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Auditoria

Revisão da informação
financeira – prospectiva
Ana de Sousa Simões Pereira (economista)

A informação financeira, no seu global, hoje, que, em constante mutação, as obri- deveremos, todavia, presumir que tal
tem como objectivo permitir conhecer a ga a tornarem-se mais dinâmicas e for- auditoria seja comparável em segurança
situação real da organização, e desem- çando-as a acompanhar essas mudanças sob ou em execução aquela feita a dados his-
penha um papel crucial na tomada de a ameaça de sucumbirem. Assim, torna-se tóricos, pois estes apresentam-se como pas-
decisões, quer da organização, quer de essencial tomar decisões rapidamente e de síveis de verificação a um nível impossível
utilizadores da informação externos à forma mais fundamentada possível, é nes- para dados prospectivos, logo este tipo de
entidade. Neste sentido, é fácil entender te campo que toda a informação financeira, auditoria apresenta inúmeras especifici-
que para uma maior confiança nesta base e a informação prospectiva, em particular, dades e cuidados sobre as quais nos vamos
que sustenta decisões relativas à empresa desempenha um papel crucial. Esta ver- debruçar mais atentamente.
se recorra aos auditores para que estes a tente da informação financeira procura
possam credibilizar. A única diferença da servir de base às decisões dos seus utili- Contextualização – Breve evolução
informação prospectiva assenta no facto zadores, procurando que esta visão futura da informação financeira e seus
de esta informação não relatar períodos possa permitir decisões mais acertadas e objectivos
passados, mas tentar aproximar-se do que consistentes com os objectivos das em- A existência de sistemas contabilísticos
se espera ou possa ser o futuro. presas, ou dos seus utilizadores externos. nas organizações tem como função pro-
A informação financeira prospectiva Surge então como natural que, tal como duzir informação que é utilizada para
tem vindo a ganhar relevo dentro das acontece com a informação histórica, se vários fins, e por diferentes agentes. Por
organizações tentando responder às exi- procure o maior nível de confiança possí- um lado, e de acordo com o paradigma
gências cada vez maiores que as empre- vel nessa informação, surgindo assim a legalista, serve de prova para todos os
sas enfrentam no mundo empresarial de auditoria à informação prospectiva. Não fins jurídico-legais que se lhe apliquem, é

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a valorização e quantificação dos factos ou decisões óptimas. Há, no entanto, que engloba as previsões e as projecções tal
acontecimentos ocorridos durante deter- notar que esta informação, uma vez que como nos é dito nos parágrafos 4 e 5 da
minado período de tempo. O paradigma abarca períodos inferiores a um ano, pode norma.
económico, por sua vez, define o objectivo vir distorcida por flutuações devidas a A informação pode cobrir um período de
da informação financeira como o conhe- sazonabilidades do negócio, ou outro tipo tempo que tenha já parcialmente expirado,
cimento da situação económica da empre- de flutuações afectando os valores, a com- ou que verse apenas sobre alguns dos itens
sa e a medida do seu resultado, no entanto, parabilidade e a capacidade de previsão. das demonstrações financeiras e neste ca-
começa também a preconizar a sua utili- Este factor é particularmente importante so é denominada informação parcial.(3)
dade como base para algumas previsões e na elaboração de informações previsionais, As previsões são preparadas com base
para a fundamentação de tomada de algu- pelo que se deve ter em atenção qual a em pressupostos quanto a acontecimentos
mas decisões de gestão. Mais recentemen- técnica de previsão adequada. Outro pro- futuros que a gerência espera que se reali-
te, e para acompanhar a evolução de uma blema que se levanta com este tipo de infor- zem e a acções que a gerência espera tomar,
sociedade cada vez mais de informação, mação é o facto de as informações anuais sem que haja alterações significativas no
surge o paradigma utilitarista, que assen- virem corrigidas de alguns efeitos devido seu ambiente de actuação, baseiam-se nas
ta na ideia de que a contabilidade não é ao “corte de operações” realizado no final melhores estimativas da gerência. As pro-
mais do que um sistema formal de infor- do ano, e que, quando relevantes podem jecções são preparadas com base em pres-
mação, que procura recolher e comunicar também distorcer a análise da informação supostos hipotéticos de situações futuras
todas as informações pertinentes para a intermédia que, ou não reflecte esses ajus- e a acções que a gerência não espera ne-
tomada de decisões a todos os níveis da tes, devido ao princípio do custo/benefício, cessariamente que se realizem, e podem
organização. A utilidade e oportunidade ou baseia-se em estimativas que podem ser agregadas a pressupostos de melhor
da informação são desta forma considera- induzir em erros. estimativa.
das como um valor acrescentado impres- Podemos concluir pelo exposto que a As previsões assentam em modelos mais
cindível na empresa. Esta realidade extra- evolução da informação financeira tem vin- simples de extrapolação de variáveis para
vasou já o círculo restrito da organização do a tentar adequar-se de modo aumentar o futuro com base nos seus valores histó-
a que se refere, sendo os seus utilizadores o grau de fundamentação das decisões to- ricos e falham redondamente quando a or-
não apenas os internos, mas estendendo-se madas, quer a nível interno, quer externo ganização se depara com alterações signi-
aos externos, que podem ser investidores, às organizações, ou seja, tentam permitir ficativas no seu ambiente de actuação. No
credores, fornecedores, autoridades fiscais tomar decisões mais racionais de acordo entanto, devemos ter consciência que as
ou reguladoras, etc. Cada um dos utilizado- com o que pensam virem a ser as condi- previsões com base na melhor estimativa
res tem um objectivo diferente a alcançar ções futuras. A incerteza inerente, cada são necessárias e úteis numa perspectiva de
e procura tomar as suas decisões o melhor vez maior na sociedade em que vivemos, curto prazo, utilidade essa que vai dimi-
possível, de acordo com o conhecimento da torna estes modelos de decisão cada vez nuindo à medida que vamos avançando no
situação da organização que a informação mais exigentes, procurando fornecer infor- futuro a prever. Os modelos de projecção,
financeira lhe fornece. mações relevantes que permitam respostas por sua vez, são modelos mais sofistica-
A utilidade da informação prende-se adequadas e consistentes. Assim, passamos dos que consistem em simulações onde as
assim com a relevância e oportunidade de modelos baseados na análise de valores variáveis se interrelacionam, não são ex-
que esta tem para a tomada de decisões, históricos para a análise de valores previ- trapolados os valores das variáveis mas
surgindo deste modo a informação finan- sionais assentes em estimativas ou extrapo- sim as relações entre as variáveis do mo-
ceira intermédia, que tem como vanta- lações de valores históricos seguindo-se delo. Estes modelos também permitem a
gem debruçar-se sobre períodos mais cur- modelos com capacidade predictiva, onde análise de sensibilidade das variáveis de mo-
tos e assim permitir um acompanhamen- é possível análises de sensibilidade de va- do a prever qual a diferença no resultado
to mais próximo da evolução da organi- riáveis-chave e condições alternativas, assim face a determinada variação ou intervalo
zação e da concretização de objectivos, como modelos valorativos alternativos. Es- de variação, permitindo analisar vários ce-
permitindo deste modo reduzir a assime- ta informação financeira que procura pre- nários possíveis, e qual a resposta mais
tria entre os decisores e os utilizadores parar melhor os utilizadores para a incer- consistente e acertada face a esse quadro de
externos. «As variáveis mais importantes, teza do futuro é a chamada informação hipóteses. A possibilidade deste tipo de
do ponto de vista do utilizador da infor- prospectiva. análise permite uma reacção racional e
mação contabilística – investidores e cre- atempada mesmo face a mudanças estru-
dores financeiros – são as previsões de A informação financeira turais no contexto onde se move a organi-
resultados, a capacidade da empresa para prospectiva zação, o que é impossível no quadro das
gerar fluxos de caixa futuros e, também, «Informação financeira prospectiva é ba- previsões baseadas na melhor estimativa,
a previsão de quebras de continuidade.»(1) seada em pressupostos acerca de eventos pois os seus pressupostos assentam numa
Este tipo de informação surge essencialmen- futuros. Os pressupostos são, por sua vez, certa continuidade, tornando a possibili-
te devido às pressões dos mercados bolsis- baseados na combinação de informação dade de futuro algo rígida.
tas, pois exerce uma clara influência sobre disponível e em julgamentos, em que tan- A informação financeira prospectiva di-
as decisões de investimento permitindo-lhes to os valores históricos como os planos vide-se em duas facetas conforme o objec-
assim um melhor funcionamento. futuros têm o seu papel.»(2). Segundo a tivo ou os seus utilizadores alvo, podendo
Debruçando-se sobre períodos mais cur- ISAE 3400 (antiga ISA 810) a informa- ser de uso geral ou limitado. A chamada
tos, esta informação permite uma capacidade ção financeira prospectiva é «informação de uso geral destina-se aos utilizadores ex-
predictiva superior, e mais consistente, do financeira baseada em pressupostos acerca ternos com quem a entidade não transac-
que a fornecida por demonstrações anuais, de acontecimentos que possam ocorrer no ciona ou negoceia directamente, é, por isso,
sendo mais adequadas para a tomada de futuro e a possíveis acções da entidade» e uma informação de carácter mais geral e

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financeiras que os utilizadores muitas ve-


zes entendem como garantia de viabilida-
de futura da empresa, pois entendem que
os auditores têm um acesso e relação pri-
vilegiada com a organização, de tal modo
que podem avaliar e alertar para perigos
de eventual descontinuidade. No entanto,
não é, de modo algum, função do auditor
procurar evidência sobre a descontinuida-
de ou não da organização da qual audita
as contas, o mesmo não se poderá dizer se
no desenrolar dos seus procedimentos nor-
mais este se deparar com alguma evidência
ou indício de que a continuidade da orga-
nização poderá estar em risco. Neste caso,
é obrigação do auditor fazer tudo o que es-
tiver ao seu alcance para obter prova que
elimine essa suspeita, ou que confirme uma
dúvida razoável acerca da continuidade de
operações, caso em que, de facto, é da sua
competência inclui-lo na sua opinião. Esta
problemática faz parte integrante de uma
que reflecte o que os responsáveis assumem do, assim, aferir-se mais facilmente a capaci- outra – o “expectation gap”, ou seja, a di-
como melhor expectativa do que se espera dade de gestão da entidade e o grau de pros- ferença entre as expectativas dos utiliza-
que aconteça, logo estamos perante infor- secução dos planos apresentados, para além dores da informação financeira relativa-
mação financeira previsional. A informação de permitir a avaliação da própria capaci- mente ao trabalho do auditor e as reais e
denominada de uso limitado é destinada a dade de previsão da entidade, rebatem ainda legítimas obrigações deste.
ser usada pela própria entidade ou por ter- os argumentos dos opositores afirmando Os recentes escândalos financeiros re-
ceiros que estejam directamente a negociar que este tipo de informação tem sempre im- tratam bem a impossibilidade da informa-
com ela, e debruça-se sobre uma questão plícita uma possibilidade de realização, e ção disponibilizada aos utilizadores for-
específica a resolver ou decidir, em que os não uma certeza, pelo que, implica sempre necer dados relevantes quanto aos riscos
terceiros podem questionar a entidade res- um grau de tolerância. e incertezas enfrentados pelas organiza-
ponsável e negociar termos directamente. A posição dos organismos contabilísticos ções, o que leva a credibilidade da infor-
Neste caso o adequado poderia ser uma in- tem, relativamente a esta matéria, evoluído mação fornecida, do próprio trabalho do
formação previsional, uma projecção ou ain- significativamente, duma forte adversidade auditor e da sua independência a saírem
da uma apresentação parcial, limitada a de- face à ideia de divulgação da informação bastante afectados. Esta matéria é no entan-
terminados elementos, rúbricas ou contas prospectiva para uma posição intermédia de to bastante sensível, pelo que se discute se
relevantes para o problema em questão. verificação dessa informação até à situação o revelar da dúvida em si não precipitará
Podemos então concluir que o que distin- em, que se pronunciam correntemente sobre os acontecimentos para uma realidade, que
gue os tipos de informação prospectiva não ela, comprovando as bases contabilísticas segundo alguns, poderia ser evitada se man-
é o número de utilizadores mas sim o tipo de para a elaboração das projecções e os cál- tida no espectro da organização.
uso e de relação com a entidade que estes culos efectuados. Sendo a informação financeira prospec-
têm, o que nos leva a afirmar que o leque de O ASOBAT (A Statement Of Basic tiva qualquer informação financeira futura
destinatários desta informação é muito vasto Accounting Theory), publicado em 1966, de um modo geral, esta torna-se uma fer-
e diversificado, podendo ser potenciais cre- pela American Accounting Association foi ramenta bastante útil, senão mesmo in-
dores, clientes, fornecedores, investidores, a primeira publicação a debruçar-se sobre dispensável, para mitigar ou confirmar a
qualquer agente que esteja a negociar algo esta problemática concluindo que «as ne- incerteza relativa à continuidade, este é
específico directamente com a organização cessidades dos utilizadores requerem não aliás o único factor que pode evitar uma
ou quaisquer entidades interessadas em co- só informações sobre transacções passadas, reserva por incerteza.
nhecer melhor a sua actividade e evolução. geradas pelas demonstrações financeiras
Face à inquestionável utilidade destas tradicionais, mas também informações re- Técnicas de previsão
informações na tomada de decisões surge lacionadas com os planos, expectativas A informação financeira prospectiva é
a problemática da obrigatoriedade ou não futuras e orçamentos». É sobre as ideias elaborada recorrendo a técnicas de previ-
da sua divulgação. As críticas à divulgação desenvolvidas no ASOBAT que se vão de- são, estas dividem-se em qualitativas e
argumentam que a previsão pode transmitir senvolver os princípios e objectivos da mo- quantitativas. As técnicas quantitativas re-
informações ao mercado que a concorrên- derna teoria contabilística que legitimam querem um elevado domínio das técnicas
cia aproveite, e que poderia fazer incorrer a informação financeira prospectiva. matemáticas, estatísticas e econométricas,
o gerente em responsabilidades por previ- e debruçam-se essencialmente sobre a ma-
sões inadequadas. Por outro lado, os defen- A problemática da continuidade nipulação matemática dos números em si,
sores da sua divulgação contra argumentam face à informação financeira através de técnicas de extrapolação e téc-
que as demonstrações financeiras ficam A revisão às contas de uma empresa im- nicas de regressão, com o objectivo de mo-
com o seu conteúdo enriquecido, permitin- prime uma credibilidade às demonstrações delizar o mundo económico real. Estas

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técnicas revelam uma ideia de futuro algo


limitadora, chegando a uma previsão única,
como se houvesse apenas uma resposta
possível para um futuro que sabemos in-
certo. As técnicas qualitativas, por sua vez,
procuram alargar o espectro de hipóteses
de futuro, tentando chegar a respostas mais
maleáveis, não procuram adivinhar o fu-
turo mas sim criar várias hipóteses possí-
veis de futuros alternativos.
As técnicas de extrapolação partem de
séries e tendências históricas, prolongan-
do-as como modo de prever o futuro. As
técnicas de regressão estabelecem relações
entre as variáveis dando origem a modelos
de regressão simples ou múltipla e modelos
econométricos. Estas relações estabelecidas
entre as variáveis que são extrapoladas pa-
ra o futuro são rígidas formando uma es-
trutura subjacente imutável. Estas técnicas
de previsão mostram-se no curto prazo bas-
tante úteis em termos operacionais para
as empresas, fazendo com que os gerentes acordo, o que em termos estratégicos é 3400 emitida pelo IFAC vem substituir a
façam delas ferramentas de gestão corren- uma vantagem relevante. A técnica de ISA 810 e a Recomendação Técnica nº11
te importantes, revelam-se, contudo, mui- Delphi parte dos conhecimentos de um emanada pela OROC, são no nosso con-
to falíveis quando alargamos o horizonte grupo de peritos que são sucessivamente texto as mais relevantes, embora surja
temporal. interrogados sobre determinada matéria, também um documento orientador emiti-
Considerando o período temporal até achando a mediana das primeiras respostas do pelo AICPA intitulado «Guide for
um ano as previsões baseadas em extra- e depois insistindo sucessivamente, obri- Prospective Financial Information», que
polações de séries temporais apresentam gando-os a justificar respostas fora do se apresenta como um guia para o auditor
uma fiabilidade superior do que as basea- primeiro intervalo encontrado, de forma a que se revela bastante útil. No entanto, há
das em modelos mais sofisticados, sendo ir diminuindo o intervalo de respostas até também várias situações plasmadas na
normalmente o método para elaborar a in- chegar ao intervalo final que é o interva- legislação que exigem a elaboração da
formação intermédia. Se nos deslocarmos lo de variação da previsão e a sua media- informação financeira prospectiva, como
do curto prazo para o médio longo prazo na a previsão final. A técnica dos impac- é o caso do Decreto- Lei 58/98 de 18 de
então aumenta a incerteza e a probabili- tos cruzados vem considerar as interac- Agosto, que passou a enquadrar um
dade de haver mudanças significativas nas ções entre diferentes acontecimentos, pois conjunto de instrumentos de gestão previ-
tendências, ou acontecimentos imprevisí- as suas ocorrências são muitas vezes con- sional (planos anuais e plurianuais, orça-
veis, pelo que este método deixa de ser dicionadas devido às inter relações exis- mento anual de exploração, de tesouraria, de
aconselhável, fazendo com que sejam pre- tentes entre eles, o que vai afectar o de- investimento e balanço previsional) obri-
feríveis os modelos mais elaborados, co- senvolvimento da situação, pois não são gatoriamente auditados para as empresas
mo as regressões e os econométricos, em variáveis independentes. A sua elaboração municipais, intermunicipais e regionais.
que o sucesso da previsão vai depender consiste basicamente na identificação das Outros exemplos se podem encontrar na
largamente da capacidade dos economis- variáveis relevantes, na sua probabilidade legislação como: o art.º 66º do CSC nº 5
tas acertarem na evolução estrutural da de ocorrência em determinado período, e – c) em que o auditor tem de emitir opi-
economia e a não existência de aconteci- das relações entre elas, o que origina um nião sobre o relatório de gestão (art.º 452º
mentos imprevisíveis. sistema de probabilidades corrigidas. As nº1), que deverá conter também informa-
As técnicas qualitativas traduzem-se na variáveis relevantes encontradas podem ção sobre a evolução previsível da em-
técnica dos cenários, de Delphi e de im- ser de vários tipos consoante o seu com- presa. No Código do Mercado de Valores
pactos cruzados. A técnica dos cenários de portamento, podendo ser ampliadoras, Mobiliários vários artigos aludem a este
importância crescente resume-se basica- potenciadoras ou inibidoras de tendências tipo de informação exigindo a sua elabo-
mente à criação de cenários futuros hipo- ou não relacionadas. Assim, o resultado final ração (art.º 134º nº1, art.º 135º nº2, art.º
téticos, em que todas as variáveis podem estabelece-se de acordo com esta rede de 137º nº1 – c)) e outros estabelecem a in-
ser moldadas, podem-se criar situações de relações e probabilidades de ocorrências. clusão no relatório do auditor da sua opi-
profunda mudança estrutural ou pôr a hi- nião sobre os pressupostos e consistência
pótese de um acontecimento que altere Preparação e apresentação da das previsões sobre a evolução dos negó-
significativamente a estrutura actual, em informação financeira prospectiva cios (art.º 8º nº2, art.º 135º nº2 – c)).
última instância a elaboração de qualquer A auditoria à informação financeira Acerca da responsabilidade a RT nº11
cenário é possível, desde que os pressupos- prospectiva, assim como a sua prepara- afirma que «é da responsabilidade da
tos em que assentam sejam consistentes ção e apresentação está sujeita a algumas direcção da empresa ou entidade a prepa-
entre si. Nesta técnica é possível compa- regras ainda que de carácter geral, ema- ração da informação financeira prospecti-
rar vários futuros alternativos e decidir de nadas por diferentes entidades. A ISAE va, a qual inclui a identificação e divulga-

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ção dos pressupostos mais significativos acrescentado à informação como um todo sua importância e impacto, aferindo assim
que lhe serviram de base». Esta mesma não deve ser considerada, no entanto, de- a sua materialidade, de modo a dedicar uma
recomendação enumera várias regras a vemos ter também em conta que informação atenção proporcional a cada um deles. É a
que a preparação da informação financei- externa à entidade terá sempre uma credi- qualidade dos pressupostos que vai deter-
ra prospectiva deve atender e às quais o bilidade superior à gerada internamente minar a qualidade da informação financei-
auditor deve estar atento, pois quer tenha pelo que se disponível deverá ser usada. ra prospectiva. Há assim que conhecer a
participado ou não na sua elaboração, são A informação prospectiva tem também organização numa perspectiva sistémica, de
regras que contribuem para o melhor en- como utilidade poder ser comparada, pelo modo a entender o modo como todas as va-
tendimento do processo no caso de revisão que é conveniente que os princípios con- riáveis se interrelacionam e como a alteração
deste tipo de informação. Não se enten- tabilísticos usados sejam aqueles que serão de uma pode influenciar por múltiplas vias o
da, contudo, que em caso algum o auditor usados nas correspondentes futuras de- resultado. Daqui se conclui também a neces-
poderá elaborar ou participar na elabora- monstrações históricas (em algumas situa- sidade da análise de sensibilidade, dado ha-
ção de informação que ele mesmo venha ções poderão ser usados princípios dife- ver variáveis que pela sua natureza de maior
a auditar, pois não é eticamente recomen- rentes destes desde que se facultem meios incerteza ou de maior influência podem ter
dável que a mesma pessoa elabore e reveja de comparação da informação prospectiva efeitos relevantes nos resultados, pelo que
a informação, o que aliás vem explícito com a informação que seria obtida usando estas variáveis devem ser cuidadosamente
no parágrafo 51 da RT nº11. os princípios da informação histórica(5)), estudadas e medida a sua sensibilidade. Os
As regras apresentadas procuram que a caso haja mudança nos princípios conta- resultados destas análises são muitas vezes
informação concebida seja a mais fidedigna bilísticos usados pela entidade esse facto dados em termos de intervalos, pelo que
possível e são: a ausência de intenções pre- deve ser divulgado tal como no caso da segundo a ISAE 3400 nestes casos a base
concebidas; utilização de pessoal qualifica- informação histórica. A comparação da de estabelecimento dos pontos do intervalo
do; obtenção da melhor informação disponí- informação prospectiva com os resulta- deve ser claramente indicada, de modo a
vel; utilização de princípios contabilísticos dos reais posteriores permite não só aferir não induzir em erro o utilizador.
adequados; consistência com os planos da se a sua formulação é eficiente e adequada A RT nº 11 pronuncia-se ainda sobre os
empresa; identificação dos factores chave; quanto aos factores chave e pressupostos, modelos contabilísticos que servem de base

“Embora haja algumas semelhanças entre a análise da informação financeira histórica e


prospectiva, há também grandes diferenças de fundo. A maior diferença existente é que na
informação histórica os valores são geralmente passíveis de verificação, enquanto na informação
prospectiva a análise é substancialmente diferente, pois a informação é subjectiva pelo que se
torna mais difícil eliminar a possibilidade de erros materialmente relevantes.”

utilização de pressupostos apropriados; ho- como também indica o grau de confiança à informação financeira prospectiva, afir-
rizonte temporal adequado; revisão adequa- que podemos depositar nela. mando que não são apropriados modelos a
da e aprovação pelos responsáveis; análise A pedra basilar de toda a informação preços constantes para todo o horizonte tem-
de sensibilidade dos pressupostos; docu- prospectiva é a identificação de todos os poral uma vez que seria necessário consi-
mentação e comparação regular das pre- factores chave da organização, pois é sobre derar a taxa de juro real e não a nominal nos
visões/projecções com os resultados reais. estes que vão ser construídos os pressu- custos financeiros o que impediria a com-
Estas regras procuram fazer com que a postos, e na falta de algum toda a infor- parabilidade da informação prospectiva re-
subjectividade característica deste tipo de mação estará errada na sua base de for- sultante e a informação real. Assim, os mo-
informação não seja aproveitada para mulação, ou seja os resultados não serão delos adequados serão os de preços cor-
induzir em erro os seus utilizadores, por de forma alguma indicativos, ou consis- rentes que incluem a inflação esperada ou
isso procuram que a sua elaboração esteja tentes com a realidade da organização, que por outro lado se ajustam de forma a
livre de ideias preconcebidas, tais como daí ser também indispensável que quem eliminar o efeito da inflação para cada pe-
perspectivas optimistas ou pessimistas (no elabore esta informação seja competente e ríodo contabilístico (embora não seja normal-
caso particular das projecções, e no cam- experiente, que domine bem as técnicas de mente usado devido à sua complexidade).
po das hipóteses poderão ser criados ce- previsão e projecção, e que essencialmen- A apresentação da informação financei-
nários optimistas ou pessimistas, embora te tenha um bom conhecimento do negó- ra prospectiva está também sujeita a regras
neste caso, os pressupostos terão de ser cio, que tenha acesso a toda a informação explícitas na RT nº11. Estas regras visam
consistentes com essas hipóteses e com o necessária e que possa debater os pressu- que a informação seja apresentada de tal
objectivo da projecção em si, incluindo as postos a todos os níveis hierárquicos. modo que eventuais induções em erro se-
acções tomadas pela gerência face a estes De facto, um factor imprescindível, quer jam eliminadas. Assim, a apresentação deve
supostos eventos(4)). Procura-se que as pre- à revisão desta informação, quer à sua ela- conter um título que indique o tipo de infor-
visões/projecções se baseiem na melhor boração, é o conhecimento profundo do ne- mação em questão, de forma que não se pos-
informação disponível embora sempre su- gócio do cliente, só assim é possível saber sa confundir com informação histórica, e
jeita ao princípio do custo/benefício, pois se os pressupostos são ou não realistas ou o modelo das demonstrações a seguir de-
informações cujo custo exceda o valor apropriados, e até hierarquizá-los quanto à verá ser semelhante ao das demonstrações

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financeiras históricas. A ISAE 3400 adianta histórica e prospectiva, há também gran- com a análise da sua relação com o
ainda que devem estar também explícitas des diferenças de fundo. A maior diferen- ambiente onde desenvolve a sua activida-
as políticas contabilísticas utilizadas (deve ça existente é que na informação históri- de e com os objectivos que persegue. Este
estar divulgado qualquer caso de alteração ca os valores são geralmente passíveis de tipo de análise afasta-se da perspectiva
de política contabilística desde as informa- verificação, enquanto na informação pros- tradicional que se prende essencialmente
ções históricas mais recentes, a razão da pectiva a análise é substancialmente di- com os números e com a sua análise, mas
alteração e o efeito na informação divul- ferente, pois a informação é subjectiva uma vez que esta informação tem carac-
gada) assim como a correcta divulgação pelo que se torna mais difícil eliminar a terísticas particulares, parece-nos que o
dos pressupostos significativos subjacentes possibilidade de erros materialmente seu estudo não poderá resumir-se unica-
à sua elaboração, para que o utilizador pos- relevantes. Neste tipo de auditoria a aná- mente aos números produzidos.
sa compreender a base de preparação da lise qualitativa assume a relevância nor- Segundo este mesmo autor o próprio
informação prospectiva. Relativamente aos malmente dada à análise quantitativa, pelo processo de análise é encarado como um
pressupostos deve ficar claro se se tratam que na análise a informação prospectiva sistema que procura recolher toda a infor-
de estimativas ou de cenários hipotéticos, as duas vão complementar-se. Este tipo mação relevante de cada subsistema que
e quando sujeitos a altos graus de incerteza de auditoria tem por isso de ser feita atra- compõe o sistema que é a empresa agre-
esta necessita de ser adequadamente divul- vés da análise dos pressupostos, avalian- gando-a de forma a que esta espelhe os
gada tal como a correspondente análise do a sua adequação e consistência, assim vários elementos da organização. O
de sensibilidade e seus resultados, pois é como da própria informação que lhes dá objectivo é partir da informação fragmen-
esta análise que vai permitir ao utilizador origem. tada e consecutivamente ir agregando e
tirar conclusões sobre o resultado face a A análise da informação financeira afunilando o espectro de informação de
alterações. A informação deve ainda refe- prospectiva, segundo Kopczynski(6), sairá tal modo que chegue a um todo compósi-
rir a data de conclusão da sua preparação facilitada se primeiro analisarmos a orga- to que descreva a realidade da organiza-
e o horizonte temporal abarcado deve ser nização como um todo, como um sistema ção, pois só assim se maximiza o valor e
explícito e justificado. composto por vários subsistemas que se significado da informação. Nesta perspec-
interrelacionam, interagem e influenciam tiva o auditor encontra-se entre o sistema
Objectivos e procedimentos entre si. Este tipo de estudo sistémico da que é a empresa, o processo de análise de
de auditoria à informação organização descreve-nos a realidade da informação encarado também como um
financeira prospectiva organização, como esta funciona, quais sistema, e a informação prospectiva que
Embora haja algumas semelhanças as suas vantagens competitivas e quais os deveria reflectir a imagem sistémica da
entre a análise da informação financeira seus factores chave, e é complementada organização.

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O exame à informação prospectiva tem


como objectivo, tal como descrito no para-
grafo 17 da RT nº11, avaliar a sua prepa-
ração e pressupostos subjacentes, verificar
a documentação suporte aos pressupostos,
verificar se a sua apresentação está con-
forme e finalmente emitir um relatório so-
bre o trabalho efectuado, exprimindo a sua
opinião. No entanto, e antes de aceitar o
compromisso, deve o revisor informar-se
sobre as características específicas do ser-
viço como qual o uso que a informação
vai ter (geral ou limitado) e qual o nível da
sua divulgação, qual a natureza da infor-
mação prospectiva (se assenta em melhores
estimativas ou se estamos perante pres-
supostos hipotéticos), e qual o período
coberto pela informação. Após esta análi-
se deve o revisor avaliar se a informação
é ou não apropriada para a finalidade a-
presentada, ou se assenta em pressupos-
tos não adequados, caso em que não de-
verá aceitar o compromisso.
A Recomendação adianta ainda que
este tipo de serviço deve ser sempre alvo
de uma carta de compromisso, a não ser que
esteja incluído no seu trabalho corrente, e
deve fixar as responsabilidades da direcção
pelos pressupostos e todas as informações
a fornecer ao revisor, deve também acau-
telar a associação do nome do revisor à
informação divulgada em brochuras e pan-
fletos e fazê-la depender de autorização
após a sua análise.
Após a aceitação do compromisso e
elaboração da carta de compromisso deve
o revisor proceder à elaboração de um pla-
no de trabalho do qual constam as várias
fases e tarefas, tendo em conta que a preo-
cupação do auditor ao analisar e avaliar a
informação financeira prospectiva vai cen-
trar-se em: materialidade das previsões, desenvolvido para obtenção da informa- performances, tendências de receitas e cus-
desvios em relação à tendência histórica, ção prospectiva, assim como de toda a sua tos, capacidade de instalação, etc.
sensibilidade das variáveis e no risco e documentação suporte, tendo sempre em A fase seguinte é de planificação, em que
incerteza. consideração a experiência de quem ela- se estabelece a extensão dos trabalhos a
A fase de obtenção de informação tem borou a informação. efectuar, recorrendo para isso aos conheci-
por objectivo a obtenção e actualização de Ao conhecimento do negócio é dada vi- mentos e experiências obtidas em trabalhos
toda a documentação inerente ao cliente, tal importância na auditoria, mas tratan- passados. Nesta fase o auditor formula as
aos factores de risco e à análise do sistema do-se de auditoria de informação pros- suas opiniões preliminares para avaliar o
de controlo interno. Comporta a análise dos pectiva é o elemento fulcral, pois permite risco da informação poder estar ferida de
princípios subjacentes à informação, se são o reconhecimento de áreas mais sensíveis distorções materialmente relevantes, ava-
consistentes com os normalmente usados e que devem ser alvo de especial atenção liando os vários aspectos componentes do
pela empresa, se a informação é fiável e se do revisor, como os recursos necessários risco: o risco inerente do cliente, do sector
haverá outras fontes exógenas à empresa à actividade da empresa, os mercados em em que este se insere e o da economia em
que a corroborem. Esta fase compreende que actua, parceiros com quem trabalha, geral; o risco de controlo (subjacente à es-
também a aquisição do conhecimento do consumidores finais e intermédios. Devem trutura de controlo interno) e pelo julgamen-
negócio, a identificação dos pressupostos também estudar-se todos os factores to inicial da materialidade. Terá ainda em a-
e dos itens prováveis de necessitar de ajus- específicos do sector em que a entidade tenção, a natureza da informação prospecti-
tamentos, quais as condições que poderão se insere, nomeadamente especificidades va, e o nível de adequação dos dados usados
indicar a necessidade de modificação ou legais, de concorrência ou sensibilidade a no processo de elaboração da informação.
expansão de procedimentos, qual o perío- determinados factores económicos ou não. Com base nesta recolha prévia de infor-
do coberto e a análise de todo o processo Recomenda-se ainda o estudo de antigas mação, e de acordo com o plano elaborado,

32 Revisores & Empresas > Julho/Setembro 2006


Auditoria

o auditor passa finalmente à fase de exe- reais, ou seja, avaliando se o processo uma referência a que os resultados podem
cução para avaliar e documentar as evi- usado é o mesmo, e se tem, ou não, sido não ser atingidos; e a data de elaboração
dências que irão suportar a opinião, ou seja, bem sucedido no passado, aferindo assim a que delimita a sua responsabilidade, pois
aos procedimentos de revisão em si, que qualidade do processo previsional. O au- qualquer facto que venha a ocorrer poste-
vão depender do grau de experiência do ditor deve também rever todo o processo de rior a esta data não será relevante para as
auditor, do período coberto pela informação preparação da informação, identificando os suas responsabilidades perante o trabalho
e do modo como foi desenvolvido o proces- modelos e técnicas usadas e testando al- desenvolvido. Outro elemento relevante é
so que obteve a informação. Estes proce- guns elementos significativos do processo. a menção da responsabilidade da gerên-
dimentos podem ser testes de conformi- Caso o revisor se veja perante uma situação cia pela informação divulgada. Conterá
dade ou testes de substanciação, que devem em que julgue adequada a opinião de um pe- ainda os vários elementos descritos no
ser suficientes e apropriados para supor- rito deve fazê-lo de acordo com a RT nº19 parágrafo 42 da RT nº11.
tar a opinião a emitir. Os testes de confor- e NIR 620 – trabalho de peritos. Há, todavia, circunstâncias que levam
midade visam avaliar a qualidade de cons- Os trabalhos desenvolvidos na avaliação o auditor a emitir um relatório modifica-
trução do sistema previsional para conhecer da preparação das demonstrações finan- do. No caso da apresentação das previ-
o nível de confiança que este merece. Tra- ceiras previsionais são equivalentes aque- sões não estar conforme, o auditor deve
ta-se basicamente de analisar as bases em les conferidos ao controlo interno no decor- emitir uma opinião com reservas, se as
que assentam as demonstrações prospecti- rer de uma auditoria de dados históricos, previsões também forem afectadas a opi-
vas (apresentação dos planos e orçamentos, ou seja, quanto maior for a evidência de nião deverá ser adversa. Se o auditor
documentos de trabalho preparatórios, actas controlo efectivo na preparação da infor- entender que uma ou mais previsões não
de reuniões de discussão de objectivos, do- mação, menor será o trabalho necessário são razoáveis deve também emitir uma
cumentos de síntese contabilística, etc.). Os para obter suportes necessários à opinião. opinião adversa. O relatório por opinião ad-
testes substantivos procuram obter prova Se alguma parte do período coberto já versa é utilizado quando as demonstrações
da coerência entre os diferentes elementos tiver passado e for significativo no todo financeiras incluem pressupostos desajus-
constituintes da informação prospectiva. da informação prospectiva, os dados rela- tados, dando origem a informação não credí-
«Além dos testes substantivos inerentes à tivos a esse período deverão ser alvo de vel. Quando a opinião é adversa devem ser
coerência das hipóteses, o auditor subs- uma auditoria como valores históricos. explicadas as razões, e o que contribuiu
tanciará a reconstrução dos cálculos pra- Deve também analisar-se se a informação para tal conclusão, no parágrafo das reser-
ticada, sistematicamente, sobre os docu- histórica contida nos pressupostos é com- vas. Por outro lado, se o exame do auditor
mentos síntese, substanciará as correla- parável ao longo do período com os outros for afectado por condições impeditivas à
ções separando os efeitos de volume dos
efeitos de preço, procederá à simulação
dos valores procurando uma melhor com- “ Para a auditoria previsional, é essencial a análise dos
preensão dos riscos incorridos pela empre-
pressupostos, estes têm de ser consistentes entre si e com
sa se não atingir os seus objectivos.»(7)
Para a auditoria previsional, é essencial os planos estratégicos apresentados pela empresa, por outro
a análise dos pressupostos, estes têm de ser
consistentes entre si e com os planos estra- lado, devem revelar todos os factores chave da organização
tégicos apresentados pela empresa, por ou- que são susceptíveis de materialmente afectar as operações.”
tro lado, devem revelar todos os factores
chave da organização que são susceptíveis
de materialmente afectar as operações. dados componentes dos pressupostos, ou aplicação de um ou mais procedimentos,
O auditor deve ainda ter presente que se a falta de comparabilidade foi conside- tidos como necessários pelo auditor, de-
qualquer análise terá de ser filtrada pelo rada no desenvolver do processo. ve-se então declarar impossibilidade de e-
princípio do custo/beneficio, o que implica Basicamente tudo o que foi dito para a missão de opinião e descrever as limitações
a análise de factores qualitativos e quan- preparação da informação financeira pros- no relatório. Há ainda circunstâncias, que
titativos, pelo que deverá analisar, como pectiva serve de guia para a fase de análi- não modificando a opinião, devem, apesar
já foi dito, a materialidade e estar atento se, pois é baseada na revisão do trabalho disso, ser divulgadas no relatório pela sua
aos dados especialmente sensíveis a va- de preparação e também na avaliação da relevância, caso em que devem consubs-
riações, ou que se revelem particularmente sua correcta apresentação, daí termos re- tanciar uma ênfase relativa a esse assunto.
incertos ou desconhecidos. Um procedi- ferido no capítulo correspondente a essas De notar, que no caso de auditoria a
mento de extrema importância para o estu- temáticas que estas revestiam vital impor- informação financeira prospectiva, a opi-
do dessas variações é a análise de sensibi- tância tanto para quem elabora como para nião é dada em forma de segurança nega-
lidade, que nos permite analisar o impacto quem vai rever. tiva, pois o revisor não pode proporcionar
dos factores nos vários pressupostos e nestas matérias um nível de segurança
nos resultados. O auditor, deverá ainda, Relatório do exame à informação semelhante ao atingido no caso de infor-
fazer um estudo comparativo para identi- O trabalho do revisor termina com a mação financeira histórica.
ficar eventuais desvios das tendências pas- emissão do relatório de opinião, que deve Poderá ainda dar-se o caso de serem
sadas, e identificar quais os factores que incluir: a identificação das demonstrações solicitados ao revisor relatórios desenvol-
influenciaram materialmente os resultados. financeiras apresentadas, a afirmação que vidos, o que deverá constar da carta de
Outro procedimento bastante útil consiste estas foram elaboradas de acordo com as compromisso. O revisor em caso algum,
em estudar o comportamento das antigas normas e que as previsões subjacentes deverá permitir que se incluam conclu-
previsões, comparando-as com os dados fornecem razoável base de orçamentação; sões mais ou menos explicitas acerca da

Revisores & Empresas > Julho/Setembro 2006 33


Auditoria

certeza dos resultados e deve ter o cuida- dos seus objectivos, da sua capacidade de prazo. O planeamento referente ao curto e
do de incluir sempre a advertência de que mudança e adaptação, da avaliação do ao médio prazo é também de grande
os resultados não são certos mas apenas contexto actual e futuro da entidade, da importância para a empresa, uma vez que
estimativas. avaliação do seu desempenho e na capa- vai permitir encetar as políticas necessá-
cidade de desenvolver políticas tendo em rias para atingir no horizonte temporal
Auditoria da estratégica vista o melhoramento deste – e tem como mais abrangente os objectivos estratégi-
e dos orçamentos objectivo desenvolver políticas que guiem cos. Assim, o planeamento estratégico
Podemos definir auditoria estratégica os indivíduos que compõem a organiza- antecede o plano anual, definindo-se este
como a análise global dos factores que ção, de tal forma que a organização como como o conjunto dos programas e orça-
afectam materialmente o bem-estar eco- um todo, e enquanto sistema de inter rela- mentos para as actividades a desenvolver
nómico da organização. Traduz-se assim ções, atinja o nível pretendido. durante o ano, tendo em vista a sua coor-
como a análise do negócio ou negócios Assim, o planeamento estratégico du- denação e controlo.
em que se opera, identificar onde e como ma organização procura optimizar a sua O plano anual engloba vários progra-
deve operar, quais os recursos essenciais posição no futuro, o que introduz a incer- mas (de vendas, de produção, da activida-
e como usá-los para atingir os objectivos teza num processo que passa a ser contí- de por secção e de compras) e o auditor
propostos. Esta análise apresenta-se nuo e não episódico, o que se traduz numa deve após o seu estudo passar à análise da
como um instrumento analítico com rele- nova filosofia de aprendizagem contínua. elaboração dos orçamentos baseados nes-
vância nos processos de tomada de deci- Ao contrário do que se passa nas previsões ses programas. Uma vez que todos os
são através do estudo de factores estraté- de melhor estimativa, em que se tenta re- orçamentos implicam fluxos de tesoura-
gicos internos e externos, assentando duzir a incerteza, o planeamento estraté- ria surge o Orçamento de Tesouraria, o
numa perspectiva sistémica da organiza- gico explora-a de modo a preparar-se o que por sua vez vai dar origem ao Orça-
ção. A auditoria estratégica tem, assim, melhor possível para enfrentá-la. O objec- mento Financeiro.
como objectivo primordial avaliar o tivo é encontrar caminhos e respostas para Na verdade, o orçamento apenas se dis-
tingue da estratégia em termos de hori-
zonte temporal. O orçamento anual é a
descrição da afectação de custos e provei-
“ Este trabalho permite concluir que a auditoria está tos, tendo em vista determinado objectivo
constante dum plano mais abrangente, e
a abandonar o seu campo restrito e a alargar-se a áreas que onde se enquadram as actividades a
até agora lhe estavam vedadas, e que assentam em análises desenvolver pela entidade aos seus vários
níveis. É assim um instrumento de pla-
e julgamentos mais subjectivos do que o tradicional, onde neamento, como já vimos, e de controlo
pois visa manter a empresa na direcção
o auditor aparece mais como um parceiro do que como traçada em termos estratégicos.
entidade credibilizadora.” A auditoria aos orçamentos e planos
tem como objectivo avaliar a qualidade
dos instrumentos de gestão previsional da
empresa. Abordando-se primeiramente o
desempenho, os objectivos estratégicos e a organização, que perante vários cenários processo de planificação e as hipóteses
planos para atingi-los, a adequação da es- possíveis se apresentem como adequadas assumidas na sua elaboração, de seguida
trutura e recursos existentes ou a adquirir, e consistentes com os seus objectivos, ten- procurando obter evidência sobre a coe-
de acordo com as perspectivas e tendên- tando não ser apanhado de surpresa pelas rência dos programas e dos orçamentos, e de
cias futuras, estando no seu raio de acção circunstâncias. como estes se articulam e interligam entre
eventuais redefinições de objectivos, pla- A operacionalização da auditoria si, e com o plano e orçamento anual. Fi-
nos ou políticas a adoptar. estratégica passa assim de modo in- nalmente, como o plano e orçamento anual
Não devemos no entanto confundir este dispensável pela auditoria à informação se adequam ao plano estratégico.
tipo de análise com a avaliação da estra- prospectiva pois esta assenta nas estraté-
tégia empresarial, que, segundo Rumelt gias e planos desenvolvidos para o futuro Conclusões
(1998)(8) se prende com a avaliação da con- da entidade, logo permitirá avaliar a Este trabalho permite concluir que a
sistência entre objectivos e planos, a ca- estratégia global da organização e a sua auditoria está a abandonar o seu campo
pacidade destes para a criação ou susten- estrutura e preparação. Esta análise de- restrito e a alargar-se a áreas que até
tabilidade de vantagens competitivas, e a pende em grande medida do conhecimen- agora lhe estavam vedadas, e que assen-
sua viabilidade tendo em conta o ambiente to do negócio em causa, assim como da tam em análises e julgamentos mais sub-
externo e as mudanças que nele ocorrem, organização na sua acepção sistémica, jectivos do que o tradicional, onde o audi-
enquanto a Auditoria estratégica procura pois só com um conhecimento aprofun- tor aparece mais como um parceiro do que
entender onde se encontra a empresa no dado da empresa e da sua realidade pode- como entidade credibilizadora. É neste con-
seu contexto, no seu ambiente de acção, rá permitir aferir a adequação de alguns texto que ressalta a importância dominan-
qual a sua posição estratégica e a direc- pressupostos e a correcta identificação dos te e crescente do conhecimento do negócio
ção que deve seguir. factores chave e recursos estratégicos. de um modo profundo, e a todos os níveis,
O planeamento estratégico, segundo Van A estratégia consubstancia-se, como vi- surgindo a noção de organização como sis-
Der Heijden(9), assenta em grande medida mos, no planeamento do futuro da empre- tema resultante da interacção dos vários
num bom conhecimento da organização – sa para um horizonte temporal de longo subsistemas que a compõe. A modelização

34 Revisores & Empresas > Julho/Setembro 2006


Auditoria

desta perspectiva vai-nos permitir a conju-


gação de várias variáveis e relações entre
elas, formando um modelo algo complexo
mas que se torna uma ferramenta funda-
mental de análise e que permite uma me-
lhor preparação das organizações para a
incerteza do futuro.
Através deste estudo podemos ainda
constatar que o auditor começa a deixar
de ser apenas um analista de números, e
passa, cada vez mais, a confundir-se com
a figura de parceiro da empresa, em que
também a ele cabe um papel activo no
desempenho e futuro da entidade, devido
ao conhecimento aprofundado e sistémi-
co da organização, que lhe começa a ser
exigido no decurso dos seus trabalhos,
nomeadamente ao nível da auditoria
estratégica. Esta realidade nasce da socie-
dade actual, em que «a mudança é a única
constante»(10), onde as empresas se depa-
ram diariamente com o desafio de não se
extinguirem ou perderem posição, obri-
gando-as a tomar as decisões mais racio-
nais e consistentes com os seus planos
estratégicos. Daqui emerge a importância
e utilidade da informação prospectiva,
quer seja para decidir casos pontuais e es-
pecíficos ou para seguir um planeamento
estratégico.
No entanto, e apesar de tudo isto, o qua-
dro normativo e as entidades reguladoras
destas matérias continuam algo acanha-
dos em abraçar esta nova perspectiva da
auditoria.

Notas
(1) M. Almeida (2000), «Auditoria Pre- BIBLIOGRAFIA
visional e Estratégica», p 46.
(2) AICPA (1993), «Guide for prospecti- – AICPA ,1993, «Guide for prospective financial information», NewYork
ve financial information.», p 3.
(3) Para serem consideradas demonstrações – ISAE 3400 – O Exame da Informação Financeira Prospectiva
completas devem conter os itens até a alínea
– Kopczynski ,1996, «Prospective Financial Statement Analysis», John Wiley and
i) elencados no guia emitido pelo AICPA Sons, Inc, NewYork
(1993), «Guide for prospective financial
information.», p36. – M. Almeida ,2000, «Auditoria Previsional e Estratégica», Vislis Editores, Lda,
(4) AICPA (1993) «Guide for prospective Lisboa
financial information», p18-19.
(5) AICPA (1993) «Guide for prospective – M. Almeida, 2001, «Auditoria de la estratégia y los presupuestos – el caso de las
empresas públicas en Portugal», Actualidad Financiera, Março
financial information», p 19.
(6) Kopczynski, 1996, «Prospective – M. Colllins e W. Ruefli , 1996, «Strategic Risk: a State-Defined Approach»
Financial Statement Analysis».
(7) M. Almeida (2000), «Auditoria Pre- – Ordre des Experts Comptables et des Comptables Agréés, 1986, «Les previsions
visional e Estratégica», p 229. – performance et prévention», Edition comptables Malesherbes, Paris
(8) Citado por Tânia Barbosa, 2003, Tese
– Recomendação Técnica nº 11, Manual do Revisor Oficial de Contas
de Mestrado «Auditoria da Estratégia: um
estudo exploratório sobre a sua utilização – Tânia Barbosa, 2003, Tese de Mestrado «Auditoria da Estratégia: um estudo
em Portugal», p27. exploratório sobre a sua utilização em Portugal»
(9) Van Der Heijden, 1997, «Scenarios –
The Art of Strategic Conversation», p 7. – Van Der Heijden, 1997, «Scenarios – The Art of Strategic Conversation», John
(10) Kopczynski, 1996, «Prospective Wiley and Sons, Inc, NewYork
Financial Statement Analysis», p10.

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