LEMOYNE
Copyright © 2022
D. A. LEMOYNE
dalemoynewriter@gmail.com
Copyright © 2022
Título Original: A Mãe da Minha Menina
Primeira Edição 2022
Carolina do Norte - EUA
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breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-
comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.
divertir como uma garota de sua idade. Com esse propósito em mente, cair
nos braços do homem lindo é inevitável.
O que nenhum dos dois imagina é que esse encontro terá consequências.
Somado a isso, há alguém tramando para destruir a vida da jovem
batalhadora.
Quando o destino prega uma peça, criando um laço eterno entre os dois,
Rafe terá que fazer o que um Oviedo faz de melhor: proteger sua família
inesperada.
A todos os apaixonados por essa família que tem um lugar especial
no meu coração.
D.A. Lemoyne
Prólogo
de um bar. Tem uma mulher com a mesma cor de cabelo — quase branco —
ao seu lado, mas não parece prestar atenção na criança.
Ela é muito novinha e tem os braços cruzados em frente ao corpo, como se
tentasse se proteger do vento.
— Ali. Pode parar o carro, por favor?
— Não acho seguro estacionarmos aqui, Rafael. Vamos ser multados.
— Mãe, ela está de vestido e faz três graus lá fora!
— Simon, veja se consegue parar rapidinho — ela pede ao nosso
Petal
Boston — Massachusetts
primavera[1].
— Eu ouvi vocês duas de madrugada. Ela passou mal de novo, né?
— Sim, mas a cuidadora chegará logo. Você pode voltar a dormir.
— Eu sei, mas gosto de estar por perto quando ela não se sente bem.
Prefiro ficar vigilante.
— Não foi, por isso nem me preocupei com a lista. Ele é um idiota.
— Por quê? — pergunta, mudando a postura, com seu jeito protetor.
— Não se preocupe, eu o coloquei em seu devido lugar.
— Ele tentou levá-la para a cama, não foi?
— Phoenix!
— Não sei como deixamos passar isso em nossa triagem, Petal. Ele era
novo demais. Precisamos de alguém por volta dos trinta.
Eu começo a rir.
— Não precisamos de nada. Eu me basto. Onde foi que aprendeu essa
palavra “triagem”?
— Lendo jornal. Você não me leva a sério quando falo que vou ser um
CEO, né?
— De que setor?
que você. Se quiser posso ter uma conversinha com seu chefe.
— Nossa, é tentador, mas não, obrigada. — Beijo sua testa outra vez. —
Não entrarei para falar com a titia porque não quero acordá-la, mas você vai
me ligar se houver algo errado?
— Vou sim, mas fique tranquila. Está tudo sob controle.
— Eu te amo, Phoenix.
— Como poderia não me amar?
— Como? — pergunto, já virando as costas para sair.
Assim como acontece toda manhã quando tenho que deixá-los, sofro de
remorso, mas sou a bem dizer única renda da casa e acabo de ser promovida.
Tenho que focar no futuro. Dar condições melhores para a minha família.
Não há espaço para dúvidas. Eles precisam de mim.
qualquer uma das mulheres que ele paquera tenha um décimo das contas que
preciso pagar todo final de mês.
Seu cabelo loiro areia e os olhos verdes não têm qualquer efeito em mim,
a não ser o mesmo de quando admiramos um modelo bonito em um encarte
de uma revista.
Nasci com os dois pés no chão. Sei que não sou mal de se olhar. Minha
aparência chama a atenção. Entretanto, também sei que não faço parte do
universo dele, o que me diz que um cara assim, lindo, bilionário e na casa dos
trinta, só estaria interessado em mim para uma coisa: sexo.
Não sou hipócrita. Deve ser incrível ir para a cama com um homem tão
bonito, mas além de ser o filho do chefe, a maneira como me abordou me diz
que deve fazer isso tão depressa quanto troca de sapatos.
— Posso ser sincera, senhor Acker?
— Por que acho que não gostarei do que vou ouvir? — pergunta, sorrindo.
— Não é nada demais, apenas a verdade. O senhor é lindo e tenho certeza
de que tropeça em mulheres querendo agarrá-lo, mas eu não estou
interessada. Tenho uma tia com esclerose múltipla e um irmão de treze anos
que dependem de mim. Acabei de ser promovida, então para que nós dois não
percamos tempo, vou deixar avisado que ainda que viesse coberto de
diamantes, até mesmo naquelas partes, eu diria não a qualquer convite seu.
Nada é mais importante do que o bem-estar da minha família.
Rafe
— Porra!
Caio deitado de costas na grama. O braço tapando meu rosto.
— Sua cabeça está fodendo seu corpo e não o contrário — ele diz,
sentando-se ao meu lado.
um ano.
— Deveria ouvi-lo. Eu me arrependo de quando lesionei meu joelho da
primeira vez, ter continuado a forçar. Nunca ficou curado e acho que minha
carreira não durará mais do que um ou dois anos a contar de agora.
Pela primeira vez desde que a conversa começou, tiro a cabeça de dentro
da minha própria bunda. Ando tão autocentrado que esqueço que as pessoas à
minha volta têm problemas também.
— E o que pretende fazer depois?
— Comprar um time[7].
Sento-me para encará-lo, achando que está brincando, mas ele não sorri
como costuma fazer.
Archer é um debochado nato. O tipo de pessoa que você ama ou odeia,
mas seu rosto está sério agora.
— Como consegue lidar com isso? O fim de sua carreira, quero dizer.
— Não muito bem. Se fosse há alguns anos, provavelmente eu iria ladeira
abaixo, enchendo a cara, comendo um monte de mulher, não que eu não
esteja fazendo isso. — Sorri. — O que estou tentando dizer é que
provavelmente eu poria fim na minha carreira antes mesmo que o joelho me
obrigasse.
— E agora pensa diferente?
— Não tão diferente, mas eu e Raul temos conversado muito. Estamos
o golfe para mim, é oxigênio. Por mais que minha família seja unida, nenhum
deles tem esporte como profissão.
Não é que eu não saiba fazer outra coisa. Eu não quero fazer outra coisa.
Desde pequeno sou um campeão. Competir é a minha vida.
um talvez eterno.
Dou de ombros.
— Minha mãe disse outro dia que herdei isso do papai.
— Está de sacanagem? Stewart com aquela cara séria?
— Agora, né? Depois que dona Isabel o pegou pelo cabresto, mas segundo
ela, não é só fisicamente que somos parecidos, mas no bico doce[13] com as
mulheres também.
— Sua mãe é maravilhosa.
Archer meio que foi agregado à minha família. Por mais que Aurora[14], a
mãe adotiva de Raul, o trate como filho também, acho que ele nunca superará
o fato de ter sido separado do irmão na infância, ainda que a culpa não tenha
sido dela.
— Ela é, sim. A mais forte que eu conheço.
mas eu nunca terei certeza. Fui criado por um solitário que tinha namoradas
em série e que viveu sua vida assim até falecer. Já você, teve pais amorosos e
como se não bastasse, seus irmãos são felizes no casamento, se formos levar
em conta a velocidade com que os bebês Caldwell-Oviedo se multiplicam.
— Eu adoro mulheres como gênero, mas não me imagino com uma só.
Relacionamentos exigem dedicação e a minha vida é o golfe.
— Todos os guerreiros dizem isso antes da queda.
— Falou o maior galinha de Boston.
— O que eu posso dizer? Depois que meu irmão se casou com a sua irmã,
patrocinador.
— Continua na mesma para mim. Estou de saco cheio de festas em que
sempre vemos as mesmas caras.
— E se não puder ver?
— O quê?
— A partir de meia-noite, a festa vai ser no escuro. Boate, muita bebida,
mulheres lindas. Nada de luz.
— Nunca ouvi falar disso. Restaurante no escuro, sim. Boate, nunca. A
ideia não me agrada. Sobre o restaurante, quero dizer. Sou controlador
— Sim, mas se estiver chato, antes mesmo das luzes apagarem, eu caio
fora.
Capítulo 3
Petal
precisasse usar vestido longo. Mas ele não daria a mínima se eu faltasse à sua
festa privada no escuro que acontecerá depois. Isso me parece meio sinistro.
— No baile de máscaras só haverá pessoas enfadonhas. Se quer diversão,
sou a pessoa certa para lhe mostrar o mundo.
tem em mente.
— E que tipo seria isso?
— Sexo.
Eu gostaria muito de me perder em uma noite de sexo suado, mas não
com você. Não dificulte as coisas, por favor.
Eu tive somente um namorado na vida e não foi nada memorável, mas
nem posso culpá-lo. Ambos com recém-completados dezoito anos, o que
esperar?
Depois de adulta, das vezes em que tentei sair com alguém, porque não
sou de ferro e preciso de uma pausa mesmo com todos os problemas
financeiros, só tive decepção. Esses encontros nunca foram além de um
jantar.
A lista do “contra” que meu irmão fez só cresce, então oficialmente eu
sequer beijo um rapaz há mais de um ano.
— Não vou negar, mas com você é diferente…
Reviro os olhos.
— Pare ou vou desistir da festa — falo, meio brincando, meio sério
porque não tenho dúvidas de que meia hora depois que o tal baile de
máscaras começar, seguido da festa na escuridão, Lleyton já terá uma
companhia. — Existe uma explicação para seu desejo de sair comigo.
— É mesmo? Do que se trata?
Volto para minha mesa pensando se, depois dessa conversa, não deveria
recusar o convite para a festa após o baile. Mas o problema é que estou muito
curiosa.
Eu provavelmente nunca mais terei outra oportunidade como essa. Não
são as pessoas que estarão lá o que me faz desejar ir. Não dou a mínima para
celebridades. Sangram como todos nós, mesmo que alguns pensem que o
deles é azul. O que me faz querer participar do evento mesmo é o luxo.
Lleyton brincou, mas talvez seja a única noite que terei em minha vida
inteira em que posso fingir que sou uma princesa sofisticada e não uma
secretária júnior com mais contas para pagar do que existem dias no mês.
— Sonhando acordada, Petal?
Tomo um susto quando vejo meu patrão, doutor Augustus Acker, parado
na porta da sala.
— Eu sinto muito. Estava falando comigo? Às vezes me distraio.
Ainda fico um pouco embaraçada na frente dele, apesar de parecer fazer
de tudo para me deixar à vontade. Foi assim desde a primeira vez em que nos
encontramos. Simpático e nem um pouco arrogante.
— Estava pensando na festa para qual o seu filho me convidou depois do
baile.
Ele cruza os braços e sacode a cabeça de um lado para o outro, como se
desaprovasse o evento. Aliás, ele parece desaprovar um monte de coisas em
que não havia nada além de amizade entre nós dois, relaxou.
— O nome parece meio redundante — brinco e ele sorri.
— Não quer ir?
— Tenho medo de me sentir desconfortável mas, ao mesmo tempo, estou
curiosa.
— Se ficar com vergonha, a escuridão será uma aliada. Você e meu filho
se tornaram amigos de verdade, não é?
— Se eu responder que sim, serei despedida?
— Não.
— Sim, acho que podemos dizer que somos amigos.
Ele concorda com a cabeça.
Não é estranho que seu único herdeiro tenha se aproximado de uma
funcionária e que isso não o aborreça?
Eu o encaro em dúvida sobre como perguntar o que quero saber. Não é a
primeira vez que quase toco nesse assunto e acabo recuando.
— Posso lhe perguntar uma coisa?
Ele me olha com cautela e sua postura muda, o que é bem esquisito.
benefício que a empresa concede aos funcionários e agora sou uma secretária
júnior. Não que isso seja algum privilégio, porque há mais quatro como eu só
para servi-lo, mas o salário é muito melhor.
Alguns funcionários ficaram com raiva de mim porque acharam que eu me
aproveitei da improvável amizade com o CEO para galgar na carreira.
Entretanto, por mais que eu me sinta incomodada com os olhares deles,
não poderia me dar ao luxo de recusar a promoção. Cada um que pense o que
quiser, no fim de tudo, estou sozinha para cuidar da minha família. Um prato
de comida quente na mesa, o aluguel pago e meu irmão vestido e calçado
meu salário e tento desempenhar minha função o melhor possível, mas nunca
vou aceitar qualquer outro tipo de auxílio injustificado.
— Agora parece que eu é que a ofendi.
— Não mesmo. Só estou esclarecendo que apesar de pobre, não espero
benefícios que não faça por merecer. O senhor me promoveu e eu agradeço.
Trabalho até tarde para que não se arrependa da chance que me deu, mas…
— Petal…
— Por favor, deixe-me concluir. A única coisa que eu tenho na vida é
minha honra. Receber um salário porque trabalho para isso, faz com que eu
mas preciso deixar claro em que ponto estamos, somente para o caso dele
estar pensando algo diferente.
Nunca tentou avanços comigo, mas o que sei sobre homens poderosos?
Nada.
— Não há qualquer interesse oculto. Gosto de você e isso é tudo. Mas
agora sou eu quem quer lhe fazer uma pergunta: se é tão importante para você
preservar seu orgulho, por que aceitou o vestido que mandei entregar na sua
casa?
Petal
— Nossa, pela sua cara você parece que está a caminho de um enterro, não
uma festa de bilionários — Phoenix diz.
Olho para o vestido de seda cor de vinho em cima da cama, com certeza
corpo. Tão colado que parece que foi cortado sob medida. Não sou tímida,
mas ver meus quadris e bumbum tão marcados naquela roupa me deixa
insegura. O tipo sexy não combina comigo. Faço o estilo casual fora do
trabalho, até por falta de recursos mesmo — lá usamos um pretinho básico e
suas roupas na internet tive um mini infarto. Eles começam em cinco mil
dólares. Eu o devolverei com certeza. Deve ser possível ajustá-lo para outra
funcionária caso haja uma situação de trabalho/festa como essa.
— Estou ansiosa — confesso.
— Não estou reclamando. Você e titia são meu tudo, mas eu mal consigo
me olhar no espelho. Nunca dá tempo de lavar o cabelo com mais cuidado,
sair com amigos. Tenho vinte e um, mas me sinto com cem.
— Por causa da nossa situação financeira?
— Por tudo, eu acho. Estou sempre cansada. Muito cansada. Não sei o que
é me divertir. Vejo as mulheres lá do trabalho conversando e elas parecem tão
alegres e descoladas, sabe? Todo mundo sai às sextas para um barzinho e às
vezes me chamam, mas eu me sinto desmotivada. Ao invés de um lugar cheio
— Será que não vai pegar mal porque de certo modo é uma festa do
trabalho?
— Estou falando da que vai ter depois. A do escurinho.
Gargalho.
Sorrio e aceno com a cabeça pela milésima vez quando alguém conta o
que deveria ser uma piada. Acho que já fiz tanto isso nessa noite que vou
vida.
— Não está? — insiste.
— O lado positivo é que não era esse o objetivo do baile de máscaras, mas
angariar fundos para sua instituição de caridade. Vim aqui como funcionária.
Fiz uma refeição maravilhosa que nunca poderia pagar, então acho que nesse
caso, diversão é superestimada.
Ele dá um sorriso discreto, como se estivesse constrangido.
— A partir de agora, considere-se liberada. Bonita como está, tenho
certeza de que logo conseguirá se divertir na tal Noite Escura.
— Não é errado? Quero dizer, por eu trabalhar para o senhor, não seria
antiético que eu me divertisse como uma convidada comum?
— Filha, a festa é de Lleyton. Repare que os meus convidados já estão
partindo e essa é minha deixa para sair também. Ninguém depois dos trinta e
Petal
Depois que ele sai, passo algum tempo andando pelo salão. Estamos em
uma mansão isolada, a cerca de meia hora do centro de Boston, que foi
alugada especialmente para as festas.
Quando o táxi me trouxe, tantas perguntas foram feitas na guarita cercada
de seguranças antes de me permitirem entrar, que não estranharia se
quisessem saber o tamanho da minha lingerie também.
Coloco a taça de água que estou segurando em uma mesa no canto e
Começo a circular e percebo que realmente a maior parte das pessoas mais
velhas está indo embora.
Paro no meio do salão e fico em dúvida do que fazer agora. Estou me
sentindo deslocada, mas tentando o meu melhor para não deixar transparecer.
Nesse instante, a máscara que uso é muito bem-vinda, pois cobre até quase
minhas bochechas, que sinto esquentarem.
Aperto minha bolsa de mão com força, louca para sair correndo. Quero
voltar para a segurança e zona de conforto que minha casa representa.
Entretanto, ouço a voz do meu irmão me dizendo para fingir que sou um
deles.
Posso fazer isso?
E então, como se a vida me oferecesse um desafio, quando levanto a
Não consigo ver muito de seu rosto, mas uma barba do mesmo tom escuro
do cabelo recobre o queixo quadrado.
Tem um copo de uísque na mão e passa a vista no salão parecendo
entediado. Quando já estou pensando em ir para o outro lado, para não ficar
como uma idiota que nunca viu um homem bonito na vida, ele foca em mim.
Focar é um bom verbo nesse caso, porque toda sua postura muda. Vejo,
fascinada, ele enrijecer a coluna como um predador pronto para o ataque,
agora absolutamente concentrado em me encarar.
É um olhar de puro interesse masculino.
Sinto um estremecimento percorrer meu corpo e os bicos dos meus seios
despontarem no vestido. Preciso de muita força de vontade para não cobri-los
com as mãos, porque isso só chamaria mais atenção ainda para meu estado.
Prendo o fôlego.
O homem faz com que o termo beleza soe como algo banal.
Manter-me parada não é mais uma escolha, mas como se seu olhar me
prendesse no lugar.
E não estou preparada para o que vem depois.
Os lábios se movem e ele mostra os dentes em um sorriso tão sensual que
me faz imaginar aquela boca percorrendo meu corpo inteiro.
Como se tivesse vida própria, espelhando sua ação, eu sorrio também. Um
sorriso muito envergonhado, mas ainda assim, um sorriso.
aventureira que eu tente ser, ficar no escuro com estranhos sendo que a única
pessoa que conheço é Lleyton, é um pouco assustador.
Confiro as horas no meu celular e vejo que tenho mais alguns minutos
antes que as luzes se apaguem.
Estou quase chegando no alto da escadaria quando alguém segura meu
braço. Volto-me para ver quem é e me deparo com Lleyton.
— Já fugindo? As luzes nem foram desligadas.
— Sou tão transparente assim?
— Depois que meu pai saiu de perto de você, ficou parecendo um
Tento evitar fazer careta quando a bebida desce pela minha garganta, mas
é difícil. É amarga e faz cócegas no nariz.
— Bom? — pergunta e acho que esconde um sorriso.
— Hum… Não é péssimo.
É, definitivamente eu não sou chique. Achei o tal do champanhe horrível.
— É a pior mentirosa do mundo, Petal.
— Não estava tentando mentir, mas ser educada.
— Sinceridade extrema não se trata de um defeito. Na verdade, é uma das
coisas que mais gosto em você.
Alguma coisa na maneira como ele diz aquilo me incomoda, mas não
consigo identificar o que é e de repente, percebo que não tem mais
importância porque começo a me sentir mais leve, liberada da tensão de
poucos segundos atrás.
la pela festa inteira sem nem ao menos ter certeza se não está com alguém.
— Eu não estou. Subi para fugir da festa — falo, antes que possa me
parar.
O que está acontecendo comigo?
— Aqui em cima parece um programa bem melhor. — diz.
— Não há nada aqui.
— Tem você. E é o que eu quero hoje.
Capítulo 6
Petal
Eu gostaria que a luz estivesse acesa para que pudesse ver o rosto dele.
Quão azarada eu tenho que ser para ser paquerada pelo homem mais
bonito que já vi na vida — se o que a máscara me deixou perceber
complementar o resto do conjunto — e isso acontecer em uma festa escura?
— Você tem um nome?
Geralmente me saio melhor em interações, mas meu cérebro parece ter
em ir.
— Viria comigo sem me conhecer? Eu poderia sequestrá-lo.
Jesus, o que está havendo comigo? Não sou do tipo que flerta.
É estranho que eu possa sentir seu sorriso mesmo sem conseguir vê-lo?
E minha intuição é confirmada quando ele se abaixa e fala perto da minha
orelha:
— Sequestre-me, então, menina bonita. De repente, fiquei a fim de me
perder.
— Vamos ter que explorar juntos. Nunca vim a essa casa.
Dou risada do pensamento idiota e mais uma vez penso que não deveria
ter bebido aquele champanhe.
— O que houve? — ele pergunta quando entramos no que parece ser um
quarto.
— Um pensamento bobo, somente.
— Você está bêbada?
Sua voz demonstra preocupação.
— Não, e você?
É verdade, eu não estou. Somente fora do meu estado normal. Sou uma
pessoa naturalmente tensa, preocupada, mas nesse instante, é como se todas
as minhas inibições tivessem evaporado.
— Não dirigiria agora, porque álcool não é muito a minha e tomei duas
doses de uísque, mas sei quem é você.
— E quem sou eu, Rafael?
Suas mãos vêm para minha cintura.
— A deusa de cabelo loiro quase branco que fugiu de mim lá embaixo.
Puxo a respiração e o ar vem com dificuldade.
Frio na barriga, calor. Estou sendo consumida por sensações e ele nem me
beijou ainda.
É uma atração carnal, algo que nunca pensei que fosse capaz de sentir.
Quando acredito que vou finalmente sentir seus lábios, ele me surpreende,
soltando minha máscara.
— Por que fez isso?
— Quero tocar seu rosto sem barreiras entre nós, Petal.
Meu Deus do céu, a maneira como o homem fala é tão erótico! É como se
Ele me suspende, tirando meus pés do chão e posso sentir seu sexo duro
através da roupa.
— Aqui? — pergunta, mordendo meu pescoço.
Não precisa dizer mais nada porque nós dois sabemos do que está falando.
Rafe
afastou do circuito mundial, mas antes de vê-la, essa festa estava chata para
caralho.
Estava, guarde bem esse verbo, porque agora há algo — alguém — que
virou completamente o jogo.
O cabelo dela, solto e longo, é de um tom tão claro que se destaca em
contraste com o vestido, da mesma cor de uma taça de vinho tinto. É isso o
que me prende a atenção em primeiro lugar. Porque mesmo com uma roupa
adequada para uma festa à noite, ela parece cem por cento natural, como uma
brisa fresca, se destacando.
Entretanto, após uma verificação completa, percebo que tudo nela e não só
o tom chamativo do cabelo, me agrada muito.
Ela tem uma cintura fina, daquele tipo que lembra uma pin-up[18] e só
consigo pensar em como ficaria vestida em espartilho de seda negra, cinta
liga e saltos.
Não sinto qualquer vergonha de admitir que devoro seu corpo com os
olhos. A mulher é uma escultura e o vestido colado não deixa muito à
imaginação.
Suas pernas são longas, apesar de poder ser considerada baixinha e mesmo
que completamente cobertas, me excitam. Já as imagino à minha volta
enquanto a seguro pelos quadris, entrando nela.
Finalmente foco em seu rosto e a pego em flagrante, me encarando sem
disfarçar o interesse.
Sorrio porque ela parece uma presa intimidada, mas não desvia o olhar.
Porra, eu daria qualquer coisa para arrancar aquela máscara e ver o que
complementa a boca carnuda. De longe também não consigo definir bem a
cor dos seus olhos, mas terei tempo para isso mais tarde, porque na minha
cabeça, não há dúvidas de que quero a mulher linda para essa noite.
Nunca fui de esperar as coisas acontecerem, então resolvo ir à caça. Levá-
la embora daqui se tornou meu objetivo, mas nesse exato momento, Archer
resolve aparecer, se interpondo entre nós.
— A festa está uma merda. E você tinha razão quanto as máscaras. Estou
me sentindo ridículo. Se a tal Noite Escura não começar logo, estou indo
embora.
— Eu não — falo, olhando por cima do ombro dele.
Mal ouço o que ele diz, correndo os olhos por todo o andar inferior
enquanto circulamos, quando vejo um pedaço de tecido vinho no alto da
escada.
— Achei. Não me espere para ir embora. Vou levá-la comigo.
— Se quer mesmo essa menina é melhor se apressar. Ouvi alguém
dizendo que as luzes se apagarão daqui a poucos minutos.
A escadaria está cheia, não só de pessoas transitando, mas algumas
paradas.
Vejo-a conversando com um cara loiro e aguardo a alguns passos de
distância.
Eu tenho muitos defeitos, mas há uma regra a qual sou fiel: nunca me
envolvo com a mulher de outro. Nem por um segundo considerei que ela
poderia estar acompanhada.
Merda.
Logo depois, no entanto, vejo o sujeito se afastar e a loira continuar seu
caminho.
Sua bunda é empinada, contrastando com a cintura fina. Ela tem um
suave rebolado quando anda, que é sexy para caralho.
— Encontrei você — falo.
Sim, sutileza nunca foi meu forte.
Como eu esperava, ela olha para trás.
Não, acho que feiticeira seria mais apropriado. Só isso explicaria me fazer
procurá-la pela festa inteira quando eu nem ao menos tinha certeza se não
estava com alguém.
Cartas na mesa para que não tenha dúvidas do que desejo.
— Tudo bem, ficamos por aqui então, mas não curto muito barulho. Onde
estava indo?
— Fugindo do barulho, também. Isso é estranho, já que estamos em uma
festa e o barulho deveria ser bem-vindo.
— Vamos ser esquisitos juntos então, Petal. Leve-me para onde pensou
em ir.
— Viria comigo sem me conhecer? Eu poderia sequestrá-lo.
Porra, ela me excita demais. Há muito tempo não preciso jogar para
ganhar uma mulher e o flerte leve do anjo loiro está fazendo meu sangue
ferver.
Abaixo-me para falar perto do lóbulo dela, os lábios roçando a carne
macia.
para o outro.
— O que houve?
— Um pensamento bobo, somente.
— Você está bêbada?
— Por quê?
— Achei que era impossível não estar acompanhado. Mesmo com o rosto
parcialmente coberto, percebi que você é lindo.
— Eu nunca estou acompanhado.
— Por que não?
— Nenhuma razão, mas prefiro sair sozinho e escolher. Relacionamentos
não são para mim.
Independentemente do tempo que passe com minhas parceiras, uma
semana, um dia ou uma hora — não as iludo.
Rafe
Eu a puxo para mim, não permitindo mais qualquer vão entre nós. Preciso
sentir cada curva de seu corpo delicioso.
Petal é toda feminina, quadris largos, bunda grande, peitos tentadores.
Cada reentrância se encaixa perfeitamente contra minha dureza, como se
fôssemos peças de um quebra-cabeça à espera do complemento.
A boca quente se abre como uma flor delicada. Ela se oferece,
implorando para ser tomada, e meto minha língua com gosto, explorando seu
sabor doce.
Treme contra meu corpo e imita minha dança entre seus lábios, as línguas
isso.
— Acredite quando eu digo que desde que mordeu o lábio e sorriu para
mim lá embaixo, você me seduziu.
Eu me sento e o movimento faz com que o vestido escorregue pelo seu
corpo.
Posso sentir sua respiração pesada, agora que estamos mais próximos.
Ao invés de tocá-la com a mão, abaixo a cabeça e pego só o mamilo entre
meus lábios. Sugo e mordisco, e ela geme, agarrando meu cabelo.
— Eu quero você me entregando esses sons quando eu estiver comendo
sua boceta com a minha língua.
Ela segura meu rosto e, se ajoelhando, toma a iniciativa de me beijar.
Movo a mão entre nós e, com os polegares, acaricio os mamilos rijos.
Toco por cima da calcinha encharcada, sem parar de sugar seu peito, o
dedo médio fazendo um vai e vem gostoso no clitóris.
Ela arfa e as pernas se desmancham.
— Quero sentir você nu também.
— Não consigo parar de tocar você, Petal. É como um vício. Quero mais
de sua pele e desse gosto doce.
— Por favor, tire tudo.
Eu a levanto de cima de mim, mas ao invés de fazer o que me pediu,
depois de terminar de tirar minha camisa, puxo sua calcinha pelas pernas.
Beijo o interior de suas coxas e, a cada estremecer dela, meu tesão aumenta.
Ela é muito responsiva e mal posso esperar para senti-la à minha volta, me
apertando e sugando-me para dentro do seu corpo.
Meus dedos seguem um caminho reto até o vértice entre suas coxas.
Reclinado sobre ela, sugo o mamilo e quando meu polegar resvala seu
clitóris, a delícia quase se levanta da cama.
— Porra, eu quero entrar tão duro em você, mas também preciso chupar
essa boceta ou vou enlouquecer.
Coloco suas pernas sobre meus ombros, separo os lábios úmidos com as
duas mãos e mamo seu clitóris. Petal quase se levanta da cama, mas eu não
paro.
Lambo seu sexo de boca aberta e meto a língua muito fundo.
Ela goza mais rápido do que eu previra, molhando minha boca, e eu sugo
tudo, engolindo seu mel.
Levanto-me e fico nu mais rápido do que já me lembro de ter feito, mas
não antes de pegar um preservativo na carteira. Visto-o, prometendo que vou
fazer lento na segunda vez, mas agora preciso muito forte, quero ouvir nossas
carnes se batendo.
Posiciono-me entre suas coxas, apoiado nos cotovelos, e mordisco seu
lábio inferior.
Passo meu polegar no contorno dos seus lábios e ela suga meu dedo.
Mordo seu pescoço como uma espécie de punição por me deixar tão louco.
Ela geme e de novo os quadris se erguem da cama.
Pego uma de suas pernas e coloco à minha volta, a cabeça inchada do
Ela se aperta no entorno, pulsando, e eu sei que não posso mais esperar.
— Eu preciso entrar em você.
Separa as coxas e sua submissão me enlouquece.
Encaixo-me e começo a penetrá-la.
Juntos somos como puro aço do meu pau contra a seda de sua boceta;
mesmo através do preservativo, posso sentir sua maciez e quentura.
— Mais — pede.
— Estou tentando não te machucar. Você é muito apertada.
— Eu…
— O quê?
— Está muito… ah… Muito gostoso assim, mesmo doendo um pouco.
Não pare.
Empurro nela para que apenas a cabeça do meu pau entre por completo,
assim: uma mão brincando com seus peitos e a outra acariciando o clitóris
rijo. A boca roubando beijos.
A posição é uma delícia, mas não me permite fodê-la como eu quero.
Depois de mordiscar sua orelha, eu a faço se inclinar.
Penetro-a até a base, minhas bolas encostando em seus pelos. Ela se fecha
como uma luva apertada à minha volta, suas paredes internas comprimindo
quase ao ponto da dor.
Merda, vou resistir muito menos tempo do que gostaria, mas eu trouxe
Petal
— Onde pensa que está indo? — Ouço uma voz masculina, meio
sonolenta, me perguntar no escuro quando me sento na cama enorme,
tentando me situar no universo.
— Não sei. Levantar, eu acho.
— Ainda não. Quero um pouco mais de você.
Ele me puxa de novo para seus braços e agora que aquela estranha névoa
passou, me sinto um pouco intimidada por estarmos ambos nus.
Entretanto, rapidamente essa vergonha se desfaz quando sinto o calor de
seu abdômen contra meus seios, já que ele me puxou para cima de seu corpo.
Sua mão enrosca em meu cabelo, a boca tomando a minha. Reconheço seu
toque e sabor, aos poucos lembrando o que aconteceu depois que chegamos
ao quarto.
Sinto calor esquentar meu rosto e pescoço.
Eu fui para a cama com um desconhecido. Depois de uma única
experiência sexual frustrada aos dezoito anos — a perda da minha
virgindade — eu fiz amor com um homem do qual eu não sei nada.
Obrigo-me a me afastar um pouquinho porque não consigo pensar com ele
— Rafael Oviedo.
É minha vez de dar risada.
— Isso foi engraçado.
— Não sabia quem eu era mesmo... — diz, como se falasse consigo
mesmo.
— Você é o campeão de golfe?
Minha voz sai meio estrangulada e a vontade de correr é muito grande,
mas nem teria essa opção, porque seus dedos começam a correr minha
coluna.
— Não, nesse momento sou o cara que vai te fazer gozar gostoso, Petal.
Nessa segunda vez em que acordo, ele não tenta me impedir de sair e acho
que é porque está dormindo pesado.
Rafael Oviedo!
Jesus Cristo, o que eu fiz?
A ideia de me misturar aos bilionários saiu completamente de controle. O
homem aparece em capaz de revistas com as mulheres mais lindas do mundo.
Começo a recolher minha roupa pelo chão com a ajuda da luz do celular.
São três da manhã e o dia vai demorar muito a clarear. Como prometeu,
provavelmente Lleyton só mandará religar a energia ao amanhecer.
Preciso ir embora daqui o mais rápido possível porque eu não tenho a
menor dúvida de que quando ele souber que sou literalmente a Gata
Borralheira e não uma das ricaças com quem costuma sair, vai se arrepender
do que aconteceu.
Eu não e vou guardar o que vivemos para sempre na memória. Se ao
clarear o dia, ele me rejeitar, eu vou me sentir usada e por enquanto para
mim, esse é um jogo de iguais: nos desejamos mutuamente e fizemos amor.
Além disso, tem o fato de que se eu saísse pela manhã e encontrasse com
Lleyton, morreria de vergonha. Ele iria somar dois e dois e perceber que
dormi com um de seus conhecidos.
Acho que nunca me vesti tão rápido na vida. Toda a letargia da noite
passada desapareceu. Preciso fazer uma anotação mental para nunca mais
tomar champanhe.
Deixo minha máscara no chão. Não há mais qualquer sentido em usá-la,
como ele bem apontou há algumas horas.
Olho para trás e vejo o contorno do corpo masculino em cima da cama. O
meu acende ao me lembrar do que fizemos, das coisas que ele me disse.
Doce Senhor, o homem é um sedutor. Chega a ser injusto com o resto da
humanidade.
Agora que sei quem ele é, tenho seu rosto, que aparece principalmente em
comerciais de uma marca de carro de luxo, claramente na minha memória.
Ele não é só perfeito fisicamente, mas como pude comprovar por essas horas
que passamos juntos, sensual demais.
O primeiro andar está um breu e não consigo ver nada, apesar de escutar
sussurros, provavelmente de alguns casais espalhados.
Também há música ambiente, mas se eu pudesse chutar, diria que a
maioria das pessoas está espalhada fazendo o que eu e Rafe fizemos há
algumas horas.
Assim que a alcanço, tento ligar para o serviço de táxi, ao mesmo tempo
em que finjo não notar os olhares que os guarda-costas me dirigem.
Há tochas iluminando os jardins, permitindo que vejamos perfeitamente
uns aos outros.
Pelos seus rostos, deixam claro que não é a primeira festa do tipo que
trabalham. Será que sabem o que acontece lá dentro?
Que vergonha!
O telefone está sem sinal.
Droga!
— Táxi, senhorita? — um dos seguranças pergunta, ao se aproximar.
— Sim, mas meu telefone não funciona.
— Aqui às vezes funciona e às vezes não, dependendo da operadora de
telefonia. Doutor Lleyton Acker pôs vários motoristas à disposição dos
convidados, justamente por isso. Se fizer a gentileza de me acompanhar, eu a
levarei até um deles.
Andamos em silêncio até o local onde os carros estão estacionados no
pátio da propriedade e quando chegamos lá, ele abre a porta para mim.
Rafe
Não é inédito fazer sexo por uma noite com alguém que acabei de
conhecer. É muito comum na minha vida, mas é a primeira vez em que a
mulher vai embora antes de mim.
Começo a me vestir, pensando em como fui arrogante ao ponto de não
perguntar porra nenhuma sobre ela, certo de que acordaríamos juntos.
Não, não é arrogância, mas uma questão de fato. As mulheres raramente
encaram o sexo como nós. Por mais que haja um acordo não expresso em
palavras de que será somente uma relação casual como nessa noite, ainda
assim, na maioria das vezes, esperam por mais. Por isso achei que ela estaria
suficiente de Petal ainda. Preciso de mais noites com ela em minha cama
porque não me lembro de já ter experimentado antes uma química sexual tão
intensa com uma mulher.
Eu ainda consigo sentir o gosto doce de sua boceta em minha língua. Os
gemidos de prazer cada vez que martelava gostoso dentro dela.
Porra! Eu quero mais. Preciso encontrá-la.
Meu celular toca e vejo que é Archer.
— Estou indo embora agora. Ainda está na festa?
— Para quê? Não vai se isolar na tal ilha? Quando voltar ela
provavelmente já estará até casada — debocha.
Sei que ele tem razão com relação a tudo. Qual a chance daquela deusa
continuar solteira por um ano? Mas não estou pronto para ceder tão fácil.
Mais uma noite com ela é tudo o que preciso e então, poderei seguir em
frente.
— Vou descer — respondo, sem me comprometer com relação a Petal. —
Disse que ainda está aqui?
— Sim, do lado de fora, já. A festa ainda está rolando, mas para mim já
deu. Essa coisa de adolescente de foder na casa dos outros não é a minha.
— O que não o impediu de fazê-lo.
Outra risada.
sociais, mas com o fato de que tira minha concentração do que realmente
importa — o golfe — e também me dá uma dor de cabeça fodida com a
minha família.
Quer deixar dona Isabel louca? Fale sobre a possibilidade de que eu tenha
viajar. Preciso ouvir seus gemidos mais uma vez antes de me isolar em meu
retiro voluntário.
Piso no último degrau da escada e agora já se consegue ver alguns
contornos dos corpos espalhados pelo ambiente. Gemidos também, o que
significa que há muitas pessoas se divertindo.
Balanço a cabeça, prometendo a mim mesmo que é a última vez que deixo
Archer me arrastar para esse tipo de merda. Mesmo que a festa tenha sido
uma agradável surpresa por conta do encontro com minha Pétala, estou velho
demais para fazer sexo sabendo que há pessoas do outro lado da parede.
— É o quê?
— Diferente para caralho do que estou acostumado. Toda natural.
— Não acho que esteja falando de silicone.
— Deixa para lá. Você é um idiota.
— E você está começando a falar igual a Raul quando se casou com
Martina. Deixa eu me afastar antes que essa porra de vírus do amor me
contamine.
— Quem falou em amor? Isso é sobre atração sexual.
— Que seja! Mas novamente, como pretende se encontrar com sua loira se
Petal
Horas depois
— Talvez porque finalmente tive minha noite de Cinderela. Pena que foi
no escuro.
— Não entendi.
— Deixa para lá. Não é nada que…
— Lá vem você dizer que não é nada que alguém da minha idade precisa
saber. Quando é que vai se convencer de que sou o homem da casa, irmã?
Eu começo a rir, mas depois o olho séria.
— Não existe isso de homem da casa, Phoenix. Esse pensamento é
— Sim, e preciso dizer que valeu por cada segundo desses anos todos sem
namorado.
— Nossa, que susto.
— O que foi?
— Por um momento achei que pudesse ser o filho do seu chefe. Eu não
vou com a cara dele.
— Por que não?
— Não sei explicar. Só não fui com a cara dele.
— Ele é mulherengo, isso sim. Quer qualquer uma que passar na frente
dele, mas não é má pessoa.
— Tudo bem. Não quero estragar seu dia falando sobre aquele homem.
Conte como foi a festa. Tinha muitos atletas?
— Não sei. Com todo mundo usando máscara, não dá para saber quem era
quem.
— Então como conheceu seu namorado?
Bato com o pano de prato nele.
— Não é meu namorado. Foi alguém que eu fiquei.
— Com a luz acesa ainda?
— Sim, mas ambos estávamos de máscara.
— Nomes. Trabalho com nomes.
Sinto meu sangue gelar. Aficcionado por esporte como é, não há maneira
de Phoenix não saber quem é Rafael Oviedo e não estou disposta a
compartilhar a loucura que cometi.
Meu irmão ainda é praticamente uma criança e vai alimentar fantasias
sobre eu namorar um atleta famoso.
— Por quê?
— Queria saber se há chance de que seu namorado secreto seja um atleta.
— Hum… acho que não — desconverso. — Agora, que tal irmos levar a
titia para dar uma volta?
Tia Darcy, que foi quem nos criou, já que minha mãe faleceu no parto de
Phoenix, tem andado um pouco melhor. Nada perto do que eu me lembro de
como era antes da doença se manifestar, mas ainda assim, melhor.
Há cerca de dois anos, ela nos confessou que vinha escondendo os
pensou em dar fim à própria vida e que só não o fez ainda por nossa causa.
— Acha que ela gostaria de dar uma volta lá fora na cadeira de rodas?
— Sim. Ela fica animada quando saímos.
Ele anda na minha frente, já se encaminhando para o quarto de titia.
— Phoenix.
Olha para trás.
— Você é um menino de ouro.
— Me aguarde. Quando eu me tornar CEO, vou ser um homem de ouro.
Horas depois
cadeira de rodas.
Acabamos de voltar e percebo que ela ainda não está pronta para ir para
casa.
— Sim.
Há um ano ela já quase não fala e quando o faz, a voz sai arrastada, com
dificuldade. Eu, Phoenix e a cuidadora fazemos de tudo para estimulá-la a
conversar, mas parece cada vez mais sem vontade.
Volta e meia eu a pego com o olhar perdido e me pergunto quanto tempo
mais aguentará. Os médicos disseram que a evolução da doença foi muito
rápida. Para uma mulher acostumada a sair para dançar todas as sextas, sua
atual condição deve ser desanimadora.
Ela aponta para algo atrás de mim e quando me viro, vejo um pica-pau em
uma árvore próxima. Titia sempre amou pássaros.
— Lindo — diz.
— Sim, ele é.
— Livre — continua e sinto meus olhos doerem de vontade de chorar.
— Sente-se presa?
Eu sei a resposta. Não é a primeira vez que conversamos sobre isso.
Ela acena com a cabeça.
— E então, o que vocês estão fofocando?
Phoenix volta a se aproximar.
Ele tinha saído para conversar com o vizinho, que estava chegando no
prédio.
Olho para minha tia de uma maneira cúmplice.
— Coisas de meninas, não é, tia?
— Sim — diz. — Beijo — fala e meu irmão se abaixa para fazer o que ela
pediu. — Família.
Eu prendo os dois em um abraço.
— Sim, nós somos uma família.
Capítulo 12
Rafe
— Então não mudou mesmo de ideia com essa coisa louca de ir para uma
ilha deserta? — minha irmã caçula, Martina, pergunta.
Reviro os olhos, mas antes que eu possa falar qualquer coisa, minha
refeitório.
Estamos no tradicional almoço de domingo na casa dos meus pais e acho
que é isso o que mais sentirei falta ao me isolar — minha família.
Por outro lado, sei que chegou o momento de dar uma parada definitiva e
pesar meu futuro no esporte. Minhas lesões agora são recorrentes e cada vez
que me machuco, é frustrante para caralho. Já terminei circuitos me forçando,
morrendo de dor, o que agravou ainda mais minha condição.
— O que está pensando? — meu pai pergunta para que só eu ouça. Estou
sentado à sua esquerda.
— Eu não queria ir. Manter-me longe de um campo de golfe é tão
doloroso quanto ficar sem respirar. Não sei fazer outra coisa, pai.
— Talvez seja a vida lhe dando uma chance de um recomeço.
sempre. Sei que não é esse o seu caso porque nunca levou alguém a sério,
mas não se feche caso aconteça.
— Não gosto de surpresas ou de sair do meu caminho.
— Eu também não gostava. Era arrogante…
— Era?
— Tudo bem, esse é o nosso traço familiar e pode-se culpar totalmente os
Caldwell nesse quesito. Mas voltando, eu era arrogante e achava que não
precisava de alguém. Tinha tudo programado e, no entanto, quando ela
ir.
Eu a abraço apertado.
— Deseje-me sorte.
— Sempre, meu filho. Meu coração e orações estarão com você.
Dias depois
Enquanto o avião sobrevoa a ilha grega, eu penso, não pela primeira vez,
na loira que fugiu de mim há alguns dias.
seus filhos avisem que chegaram bem aonde quer que formos.
O telefone provavelmente será meu único contato com o mundo nesse
período, e assim mesmo, somente com a família e meu empresário.
Quando puxo o celular, encontro um pedaço de tecido que acredito ser um
Petal
Boston
diferença, é que hoje não há nada que ele possa fazer para me convencer a ir.
— Não, obrigada.
— O que há de errado com você?
— Minha tia piorou. Eu tenho dormido mal e vivo preocupada de um dia
chegar em casa e…
Não concluo a frase porque a simples possibilidade me aterroriza.
— Às vezes precisamos deixar as pessoas irem.
Eu sei que o que ele está falando faz sentido, mas me recuso a discutir
algo tão profundo quanto a perda da mulher que é como uma mãe para mim.
— Deseja alguma coisa?
— Você tem andado com um mau-humor infernal, Petal. Aliás, desde que
voltamos da Noite Escura, quando fugiu de mim.
— Eu não fui com você, em primeiro lugar, mas como uma convidada
qualquer, então me dei o direito de circular livre pela casa.
— E o quão livre você circulou?
— O quê?
— Você sumiu por horas e só pela manhã, quando olhei as câmeras, foi
que vi o momento em que partiu da festa.
— Se eu não o conhecesse, diria que isso agora soou um pouco louco.
Sabe, aquela coisa de perseguidor — falo, meio brincando, meio sério.
grosseira.
— Você não foi. Nunca é. Mesmo quando é uma bruxa, você é boa.
— Feiticeira — falo antes que consiga me parar, lembrando-me da
palavra sussurrada por Rafael Oviedo em meu ouvido.
— O quê?
— Nada. Somente algo de que me lembrei. Quanto ao convite para a festa,
a resposta ainda é não. Quero voltar para casa e ficar com a minha família.
Mas obrigada por pensar em mim.
Ele pousa as duas palmas das mãos sobre a minha mesa e se inclina para
frente. Com qualquer outro homem, eu me sentiria ameaçada, mas não com
Lleyton.
— Um dia… — ele começa, mas não continua.
— O quê?
— Nada. Sou um homem paciente, Petal. Só grave isso: um dia.
Ele sai sem qualquer explicação, me deixando para tentar entender aquele
enigma.
Recolho as minhas coisas para voltar para casa. Ao me levantar, uma forte
tontura me atinge. Já é a terceira nessa semana, mas dessa vez eu quase caio,
precisando me apoiar na mesa.
Acho que deve ser falta de sono. Com todos os problemas em relação à
saúde da minha tia, não consigo descansar um só minuto.
Se tudo der certo hoje, vou fazer o jantar, que essa noite é a minha vez, já
que revezo com Phoenix e depois de um banho quente, me jogar na cama.
Nem chego a alcançar a porta da minha sala, quando meu celular toca.
— Petal?
Só pela voz dele, sei que há algo muito errado.
— Phoenix, o que houve?
— Vem para casa. Eu preciso de você aqui.
Horas depois
Uma coisa que aprendi com a doença da minha tia, é que o amor pode ser
possessivo e egoísta também. Aquela coisa de que quem ama deixa ir é lindo
na teoria, mas não sou uma santa e sim humana e se pudesse fazer um desejo,
seria de ter minha tia comigo para sempre. Saudável, feliz e sorridente como
era antes da doença.
— Eu gostaria de falar com ela um instante — peço ao paramédico.
— Não podemos demorar.
— Tudo bem.
Ele sai e me deixa sozinho com tia Darcy que parece serena, deitada na
né? Lembro quando brincava que tenho tanto amor dentro de mim que ele
transborda sem contenção, que não preciso de palavras. Eu me sinto
exatamente assim agora, porque não existe qualquer uma que possa explicar
o quanto vou sentir sua falta.
Pego suas mãos e beijo.
— Obrigada por não só nos criar, mas fazer com que nos sentíssemos
amados também. Todo o amor que eu dou a Phoenix, eu aprendi com a
senhora. Dê um beijo na mamãe por mim e diga que nós dois vamos ficar
bem.
Levanto-me e começo a me afastar da cama, torcendo para que minha
promessa seja também uma profecia. Eu não posso falhar com meu irmão.
Agora somos nós dois contra o mundo.
Capítulo 14
Petal
Depois que Lleyton me disse que avisaria ao pai, fiquei aliviada, mas logo
em seguida, o doutor Acker me ligou.
Queria saber se precisava de algo e se ofereceu para pagar o enterro — o
que eu recusei, porque minha tia separou dinheiro para isso desde que soube
que estava doente.
Hoje, faltando um dia para retornar ao trabalho, eu desmaiei. Perdi as
forças das minhas pernas na hora em que entrei na cozinha para fazer o café
da manhã do meu irmão. Se Phoenix não tivesse sido rápido, eu teria batido
Meu rosto deve mostrar todo o pavor que estou sentindo porque assim que
me vê, meu irmão vem correndo ao meu encontro.
— Você prometeu que não seria nada de grave! — ele me acusa, ao
mesmo tempo que me abraça apertado, o rosto enterrado no meu peito.
Sinto-me em estado de choque, mas me obrigo a falar, porque não posso
deixá-lo pensar que estou à beira da morte.
— Estou grávida.
Ele me solta e dá um passo para trás.
— O quê?
— Não pretendia contar desse jeito, mas não quero que sinta medo.
Ainda que eu mesma esteja apavorada.
— De quem?
— Da única pessoa com quem estive depois de Allan, meu primeiro
namorado.
Ele abre e fecha a boca e sei que hesita antes de falar.
— Nunca menti para você. Os caras com quem saí, não aconteceu nada.
Foi na festa.
— Na tal Noite Escura?
— Sim.
— E agora? Quero dizer, você falou que ficaram no escuro. O bebê vai
crescer sem um pai?
Sei que ele não está me julgando ao dizer aquilo, mas porque foi algo que
vivemos na pele. Nunca tivemos a presença de pais em casa. Eu sou filha de
um homem com quem nossa mãe se envolveu e cuja identidade nunca
revelou e Phoenix, de outro, um nojento abusador de mulheres que bateu na
nossa mãe quando ela estava grávida e que nunca registrou o filho.
— Eu sei quem ele é e por isso mesmo, estou morrendo de medo de
procurá-lo.
— O quê? Por quê? É alguém perigoso?
— Não, mas muito famoso.
— Temos que bolar um plano de como encontrá-lo, mas não vai ser fácil.
— Eu sei. Não trocamos telefone e nem nada.
— Não é disso que estou falando, mas pelo fato de que ele se isolou para
curar da última lesão. Pelo que os sites de esporte estão dizendo, vai ficar fora
Como vai ser quando eu entrar em trabalho de parto e não houver alguém
por perto?
Meu irmão ainda é muito pequeno para assumir cuidar de mim.
Meu Deus, me ajude!
Começo a me sentir tonta, com dificuldade para respirar.
— Acho que preciso voltar para o consultório. Não estou bem.
Ele aperta o elevador e tornamos a subir. A recepcionista fica assustada
quando me vê e corre para chamar o médico, que já estava iniciando outra
consulta.
Meia hora depois meu diagnóstico saiu: crise de pânico. Disse que foi
provavelmente a notícia da gravidez inesperada, mas que se voltasse a me
sentir assim, que o procurasse.
— Vamos tomar um táxi — falo. — Não acho que seja seguro continuar
caminhando no momento.
Horas mais tarde, depois que finalmente convenci meu irmão de que
estava bem e que ele poderia dormir, ainda estou rolando na cama de um lado
para o outro.
Deus, um bebê!
Levanto-me e vou até o espelho de corpo inteiro dentro do armário. Ergo a
camisola e agora percebo um suave montinho na altura do ventre.
— Eu estou morrendo de medo, filho, mas eu quero você.
E em silêncio, completo:
Queira nosso filho também, Rafael. Não deixe que ele cresça sem o pai
como eu.
Capítulo 15
Rafe
Ouço o helicóptero vindo ao longe e juro por Deus que o som quase me
emociona. Nesse período em que estive aqui, praticamente toda minha
família veio me visitar, chegando aos poucos. Sim, os Caldwell-Oviedo não
entendem muito bem o conceito de retiro ou isolamento.
Entretanto, quando eles vieram, foi no meio da minha estada, há quatro
meses mais ou menos. Agora que sei que está chegando o momento de
retomar minha vida, estou quase enlouquecendo nessa ilha em que tudo o que
tenho para fazer é cuidar da minha saúde.
Eu me sinto melhor, claro. Tanto física quanto mentalmente, mas ainda
assim, meu prazo de ficar isolado venceu. Foi por isso que quando Archer
sugeriu vir me buscar, aceitei.
— Isso aqui é a porra do paraíso — é a primeira coisa que diz ao saltar do
helicóptero.
— Para mim já venceu o prazo de ficar sozinho.
— Sério, Rafe, você está parecendo aqueles monges que se isolam muito
tempo e ficam loucos.
Começamos a andar para a casa.
— Já conheceu algum monge?
— Não, mas imagino que não sejam muito normais. Quem no inferno vai
querer ficar isolado em uma montanha rezando?
Sem perceber, eu começo a rir.
— Puta merda, você chegou não tem dez minutos e já conseguiu bater um
recorde do besteirol.
— Pelo menos melhorou seu humor.
— Não estava de mau humor. Só um pouco ansioso para voltar para casa.
— Para treinar, né?
— Também.
— Cheio de mistérios.
— Lembra da loira da Noite Escura?
— A que te abandonou?
Reviro os olhos.
— Sim. Ela deixou a máscara caída no chão. Nesses meses em que estive
aqui, de vez em quando eu a pegava, e juro por Deus que é como se
conseguisse ouvir a voz dela. Sentir seu cheiro.
— Ai, caralho, mais um guerreiro abatido. — Ri. — Já pensou na
— Sim, estou liberado, mas preciso ver como está meu jogo. Além do
mais, com esse clima, terei que treinar muito indoor. Mas eu me sinto curado
como nunca antes. Sempre que retornava das lesões anteriores, pensava estar
forte o bastante e depois me fodia de novo.
— Não sou a melhor opção como incentivador, mas um realista. Se é isso
o que está esperando, melhor procurar Guillermo.
— Não preciso de uma massagem no ego. Eu sei que tenho um relógio
correndo sobre minha cabeça, Joaquín. Não vou jogar para sempre, mas
quero terminar a carreira com dignidade.
— E depois?
— O que tem?
— Quanto tudo chegar ao fim, o que fará depois?
— Andei pensando nisso. Acho que abrir minha própria empresa de
— Não é arrogância, senhor juiz[23], mas uma questão de fato. Uma hora
ou outra alguém vai me vencer, claro, mas até agora, meu maior adversário
foi esse cotovelo fodido.
— Se quer minha opinião, vá qualquer dia desses até a sede nova dos
— Meus treinos serão à tarde e, no início, apenas duas vezes por semana.
Talvez eu dê um pulo lá nos outros dias pela manhã.
— Mamãe está animada para o Dia de Ação de Graças.
— Mas ainda faltam quase duas semanas.
— Como se você não soubesse como dona Isabel é, né? Não duvido que
já esteja fazendo os preparativos para o Natal também.
Eu já ia saindo do seu gabinete quando paro e volto a encará-lo.
— Senti falta disso tudo.
— Do quê?
— Dessa bagunça com a família. O barulho. Antes, por conta das viagens
para competir, eu não valorizava tanto, mas depois de quase um ano
voluntariamente longe dessa confusão, percebi que nunca poderia morar fora
de Boston.
— Diga isso à mamãe. Ela todo domingo perguntava o que será que você
estava comendo, se tinha almoçado direito...
Bem típico de dona Isabel.
Começo a me virar, mas novamente o olho.
Petal
— Deixe-me te ajudar com isso — Lleyton diz quando tento erguer uma
caixa que acaba de chegar para o pai dele.
— Não sou uma inválida — falo, um pouco chateada, porque tanto ele
quanto doutor Augustus, desde que descobriram minha gravidez, me tratam
como um cristal, o que me deixa desconfortável.
como um todo. Acho que pais são assim. Projetamos o futuro dos nossos
filhos vinte anos adiante. Mas não é nada que eu não possa resolver, pode
ficar tranquilo.
— Resolver como? Você está sozinha no mundo.
Ele me olha em silêncio por um tempo e juro por Deus que meus nervos
pulam dentro do corpo.
— Chegaram até mim alguns documentos acusando-a de estar envolvida
em um esquema.
Meu estômago contrai de medo. Não por causa do que ele está dizendo.
Sei que sou inocente e que os documentos são uma mentira, mas de que isso
leve à minha demissão. Se acontecer, eu, o bebê e Phoenix estaremos
perdidos.
— Eu não sei do que você está falando, mas no que quer que meu nome
esteja envolvido, vou conversar com seu pai e esclarecer todo esse mal
entendido.
Hoje é meu último dia antes de entrar em licença-maternidade, mas de
jeito nenhum vou me afastar antes de resolver essa história.
— Por que razão acha que ele não veio a semana inteira?
— A senhora Hillaine, a secretária principal, disse que ele estava com
uma indisposição estomacal.
— Foi o que ele mandou dizer, mas na verdade não quer proximidade
com você ou quaisquer dos outros envolvidos até que tudo se esclareça. Há
documentos com seu nome, Petal.
Aquilo finalmente me derruba e corro para o banheiro privativo das
secretárias. Ajoelho-me no chão e começo a vomitar. Chega a um ponto que
Pego minha bolsa e saio sem me despedir de qualquer um dos dois. Estou
em uma fase delicada da minha gravidez, na reta final, e tudo o que importa é
o meu bebê.
Assim que chegar em casa, vou tentar novamente encontrar Rafael.
Agora, mais do que nunca, preciso de uma segurança para quando nosso filho
ou filha nascer.
Naquela mesma noite
Unidos mesmo.
— Poderíamos procurar a família dele.
— Já pensei nisso e procurei também. Deu em nada. Eles parecem fazer
parte da realeza. São blindados. Não há um número de telefone que conste
filhinha, que acabei de decidir que se chamará Willow, para manter a tradição
de mamãe por nomes hippies, tudo o que sinto é vontade de chorar.
Não me permito, claro.
Phoenix acaba de entrar e parece tenso como uma corda de violão
esticada, e se eu quebrar, ele vai desabar junto.
— Ela é tão linda, mas o cabelo não parece que vai ser claro como o
nosso.
— O pouco cabelo, né? Talvez fique em um meio-termo entre o meu e o
do pai.
— Isso quando ele era um atleta do qual eu era fã, mas agora, para provar
que ele é mesmo The Best, vai ter que ser homem e assumir a filha.
— Não fale essas coisas. Não sou uma inocente que foi seduzida por um
canalha, Phoenix. Houve uma conexão real entre nós e provavelmente esse
tipo de relacionamento no mundo dele é comum. O que aconteceu foi que o
destino resolveu intervir e criar suas próprias regras.
— Tudo bem. Estou confuso e falando um monte de mer… de besteira.
Aquele… hum… senhor que diz que é seu amigo está no corredor.
— Lleyton?
— Sim, ele chegou quase em seguida, quando você entrou em trabalho de
parto, e parece que ele próprio é o pai do bebê. Eu vou dizer de novo: não
gosto dele, mas como é minha irmã mais velha, a obedecerei e o deixarei por
perto.
— Não quero discutir sobre isso agora. Vou amamentar o bebê e depois
pedir para a enfermeira avisar quando ele puder entrar, tá?
— Sim, vou dizer isso a ele.
Capítulo 17
Petal
família.
Depois de me ver no hospital, assim que trouxe Willow ao mundo, ele
tem sido uma presença constante em nossa casa.
Dois dias depois que voltei para o meu apartamento, ele apareceu dizendo
que não me preocupasse com os boatos, pois resolveria tudo e nunca deixaria
que sequer pensassem em me incriminar. Não estou em posição de recusar
ajuda, ainda mais do filho do dono da empresa na qual meu nome está
supostamente envolvido em tramas.
Tentei ligar para o contador da companhia, mas ele não me atendeu,
então, por enquanto, até que a minha filha complete um mês de vida, Lleyton
é toda minha ligação com o mundo externo, assim como minha chance de me
livrar de qualquer injustiça.
Doutor Augustus também não retornou ao escritório, e o que se noticia é
Nunca vai acontecer. Ela tem um pai, e mesmo que Rafael ainda não
saiba disso, eu jamais os impediria de participarem da vida um do outro,
agindo como uma covarde e me escondendo atrás de uma mentira.
Há uma chance de que ele não seja uma boa pessoa e que diga que não
quer nossa menina, embora só essa possibilidade já me faça ter vontade de
chorar, mas eu preciso ter certeza.
No momento, a única coisa que me preocupa é limpar meu nome. Já até
andei pesquisando uns advogados só para o caso de ser formalmente acusada
de alguma coisa.
dos fatos. Cuidado com o que vai falar, no entanto, ele só lhe dará uma
chance. Marquei um encontro para vocês dois hoje, na casa dele.
— Pensei que seu pai estivesse mal de saúde. Não o prejudicarei levando
problemas para ele?
— Meu pai é feito de aço, Petal. Não quebra tão fácil. Agora não seja
tola e agarre essa oportunidade.
— Que horas devo ir?
— Ao meio-dia. Não se atrase. Sabe o endereço?
— Sim, claro. Os seguranças me deixarão entrar?
— Obviamente já estão avisados. Agora trate de convencer o velho de
que você está sendo sincera e esse inferno todo vai passar.
Estou tremendo inteira, mas ao mesmo tempo, cheia de adrenalina.
Viro-me e vejo Phoenix se aproximar. Ele sabe o que terá que fazer daqui
por diante.
— Do que está falando? — Rafael pergunta quando torno a encará-lo,
mas dessa vez sua testa se franze em reconhecimento.
Abaixo-me para dar um beijo em Willow quando noto meu irmão parar
perto do carrinho.
— Ela é nossa, Rafael. Nossa filha.
— Petal?
Meu coração idiota dispara por ele não só se lembrar da minha voz, como
do meu nome.
— Sim, sou eu. Meu irmão vai lhe explicar tudo, mas agora eu preciso ir.
Cuide deles só por hoje, por favor. Eu vou voltar.
Beijo a cabeça de Phoenix e saio correndo antes que ele possa dizer
qualquer coisa.
Capítulo 18
Rafe
— Rafael Oviedo, você por aqui! — alguém grita meu nome e fico muito
tentado a ignorar a mulher escandalosa.
Pela minha visão periférica, percebo que algumas pessoas olham para mim
e também provavelmente para quem está às minhas costas.
Custo um pouco a virar para trás.
Estou com um mau-humor infernal, e apenas vim para a nova sede dos
hotéis porque ficar apenas indo nos treinos mais leves nesse começo vai me
enlouquecer.
Entretanto, ainda que com toda a beleza, estou em um dia de merda e nem
um pouco interessado em interagir.
— Eu a conheço, senhorita?
— Ainda não, mas vai conhecer. Assim como a sua filha. — Ela dá um
passo para o lado e só então vejo um carrinho de bebê coberto com uma capa,
provavelmente para proteger sua ocupante do frio rigoroso do inverno de
Boston. — Willow, diga oi para o papai.
Fico em estado de choque.
Filha?
Ela se vira para trás e percebo que um adolescente loiro se aproxima.
— Do que está falando? — exijo quando volta a me encarar.
Entretanto, dessa vez, como se alguém estivesse dispondo peças de um
jogo à minha frente, sua altura, um pedaço do cabelo loiro branco que escapa
do gorro, o queixo pontudo e a boca de lábios cheios me trazem memórias.
Eu sei quem é ela. A mulher que não sai da minha cabeça há meses.
Abaixa-se, afasta o plástico que protege o carrinho e beija o bebê. Não
consigo ver a criança ainda, no entanto.
— Ela é nossa, Rafael — diz, e agora que sua voz não soa mais histérica,
tenho certeza de com quem estou falando. — Nossa filha.
Sou um cara frio. Eu preciso ser porque o esporte no qual sou mestre exige
precisão e autocontrole, mas nesse momento a expressão “coração saindo
— Sim. Meu irmão vai lhe explicar tudo — meneia a cabeça em direção
ao adolescente —, mas agora eu preciso ir. Cuide deles só por hoje, por
favor. Eu vou voltar.
E então, após beijar o menino, ela simplesmente sai correndo e nos deixa.
Eu não preciso olhar em volta para perceber que há uma pequena multidão
se formando e seja lá o que signifique essa situação, precisamos sair daqui.
— Venha comigo — falo ao garoto e me aproximo do carrinho.
Ele se interpõe entre mim e a garotinha, o que novamente não me permite
vê-la.
— Para onde? — pergunta, parecendo pronto para uma briga.
É bem jovem. Talvez uns quinze ou menos, mas sua postura é agressiva ao
proteger a menina.
— Subir. É isso ou daqui a pouco nossa imagem estará estampada em cada
revista do país.
Na verdade, eu não duvido que várias fotos já tenham sido tiradas, pois
mesmo que noventa por cento das pessoas que frequentam esse edifício sejam
funcionários, hoje em dia qualquer espirro que se dê vai parar na merda da
internet.
Ele me ignora e fala qualquer coisa para o bebê, que resmunga. Depois,
novamente fecha a capa que protege o carrinho e me encara.
— Eu sou Phoenix Bartley, irmão da Petal. Podemos conversar lá em
cima, mas se tentar fazer qualquer coisa para machucar minha sobrinha, eu
mato você.
Não estica a mão para me cumprimentar.
— Acho que já sabe meu nome. Venha comigo, Phoenix, e então poderá
me explicar o que está acontecendo aqui.
Ele se posiciona atrás do carrinho e eu preciso me controlar para não me
abaixar e olhar o pequeno ser que Petal afirmou ser uma parte de mim.
Quando alcançamos a cancela, o segurança finge não ter assistido nada da
cena que ocorreu há pouco, mantendo uma expressão neutra, embora eu saiba
que não há chance de que cada pessoa em um raio de um quilômetro não
tenha visto ou ouvido tudo.
Abro espaço para que o rapazinho entre com o carrinho, ao qual se agarra
como se sua vida dependesse disso, mas quando começa a se encaminhar
para os elevadores comuns, eu o chamo.
— Por aqui, Phoenix. Subiremos por outro elevador.
Cada um de nós, até mesmo Gael e Martina, que têm ainda menos do que
eu a ver com os negócios da família, possui uma sala em um dos últimos
andares deste edifício da nova sede, projetado pelo mais renomado arquiteto
do país, que também é o CEO de sua própria empresa, Lucas Ward[25]. Para
termos acesso a elas, usamos um elevador privativo.
Um ascensorista está esperando, mas quando o garoto tenta entrar com o
— É a primeira vez que ela sai à rua. Não completou um mês ainda.
Não preciso de uma calculadora para fazer contas. Sou excelente em
matemática e tenho uma memória fodida de boa. Se a garotinha tem menos
de um mês, há uma chance sim de que seja minha. Eu lembro perfeitamente
da data da festa porque foi pouco tempo antes de que embarquei para a
Grécia.
Incrivelmente, a situação louca não me abala tanto. Das outras vezes em
que tentaram me responsabilizar por paternidade, as acusações foram virtuais
e eu só soube através dos jornais e revistas, mesmo que tenha feito o exame
— Sim.
Ele se abaixa e pega a bebê, uma coisinha minúscula e envolta em um
cobertor com vários tons de rosa.
— Eu vou te explicar tudo, mas primeiro precisa saber que minha irmã
longe da família.
Mesmo que tente disfarçar, posso ver o alívio em seu rosto.
— Quer pegá-la?
Dou um passo para perto e somente aceno com a cabeça, concordando.
Rafe
meu rosto.
— Eu sou seu pai, Willow?
Ela sorri e uma emoção como nunca experimentei se espalha dentro de
mim.
Eu sou pai?
Isso não é uma surpresa apenas, é algo que mudará todas as regras do jogo
da vida.
— Minha irmã não mente. Sei que você não a conhece, já que só se viram
naquela Noite Escura, mas Petal é a pessoa mais honesta do mundo.
— Para onde ela foi? Por que pediu para que tomasse conta de você? —
obrigo-me a perguntar, embora não consiga desviar os olhos do bebê, e
parece que é recíproco.
— Não preciso que ninguém tome conta de mim.
Volto a encará-lo.
— Não sei nada sobre vocês e o contrário possivelmente é verdade, pois
mesmo com todas essas pesquisas que fez, Phoenix, talvez não tenha
encontrado o principal: não fujo de responsabilidades. Sua irmã, seja lá por
qual razão, disse que eu deveria ficar com vocês dois até que ela volte e é
exatamente o que vai acontecer.
Ele me olha e eu tenho certeza de que está louco para discordar, mas
depois de um suspiro, senta-se no sofá. Acomodo-me em uma poltrona à sua
frente, sem lhe devolver o bebê que, agora, voltou a fechar os olhos e parece
cochilar.
— Pode deitá-la no carrinho, se quiser.
— Não, estou bem assim. Agora conte-me da sua irmã. Para onde ela foi?
— Ela estava de licença-maternidade, mas trabalha como secretária júnior.
— Pausa. — Olha, é uma história bem longa.
— Eu estou com tempo.
— A primeira coisa que vou lhe dizer, é que não existe pessoa mais
verdadeira no mundo do que Petal. Ela nunca…
— Doutor Rafael?
Sei quem está chamando. O detetive que contratei para descobrir sobre a
mulher que, de uma maneira ou de outra, parece estar destinada a fazer parte
da minha vida.
— Sim?
— Gostaria de me reunir com o senhor hoje.
— Não é um bom dia. Adiante-me o que descobriu.
— Tenho um relatório pronto.
Ele pausa.
— O que vou dizer agora vai soar bem estranho. Ela não parece ter um
namorado, mas… hum… acabou de ter um bebê.
— Crianças não são feitas sem a participação de um homem na equação
— falo, escondendo informações. Não há porque revelar sobre Willow agora.
— Eu sei disso, mas eu fui até o fundo na vida da menina e não encontrei
nada além de um namoradinho no ensino médio. Entretanto, ninguém
atualmente que justificasse o nascimento de um bebê.
— Continue procurando — falo, mesmo que por dentro, cada vez mais a
perto da mãe.
— Talvez Petal vá precisar de ajuda.
Ele tenta soar corajoso e eu não consigo deixar de gostar do garoto. É uma
criança, mas com uma força excepcional.
havia levado a sério. Então hoje me contou que Lleyton Acker, o filho do
chefe dela, telefonou dizendo que havia risco de que fosse presa e que para
evitar isso, deveria ir se encontrar com o pai dele, doutor Augustus. Foi por
isso que minha irmã pediu para tomar conta de nós. Ela me explicou na vinda
para cá que tem medo de que criem provas falsas e a prendam. Daí, eu e
Willow seremos entregues ao serviço social. Não me importo comigo, mas
não pode deixar que levem Willow, Rafe.
O medo o faz esquecer da maneira formal como estava me tratando antes e
agora tudo o que vejo é um adolescente tentando agir como um adulto, mas
completamente apavorado.
— Isso não vai acontecer. Independentemente de Willow ser minha ou
não…
— Ela é.
— Qualquer que seja o resultado do teste de DNA, sua irmã deixou vocês
dois comigo e ninguém os levará embora. Fique aqui um instante.
Volto para a outra sala e ligo para a pessoa de mente mais pragmática da
minha família depois de mim mesmo.
— Joaquín, o quão cheio está seu dia?
— O que houve, Rafe?
— Preciso que venha me encontrar. Estou na sede das empresas. Não fale
com nossos pais ou nenhum dos outros por enquanto.
Capítulo 20
Petal
convencê-lo. Ele não deve estar tão mal de saúde ou não concordaria em me
receber.
Uma voz no fundo da minha mente diz que eu deveria ter procurado um
advogado antes de vir, então eu me lembro dos programas de detetive que
deixa passar e me instrui como chegar até a casa. Há uma boa distância entre
a guarita e a entrada da mansão que já vi algumas vezes em revista, mas o
frio me faz apressar o passo e em menos de cinco minutos chego à porta.
Uma empregada, uma senhora que deve ter por volta dos cinquenta anos,
vem abrir, provavelmente avisada pelo segurança e depois que me identifico,
ela me leva até o segundo andar.
— Achei que o encontraria na sala.
— Doutor Augustus não tem se levantado, mas eu fui instruída pelo
segurança, para que a deixasse entrar — ela confirma o que eu imaginara.
A casa, pelo que posso notar, além de obviamente enorme, é muito escura
também e penso que combina com a personalidade do meu chefe. A escada é
larga e o corrimão, de madeira maciça quase negra.
Assim que chegamos ao corredor, para minha surpresa, ela diz:
Dois minutos depois, ainda estou congelada no lugar, muito insegura sobre
o que fazer quando ouço uma porta bater lá embaixo.
Ensaio mentalmente o que dizer ao meu chefe, mas não consigo organizar
uma frase sequer a não ser: eu sou inocente do que quer que estejam me
acusando.
Deus, foi um erro ter vindo aqui. Eu realmente deveria ter procurado um
advogado antes.
Tiro as luvas e seco as duas mãos úmidas — fruto do nervosismo — no
meu jeans. Finalmente alcanço a maçaneta.
O quarto mais parece uma outra casa. Há uma antessala com uma espécie
de hall, onde um móvel pesado, com um espelho em cima, me deixa ver o
quanto estou pálida. Mais à frente, outra porta antes que eu alcance o
aposento principal.
Dessa vez, ao tocar nela, respiro fundo, pois sei que talvez a partir dessa
conversa, meu futuro seja decidido.
Ao contrário do que esperava, o quarto está todo no escuro, mas posso ver
o contorno do corpo dele em cima da cama.
Sem que eu consiga entender a razão, aquilo me causa arrepios.
— Doutor Augustus? Sou eu, Petal. Sua empregada me disse que estava
me esperando, mas se não se sente bem... — falo, ao mesmo tempo em que
procuro pelo interruptor — posso ir embora.
— O quê?
Ela anda até a cama.
— Você o matou!
— Não!
Como em câmera lenta, vejo-a pegar o celular e, em choque, escuto-a falar
com a polícia.
Não muito tempo depois, Lleyton entra.
— Ela matou seu pai! — a mulher acusa.
Não sei quanto tempo demoro para despertar, mas entro em pânico
novamente quando vejo alguns policiais dentro do quarto. Quando veem que
eu acordei, um deles me ergue do chão sem qualquer delicadeza.
Como as séries policiais as quais assisto, ele começa a ler os meus
direitos, mas eu não falo nada e o homem sacode meu braço até que eu
responda que entendi.
Lleyton observa tudo à distância, mas não há mais nada em seu rosto que
lembre a pessoa com quem convivi por quase um ano, e sim indiferença,
desprezo.
Meus seios doem do leite porque já passou da hora de amamentar Willow
e quando penso do que eles estão me acusando, assim como na minha
Rafe
improvisado.
Ela abre a boca pequenina quando coloco o bico em seus lábios, mas
assim que prova o líquido de cor esbranquiçada, faz uma cara de desgosto.
— Eu sei, o leite da sua mãe deve ser muito melhor, mas encare isso como
um desafio, Willow. Nós, os Caldwell-Oviedo, não nos dobramos a uma
comidinha meia-boca. Vamos lá.
Somente depois da quarta tentativa ela começa a mamar e eu me sinto
como um cretino vaidoso por tê-la convencido.
— O que aconteceu?
— Ela sofreu um infarto, mas já estava doente há anos.
— Eu sinto muito.
— Nós também. Ela foi muito boa em nos criar e nem chegou a conhecer
Joaquín chegar, vamos nos reunir para pensar no que fazer para encontrarmos
sua irmã.
— Acredita que ela é sua? Mesmo sem o resultado do exame de DNA,
acredita que Willow é sua filha?
— Eu acredito haver uma grande chance, sim. Temos os mesmos olhos,
mas eu não minto, Phoenix. Sou conhecido por ser sempre brutalmente
sincero. Eu preciso ver esse resultado porque não posso agir com o coração
nesse caso. Trazer um bebê para minha família significa fazer minha mãe, pai
e irmãos acreditarem que há um novo membro Caldwell-Oviedo. Será uma
Não hesito.
— Se Willow for minha filha, ela é um pedaço de mim, Phoenix. Como
poderia não querê-la?
Ela solta o bico da mamadeira como se soubesse que estamos falando
sobre ela. Olha-me fixamente como se do mesmo modo que eu tentasse
entender quem é na minha vida, quisesse saber o mesmo.
— Ela está sorrindo.
— Isso é bem raro. Geralmente ela sorri apenas na hora do banho. — diz.
— Jesus!
— Não viu nada. Daqui a pouco vou trocar as fraldas dela e daí você vai
ver o que é estrago.
A porta da minha sala se abre e meu irmão entra. Com seu estilo nada sutil
— Não, ela nunca faria isso — eu respondo e faço um gesto com a mão
para o garoto se sentar outra vez.
— Como pode ter certeza?
— Porque acredito nele. E também porque o detetive particular que você
me indicou virou a vida dela do avesso e não achou nada além de uma mulher
trabalhadora.
— Então ela não estar atendendo o telefone só pode significar duas coisas:
ou está ferida em algum hospital, ou foi de fato presa.
— O quê? — o menino pergunta, pálido.
sua… — Ele pausa sem saber como continuar, porque nem eu mesmo sei. —
Enfim, se vazar para a imprensa que a moça tem algum envolvimento
comigo, vão falar em favorecimento, caso tenha sido mesmo presa.
— Preciso de um advogado.
— Eu sei, mas calma por enquanto. Deixe-me falar com Enrico
Lambertucci[26]. Se ela foi detida, ele vai descobrir sem que precisemos
mostrar nossas caras por ora.
Há muito mais que eu quero dizer, mas não na frente do garoto e Joaquín
quem sugere.
— Por que não os leva para sua casa? Não pode ficar com a garotinha
aqui. Acione o motorista e nós desceremos em seguida.
— Virá conosco? E Bianca e as crianças?
Ele se levanta e vai até a janela. Sei que o que quer que tenha para me
falar, não quer fazê-lo na frente de Phoenix.
Quando o alcanço, diz:
— Vou telefonar para Bianca e pedir que fique com os dois lá em casa.
Pedirei que não conte nada para o resto da família, mas se Petal foi presa,
talvez seja preciso que você vá até a delegacia e nesse caso, alguém tem que
tomar conta dos dois.
— Tudo bem, vamos fazer isso. Essa história de fraude, no que pode dar?
— Rafe, você me conhece. Eu não me posiciono sem saber os dois lados
da história. Deixe-me falar com Enrico e até chegarmos à minha casa, garanto
que ele descobrirá o paradeiro da garota.
Cinco minutos depois, descemos pelo elevador privativo e agora as
pessoas sequer disfarçam o quanto estão prestando atenção em nós. Enquanto
empurro o carrinho com Willow, meu irmão passa o braço em volta dos
ombros de Phoenix, que parece ter esgotado toda sua combatividade e se
deixa guiar passivamente.
Capítulo 22
Rafe
— Eu esqueci meu telefone em casa. Como vou poder falar com você e
saber o que está acontecendo? — Phoenix pergunta.
— Use o da minha esposa. Ou mesmo o fixo quando chegar lá — Joaquín
diz enquanto o motorista acomoda o carrinho de Willow no porta-malas. —
Ela tem o número de Rafe.
Depois disso, ele se dirige ao próprio veículo enquanto entro com Willow
e Phoenix. A porta já está quase se fechando quando Joaquín volta a aparecer.
— Aqui, use a cadeirinha de Miguel — fala, referindo-se ao filho caçula.
outros.
— Eu não sou da família — ele diz, olhando para fora.
— Se Willow é minha filha e você tio dela, então, sim, é da família agora.
— Eu só quero minha irmã de volta. Petal não procurou você por causa do
seu dinheiro. Mesmo que o mundo inteiro vá pensar isso porque somos
pobres, ela tentou encontrá-lo porque disse que não queria que Willow
crescesse sem pai como nós, e principalmente, porque ficou com medo de ser
presa depois do que aquele homem, Lleyton Acker, inventou.
— Inventou?
— Eu não gosto dele e acho que armou para Petal.
— Por quê?
— Ele a olha… não sei explicar. Eu sempre o odiei. O homem a olhava
como se ela fosse uma coisa que lhe pertencesse. Quando descobriu que
estava grávida, a pediu em casamento. Queria que minha irmã fingisse para o
mundo que Willow era deles.
— O quê?
— Ele não sabe quem é o pai de Willow, pois Petal guardava esse segredo
a sete-chaves. Disse que nunca contaria a alguém antes que você mesmo
soubesse. Lleyton ficou obcecado em se casar com a minha irmã e assumir o
bebê. Petal disse que não, porque a filha dela tinha pai e ele, você no caso,
tinha o direito de saber a verdade.
Aos poucos, conforme ele vai falando sobre a irmã, apesar do breve
contato que tivemos, uma ideia mental vai se formando sobre quem é a
mulher com quem passei uma noite de prazer.
Nova, trabalhadora, honesta. Mãe amorosa, se levar em conta o quanto
meu irmão.
— Não se preocupe com isso, Rafe. Só vá lá e traga a mãe dessa menina
linda de volta. Agora acho que devemos entrar porque está muito frio.
Ela vira as costas e andando para a casa, sendo acompanhada pelo olhar
atento de Phoenix.
— Promete me ligar assim que souber de alguma coisa? — pede.
— Tem minha palavra.
— Mesmo que ela… mesmo se…
— Eu vou te avisar. Você já mostrou ao longo do dia que é um homem,
Phoenix. Eu o tratarei como tal. Vou encontrar sua irmã, custe o que custar.
Grave o número dela aqui no meu telefone. Vou continuar tentando ligar.
Passo o aparelho para ele, que digita rápido.
envolver porque vai prejudicá-la mais do que ajudar, mas pedi que Enrico me
indicasse o melhor defensor criminal que conhece, e sua resposta foi Matheus
Berardi, o padrasto da cunhada dele, Samantha Devereaux. Ou melhor,
Rafe
Eu nunca entrei em uma delegacia na minha vida. Pode parecer uma coisa
idiota, mas é um fato. Por que precisaria? Sou um atleta, e o mais próximo
que já passei da justiça até hoje, tirando os exames de DNA que precisei fazer
para ter certeza de que não era pai das crianças que me atribuíam, foi ser
irmão de Joaquín.
Eu me despedi dele logo depois da nossa conversa e pude ver pelo seu
rosto o quanto lhe custou me deixar ir, mas antes de qualquer coisa, Joaquín
sempre consegue analisar a situação do lado de fora. Até para mim, que sou
um leigo em termos de leis, sua presença poderia realmente prejudicar, ou ao
esteja, meus irmãos mais velhos sempre me verão como o caçula dos
homens.
Abro a porta, mas ele faz um gesto para que eu não desça.
— Vamos para o tribunal. Matheus conseguiu uma audiência ainda hoje,
— Não foi ele quem me disse, mas o detetive que é conhecido de Enrico, e
ele me repassou. Como deve saber, sem a autorização de Petal, Matheus não
pode nos relatar nada por causa do acordo de confidencialidade presumido
entre advogado e cliente.
— Tudo bem. O que exatamente estão alegando?
— Ela foi se encontrar com o patrão.
— Sim, isso eu sei.
— Parece que a empregada a flagrou no quarto com Augustus Acker
morto com uma faca enterrada no coração.
— Foda-me!
— Eu sei. A única coisa que me intrigou, e à polícia, é que, segundo o
detetive disse, o morto era um homem grande e sua… hum… Petal é um
pingo de gente.
após o julgamento, porque não sei nada sobre essa mulher e acredito que
você também não, mas Matheus disse que garante que ela irá para casa ainda
hoje, embora seja certo que o juiz estipulará uma fiança muito alta.
— Eu tenho mais dinheiro do que tempo de vida para gastar. Não importa
o quanto peçam, pagarei. O importante é trazer Petal para perto da filha.
— Quando sai o resultado do teste de DNA?
— Amanhã à tarde. Até lá, não quero contar nada para nossos pais. O
Natal está perto e sabe como mamãe fica emotiva nessa época. Não quero que
se iluda para, em seguida, se decepcionar.
branco.
Um senhor está ao seu lado e presumo que seja o advogado, mas há
também duas mulheres sentadas com eles. Mal nos sentamos e ouço o juiz
bater o martelo e dizer:
— A fiança está estipulada em cinco milhões de dólares. A senhorita não
pode deixar o estado em hipótese alguma, ou ela será revogada.
Ouço o que ele diz, mas estou mesmo concentrado nas costas dela, que se
movimentam como se estivesse convulsionando.
Mesmo de longe posso ver o que acontece. Ela está chorando. As mãos
tapando o rosto. Não um choro comum, mas fruto de puro desespero, como
se que prestes a ter um colapso.
E nessa hora eu tenho certeza de sua inocência.
Capítulo 24
Petal
trabalhe como uma escrava a vida inteira conseguirei quitar essa dívida.
— Seu caso é pro bono.
— O que isso significa?
— Não vou cobrar.
nós. Quando olho para onde indicou, vejo Rafael e um homem que lembra
vagamente suas feições e físico —, mas com o cabelo mais claro —, ao seu
lado.
Ambos de terno, Rafael usando o mesmo de quando o encontrei hoje pela
manhã. Os dois estão focados em mim e parecem absolutamente seguros,
onipotentes.
Sinto-me pequena e não tem nada a ver com minha altura, mas pela
situação.
Eu sempre fui orgulhosa por nunca ter aceitado favores e nem precisar
baixar a cabeça para alguém, mas agora, depois de passar horas sendo
interrogada, e depois mais uma em uma cela, acusada de um crime que não
cometi, a humilhação da situação e da desvantagem de reencontrar Rafael
dessa maneira, faz meus joelhos bambearem.
Oscilo e preciso me apoiar na mesa.
O advogado faz um gesto como se fosse me apoiar, mas eu faço que não
com a cabeça.
— Eu estou bem. Gostaria por gentileza que pedisse para devolverem ao
menos meu dinheiro para que eu possa tomar um táxi. Devo encontrar minha
filha.
— Acho que o senhor Oviedo a levará até ela.
— Tudo bem, obrigada.
nos filmes, talvez porque eu nem tenha chegado a sair da delegacia, mas
ficaram com meu casaco.
Depois que me levanto, visto-o, recolho o dinheiro e documentos, e viro-
me para o advogado.
— Não precisava ter acontecido nada disso — ele fala alto o suficiente
para que somente eu ouça, mas as palavras quase não passam de sussurros. —
Se tivesse cedido desde o começo, não precisaria passar por isso, mas você
foi estúpida e preferiu se entregar a outro. Estragou todos os meus planos.
Rafe
No caminho para a delegacia, dei uma olhada nos jornais pelo celular para
ver se encontrava alguma notícia sobre a morte de Augustus Acker e, como
esperava, havia não só fotos do homem assassinado, como também do filho,
Lleyton. Com relação ao segundo homem, tenho certeza de que nunca vi
antes, ou se vi, não me causou grande impressão, porque não me lembrava de
seu rosto.
Entretanto, agora tenho gravada as feições do homem que queria assumir
minha possível filha como dele sem sequer me dar a chance de conhecê-la.
Quando os alcanço, ouço a parte final do que, para mim, soa como uma
ameaça.
— Estragou todos os meus planos. Agora está sozinha.
— Não, ela não está sozinha. Petal tem a mim.
Ele olha para trás e por um instante, parece confuso.
— Rafael Oviedo? O que tem a ver…
Eu o encaro sem fazer qualquer movimento para me explicar, e aos
poucos, percebo que junta as peças.
— É ele o pai de Willow? Agora está explicado porque não quis se casar
comigo.
Acho que a ira que sente é tão grande que não faz ideia do quanto está se
expondo. Nos expondo, na verdade, mas nessa altura do campeonato, eu não
dou a mínima.
Petal não diz nada, apenas me encara, e por trás dela, os advogados que a
defendem se aproximam.
— Boa tarde, Matheus. Sou Rafael Oviedo. Há alguma maneira de que
esse indivíduo seja impedido de se aproximar dela?
— O quê? Não sou eu quem está sendo acusado de assassinato.
Ao ouvir a sentença, os olhos da única pessoa com quem me preocupo
nesse instante perdem o foco. Somente a velocidade do meu reflexo a impede
de cair.
— Ela vai desmaiar — meu irmão avisa assim que a suspendo nos braços,
já desacordada.
— Deve se afastar, senhor Acker. — Ouço Matheus dizer. — Ou serei
obrigado a pedir uma ordem de restrição. Suas palavras para mim soaram
como ameaça.
— Podemos resolver isso depois, agora ela precisa ser atendida — falo.
Um guarda se aproxima e nos indica uma sala em anexo.
Saio sem olhar para trás, deixando que o advogado resolva a questão por
ora, porque a minha vontade é de partir para cima daquele miserável. Eu só
— Não. — falo.
— Não o quê?
— Você é inocente do que a estão acusando?
— O quê? — pergunta, indignada, tentando se levantar do sofá. — Como
tem coragem de me perguntar algo assim?
— Responda, Petal.
— Claro que sim. — Afasta o alimento sem aceitar mais nada.
— Então estará mais protegida comigo. Até que tudo se resolva, ficará sob
meus cuidados.
— Por que me quer por perto? Você não acredita em mim. Nenhum de
vocês acredita. Por que eu faria algo tão horrendo com um homem que não
foi nada além de bom comigo? Que me tirou da função de auxiliar de
serviços gerais, pagou um curso e me transformou em secretária júnior?
— Não me contou nada disso — Matheus diz.
Eu nem havia percebido que ele estava conosco.
— O senhor só me perguntou sobre a razão que me fez ir até a casa do
doutor Acker e o que vi lá — responde, apertando os olhos como se estivesse
visualizando a cena.
— Então agora estou perguntando. O quanto antes me passar os detalhes
da relação de vocês, melhor.
— Não havia qualquer relação, a não ser a de empregador e funcionária.
Não há muito para ser dito. Um dia a copeira faltou e eu fui servir cafezinho
para o CEO, o doutor Augustus, em seu lugar. Ele simpatizou comigo, me
ofereceu para fazer um curso pago pela empresa, que por sinal poderia ser
feito por qualquer funcionário, ou eu nunca concordaria e foi isso.
— Nunca teve qualquer relacionamento íntimo com seu patrão?
— O quê? O senhor tem ideia de que ele poderia quase ser meu avô?
— As mesmas perguntas que estou lhe fazendo, senhorita — Matheus diz,
inabalável —, a promotoria fará caso decidam dar prosseguimento com a
acusação de homicídio.
Capítulo 26
Rafe
depois e só aceitei mesmo porque não tinha uma roupa adequada para aquele
compromisso de trabalho.
Ela não encara nenhum de nós e eu me sinto mais protetor do que nunca.
Petal está desnudando a alma, mostrando sua maneira simples de viver para
completos estranhos. A menina só tem vinte e um anos e está lidando com
mais merdas do que pessoas muito mais velhas aguentariam.
— E quanto ao homem lá fora, Lleyton Acker?
— Quando me conheceu, deu em cima de mim. Eu o afastei. Não tinha
tempo e nem vontade de me envolver com o filho do patrão. Minhas
trabalhar, doutor.
— Certo — o advogado fala de maneira mais branda agora. — E o que
aconteceu depois?
— Antes mesmo de Willow nascer, Lleyton veio com uma conversa de
estou tentando lhe dizer é que não sou uma de suas mulheres. Não estava
ansiosa para gerar um bebê seu ou de quem quer que fosse. Não lido bem
com situações não planejadas.
Ignoro a raiva em sua voz.
Petal
É estranho estar ao lado de alguém que é, sem medo de errar, a pessoa que
mais conhece meu corpo além de mim mesma.
As horas que passei com Rafael na festa de Lleyton não foram uma noite
de sexo somente, mas ele parecia determinado a desvendar cada pequeno
pedaço meu com sua boca e mãos.
Calor esquenta meu rosto ao me lembrar da intimidade porque ao mesmo
tempo, não sei nada a seu respeito além do que li nos jornais.
Havia uma enorme quantidade de seguranças nos esperando quando
mansão.
No começo, eu sinto como se um calafrio alcançasse minha coluna.
Depois, pequenos tremores começam em minhas mãos e pés. Em seguida,
meus lábios ficam dormentes.
carro para.
Abro os olhos e tento sair.
— Consegue andar?
— Hum… sim. Eu nem sei como cochilei. Não sou de dormir durante o
dia e além disso — aponto para os meus seios e desvios nossos olhos —,
estou com dor.
Ele me mostra uma sacola no chão do carro.
— Guillermo pediu ao motorista que comprasse uma bomba. Pode tomar
— Nossa filha.
— Não sabia disso naquela hora.
— Soube quando vi os olhos dela. São iguais aos meus e os do meu pai.
— Podem mudar.
— Duvido. Minha mãe disse que os dos meus irmãos mudaram, mas
tinham diferentes nuances de azul. Essa cor do meu é única. Herdei do meu
pai.
É uma situação estranha. O motorista saiu do carro para nos dar
privacidade e eu continuo no colo dele. Parece que temos muita coisa para
falar, mas ainda assim, não sabemos o que dizer.
— Do mesmo jeito que você, eu não planejei ter uma filha. Até hoje de
manhã, minha única meta real na vida era o golfe, mas tem minha palavra de
que me esforçarei para ser o melhor pai que eu puder. Willow não vai ser
rejeitada por mim. Nunca.
— Não gosto de promessas porque tenho medo de me decepcionar, mas a
essa me agarrarei. É tudo o que peço, seja bom para nossa menina.
Ficamos nos olhando na semiescuridão do automóvel. Parece que estamos
destinados à penumbra.
Por um instante eu esqueço-me de tudo o que aconteceu hoje e sou
novamente transportada para aquela noite no escuro, onde me desprendi de
todas as responsabilidades e medos e apenas vivi.
Saio de seu colo com o susto de ter sido flagrada, mas ele ainda não se
mexe, me olhando com aqueles olhos incríveis.
— Eu estava procurando você — fala, antes de abrir a porta e me deixar
sem entender nada.
Capítulo 28
Rafe
Ela parece muito sem jeito enquanto subimos no elevador até minha
cobertura triplex.
Encostada na parede oposta, finge que não me observa, mas sei que o faz,
mesmo que de maneira indireta.
Saio com mulheres desde que praticamente entrei na adolescência e estou
mais do que acostumado a fazer sucesso com o sexo feminino.
Geralmente recebo a atenção sem muito entusiasmo, mas assim como
aconteceu na primeira vez em que nos encontramos e a despeito da loucura
que foi o dia de hoje, custa para caralho me manter parado, quando tudo o
que anseio é terminar a distância entre nós e continuar de onde fomos
interrompidos dentro do carro.
Sim, é egoísta, mas também humano que eu deseje a mulher por quem
fiquei obcecado durante meses, mesmo que este talvez esteja sendo o pior dia
da sua vida.
— Não tenho roupa para trocar. — Quebra o silêncio.
— Diga-me o que precisa. Faça uma lista e posso providenciar até amanhã
de manhã.
— Faria isso?
— Por que não?
— Porque você é… você.
— Humano?
— Um campeão. Alguém famoso.
— E o pai da sua filha, também.
Ela engole em seco e acena com a cabeça, os olhos focados na minha
boca.
Merda, suas reações a mim não ajudam em nada para que eu controle meu
desejo.
— O que vai ser? Decida. — Obrigo-me a voltar à situação prática.
— Pode me emprestar algo para dormir hoje? Amanhã tenho certeza de
que meu irmão pode pegar nossas coisas. Não muitas. Apenas… por um
tempo.
— Não há um prazo para vocês irem. — Acabo de decidir.
Não a deixarei longe da minha vista, onde alguém — o verdadeiro
criminoso — poderia machucá-la.
Aproximo-me dela.
— Você está ansiosa para caralho, Petal. Por que não pensa somente dois
passos à frente? Entre, tome um banho, faça o que precisa para a dor que está
sentindo passar. Eu vou ligar para meu irmão e pedir que traga nossa filha e
— Não sei. É meu primeiro bebê, mas acho que sim. Faz parte da
personalidade dela gostar de chamar atenção.
— Tão pequenina assim?
— Aham. Ela já tem suas preferências.
— Você não tem a menor ideia do que é estar morrendo de sono e acordar
com um bebê com cólica. Acredite em mim quando eu digo que é melhor
ficarmos por aqui mesmo. Também não precisamos de mais de um quarto.
Posso me ajeitar com meu irmão se houver uma cama de casal.
— Não. Fiquem no terceiro. Deixe Phoenix aqui. O que precisa para
Willow?
Ela desvia os olhos.
— Isso não faz sentido. Temos tudo o que é necessário em nossa…
— Do que precisa, Petal?
pouco, mas o que passa pela minha cabeça é que preciso abrir espaço para
minha filha em minha vida, tanto figurativa quanto espacialmente.
Depois do que falo, ela parece louca para sair correndo.
— Está com vergonha de mim.
— Como poderia ser diferente? Não nos conhecemos.
— E no entanto, fizemos um bebê.
Desvia nossos olhares.
— Mostre-me meu quarto, já que quer que fiquemos no terceiro andar.
Quando chegamos lá, não lhe dou opção, indicando o quarto ao lado da
minha suíte.
— É maior do que os dois juntos do meu apartamento.
É minha vez de dar de ombros.
— Comprei como investimento. Viajo muito durante a temporada. Mal
paro em casa.
— Eu li no jornal… — começa e se interrompe. — Olha, não ache isso
estranho porque quando você me falou seu nome naquela noite, eu lembrei do
seu rosto dos comerciais que faz, mas juro que na hora em que chamou minha
atenção naquela festa, não fazia ideia de quem era. Enfim, o que estou
tentando dizer é que, assim que eu soube que estava grávida de nossa filha,
fui pesquisar mais a seu respeito. Descobri sobre as lesões. Viajou para se
cuidar, né?
— E não é?
— Não. É um dos esportes que mais exigem concentração e precisão.
— É a sua vida. — Concordo com a cabeça e ela continua. — É mais do
que faz para ganhar dinheiro, né? É sua paixão.
— É o que sou.
— Um campeão?
Não há qualquer ponto em mentir.
— Sim, um campeão. Somente a vitória me interessa. Ser o número um.
No meu mundo não há espaço para o quase.
— Espero que Willow herde essa autoconfiança. Sou insegura sobre tudo.
— Mas é corajosa, e isso às vezes conta mais do que a autoconfiança.
Muitas pessoas em seu lugar hoje teriam quebrado.
Ela dá um sorriso triste.
— Está certo das duas coisas, então: que o bebê é sua filha e que ela é
inocente?
— Sim, estou.
— E pretende ser um pai presente?
— O que acha? Não fugirei às minhas responsabilidades.
— Se quer mesmo ser um pai no sentido completo da palavra e não um
provedor, pode dar adeus às saídas na noite. Não há maneira de que consiga
conciliar seus programas com modelos, morando com a mãe de sua filha.
— Não estou preocupado com isso, quero recuperar o tempo perdido com
a minha menina.
— Qual das duas?
— Boa noite, Joaquín. Pedirei ao motorista que vá buscar Willow e
Phoenix.
Capítulo 29
Petal
Depois de tirar uma quantidade razoável de leite dos meus seios, a dor
diminui e eu entro no chuveiro quente. O jato é forte e parece atingir todos os
lugares certos do meu corpo, relaxando os músculos doloridos de tensão.
Sou feita de material duro, resistente, pelo simples fato de que não havia
outra opção. Minha vida nunca foi fácil desde que me entendo por gente.
Minha mãe, apesar de ser maravilhosa para mim, não era muito responsável
com a minha criação.
Eu não me lembro de um momento enquanto eu crescia, no breve período
de pouco mais de sete anos em que convivemos, já que ela faleceu no parto
de Phoenix, em que não houvesse um namorado diferente a cada mês em
nossa casa. Eu mal tinha tempo de me acostumar ao novo “papai” e em uma
piscada de olhos, ele desaparecia e outro ocupava seu lugar.
Talvez seja a razão pela qual eu odeio mudanças e sempre busco
estabilidade. A insegurança de não ter nada “meu”, fosse material ou mesmo
uma pessoa, fez com eu me tornasse alguém que se agarra à zona de conforto
com unhas e dentes.
Desse modo, tudo o que está acontecendo, mesmo se não fosse a seriedade
Rafael tenha se mostrado, ninguém muda do dia para a noite. Uma coisa é ele
assumir nossa filha e ser um bom pai para ela, outra, é trazer para junto de si
uma família que não é dele, interrompendo sua vida de celebridade playboy.
— Petal. — Ouço-o chamar do lado de fora do banheiro. — Está tudo
bem?
Fecho a torneira, pego a tolha e vou até a porta, que está fechada.
— Sim, já estou saindo.
Depois de me enrolar na toalha, abro uma brecha.
— Sinto muito se demorei.
— Abra a porta.
Deus, por que tem que ser tão excitante esse tom de comando em sua voz?
— Não me vesti ainda.
— Eu sei.
— Você queria mais sexo — digo, não como uma acusação, mas como um
lembrete para mim mesma de com quem estou lidando: um cara acostumado
a ter as mulheres que quiser, bastando para isso lançar aqueles olhos incríveis
sobre a “vítima”.
— Eu não disse que dava, mas que ainda a desejo. O que há de errado em
continuar de onde paramos?
— Tudo. Eu também tenho lembranças daquela noite, mas enquanto que
para mim foi uma espécie de sonho, já que não é meu modo normal de agir,
para você tenho certeza de que não foi mais do que a repetição de muitas
outras ficadas com mulheres.
Antes que eu consiga prever seu próximo movimento, ele me ergue,
sentando-me em cima da bancada da pia. Abaixa a cabeça, alinhando nossos
rostos. Sua respiração se mistura com a minha, me deixando trêmula.
— Rafael.
Ele não me permite falar mais nada. Pega meus braços e coloca em volta
de seu pescoço.
Deixo-me guiar como uma boneca, um frio gostoso se espalhando pela
barriga.
Não me beija direto como pensei que faria, mas roça a barba contra minha
bochecha.
Gemo, deliciada com o contato.
— O que quer que eu diga? Não sou um santo, mas eu não minto. Ainda a
quero. Você não foi apenas mais uma na minha cama.
Suas palavras terminam com qualquer resistência.
Mandando para o inferno o medo de acreditar nele, puxo sua cabeça para
mim.
Ele não perde tempo e me beija como se estivesse faminto.
Nossos dentes se chocam. Não há nada de carinhoso ou doce no encostar
dos lábios, mas desejo, luxúria.
Quase me deito na bancada e choramingo quando sinto seus dedos na
minha coxa, somente a centímetros do meu sexo.
Ele pega minha mão e coloca sobre sua extensão. Está dura e grossa e em
resposta, sinto-me escorrer de vontade de tê-lo dentro de mim.
Quando seus dedos alcançam o vértice entre as minhas pernas, novamente
— Não, mas eu não poderia… ir até o fim. O médico falou trinta dias[30].
— Quanto tempo falta?
— Pouco mais de uma semana, mas não vai acontecer nada. Não
podemos. Não devemos — minto para mim mesma porque se continuarmos
Rafe
caminhos opostos.
— Você demorou a abrir — ele diz, ao mesmo tempo em que Phoenix
pergunta.
— Onde está minha irmã?
Ouço passos na escada e quando olho para trás, ela está descendo
correndo, não com a roupa que separei, mas em um roupão negro, que
provavelmente pegou no quarto de hóspedes.
Assisto como que em câmera lenta o que se segue.
Sem falar nada, ela vai até o meu irmão e tira Willow de seu colo. Abre os
braços e puxa Phoenix para perto, virando as costas para nós.
Eles não conversam, mas é óbvio que os dois estão chorando, enquanto
minha menina resmunga baixinho.
— Vai ficar tudo bem, irmão. Eu não fiz nada. Como poderiam me
condenar?
Ele concorda com a cabeça.
— Willow sentiu sua falta.
Bianca mandou jantar para todos, mas para ser honesto, eu não estou com
fome e sim, empenhado em observar a mulher que caiu de paraquedas em
minha vida.
Depois de conferir que a irmã estava bem, Phoenix me pediu que o levasse
até o quarto, provavelmente por estar exausto.
Quando voltei a descer, vi que Petal estava mexendo nos armários e
esquentando o jantar no microondas.
Pôs a mesa na cozinha mesmo e eu me sento para vê-la se mover. É como
se tivesse feito isso a vida inteira.
Tirando refeições leves, posso contar nos dedos de uma mão quantas vezes
comi em casa e o cenário familiar, íntimo, com Petal tomando a frente para
nos alimentar, e Willow deitada no carrinho, lembra muito a vida dos meus
irmãos.
— Não tem muita comida no armário — diz, parecendo à vontade. — Se
vamos ficar por uns dias, vou ter que fazer compras.
— Eu estava viajando.
— Não foi uma crítica. É a sua vida, Rafael. Não tem que me dar
satisfação. Só estou dizendo que precisamos de alimentos saudáveis. Não sei
se tem empregada, mas enquanto nos quiser na sua casa, posso cozinhar.
Preciso me ocupar ou vou enlouquecer pensando no que pode acontecer no
futuro.
— O bebê já não ocupa seu tempo?
— Ela é muito tranquila. Não sei se tem alguma viagem marcada, mas se
ficar por perto, verá que nossa filha é uma santa. Se estiver alimentada e seca,
— E o quê?
— Pudesse dividir os custos de uma creche comigo. Mas só se quisesse
mesmo, caso contrário, eu daria um jeito — termina, orgulhosa.
— Petal, olhe para mim.
Ela demora um pouco a obedecer.
— Dinheiro nunca vai ser um problema na vida dela, ou mesmo na sua e
na de Phoenix.
— Eu e meu irmão não somos sua responsabilidade.
Rafe
— Não é piada, mãe. Quanto a tomar café, que tal virem para minha casa?
Assim poderiam conhecer a nova integrante do clã.
— Rafael, você está usando drogas? Chegou da Grécia há pouquíssimo
tempo. Que história é essa de bebê?
— Mãe, se você se acalmar, posso explicar a situação, mas depois gostaria
que viessem para cá. Há muito a ser conversado e não quero fazer isso por
telefone.
— Tudo bem. Estamos ouvindo.
Quinze minutos e muitas interrupções depois, meu pai diz:
Tomo uma chuveirada rápida e ando até o quarto ao lado. Não bato na
porta, com medo de acordar o bebê, mas quando a abro, fico paralisado com a
cena à minha frente.
Petal está encostada na guarda da cama, sentada, mas de olhos fechados.
A camisa que lhe emprestei encontra-se aberta, os seios desnudos e
Willow mama um deles. A mãozinha pequenina sobre o outro.
Congelo diante da beleza da visão e só então entendo a importância da
ligação das duas.
Petal não é somente a mãe da minha filha, mas sua fonte de alimento,
segurança e amor.
Ando devagar para não interrompê-las, mas ao mesmo tempo, incapaz de
deixá-las.
Petal abre os olhos, sonolenta e acho que não tem certeza se sou real
porque não faz qualquer movimento para se cobrir.
Sento-me do lado delas e percebo o momento que desperta completamente
porque puxa a camisa, tentando esconder o seio que Willow segura.
Sobreponho minha mão à dela.
— Vai continuar fazendo se é isso o que quer. Ninguém vai levá-la para
longe da nossa menina.
Ela não tenta se soltar.
— O que faz de pé tão cedo?
— É meu horário normal de acordar, mas não foi por isso que vim.
— Por que, então?
— Convidei meus pais para tomarem café da manhã conosco.
Ela abre a boca e torna a fechar.
— Como lhe disse ontem, eles precisavam saber por mim. É assim que as
coisas funcionam em nossa família. Não temos segredos uns com os outros,
mesmo que isso não seja uma opção, de qualquer modo.
— Como assim?
— Na primeira reunião de nossa família que comparecer, entenderá.
Ela fica quieta e eu sei a razão. Já comecei a compreender como sua mente
funciona.
— Pense em um dia de cada vez. Nós dois somos planejadores, Petal e do
que isso nos serviu? Estamos aqui, pais de um bebê que não programamos…
— Mas que é muito amado por mim.
— Sim, mas que não foi planejado. As certezas que ambos tínhamos em
relação ao futuro terão que ser reeditadas. Então proponho que vivamos um
dia de cada vez. No momento, quero apresentar vocês três aos meus pais.
— Posso?
— Talvez ela vomite.
— Eu sei, mas precisa arrotar, né? Phoenix me explicou. Sei também que
pode ser barulhenta.
Estico os braços para pegar o bebê e pela minha visão periférica vejo que
fecha a camisa.
— Bom dia, menina. Como passou a noite? — pergunto à minha filha.
Não abre os olhos.
dois rimos.
— Ela é meio escandalosa. Precisa melhorar os modos, né, bebê? — a mãe
diz.
Petal se ajoelhou na cama para se aproximar de nós e como ontem à noite,
me sinto ligado às duas como se aquele contato matinal fosse algo normal.
— Meu Deus! Disse que seus pais estão vindo. Preciso pegar minha roupa
— Petal, minha mãe me conhece há mais de trinta anos e sabe que aqui em
casa não há comida. Não tenho dúvidas de que chegará com um café da
manhã pronto capaz de alimentar duas dúzias de pessoas.
Capítulo 32
Petal
Desço as escadas com Willow no colo, dizendo a mim mesma que não
tenho nada a temer. Não importa quanto dinheiro tenham, os Caldwell-
Oviedo são pessoas de carne e osso como eu.
Vesti o pulôver branco, meu jeans e tênis. A mesma roupa com que estava
ontem, só que limpa e me sinto um pouco melhor do que somente de calcinha
e a camisa de Rafael.
Willow está linda, de macacão cor-de-rosa e lacinho no pouco cabelo que
tem. Acordou bem-humorada e já deu vários gritinhos enquanto eu fazia o
Puxo o ar, porque não vou mentir, não importa que o exame de DNA não
tenha ficado pronto ainda. — Sua neta, Willow.
— Olá — diz, acho que para nós duas. — Posso pegá-la?
— Sim.
Entregar minha filha a outra pessoa que não seja o pai não é algo que eu
faça com facilidade. Desde ontem, Willow tem passado por mais colos do
que fez em suas três semanas de vida.
Depois que lhe dou meu bebê, ponho as mãos nos bolsos de trás do jeans,
— Minha irmã não está bem — Phoenix diz e então sinto os braços de
Rafael ao meu redor, enquanto fala com os pais.
— Sente-se. — ele diz para mim, guiando-me ao sofá. — Ela comeu
pouco desde ontem. Pode ser isso. Pai, pegue um suco desse que a mamãe
trouxe.
Escondo o rosto nas mãos depois que o obedeço, mas ele se ajoelha à
minha frente, e me descobre.
— Hey, o que há de errado?
— Vai tirar Willow de mim? Tudo o que disse ontem era mentira?
— Não. De onde veio isso?
— Entrei em pânico. Esse não é meu mundo. Ela é de vocês, mas minha
também. Não podem ficar com minha filha.
para o Natal. Phoenix só terá que retornar às aulas até o início do ano[34].
— Está mais calma? — dona Isabel pergunta.
nervosa, é o que estão tentando fazer com você. Culpando-a de um crime que
não cometeu.
— Como sabe que não cometi?
— Além da reação que teve quando achou que tiraríamos sua filha de
você, já se encontrou com três dos meus cinco filhos, principalmente o mais
desconfiado deles. No caminho para cá, falei com Joaquín. Ele acredita em
sua inocência, caso contrário não estaria trabalhando para tentar inocentá-la.
— Ele está?
— Sim. Ainda não sabe nada sobre nós, Petal, mas o principal que precisa
entender é que somos um todo. Você é mãe da minha neta. Phoenix, tio.
Logo, ambos são nossos também, agora.
— A senhora é mãe, então deve imaginar o desespero que fiquei quando
fui presa ontem. Eu nem estou falando do horror da cena de encontrar meu
chefe morto em seu quarto, mas porque ninguém parecia acreditar em mim.
Não conseguia me defender porque a ideia de que pudessem pensar que eu
machucaria alguém, qualquer um, era tão absurda! Mas aquela mulher ficava
repetindo que eu o matara.
— Que mulher?
— Acho que uma empregada do doutor Augustus. Foi ela quem abriu a
porta para que eu entrasse, mas não posso ter certeza, já que nunca havia ido
lá antes.
— Petal, eu sei que na sua situação é difícil ter fé nas pessoas, mas
acredite em mim quando eu digo que faremos o impossível para provar sua
inocência.
— Obrigada. — Olho para minhas mãos. — Eu não quero prejudicá-lo.
Estou falando sobre a carreira dele.
— Rafe não funciona desse modo. Ameaças não o fazem recuar.
— Eu virei o mundo dele de cabeça para baixo.
— Não, vocês viraram um do outro. Um bebê não se faz sozinho.
Não detalhei a maneira como conheci Rafael, mas presumo que ela saiba,
se for me ater ao que ele disse sobre não haver segredos na família. Apesar
disso, nem por um instante ela me olhou com menosprezo.
— Gosta de Natal? — pergunta, de repente.
— Gosto sim, por quê?
menção de abrir o envelope. — Pode custar seu contrato com meu filho.
Agora que já fez o que precisava, peço que se retire.
Ele parece que vai protestar, mas para a tempo e começa a andar para a
porta.
Rafe
— Não se preocupe com isso. Nem que precisemos colocar segurança com
você dentro da sala de aula, frequentará a escola normalmente. Agora, seja
um bom menino e faça a lista do que precisa.
O celular toca e vejo que é Archer.
— O que você estava fazendo no tribunal ontem com uma acusada de
assassinato?
— Era a Petal.
— A loira que te deu um pé na bunda?
— A mãe da minha filha.
— E?
— Isabel o abriu, óbvio. Willow é nossa.
— Eu disse. — Phoenix entra na conversa. — Minha irmã não mente.
Meu pai concorda com a cabeça.
— Sobre Luigi, parece que ele e sua mãe discutiram, mas Isabel não quis
entrar em detalhes.
— Falarei com ele. Provavelmente está preocupado com as notícias.
Papai fica em silêncio e eu sei a razão. Ele e minha mãe nunca
simpatizaram com meu empresário, para dizer o mínimo.
— Nesse caso, é melhor telefonar para Matheus Berardi. O que quer que
possa ajudar na defesa dela, ele precisa saber.
mais facilidade, mas sobre a questão de Petal ser ou não inocente, somente
após ouvirem Joaquín, ficaram convencidos.
Quando Matheus chegou, só restávamos eu, meu pai, Guillermo, Archer e
Joaquín, já que Gael está voltando de uma filmagem na Europa e Martina foi
levar Phoenix para dar uma volta pelo prédio com Raul, provavelmente para
poupá-lo da reunião com o advogado.
Antes que qualquer um de nós pudesse falar, no entanto, Matheus diz:
— Augustus Acker fez uma extensa pesquisa sobre Petal Bartley antes
mesmo que a senhorita Bartley fosse trabalhar para ele.
— O quê? — pergunto. — Do que está falando?
— Eu não sei ainda, mas pelo que pude apurar, ela não foi trabalhar na
empresa dele por acaso, mas induzida a isso.
— Como?
— Não tenho todas as respostas por ora, mas ao menos, um ponto de
partida. Havia um interesse no morto pela sua… pela mãe de sua filha e eu
quero descobrir porquê.
— Petal se lembrou de que a mulher que a acusou de assassinato, a
empregada da casa de Augustus Acker, parece ter voltado ao quarto logo
depois que ela entrou, quando já havia se despedido, dizendo que precisava ir
embora — meu pai intervém. — Acha que pode ser cúmplice de Lleyton
Acker?
— Tudo é possível — Joaquín diz —, mas nesse caso, teriam que ser três
cúmplices, pois há ainda o segurança que deixou Petal entrar. É muito difícil,
que todos mantenham silêncio, ainda mais se quem cometeu o crime foi
Lleyton Acker. Uma coisa a se saber sobre a natureza humana é que quando o
— Rafe, o que aquela mulher está fazendo na sua casa? — Luigi pergunta
assim que atendo.
— Está se referindo à mãe da minha menina?
— Ela é?
— Não sabe? Parece pensar que conhece mais da minha vida do que eu
mesmo — ironizo.
— Como poderia saber? Não violei o envelope. Nunca faria isso.
— Sim, já foi confirmado. O que você quer?
— Abrir seus olhos. Independentemente dessa mulher ser mãe de sua
patrocinadores. Viram sua foto saindo com ela do tribunal ontem. Não
querem qualquer ligação sequer com a palavra assassinato. Se insistir nisso,
eles vão pular fora.
— Volte a falar nisso e nosso relacionamento profissional está acabado.
Fodam-se os patrocinadores. Eu sou Rafael Oviedo e minha história no
esporte fala por mim. Não há um só atleta em qualquer modalidade que tenha
ficado tanto tempo no topo. Eu não preciso provar mais nada. Minha única
preocupação no momento é em proteger a mãe da minha menina.
Capítulo 34
Petal
mesmo que se prove minha inocência, as pessoas sempre terão dúvidas a meu
respeito. É assim que as mentiras são disseminadas. Você demora uma vida
provando que é correta e em um segundo vê o mundo que conhece
desaparecer.
A tristeza não durou muito, no entanto, porque não sei como combinaram,
mas assim que cheguei à casa do irmão de Rafael, conheci mais três membros
do clã: Angel, que é cantora e agora me lembro, esposa do famoso ator Gael
Oviedo; Olívia, a mulher do irmão mais velho, Guillermo e claro, a dona da
casa, Bianca, esposa de Joaquín.
Elas falam tanto e tão rápido que nem tive tempo de pensar muito no
inferno que se transformou minha vida.
Mas não foi isso o que fez meu coração ficar mais leve e sim a maneira
como receberam Willow.
Retiro o que eu disse sobre não ter pior escolha para pai do meu bebê
quando julguei Rafael pelo fato de ser um mulherengo. Se algo acontecer
comigo, eu agora tenho certeza de que os Caldwell-Oviedo protegerão
Willow e Phoenix.
Elas quiseram saber tudo ao meu respeito — e quando digo tudo, é tudo
mesmo: desde a maneira como conheci Rafael até a acusação por assassinato.
Mas em nenhum momento questionaram a paternidade, repetindo o discurso
de que Willow tem os olhos do pai e do avô.
Dona Isabel nem sequer chegou a mostrar a elas o exame de DNA, que
abriu sem o menor constrangimento, ainda que estivesse endereçado a Rafe.
Depois de ler o resultado, me disse simplesmente: ela é nossa.
As mulheres Caldwell-Oviedo nos aceitaram de braços abertos, mesmo
que eu e minha filha sejamos de uma classe social diferente.
É estranho me sentir fazendo parte de um todo. Não sou do tipo que cede
fácil à aproximação de pessoas de fora, mas hoje eu dei graças a Deus por
minha filha ter tanta gente para protegê-la, no caso de que eu falte.
Quando voltei para casa — a mãe de Rafael nos trouxe até a porta — tanto
sacolas.
— Eu ia montar o berço dela, mas não sabia qual quarto você escolheria.
— O meu mesmo está ótimo. Quando ela estiver maior… hum… se você
quiser decorar um, poderá fazê-lo com a ajuda de uma profissional. Quero
dizer, não é uma exigência, mas nas revistas é o que o ricos fazem.
Senhor meu Deus, alguém me para.
Sinto seu calor às minhas costas.
— Por que está nervosa?
— Você me deixa nervosa — confesso.
nos esbarrado. Foi tudo uma farsa desde o começo. O vestido no qual você
me viu na Noite Escura, eu nunca poderia pagar. Eu nem deveria ter ido
àquela festa.
— Você fingiu gozar quando estivemos juntos?
não é? Pode ter qualquer mulher, Rafael, então por que complicar tudo?
— Eu não quero outra.
Ele recosta a cabeça no sofá.
— Não planejei isso. — Continua. — Quero dizer, sim, vou te seduzir
assim que você estiver liberada pelo médico, mas não planejei fazê-lo nesse
instante.
— Tem coragem de dizer isso olhando na minha cara?
— Lembra do que eu falei, Petal? Sou brutalmente honesto, mas o que
estou tentando explicar é que por ora, eu queria mesmo te ouvir. Sobre seus
medos, principalmente.
— Eu acredito em você, mas não fique relembrando aquela noite. Eu não
sou de ferro.
— Jesus, menina, você me mata com esse jeito inocente de dizer o que
está sentindo. Continue o que estava dizendo sobre aquela noite.
Demoro uns segundos para lembrar porque ele tem o poder de transformar
meus neurônios em geletina.
— Eu estava dizendo que eu me lembro de tudo o que aconteceu entre nós
e não me arrependo, mas eu não sou normalmente tão solta, entende?
— Disse-me que não estava bêbada.
— E não estava. Dei dois goles em um champanhe apenas. Tinha acabado
de fazer vinte e um.
— Você é linda.
— Enfim, eu queria viver. Só não sabia que aquela aventura nos traria até
aqui. Eu não planejei estragar sua vida, Rafael e é por isso que não podemos
nos envolver. Se não bastasse o fato de que eu posso ser presa em um futuro
próximo, há Willow na equação.
— Eu disse que já estava te procurando antes que você me encontrasse.
— Para transar de novo.
— Sim, para foder você. Muitas vezes. — Ele passa as duas mãos no
rosto. — Eu não sei se seria só foder. Nunca fui além do sexo, mas eu queria
mais com você.
Levanto-me do colo dele porque suas palavras são tentadoras demais. Ele
é tentador demais.
— Se nós não tivéssemos uma filha, mesmo com minha vida no meio do
caos, eu poderia arriscar, mas há muito mais em jogo — falo, indo até o
carrinho e pegando Willow.
Capítulo 35
Rafe
Antevéspera do Natal
Depois da conversa que tivemos na segunda noite em que ela dormiu aqui,
Petal tem evitado ficar sozinha comigo.
Às vezes, ouço Willow chorar e quando vou no quarto delas, porque agora
que estou começando a me acostumar com essa coisa de ser pai, trago uma
Petal cantou, andou com ela, fez massagem para cólica, deu chá que
minha mãe recomendou quando ligamos para ela desesperados, revezou
comigo, mas Willow não se rendia ao deus do sono.
E então, de repente, fez-se o silêncio.
apenas senti.
Tiro minha boxer e camiseta.
Parado no meio do quarto, nu, sem me mexer ainda, eu a desafio a fugir
disso que existe entre nós.
coxa.
Ela grita.
— Você é muito sensível. Mal posso esperar para poder te foder como eu
quero.
Tenta se mexer, mas eu não permito, mantendo suas coxas bem separadas.
Ajoelhado no meio de suas pernas, puxo-a pela bunda.
Passo o dedo do clitóris a sua abertura e estremece, mordendo o lábio
inferior.
Está molhada, pedindo pela minha boca e eu não posso mais me segurar.
Corro a língua por toda ela, seu mel se espalhando pelo meu paladar, o
cheiro de seu tesão dominando meus sentidos.
— Eu quero te tocar também. Preciso te tocar. Por favor, Rafael.
Estou louco de tesão, não quero parar, mas sei como dar o que ela implora.
— O que você quer, Petal?
— Provar você também.
— Já fez isso?
— Não.
Roço a cabeça da minha extensão em seus lábios e sem que a instrua, ela
suga.
— Assim mesmo. Abra mais essa boquinha e mame. Passe a língua.
Em pouco tempo, ela pega o jeito e quase me tira de órbita. Chupa com
vontade, sem frescura. Petal é sexy demais, mesmo em sua inexperiência.
Com a mão atrás do meu corpo, brinco de leve com sua boceta, só
massageando o clitóris, mas sem meter porque não quero machucá-la.
Ela rebola nos meus dedos, a sucção aumenta e minhas bolas pesam de
tesão.
Cada vez que a minha língua entra em seu corpo, ela convulsiona.
Chupo todo seu desejo, esfomeando, nunca tendo o suficiente.
Ela me suga e masturba ao mesmo tempo, as mãos acariciando minhas
bolas.
Seu mel escorre pelo meu queixo e o gosto dela me vicia.
Estico uma das mãos e estimulo seu peito.
Petal urra e rebola no meu rosto, e descontrolada, me leva quase até o
fundo da garganta.
Não acho que ela saiba o que está fazendo ou que esteja tentando me
— Goze comigo. Se não quer beber, precisa parar, mas se for fazê-lo, não
deixe escorrer uma gota. Mame com vontade.
As palavras parecem enlouquecê-la porque ela me chupa agora como se
sua vida dependesse disso. Mordisco novamente seu clítoris e ela afunda o
sexo no meu rosto.
— Por favor.
— Eu nunca vou cansar de comer sua boceta, mas preciso te fazer gozar,
amor.
boca.
— Você estava me levando até a garganta. Relaxe a boca. Quero te foder
assim.
Meu toque em seus fios não é suave, mas um aperto urgente.
Quanto mais fundo e rude eu meto, no entanto, mas ela geme em torno do
meu pau, sugando com vontade.
— Vou gozar — aviso. — Quero encher essa boca bonita.
Fodo-a algumas vezes, parando bem fundo.
Não resisto por muito tempo.
A visão dela nua, de quatro, os peitos se movendo enquanto me devora é
um tesão e depois de sair quase todo, eu explodo meu orgasmo entre os lábios
famintos.
Petal
No dia seguinte
Não tenho vergonha de dizer que fugi para o meu quarto assim que ele
adormeceu e não teve nada a ver com minha filha. Willow dormiu
tranquilamente o resto da noite, mas acordar ao lado de Rafael não é algo ao
maduro que Phoenix seja, ele é praticamente uma criança. Se eu quase surtei
com a montanha-russa em que se transformou nossas vidas, a cabeça de um
adolescente não poderia estar melhor.
Em uma dessas conversas ele me disse que se sentia feliz por estarmos
morando com Rafael, mas acho que o que quis dizer é que se sentia seguro.
Eu nem imagino como deve ter ficado apavorado quando soube que fui presa.
— Ele continua sendo o The Best para mim. Rafe é o melhor, Petal.
Aos poucos vejo uma amizade crescer entre o pai da minha filha e meu
irmão, o que me acalma. Se tudo der errado e eu for condenada, não tenho
mais dúvida de que os Caldwell-Oviedo cuidarão não somente de Willow,
mas de Phoenix também.
— O que está acontecendo entre vocês dois? — pergunta.
— Não tenho uma resposta para isso. Gosto dele. Muito mesmo, mas
tenho medo de me decepcionar.
— Se eu pudesse ter um desejo realizado, seria que ficássemos todos
juntos para sempre — diz.
— As coisas não funcionam desse jeito. Sabe disso, né? Enquanto gostaria
que você continuasse acreditando que a vida é boa o tempo todo, não vou
criá-lo dentro de uma bolha, Phoenix. Coisas ruins acontecem também
porque o mundo está cercado de gente má.
— Eu pensei nisso outro dia.
— Em quê?
— Estava tentando imaginar como alguém podia acreditar que você seria
capaz de matar aquele homem. É ridículo. Depois de um tempo, cheguei a
uma conclusão.
— Você me assusta quando fala comigo desse jeito. Parece um adulto.
Ele dá de ombros.
— Tudo bem. Conte-me a que conclusão chegou — peço.
— Que as pessoas acreditam no que querem acreditar ou talvez por o
mundo ter mais gente ruim do que boa, elas veem o mal por todos os lados.
— Crê mesmo nisso, que o mundo é formado mais de gente ruim do que
boa? É uma visão cínica.
— Talvez seja, mas acredito, sim. Se houvesse mais gente boa do que
ruim no planeta, não haveria tantos crimes, mortes e injustiças.
— Não seja assim, Phoenix. Não deixe que o que me aconteceu roube sua
alegria de viver.
Ele não responde, parecendo concentrado na caneca de leite.
— Está animado para hoje? Nunca passamos um natal com tantas pessoas
reunidas.
— Não ligo para natal, mas gosto de ter mais gente por perto além de você
e Willow — diz, com sua sinceridade característica.
Meu telefone celular toca.
Depois que o aparelho novo chegou, liguei para a operadora porque queria
manter o mesmo número que eu tinha antes. Quando olho para o visor, no
entanto, um calafrio de medo me percorre.
Levanto-me e tomo um pouco de distância porque não quero que meu
irmão ouça aquela conversa.
— Por que está me ligando?
Não tenho qualquer preocupação com boas maneiras. Se há alguém nessa
vida que eu posso dizer que detesto, é Lleyton Acker.
dizendo que está tudo bem, mesmo que, na verdade, não esteja. Mas não sou
uma florzinha frágil. Posso lidar com meus próprios problemas.
— Eu fui um idiota em te largar sozinha naquela festa. Se eu não tivesse
deixado-a na escada, Willow e você seriam minhas.
— Do que está falando?
— Eu armei tudo para ficarmos juntos, mas você tinha que estragar tudo.
— Armou?
— O champanhe, Petal. Coloquei algo leve, para te deixar mais solta.
Não tem ideia de como me arrependo de ter ido falar com meu conhecido
naquela noite, deixando-a para que o cretino usufruísse desse corpo lindo —
revela, mas a essa altura, eu já estou em choque.
Tento falar baixo, mas aos meus próprios ouvidos, minha voz sai
esganiçada.
— Você me drogou?
— Não seja dramática. A palavra “droga” é um exagero. Acho que o
termo substância recreativa se aplica melhor. Mas nada disso importa
agora. Eu só liguei para dizer que deve aproveitar ao máximo o natal. Será o
— Rafael.
— Jesus, Petal.
Ando até ele, que parece tão angustiado que faz meu coração se
comprimir. Se até agora eu não tivesse certeza de seu caráter, sua reação
— A intenção dele era estuprá-la. Disse que não tomou o champanhe todo,
mas talvez fosse esse o plano. Pode ter lhe dado algo como o “boa noite,
Cinderela”, só que em quantidade menor. Precisamos falar com o advogado.
Talvez essa obsessão dele por você seja a causa de tudo.
— Lleyton me disse para aproveitar bem o natal porque seria meu último
em liberdade.
— O inferno que será. Ele deveria guardar as palavras para si mesmo
porque eu irei até o inferno, mas verei aquele filho da puta atrás das grades.
Capítulo 37
Petal
Naquela noite
— Porque para ela qualquer dia era especial — intervenho e depois que
ele se afasta, digo baixinho somente para Isabel. — Ele era pequeno quando
tia Darcy adoeceu e acho que não se lembra mais de como ela era antes.
Rafe ainda está no carro com Guillermo, tentando esconder os presentes
que comprou para as crianças porque segundo me falou, haverá alguém
vestido de papai Noel para entregá-los amanhã de manhã.
Todos dormirão na mansão de Isabel e Stewart, inclusive nós, porque
parece que a comemoração da véspera de natal dos Caldwell-Oviedo acaba
bem tarde. Além disso, está previsto uma nevasca para essa madrugada.
vai encontrar alguém, mas não deixe que ocupem meu lugar na vida dela.
— Vem cá.
Isabel olha para trás, mas Rafael diz à mãe que vamos fugir por um
instante.
Depois, me leva para uma porta no hall mesmo, que percebo ser um
armário de casacos[35].
— Não podemos ficar aqui.
— Precisamos de privacidade e no momento, não consigo pensar em um
lugar melhor.
Ele tira meu casaco e depois o próprio e os pendura. Depois, as luvas e as
mãos frias vêm para o meu rosto.
— Que história é essa de madrasta?
Estou tentando fazer um lar para Willow e Phoenix, mas até agora me saí
muito mal. Minha filha acaba de completar um mês de vida e ao invés de
celebrar, fui presa dias antes.
Ele segura meu queixo.
— Esquece essa parte das acusações e foca na sua família. Na nossa
família. Disse sobre Willow e Phoenix. E eu?
— O que tem você?
— Não há espaço para mim nessa equação?
Mordo o lábio com força para não chorar porque me sinto emocionada.
— Isso já é mais do que o suficiente para mim.
Viro as costas para sair, mas ele me segura pelo braço.
— Não terminei. O que eu estava dizendo é que ser pai de Willow me faz
sentir coisas que nunca imaginei ser capaz. Um amor tão imenso que eu
mataria por um sorriso dela, mas meu desejo por você não é porque é a mãe
dela ou mesmo por estar hospedada na minha casa. Eu já te queria antes.
— Gosto de dar nomes às coisas.
— Como assim?
— Você me disse que não gosta de talvez. Eu não gosto de incertezas. O
que somos?
— O que acha que somos?
coragem de mostrar o que quero e não aceitar migalhas como fiz a vida
inteira.
Somente nesse instante, nos braços do pai da minha filha, entendo que
nunca me achei merecedora de nada. Agradecida pelo que recebi, apenas.
Agora, eu quero mais. Quero tudo e isso inclui conquistar o coração do pai
de Willow, não apenas seu corpo.
Capítulo 38
Rafe
— Então agora não se trata mais da proteção da mãe de sua filha, mas de
sua mulher, pelo que eu entendi? — Gael pergunta. — Estão juntos?
— Sim.
Meus irmãos e pai estão presentes e silêncio toma conta da biblioteca da
casa dos meus pais. Mesmo antes que Guillermo fale, já sei o que dirá.
— Não é isso — me antecipo.
— Isso o quê?
— Sei o que está pensando: que o fato de querer que minha filha cresça
como nós fomos criados, com ambos os pais ao lado, está me fazendo
então agora podemos seguir ao que interessa — Joaquín diz. — Como devem
imaginar, fiz minha investigação em separado sobre a situação de Petal.
— Isso não pode prejudicá-lo de alguma forma? — papai pergunta.
— Sou bom em apagar rastros e tenho conhecimentos com pessoas que
— E qual seria? Parece estranho para caralho. Deus sabe que já tive uma
stalker[36] atrás de mim por anos e foi mais do que provado que essa história
de que cão que ladra não morde é uma mentira fodida — Gael fala.
Por ciúmes do relacionamento dele com Angel, uma louca[37] quase matou
minha cunhada no passado.
— Não tem nada a ver com o antigo chefe dela ser um perseguidor, mas
algo mais próximo. Augustus Acker era pai de Petal.
— O quê? É impossível. Se era verdade, por que não se revelou? É
doentio, principalmente porque o filho a desejava. Poderia ter acontecido uma
— E como ele pode ter tanta certeza? — volto a perguntar, porque parece
coisa de novela.
— Porque esse detetive a seguiu, pegou um copo que ela descartou em
uma lanchonete, e a pedido de Augustus, mandou testar o DNA. Cem por
cento de certeza de que Petal é filha do morto.
— E o que isso muda? — meu pai questiona.
— Depende. Vamos supor que o velho a tenha incluído no testamento.
Petal não sabia que era filha de Augustus, mas Lleyton, sim. Seria razão mais
por roubar a empresa em que trabalhava, quando na verdade era ele quem
roubava o próprio pai?
— Isso mesmo.
— Filho da puta!
que ele começou com essa história de fraude. Talvez para que se sentisse
desamparada e pedisse proteção a ele.
— Entretanto, não aconteceu.
— Não. Petal é forte. Nunca se casaria por dinheiro ou medo.
Sinto orgulho da mulher que gerou minha filha. Cada coisa que descubro a
seu respeito só me mostra o quão honesta e bom caráter é.
— E agora? — papai pergunta.
— Vamos começar a reunir provas. Temos que cavar mais na vida de
Lleyton. Saber se tinha dívidas — Joaquín fala.
— Mesmo com tudo isso, parece ser um pouco demais chegar ao ponto de
assassinar o próprio pai, não acham? — Gael diz.
— Não se ele estivesse com medo de ser desmascarado. Quem era
Augustus Acker? Seria capaz de jogar na cadeia ou deserdar o próprio filho,
mal fodido.
— Quando me relatou a conversa dela, disse que Lleyton alegou ter posto
algo na bebida apenas para que ela relaxasse. Vejo duas possibilidades aí: ou
usou uma dosagem baixa do boa noite, Cinderela porque a queria dócil, mas
não desacordada, ou então foi o fato de que ela somente provou a bebida o
que permitiu que continuasse consciente de tudo.
Passo as mãos pelo rosto, sem saber o que pensar.
— Não foi culpa sua, Rafe.
— Ela disse o mesmo e no entanto, continuo me sentindo mal para
caralho.
— Pelo que me contou, Petal afirmou saber o que estava fazendo porque
se lembra de tudo. Se ela estivesse completamente drogada, essas memórias
seriam apagadas. É um dos efeitos da droga do estupro.
Petal
suave.
— Não há nada de suave em mim, Petal. Já deveria ter percebido isso.
Não é por nunca ter vivido um relacionamento a longo prazo antes que não
entrarei nisso com os dois pés na porta.
— Você está me assustando, Rafael. Foi por isso que ficou estranho o
resto da noite?
— Não estranho, mas pensando em uma forma de te contar o que preciso
sem machucá-la.
— Fale-me. Eu sou forte.
Ele me puxa e beija. Não como fez ontem à noite ou mesmo antes de
virmos para a casa de seus pais, mas com tanto carinho que faz meu coração
se acalmar.
— É sim. Você é uma lutadora, mas mesmo os fortes se machucam às
tivesse ficado com Lleyton Acker naquela noite? Eu poderia ter engravidado
do meu irmão!
Eu me levanto, agitada e dessa vez ele deixa.
— Eu posso ser condenada por pensarem que matei meu pai? — pergunto,
horrorizada, mas depois me corrijo. — Não meu pai. Ele nunca foi meu pai.
Você é pai de Willow, Augustus contribuiu geneticamente para o meu
nascimento e só.
— Morto ou não, era um filho da puta.
Não tenho como discordar, então mantenho o silêncio. Talvez isso faça de
mim uma má pessoa, mas mesmo estando morto, não sei se conseguirei
perdoá-lo.
— Acha que Lleyton sabe que somos irmãos?
— Não tenho certeza, mas chutaria que não. Seria doentio demais.
— Então só quis me culpar mesmo?
— Sim, acredito que ao não conseguir te seduzir, a obsessão se
transformou em ódio. Outra coisa que Joaquín descobriu, é que não havia
qualquer acusação de fraude contra você, mas contra o próprio Lleyton.
Agora faz sentido que ele tenha armado para que pensassem que matou
Augustus. Seriam dois problemas resolvidos de uma vez. Tiraria o pai do
caminho e ficaria com a herança.
Capítulo 40
Rafe
como um covarde.
Entro na água e a posiciono de costas, à minha frente.
— Você estava grávida e sozinha com apenas Phoenix para te ajudar se
acontecesse alguma coisa. Ele tinha condições de lhe proporcionar uma vida
melhor.
— Eu não queria o dinheiro dele — diz, recostando a parte de trás da
cabeça contra o meu peito. — Na verdade, eu não queria nada dele, nem
mesmo que fosse meu pai. Ele não esteve presente quando eu precisei. Na
infância, quando minha mãe morreu, depois quando tia Darcy adoeceu. Ele
nunca foi nada para mim. Mesmo que tivesse dito quem era, dificilmente eu
teria aceitado-o como um pai.
— Eu entendo e talvez agisse da mesma maneira. Você não pode
simplesmente pegar uma pessoa que nunca fez parte de sua vida e só porque
um resultado de um exame diz que é pai, considerá-lo um.
Ela olha para trás.
— Foi por isso que te procurei. Queria que conhecesse Willow ainda
pequenina. Que representasse desde cedo um porto seguro para nossa filha.
Eu a giro em meus braços, fazendo-a me montar.
— É uma mulher incrível, Petal. Sou um sortudo por a mãe da minha
menina ser você.
— Mesmo com a maneira louca como nos encontramos? Como tudo
aconteceu?
— Quer saber o que eu acho? Alguém decidiu por nós. Em algum lugar,
estava escrito que seria assim. Não há outra explicação para a sequência de
eventos que nos colocou na vida um do outro. Havia tanta chance de que tudo
não, estou em sua vida — fala, com o tom autodepreciativo que já percebi ser
uma característica.
— Sim, não é mais uma opção. É uma escolha.
— Não seja um príncipe comigo, Rafael. Não quero o Rafe sedutor, quero
o verdadeiro, mesmo que para isso precise me machucar. Nunca me diga o
que acha que quero ouvir.
— Acredita que eu faria isso?
— Espero que não. Eu estou quebrada agora, me sentindo emotiva, mas
esse não é o meu normal. Sou forte. Posso aguentar quase qualquer coisa.
— Quase?
— Sim. Há algo que talvez me destruísse irremediavelmente.
— O quê?
— Ser afastada da minha família. Eu vivo e respiro por eles.
Seguro seu rosto.
— Não vai acontecer. Você não irá a lugar algum. Sou egoísta e
possessivo também. Você e Willow são minhas agora, Petal. E eu não abro
mão do que é meu.
Acho que ficamos quase uma hora dentro da água e desconfio que
cochilou, mas eu não a soltei.
Eu nunca me senti protetor em relação a uma mulher porque jamais me
envolvi o suficiente para isso, mas ela faz emergir algo em mim que, até
saber que tinha uma filha, eu só sentira pelos membros da minha família.
— Já volto — aviso porque molhei o quarto inteiro com a boxer pingando
no piso.
Quando retorno, com uma toalha em volta da cintura, ela está encostada na
— Essa palavra não parece combinar muito bem com nós dois.
Achei que tinha autocontrole e isso talvez seja verdade apenas em relação
ao golfe. Quando se trata de Petal, é um sacrifício fodido me manter parado
quando tudo o que desejo é aceitar o convite que seus olhos estão me
fazendo.
Ao invés de argumentar comigo, ela se ajoelha, separa as pernas e com
uma das mãos acaricia o interior das coxas. Com a outra, puxa o mamilo.
— Petal.
— Por favor…
Rafe
— Não, me dê tudo.
Agarrando uma das coxas e trazendo-a para minha cintura, eu finalmente a
percorro inteira.
Movimento-me em círculos, ainda mais devagar, esperando que nossos
corpos se ajustem.
Saio e entro novamente algumas vezes, determinado a fazê-la gritar de
tesão, não de dor.
Ela se dilata, me aceita, dando as boas-vindas e os braços vêm para em
volta do meu pescoço.
— Mexa-se comigo. Eu preciso ir mais fundo, mas tenho que saber o
quanto você aguenta.
Meu pau é como madeira úmida, inchando mais e mais dentro do corpo
Eu a preencho inteira, mas não é o bastante, então trago suas duas pernas
para os meus ombros, empurrando duro, metendo até que não haja qualquer
espaço entre nossas carnes.
— Me avise se for muito.
— Continue.
Seu pedido me incendeia.
Louco de tesão, aperto seus quadris, incapaz de pensar em qualquer coisa,
a não ser em satisfazer a necessidade primitiva de lhe dar prazer.
— Eu preciso de mais, Petal.
— Vem.
Meus golpes agora são longos, quase violentos. Nenhum de nós quer a
prudência, mas a satisfação luxuriosa, exigindo a entrega um do outro.
Eu não consigo parar de comê-la, mesmo sabendo que o gozo não está
longe.
Vendo-a sob mim, entregue, gemendo e me entregando seu prazer, os
cenários mais sacanas passam pela minha cabeça.
— Vou gozar em cada parte do seu corpo. Boca, boceta, bunda. Vou te
foder gostoso em todos os lugares. Vai me entregar tudo.
— Sim… oh, Deus!
Ela contrai à minha volta, prendendo e soltando, enquanto a fodo cada vez
mais áspero.
minha deusa-menina.
Eu mal saí dela e já a quero outra vez.
Deito-me e a puxo para cima de mim.
— Eu te machuquei?
— Não. Você me levou ao céu.
Eu a beijo porque não consigo colocar em palavras o que estou sentindo.
É muito mais do que tesão, assim como aconteceu da primeira vez.
Necessidade e fome que não diminui.
— Não estou pronta para que isso que temos acabe — diz.
Nem eu. Talvez nunca esteja.
Capítulo 42
Rafe
Deveria também estar treinando em algum lugar quente, já que desde que
cheguei da Grécia, tudo o que fiz foi indoor.
Competir está no meu sangue e no passado, tantos dias seguidos sem
treinar me impediriam de até mesmo conciliar o sono, mas nenhuma dessas
preocupações está em pauta hoje, porque eu tenho o compromisso mais
importante da minha vida adulta: registrar minha filha.
Hoje também é o aniversário de Petal e mamãe quis fazer uma festa. Sei
como funcionam as comemorações da minha família, então decidi que após
sairmos do cartório, levarei elas e Phoenix para almoçar para curtirmos um
— Obrigada por ser tão doce e fingir que não é o fato de me considerarem
uma assassina o que o fez mandar fechar o restaurante.
Não respondo porque não posso mentir para ela. Sim, boa parte de ter
reservado o lugar todo foi para poupá-la.
— Pronto, a pequena senhorita Bartley Caldwell-Oviedo está devidamente
registrada.
Depois de mais alguns minutos, nos levantamos para sair. Os seguranças
se encontram no corredor porque mesmo sem Petal ao meu lado, há muitos
Ela fica o caminho todo em silêncio, mas recosta a cabeça no meu peito.
Quando chegamos em casa, meu cunhado se oferece para ficar com nossa
filha, provavelmente intuindo que a irmã precisa de um tempo para se
recuperar.
— Perdoe-me. Alguém deve ter avisado que iríamos.
— Quem? — pergunta.
— Qualquer um. Independentemente de você, a imprensa sempre me
perseguiu.
— Como posso ter uma vida normal, criar minha filha, se eles ficarem em
cima de mim? Não foi por você que estavam lá hoje, mas por mim. Isso não
vai acabar nunca.
— Vai sim. Eu tenho uma solução. Case-se comigo.
— O quê?
— Você ouviu. Vamos tentar de verdade, mas dessa vez, da maneira
correta.
Ela se solta dos meus braços.
— Não me casarei com você para que me respeitem. Eu não fiz nada de
errado. Mereço ser tratada como uma cidadã de bem. Não sinta pena de mim.
— Não tem nada ver com pena.
— Com o que, então? Mal nos conhecemos. Diga-me que passou pela sua
cabeça me propor antes de hoje.
comprometimento. Não quero que daqui a alguns anos você olhe para trás e
perceba que estraguei sua vida. Eu mereço mais. E você também.
Capítulo 43
Petal
— Eu sinto muito que seu aniversário tenha começado tão mal, meu bem
— dona Isabel diz, na mesa de jantar da mansão dos pais de Rafael.
Toda a família veio para me prestigiar, já que a reunião é para celebrar
meu aniversário.
— Eles me pegaram de surpresa. Foi tudo muito rápido. Eu nem fiquei
com medo por mim, mas pela minha filha.
Rafael segura minha mão por cima da mesa e leva aos lábios, dando um
beijo no dorso.
Sei que Olívia é chef doceira ou chef pâtissière, que é o nome chique que
os franceses dão, como ela me explicou. Eu não consigo imaginar aquela
mulher linda e elegante sendo presa.
— Guillermo e Joaquín fizeram uma conferência e anunciaram nosso
— Nada.
— Ah, não. Isso de começar a falar e parar não funciona nessa família.
— Ela não é realmente minha. Eu a pedi em casamento e Petal disse não.
Foi como se a porteira do inferno tivesse sido aberta.
— Phoenix, não.
— Ele preenche toda a nossa lista de prós!
— Eu sei — respondo, focando só nele. — E é por isso que estamos
namorando — enfatizo a última palavra.
— Que lista é essa? — Rafael me pergunta e eu desisto de disfarçar
porque percebo que estão todos atentos.
— Meu irmão criou uma lista de prós e contras de possíveis candidatos a
namorados.
— E até você entrar no jogo, era só “contra”. Barrei todos.
Rafe. Ia ser tão legal. E daí quando eu crescer, eu caso com Phoenix.
E assim, chegamos ao segundo round da visita ao inferno, com meu
cunhado quase infartando, Olívia às gargalhadas e todo mundo falando ao
mesmo tempo.
O problema é que não posso ir para longe, porque não importa onde eu
esteja, meu coração ficará com ele.
Eu me apaixonei pelo pai da minha filha.
Funcionaria um casamento sem amor? Eu poderia fazê-lo me amar? E o
amor, como conceito, é mesmo tão importante?
Minha mãe se apaixonou diversas vezes e terminou sozinha.
Sei que não sou como ela. Mesmo com toda a carência que cresci, nunca
amei antes e não acredito que vá amar novamente se eu e Rafael seguirmos
caminhos separados.
Rafe
mais aberta. Não sei se foi o pedido de casamento ou a promessa que me fez
que me faria amá-la, mas antes, mesmo quando se entregava, eu sentia que
ainda havia uma resistência com relação a nós dois. Agora, ela parece
oferecer mais a cada dia que passa e eu intuo que deve ser muito difícil para
alguém não acostumado a confiar, baixar sua proteção.
Comecei a estudar a sério sobre um plano b quando eu não puder mais
competir e cheguei à conclusão de que não preciso fazer nada para ganhar
participação nos hotéis, assim, talvez seja o caso de somente oferecer algo ao
mundo.
Golfe é um esporte caro, elitista, então pensei em criar uma escola para
golfistas, crianças que como eu, são desde pequenas prodígios do esporte,
— Não vou me demorar. Só vim dizer que essa coisa entre você e Rafael
não vai em frente. Ele não para com mulher alguma.
— Se o senhor não sair, eu…
Minha filha começa a choramingar, talvez assustada pelo medo na voz da
mãe e aquilo, aliado ao desrespeito dele com Petal, faz meu sangue ferver.
— Você o quê? Vai me matar, como fez com seu amante? — ouço meu
empresário perguntar.
— Saia, porra! — grito.
— Rafe! — Ele tenta, mas não permito.
Seguro-o pelo colarinho e imprenso-o contra a parede.
— Petal, nos deixe a sós. Não quero que Willow veja isso.
Ela obedece.
minha família. Quando é que vai entender que eles sempre estarão acima de
todo o resto?
— Até mesmo do golfe?
— De tudo. Você está demitido. Eu te avisei que não se metesse com ela.
Dou um passo para trás, tentando me controlar porque sei que Petal
provavelmente está ouvindo do segundo andar.
— Ela é só mais uma, Rafe e está destruindo sua vida. Como pode não ver
isso? Não se lembra de quantas golpistas eu te livrei?
O soco o atinge na boca do estômago.
— Saia. Nunca pedi que me livrasse de nada. Sempre lidei com as
mulheres com quem me relacionei, mas mesmo se fosse esse o caso, não se
aplicaria a ela. Petal vai ser minha esposa.
Como imaginara, a encontro. Ela deitou nossa filha no berço e está de pé,
observando-a.
— Hey — chamo.
Olha para trás.
— É a segunda vez que ele entra aqui. Não gosto desse homem.
Ando até ela e a puxo para os meus braços.
— Não vai acontecer novamente. Eu o demiti, mas independentemente
disso, muitas pessoas têm o código da porta. Ligarei para a empresa de
Petal
— Você terminou uma relação de trabalho por minha causa. Sua mãe
disse que já estava com Luigi desde que se tornou profissional.
Estamos no carro a caminho do escritório do advogado e Rafael brinca
com Willow, que está sentada na cadeirinha, enquanto o motorista dirige.
— Eu não posso manter um relacionamento de qualquer tipo com alguém
que não respeita minha mulher e filha.
— Ele só odeia a mim ou o mundo inteiro?
— Sinceramente, eu não sei. Independentemente do que ele pensa, nós
nunca tivemos uma relação de amizade. Era só sobre meu trabalho, mesmo.
Não sei o quanto você ouviu da discussão, mas o que ele disse não é verdade.
As únicas vezes em que ele interveio em meus relacionamentos com
mulheres, foi quando se fez necessário providenciar exames de DNA para
comprovar que o filho não era meu.
— Por que ele fez isso?
— Foi a conselho dos advogados. Eles não queriam que eu tivesse contato
direto com as mulheres para não haver qualquer envolvimento emocional.
— Como assim? Você não era o pai.
— Não mesmo. Das cinco mulheres que já alegaram terem dado à luz a
filhos meus, somente com uma eu saí, e mesmo assim, a data da concepção
da criança não batia porque foi um período em que eu estava em competição
fora dos Estados Unidos por cerca de dois meses.
passando necessidade sem ajudar. O problema é que isso poderia criar algum
tipo de fantasia na cabeça da mãe dele.
— Meu Deus, que loucura. Não me admira que as vezes em que tentei
entrar em contato através do seu assessor, dei com a cara na porta.
Ele segura meu queixo.
— Eu nunca vou me perdoar por não estar ao seu lado durante a gravidez
e no nascimento.
— Você não tinha como saber.
— Não, eu não teria.
rápido para fazer com que eu soubesse. Somente isso já a faz diferente. Nos
outros casos, eu soube que tinha um “filho” — ele enfatiza a última palavra
— através de sites de fofocas.
— Eu nunca faria isso. Não gosto de chamar atenção, e principalmente,
jamais exporia você e Willow.
Ele pega minha mão direita, onde um enorme anel de diamantes que me
deu de presente no dia seguinte ao meu aniversário se destaca, e a beija.
— Minha mãe disse outro dia que todos os relacionamentos da nossa
família, tanto dos cinco filhos quanto dela mesma, foram obra do destino.
— Como assim?
— Guillermo e Olívia se encontraram porque ela era a única parente viva
de Valentina; Joaquín e Bianca, porque ela foi enganada por um dos melhores
amigos dele; Martina era para estar casada com um príncipe, mas acabou com
meu amigo, que era sua paixão de adolescência; Gael quase perdeu Angel,
que era sua assistente, e a filhinha por causa de uma trama sórdida de uma
louca, mamãe foi traída e por isso saiu da Espanha e veio morar nos Estados
Unidos…
— E nós dois?
— Uma combinação de fatores. Você disse que nunca havia frequentado
uma festa daquelas. Qual a chance de nos encontrarmos se não tivesse sido
ali?
mãe muito cedo, fez com que eu guardasse somente lembranças boas.
— Mas havia as ruins também?
— Sim, muitas. Eu era tão carente da atenção dela, que ficava agradecida
por cada vez que era uma “mãe” para mim. Ela nunca me maltratou ou
maioria das vezes, não fosse um ambiente adequado para mim. Foi descobrir
quem era meu pai que me trouxe de volta essas lembranças.
— Acredito que nem todo mundo nasceu para ser pai e mãe.
Olho pela janela, constrangida por ter me exposto tanto.
— É, acredito que não.
O motorista para na garagem subterrânea da sede do edifício Lambertucci.
Há muitos anos, pelo que Rafael me disse, Matheus Berardi se associou à
banca advocatícia da família de Enrico e Gabriel, que vem a ser também
genro dele.
Rafe
— Acha que devo fazer um exame de DNA? Quero dizer, para comprovar
que ele era meu pai e o quão absurdo seria a ideia de que eu pudesse matá-lo.
— Escuto Petal perguntar.
Além de Matheus, Vittorio, que também é advogado e pai de Enrico e
Gabriel, além dos dois próprios, estão conosco.
Na verdade, acredito que vieram porque todos os presentes são sócios
seniores. Joaquín me me disse que Enrico é especialista em divórcios e
Gabriel e o pai, em fraudes corporativas. Nenhum deles atua em crimes
contra a vida.
— Eu não faria isso — Enrico intervém pela primeira vez. — É uma arma
a mais para eles para que digam que tinha interesse em que seu pai fosse
morto. Pode pedir a herança depois se desejar, mas nesse caso, sua ignorância
pode ajudar a provar a inocência. Eles não sabem que descobrimos que é
filha de Augustus.
— Eu concordo com meu filho — Vittorio diz. — Podem tentar usar o
fato de também ser herdeira como motivador para que quisesse o seu chefe…
quero dizer, seu pai, morto.
temos com o que trabalhar. A chance de que mãe e filho tenham tramado para
Petal é muito maior do que uma menina, que não fazia ideia de que foi
envolvida em um jogo tão sórdido e que nunca teve qualquer histórico
criminal, tenha planejado isso sozinha.
— Eu me sinto dentro de uma novela. Não parece a vida real — ela diz e
tenho que concordar.
— A vida real pode ser muito mais assustadora do que a ficção, senhorita
— Matheus responde. — Agora vamos falar de ações. Exporem o
relacionamento de vocês ao público foi uma boa coisa, mas acho que
deveriam contar também sobre o noivado. — Continua, apontando para o
anel que comprei para ela.
— Por quê? — Petal pergunta.
manteve por mais de trinta anos a mãe do filho por perto sem permitir que
agissem como uma família.
— Pode ser isso, sim, mas ele caiu doente bem rápido — é Petal quem
explica. — Foi de um dia para o outro.
— Talvez tenham aumentado a dosagem do que estavam lhe dando. De
qualquer modo, pediremos a exumação do corpo. Paralelo a isso, as câmeras
serão analisadas. Já solicitamos acesso às provas e eles não têm como negar.
Acredito que se encontrarmos o que espero nas filmagens, em pouco tempo o
nome de sua noiva estará limpo, Rafael.
— E quanto a Lleyton?
— Não sabemos ainda se teve participação na morte do pai, mas acredito
que ainda hoje ele será preso.
— Por qual razão? — pergunto.
se achava onipotente. Enviou imagens para suas vítimas dos atos aos quais as
submeteu como uma espécie de humilhação final. Dá para ver claramente
Lleyton Acker fazendo sexo com mulheres desacordadas. Elas nunca o
denunciaram por vergonha, mas depois que fomos atrás, ao menos uma está
disposta a contar toda a história.
Capítulo 47
Petal
No dia seguinte
Ontem mesmo, após uma das vítimas de Lleyton dar uma entrevista na tv,
saiu um mandado de prisão contra ele. O doutor Matheus Berardi não perdeu
tempo e nem estava de brincadeira quando disse que pretendia me livrar das
acusações o quanto antes.
Não assisti às notícias porque me fazem mal. Eu só quero que isso tudo
acabe, mas Phoenix me disse que todos os sites estão falando sobre isso em
tempo real e até mesmo briguei com ele quando voltou do colégio porque
precisa focar nos estudos ao invés de se empenhar nessa coisa de
investigador de sofá[39].
manter meu orgulho à frente de uma oportunidade como essa, que poderá
significar a garantia de um futuro brilhante para o meu irmão.
Aprendi a duras penas que de uma hora para outra, a vida pode nos dar
uma rasteira e mudar todas as peças do tabuleiro de lugar. Se eu faltar por
alguma razão, ao menos Phoenix poderá se cuidar sozinho.
— Posso ver? — pergunta, enquanto seus olhos passeiam por meu rosto e
cabelo, ela mesmo parecendo perdida em lembranças agora.
— Um instante. Acho que o separei para doação com as roupas dela. Eu
pretendia fazê-lo logo que Willow nascesse, mas com toda a confusão que se
seguiu depois, não tive oportunidade.
Levanto-me e ando até umas sacolas que deixei na pequena lavanderia do
apartamento. Custo um pouco a encontrá-lo, mas o emblema amarelo do
casaco de duas cores, vinho com as mangas cinzas, não deixa dúvidas de que
uniformes escolares.
— O quê?
— Vamos fazer um café. Tenho uma história para te contar.
Minutos depois, sento-me à sua frente.
— O quê?
— Uma noite, estávamos voltando da casa da avó dele. Minha sogra tinha
feito uma cirurgia, e Rafael, por conta dos treinos, porque naquela época já
competia, tinha sido o único neto que não a visitara. Eu o levei para vê-la e
na volta, eu não me lembro qual era o horário certo, mas acho que quase
meia-noite, estávamos parados no sinal quando ele me pediu para que fizesse
o motorista estacionar.
Não a interrompo, concentrada e ainda sem entender onde quer chegar.
— Ele me disse que daria seu casaco para uma menina que viu, que
parecia estar morrendo de frio. Era a única criança presente em uma mesa de
bar e cercada por adultos. Uma mulher grávida estava com ela e
aparentemente era a mãe, porque tinham a mesma cor de cabelo.
— Oh, meu Deus!
quando você deu esse casaco a uma menina-pétala para protegê-la do frio.
Ele me encara, incrédulo.
— Você?
— Sim.
— Eu não me lembrava do nome da criança, mas da situação.
— Eu te amo, Rafael. Agora eu acredito que você é meu. Você sempre foi
meu.
Capítulo 48
Rafe
Um mês depois
Finalmente.
Depois de vários encontros dos advogados da minha mulher com o
promotor responsável pelo caso de Augustus, onde provas incontestáveis
foram apresentadas, inclusive a filmagem em que Lleyton Acker aparece
matando o pai, ontem o advogado do estado desistiu de seguir com as
acusações sobre ela.
do corpo, deixaria o promotor, que está tentando se reeleger[41], mal visto aos
olhos da população.
Não nego que deve ter ajudado que, no dia seguinte que nos encontramos
com os advogados, eu tenha anunciado nosso casamento para um futuro
breve.
relação a Petal como mais uma evidência para condenar Lleyton e livrá-la de
qualquer suspeita.
De suposta amante rejeitada, que era o que os jornais a chamaram a
princípio, se transmutou para vítima da ganância do irmão, embora não
tenhamos certeza de fato que o miserável realmente soubesse que Petal
também era filha de seu pai.
Há várias lacunas em aberto, inclusive a participação da mãe dele, Sylvia,
em toda a história.
— Acho justo, afinal, ele também tem direito de opinar sobre a casa que
compraremos.
— Meu irmão ficará feliz com qualquer imóvel que escolhamos, Rafael.
— Nunca vai me chamar de Rafe? — pergunto, me aproximando e
ficando pesada.
— Está mesmo e por falar nisso, preciso perder peso. Pensei em daqui a
umas duas semanas, quando espero que as coisas tenham se acalmado em
relação à imprensa, entrar na aula de yoga com Olívia e Bianca. Acho que
estou ficando velha, além de fora de forma, porque minha coluna dói quando
fico muito tempo com ela no colo.
— Velha com vinte e dois?
— Fala isso porque é um atleta, senhor Oviedo. Sou uma simples mortal e
ainda não perdi todo peso que ganhei depois que Willow nasceu.
Eu estava colocando Willow no carrinho, mas paro e olho para seu ventre.
Será?
— Acha que…
— Não! — diz, branca como uma folha de papel. — Nem brinque com
isso. Foi só modo de falar. E sua carreira? Outros filhos só dificultariam
ainda mais sua vida.
Oficialmente comecei a competir há um mês. Os treinos não estão nem
perto do que eram antes, mas não estou mais tão ansioso como me sentia a
cada retorno.
— Não sou o primeiro atleta da história casado e pai. Posso conciliar
tudo.
— Eu não quis dizer para abrir mão do que ama, Rafael. Nunca seria tão
egoísta. Vou ensinar nossa filha a sentir orgulho de quem é o papai dela, mas
trabalhar a paternidade e sua carreira será difícil se vierem muitos filhos.
Mesmo com aquele discurso, vejo como seus olhos brilham pela
possibilidade de termos mais crianças.
— Eu quero outros bebês.
Não foi algo que planejei dizer. Para ser sincero, não havia pensado a
respeito ainda, mas nesse instante, olhando para Willow e para a mãe dela,
tenho certeza de que é o que desejo.
— Está falando sério?
Petal
diz respeito a ele, não tenha qualquer significado mais profundo — e sua
condenação é certa.
A imprensa não para de surgir com novas notícias, tanto com relação ao
assassinato quanto ao passado criminoso e muito secreto, do herdeiro Acker.
E por falar em herdeiro, Enrico Lambertucci ajuizou uma ação para que eu
tenha direito à herança de Augustus. Primeiro, o orgulho falou mais alto, mas
depois pensei novamente em Phoenix e Willow. Ainda que o pai da minha
menina seja um bilionário, Augustus era seu avô e ela tem direito à sua parte.
vejo, mas a mulher que até hoje me visita em pesadelos: Sylvia Myer, a mãe
de Lleyton.
Levanto-me, mas não consigo correr e congelo o movimento quando ela
puxa uma arma da bolsa.
— Não faça isso — peço enquanto a imagem de Willow, Phoenix e Rafael
passam na minha mente.
Minha família, meu mundo. Eu vou perdê-los.
— Você estragou tudo, garota. Por que tinha que aparecer? Quando vi o
— Claro que não. Como poderia julgar meu menino quando ele mesmo
era um desonesto que desviava dinheiro da própria empresa sem que os
acionistas soubessem? Estou falando sobre o fato de que Lleyton não era seu
filho legítimo.
— O quê?
— Quando descobriu que eu estava grávida, ele me expulsou do trabalho.
Me jogou na rua sem qualquer condição. Então, meu filho nasceu. Um
menino e aquele filho da puta o quis. O que não sabia, era que não era
somente em sua cama que eu me deitava. Ele pensou que sim, por ter sido o
meu primeiro, maldito arrogante. Mas não foi o único.
— Então foi por que ele descobriu que Lleyton não era filho dele que
vocês o mataram?
Pensar que Willow poderia ficar nas mãos daqueles psicopatas me faz ter
vontade de vomitar.
— Nada disso importa mais. Você vai pagar pelo que fez ao meu filho.
Eu não tenho tempo de responder porque em seguida, ela puxa o gatilho.
Sinto uma dor aguda no meu ombro e caio para trás enquanto vejo,
horrorizada, ela se aproximar.
Antes que atire novamente, no entanto, um estrondo se faz ouvir e uma
mancha vermelha aparece em seu peito.
Ela cai à minha frente e noto um dos meus guarda-costas ainda de arma
em punho.
É a última coisa que vejo antes de apagar.
Horas depois
Sem falar nada, Phoenix corre para os meus braços. Dói quando ele me
aperta, mas por nada no mundo vou reclamar.
— Eu queria que tivesse sido eu a matá-la — meu irmão diz.
— Não fale isso. Você é meu menino de ouro. Nunca se igualará a lixo.
— Eu passaria a vida na cadeia por você.
Rafael vem por trás e abraça nós dois ao mesmo tempo.
— Sabemos disso, campeão, mas agora esvazie sua mente desses
pensamentos e foque na sua carreira. O perigo acabou. Nós vamos ficar bem.
Capítulo 50
Petal
Dia do casamento
chamasse.
Ele entra sorrindo, de fraque, lindo de morrer e como sempre
acontece, meus joelhos viram geleia.
— Não tem algo sobre os noivos não poderem se ver antes do
casamento? — pergunta.
— Há uma superstição sim, mas isso só atinge aqueles que não estão
destinados a ficarem juntos para sempre, como nós.
— Está flertando comigo, amor? Porque eu não resisto quando você
vem toda sexy assim. Para te pegar contra essa parede não me custa nada.
— Não faça promessas que não pode cumprir.
Ela dá um passo para perto e um arrepio atravessa minha coluna.
— Quer que eu te coma agora, gostosa? Foi por isso que me
chamou?
— Não por isso, mas agora que sugeriu, não posso pensar em outra
coisa.
— Não vai ser doce.
— Eu quero forte. Estou queimando por você, Rafael.
Ele me puxa, erguendo-me em seu colo contra uma parede.
Dou graças a Deus por ter escolhido um vestido mais simples, mas
nem tenho tempo para pensar e sinto seus dedos sondando minha calcinha,
puxando-a para o lado.
os corpos se devoram.
É físico, luxurioso e ao mesmo tempo, um ato de amor.
— Estou tão perto — choramingo e seu polegar vem para o meu
clitóris.
— Mele meu pau, minha delícia.
Ele sai duro e torna a entrar uma, duas vezes antes que eu me renda
ao desejo.
Poucos segundos depois, sinto engrossar dentro das minhas paredes e
em seguida, seu gozo quente se espalha em mim.
Rafael aparece dançando com Willow no colo. Ele gira nossa filha e
as mãozinhas gordinhas dela apertam seu rosto.
A adoração mútua dos dois conseguiria derreter até mesmo quem
tivesse uma pedra no lugar do coração e eu ultimamente, talvez por conta da
gravidez, tenho andado muito emotiva.
— Por que está tão pensativa? — ele pergunta, se aproximando.
— Mamã. — Willow estica os bracinhos para que eu a pegue, mas
antes que o faça, Rafe diz:
— Tenho uma ideia melhor. Vou dançar com as minhas duas garotas
favoritas.
Vamos os três para a pista de dança e não sei como, ele consegue
cumprir o que prometeu, girando com nós duas em seus braços ao mesmo
tempo.
— Talvez devêssemos deixá-la com Dora. Passou da hora dela
dormir.
— Tudo bem, mas antes eu quero lhe fazer uma surpresa. Espere um
instante. Tenho algo a dizer.
Nosso destino foi traçado muito antes disso. Há mais de quinze anos, eu dei
meu casaco a uma garotinha linda que estava sentindo frio. Eu me lembrava
da situação e do tom quase branco do seu cabelo, mas não do seu nome.
Um “oh” se faz ouvir entre os convidados e meus olhos se enchem
de lágrimas.
Rafael é tão inacreditavelmente bom que não expõe a situação em
que eu provavelmente estava: abandonada por uma mãe negligente. Ele cria
lembranças novas, plantando em mim não a dor do descaso, mas a beleza de
uma história de amor que começou a ser escrita mesmo que qualquer um de
nós soubesse.
— E então, muitos anos depois desse encontro, houve o baile de
máscaras do qual a imprensa gosta tanto de falar. Eu a vi, e mesmo tentando
resistir, cada célula do meu corpo a reconheceu como minha. Por vias
tortuosas e que em alguns momentos nos causaram dor, chegamos até aqui.
Eu só posso agradecer a Deus, ao destino, ao que quer que tenha planejado
nós dois porque nunca poderia ser outra. Só você, minha menina-pétala, faz
meu sangue ferver e o coração errar as batidas. Uma vez eu disse que a vida
não vinha com garantias, mas meu amor por você, sim. Ele vai durar até
meu último suspiro e talvez muito além. Eu te amo, Petal.
Entrego Willow para a avó e corro ao encontro dele.
— Você está tentando me matar do coração?
importância do momento.
— Por que você está chorando, mamãe? — Willow pergunta.
— Ela está emocionada, meu amor — Stewart diz. — Todos nós
estamos porque o campeão vai se aposentar.
Percebo que o pai dele também se segura a custo para não chorar
porque sabemos o que o golfe significa para Rafael.
O problema é que às vezes a vida não nos dá escolhas. Ele jogou essa
última temporada inteira lesionado, e embora, desde que voltou tenha
ocupado sempre o lugar mais alto do ranking, o médico lhe disse que se
continuasse a insistir, haveria risco de perder os movimentos do braço
direito em definitivo.
Quando soube do diagnóstico, fiz o meu melhor para não lhe
implorar que parasse porque nunca quis ser aquela que lhe mataria os
sonhos. Mas uma noite, no início desse ano, ao chegar de uma das viagens, o
semblante cheio de dor, ele me puxou para os seus braços e disse: chega. Eu
não posso mais.
Sei o quanto lhe custou admitir aquilo. Rafael tem a mente mais forte
do que um exército inteiro. Se decidiu parar, era porque foi muito além dos
próprios limites.
— E então, agora um grupos de seletos sortudos terão a oportunidade
de treinar com o rei? — o repórter continua.
Logo depois que nos casamos, ele deu andamento ao projeto que se
tornou a menina dos seus olhos: o maior complexo de golfe dos Estados
Unidos. Mas não uma escola qualquer, e sim, para foras de série que de
outra maneira nunca poderiam se dedicar ao esporte.
Ele olha para onde estou, uma pergunta clara em seu rosto.
Faço que sim com a cabeça e passando Celeste, nossa caçula para o
colo de Guillermo, corro ao seu encontro.
Fui eu quem deu a informação para o repórter, tentando suavizar um
momento que eu sabia que seria tão difícil para o meu marido.
Parecendo esquecido de que provavelmente estão transmitindo para
o mundo inteiro, ele abre os braços para me pegar.
— Não importa o que esteja fazendo, você sempre será meu número,
Rafael.
— Sabe que se eu sair por aquela porta, adeus sexo ardente, né?
Ela afasta o lençol e me monta.
— Mudei de ideia, posso comer comida depois.
Ela está no chuveiro e foi com muito custo que a deixei sozinha.
Transamos mais duas vezes antes que uma das babás mandasse uma
mensagem, dizendo que Celeste jogou uma caixa de sucrilhos na piscina.
Com esse ultimato, desistimos de nossa manhã de domingo
preguiçosa na cama e começamos a nos arrumar para o almoço semanal na
casa dos meus pais.
— Lleyton se suicidou.
Ela vem para perto de mim e me abraça.
— Vai pensar que sou uma pessoa horrível se eu for sincera?
— Nunca, linda.
— Eu gostaria de dizer que lamento a perda de uma vida humana,
mas seria mentira. Não havia alma naquele corpo.
Mais tarde, naquele dia
— Você não deveria estar aqui — ela diz, mas seus olhos, como sempre
aconteceu, me convidam a aproximação.
círculos, Valentina. Está na hora de pormos à prova essa loucura entre nós.
Obras da autora
Seduzida - Muito Além da Luxúria (Livro 1 da Série Corações
Intensos)
Cativo - Segunda Chance (Livro 2 da Série Corações Intensos)
Apaixonada - Meu Para Sempre (Livro 3 da Série Corações Intensos)
Fora dos Limites (Livro 1 da Duologia Seduza-me)
D. A. Lemoyne
Interaja com a autora através de suas redes sociais
Contato: dalemoynewriter@gmail.com
[1] Nos Estados Unidos há uma semana de férias na primavera, “Spring Break”. São
as férias escolares e universitárias americanas, somente durante uma semana.