseguimos entrar. Há


repórteres por todos os lados em frente ao prédio de aspecto simples que ela
mora.
— Sem chance de subirmos — meu pai avisa. — Faça uma lista do que
precisa, Phoenix e os seguranças voltarão sozinhos para buscar.
— Por quanto tempo eles continuarão nos perseguindo? Eu preciso voltar
para a escola no começo do ano. Se não me formar, nunca vou poder virar
CEO e dar conforto à minha irmã.
Meu pai dá um tapinha no ombro dele.

— Não se preocupe com isso. Nem que precisemos colocar segurança com
você dentro da sala de aula, frequentará a escola normalmente. Agora, seja
um bom menino e faça a lista do que precisa.
O celular toca e vejo que é Archer.
— O que você estava fazendo no tribunal ontem com uma acusada de
assassinato?
— Era a Petal.
— A loira que te deu um pé na bunda?
— A mãe da minha filha.

— O quê? Bebeu? Estou indo para aí.


— Não estou em casa, e sim indo encontrar meus irmãos daqui a pouco.
Se quiser vir, estarei na minha sala, no prédio da nova sede.
— Em quanto tempo?

— Meia hora, no máximo.


Vejo que meu pai também desliga seu aparelho.
— Sua mãe pensou em sair com Petal para irem ao shopping comprar o
berço para nossa neta e um celular novo para a mãe dela, mas eu disse que
era melhor não, então vão passar o dia na casa de Joaquín.
— Sim, enquanto não conseguirmos provar a inocência dela, qualquer
exposição irá feri-la.
— Ela me falou que seu empresário esteve lá com o resultado do DNA.

— E?
— Isabel o abriu, óbvio. Willow é nossa.
— Eu disse. — Phoenix entra na conversa. — Minha irmã não mente.
Meu pai concorda com a cabeça.
— Sobre Luigi, parece que ele e sua mãe discutiram, mas Isabel não quis
entrar em detalhes.
— Falarei com ele. Provavelmente está preocupado com as notícias.
Papai fica em silêncio e eu sei a razão. Ele e minha mãe nunca
simpatizaram com meu empresário, para dizer o mínimo.

— Acho que devemos ir para a sede direto, então — diz. — Isabel me


contou algo que talvez seja importante.
— Sobre o quê?
— Uma coisa que Petal se lembrou sobre a cena do crime.

— Nesse caso, é melhor telefonar para Matheus Berardi. O que quer que
possa ajudar na defesa dela, ele precisa saber.

Não esperava nada menos do que a confusão que se formou quando eu e


meus irmãos nos reunimos para conversar. Archer e Raul chegaram logo em
seguida e juro por Deus que o caos imperou por ao menos vinte minutos
antes que todos se calassem e eu pudesse explicar o que estava acontecendo.
Primeiro, contei sobre Willow e depois, sobre a situação de Petal.
Quanto à minha filha, apesar do espanto, eles conseguiram assimilar com

mais facilidade, mas sobre a questão de Petal ser ou não inocente, somente
após ouvirem Joaquín, ficaram convencidos.
Quando Matheus chegou, só restávamos eu, meu pai, Guillermo, Archer e
Joaquín, já que Gael está voltando de uma filmagem na Europa e Martina foi

levar Phoenix para dar uma volta pelo prédio com Raul, provavelmente para
poupá-lo da reunião com o advogado.
Antes que qualquer um de nós pudesse falar, no entanto, Matheus diz:
— Augustus Acker fez uma extensa pesquisa sobre Petal Bartley antes
mesmo que a senhorita Bartley fosse trabalhar para ele.
— O quê? — pergunto. — Do que está falando?
— Eu não sei ainda, mas pelo que pude apurar, ela não foi trabalhar na
empresa dele por acaso, mas induzida a isso.

— Como?
— Não tenho todas as respostas por ora, mas ao menos, um ponto de
partida. Havia um interesse no morto pela sua… pela mãe de sua filha e eu
quero descobrir porquê.
— Petal se lembrou de que a mulher que a acusou de assassinato, a
empregada da casa de Augustus Acker, parece ter voltado ao quarto logo
depois que ela entrou, quando já havia se despedido, dizendo que precisava ir
embora — meu pai intervém. — Acha que pode ser cúmplice de Lleyton
Acker?

— Tudo é possível — Joaquín diz —, mas nesse caso, teriam que ser três
cúmplices, pois há ainda o segurança que deixou Petal entrar. É muito difícil,
que todos mantenham silêncio, ainda mais se quem cometeu o crime foi
Lleyton Acker. Uma coisa a se saber sobre a natureza humana é que quando o

cerco aperta, os ratos abandonam o navio. O que precisamos é investigar a


empregada, principalmente, porque os funcionários são os elos mais fracos.
De todos, quem tem mais a perder é o herdeiro, Lleyton Acker.
— Já está sendo feito — Matheus garante. — Mas com a proximidade dos
feriados de fim de ano, ficará tudo parado na justiça. Entretanto, meus
homens vão continuar cavando.
O toque do meu celular interrompe a conversa. Peço licença aos presentes
e vou para a sala em anexo.

— Rafe, o que aquela mulher está fazendo na sua casa? — Luigi pergunta
assim que atendo.
— Está se referindo à mãe da minha menina?
— Ela é?
— Não sabe? Parece pensar que conhece mais da minha vida do que eu
mesmo — ironizo.
— Como poderia saber? Não violei o envelope. Nunca faria isso.
— Sim, já foi confirmado. O que você quer?
— Abrir seus olhos. Independentemente dessa mulher ser mãe de sua

filha, está sendo acusada de assassinato.


— Vou repetir a pergunta porque minha paciência está se esgotando,
Luigi. Aonde você quer chegar com isso?
— Ela vai destruir sua reputação. Já recebi telefonemas dos três maiores

patrocinadores. Viram sua foto saindo com ela do tribunal ontem. Não
querem qualquer ligação sequer com a palavra assassinato. Se insistir nisso,
eles vão pular fora.
— Volte a falar nisso e nosso relacionamento profissional está acabado.
Fodam-se os patrocinadores. Eu sou Rafael Oviedo e minha história no
esporte fala por mim. Não há um só atleta em qualquer modalidade que tenha
ficado tanto tempo no topo. Eu não preciso provar mais nada. Minha única
preocupação no momento é em proteger a mãe da minha menina.
Capítulo 34

Petal

Depois de um dia inteiro com a família dele, eu me sinto mais calma.


A caminho da casa de Bianca e Joaquín, Isabel — ela insistiu que a
chamasse assim — recebeu um telefonema de Stewart avisando que não
deveríamos ir ao shopping porque eles nem conseguiram descer em frente ao
nosso prédio, tamanha a quantidade de repórteres.
Aquilo sugou minha energia quando eu estava começando a me recuperar
do baque de ontem.
Não o fato de não irmos às compras, mas porque fiquei pensando que

mesmo que se prove minha inocência, as pessoas sempre terão dúvidas a meu
respeito. É assim que as mentiras são disseminadas. Você demora uma vida
provando que é correta e em um segundo vê o mundo que conhece
desaparecer.
A tristeza não durou muito, no entanto, porque não sei como combinaram,
mas assim que cheguei à casa do irmão de Rafael, conheci mais três membros
do clã: Angel, que é cantora e agora me lembro, esposa do famoso ator Gael
Oviedo; Olívia, a mulher do irmão mais velho, Guillermo e claro, a dona da
casa, Bianca, esposa de Joaquín.

Elas falam tanto e tão rápido que nem tive tempo de pensar muito no
inferno que se transformou minha vida.
Mas não foi isso o que fez meu coração ficar mais leve e sim a maneira
como receberam Willow.

Retiro o que eu disse sobre não ter pior escolha para pai do meu bebê
quando julguei Rafael pelo fato de ser um mulherengo. Se algo acontecer
comigo, eu agora tenho certeza de que os Caldwell-Oviedo protegerão
Willow e Phoenix.
Elas quiseram saber tudo ao meu respeito — e quando digo tudo, é tudo
mesmo: desde a maneira como conheci Rafael até a acusação por assassinato.
Mas em nenhum momento questionaram a paternidade, repetindo o discurso
de que Willow tem os olhos do pai e do avô.

Dona Isabel nem sequer chegou a mostrar a elas o exame de DNA, que
abriu sem o menor constrangimento, ainda que estivesse endereçado a Rafe.
Depois de ler o resultado, me disse simplesmente: ela é nossa.
As mulheres Caldwell-Oviedo nos aceitaram de braços abertos, mesmo
que eu e minha filha sejamos de uma classe social diferente.
É estranho me sentir fazendo parte de um todo. Não sou do tipo que cede
fácil à aproximação de pessoas de fora, mas hoje eu dei graças a Deus por
minha filha ter tanta gente para protegê-la, no caso de que eu falte.
Quando voltei para casa — a mãe de Rafael nos trouxe até a porta — tanto

ele quanto meu irmão já haviam chegado.


Sacolas e caixas de lojas de bebê foram espalhadas por todos os cantos no
primeiro andar, fruto do exagero de Isabel ao fazer as encomendas hoje à
tarde pela internet.

Phoenix me disse que o motorista conseguiu pegar nossas roupas e o


celular dele, o que é um alívio porque será menos um gasto de Rafael
comigo.
Eu ganhei um aparelho novo e fiquei super sem jeito porque pretendia
pagá-lo, mas a avó de Willow disse que não queria ouvir sobre aquilo.
— É muita coisa — falo, depois que meu irmão sobe após o jantar. — Sua
mãe exagerou, Rafael.
Aproveitando que nossa filha dorme no carrinho, começo a andar entre as

sacolas.
— Eu ia montar o berço dela, mas não sabia qual quarto você escolheria.
— O meu mesmo está ótimo. Quando ela estiver maior… hum… se você
quiser decorar um, poderá fazê-lo com a ajuda de uma profissional. Quero
dizer, não é uma exigência, mas nas revistas é o que o ricos fazem.
Senhor meu Deus, alguém me para.
Sinto seu calor às minhas costas.
— Por que está nervosa?
— Você me deixa nervosa — confesso.

Ele me segura pelos ombros e me faz encará-lo.


— Do que tem medo?
— Seria melhor você me perguntar do que não tenho medo atualmente.
— Conte-me.

— Eu não quero chorar.


Ele me surpreende me pegando no colo e se senta comigo no sofá, ainda
em seus braços.
— Você me trata como se eu fosse uma boneca só porque sou pequena.
— Não, porque não consigo manter as mãos longe de você. Agora me
conte: do que tem medo?
— De precisar de alguém, em primeiro lugar. Eu não quero me acostumar
com todo esse cuidado, Rafael.

— Por que não?


— Porque pode acabar. Você é o pai da minha filha, mas se não fosse isso,
estaria tão distante de mim quanto Saturno.
— Por que usou Saturno como exemplo?
— Gosto desse planeta. Dizem que é o senhor do tempo.
Ele aceita minha explicação louca.
— Sim, somos diferentes e o que mais? — pergunta.
— Pelo amor de Deus, não é só isso. Não há nada de errado em ser
diferente, mas no fato de que em um mundo real, nós nunca teríamos sequer

nos esbarrado. Foi tudo uma farsa desde o começo. O vestido no qual você
me viu na Noite Escura, eu nunca poderia pagar. Eu nem deveria ter ido
àquela festa.
— Você fingiu gozar quando estivemos juntos?

Olho para baixo.


— Essa pergunta é muito injusta. Tem experiência e sabe que não fingi
nada, mas preciso contar algo.
— Olhe para mim enquanto faz isso.
Eu obedeço.
— Eu me lembro de tudo o que aconteceu. Desde o momento em que te
vi, até a hora que nós… hum…
Ele puxa meu rosto para perto.

— Até a hora que eu te comi gostoso?


— Meu Deus.
— Porque foi isso o que aconteceu, né? Eu ainda me lembro de como sua
boceta é pequena e da maneira como se contraía em volta do meu pau.
Aperto seus braços com força e tenho certeza de que se eu tivesse unhas
longas, o teria marcado. As coisas que ele me diz trazem as lembranças de
volta, fazendo com que um desejo quente como lava se espalhe por mim e
meu sexo pulse em necessidade.
— Por que está tentando me seduzir de novo? É isso o que está fazendo,

não é? Pode ter qualquer mulher, Rafael, então por que complicar tudo?
— Eu não quero outra.
Ele recosta a cabeça no sofá.
— Não planejei isso. — Continua. — Quero dizer, sim, vou te seduzir

assim que você estiver liberada pelo médico, mas não planejei fazê-lo nesse
instante.
— Tem coragem de dizer isso olhando na minha cara?
— Lembra do que eu falei, Petal? Sou brutalmente honesto, mas o que
estou tentando explicar é que por ora, eu queria mesmo te ouvir. Sobre seus
medos, principalmente.
— Eu acredito em você, mas não fique relembrando aquela noite. Eu não
sou de ferro.

— Jesus, menina, você me mata com esse jeito inocente de dizer o que
está sentindo. Continue o que estava dizendo sobre aquela noite.
Demoro uns segundos para lembrar porque ele tem o poder de transformar
meus neurônios em geletina.
— Eu estava dizendo que eu me lembro de tudo o que aconteceu entre nós
e não me arrependo, mas eu não sou normalmente tão solta, entende?
— Disse-me que não estava bêbada.
— E não estava. Dei dois goles em um champanhe apenas. Tinha acabado
de fazer vinte e um.

— O que significa que seu aniversário está perto, então.


— Não importa — falo, sem jeito. — Só não queria que você achasse que
aquele era meu comportamento normal. Foi uma combinação de fatores nós
termos ficado naquela noite. Eu estava me sentindo linda.

— Você é linda.
— Enfim, eu queria viver. Só não sabia que aquela aventura nos traria até
aqui. Eu não planejei estragar sua vida, Rafael e é por isso que não podemos
nos envolver. Se não bastasse o fato de que eu posso ser presa em um futuro
próximo, há Willow na equação.
— Eu disse que já estava te procurando antes que você me encontrasse.
— Para transar de novo.
— Sim, para foder você. Muitas vezes. — Ele passa as duas mãos no

rosto. — Eu não sei se seria só foder. Nunca fui além do sexo, mas eu queria
mais com você.
Levanto-me do colo dele porque suas palavras são tentadoras demais. Ele
é tentador demais.
— Se nós não tivéssemos uma filha, mesmo com minha vida no meio do
caos, eu poderia arriscar, mas há muito mais em jogo — falo, indo até o
carrinho e pegando Willow.
Capítulo 35

Rafe

Antevéspera do Natal

Depois da conversa que tivemos na segunda noite em que ela dormiu aqui,
Petal tem evitado ficar sozinha comigo.
Às vezes, ouço Willow chorar e quando vou no quarto delas, porque agora
que estou começando a me acostumar com essa coisa de ser pai, trago uma

das babás eletrônicas para minha mesinha de cabeceira, a assisto amamentar


nossa filha.
Ela não me manda sair e nem parece mais envergonhada como no começo,
mas assim que termina, volto para minha suíte porque não quero que pense
que por estar aqui, vou me aproveitar da situação.
Estava indo bem com esse método até essa noite.
Nossa filha, depois de mamar, iniciou um choro sentido e ficamos batendo
cabeça tentando adivinhar o que era.

Petal cantou, andou com ela, fez massagem para cólica, deu chá que
minha mãe recomendou quando ligamos para ela desesperados, revezou
comigo, mas Willow não se rendia ao deus do sono.
E então, de repente, fez-se o silêncio.

Eu estava recostado na guarda da cama com minha filha em meus braços e


nem senti quando Petal a tirou de mim. Agora, entretanto, estou
completamente desperto, deitado e um corpo pequeno e quente, está abraçado
às minhas costas.
Provavelmente adormeci e ela ficou com pena de me mandar embora.
Tão bom quanto seja senti-la, não vou usar nossa filha como álibi para
dormir com a mãe dela.
Com cuidado, tiro o braço em volta da minha cintura.

— Não vá — geme, me puxando para mais perto.


Volto-me para olhá-la na penumbra.
— Disse que não podíamos ficar juntos. Usando suas palavras, eu não sou
de ferro. Quero você.
— Eu também, mas estou com medo.
— E prefere não viver do que tentar?
Ela toca meu rosto, mas eu seguro sua mão.
— Decida-se, Petal. Não lido bem com metades. Não há qualquer garantia
de um futuro, mas eu quero arriscar.

Ao invés de me responder, ela se molda completamente a mim.


— Não me provoque. Estou louco para sentir seu gosto outra vez. Quero
chupar essa boceta.
— Ai, meu Deus!

— Vem comigo. A babá eletrônica que fica na minha mesinha de


cabeceira está ligada.
Não lhe dou tempo para pensar e pego-a no colo.
Saio do quarto em silêncio, mas assim que estamos no corredor, eu a beijo,
morto de fome por ela.
— Não vou te machucar, prometo. Só quero beber você.
— Meu Senhor, você não pode me dizer essas coisas.
— Mesmo que o médico tivesse te liberado, não confio em mim mesmo

para te comer hoje.


— Por que não?
— Estou obcecado pelo seu corpo. Não vou conseguir pegar leve.
Não falo que não fodo há quase um ano para não assustá-la.
Já estamos na minha suíte e fecho a porta antes de andar até a cama.
Acendo a luz.
— Nada de penumbra dessa vez. Quero conhecer cada pedaço seu.
— Eu ganhei peso nos lugares errados.
— Você é uma delícia, Petal e hoje eu quero ver o que naquela noite eu

apenas senti.
Tiro minha boxer e camiseta.
Parado no meio do quarto, nu, sem me mexer ainda, eu a desafio a fugir
disso que existe entre nós.

Minha pulsação acelera quando a vejo agarrar a bainha da camiseta e


puxar sobre a cabeça. Os peitos lindos, grandes e pesados, de mamilos rosa
claro, são como um convite à minha língua.
— Porra, mulher. Você é um tesão.
Ela está ajoelhada, só de calcinha. As coxas grossas, dobradas, sentada nos
calcanhares.
O contraste da cintura fina, onde um suave relevo no baixo ventre se
destaca, com as ancas largas, deixam meu pau como aço.

— Não estou liberada ainda, mas quero que me toque.


— Onde? — provoco.
— Está mexendo comigo.
— Onde você quer ser tocada?
Escorrega a mão para o meio das coxas e quando o dedo resvala, acho que
no clitóris, por cima da lingerie, joga a cabeça para trás, gemendo.
Acaricio meu pau em um aperto firme, tentando refrear um pouco o
desejo.
— Deite-se — comando.

Quando ela se recosta, apoiada nos cotovelos, pernas separadas, eu me


aproximo devagar.
Tiro sua calcinha e mesmo antes de tocá-la, ela urra.
Abaixo-me e lambo o ponto exato em que seu sexo se encontra com a

coxa.
Ela grita.
— Você é muito sensível. Mal posso esperar para poder te foder como eu
quero.
Tenta se mexer, mas eu não permito, mantendo suas coxas bem separadas.
Ajoelhado no meio de suas pernas, puxo-a pela bunda.
Passo o dedo do clitóris a sua abertura e estremece, mordendo o lábio
inferior.

Está molhada, pedindo pela minha boca e eu não posso mais me segurar.
Corro a língua por toda ela, seu mel se espalhando pelo meu paladar, o
cheiro de seu tesão dominando meus sentidos.
— Eu quero te tocar também. Preciso te tocar. Por favor, Rafael.
Estou louco de tesão, não quero parar, mas sei como dar o que ela implora.
— O que você quer, Petal?
— Provar você também.
— Já fez isso?
— Não.

Na noite em que estivemos juntos, eu tinha toda a intenção de sentir sua


boca à minha volta, mas eu não conseguia parar de comê-la, de abrir mão da
boceta quente e apertada.
Subo em seu tronco, um joelho de cada lado do corpo.

— Eu vou te ensinar a me tomar.


— Eu quero.
Porra!
— Tem ideia de como você é linda?
Masturbo meu pau, mas não é o suficiente, então pego sua mão e a guio,
mostrando-a como me acariciar.
Seu aperto é leve, desajeitado, mas por ser ela, quase me faz gozar.
— Abra a boca.

Roço a cabeça da minha extensão em seus lábios e sem que a instrua, ela
suga.
— Assim mesmo. Abra mais essa boquinha e mame. Passe a língua.
Em pouco tempo, ela pega o jeito e quase me tira de órbita. Chupa com
vontade, sem frescura. Petal é sexy demais, mesmo em sua inexperiência.
Com a mão atrás do meu corpo, brinco de leve com sua boceta, só
massageando o clitóris, mas sem meter porque não quero machucá-la.
Ela rebola nos meus dedos, a sucção aumenta e minhas bolas pesam de
tesão.

Saio de cima dela e deito-me de costas.


— Vem cá, amor.
— Quero mais.
— Não acabamos, mas preciso comer você também.

Eu a giro invertida sobre mim, alinhando o sexo gotejante em meus lábios.


Quando abocanho seu clitóris, ela tenta fugir.
— Continue me chupando. Eu quero gozar na sua boca e você vai me
alimentar também, baby.
Uso os dentes em seu clitóris ao mesmo tempo que minha língua invade
sua entrada, comendo-a devagar, lambendo suas paredes internas.
— Dói? — pergunto, com um pingo de racionalidade que me resta.
— Não pare. Não está doendo.

Cada vez que a minha língua entra em seu corpo, ela convulsiona.
Chupo todo seu desejo, esfomeando, nunca tendo o suficiente.
Ela me suga e masturba ao mesmo tempo, as mãos acariciando minhas
bolas.
Seu mel escorre pelo meu queixo e o gosto dela me vicia.
Estico uma das mãos e estimulo seu peito.
Petal urra e rebola no meu rosto, e descontrolada, me leva quase até o
fundo da garganta.
Não acho que ela saiba o que está fazendo ou que esteja tentando me

enlouquecer de propósito. É gostosa sem precisar se esforçar.


Substituo a língua dentro dela por um dos meus dedos, somente até a
metade e prendo seu clitóris em meus lábios, sugando-o.
— Rafael… — implora.

— Goze comigo. Se não quer beber, precisa parar, mas se for fazê-lo, não
deixe escorrer uma gota. Mame com vontade.
As palavras parecem enlouquecê-la porque ela me chupa agora como se
sua vida dependesse disso. Mordisco novamente seu clítoris e ela afunda o
sexo no meu rosto.
— Por favor.
— Eu nunca vou cansar de comer sua boceta, mas preciso te fazer gozar,
amor.

O feixe de carne pulsa em minha língua e quando seu sexo se fecha em


torno do meu dedo, eu a chupo de boca aberta porque sei que está perto.
Ela grita e me toma quase inteiro, só parando quando a cabeça do meu pau
alcança o fundo da garganta.
Segurando-a pelas ancas, eu não permito que fuja da minha boca até ouvir
seu grito de rendição, me entregando tudo.
Bêbado de tesão, comando:
— De joelhos na beira da cama.
Fico de pé à sua frente e enroscando a mão em seu cabelo, meto em sua

boca.
— Você estava me levando até a garganta. Relaxe a boca. Quero te foder
assim.
Meu toque em seus fios não é suave, mas um aperto urgente.

Quanto mais fundo e rude eu meto, no entanto, mas ela geme em torno do
meu pau, sugando com vontade.
— Vou gozar — aviso. — Quero encher essa boca bonita.
Fodo-a algumas vezes, parando bem fundo.
Não resisto por muito tempo.
A visão dela nua, de quatro, os peitos se movendo enquanto me devora é
um tesão e depois de sair quase todo, eu explodo meu orgasmo entre os lábios
famintos.

Obediente, bebe tudo e continua me lambendo, mesmo quando não há


mais nada.
Achei que a primeira vez que ficamos havia sido minha melhor transa,
mas nada se compara a visão de Petal me tomando com gosto.
Levanto-a e beijo sua boca.
— Banho?
— Tenho medo de não resistir se você tentar…
— Quero muito te comer, mas não vou machucá-la. Tem minha palavra.
Só um banho.

Ela ensaia sair da cama, mas eu a pego no colo.


— Serviço completo, senhorita.
O que ela não sabe, é que eu não estava brincando quando disse no outro
dia que não consigo parar de tocá-la.

Petal se tornou meu vício.


Capítulo 36

Petal

No dia seguinte

Não tenho vergonha de dizer que fugi para o meu quarto assim que ele
adormeceu e não teve nada a ver com minha filha. Willow dormiu
tranquilamente o resto da noite, mas acordar ao lado de Rafael não é algo ao

qual acho que deva me acostumar.


No chuveiro, ele me fez gozar mais duas vezes. Com a desculpa de me
banhar, me acariciou até que eu me desmanchasse, entregue.
Agora, estamos tomando café da manhã e enquanto como uma torrada e
dou um gole no leite, já que dentre as providências de Isabel, compras de
comida foram incluídas, sinto-o me observar através da borda da caneca.
Phoenix olha de um para o outro, escondendo um sorriso e de vez em
quando, balançando a cabeça, mas eu finjo não notar.
— A que horas devemos estar prontos para irmos à casa de sua mãe?

Isabel me telefonou ontem dizendo que reunir a família na véspera de


Natal e também no almoço do dia vinte e cinco é uma tradição dos Caldwell-
Oviedo da qual ela não abre mão.
Vai ser o primeiro Natal de Willow e mesmo que, em nossa casa, eu e meu

irmão há muito tempo não comemorássemos por conta da doença de tia


Darcy, fico feliz que a minha filha possa usufruir, mesmo sem entender nada,
da data como conceito.
— Acho que umas oito — ele responde de um jeito lento, sem desviar
nossos olhos e me fazendo estremecer.
— Hoje nossa filha faz um mês.
Sua postura muda e vejo encantada a transformação de gostosão sedutor
em um homem sorridente, enquanto se abaixa para pegá-la no carrinho.

— Um mês? A gatinha do papai está crescendo...


Levanta-se com ela e continua “conversando” com Willow.
Devo ser muito boba mesmo, porque tenho certeza de que se passar a mão,
consigo sentir a baba escorrendo da minha boca.
É como a realização de um sonho. Não importa o que o futuro reserve para
mim e Rafael, mas ele não só aceitar como também amar nossa filha, é tudo o
que posso desejar. Diferentemente de mim e do meu irmão, Willow vai
crescer com o pai ao lado.
— Você está sorrindo como uma mamãe coruja. Se não quer que ele

perceba, disfarce — Phoenix implica.


— Não consigo evitar. Apesar de tudo o que tem acontecido e do caminho
tortuoso que nos trouxe até aqui, me emociona ver os dois juntos.
Eu e meu irmão conversamos muito nesses últimos dias porque, por mais

maduro que Phoenix seja, ele é praticamente uma criança. Se eu quase surtei
com a montanha-russa em que se transformou nossas vidas, a cabeça de um
adolescente não poderia estar melhor.
Em uma dessas conversas ele me disse que se sentia feliz por estarmos
morando com Rafael, mas acho que o que quis dizer é que se sentia seguro.
Eu nem imagino como deve ter ficado apavorado quando soube que fui presa.
— Ele continua sendo o The Best para mim. Rafe é o melhor, Petal.
Aos poucos vejo uma amizade crescer entre o pai da minha filha e meu

irmão, o que me acalma. Se tudo der errado e eu for condenada, não tenho
mais dúvida de que os Caldwell-Oviedo cuidarão não somente de Willow,
mas de Phoenix também.
— O que está acontecendo entre vocês dois? — pergunta.
— Não tenho uma resposta para isso. Gosto dele. Muito mesmo, mas
tenho medo de me decepcionar.
— Se eu pudesse ter um desejo realizado, seria que ficássemos todos
juntos para sempre — diz.
— As coisas não funcionam desse jeito. Sabe disso, né? Enquanto gostaria

que você continuasse acreditando que a vida é boa o tempo todo, não vou
criá-lo dentro de uma bolha, Phoenix. Coisas ruins acontecem também
porque o mundo está cercado de gente má.
— Eu pensei nisso outro dia.

— Em quê?
— Estava tentando imaginar como alguém podia acreditar que você seria
capaz de matar aquele homem. É ridículo. Depois de um tempo, cheguei a
uma conclusão.
— Você me assusta quando fala comigo desse jeito. Parece um adulto.
Ele dá de ombros.
— Tudo bem. Conte-me a que conclusão chegou — peço.
— Que as pessoas acreditam no que querem acreditar ou talvez por o

mundo ter mais gente ruim do que boa, elas veem o mal por todos os lados.
— Crê mesmo nisso, que o mundo é formado mais de gente ruim do que
boa? É uma visão cínica.
— Talvez seja, mas acredito, sim. Se houvesse mais gente boa do que
ruim no planeta, não haveria tantos crimes, mortes e injustiças.
— Não seja assim, Phoenix. Não deixe que o que me aconteceu roube sua
alegria de viver.
Ele não responde, parecendo concentrado na caneca de leite.
— Está animado para hoje? Nunca passamos um natal com tantas pessoas

reunidas.
— Não ligo para natal, mas gosto de ter mais gente por perto além de você
e Willow — diz, com sua sinceridade característica.
Meu telefone celular toca.

Depois que o aparelho novo chegou, liguei para a operadora porque queria
manter o mesmo número que eu tinha antes. Quando olho para o visor, no
entanto, um calafrio de medo me percorre.
Levanto-me e tomo um pouco de distância porque não quero que meu
irmão ouça aquela conversa.
— Por que está me ligando?
Não tenho qualquer preocupação com boas maneiras. Se há alguém nessa
vida que eu posso dizer que detesto, é Lleyton Acker.

— Isso são modos de falar comigo?


— Nem deveria me procurar. Você é muito falso.
O advogado me telefonou durante essa semana e disse que aquilo poderia
acontecer — Lleyton me ligar — e caso ocorresse, me instruiu que em
hipótese alguma eu tocasse no nome do doutor Augustus ou da acusação de
assassinato.
— Não temos nada para conversar. É véspera de natal. Época de ficar com
a família e amigos. Você não é nem uma coisa e nem outra.
— Está muito autoconfiante, agora que tem o pai de sua filha ao lado, né?

Deu o golpe direitinho e o trouxa caiu.


— Bom dia para você, Lleyton — respondo, tremendo.
Vejo Rafe passar Willow para o colo de Phoenix e se aproximar.
— O que há de errado? — pergunta, mas faço um gesto com a mão

dizendo que está tudo bem, mesmo que, na verdade, não esteja. Mas não sou
uma florzinha frágil. Posso lidar com meus próprios problemas.
— Eu fui um idiota em te largar sozinha naquela festa. Se eu não tivesse
deixado-a na escada, Willow e você seriam minhas.
— Do que está falando?
— Eu armei tudo para ficarmos juntos, mas você tinha que estragar tudo.
— Armou?
— O champanhe, Petal. Coloquei algo leve, para te deixar mais solta.

Não tem ideia de como me arrependo de ter ido falar com meu conhecido
naquela noite, deixando-a para que o cretino usufruísse desse corpo lindo —
revela, mas a essa altura, eu já estou em choque.
Tento falar baixo, mas aos meus próprios ouvidos, minha voz sai
esganiçada.
— Você me drogou?
— Não seja dramática. A palavra “droga” é um exagero. Acho que o
termo substância recreativa se aplica melhor. Mas nada disso importa
agora. Eu só liguei para dizer que deve aproveitar ao máximo o natal. Será o

último que passará em liberdade.


Ele desliga em seguida e eu não consigo me mover.
— Petal, o que aconteceu? — Rafael pergunta, me puxando para seus
braços.

— Aqui não. Sobe comigo um instante?


— Phoenix, preciso conversar com sua irmã. Pode olhar Willow para nós?
— Claro, mas o que aconteceu?
— Ainda não sei.
Ele segura minha mão e me faz ir em direção às escadas. Quando
chegamos a sua suíte, diz:
— O que aquele filho da puta queria?
— Sabia que eu estava falando com Lleyton?

— Eu a ouvi chamar o nome dele.


— Ele disse que me drogou na Noite Escura.
— O quê?
— Lembra quando eu te disse outro dia que não ajo, em meu estado
normal, como fiz naquela festa? Não estava dando uma desculpa para que
você não pensasse mal de mim, era a pura verdade. Sou tensa quase todo o
tempo, mas apesar de não me sentir bêbada e saber o que estava fazendo,
parecia que todas as inibições tinham desaparecido.
— Foda-me! Eu me aproveitei de você enquanto esteva drogada?

— Rafael.
— Jesus, Petal.
Ando até ele, que parece tão angustiado que faz meu coração se
comprimir. Se até agora eu não tivesse certeza de seu caráter, sua reação

nesse instante confirmaria o tipo de homem que ele é.


— Eu disse a você que me lembro de tudo. Só dei dois goles no
champanhe porque odiei a bebida. Eu o quis naquela noite. Eu continuo te
querendo.
Ele beija minha testa.
— Eu nunca teria ficado com você se soubesse que ele a havia drogado.
— Não precisa me dizer isso, acredito em você.
Ele começa a relaxar, mas volta a ficar tenso.

— A intenção dele era estuprá-la. Disse que não tomou o champanhe todo,
mas talvez fosse esse o plano. Pode ter lhe dado algo como o “boa noite,
Cinderela”, só que em quantidade menor. Precisamos falar com o advogado.
Talvez essa obsessão dele por você seja a causa de tudo.
— Lleyton me disse para aproveitar bem o natal porque seria meu último
em liberdade.
— O inferno que será. Ele deveria guardar as palavras para si mesmo
porque eu irei até o inferno, mas verei aquele filho da puta atrás das grades.
Capítulo 37

Petal

Naquela noite

— Desculpe-me a confusão — a mãe de Rafael diz, me dando um beijo na


testa na entrada da casa dela.
Ainda sem ver alguém, escuto várias vozes e risadas e presumo que
tenhamos sido os últimos a chegar.
— Eu que peço perdão pelo atraso, mas essa mocinha aqui precisou ser
trocada justo na hora em que estávamos saindo.

— E como está a menininha da vovó?


Ela dá um beijo na mãozinha de Willow, coberta pela luva.
— Minha filha é uma santa.
— A não ser por ontem à noite, né? — Phoenix pergunta e sinto meu rosto
esquentar.
Se ele ouviu Willow chorando, será que escutou todo o resto?
— Sejam bem-vindos ao nosso natal, Phoenix e Petal. Espero que seja o
primeiro de muitos.

— Aquela árvore lá fora é enorme, dona Isabel — meu irmão diz.


— Basta Isabel ou vovó, você pode escolher, mas nunca, jamais, dona
Isabel.
— Tudo bem. Isabel, aquela árvore é muito impressionante.

— Stewart criou uma tradição, no dia em que me pediu em casamento, de


montar a cada natal a maior árvore disponível no mercado. Até conhecê-lo,
eu nunca havia comemorado um como tem que ser.
— E como seria isso? — ouço meu irmão perguntar.
— Com família, amigos, mesa farta e muito amor.
— Eu e Petal também não tivemos esse tipo de comemoração. Nossa tia
era maravilhosa, mas não dava importância aos feriados tradicionais como
dia de Ação de Graças e Natal. — Phoenix continua.

— Porque para ela qualquer dia era especial — intervenho e depois que
ele se afasta, digo baixinho somente para Isabel. — Ele era pequeno quando
tia Darcy adoeceu e acho que não se lembra mais de como ela era antes.
Rafe ainda está no carro com Guillermo, tentando esconder os presentes
que comprou para as crianças porque segundo me falou, haverá alguém
vestido de papai Noel para entregá-los amanhã de manhã.
Todos dormirão na mansão de Isabel e Stewart, inclusive nós, porque
parece que a comemoração da véspera de natal dos Caldwell-Oviedo acaba
bem tarde. Além disso, está previsto uma nevasca para essa madrugada.

— De qualquer modo, a partir de hoje, você terão festa no natal — diz,


pegando a neta do meu colo.
As palavras me fazem projetar anos à frente e fico imaginando Rafael
casado com outra mulher, uma madrasta para nossa filha, enquanto

observarei tudo de fora.


É como se meu coração se transformasse instantaneamente em gelo e eu
sei a razão.
Ciúme, possessividade. Tudo o que eu não queria sentir.
— Hey, vai passar o natal parada aqui, baby? — Rafael pergunta atrás de
mim, afastando meu cabelo e beijando-me o pescoço.
Depois do telefonema de Lleyton essa manhã, ele se fechou na biblioteca
do apartamento, acho que para falar com Joaquín sobre a história daquele

infeliz ter me drogado.


Volto-me para olhá-lo.
— Não quero uma madrasta para nossa filha.
Estou morrendo de vergonha de dizer aquilo, mas é a mais pura verdade.
Sua testa se franze em confusão.
— Do que está falando?
Olho para baixo.
— Não deveria dizer isso, mas não quero uma madrasta para nossa filha,
quero que sejamos nós dois a criá-la. Sei que é ridículo. Você eventualmente

vai encontrar alguém, mas não deixe que ocupem meu lugar na vida dela.
— Vem cá.
Isabel olha para trás, mas Rafael diz à mãe que vamos fugir por um
instante.

Depois, me leva para uma porta no hall mesmo, que percebo ser um

armário de casacos[35].
— Não podemos ficar aqui.
— Precisamos de privacidade e no momento, não consigo pensar em um
lugar melhor.
Ele tira meu casaco e depois o próprio e os pendura. Depois, as luvas e as
mãos frias vêm para o meu rosto.
— Que história é essa de madrasta?

Encosto a testa em seu abdômen.


— Nada que faça sentido, mas algo que sua mãe disse me abalou. Ela
falou que a partir de hoje, eu e Phoenix teríamos uma festa de natal para
frequentar. Então pensei… — mas antes de terminar eu pauso porque dizer
aquilo em voz alta parece ridículo — quer saber? Melhor voltarmos para
junto da sua família antes que eu me envergonhe ainda mais. Estou agindo
como uma idiota.
— Não.
— Vamos fazer o que, então? Ficar escondidos dentro do armário de

casacos durante a noite toda? — tento brincar.


— Por que tem tanto medo de se entregar?
Desisto de fingir que está tudo bem.
— Porque nunca tive nada estável ou real, além da minha tia e irmão.

Estou tentando fazer um lar para Willow e Phoenix, mas até agora me saí
muito mal. Minha filha acaba de completar um mês de vida e ao invés de
celebrar, fui presa dias antes.
Ele segura meu queixo.
— Esquece essa parte das acusações e foca na sua família. Na nossa
família. Disse sobre Willow e Phoenix. E eu?
— O que tem você?
— Não há espaço para mim nessa equação?

— Você quer que haja?


— Não sei exatamente sobre o que estamos conversando, Petal. Ninguém
pode prever o futuro. Não há como saber o que acontecerá daqui a um mês e
eu não faço promessas que não tenho intenção de cumprir.
— Não estou pedindo por promessas.
— Deixe-me terminar. Eu nunca planejei ter um filho porque para mim
isso traria consequentemente a mãe dele junto e jamais pensei em ficar com
alguém a longo prazo, mas cada vez que olho para Willow, eu agradeço a
Deus por ter me dado oportunidade de ser pai dela.

Mordo o lábio com força para não chorar porque me sinto emocionada.
— Isso já é mais do que o suficiente para mim.
Viro as costas para sair, mas ele me segura pelo braço.
— Não terminei. O que eu estava dizendo é que ser pai de Willow me faz

sentir coisas que nunca imaginei ser capaz. Um amor tão imenso que eu
mataria por um sorriso dela, mas meu desejo por você não é porque é a mãe
dela ou mesmo por estar hospedada na minha casa. Eu já te queria antes.
— Gosto de dar nomes às coisas.
— Como assim?
— Você me disse que não gosta de talvez. Eu não gosto de incertezas. O
que somos?
— O que acha que somos?

— Não jogue comigo, Rafael — falo, brava e tentando me soltar.


Ele novamente não permite e me encosta em uma parede. Um braço de
cada lado do meu rosto impedindo uma fuga.
— Não é um jogo. Eu só não tenho um nome para nós dois. Amantes?
Namorados? Um casal? Não importa do que queira nos chamar, desde que
entenda que depois do que aconteceu ontem à noite, estamos juntos. Você é
minha, Petal e não vou abrir mão disso.
Meu coração dispara e não sei o que falar, então, ao invés, decido agir.
Ficando na ponta dos pés, eu o puxo para um beijo.

Não resiste, me devorando a boca, como se estivesse necessitado do meu


gosto, mas também com raiva.
Eu me sinto instável, morrendo de vergonha por ter me exposto tanto, mas
ao mesmo tempo, poderosa por não ter fugido do que sinto. Por ter tido

coragem de mostrar o que quero e não aceitar migalhas como fiz a vida
inteira.
Somente nesse instante, nos braços do pai da minha filha, entendo que
nunca me achei merecedora de nada. Agradecida pelo que recebi, apenas.
Agora, eu quero mais. Quero tudo e isso inclui conquistar o coração do pai
de Willow, não apenas seu corpo.
Capítulo 38

Rafe

— Então agora não se trata mais da proteção da mãe de sua filha, mas de
sua mulher, pelo que eu entendi? — Gael pergunta. — Estão juntos?
— Sim.
Meus irmãos e pai estão presentes e silêncio toma conta da biblioteca da
casa dos meus pais. Mesmo antes que Guillermo fale, já sei o que dirá.
— Não é isso — me antecipo.
— Isso o quê?
— Sei o que está pensando: que o fato de querer que minha filha cresça
como nós fomos criados, com ambos os pais ao lado, está me fazendo

assumir Petal como namorada. Não se trata disso.


— Então o que é? — meu pai pergunta.
— Lembra da conversa que tivemos antes que eu fosse para a Grécia?
Você me disse que quando encontrou mamãe, sabia que ela era diferente. Eu
me senti do mesmo jeito em relação a Petal. Não sei o que será de nós dois no
futuro, mas eu a quero e isso não tem nada a ver com ser a mãe da minha
menina. Protegê-la sim, diz respeito a Willow. Há muito além disso, no
entanto.
— Bom, acho que já nos metemos o suficiente no relacionamento de Rafe,

então agora podemos seguir ao que interessa — Joaquín diz. — Como devem
imaginar, fiz minha investigação em separado sobre a situação de Petal.
— Isso não pode prejudicá-lo de alguma forma? — papai pergunta.
— Sou bom em apagar rastros e tenho conhecimentos com pessoas que

talvez as pesquisas de Matheus Berardi não alcancem.


— Criminosos? — Guillermo pergunta, horrorizado.
— Não vou entrar em detalhes, mas eu descobri quem é o detetive que
Augustus Acker usou para encontrar Petal.
— Então o que Matheus disse naquele dia era verdade? O chefe já a
perseguia antes mesmo que ela fosse trabalhar para ele? — indago.
— Perseguir é um termo forte. Acho que ele a procurou e agora já sei a
razão.

— E qual seria? Parece estranho para caralho. Deus sabe que já tive uma

stalker[36] atrás de mim por anos e foi mais do que provado que essa história
de que cão que ladra não morde é uma mentira fodida — Gael fala.

Por ciúmes do relacionamento dele com Angel, uma louca[37] quase matou
minha cunhada no passado.
— Não tem nada a ver com o antigo chefe dela ser um perseguidor, mas
algo mais próximo. Augustus Acker era pai de Petal.
— O quê? É impossível. Se era verdade, por que não se revelou? É
doentio, principalmente porque o filho a desejava. Poderia ter acontecido uma

tragédia! — quase grito.


— Até para mim que acredito que já vi quase tudo nessa vida, essa merda
é um pouco demais — Joaquín continua. — Não posso te dizer o porquê dele
não ter revelado a verdade a ela, mas o detetive garantiu que era seu pai.

— E como ele pode ter tanta certeza? — volto a perguntar, porque parece
coisa de novela.
— Porque esse detetive a seguiu, pegou um copo que ela descartou em
uma lanchonete, e a pedido de Augustus, mandou testar o DNA. Cem por
cento de certeza de que Petal é filha do morto.
— E o que isso muda? — meu pai questiona.
— Depende. Vamos supor que o velho a tenha incluído no testamento.
Petal não sabia que era filha de Augustus, mas Lleyton, sim. Seria razão mais

do que suficiente para que o filho de Acker a quisesse fora da jogada.


— Não sei. Parece muita loucura. Ele a desejava como mulher —
pondero. — Lembra do que lhe contei hoje cedo? Ligou ameaçando-a, com
raiva porque Willow é minha e não dele. Estão faltando pedaços dessa
história.
— Sim, estão. Outra coisa que descobrimos, e dessa vez eu credito a
Matheus, é que ele mentiu para Petal. Nunca houve qualquer investigação em
que o nome dela estivesse envolvido, mas o de Lleyton, sim.
— Está me dizendo que ele a fez acreditar que estava sendo investigada

por roubar a empresa em que trabalhava, quando na verdade era ele quem
roubava o próprio pai?
— Isso mesmo.
— Filho da puta!

— Agora, depois do que me contou sobre o fato de que a drogou, eu


começo a formar um quadro mental. Lleyton ficou obcecado por ela e como
não conseguiu tê-la espontaneamente, tentou seduzi-la drogando-a.
— Mas tudo deu errado porque ela acabou ficando comigo naquela noite e
engravidando, também.
— Sim, e segundo você me disse, mesmo com ela grávida de outro, ele
tentou se casar com Petal.
— Isso mesmo. Pensando bem agora, ela disse que no fim da gravidez foi

que ele começou com essa história de fraude. Talvez para que se sentisse
desamparada e pedisse proteção a ele.
— Entretanto, não aconteceu.
— Não. Petal é forte. Nunca se casaria por dinheiro ou medo.
Sinto orgulho da mulher que gerou minha filha. Cada coisa que descubro a
seu respeito só me mostra o quão honesta e bom caráter é.
— E agora? — papai pergunta.
— Vamos começar a reunir provas. Temos que cavar mais na vida de
Lleyton. Saber se tinha dívidas — Joaquín fala.

— Mesmo com tudo isso, parece ser um pouco demais chegar ao ponto de
assassinar o próprio pai, não acham? — Gael diz.
— Não se ele estivesse com medo de ser desmascarado. Quem era
Augustus Acker? Seria capaz de jogar na cadeia ou deserdar o próprio filho,

caso fossem descobertos seus crimes? — Joaquín continua. — Temos vários


pontos para fechar, mas agora já sabemos com quem estamos lidando.
Ninguém se torna um canalha da noite para o dia. Não acredito que seja a
primeira vez que Lleyton cometeu esse tipo de crime. Estou falando sobre
drogar mulheres.
— Se o que ele disse é verdade e a drogou de fato, não era para ela ter
apagado totalmente? — pergunto, porque mesmo depois do que Petal falou, a
ideia de que de alguma forma eu possa ter me aproveitado dela me faz um

mal fodido.
— Quando me relatou a conversa dela, disse que Lleyton alegou ter posto
algo na bebida apenas para que ela relaxasse. Vejo duas possibilidades aí: ou
usou uma dosagem baixa do boa noite, Cinderela porque a queria dócil, mas
não desacordada, ou então foi o fato de que ela somente provou a bebida o
que permitiu que continuasse consciente de tudo.
Passo as mãos pelo rosto, sem saber o que pensar.
— Não foi culpa sua, Rafe.
— Ela disse o mesmo e no entanto, continuo me sentindo mal para

caralho.
— Pelo que me contou, Petal afirmou saber o que estava fazendo porque
se lembra de tudo. Se ela estivesse completamente drogada, essas memórias
seriam apagadas. É um dos efeitos da droga do estupro.

— Jesus, só esse nome já é fodido.


— Eu sei, mas você não deve ficar preso ao que não pode mudar. —
Joaquín fala. — Vamos trabalhar para absolver sua mulher. Na verdade,
quero que Matheus nem a deixe ir a julgamento. Mostraremos tantas provas à
promotoria, que eles desistirão de seguir em frente com a acusação.
Capítulo 39

Petal

—Rafael, o que está acontecendo?


— Por que acha que está acontecendo alguma coisa?
— Nós subimos tem meia hora e você não tentou me tocar ainda. Está
andando de um lado para o outro, agitado. E não me encara. Foi por causa
daquela história de Lleyton ter me drogado?
Por volta de quatro da manhã, os adultos da família finalmente resolveram
se recolher, já que as crianças foram dormir logo depois da ceia.
E por falar em crianças, há um mini exército Caldwell-Oviedo em que

Valentina, a filha mais velha de Guillermo, é a comandante.


A princesa Nina, como a família a chama, pareceu ter eleito Phoenix como
sua companhia preferida. Foi divertido observar os dois, já que meu irmão
não está acostumado a lidar com crianças.
Pela primeira vez eu o vi sem jeito e tentando se esquivar, mas a
menininha não estava disposta a deixá-lo quieto, fazendo mil perguntas,
sentando-se ao seu lado, oferecendo sobremesa. No fim, ele se rendeu, e
quando os vi pela última vez, ela falava sem parar, gesticulando muito,
enquanto ele concordava com a cabeça, concentrado, ouvindo-a.

— Estou sendo pretensiosa em achar que quer me tocar?


— Não — ele responde, vindo para mim. — Sofro de compulsão quando
se trata de você.
Ele finalmente se senta em uma poltrona e me puxa para o seu colo.

— É seguro deixar Willow com a babá? — pergunto, porque Isabel


providenciou a mesma mulher que cuidou de todos os Caldwell-Oviedo
recém-nascidos, uma enfermeira, na verdade, para ficar com nossa menina.
— É, sim. Dora é um doce de pessoa. Mais da família do que qualquer
outra coisa. Se Willow chorar, ela virá nos chamar se não puder resolver
sozinha.
— Fiquei com vergonha por sua mãe nos colocar juntos.
— Somos um casal. O que esperava que ela fizesse?

— Não sei. É tudo muito recente. Até ontem de madrugada, na verdade,


até hoje em nosso encontro secreto no armário, eu nem sabia que nome nos
dar.
— E agora sabe? — pergunta, soltando meu coque e enfiando os dedos
nos meus cabelos.
Viro-me de frente, montando-o.
— Namorados. Adoro um rótulo. Me faz sentir segura.
— Mulher, eu prefiro.
— Não. Acho meio cafona te chamar de “meu homem”. Namorado é mais

suave.
— Não há nada de suave em mim, Petal. Já deveria ter percebido isso.
Não é por nunca ter vivido um relacionamento a longo prazo antes que não
entrarei nisso com os dois pés na porta.

— O que isso significa?


Ele me olha em silêncio por alguns segundos e depois diz:
— Deixa para lá. Nós precisamos conversar sobre algo mais sério.
Sinto um arrepio de medo.
— O advogado disse algo? Vão me prender?
— Nada disso, baby. É sobre Augustus Acker. Como te falei há pouco,
não há nada de suave ou sutil em mim, então vou te dar a notícia da única
maneira que sei fazer. Diretamente.

— Você está me assustando, Rafael. Foi por isso que ficou estranho o
resto da noite?
— Não estranho, mas pensando em uma forma de te contar o que preciso
sem machucá-la.
— Fale-me. Eu sou forte.
Ele me puxa e beija. Não como fez ontem à noite ou mesmo antes de
virmos para a casa de seus pais, mas com tanto carinho que faz meu coração
se acalmar.
— É sim. Você é uma lutadora, mas mesmo os fortes se machucam às

vezes. O que sabe sobre seu pai?


— O quê? O que isso tem a ver conosco? Quero dizer, não me leve a mal,
mas eu não tenho muito a dizer a esse respeito. Minha mãe era um espírito
livre, se apaixonava com muita frequência. Ela nunca me falou do meu pai, a

não ser que ele não me quis.


— Assim, desse jeito?
— Não com essas palavras, mas quando lhe perguntei, acho que pouco
antes dela falecer, eu tinha uns sete anos, por que eu não tinha um pai como
meu irmão que ia nascer, ela me disse que ele não queria filhos.
— Merda. Vai ficar com raiva de mim se eu disser que não gosto de sua
mãe, mesmo estando morta?
— Ela não era má pessoa, pelo pouco que me lembro e pelo que titia me

contou depois que eu cresci.


— Defina má pessoa. Na minha visão, ela era sim. Havia mil maneiras
dela te dizer a razão de seu pai não estar presente, Petal. Não entendo porra
nenhuma de psicologia infantil, mas te falo que se um dia você rejeitasse
nossa filha e eu tivesse que criar Willow sozinho, eu nunca diria a ela que
você não a quis porque isso a marcaria como uma cicatriz para sempre.
— Será que é por essa razão que tenho tanto medo de rejeição?
— Você tem?
— Sim. Sou aquela que prefere pensar que o “não” é certo para não ter

que me decepcionar se ele vier. Tenho por hábito antecipar a dor.


— Jesus, eu não sei como você consegue fazer isso — diz, me puxando
para um abraço e me mantendo presa.
— Isso o quê?

— Me fazer querer te proteger da porra desse mundo em que vivemos.


Não deixar que a machuquem outra vez.
— Isso é impossível, mas não quero falar sobre mim e sim por que você
começou essa conversa sobre o passado.
— Há alguns dias, descobrimos que Augustus Acker te pesquisava mesmo
antes que fosse trabalhar para ele.
— O quê?
— Sim, e Joaquín foi atrás para entender a razão. Ele era seu pai.

Não consigo disfarçar o horror que a notícia me causa.


Primeiro, pela descoberta de que tive um pai tenha acontecido depois de
sua morte e segundo, pelo que poderia ter acontecido entre mim e Lleyton.
Tento sair de seu colo, mas ele me puxa para mais perto.
— Não fuja.
— Meu Deus do Céu, Rafael. Por que ele não me contou a verdade?
Choro por muito tempo e ele me deixa desabafar até que, aos poucos, os
soluços diminuem.
— Por que, se me procurou, ele nunca se revelou como meu pai?

— Não tenho respostas para isso, Petal. Talvez estivesse esperando o


momento certo, talvez nunca fosse te contar. Possivelmente jamais
descobriremos.
— Tem ideia do que poderia ter acontecido? Se ao invés de você, eu

tivesse ficado com Lleyton Acker naquela noite? Eu poderia ter engravidado
do meu irmão!
Eu me levanto, agitada e dessa vez ele deixa.
— Eu posso ser condenada por pensarem que matei meu pai? — pergunto,
horrorizada, mas depois me corrijo. — Não meu pai. Ele nunca foi meu pai.
Você é pai de Willow, Augustus contribuiu geneticamente para o meu
nascimento e só.
— Morto ou não, era um filho da puta.

Não tenho como discordar, então mantenho o silêncio. Talvez isso faça de
mim uma má pessoa, mas mesmo estando morto, não sei se conseguirei
perdoá-lo.
— Acha que Lleyton sabe que somos irmãos?
— Não tenho certeza, mas chutaria que não. Seria doentio demais.
— Então só quis me culpar mesmo?
— Sim, acredito que ao não conseguir te seduzir, a obsessão se
transformou em ódio. Outra coisa que Joaquín descobriu, é que não havia
qualquer acusação de fraude contra você, mas contra o próprio Lleyton.

Agora faz sentido que ele tenha armado para que pensassem que matou
Augustus. Seriam dois problemas resolvidos de uma vez. Tiraria o pai do
caminho e ficaria com a herança.
Capítulo 40

Rafe

— Banho — falo, pegando-a no colo e andando para o banheiro.


Ela parece prestes a entrar em colapso.
Quanto mais alguém pode aguentar antes de quebrar de vez? Antes que o
dano seja tão grande que nada mais possa colar os pedaços que foram
danificados?
— Eu não consigo acreditar no que você me contou. Parece loucura.
— Tudo o que aconteceu com você, te acusarem de assassinato,
prenderem, é loucura, Petal.

Eu a sento em um banco enquanto começo a encher a banheira.


— Uma vez, pouco antes da Noite Escura, eu perguntei porque ele tinha
me ajudado a subir de função. Conseguir um cargo para ser mais bem
remunerada. Disse-me que me ajudou porque eu era uma lutadora. Ele teve a
chance de contar que era meu pai e escolheu mentir, Rafael. Por que se
aproximou de mim se não pretendia falar a verdade?
Eu a coloco de pé e a deixo nua. Depois, tiro a minha roupa também, mas
fico com a boxer.
— Talvez ele fosse te contar um dia, mas isso não muda o fato de que agiu

como um covarde.
Entro na água e a posiciono de costas, à minha frente.
— Você estava grávida e sozinha com apenas Phoenix para te ajudar se
acontecesse alguma coisa. Ele tinha condições de lhe proporcionar uma vida

melhor.
— Eu não queria o dinheiro dele — diz, recostando a parte de trás da
cabeça contra o meu peito. — Na verdade, eu não queria nada dele, nem
mesmo que fosse meu pai. Ele não esteve presente quando eu precisei. Na
infância, quando minha mãe morreu, depois quando tia Darcy adoeceu. Ele
nunca foi nada para mim. Mesmo que tivesse dito quem era, dificilmente eu
teria aceitado-o como um pai.
— Eu entendo e talvez agisse da mesma maneira. Você não pode

simplesmente pegar uma pessoa que nunca fez parte de sua vida e só porque
um resultado de um exame diz que é pai, considerá-lo um.
Ela olha para trás.
— Foi por isso que te procurei. Queria que conhecesse Willow ainda
pequenina. Que representasse desde cedo um porto seguro para nossa filha.
Eu a giro em meus braços, fazendo-a me montar.
— É uma mulher incrível, Petal. Sou um sortudo por a mãe da minha
menina ser você.
— Mesmo com a maneira louca como nos encontramos? Como tudo

aconteceu?
— Quer saber o que eu acho? Alguém decidiu por nós. Em algum lugar,
estava escrito que seria assim. Não há outra explicação para a sequência de
eventos que nos colocou na vida um do outro. Havia tanta chance de que tudo

desse errado e no entanto, contra todas as probabilidades, nós estamos aqui.


— Eu não planejei você, mas não estou com tanto medo agora — diz.
— Não reajo bem às mudanças.
Ela franze a testa.
— Do que está falando?
— Naquela noite em que ficamos, eu já queria mais. Mas sou teimoso.
Quando acordei e não te vi, pensei em procurar, mas só dei uma olhada
rápida nas redes sociais e como não encontrei, deixei para lá. Somente após

voltar da Grécia dei o braço a torcer e contratei o detetive.


— Eu não tenho redes sociais.
— Eu sei, mas por que não?
— Não sei, acho que prefiro olho no olho. Sou introspectiva e converso
com pessoas próximas, mas estou longe de ser a alegria da festa. Qual é o
ponto em se ter uma rede social se você não quer socializar? — pergunta,
escondendo o rosto no meu peito.
— Excelente argumento.
— O que teria feito se me encontrasse? Não, espera. Nem precisa

responder. Ia querer sexo.


— Ah, sim. Um monte de sexo, mas eu queria te conhecer melhor,
também.
— E agora podemos dizer que isso não é mais uma opção. Querendo ou

não, estou em sua vida — fala, com o tom autodepreciativo que já percebi ser
uma característica.
— Sim, não é mais uma opção. É uma escolha.
— Não seja um príncipe comigo, Rafael. Não quero o Rafe sedutor, quero
o verdadeiro, mesmo que para isso precise me machucar. Nunca me diga o
que acha que quero ouvir.
— Acredita que eu faria isso?
— Espero que não. Eu estou quebrada agora, me sentindo emotiva, mas

esse não é o meu normal. Sou forte. Posso aguentar quase qualquer coisa.
— Quase?
— Sim. Há algo que talvez me destruísse irremediavelmente.
— O quê?
— Ser afastada da minha família. Eu vivo e respiro por eles.
Seguro seu rosto.
— Não vai acontecer. Você não irá a lugar algum. Sou egoísta e
possessivo também. Você e Willow são minhas agora, Petal. E eu não abro
mão do que é meu.

Depois do banho, ela parece sonolenta e nem protesta quando a seco e


depois a carrego até a cama.
É estranho que ao mesmo tempo em que me desperta um tesão louco, me
traga tanta paz somente segurá-la.

Acho que ficamos quase uma hora dentro da água e desconfio que
cochilou, mas eu não a soltei.
Eu nunca me senti protetor em relação a uma mulher porque jamais me
envolvi o suficiente para isso, mas ela faz emergir algo em mim que, até
saber que tinha uma filha, eu só sentira pelos membros da minha família.
— Já volto — aviso porque molhei o quarto inteiro com a boxer pingando
no piso.

Quando retorno, com uma toalha em volta da cintura, ela está encostada na

guarda da cama, parecendo desperta.


Desvio os olhos porque mesmo sabendo que não deveria desejá-la depois
do que passou hoje, meu corpo tem vontade própria. Petal nua é mais do que
minha força de vontade consegue lidar.

— Entrei na internet essa manhã para pesquisar — diz.


— Pesquisar o quê?
Abro a mala que trouxemos para pegar uma cueca porque apesar de
normalmente dormir nu, ao lado dela seria muita tentação.
— Eu quero você. Não como ontem, mas dentro de mim.
Paro o que estou fazendo e olho para trás.
— Não vou machucá-la. Posso esperar.
— Eu li que se fizermos com calma…

— Essa palavra não parece combinar muito bem com nós dois.
Achei que tinha autocontrole e isso talvez seja verdade apenas em relação
ao golfe. Quando se trata de Petal, é um sacrifício fodido me manter parado
quando tudo o que desejo é aceitar o convite que seus olhos estão me
fazendo.
Ao invés de argumentar comigo, ela se ajoelha, separa as pernas e com
uma das mãos acaricia o interior das coxas. Com a outra, puxa o mamilo.
— Petal.
— Por favor…

Duas palavras. Ela só precisou disso e minha força de vontade


desapareceu.
Capítulo 41

Rafe

De todas as mulheres que com quem já estive, nenhuma delas me deixou


tão louco somente com um olhar. Petal tem esse poder, me fazendo antecipar
a delícia que será saboreá-la mesmo antes de nos tocarmos.
Solto a toalha e ela não disfarça o quanto quer meu pau, a língua
percorrendo o lábio inferior.
Sua respiração é instável, como se puxar o ar fosse uma tarefa difícil.
Subo na cama e agora estamos um de frente para o outro.
Minha mão faz o caminho certo para sua boceta e eu quase urro quando

sinto o quanto está molhada.


— Você não tem ideia do quanto te desejo.
Ela balança a cabeça, dizendo que não.
Faço um dedo adentrar em sua quentura e ela geme. Abaixo a cabeça e
mamo um peito, a língua rodando o bico rijo.
Meu pau roça em seu abdômen e ela estende a mão, começando a me
masturbar.
Beijo-a, obrigando-a a receber minha língua.
— Eu preciso sentir você pulsando a minha volta.

— Faça-me sua, Rafael. Eu quero tanto…


Ela monta minha mão sem qualquer vergonha. Oferecida, desejosa,
safada.
Deito-a na cama e separo suas coxas.

— Não vou gozar dentro, mas não quero usar proteção.


Acena com a cabeça, concordando.
Debruço-me sobre ela, mas sem soltar o peso.
— Vai me dizer se doer?
— Não vai. Estou com tanta vontade que nenhuma dor pode ser pior do
que essa.
Jesus Cristo!
Enfio o dedo médio em sua boceta e depois um segundo, preparando-a.

— Gostosa. Tão meladinha. Está louca para que te coma, né?


Petal morde a boca, me implorando com os olhos.
Me abaixo e sugo seu peito, enquanto me posiciono em sua abertura. Ela
roça as unhas pelo meu tórax, gemendo ansiosa.
Meu corpo está duro de tensão porque não quero machucá-la, mesmo que
ela pareça receptiva e pronta para mim.
Empurro lentamente nela e capturo um mamilo entre os lábios.
Cada vez que arremeto dentro de seu corpo, estremece.
— Dói?

— Não, me dê tudo.
Agarrando uma das coxas e trazendo-a para minha cintura, eu finalmente a
percorro inteira.
Movimento-me em círculos, ainda mais devagar, esperando que nossos

corpos se ajustem.
Saio e entro novamente algumas vezes, determinado a fazê-la gritar de
tesão, não de dor.
Ela se dilata, me aceita, dando as boas-vindas e os braços vêm para em
volta do meu pescoço.
— Mexa-se comigo. Eu preciso ir mais fundo, mas tenho que saber o
quanto você aguenta.
Meu pau é como madeira úmida, inchando mais e mais dentro do corpo

dela. A força com que me imponho o autocontrole me deixando à beira de um


ataque cardíaco.
Eu me sinto vitorioso quando ela embarca comigo em nossa viagem, o
rosto lindo mostrando todo o prazer que sente.
Não me lembro de já ter mergulhado tão fundo em um mulher antes de
conhecê-la. Preso em cada respiração e suspiro.
— Eu quero tudo, como naquela noite. Eu ainda me lembro de como você
me pegou por trás.
— Não se diz algo assim para um homem morto de fome, amor.

Eu a preencho inteira, mas não é o bastante, então trago suas duas pernas
para os meus ombros, empurrando duro, metendo até que não haja qualquer
espaço entre nossas carnes.
— Me avise se for muito.

— Continue.
Seu pedido me incendeia.
Louco de tesão, aperto seus quadris, incapaz de pensar em qualquer coisa,
a não ser em satisfazer a necessidade primitiva de lhe dar prazer.
— Eu preciso de mais, Petal.
— Vem.
Meus golpes agora são longos, quase violentos. Nenhum de nós quer a
prudência, mas a satisfação luxuriosa, exigindo a entrega um do outro.

Eu não consigo parar de comê-la, mesmo sabendo que o gozo não está
longe.
Vendo-a sob mim, entregue, gemendo e me entregando seu prazer, os
cenários mais sacanas passam pela minha cabeça.
— Vou gozar em cada parte do seu corpo. Boca, boceta, bunda. Vou te
foder gostoso em todos os lugares. Vai me entregar tudo.
— Sim… oh, Deus!
Ela contrai à minha volta, prendendo e soltando, enquanto a fodo cada vez
mais áspero.

Saio quase todo e ela protesta, choramingando.


— Eu me sinto vazia sem você em mim.
— Não quero mais sair do seu calor.
Bombeio sem qualquer cuidado agora, porque ela levanta o quadril, me

encontrando no meio do caminho.


Estou determinado a fazê-la me molhar inteiro, quero meus pelos
encharcados com seu mel antes de me entregar ao meu próprio prazer.
Eu a fodo mais rápido e ela me acompanha o tempo todo, mordendo meus
braços, peito, lambendo meu mamilo.
Massageio o nó durinho em sua boceta e ela geme alto, em movimentos
espasmódicos.
Grita, estremece e em um último choramingo, goza.

Tão quente e ensopada que me custa um inferno não me derramar em seu


interior.
Nós dois estamos febris.
— Eu vou gozar tão gostoso — aviso. — Queria poder te encher todinha.
Vê-la transbordando meu sêmen.
— Ahhhh…
A batida dos nossos corpos suados, roçando, enche o aposento com uma
sinfonia luxuriosa.
Fodo-a mais algumas vezes, perdido em seus gemidos e cheiro até que

sinto minhas bolas endurecerem.


Ajoelho-me e gozo em sua barriga e no vale entre os peitos, certo de que
foi o melhor orgasmo que já tive.
Olho seu corpo desenhado com o meu prazer, como uma pintura única,

minha deusa-menina.
Eu mal saí dela e já a quero outra vez.
Deito-me e a puxo para cima de mim.
— Eu te machuquei?
— Não. Você me levou ao céu.
Eu a beijo porque não consigo colocar em palavras o que estou sentindo.
É muito mais do que tesão, assim como aconteceu da primeira vez.
Necessidade e fome que não diminui.

— Não estou pronta para que isso que temos acabe — diz.
Nem eu. Talvez nunca esteja.
Capítulo 42

Rafe

Três semanas depois

Normalmente, nessa época eu estaria iniciando a temporada, mas mesmo


antes de Willow e Petal chegarem em minha vida, meu técnico já havia me
aconselhado a começar somente em fevereiro ou março, mesmo que isso
significasse perder algumas etapas.

Deveria também estar treinando em algum lugar quente, já que desde que
cheguei da Grécia, tudo o que fiz foi indoor.
Competir está no meu sangue e no passado, tantos dias seguidos sem
treinar me impediriam de até mesmo conciliar o sono, mas nenhuma dessas
preocupações está em pauta hoje, porque eu tenho o compromisso mais
importante da minha vida adulta: registrar minha filha.
Hoje também é o aniversário de Petal e mamãe quis fazer uma festa. Sei
como funcionam as comemorações da minha família, então decidi que após
sairmos do cartório, levarei elas e Phoenix para almoçar para curtirmos um

pouco só nós três.


Guillermo conseguiu um cartório discreto, com uma sala privada, longe
dos olhos do público porque a foto de Petal já correu por todo o país e não
quero expô-la além do que já fizeram.

— Willow Bartley Caldwell-Oviedo? — o escrivão pergunta e Phoenix ri.


— Nossa, quanto nome! Tipo princesa.
— Vai acabar ficando conhecida como todos vocês: Caldwell-Oviedo,
simplesmente — Petal diz.
— Provavelmente — confirmo, por uma questão de fato.
— Onde vamos almoçar? — Phoenix pergunta, animado.
Suas aulas já começaram, mas ainda essa semana, pretendo ter uma
conversa com Petal. Quero colocá-lo em um colégio melhor. O mesmo que

eu e meus irmãos estudamos e assim, ajudá-lo a pavimentar o sonho de se


tornar um CEO no futuro.
Ele me disse que apesar dos seus colegas de classe não falarem nada sobre
as acusações contra a irmã, o olharam de maneira esquisita.
Não que no colégio para o qual pretendo transferi-lo será diferente, talvez
até mesmo um pouco pior porque adolescentes podem ser cruéis em qualquer
lugar, mas ao menos ele terá uma educação que o deixará mais preparado
para vencer como deseja.

— Mandei fechar o The Cube[38] para nós — respondo finalmente.

— Jesus! — Ela parece espantada. — Fechou um estabelecimento inteiro?


— Quero privacidade e nem sempre consigo almoçar em paz.
Ela me surpreende ao se aproximar e me dar um beijo leve na boca. Petal
não é dada a demonstrações públicas de afeto.

— Obrigada por ser tão doce e fingir que não é o fato de me considerarem
uma assassina o que o fez mandar fechar o restaurante.
Não respondo porque não posso mentir para ela. Sim, boa parte de ter
reservado o lugar todo foi para poupá-la.
— Pronto, a pequena senhorita Bartley Caldwell-Oviedo está devidamente
registrada.
Depois de mais alguns minutos, nos levantamos para sair. Os seguranças
se encontram no corredor porque mesmo sem Petal ao meu lado, há muitos

anos já não ando pelas ruas como um cidadão comum.


Tudo parece correr bem e eu mal acredito que resolvemos tão rapidamente
quando, ao pisarmos do lado de fora do cartório, aparecem repórteres de
todos os lados.
Eu estava com Willow no meu colo e de mãos dadas com Petal, mas com
a confusão, ela se solta e vejo os repórteres enfiando microfones em seu
rosto.
— Deixem a minha irmã em paz! — Phoenix grita e Willow começa a
chorar.

Parece um fodido pesadelo.


Os seguranças agem rápido e logo chegamos ao carro. Depois de me
certificar que ela e minha filha entraram, volto-me para a imprensa.
— Não tem vergonha? O que há de errado com vocês? Não viram que

estávamos com a minha filha, porra?


— Sua filha, príncipe?
No instante seguinte, o interesse dos abutres já mudou, ansiosos por mais
uma fofoca. Normalmente, eu viraria as costas, dando um foda-se às
especulações, mas me expor também é uma forma de proteger Petal.
— Sim, minha filha e minha mulher. Petal Bartley é minha, anotem isso.
Qualquer ofensa contra ela, é uma ofensa contra mim.
— Rafe, vocês vão se casar?

— Quantos meses tem sua menina?


— Podemos obter uma foto da família completa?
É ridícula a velocidade com que eles mudam o foco.
As perguntas se sucedem, mas já não estou mais ouvindo.
Faço com que meu cunhado entre no carro e depois sigo-o.
Vejo os seguranças cercarem o automóvel, tentando abrir passagem para
que possamos sair, enquanto ajudo-a a colocar Willow na cadeirinha. Suas
mãos tremem e ela não consegue acertar o fecho.
— Deixe-me fazer isso, amor.

Ela esconde o rosto, começa a chorar e eu quero matar alguém.


Willow ainda tem algumas lágrimas marcando as bochechinhas e Phoenix
está pálido.
Dou um beijo na minha filha e depois entrelaço os dedos nos de Petal.

Ela fica o caminho todo em silêncio, mas recosta a cabeça no meu peito.
Quando chegamos em casa, meu cunhado se oferece para ficar com nossa
filha, provavelmente intuindo que a irmã precisa de um tempo para se
recuperar.
— Perdoe-me. Alguém deve ter avisado que iríamos.
— Quem? — pergunta.
— Qualquer um. Independentemente de você, a imprensa sempre me
perseguiu.

— Como posso ter uma vida normal, criar minha filha, se eles ficarem em
cima de mim? Não foi por você que estavam lá hoje, mas por mim. Isso não
vai acabar nunca.
— Vai sim. Eu tenho uma solução. Case-se comigo.
— O quê?
— Você ouviu. Vamos tentar de verdade, mas dessa vez, da maneira
correta.
Ela se solta dos meus braços.
— Não me casarei com você para que me respeitem. Eu não fiz nada de

errado. Mereço ser tratada como uma cidadã de bem. Não sinta pena de mim.
— Não tem nada ver com pena.
— Com o que, então? Mal nos conhecemos. Diga-me que passou pela sua
cabeça me propor antes de hoje.

— Não, mas porque nunca me imaginei casado.


— É disso o que estou falando.
— O que acha que aconteceria se continuássemos juntos? Seríamos
namorados para sempre?
— Não sabemos se continuaremos juntos, Rafael. Temos sentimentos,
carinho e muita atração um pelo outro, mas não nos conhecemos de fato.
Você colocou sua vida em suspenso por nossa causa. Nem treinando direito
está mais…

— E acha que eu conseguiria me concentrar com você respondendo a um


processo tão grave? Sem ter certeza de que tudo que é possível está sendo
feito?
Ela volta a se aproximar.
— Eu sou louca por você, mas a resposta ainda é não. Se um dia se
apaixonar por mim, volte a me pedir e talvez eu aceite, mas eu não vou me
unir por outro motivo que não seja amor.
— E ao contrário?
— O quê?

— Pode dizer que se apaixonaria por mim?


Ela me dá um sorriso triste.
— Você subestima seu encanto, meu príncipe. É fácil demais te amar,
Rafael. Mas não vou fazer isso sozinha. Casamento não é uma solução, é um

comprometimento. Não quero que daqui a alguns anos você olhe para trás e
perceba que estraguei sua vida. Eu mereço mais. E você também.
Capítulo 43

Petal

— Eu sinto muito que seu aniversário tenha começado tão mal, meu bem
— dona Isabel diz, na mesa de jantar da mansão dos pais de Rafael.
Toda a família veio para me prestigiar, já que a reunião é para celebrar
meu aniversário.
— Eles me pegaram de surpresa. Foi tudo muito rápido. Eu nem fiquei
com medo por mim, mas pela minha filha.
Rafael segura minha mão por cima da mesa e leva aos lábios, dando um
beijo no dorso.

— Não acontecerá novamente. Prometo.


— Vamos providenciar mais seguranças — Guillermo diz. — É
inadmissível que os que estavam cuidando de vocês tenham deixado os
repórteres se aproximarem tanto.
— Os repórteres são como abutres, Petal. Quando conheci Guillermo, uma
mulher que era interessada nele tentou me incriminar por um furto falso. Eu
achei que iria morrer de vergonha, mas eles conseguiram contornar a
situação.
— Como? — pergunto, interessada.

Sei que Olívia é chef doceira ou chef pâtissière, que é o nome chique que
os franceses dão, como ela me explicou. Eu não consigo imaginar aquela
mulher linda e elegante sendo presa.
— Guillermo e Joaquín fizeram uma conferência e anunciaram nosso

relacionamento para o mundo. Passei de bandida batedora de carteira para


queridinha da América em uma piscada.
Martina gargalha.
— Ladra em miniatura.
— Até parece que você pode falar alguma coisa, né gigante? Aliás, daqui
só quem pode olhar para nós de cima a baixo é Bianca, Isabel e Angel, mais
ou menos.
— Obrigada pela parte que me toca — a mulher de Gael diz rindo e

fazendo careta para Martina.


Desde o natal percebi que eles não são em nada esnobes ou arrogantes,
mas gente como a gente. Brincam e implicam uns com os outros.
— Seu rosto apareceu na tv de todo o país, Rafe. — Martina continua. —
Fiquei emocionada em como defendeu Willow e Petal. Juro, eu chorei
quando você disse que as duas eram suas.
Ele larga o garfo.
— Elas são. Embora…
— O quê? — Isabel pergunta.

— Nada.
— Ah, não. Isso de começar a falar e parar não funciona nessa família.
— Ela não é realmente minha. Eu a pedi em casamento e Petal disse não.
Foi como se a porteira do inferno tivesse sido aberta.

Todos, inclusive Phoenix, me olham como se eu tivesse acabado de


declarar a terceira guerra mundial, batido em uma velhinha e roubado o
lanche de um mendigo, tudo ao mesmo tempo.
Mas meu irmão é o único a ter coragem de dizer o que todos estão
pensando.
— Por que não? Você adora ele! É seu segundo namorado. Na verdade, o
primeiro, aquele dentuço que estudou com você no ensino médio não conta.
Meu Deus do Céu!

— Phoenix, não.
— Ele preenche toda a nossa lista de prós!
— Eu sei — respondo, focando só nele. — E é por isso que estamos
namorando — enfatizo a última palavra.
— Que lista é essa? — Rafael me pergunta e eu desisto de disfarçar
porque percebo que estão todos atentos.
— Meu irmão criou uma lista de prós e contras de possíveis candidatos a
namorados.
— E até você entrar no jogo, era só “contra”. Barrei todos.

A família inteira ri.


— Ela acha que nos conhecemos há pouco tempo e que se disser sim, vou
me arrepender no futuro.
— Quanto a conhecer há pouco tempo, eu não posso falar nada. Todos os

casamentos nessa família foram relâmpagos porque os homens do clã só


conhecem o modo “acelerado” — Isabel brinca. — Eu aceitei me casar com
Stewart com pouco mais de dois meses juntos.
— Mas estavam apaixonados — falo.
— Esse aqui — aponta o polegar para o marido —, custou muito a se
render e confessar que eu era a mulher da vida dele.
— E você sabe o que dizem? — Martina intervém. — De todos os filhos,
Rafe é a cópia perfeita do papai. Em todos os sentidos.

— Já chega. Hoje é o aniversário dela e não a santa inquisição. Eu não a


trouxe para forçá-la a aceitar meu pedido de casamento.
— Casamento? — Valentina entra, correndo. — Outro? Oba! Já estava
com saudade de ser daminha.
Jesus!
— Não vai ter casamento algum, Nina — Rafael fala.
— Por que não quer se casar com meu tio, Petal?
— Valentina! — Guillermo briga com ela.
— O que foi, papai? Eu quero que Petal seja minha tia e só sobrou o tio

Rafe. Ia ser tão legal. E daí quando eu crescer, eu caso com Phoenix.
E assim, chegamos ao segundo round da visita ao inferno, com meu
cunhado quase infartando, Olívia às gargalhadas e todo mundo falando ao
mesmo tempo.

Fico observando a interação e pela primeira vez penso com seriedade no


pedido de Rafael.
Quando ele me propôs pela manhã, eu entrei em pânico, mesmo que
acredite em tudo o que falei.
Olho para o lado e ele também observa a família.
Depois, quando sente meus olhos nele, volta-se para mim.
— Desculpe-me por isso — diz, mas eu não presto atenção porque agora
percebo que mais uma vez estou fugindo por medo de viver.

O problema é que não posso ir para longe, porque não importa onde eu
esteja, meu coração ficará com ele.
Eu me apaixonei pelo pai da minha filha.
Funcionaria um casamento sem amor? Eu poderia fazê-lo me amar? E o
amor, como conceito, é mesmo tão importante?
Minha mãe se apaixonou diversas vezes e terminou sozinha.
Sei que não sou como ela. Mesmo com toda a carência que cresci, nunca
amei antes e não acredito que vá amar novamente se eu e Rafael seguirmos
caminhos separados.

— O que está pensando?


— Eu quero tentar. Se ainda me quiser, eu aceito me casar com você.
Phoenix está certo. Você preenche a lista dos prós.
— Só por isso? Estou de acordo com sua lista?

— Não, vou me casar com você porque estou apaixonada.


Exatamente no momento em que falo, todos resolvem fazer silêncio e
prestar atenção em nós, o que resulta na minha declaração ficar solta no ar.
Dura meio segundo, porque em seguida, Valentina grita:
— Casamento! Gabi, Alejandra, vamos usar vestidos de festa!
Rafael se levanta e me puxa pela mão.
Saímos da sala e parece que eles continuarão a celebrar nossa decisão
independentemente de estarmos presentes ou não.

Ele me leva para a biblioteca e quando chegamos lá, fecha a porta e me


beija recostada nela.
— Eu nunca vou me arrepender de nós dois. De nenhuma parte de nós
dois.
— Eu quero tudo. Seu amor e devoção, Rafael. E não vou parar até
conseguir.
Capítulo 44

Rafe

Um mês e meio depois

Essa semana eu deveria participar da minha primeira competição oficial,


mas decidi que enquanto não conseguirmos derrubar as acusações contra
Petal, não me afastarei da minha mulher e filha.
Willow está com quase quatro meses e já sorri e brinca, participando da
nossa rotina.
Depois do seu jantar de aniversário na casa da minha mãe, Petal parece

mais aberta. Não sei se foi o pedido de casamento ou a promessa que me fez
que me faria amá-la, mas antes, mesmo quando se entregava, eu sentia que
ainda havia uma resistência com relação a nós dois. Agora, ela parece
oferecer mais a cada dia que passa e eu intuo que deve ser muito difícil para
alguém não acostumado a confiar, baixar sua proteção.
Comecei a estudar a sério sobre um plano b quando eu não puder mais
competir e cheguei à conclusão de que não preciso fazer nada para ganhar

dinheiro, tenho investimentos em diversos setores, além da minha

participação nos hotéis, assim, talvez seja o caso de somente oferecer algo ao
mundo.
Golfe é um esporte caro, elitista, então pensei em criar uma escola para
golfistas, crianças que como eu, são desde pequenas prodígios do esporte,

mas cujos pais não têm condição de bancá-los.


Talvez ir além e oferecer bolsas de estudos em universidades para os que
se destacarem. Não sei como isso funcionará do ponto de vista legal.
Provavelmente terei que contratar profissionais para cuidarem de tudo, mas
ao menos é um começo. Um plano. Uma maneira de me manter perto do que
amo, e ao mesmo tempo, investir em novos talentos.
Estaciono na garagem de casa para buscar Petal e Willow. Temos que nos
encontrar com Matheus, o advogado, porque ele me ligou dizendo que havia

feito descobertas a respeito de Lleyton que podem significar o fim do


processo contra minha mulher.
Quando o elevador chega no andar, antes mesmo de abrir a porta, ouço
vozes.
— Eu gostaria que fosse embora. Minha sogra já havia dito que não
entrasse aqui sem avisar.
— Você me atenderia se eu tivesse tocado a campainha?
Luigi?
— Sem Rafael, não. Eu não o conheço.

— Não vou me demorar. Só vim dizer que essa coisa entre você e Rafael
não vai em frente. Ele não para com mulher alguma.
— Se o senhor não sair, eu…
Minha filha começa a choramingar, talvez assustada pelo medo na voz da

mãe e aquilo, aliado ao desrespeito dele com Petal, faz meu sangue ferver.
— Você o quê? Vai me matar, como fez com seu amante? — ouço meu
empresário perguntar.
— Saia, porra! — grito.
— Rafe! — Ele tenta, mas não permito.
Seguro-o pelo colarinho e imprenso-o contra a parede.
— Petal, nos deixe a sós. Não quero que Willow veja isso.
Ela obedece.

— Eu estava zelando pelo seu futuro. — o filho da puta tem a coragem de


dizer.
— E desde quando isso é seu trabalho, imbecil? Ameace minha mulher de
novo e eu mato você.
— Mulher? Ela é a mãe da sua filha, nada mais.
— Não sabe nada da minha vida, caralho. Não chegue perto da minha
família, ou vai se arrepender!
— Eu só estava fazendo o que sempre fiz: protegê-lo.
— Eu posso lidar com a minha vida e não preciso de proteção contra a

minha família. Quando é que vai entender que eles sempre estarão acima de
todo o resto?
— Até mesmo do golfe?
— De tudo. Você está demitido. Eu te avisei que não se metesse com ela.

Dou um passo para trás, tentando me controlar porque sei que Petal
provavelmente está ouvindo do segundo andar.
— Ela é só mais uma, Rafe e está destruindo sua vida. Como pode não ver
isso? Não se lembra de quantas golpistas eu te livrei?
O soco o atinge na boca do estômago.
— Saia. Nunca pedi que me livrasse de nada. Sempre lidei com as
mulheres com quem me relacionei, mas mesmo se fosse esse o caso, não se
aplicaria a ela. Petal vai ser minha esposa.

— Não pode estar falando sério!


A porta se abre no exato momento em que eu ia acertá-lo outra vez.
Dois guarda-costas entram, provavelmente a pedido de Petal, que deve ter
se assustado.
Porra, eu não queria que ela tivesse testemunhado nada disso.
— Devo acompanhá-lo para fora, doutor Oviedo?
Aceno com a cabeça.
— Rafe, eu me descontrolei.
— Você não se descontrolou, Luigi, mexeu com a minha família e esse

erro custará nosso relacionamento profissional. Meus advogados o procurarão


para tratar do rompimento do nosso contrato.
Quando eles saem, subo as escadas e vou direto para onde acho que ela
esteja: o quarto que escolheu e decorou para Willow.

Como imaginara, a encontro. Ela deitou nossa filha no berço e está de pé,
observando-a.
— Hey — chamo.
Olha para trás.
— É a segunda vez que ele entra aqui. Não gosto desse homem.
Ando até ela e a puxo para os meus braços.
— Não vai acontecer novamente. Eu o demiti, mas independentemente
disso, muitas pessoas têm o código da porta. Ligarei para a empresa de

segurança e mandarei que troquem.


Tenho pensado em, assim como meus irmãos, comprar uma casa porque
outro dia Petal demonstrou preocupação com as escadas, que têm vãos. Disse
que quando Willow começar a engatinhar poderia escorregar por entre eles.
— Por que ele me odeia?
— Não é você, mas o que representa. Quando se faz sucesso há muitos
parasitas à nossa volta, usufruindo do mesmo estilo de vida, se beneficiando
do glamour. Ele sabe que ao nos casarmos será o fim das festas e…
— Mulheres — ela completa e concordo com a cabeça.

— Eu não era um santo.


— Não estou te acusando de nada. Alguma dessas mulheres com quem
saía tem acesso a esse apartamento?
— Não. Nunca trouxe alguém aqui.

— Troque o código, de qualquer modo. Não me sinto segura em ficar


sozinha com Willow sabendo que outro de seus amigos pode aparecer.
— Será providenciado.
— Você bateu nele?
— Sim. Eu me descontrolei. Não sou de brigas, mas…
Ela coloca os dedos sobre meus lábios.
— Espero que tenha doído. Eu mesmo queria ter socado aquela cara
cínica.
Capítulo 45

Petal

— Você terminou uma relação de trabalho por minha causa. Sua mãe
disse que já estava com Luigi desde que se tornou profissional.
Estamos no carro a caminho do escritório do advogado e Rafael brinca
com Willow, que está sentada na cadeirinha, enquanto o motorista dirige.
— Eu não posso manter um relacionamento de qualquer tipo com alguém
que não respeita minha mulher e filha.
— Ele só odeia a mim ou o mundo inteiro?
— Sinceramente, eu não sei. Independentemente do que ele pensa, nós

nunca tivemos uma relação de amizade. Era só sobre meu trabalho, mesmo.
Não sei o quanto você ouviu da discussão, mas o que ele disse não é verdade.
As únicas vezes em que ele interveio em meus relacionamentos com
mulheres, foi quando se fez necessário providenciar exames de DNA para
comprovar que o filho não era meu.
— Por que ele fez isso?
— Foi a conselho dos advogados. Eles não queriam que eu tivesse contato
direto com as mulheres para não haver qualquer envolvimento emocional.
— Como assim? Você não era o pai.

— Não mesmo. Das cinco mulheres que já alegaram terem dado à luz a
filhos meus, somente com uma eu saí, e mesmo assim, a data da concepção
da criança não batia porque foi um período em que eu estava em competição
fora dos Estados Unidos por cerca de dois meses.

— Então por que do risco de envolvimento emocional?


— Olha, eu não posso dizer o que se passa na cabeça das pessoas, mas
acho que só o desespero leva alguém a alegar que o filho é de um homem
quando isso é uma mentira tão fácil de ser descoberta. O que meus advogados
queriam impedir, é que eu sequer visse a criança antes dos resultados porque
isso só traria mais problemas.
— De que tipo?
— Mesmo que não fosse minha, eu não seria capaz de ver um bebê

passando necessidade sem ajudar. O problema é que isso poderia criar algum
tipo de fantasia na cabeça da mãe dele.
— Meu Deus, que loucura. Não me admira que as vezes em que tentei
entrar em contato através do seu assessor, dei com a cara na porta.
Ele segura meu queixo.
— Eu nunca vou me perdoar por não estar ao seu lado durante a gravidez
e no nascimento.
— Você não tinha como saber.
— Não, eu não teria.

— E provavelmente, se por acaso eu conseguisse contatá-lo, seus


advogados o aconselhariam a não se aproximar de mim também, até que o
teste de DNA fosse realizado.
— Sim, eles aconselhariam, mas não havia chance de que eu me

mantivesse longe dessa vez.


— Por que não?
— Eu estava te procurando por uma razão. Aquela noite não saía da minha
cabeça. Eu ficaria ao seu lado até ter certeza.
— Por quê?
— Nada do que aconteceu foi como das outras vezes em que alegaram que
eu era o pai. Você não conseguiu falar comigo, mas mesmo precisando de
ajuda, não contou a história para os repórteres, o que seria o caminho mais

rápido para fazer com que eu soubesse. Somente isso já a faz diferente. Nos
outros casos, eu soube que tinha um “filho” — ele enfatiza a última palavra
— através de sites de fofocas.
— Eu nunca faria isso. Não gosto de chamar atenção, e principalmente,
jamais exporia você e Willow.
Ele pega minha mão direita, onde um enorme anel de diamantes que me
deu de presente no dia seguinte ao meu aniversário se destaca, e a beija.
— Minha mãe disse outro dia que todos os relacionamentos da nossa
família, tanto dos cinco filhos quanto dela mesma, foram obra do destino.

— Como assim?
— Guillermo e Olívia se encontraram porque ela era a única parente viva
de Valentina; Joaquín e Bianca, porque ela foi enganada por um dos melhores
amigos dele; Martina era para estar casada com um príncipe, mas acabou com

meu amigo, que era sua paixão de adolescência; Gael quase perdeu Angel,
que era sua assistente, e a filhinha por causa de uma trama sórdida de uma
louca, mamãe foi traída e por isso saiu da Espanha e veio morar nos Estados
Unidos…
— E nós dois?
— Uma combinação de fatores. Você disse que nunca havia frequentado
uma festa daquelas. Qual a chance de nos encontrarmos se não tivesse sido
ali?

— Bem pequena, eu acho.


Ele concorda com a cabeça.
— E de que, mesmo usando preservativo, engravidasse?
Baixo a cabeça para esconder um sorriso.
— O que foi?
— Eu li a respeito disso quando descobri que estava grávida. Como todos
os outros métodos contraceptivos, o preservativo não é cem por cento eficaz.
Nós… hum… fizemos muitas vezes naquela noite. Acredito que aquele
ditado “água mole em pedra dura”…

Ele gargalha e eu rio junto.


— Sim, faz sentido. — Depois fica sério. — Eu não conseguia ter o
suficiente.
— O quê?

— Desde o primeiro instante em que te toquei, não conseguia obter o


suficiente de sua boca, pele, cheiro. Fiquei com a sensação de que se eu não
mantivesse as mãos em você, desapareceria da minha frente e no fim, eu
estava certo.
— Fui embora por medo da rejeição. Eu só tive um namorado na
adolescência. Uma única experiência sexual, literalmente e além de não ter
sido boa, assim que ele conseguiu me fazer ceder, terminou comigo. Eu não
lido muito bem com o fim, então preferi me antecipar.

— Em nada na vida temos uma garantia de final feliz.


— Aos poucos estou entendendo isso, mas não acho que vou mudar de
uma hora para outra. Gosto de garantias e estabilidade. Talvez seja mais fácil
para você lidar com as incertezas porque sempre teve tudo, tanto
materialmente quanto em relação à família.
— Phoenix disse que sua tia era boa para vocês.
— Era sim, mas mesmo o tempo em que vivi com ela, não conseguiu
apagar o que passei antes com a minha mãe. Desde que soube que Augustus
era meu pai, tenho pensado no passado. Acho que o fato de ter perdido minha

mãe muito cedo, fez com que eu guardasse somente lembranças boas.
— Mas havia as ruins também?
— Sim, muitas. Eu era tão carente da atenção dela, que ficava agradecida
por cada vez que era uma “mãe” para mim. Ela nunca me maltratou ou

deixou que seus namorados me maltratassem, mas também não se importava


em atrapalhar minha rotina e me levar para sair quando não tinha com quem
me deixar, altas horas da noite.
— Como assim?
— Uma coisa que mamãe e titia tinham em comum era que ambas
adoravam viver a vida. Enquanto minha tia era livre para fazer o que bem
entendesse, minha mãe tinha uma filha: eu. Ainda assim, ela não queria abrir
mão de seus passeios ou namoros, então me levava junto, mesmo que na

maioria das vezes, não fosse um ambiente adequado para mim. Foi descobrir
quem era meu pai que me trouxe de volta essas lembranças.
— Acredito que nem todo mundo nasceu para ser pai e mãe.
Olho pela janela, constrangida por ter me exposto tanto.
— É, acredito que não.
O motorista para na garagem subterrânea da sede do edifício Lambertucci.
Há muitos anos, pelo que Rafael me disse, Matheus Berardi se associou à
banca advocatícia da família de Enrico e Gabriel, que vem a ser também
genro dele.

— Rafael — seguro-o pelo braço quando ele já estava com a mão na


maçaneta para abrir a porta.
— O que houve?
— Eu não sou ela. Vou ser uma boa mãe para a nossa filha.

— Você já é a melhor mãe que Willow poderia desejar, e em breve, será


minha esposa. É um aprendizado para mim também, Petal, mas eu quero
muito isso. Nós dois. Willow, Phoenix. Eu nem sabia o quanto eu precisava
de você na minha vida antes de reencontrá-la, mas agora não consigo me
imaginar com outra pessoa. Nossa história não seguiu uma linha natural, mas
eu sei que estávamos destinados um ao outro.
Capítulo 46

Rafe

— Acha que devo fazer um exame de DNA? Quero dizer, para comprovar
que ele era meu pai e o quão absurdo seria a ideia de que eu pudesse matá-lo.
— Escuto Petal perguntar.
Além de Matheus, Vittorio, que também é advogado e pai de Enrico e
Gabriel, além dos dois próprios, estão conosco.
Na verdade, acredito que vieram porque todos os presentes são sócios
seniores. Joaquín me me disse que Enrico é especialista em divórcios e
Gabriel e o pai, em fraudes corporativas. Nenhum deles atua em crimes

contra a vida.
— Eu não faria isso — Enrico intervém pela primeira vez. — É uma arma
a mais para eles para que digam que tinha interesse em que seu pai fosse
morto. Pode pedir a herança depois se desejar, mas nesse caso, sua ignorância
pode ajudar a provar a inocência. Eles não sabem que descobrimos que é
filha de Augustus.
— Eu concordo com meu filho — Vittorio diz. — Podem tentar usar o
fato de também ser herdeira como motivador para que quisesse o seu chefe…
quero dizer, seu pai, morto.

— E o que faremos, então? — pergunto.


— Foi por isso que os chamei hoje. Avançamos muito no caso — Matheus
diz e se vira para Petal. — Senhorita Bartley, o senhor Lleyton Acker alguma
vez falou sobre a mãe dele?

— Não. Eu sei o mesmo que o resto do mundo: que Lleyton é filho de


uma antiga namorada do meu… do senhor Augustus e que ela morreu
deixando o filho para ele criar. Nunca chegaram a se casar, se o que a
imprensa diz for verdade.
— Não é. Quero dizer, sim, eles nunca chegaram a se casar, mas a mãe de
Lleyton está viva. É Sylvia Myer, a empregada que supostamente lhe deu o
flagrante e a acusou de assassinato.
— Jesus, eles o mataram e armaram para Petal — falo, concluindo

rapidamente e sentindo ódio se espalhar dentro de mim.


— Não temos certeza se foi um trabalho em conjunto ou quem enganou
quem. O que sabemos é que a mulher sempre foi empregada de Augustus e
quando engravidou, ele que não queria se casar com quem quer que fosse,
assumiu o menino em troca de que ela não se mostrasse.
— Mas isso nunca aconteceu?
— Talvez ela tenha se mantido nos bastidores por um tempo, mas em
algum momento se revelou, porque os outros empregados da casa sentiram a
mudança de comportamento entre a governanta e o filho do chefe. Agora

temos com o que trabalhar. A chance de que mãe e filho tenham tramado para
Petal é muito maior do que uma menina, que não fazia ideia de que foi
envolvida em um jogo tão sórdido e que nunca teve qualquer histórico
criminal, tenha planejado isso sozinha.

— Eu me sinto dentro de uma novela. Não parece a vida real — ela diz e
tenho que concordar.
— A vida real pode ser muito mais assustadora do que a ficção, senhorita
— Matheus responde. — Agora vamos falar de ações. Exporem o
relacionamento de vocês ao público foi uma boa coisa, mas acho que
deveriam contar também sobre o noivado. — Continua, apontando para o
anel que comprei para ela.
— Por quê? — Petal pergunta.

— Seu cunhado é muito respeitado pelas autoridades de Boston. Tanto nos


tribunais quanto na polícia, Joaquín criou uma excelente reputação. Ter seu
nome ligado a ele lhe dará uma vantagem. Em todas as áreas, há corruptos. A
polícia investigativa e promotores não são exceção. O assassinato de um
bilionário é o tipo de caso que pode trazer os holofotes para um promotor que
não esteja realmente preocupado se a senhorita é culpada ou inocente, mas
em ganhar destaque.
Eu entendo aonde ele quer chegar.
— Mas pensarão duas vezes antes de envolverem alguém com parentesco

com meu irmão em uma teia de mentiras.


— Isso também, mas há ainda o fato de que por ser tão respeitado pela
polícia, acredito que os próprios detetives trabalharão com mais empenho
para descobrir a verdade.

— Não é justo — Petal diz. — As pessoas deveriam ter as mesmas


chances.
— A vida não é justa, senhorita.
— Está me dizendo que se Rafael não fosse o pai da minha filha, que se
não estivéssemos noivos, eu poderia ser condenada por um crime que não
cometi?
Ela parece assustada e entrelaço nossas mãos.
— Basta pesquisar a quantidade de pessoas no corredor da morte por conta

de erros jurídicos, meu bem — Vittorio explica.


— E o que faremos agora?
— Antes de hoje, eu já tinha a quantidade de provas necessárias para
inocentar sua noiva, Rafael, mas pela manhã recebi um telefonema que
mudou tudo.
— De quem?
— Um dos detetives responsáveis pelo caso descobriu que Augustus
mandou instalar uma câmera a qual, aparentemente, nenhum dos empregados
tinha conhecimento.

— E o que há nas filmagens?


— Não foram verificadas ainda. São muitas horas, mas em breve teremos
respostas.
— Por que ele instalaria uma câmera secreta em seu próprio quarto?

— Obtivemos uma informação há algumas semanas que até então não


fazia sentido para nós, mas agora, sim. Um amigo do morto nos revelou que
ele desconfiava que estava sendo envenenado.
— Oh, meu Deus! Pela empregada? — Petal aperta minha mão.
— Provavelmente.
— Mas se sabia, por que não a mandou embora? — pergunto.
— Acho que primeiramente porque o segredo sobre quem era a mãe de
Augustus se voltou contra ele. Destruiria sua reputação se descobrissem que

manteve por mais de trinta anos a mãe do filho por perto sem permitir que
agissem como uma família.
— Pode ser isso, sim, mas ele caiu doente bem rápido — é Petal quem
explica. — Foi de um dia para o outro.
— Talvez tenham aumentado a dosagem do que estavam lhe dando. De
qualquer modo, pediremos a exumação do corpo. Paralelo a isso, as câmeras
serão analisadas. Já solicitamos acesso às provas e eles não têm como negar.
Acredito que se encontrarmos o que espero nas filmagens, em pouco tempo o
nome de sua noiva estará limpo, Rafael.

— E quanto a Lleyton?
— Não sabemos ainda se teve participação na morte do pai, mas acredito
que ainda hoje ele será preso.
— Por qual razão? — pergunto.

— Eu lhe disse que cavaríamos a vida dele a fundo e o fizemos. Ninguém


começa a cometer crimes do nada. Conseguimos provas de remessas de
dinheiro dele para o exterior. A tal fraude da qual acusou Petal. Mas não é
nisso que focaremos por ora. Há ao menos duas mulheres que participaram de
festas organizadas por ele que ainda hoje prestarão depoimento sobre terem
sido drogadas e sexualmente abusadas pelo filho de Augustus Acker.
— E há provas?
— Há, sim. Penso que quando era jovem, e talvez um tanto estúpido, ele

se achava onipotente. Enviou imagens para suas vítimas dos atos aos quais as
submeteu como uma espécie de humilhação final. Dá para ver claramente
Lleyton Acker fazendo sexo com mulheres desacordadas. Elas nunca o
denunciaram por vergonha, mas depois que fomos atrás, ao menos uma está
disposta a contar toda a história.
Capítulo 47

Petal

No dia seguinte

Ontem mesmo, após uma das vítimas de Lleyton dar uma entrevista na tv,
saiu um mandado de prisão contra ele. O doutor Matheus Berardi não perdeu
tempo e nem estava de brincadeira quando disse que pretendia me livrar das
acusações o quanto antes.

Não assisti às notícias porque me fazem mal. Eu só quero que isso tudo
acabe, mas Phoenix me disse que todos os sites estão falando sobre isso em
tempo real e até mesmo briguei com ele quando voltou do colégio porque
precisa focar nos estudos ao invés de se empenhar nessa coisa de

investigador de sofá[39].

No início do próximo ano letivo, em setembro[40], ele será transferido para


um colégio de elite. Foi um oferecimento de Rafael ao qual eu não pude dizer
não. Ele estudará em uma das escolas mais prestigiadas do país. Não posso

manter meu orgulho à frente de uma oportunidade como essa, que poderá
significar a garantia de um futuro brilhante para o meu irmão.
Aprendi a duras penas que de uma hora para outra, a vida pode nos dar
uma rasteira e mudar todas as peças do tabuleiro de lugar. Se eu faltar por
alguma razão, ao menos Phoenix poderá se cuidar sozinho.

Eu e Rafael saímos da consulta com o advogado direto para a casa de


Isabel, onde a família se reuniria para o jantar.
Estou começando a entender a dinâmica dos Caldwell-Oviedo: ao me
casar com Rafael, me unirei a todos. Eles participam, opinam, brigam e
defendem uns aos outros.
É lindo de se ver.
Como disse Rafael outro dia, privacidade é um conceito fluido entre seus
parentes.

Aos pouco, estou conseguindo me soltar e me sentir parte da família.


Aceitando ajuda, telefonando para saber como as pessoas estão, quando antes
vivia cem por cento focada em meu pequeno núcleo.
Nós ainda não anunciamos ao mundo sobre o noivado, mas pretendemos
fazê-lo em breve.
Hoje, minha sogra se ofereceu para vir comigo fechar em definitivo o
apartamento em que morávamos com tia Darcy. Não faz sentido mantê-lo se
vou me casar.
Doarei todos os móveis e as coisas de titia, mas quero levar minhas

roupas. Quanto as de Phoenix, ele cresceu e perdeu boa parte delas.


Willow ficou com o pai em casa, mas não quero demorar porque mesmo
tendo deixado leite para alimentá-la, gosto da ligação que temos quando a
amamento.

— Eu nunca imaginei que a senhora se ofereceria para algo assim — falo,


enquanto arrasto uma caixa de dentro do armário da minha tia.
— Como eu lhe disse mais cedo, não fui sempre rica, Petal. Já morei em
um lugar ainda menor do que esse.
No caminho para cá, ela me contou como conheceu o pai de Rafael e
percebi que não estava brincando sobre o relacionamento dos dois ter
acontecido na velocidade da luz.
— Eu sei, mas mesmo assim, é tão elegante. Não parece com alguém que

faria trabalho braçal.


— Você não quis que contratássemos uma empresa. Foi por isso que me
ofereci para ajudar. Sei como pode ser doloroso mexer em algumas
lembranças.
— Sim. E como pode ver, minha tia era uma acumuladora, mas não em
um mal sentido.Acho que guardava como lembranças sentimentais. Dei uma
olhada rápida nessas caixas logo que ela faleceu. Havia guardanapos com
números de telefone, provavelmente de alguma paixão antiga, um pé de meia
de bebê, que não tenho certeza se foi minha ou do meu irmão e até mesmo…

— Franzo a testa quando me lembro de algo.


— O que houve?
— Eu encontrei um casaco do mesmo colégio que Phoenix vai estudar.
Havia me esquecido completamente disso. Que estranho!

— Posso ver? — pergunta, enquanto seus olhos passeiam por meu rosto e
cabelo, ela mesmo parecendo perdida em lembranças agora.
— Um instante. Acho que o separei para doação com as roupas dela. Eu
pretendia fazê-lo logo que Willow nascesse, mas com toda a confusão que se
seguiu depois, não tive oportunidade.
Levanto-me e ando até umas sacolas que deixei na pequena lavanderia do
apartamento. Custo um pouco a encontrá-lo, mas o emblema amarelo do
casaco de duas cores, vinho com as mangas cinzas, não deixa dúvidas de que

é sim, o colégio em que meu irmão vai estudar.


— Aqui. É esse. — falo, quando volto ao quarto.
Ela o pega da minha mão e para minha surpresa, o vira do avesso, olhando
a parte de trás da etiqueta.
Depois o estica para mim, me mostrando.
— R.C.O.? Isso deveria ter algum significado para mim?
— Talvez não, mas o nome Rafael Caldwell-Oviedo, sim. Esse casaco era
do seu futuro marido, Petal. Minha sogra sempre foi extremamente detalhista
e fazia questão de bordar à mão o nome de cada um dos netos em seus

uniformes escolares.
— O quê?
— Vamos fazer um café. Tenho uma história para te contar.
Minutos depois, sento-me à sua frente.

— Não estou entendendo nada — digo.


— Quando Rafe me falou seu nome, no dia que me deu a notícia de que
tinha uma filha, eu me lembrei de uma garotinha a quem ele ajudou há cerca
de quinze anos.
— Eu não estou conseguindo compreender. Como ele poderia conhecer
minha tia e como a você sabe o tempo exato que se passou?
— Pelo tamanho desse casaco. E não foi sua tia quem ele conheceu, foi
você.

— O quê?
— Uma noite, estávamos voltando da casa da avó dele. Minha sogra tinha
feito uma cirurgia, e Rafael, por conta dos treinos, porque naquela época já
competia, tinha sido o único neto que não a visitara. Eu o levei para vê-la e
na volta, eu não me lembro qual era o horário certo, mas acho que quase
meia-noite, estávamos parados no sinal quando ele me pediu para que fizesse
o motorista estacionar.
Não a interrompo, concentrada e ainda sem entender onde quer chegar.
— Ele me disse que daria seu casaco para uma menina que viu, que

parecia estar morrendo de frio. Era a única criança presente em uma mesa de
bar e cercada por adultos. Uma mulher grávida estava com ela e
aparentemente era a mãe, porque tinham a mesma cor de cabelo.
— Oh, meu Deus!

— Quando voltou ele pareceu satisfeito porque a menina-pétala ficaria


quentinha.
— Eu?
— Sim. Só me lembrei dos detalhes daquela história quando você falou do
casaco. Não acredito em coincidências. Cabelo loiro-branco, seu nome, mas
isso aqui — diz, apontando o casaco que pendurou no encosto da cadeira. —
É a prova definitiva de que o encontro de vocês não foi por acaso, mas
porque tinha que acontecer.
Uma hora depois, entro em nosso apartamento com o coração ainda
disparado.
Subo as escadas em silêncio, mesmo sabendo que ele provavelmente
ouviu o alarme sendo desligado, o que me faz lembrar que. a empresa de
segurança ainda não veio trocá-lo, deixando Rafael bem irritado.
Chego no quarto de Willow e não estou preparada para o que a visão de
pai e filha juntos me causa, ainda mais depois do que descobri hoje.

Ele brinca com nossa menina no tapetinho recreativo, fazendo caretas e


usando entonações estranhas enquanto tem um fantoche nas mãos para
conversar com ela.
Willow gargalha e sinto meus olhos encherem de lágrimas.
— Destino — digo, ao entrar no quarto.
— Oi, linda. Do que está falando?
Mostro o casaco que seguro em minhas mãos para ele.
— Você disse tantas vezes que o destino conspirou para que nos
encontrássemos e eu não levei a sério, mas agora eu acredito. Nossos

caminhos se cruzariam de uma maneira ou de outra.


Ele se levanta e pega a roupa das minhas mãos.
— Esse casaco era meu?
— Sim. Hoje sua mãe me contou uma história de uns quinze anos atrás,

quando você deu esse casaco a uma menina-pétala para protegê-la do frio.
Ele me encara, incrédulo.
— Você?
— Sim.
— Eu não me lembrava do nome da criança, mas da situação.
— Eu te amo, Rafael. Agora eu acredito que você é meu. Você sempre foi
meu.
Capítulo 48

Rafe

Um mês depois

Finalmente.
Depois de vários encontros dos advogados da minha mulher com o
promotor responsável pelo caso de Augustus, onde provas incontestáveis
foram apresentadas, inclusive a filmagem em que Lleyton Acker aparece
matando o pai, ontem o advogado do estado desistiu de seguir com as
acusações sobre ela.

Não havia mais razão para darem prosseguimento. As evidências contra


Lleyton eram tão abundantes que tentar envolvê-la sabendo que não havia
qualquer indício a não ser sua presença na mansão no momento da descoberta

do corpo, deixaria o promotor, que está tentando se reeleger[41], mal visto aos
olhos da população.
Não nego que deve ter ajudado que, no dia seguinte que nos encontramos
com os advogados, eu tenha anunciado nosso casamento para um futuro
breve.

Assim como Olívia havia previsto, baseando-se em sua própria


experiência, eles passaram a retratar Petal como a jovem mãe injustiçada,
envolvida em uma trama sórdida — o que não deixa de ser verdade.
Matheus inverteu o jogo e usou a cartada da paternidade de Augustus em

relação a Petal como mais uma evidência para condenar Lleyton e livrá-la de
qualquer suspeita.
De suposta amante rejeitada, que era o que os jornais a chamaram a
princípio, se transmutou para vítima da ganância do irmão, embora não
tenhamos certeza de fato que o miserável realmente soubesse que Petal
também era filha de seu pai.
Há várias lacunas em aberto, inclusive a participação da mãe dele, Sylvia,
em toda a história.

Quando foi preso, segundo Joaquín descobriu, ele se recusou a envolver o


nome da mãe, embora reconhecesse que sabia quem ela era desde pequeno.
Matheus acha que os dois tramaram juntos, mas quanto a Lleyton saber
que Petal era sua irmã, não.
Eu não dou a mínima para qual será o caminho que a promotoria terá que
percorrer, desde que no fim, ele apodreça atrás das grades.
— Prontas? — pergunto quando minha mulher desce a escada com
Willow no colo.
— Sim, vamos passar no colégio para pegar Phoenix?

— Acho justo, afinal, ele também tem direito de opinar sobre a casa que
compraremos.
— Meu irmão ficará feliz com qualquer imóvel que escolhamos, Rafael.
— Nunca vai me chamar de Rafe? — pergunto, me aproximando e

prendendo as duas em um abraço.


— Não, acho Rafael mais sexy.
— Você é muito sexy.
— Ai, meu Deus. Você é um sedutor. Eu queria criar algum tipo de
imunidade porque cada vez que me olha assim, fico com vontade de te deixar
nu.
Dou uma piscadinha.
— Mais tarde, mulher. Agora, me dê ela aqui. A princesa do papai está

ficando pesada.
— Está mesmo e por falar nisso, preciso perder peso. Pensei em daqui a
umas duas semanas, quando espero que as coisas tenham se acalmado em
relação à imprensa, entrar na aula de yoga com Olívia e Bianca. Acho que
estou ficando velha, além de fora de forma, porque minha coluna dói quando
fico muito tempo com ela no colo.
— Velha com vinte e dois?
— Fala isso porque é um atleta, senhor Oviedo. Sou uma simples mortal e
ainda não perdi todo peso que ganhei depois que Willow nasceu.

— Tudo o que vejo são curvas deliciosas.


— Deus, Rafael, pare com esse seu modo príncipe encantado sensual ou
encheremos essa casa de bebês antes mesmo que eu diga sim na frente do
padre.

Eu estava colocando Willow no carrinho, mas paro e olho para seu ventre.
Será?
— Acha que…
— Não! — diz, branca como uma folha de papel. — Nem brinque com
isso. Foi só modo de falar. E sua carreira? Outros filhos só dificultariam
ainda mais sua vida.
Oficialmente comecei a competir há um mês. Os treinos não estão nem
perto do que eram antes, mas não estou mais tão ansioso como me sentia a

cada retorno.
— Não sou o primeiro atleta da história casado e pai. Posso conciliar
tudo.
— Eu não quis dizer para abrir mão do que ama, Rafael. Nunca seria tão
egoísta. Vou ensinar nossa filha a sentir orgulho de quem é o papai dela, mas
trabalhar a paternidade e sua carreira será difícil se vierem muitos filhos.
Mesmo com aquele discurso, vejo como seus olhos brilham pela
possibilidade de termos mais crianças.
— Eu quero outros bebês.

Não foi algo que planejei dizer. Para ser sincero, não havia pensado a
respeito ainda, mas nesse instante, olhando para Willow e para a mãe dela,
tenho certeza de que é o que desejo.
— Está falando sério?

— Eu nunca brinco com nada que seja em relação a você ou a nossa


menina. Uma vez me disse que quer tudo. Eu também.
— O que “tudo” significa para você?
— Uma família. Seu amor.
— Pode me entregar o mesmo?
— Sei que não acredita nisso ainda, pela maneira como nos conhecemos,
mas eu vou te provar o quanto sou louco por você, Petal.
Capítulo 49

Petal

Três meses depois

Rafael está me pressionando sobre o casamento e para falar a verdade, eu


nem sei por que estou resistindo ainda.
Depois de tantos meses em meio à tempestade, finalmente estamos
conseguindo respirar.
Lleyton foi oficialmente indiciado pela morte de nosso pai — é, eu agora
já consigo me referir a Augustus assim, embora para mim a palavra, no que

diz respeito a ele, não tenha qualquer significado mais profundo — e sua
condenação é certa.
A imprensa não para de surgir com novas notícias, tanto com relação ao
assassinato quanto ao passado criminoso e muito secreto, do herdeiro Acker.
E por falar em herdeiro, Enrico Lambertucci ajuizou uma ação para que eu
tenha direito à herança de Augustus. Primeiro, o orgulho falou mais alto, mas
depois pensei novamente em Phoenix e Willow. Ainda que o pai da minha
menina seja um bilionário, Augustus era seu avô e ela tem direito à sua parte.

Penso outra vez na situação do meu “irmão”.


Várias mulheres, dentre elas ex-namoradas, o denunciaram por agressão
física, além da sexual. Se é verdade ou não, nunca saberemos, porque se há
algo que aprendi em relação a escândalos, é que muitas pessoas se

aproveitam da desgraça alheia para conseguirem seus cinco minutos de fama.


No mundo em que vivemos, ninguém está preocupado com a verdade, mas
em mostrar que “sabe” sobre o que está sendo comentado no momento.
O fato é que o mundo está desabando sobre a cabeça dele, mas eu não
consigo sentir pena. O que ele fez comigo: me drogar, me deixar apavorada
durante a gravidez por pensar que seria presa e finalmente, conspirar para me
acusar de assassinato, de onde eu vejo, já é motivo suficiente para lhe garantir
uma passagem para o inferno.

Ele continua se negando a incriminar a mãe, segundo Matheus nos disse,


então mesmo que ela tenha participado do assassinato, nunca teremos certeza.
Estico minhas mãos, alongando meu corpo até alcançar a ponta dos pés e
quase gemo de prazer ao sentir os músculos se soltando.
Ouço a porta abrir e sei que é Olívia ou Bianca chegando. A esposa de
Guillermo é amiga da dona da academia e elas sempre vêm antes das aulas
começarem para colocarmos o papo em dia. Martina e Angel não são
frequentadoras tão assíduas.
Estou praticando yoga três vezes por semana com elas há quase dois

meses e tem ajudado a melhorar meu jeito constantemente tenso.


— Estou aqui! — grito para que saibam onde me encontrar porque vim
para a única sala destrancada e que não é a mesma que fazemos a aula.
Quando a porta se abre, no entanto, não são minhas cunhadas quem eu

vejo, mas a mulher que até hoje me visita em pesadelos: Sylvia Myer, a mãe
de Lleyton.
Levanto-me, mas não consigo correr e congelo o movimento quando ela
puxa uma arma da bolsa.
— Não faça isso — peço enquanto a imagem de Willow, Phoenix e Rafael
passam na minha mente.
Minha família, meu mundo. Eu vou perdê-los.
— Você estragou tudo, garota. Por que tinha que aparecer? Quando vi o

resultado do teste de DNA na biblioteca de Augustus, eu sabia que você


destruiria nossas vidas.
Ela parece ainda mais louca do que no dia em que me acusou de matar
meu pai e tento manter a calma.
— Eu estraguei? Você me acusou de um crime que eu não cometi.
— Foi aquele desgraçado quem me obrigou a isso. Augustus. Se ele não
tivesse descoberto tudo, ainda estaria vivo.
— Descoberto o quê? Sobre as fraudes de Lleyton?
Ela dá uma risada estranha, meio esganiçada.

— Claro que não. Como poderia julgar meu menino quando ele mesmo
era um desonesto que desviava dinheiro da própria empresa sem que os
acionistas soubessem? Estou falando sobre o fato de que Lleyton não era seu
filho legítimo.

— O quê?
— Quando descobriu que eu estava grávida, ele me expulsou do trabalho.
Me jogou na rua sem qualquer condição. Então, meu filho nasceu. Um
menino e aquele filho da puta o quis. O que não sabia, era que não era
somente em sua cama que eu me deitava. Ele pensou que sim, por ter sido o
meu primeiro, maldito arrogante. Mas não foi o único.
— Então foi por que ele descobriu que Lleyton não era filho dele que
vocês o mataram?

Eu não estou nem um pouco interessada nessa história medonha porque


levo poucos segundos para concluir que todos os três se merecem. Não
existem santos ou vilões ali.
Só quero mesmo ganhar tempo para ver se Olívia e Bianca chegam.
— Claro! Quando fez seu teste de DNA, por alguma razão resolveu
conferir meu filho também. Foi então que precisei me livrar dele.
— Envenenando-o? — pergunto, lembrando-me do que o advogado disse.
— Sim, mas ele não morria. Então tive que tomar uma atitude mais
drástica.

— Lleyton sabia de tudo?


— Óbvio. O que você acha? Meu filho não é um pervertido que se deitaria
com a própria irmã!
Não, mas mataria o homem que o criou sem o menor problema.

E então, algo me ocorre porque já estou começando a entender o


raciocínio doentio dos dois.
— Ele me drogou para tentar me engravidar de propósito?
— Sim. Se o bebê que você teve fosse dele e o velho mudasse o
testamento para torná-la a única herdeira, depois que fosse presa, a guarda da
criança ficaria com meu filho.
— Vocês dois são doentes! — explodo, porque não consigo mais manter a
calma.

Pensar que Willow poderia ficar nas mãos daqueles psicopatas me faz ter
vontade de vomitar.
— Nada disso importa mais. Você vai pagar pelo que fez ao meu filho.
Eu não tenho tempo de responder porque em seguida, ela puxa o gatilho.
Sinto uma dor aguda no meu ombro e caio para trás enquanto vejo,
horrorizada, ela se aproximar.
Antes que atire novamente, no entanto, um estrondo se faz ouvir e uma
mancha vermelha aparece em seu peito.
Ela cai à minha frente e noto um dos meus guarda-costas ainda de arma

em punho.
É a última coisa que vejo antes de apagar.

Horas depois

O barulho do monitor me diz que estou em um hospital mesmo antes que


eu abra os olhos.
Quando finalmente o faço, vejo o pai da minha filha, aquele que também
vem a ser o amor da minha vida, aproximando-se.
— Eu não morri, graças a Deus.
Ele se debruça sobre a cama e não fala nada. Só me abraça e esse abraço
me diz mais do que palavras seriam capazes.

Ele exprime medo da perda, cuidado, amor.

— Eu te amo, menina-pétala. Fui um idiota ao pensar que poderia esperar


para dizer isso no dia do nosso casamento. Estava preparando uma surpresa.
— Não me importo com a ocasião, mas não abro mão de que me ame sem
medida. Eu senti tanto medo de nunca mais ver vocês, Rafael.

— Eu falhei com a sua segurança.


— Não, eu que fui imprudente, amor. Disse aos seguranças que eles não
deveriam entrar porque tirariam a privacidade das outras alunas. Eu nunca
imaginei…
O horror do que aconteceu volta à minha memória em detalhes.
Eu poderia estar morta.
— Meu Deus, ela ia mesmo me matar!
— Mas ao invés disso, foi para o inferno.

— Ela morreu? Eu lembro de Hilton atingindo-a.


— Sim. E dou graças a Deus por isso.
De repente, a conversa com a mulher maligna me volta.
— Lleyton não é filho de Augustus.
— O quê?
Conto o que me lembro e vejo seu rosto empalidecer.
— Eles queriam que você engravidasse e depois a colocariam na cadeia.
Que tipo de monstro faz uma merda dessas?
— Sua resposta já está na pergunta, irmão — Joaquín diz, quando entra,

seguido de todos os membros da família Caldwell-Oviedo.


— Como está esse ombro, minha filha? — Stewart pergunta.
— Ela atirou no meu ombro?
— Sim. Achamos que errou porque queria…

— Não precisa entrar em detalhes, Joaquín — Bianca o interrompe.


Eles ficam por cerca de dez minutos e eu não quero ser grosseira, mas
preciso ver minha filha e meu irmão.
Rafael me explicou que Willow está com Dora porque é muito pequena
para entrar em um hospital, mas Phoenix ficou esperando no corredor.
Depois que todos saem, peço:
— Chame meu irmão, Rafael. Ele deve estar apavorado.
Dois minutos depois, os homens da minha vida entram.

Sem falar nada, Phoenix corre para os meus braços. Dói quando ele me
aperta, mas por nada no mundo vou reclamar.
— Eu queria que tivesse sido eu a matá-la — meu irmão diz.
— Não fale isso. Você é meu menino de ouro. Nunca se igualará a lixo.
— Eu passaria a vida na cadeia por você.
Rafael vem por trás e abraça nós dois ao mesmo tempo.
— Sabemos disso, campeão, mas agora esvazie sua mente desses
pensamentos e foque na sua carreira. O perigo acabou. Nós vamos ficar bem.
Capítulo 50

Petal

Dia do casamento

Seis meses depois

Há quinze dias, Willow deu os primeiros passos e não parou mais.


Eu nem acredito que nossa filha já completou um ano. Não parece que tive o
suficiente do meu bebê e agora, ela já começou a falar e mostrar sua
independência.
Para a gozação geral, sua primeira palavra não foi papai e nem

mamãe, mas “Best” e credito isso a Phoenix.


Rafael ficou todo bobo e eu preciso confessar que ver o quão bom
pai ele é me faz desejar encher nossa casa de bebês.
Bom, sobre isso, acho que não será tão difícil porque eu descobri
essa manhã que temos mais um caminho.
Dessa vez, no entanto, eu engravidei de comum acordo, embora
ainda não tenha dado a notícia a Rafael.
Ouço uma batida na porta e sei que é ele. Eu pedi que Isabel o

chamasse.
Ele entra sorrindo, de fraque, lindo de morrer e como sempre
acontece, meus joelhos viram geleia.
— Não tem algo sobre os noivos não poderem se ver antes do

casamento? — pergunta.
— Há uma superstição sim, mas isso só atinge aqueles que não estão
destinados a ficarem juntos para sempre, como nós.
— Está flertando comigo, amor? Porque eu não resisto quando você
vem toda sexy assim. Para te pegar contra essa parede não me custa nada.
— Não faça promessas que não pode cumprir.
Ela dá um passo para perto e um arrepio atravessa minha coluna.
— Quer que eu te coma agora, gostosa? Foi por isso que me

chamou?
— Não por isso, mas agora que sugeriu, não posso pensar em outra
coisa.
— Não vai ser doce.
— Eu quero forte. Estou queimando por você, Rafael.
Ele me puxa, erguendo-me em seu colo contra uma parede.
Dou graças a Deus por ter escolhido um vestido mais simples, mas
nem tenho tempo para pensar e sinto seus dedos sondando minha calcinha,
puxando-a para o lado.

— Somos loucos — digo.


— Nunca neguei que sou louco por você.
Abro seu zíper, enquanto seus dedos me preenchem.
Gemo, deliciada.

Ele rouba meus beijos como se fossem sua fonte de ar.


Sua língua se move de uma maneira quase indecente dentro da minha
boca.
Não me prepara, entrando de uma só vez e mordo sua boca para não
gritar.
— Mais forte.
— Você me descontrola, mulher.
Nossas bocas se procuram famintas, ansiosas e por minutos inteiros

os corpos se devoram.
É físico, luxurioso e ao mesmo tempo, um ato de amor.
— Estou tão perto — choramingo e seu polegar vem para o meu
clitóris.
— Mele meu pau, minha delícia.
Ele sai duro e torna a entrar uma, duas vezes antes que eu me renda
ao desejo.
Poucos segundos depois, sinto engrossar dentro das minhas paredes e
em seguida, seu gozo quente se espalha em mim.

Nós não nos mexemos, as testas coladas, os olhares presos um no


outro.
— Eu estou grávida. Fizemos mais um bebê.
— Não sou tão rápido assim.

Reviro os olhos, mas o beijo com a minha alma.


— Você tem um ego gigantesco.
Ele pisca.
— Para acompanhar todo o resto.
Depois, fica sério.
— Tem certeza? Vou ser pai de novo?
— Sim. Da outra vez, eu soube da notícia sozinha, mas eu queria te
contar antes de a qualquer outra pessoa.

— De agora em diante, eu sempre estarei presente. Não há outro


lugar no mundo para mim que não seja ao seu lado.
Olho em volta e todos estão dançando na festa do meu casamento. E
quando digo todos, é literalmente todos os casais Caldwell-Oviedo.
Até mesmo Archer parece se divertir, embora esteja se revezando
entre duas primas de Rafael, da parte dos Caldwell.
O que chama minha atenção, no entanto, é que Valentina conseguiu
arrastar Phoenix para a pista de dança.
Ele está naquela fase em que considera tudo “vergonha”. Um meio

termo entre homem e adolescente, mais calado e sempre estudando, a não


ser no sábado, em que frequenta umas festinhas, mesmo que eu fique sempre
de olho.
A filha de Guillermo não parece se importar com a suposta
indiferença do meu irmão e já o flagrei em reuniões familiares sorrindo
enquanto a menina fala pelos cotovelos, embora ele tente disfarçar.
Eu me afastei um pouco da pista para beber água, após dançar cinco
músicas seguidas com Rafael e aproveitei para observar minha família.
Eu faço parte do todo agora e não tenho mais como fingir que não

preciso de amor, que me basto.


Baixei a guarda e os deixei entrar.
Eu tenho cada um dentro do meu coração e tenho certeza de que o
contrário é verdadeiro.

Rafael aparece dançando com Willow no colo. Ele gira nossa filha e
as mãozinhas gordinhas dela apertam seu rosto.
A adoração mútua dos dois conseguiria derreter até mesmo quem
tivesse uma pedra no lugar do coração e eu ultimamente, talvez por conta da
gravidez, tenho andado muito emotiva.
— Por que está tão pensativa? — ele pergunta, se aproximando.
— Mamã. — Willow estica os bracinhos para que eu a pegue, mas
antes que o faça, Rafe diz:

— Tenho uma ideia melhor. Vou dançar com as minhas duas garotas
favoritas.
Vamos os três para a pista de dança e não sei como, ele consegue
cumprir o que prometeu, girando com nós duas em seus braços ao mesmo
tempo.
— Talvez devêssemos deixá-la com Dora. Passou da hora dela
dormir.
— Tudo bem, mas antes eu quero lhe fazer uma surpresa. Espere um
instante. Tenho algo a dizer.

— Sou toda ouvidos.


— Não aqui.
Ele me dá um beijo e depois outro em Willow e vai em direção ao
palco.

A banda para de tocar, enquanto meu marido pega o microfone.


— Boa noite a todos. Há uma tradição em que os padrinhos devem
discursar. Meus irmãos farão isso, em breve, mas eu precisava falar para a
mulher da minha vida, na frente de todos, sobre a nossa história.
— Ai, meu Deus! — gemo, vermelha e percebo que minhas
cunhadas e sogra vieram para o meu lado.
— Todos acham que nós nos conhecemos em um baile de máscaras.
É uma história interessante e sexy, mas apenas parcialmente verdadeira.

Nosso destino foi traçado muito antes disso. Há mais de quinze anos, eu dei
meu casaco a uma garotinha linda que estava sentindo frio. Eu me lembrava
da situação e do tom quase branco do seu cabelo, mas não do seu nome.
Um “oh” se faz ouvir entre os convidados e meus olhos se enchem
de lágrimas.
Rafael é tão inacreditavelmente bom que não expõe a situação em
que eu provavelmente estava: abandonada por uma mãe negligente. Ele cria
lembranças novas, plantando em mim não a dor do descaso, mas a beleza de
uma história de amor que começou a ser escrita mesmo que qualquer um de

nós soubesse.
— E então, muitos anos depois desse encontro, houve o baile de
máscaras do qual a imprensa gosta tanto de falar. Eu a vi, e mesmo tentando
resistir, cada célula do meu corpo a reconheceu como minha. Por vias

tortuosas e que em alguns momentos nos causaram dor, chegamos até aqui.
Eu só posso agradecer a Deus, ao destino, ao que quer que tenha planejado
nós dois porque nunca poderia ser outra. Só você, minha menina-pétala, faz
meu sangue ferver e o coração errar as batidas. Uma vez eu disse que a vida
não vinha com garantias, mas meu amor por você, sim. Ele vai durar até
meu último suspiro e talvez muito além. Eu te amo, Petal.
Entrego Willow para a avó e corro ao encontro dele.
— Você está tentando me matar do coração?

Ele me segura nos braços e gira no meio da pista.


— Não, cumprindo uma promessa. Pediu que a amasse sem medida,
Petal, mas não há como ser de outra maneira. Sou louco, completamente
apaixonado por você e nunca deixarei que duvide disso.
Epílogo 1

Quatro anos depois

Tento proteger as crianças do sol inclemente da África do Sul, que


nos atinge mesmo embaixo dos guarda-sóis, enquanto Rafael dá sua última
entrevista como golfista profissional.
Ele terminou como queria: no topo, inalcançável.
Eu não consigo segurar as lágrimas ao ver a maneira contida como
ele tenta falar com o repórter, quando no fundo, sei que seu coração está
apertado.
Toda nossa família está reunida aqui para essa despedida e até
mesmo meus três filhos, normalmente inquietos, parecem entender a

importância do momento.
— Por que você está chorando, mamãe? — Willow pergunta.
— Ela está emocionada, meu amor — Stewart diz. — Todos nós
estamos porque o campeão vai se aposentar.

Percebo que o pai dele também se segura a custo para não chorar
porque sabemos o que o golfe significa para Rafael.
O problema é que às vezes a vida não nos dá escolhas. Ele jogou essa
última temporada inteira lesionado, e embora, desde que voltou tenha
ocupado sempre o lugar mais alto do ranking, o médico lhe disse que se
continuasse a insistir, haveria risco de perder os movimentos do braço
direito em definitivo.
Quando soube do diagnóstico, fiz o meu melhor para não lhe

implorar que parasse porque nunca quis ser aquela que lhe mataria os
sonhos. Mas uma noite, no início desse ano, ao chegar de uma das viagens, o
semblante cheio de dor, ele me puxou para os seus braços e disse: chega. Eu
não posso mais.
Sei o quanto lhe custou admitir aquilo. Rafael tem a mente mais forte
do que um exército inteiro. Se decidiu parar, era porque foi muito além dos
próprios limites.
— E então, agora um grupos de seletos sortudos terão a oportunidade
de treinar com o rei? — o repórter continua.

Logo depois que nos casamos, ele deu andamento ao projeto que se
tornou a menina dos seus olhos: o maior complexo de golfe dos Estados
Unidos. Mas não uma escola qualquer, e sim, para foras de série que de
outra maneira nunca poderiam se dedicar ao esporte.

— Sim, vamos apoiar novos talentos e levar campeões ao alto do


pódio — diz, com aquela autoconfiança característica e que eu tanto amo.
— Agora para encerrar, Rafe, uma última pergunta: soubemos por
fonte segura que além de Willow, Ziggy e Celeste — diz, citando nossos três
filhos, todos com nomes hippies para manter a tradição da família — há
mais um integrante a caminho. É verdade?
Toda sua postura muda. O Rafael que o mundo conhece, controlado
e perfeito, saindo de cena e dando lugar ao meu amor.

Ele olha para onde estou, uma pergunta clara em seu rosto.
Faço que sim com a cabeça e passando Celeste, nossa caçula para o
colo de Guillermo, corro ao seu encontro.
Fui eu quem deu a informação para o repórter, tentando suavizar um
momento que eu sabia que seria tão difícil para o meu marido.
Parecendo esquecido de que provavelmente estão transmitindo para
o mundo inteiro, ele abre os braços para me pegar.
— Não importa o que esteja fazendo, você sempre será meu número,
Rafael.

— Só você conseguiria pensar em algo assim em um momento como


esse, Petal.
— Não foi planejado. A gravidez, quero dizer.
— Não. Foi o destino. Como tudo o que aconteceu entre nós.
Epílogo 2

Dois meses depois

Ouço as risadas dos meus filhos do lado de fora do nosso quarto e


não tenho a menor dúvida de que estão aprontando.
— Eles estão com as babás — uma Petal nua e muito sonolenta, diz,
como se adivinhasse o que estou pensando.
— Então quer dizer que temos tempo para mais um round?
Sinto sua risada vibrar contra meu peito.
— Depois que você me alimentar. Seu filho está com fome.
Nós seremos pais de outro garoto, trazendo equilíbrio para Ziggy,
que fica louco na mão das irmãs.

A batalha homens contra mulheres que nascem na família Oviedo é


impiedosa, com as meninas ganhando de lavada.
— O que você quer?
— Tudo o que tiver na cozinha. Estou faminta.

— Sabe que se eu sair por aquela porta, adeus sexo ardente, né?
Ela afasta o lençol e me monta.
— Mudei de ideia, posso comer comida depois.

Ela está no chuveiro e foi com muito custo que a deixei sozinha.
Transamos mais duas vezes antes que uma das babás mandasse uma
mensagem, dizendo que Celeste jogou uma caixa de sucrilhos na piscina.
Com esse ultimato, desistimos de nossa manhã de domingo
preguiçosa na cama e começamos a nos arrumar para o almoço semanal na
casa dos meus pais.

Eu estou entrando no closet quando meu celular toca.


Joaquín.
— Lleyton Acker foi encontrado morto na cela — diz, assim que
atendo.

Logo ele resume que, de algum modo, ele conseguiu um estilete


improvisado e cortou os pulsos.
— Menos um estuprador e assassino no mundo.
— Concordo. Só estou ligando para que você avise a Petal.
Conversarei com o resto da família para que o suicídio não se torne o
tópico do almoço de hoje. O problema do infeliz agora é seu encontro com
Satanás quando chegar ao inferno.
Desligo o telefone na hora em que minha esposa sai do banheiro.

— Lleyton se suicidou.
Ela vem para perto de mim e me abraça.
— Vai pensar que sou uma pessoa horrível se eu for sincera?
— Nunca, linda.
— Eu gostaria de dizer que lamento a perda de uma vida humana,
mas seria mentira. Não havia alma naquele corpo.
Mais tarde, naquele dia

— Acabei de comprar uma ilha na Grécia — Guillermo diz. —

Fechei a negociação hoje.


— Familiar ou só sua? — Martina pergunta.
— E desde quando existe esse conceito de “só sua” entre nós? —
Petal diz e eu me sinto como um idiota orgulhoso por ela não ter medo de
expressar o que sente.
Não é só para mim que ela professa seu amor, mas para todos de
nossa família.
De uma menina fechada, temerosa de dar e receber, minha mulher se
transformou em alguém que não teme exigir o que tem direito: carinho,

atenção e ser fodida gostoso.


Merda. Pensamento totalmente fora de hora.
— Por que está tão calado? — ela pergunta.
— Tentando entender por que todas as vezes em que penso em você,

sempre acaba com sexo dominando minha mente.


— Por que sou gostosa? — diz, só no meu ouvido.
— Não gostosa, é minha delícia.
— Jesus, não é à toa que já estão com o quarto a caminho — Gael
implica.
— Sempre fui um recordista e muito competitivo. Por que com
relação a quantidade de bebês seria diferente?
Não deixem de ler o bônus do primeiro livro da nova geração Caldwell-
Oviedo na página seguinte.
Bônus

— Você não deveria estar aqui — ela diz, mas seus olhos, como sempre
aconteceu, me convidam a aproximação.

— Não, eu não deveria.


— Então por que veio?
— Não tenho uma resposta lógica para isso.
— Vá embora, Phoenix. Como bem disse outro dia, não passo de uma
criança mimada. Gaste seu tempo com suas namoradas experientes.
Dou um passo para dentro de seu apartamento.
— Por que está tremendo, Valentina?
Ela cruza os braços na frente dos seios.

— Não estou. Você não me afeta.


— Mentirosa. Confesse que sou eu quem te deixo assim.
— Você é um arrogante.
— Sou o pior deles, mas sou seu arrogante, amor. Chega de andarmos em

círculos, Valentina. Está na hora de pormos à prova essa loucura entre nós.
Obras da autora
Seduzida - Muito Além da Luxúria (Livro 1 da Série Corações
Intensos)
Cativo - Segunda Chance (Livro 2 da Série Corações Intensos)
Apaixonada - Meu Para Sempre (Livro 3 da Série Corações Intensos)
Fora dos Limites (Livro 1 da Duologia Seduza-me)

Sedução no Natal - Conto (Spin-off de Seduzida e Cativo)


Imperfeita - O Segredo de Isabela (Livro 4 da Série Corações
Intensos)
Isolados - Depois que Eu Acordei (Livro 5 da Série Corações
Intensos)

Nascido Para Ser Seu (Livro Único)


168 Horas Para Amar Você (Livro Único)
Sobre Amor e Vingança (Livro 2 da Duologia Primos Lykaios)
168 Horas Para o Natal (Conto de Natal - Spin-off de 168 Horas
Para Amar Você)
Uma Mãe para a Filha do CEO (Livro 1 da Série Irmãos Oviedo)
A Protegida do Mafioso
O Dono do Texas (Livro 1 da Série Alma de Cowboy)
Um Bebê Por Contrato (Livro 2 da Série Irmãos Oviedo)
A Obsessão do Mafioso (Livro 1 da Série Alfas da Máfia)
Uma Família Para o Cowboy (Livro 2 da Série Alma de Cowboy)
A Esposa Contratada do Sheik (Livro 1 da Quadrilogia Casamentos
de Conveniência)

Como Domar um Mulherengo (Livro 3 da Série Irmãos Oviedo)

Um Anjo Para o Mafioso ( Livro 2 da série Alfas da Máfia)


O Herdeiro do Cowboy (Livro 3 da Série Alma de Cowboy)

Um Bebê Para o Italiano (Livro 1 da Série Bebês Inesperados)


Sob a Proteção do Bilionário(Livro 2 da Duologia Seduza-me)

Bastardo Apaixonado (Livro 4 dos Irmãos Oviedo)


Proibida Para o Cowboy (Livro 4 da Série Alma de Cowboy)
A Eleita do Grego (Livro 1 da Duologia Primos Lykaios)
Destinada ao CEO (Spin-off Irmãos Oviedo – A História de Isabel e
Stewart)
A Princesa Seduzida pelo Magnata (Livro 3 da Quadrilogia
Casamentos de Conveniência)

A Esposa Inocente do Mafioso (Livro 3 – Série Alfas da Máfia)


A Mãe da Minha Menina (Irmãos Oviedo – Livro 5)
Irmãos Kostanidis – Livro 1 (Lançamento 2022)
Papo com a Autora

Espero que tenham apreciado acompanhar o romance de Rafe e Petal.


É com muita tristeza que encerro a saga Irmãos Oviedo. Sou apegada a
essa família amorosa, e principalmente a Isabel e Stewart, cujo livro, uma
novela, me fez chorar diversas vezes. A boa notícia é que teremos a segunda

geração e muito mais pela frente. Então preparem-se para encontrar em um


futuro não muito distante, Valentina, Alejandra, Gabi, Alba, Alonzo,
Evangeline e muitos outros.
O segundo bônus é o do próximo livro a ser publicado. Uma nova série
para preencher espaços vagos nos corações de vocês.
Um beijo e até a próxima aventura.

D. A. Lemoyne
Interaja com a autora através de suas redes sociais

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SOBRE A AUTORA

D. A. Lemoyne iniciou como escritora em agosto de 2019 com o


livro Seduzida, o primeiro da saga Corações Intensos. De lá para cá, foram
várias séries de sucesso como Alma de Cowboy, Irmãos Oviedo, além de
duologias e subséries dos 8 Silenciosos.
Sua paixão por livros começou aos oito anos de idade quando a avó,
que morava em outra cidade, a levou para conhecer sua “biblioteca”
particular, que ficava em um quarto dos fundos do seu apartamento. Ao ver o
amor instantâneo da neta pelos livros, a senhora, que era professora de Letras,
presenteou-a com seu acervo.
Brasileira, mas vivendo atualmente na Carolina do Norte, EUA, a
escritora adora um bom papo e cozinhar para os amigos.
Seus romances são intensos, e os heróis apaixonados. As heroínas
surpreendem pela força.
Acredita no amor, e ler e escrever são suas maiores paixões.

Contato: dalemoynewriter@gmail.com
[1] Nos Estados Unidos há uma semana de férias na primavera, “Spring Break”. São
as férias escolares e universitárias americanas, somente durante uma semana.

[2] Protagonista de Sobre Amor e Vingança.


[3] Empresa fictícia de tecnologia citada em vários livros meus, mas
principalmente em Sobre Amor e Vingança.
[4] Carrinho de golfe, onde os jogadores são levados.
[5] Esse personagem aparece em Como Domar Um Mulherengo, livro 3 da
saga Irmãos Oviedo e terá seu próprio livro no futuro.
[6] Protagonista de Como Domar Um Mulherengo.
[7] Ele, assim como o irmão Raul, é jogador de futebol americano.
[8] Filho de Amos Cooper, protagonista de Fora dos Limites.
[9] A família é dona da cadeia de hotéis Caldwell-Oviedo.
[10] Protagonista de Uma Mãe Para a Filha do CEO.
[11] “Buraco” do campo de golfe.
[12] Protagonista do livro 4, Bastardo Apaixonado.
[13] “Bom de papo”.
[14] Personagem aparece em Como Domar Um Mulherengo.
[15] Profissional que ajuda a escolher roupas ideais para o biotipo de cada um.
As lojas de departamento famosas(e caras) nos Estados Unidos oferecem esses
serviços.
[16] Recursos Humanos.
[17] Nos Estados Unidos a idade legal para consumir álcool são vinte e um
anos.
[18] As pin-ups, também chamadas de pin-up-girls, eram representadas por imagens
de mulheres mais sensuais ou provocativas, mas que transmitiam um pouco de
ingenuidade. As pin-ups tinham corpo voluptuoso, aspecto clássico, visual retrô e
bastante feminilidade.
[19] Protagonista do livro 1 da série: Uma Mãe Para a Filha do CEO.
[20] Apelido de Gael Oviedo, protagonista do livro 4 da série, Bastardo
Apaixonado.
[21] Protagonista de Bastardo Apaixonado.
[22] Recursos Humanos.
[23] No livro 4, Bastardo Apaixonado, da saga Irmãos Oviedo, Gael comenta
que Joaquín foi indicado para Juiz Federal, já que nos Estados Unidos não se chega a
essa posição através de concurso.
[24] A família Caldwell-Oviedo é dona de uma cadeia de hotéis de luxo pelo
mundo.
[25] Protagonista de Isolados, livro 5 da série Corações Intensos.
[26] Protagonista do livro Apaixonada, terceiro da série Corações Intensos.
[27] Protagonista de Seduzida e Cativo, livros 1 e 2 da série Corações
Intensos.
[28] Protagonista de Seduzida e Cativo, livros 1 e 2 da série Corações
Intensos.
[29] Na maior parte dos estados dos Estados Unidos, a fiança pode ser
concedida mediante pagamento desde que atenda a determinadas regras.
[30] Pelo que pesquisei, esse prazo pode ser entre 30 e 40 dias, dependendo do
tipo de parto e da cicatrização da vagina de cada mulher.
[31] Os dois AVCs (acidente vascular cerebral) de Stewart são relatados nos
livros anteriores da série.
[32] Pessoas bem-humoradas pela manhã.
[33] Nos Estados Unidos, nas casas ou apartamentos, geralmente a lavanderia
fica no andar dos quartos, pela praticidade.
[34] Nos Estados Unidos, as férias principais, ao contrário do Brasil, são no
meio do ano, no verão. Já no fim de ano há uma pausa para os feriados, mas as aulas
retornam no início de janeiro.
[35] Nos Estados Unidos os “armários de casacos” são como pequenos
quartos. Cabem tranquilamente umas três pessoas ou mais.
[36] “perseguidor”.
[37] Essa história é narrada em detalhes em Bastardo Apaixonado, livro 4 da
série Irmãos Oviedo.
[38] Criei esse nome para o livro. Pode ser que exista um real com esse nome,
mas é mera coincidência.
[39] É um termo usado nos Estados Unidos para pessoas que criam grupos em
redes sociais para tentar desvendar crimes “sem solução”.
[40] O ano letivo americano é em setembro.
[41] Nos Estados Unidos os promotores são eleitos.

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