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1. As Caatingas da América do Sul
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AS CAATINGAS DA AMÉRICA
DO SUL
Darién E. Prado
Introdução
A província das Caatingas no nordeste do Brasil estende-se
de 2º54’ a 17º21’ S (estimada em cerca de 800.000 km2 pelo IBGE
1985) e inclui os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, a maior
parte da Paraíba e Pernambuco, sudeste do Piauí, oeste de Alagoas
e Sergipe, região norte e central da Bahia e uma faixa estendendo-
se em Minas Gerais seguindo o rio São Francisco, juntamente com
um enclave no vale seco da região média do rio Jequitinhonha
(Figura 1). A ilha de Fernando de Noronha também deve ser
incluída (Andrade-Lima 1981).
O nome “caatinga” é de origem Tupi-Guarani e significa
“floresta branca”1, que certamente caracteriza bem o aspecto da
vegetação na estação seca, quando as folhas caem (Albuquerque &
Bandeira 1995) e apenas os troncos brancos e brilhosos das árvores
e arbustos permanecem na paisagem seca. Martius se refere às
Caatingas como Hamadryades ou pelas frases descritivas “silva
horrida” ou “silva aestu aphylla”, a última (a floresta sem folhas no
verão) seguindo o costume local de tratar a estação chuvosa das
1 A etimologia Tupi-Guarani consiste das partículas ca’a, planta ou floresta; tî, branco
(derivado de morotî, branco); e o sufixo ’ngá (de angá), que lembra, perto de (Peralta &
Osuna, 1952). Assim, “a floresta esbranquiçada”.
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Clima
As Caatingas semi-áridas, comparadas a outras formações
brasileiras, apresentam muitas características extremas dentre os
parâmetros meteorológicos: a mais alta radiação solar, baixa
nebulosidade, a mais alta temperatura média anual, as mais baixas
taxas de umidade relativa, evapotranspiração potencial mais
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Solos
Os fatores morfogenéticos que dão origem aos solos atuais
das Caatingas foram explicados acima com relação ao material de
origem (rochas pré-cambrianas cristalinas e setores sedimentares
localizados). As superfícies das rochas, que devem gerar os solos
subseqüentes sob ação do clima, são alcalinas, mas a chuva produz
uma dissolução das bases que são lixiviadas e então um
microambiente ácido é criado. A formação de argilas inicia-se em
rochas que sofrem ação do clima, mas o pH principal (devido à
presença ou ausência de bases) irá determinar a sua natureza; em
meios ácidos a caolinita é formada, enquanto montmorilonita irá
predominar se as chuvas forem insuficientes para lixiviar os sais.
De acordo com Tricart (1972) “Este é um critério certo para
delimitar os trópicos úmidos da zona de semi-árido. Nas regiões
das Caatingas do Brasil [...] filmes de sal se acumulam entre as
serras cristalinas, indicando uma insuficiência na lixiviação dos
sais. A caolinita não pode ser formada nestas circunstâncias”.
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2 O nome “agreste” também tem sido aplicado a vegetações de cerrado muito diferentes no topo da
chapada do Araripe, Ceará.
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independente da flora (Beard 1944, 1955). A “Formação caatinga” seria possível apenas
se esta tivesse uma fisionomia exclusiva a ela, o que certamente não é o caso.
As Caatingas podem facilmente se ajustar na “floresta espinhosa” de Beard (op.cit.).
Em um outro extremo, "Formação florestal" é muito ambíguo.
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Tabela 1. Unidades principais de tipos de vegetação e comunidades das Caatingas (modificado de Andrade-Lima 1981).
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Unidade Tipo de vegetação Fisionomia e localidade Substrato
IV 8 Caesalpinia-Aspidosperma Caatinga arbustiva aberta; Cariris Principalmente rochas
Velhos, Paraíba cristalinas do Pré-Cambriano
IV 9 Mimosa-Caesalpinia-Aristida Caatinga arbustiva aberta (seridó); Rio Principalmente rochas
Grande do Norte & Paraíba cristalinas do Pré-Cambriano
IV 10 Aspidosperma-Pilosocereus Caatinga arbustiva aberta; Cabaceiras, Principalmente rochas
Paraíba cristalinas do Pré-Cambriano
V 11 Calliandra-Pilosocereus Caatinga arbustiva aberta; pequenas Principalmente rochas
áreas restritas e espalhadas com solos metamórficas do Pré-
ricos em cascalhos Cambriano
VI 12 Copernicia-Geoffroea-Licania Floresta de caatinga de galeria; vales Principalmente solos aluviais
dos rios do Ceará, Piauí & Rio Grande
do Norte
II 13 Auxemma-Mimosa- Floresta de caatinga média; oeste do Principalmente rochas
Luetzelburgia-Thiloa Rio Grande do Norte & Ceará central cristalinas do Pré-Cambriano
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4 De acordo com Ireland & Pennington (1999) esta é a binomial correta para a árvore até
então conhecida como G. striata (Willd.) Morong.
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Conclusões
A vegetação das Caatingas no nordeste do Brasil compreende
uma unidade fitogeográfica bem definida (a província das
Caatingas) estendendo-se sobre pediplanos ondulados de origem
erosiva, que deixou o escudo brasileiro do Pré-Cambriano exposto
e sulcado por numerosos riachos exorréicos efêmeros. É carac-
terizada pelo seu alto grau de endemismo florístico e
particularidades dos diferentes tipos de vegetação. O conceito de
Caatingas de Andrade-Lima (1981) não foi basicamente mudado
até o presente, e mais uma unidade de vegetação é adicionada nesta
contribuição; consiste no tipo de vegetação 13, Unidade II, floresta
de caatinga média dominada por Auxemma oncocalyx em parte do
Ceará e Rio Grande do Norte.
O presente autor discorda da afirmação de Sampaio (1995),
ao considerar as unidades de Andrade-Lima, estabelecendo que
algumas delas não podem ser encontradas no campo. Certamente
5 Dois casos gritantes de disjunção foram encontrados (Prado 1991): o gênero Skytanthus
(Apocynaceae) tem apenas duas espécies, uma nas Caatingas e a outra no deserto do norte
do Chile. No gênero Hyptis sect. Leucocephala há uma disjunção similar: Caatingas –
costa do Peru. Estes podem ter sido o resultado de uma dispersão a longa distância mais
moderna, ou ambas as áreas conectadas de alguma forma antes do soerguimento final do
Altiplano Puna no Terciário inferior.
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Agradecimentos
Este trabalho foi parcialmente financiado pelo CONICET
(Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas,
Argentina) e Universidade Nacional do Rosario, Argentina.
Referências Bibliográficas
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