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POR-DO-SOL (“SHAYOO’’), de Osamu Dazai Tradugao de Antonio Nojiri POR-DO-SO1 (SHAYOO) DE OSAMU DAZAT © 1974 Michiko Tashima rpiamcate publicado no Japs. “Todos ot dete resemadoe tor: ANTONIO NOJIRL (Capa: YUJUTAMAKI Impessio¢ seabamento: Grifica Editors Hamburg ed, CComposgio eA: AM Produytes Grits Lid, te ino canton com o api da The Japan Foundation, pars a publi PREFACIO ‘Queria despedir-me da vida."* [Abre-se com essa frase o livro de contos com que Dazai estrcou 1a vida litetia do Japio, Os Uhtimos Anos da Vida ("Bannen") ‘A atragio da more se fazia sentir to irresistivel nele que, apés tts tentaiavas de auto-liminacio, 2 primeira das quais levada a efcto 40s vinte anos, conseguiu, finalmente, a0 trinta € nove anos, suic- darse a dois com a amante jogando-se as éguas do Tamagawa. TToda a obra de Dazai gia em tomo de quem € fraco ¢ vive i beira da mone. E que, pata ele, o forte, por exemplo, nem sus- pita da beleza exstente nas dlicadas flores de campo que se abrem ‘uth tempo intermedifrio como o ourono, tempo que antecede @ ‘morte — 0 inverno. E assim que no Pér-do-So/ pululam nomes de flores graciosas daquela estacio; ¢ se sabe que, no Japto, elas caem rmortas no auge da sua beleza, subitamente, sem fenecimento durt- douro feio, dependuradas 4 hastes. Aliés, o préprio titulo da novela anunciao fim, a noite, a morte. 'Na verdade, este escrtor, nascido em 1909 no Norte do Japio, jamais em sua vida conseguiu livrar-se do complexo de culpa gerado pela sua condigio de filho de um grande proprietirio de terra. Alem disso, ese complexo, mais 0 convencimento de que ert um ser excepcionalmente dotado para a arte litetitia (nascisisme), fi- zeram dele um desses homens com propensio 2 auto-destruigéo, isto €, que sentem fortsima aragio do abismo, em contraposigio aos que da imperfeisio tentam alcancar a perfegio, da humana condigio procurando clevar-se 3 altura dos deuses. 'Na queda, ele foi construindo o seu universoliteriio, povosdo de gente humilde € fraca, a quem unicamente emou. $6 que 2 jdentifcagto com 0s infortunados no o levou a langar gritos de protesto de cariter politico, Nele,o protesto era de amor, de silica 4 que fossereconhecido o amor dos que caem no abismo, Sucede que era demasiadamente desistrido na mancira de se aproximar dos homens € de Ihes fazer conhecer a meiguice des seres condenados 3 deeadéncia. E que a sociedade, tranquilamente asentada sobre uma moralidade tio convencional quanto falsa, negese a dar voro de confianga a um "'décadent” como cle. Quanto ‘mas se punha a gritar que cram sinceras 38 suas palavias, mais os hhomens duvidavam dele. Dazai, entio, passa a valerse de um ar- tifio — parecer um palhago — depois que viu baldadas todas as suas tentativas, Pereebera que a sotiedade, que manifesta des- prezo ou indiferenga ance uma aprosimagio tentada de igual parn ‘igual, j& na presenga de um palhaco deira de lado o sew mecanismo de suto-defesac tolera-the a presenca, que juga inofensiva ‘Tendo-se lancado 0 abismo, porém, a more nio ardou 4 comtarlhe 23 ans 20 wo lteririo empreendido. Assim, este extitor, ‘que, pelo fato mesmo de viver disposo sempre 2 motte, paradoxal- ‘mente foi a figura mais atva ¢ quem mais lutou pela dignidade da are no Japao merguhado nos hotores da guera ¢ do por guerra, finalmente nfo resistiv ao apelo da morte c corou © fio de sua vida em 1948, Como se disse acim, sua obra de estéia foi a coletinea de «cones Or Uktimos Anos de Vide ("Bannen”'), editado em 1936, quando tinha vintee sete anos de idade. A ela seguiram-se (66 para citar as obras mais marcantes ou signifcativas): Human Last © O Porta-Esandarte do Séeulo XX (""Nijiseiki Kish), de 1937; Duelo de Malberes (“Onna no Ketwoo"), A Deninca ("Kakekomi Utac"”) € Als Heidelberg, de 1940 O Novo Hamlet ("Shin Hamlet"), de 1941; Udaiin Sanetomo, de 1943: Tiugaru e Shin-yabu Shokoku. banasbr, de 1944: A Despedida ("Bidets"), A Cabce de Pandora ("Pandora no Hako”) ¢ Orogui-soosbs, de 1945; Fogos de Artifcio no Inverno ("Fuyu 0 Hanabi"). de 1946: Toka-ton-ton, Mery Christmas, A Mulber de Vilon ('Nillon no Tsuma”) ¢ Pi-do-Sol (Shayoo"), de 1947; e O Homem Falbo (“Ninguen Shikkaks") «© Good Bye, de 1948. © Pérdo-Sol veio a lume em 1947. No Japio arasado pels ‘guerra, num ambiente deteriorado onde 0 desinimo € o desespero contrastavam com a cobiga ea baxeza, esta novela, que lembra um crepisculo de irsantes auréolas, deu alento aos scus leitors, fa- 2endorlhes ver que mesmo na queda, no ato de sucumbit, hi o belo, Como diz um critica (Katsuichiso Kamei): “O Par-do-Sol € ctepisculo das quatro personagens. A morte por doenga da dams, © suicidio de Naoji, 0 viver do quase cadiver Uehara e 0 amor de Kazuko, amor comparivel a um suicidio, O desejo desta, de tet tum filho da pessoa amada, raia 0 nillismo, A vontade de destruir 44 moral convencional € 20 mesmo tempo a vontade de auto-des. tmuitse em desespero de causa. Que espécie de esperanga se pode vislumbrar nesta novela? Os quatro slo todos vitimas. E se asiste apenas 4 execusto de um quarteto da morte. Pode-se dizer que + sica por ele executada perpassa toda a atmosfeta do Por-do Sol.” Continuando com 0 mesmo erttico, deve-se atentar em que © suicidio de Nanji ndo decorre tdo somente da sensacio de vazio, fu desespero, mas contém um protesto langado "in extremis"” — ¢ fra sonho de toda a vida de Dazai procestar com empenho da sua propria vida. Esse protesto era ditgido & sociedade, e sustentava serem os libertines, ¢ nto os que se dizem adeptos de liberalismo ou do mat. xismo, 0s tnices revoluciondtios auténtics, isto € que eles, € nin. guém mais, se achavam realmente engajados na revolusio que res. ‘ituios homens a temnura e 2 meiguice. ANTONIO NOJIKI I De manha, na sala de jantar, mame sorveu uma colherada de sopa € soltou uma débil exclamaczo: — Oh! — Cabelo? — perguntei, supondo tivesse encontzado algo de- sagradivel. — Nio, senhora ‘Como se nada houvera, num voluteio levou & boca outra co- Iherada, tomou sefena 0 rosto para um lado, langou o olhar 3 cere jeira toda florida que se avistava da janela da copa e, depois, 0 sto ainda na mesma posigdo, cum outro voluteio fez novamente desli- zara colher por entre os labiozinhos Voluseio — a expresso nto € nada exagerada: sua mancira de tomar a tefeigio difere absolutamente das que vém recomendadas nas revistas elegantes. A propésito, disse-me uma vez meu imo Naoji, a beber saque: — Saiba que nio € pelo titulo que alguém se faz nobre. Mes- ro sem ele, ha pessoas nobres de nascenca; © hd os que, como nds, ‘emos apenas o titulo, © somos mais chegados & plebe. Iwajima, por exemplo (€ citou o nome de um conde seu colega de escola), aquele sujeito, na vetdade, parece mais reles que um porteiro de bordel de Shinjuku, Ainda outro dia, o Yanai (¢citou © nome de um viscon- de, também seu colega), na ceriménia de casamento do irmao, 0 imbecil vestiu fraque — mas, pergunto, onde a necessidade de apa- recer de fraque? Enfim, isso ainda passa, mas, quando, em “table speech”, aquele camarada puxou a expressfo “'Sim, senhort”, juto ‘que senti asco. A afetacio dessa gente & pura fanfarronada que na- dda tem a ver com distingio. Havia, nas cercanias de Hongo, muitas ‘tabuletas com os dizeres 'Pensio de Primeira Classe”; na realidade, ‘esses tais nobres em sua maioria nao passam de Mendigos de Primei- tm Clase. © nob legiime jamais e vale da desaseada afetagio que SEE num tipo como aja, Deno de nowo culo, a nobre au choi, diganes asim, seta lo somente mate lati, € gen nH nea algo que aba. Poe se vets até ma sua mancis de tomar a spa; nésinl- amos un pono 0 roto wobte 0 pat, eichemos depois + clhe, Imemiment pata lev-la assim 2 boc: a, orem, pots unve- tment os dedos da mao exuerda oa borda a mea, sem dobar © corpo, o rstofmementeexpuido, mal vendo o pepo Pat Bega da clherateaimente e ence-a de sops num 96 mexglho; in scguidn, com levee agildade, num geo que fra lembrat © feo de ums andotinha, leva a caer perpendiclarrente 2 boca e, ple ponta,entomna oiguo por entre os bio. Kasim, 0 obat Elsaido pelo que se pasa em redor, manga ciher num vol tio, como tts fone wba pequeda aa: € tudo eo sem demamat tims 36 gou, eno provcando id algun, nem com o pra, eta com a boca, Nio sit eam, com cee, a Manera ecomencada Pe- In bos dade; enrtato, 4 meus oles, € muito mais adrivel¢ pace Mea mais comet, De fo — coin cion —€ mais delio- 50 beber alguma coisa mantendo-se 0 tronco aatualmente ecto € Sorvendoa pelo bico da colt, do que exaesgichada e pov pe- in parte lateral da concha. Todvia como no paso de Mendiga de Pameia Case de que fla Nani que no consigo manejat Colhe com a leeraedeeavotra de mamde, desta de eouar tila, pun inclnandonme sabe o pat, seve macambtz, co ‘ho manda a etiquet ; Ms de oma sep ae man pena repas do bom-tomn, Quando hi cae, sem hestattlha-a iti gr eepeietin eos petiethsa fe bee tanto drpos afta ufreo aro para mio dita ¢,expeando um por un os bcos, comes, sborandot devagac Tambim, quan Use tata de frango — enquanto a penaios por sepa a came <> oo set fie ul om on bres eb opato~ ela spanha-o Serenamente com obico dos dedos ,sepaando carne com os dea tes dese ear imperubive. Mesmo um procediment sla. como est se afigur, em se tatando dl, lo apenas adordvel fo at mesino “ere Expana, poi, como fre 4 nobresa tutdaia da posi. No 46 em reago a0 fango: hi oases a 2 fm que mamde come os presuntos ou salsichas que acompanham o lence apanhando-o, eps, com sponta ds deo Ste porque gosono 0 “omasubi"?" Porque € compe ido one order — dine ere tee, Reamente, como eis gosouo sc padésemos comer com at mos! Fo que pen alguas very, ¢ a emant sonore Der ‘oe parcer que a enti € fara papel de verdaderm mendipn Cao, Mendig de Preis lane queso, me serene ii Ato Mang Naot disque mane af. fe mane ew amen quo dif imiéln, cepa ts vezes me desape, Gera noite linda de lar, no auton entane.evames a ts 0 quota de csa de rat Nits, fafamos sero ules au junto ao tangue, Conversation, diverts, robe a dienes favs os prepesies nape da rapa e data, No, mame Yantoust dive a0 canto de lopeleras que een dea ‘mente 2 lag do guioe; por cai or wf deft banat ‘fou seu rst, caja avn murs cena, epetguneu me sr karuko,advnke «que cau farend. = Cothend fs — atsqe Rive da minha respon solar um gitinho,e elec: Brow frend Admiro-me ado ex sues agachad, E sent ue havi a sui alg realmente adie, que lguem como cu sama one faites Die baat cme bp esa man outro dia um ino e soube que as dams da nobree, na epoca do tinad de Lu, nos envesonhavam de uinatem tos tds de alii ov ples anos dos coeds, Tal ngemudade edad, mente me ene, e pune 3 pena mamde nde si ia desu até dans da oben Pois bem. Hoje porter ela dado um gra ao somer una colada de sop, fnagues ~Cabelr No, senor, tam smb gn sgn oi, no — No me lemb Teer mes rpc? =Nre = De Nagi ae Pose a esponde,incinow a cabej, eemendou 8 poste © mano Nagi for comocado quando cusava 4 univesidade « para para hs do Sula ota sobre eles itempenn, mesmo depois do fim da guera 0 seu panei permancces ey Imiteio. Mande cnfotmoue com 4 dea de io brea Ee ue ca pens. Eu, pom, no "me conformo"; eels some Jo ainda um di Tee —Davame por onfoemada, mas 20 tomar ext sop gosto pense nel, « fie cheia de ancdade Deva elo taut com tis cain, Desde o ingreso no caléio, Nagi se orn um mantao da lcatura Comejou lea uns via patente Bogs nse 1 podem nem imapta spreocupases que cutow x mane, to ebsanc,lembrundose dele ent unt clbersda¢ ant in tuieexclamara “On!” Eu, de minha pat, enflzndo o utr pas dou da boc, sent que meus ols 5 enciam de Ieines, — Nao se preoupe: Nada acme» Neji Gente como ele difciimente mone Os ue mortem soo dass, bear bane Naojié que ato mare new paula, Mamie i comentou = Nessecao, Kako, vot deve moter ced, Cagoavme dea forma, Por qué? Bu, md como sou, hide chega os tena = Sim? Eao, eu vee sos noventa no © Ja respondendo, mas fiquei embaracada. Os maus vivem mui- 5 to. As pessoas belas morrem logo. Mamde € maravilhoss. Mas, ain- 4s asim, quero que viva muitos anos. Fiquei remendamente atra- palhada. “— Como a seahora € maldosa! ‘Ap6s dizé-lo, meus labios comecaram a ttemer involuntaria mente, e as Higrimasjotraram-me dos olhos. Falaei a respeito da cobra? (Quatto ou cinco dias antes, & tarde, algumas crianges da vii nhanga trouxeram uns dez oves de cobra que encontraram no bam- bual sitado nos fundos do quincal da casa, ‘Sio de cobra venenosa — insistram. ‘Se nascetem dezserpentes no bambual, nio poderei mais sir Aespreocupadamente de casa” — assim pensando, dise-hes: = Vamos queimi-los [As ciangas pularam de coatentamento € puserumse a seguit-me. “Amontoei folhas de drvore e gravetos seos, acendi-os¢ lancei ‘0s ovos no meio do fogo, um a um. Eram dificeis de queimar. Em- bora as criangasavivassem © fogo, encobrindo as chamas com folhas de drvoree ramos seos, os oves nem pareciam se alterat. Foi cntio que a filha do lavridor que morava 20 pé da colina sme perguntou: — Que esti fazendo? = Queimando ovos de cobra venenosa — De que tamanho s40? — Do tamanho de ovo de codomna, branquinkos. = Endo nio sio de cobra venenosa. De jeto nenhum. Ovo ‘do queima facilmente, sabia? "A mocinha ria como se realmente tivesse achado graca, ¢ tei ‘Como eles nto queimassem, embors tivésemos fieado a fazer ogo cerca de tinta minutos, mandei as criangasretirilos e enterr-los a0 pé da ameixcta; depois do que, juntando pedrinhas, ergui-lhes ‘um témulo. — Agora, vamos todos tezat. Enquanto cu ofava agachada, pareceu-me que as ctiangas tam- bem recta aocoradas, at de mim, Despedas fu galgando, bem devagar, os degraus de pedra. Mamie encontrava-se no alto da cscadaria, 2 sombra do caramanchio de glicinia, e dise: — Que coisa cruel de se faze! = Pensei que fossem de serpente, mas nio eram. Como, po- rem, fiz 0 devido sepultamento, nao hi'mais problema, Respondi dessa maneira, mas a verdade € que me magoou o favo de ser surpreendida por ela, Conquanto nio foste superstciosa, mamac passou 4 ter muito ‘medo das cobras desde a morte de papai, na casa da rua Nishikata, ‘Um instante antes de papai morrer, ela encontrou uma corda preta delgada, caida junto a0 travesseiro. Ao tentar apanhi-le inadvert- ddamente, viu que era uma cabra. Esta fugu coleante € saiu 20 cor redor para sumir-e em algum lugar, Somente duas pessoas a vita ‘mamie ¢ tio Wada. Os dois entreolharam-se; mas, pata no pro- vocarem barulho no quarto onde papai agonizava, esforaram-se pot smanter-secalados, NOs também estivamos presentes, © n0 entanto de nada soubemos, pois nada nos dsseram Sei contudo, de conhecimento préprio, que, na tarde desse dia ‘em que papal faleceu, havia cobras em todas a8 vores nas proximi- ddades do tanque do quintal. Como sou atualmente uma “elhinha”™ de vinte e nave anes. contava dezenove naquela ocasiio, ha jé dez nos. Nao era uma eriang, e ainda hoje permanece viva em mim a lembranga do que ocorreu. E dificilmente posso estar enganada: di- rigi-me até o tangue do quintal a fim de eolher flores para a sepul- (ur, € eis que, ao para diante da azilea que margeia 0 tanque, de- rel com uma cobrinka enrodilhada na ponea duma haste desa flor, Assustei-me e, a0 tentar quebrat 0 ramo da quétia, logo a segut, ‘surpreendi oucre cobra como a primeita. Da mesma fotma as fui des: cobrindo no vizinho jasmim-do-imperador, no botdo japonés jo- ‘vem, na giesta, na glicnia, na cereeira: em todas as drvores, quais- {quer que fossem, estavam as cobras entoladas, Todavia, nfo me cau- saram muito medo, Ocotreu-me, apenas, que também eas, entis- {ecidas com a morte de papai, haviam saido de suas toca estariam 2 onar pela alma do morto, Foi por isso que. 20 encontrar mame, limiei-me a uma breve referencia i cobras do quintal; ela inclinow a cabesae pareceu cismar em algo, mas nada comentou, Entretamco a verdade € que 2 conjungio dessesacontecimentos incutiu nela, desde entio, enorme avessio pelas cobras, Menos que 7 versio; seri antes vencrasio ou temor — um temor reverente. “Ao me dat conta, pois, de que, surpreendendo-me a queimar coves de cobra, decerto ela devera ter pressentido algum sucesso fa- festisimo, repentinamence comeyou a pareet-me terrvel a asf0 de queimar ows de cbr. E, espicacaa pela idéia de que cal ato pudese provocaalguma maldigfo, passei uns bons diss sem conse- fuir esquect-lo. E, depos de tudo, hoje de manba, na sla de ja: far, deine exapar aquelatolice de que as pesoas belas mottem ce: do: entio chorel sm rebugos. Enquano, logo depois, limpava a ‘mesa, fu toreuada por um pressentimento horivel de que uma sr- ppenczinka medonka se hava iasinuado no fundo do meu corasto Aisposta a abrevar a vide de mami. ‘Nese mesmo dia dei com uma cobra no quintal de cass. Co smo faria bom tempo e a temperatura era amena, desi ao quintl ‘pos tmina os serve de conn, cepa ama cade de vi te e com idea de fazer teicd no gramado, quando avis a cobra 30 pé de um bambu que cescia junto a8 pedas. “Ai, que desgoso" FF fai o meu pensamento, mas ndo dei maior atengio ao fato, voi com a cadeira A varanda, onde + cologuei, ¢ setando-me, comece! ‘fazer rk. A tarde, pense em feiar 0 dlbum de pincuas de Ea rencin de ene acolo de livos que fea guardada no fundo daca pra do quinal desc evi, sobre a relva, uma cobra a deslza ena Inente. Eta a mesmna da manka, delgada e clegante. “E ferme pense Ea atravesou slencosa 0 gramado e, tendo chegado 8 som- ber da rover sien, parou, epueu a cabeca €vibrou lingua pa revida «fina labareda Semelhava desse modo contemplar os aredo~ tes. Pasado algum tempo, contudo, deixou pender a cabesa¢ coro- Tov-se toda, como se tivese mesmo em que cismar. Mesmo entio, nha impiessio mas force era de que se ratava apenas de “uma linda eobra"; ful, pos, 2 apela cata do dlbum e, na vot, expici tum pouco o lugar onde minutos anes esiverao répti, mas nfo 0 “A tardinha, quando tomava ché com mamie ma sala chines, a contemplat o quital, apaeceu, serena, 4 mesma cobra da mans tstendida no tereio degrau da exadaria de pedra Mame também a iu = Aquela cobsa..? ‘Nem bem acabou de perguntar, coreu para junto de mim, agarou as minhas mos ¢ ficou imOvel. A esas pala, de ie lembrei da ocorncia e diel exapare re Sesamr FE hin ose ou Aaa pels mt pints pes, fama ae ube ft queen ssn a pe tt acess em movin «ones i dept he, sero ddan ean ns lk Ss palin Face psc ankle po ginal Quand co dn eo nse taal sede cise i mo ancien = Ahm dpa Ca Seaton imine = oe de mc tc inal fceade de eeson berets of urn epee Sing: yore delgado un a edclepane gt haat pute tea oe ha iin aon we edo inde nip ea sre see resents Tus «nfo cms cmb delado e uve, eset inex cavelmente aflita, . fn prints de derembo, no ano em que o Jap se ede inondconee,abanonancs 2 ea dats Naika de ‘Taps nua par I, a etn de camp caste es ni, Desde opasumento de pps, nos inane denis co Agius ieecramente pelo tb Wada, indo tenor de anc ¢ ‘yor seu Unio parent de ange. Tends puch oped ‘antigraio do mundo, vealed "J a Ba neon to otc grr ee vr; nie deel ct Dreads «compra un cs limpia em alga alae don tir, onde ml fll pesam er despescpadanente in. ted as ponders, amie ue em ais de ds en 4m a in endian Ps gu Em fins de novembro chegou ums carca expressa de titio, que dizia: “Junto a estrada de fero de Sunzu, acha-se 2 venda a casa de ‘ampo do Vistonde de Kawaca. E belo o panorama visto do alto da ‘ass, Sua horta mede cerca de duzentos metros quadrades. A regito €celebre pelas ameixas,sendo célido o inverno e nfo muito quente ‘ vetio, Uma vez morando nela, havesiam seguramente de gostar. ‘Como peaso que poderi haver necessidade de discuirem sobre isso dlitetamente com a outta parte, peco, antes de mais nada, que ve~ ‘aham até 0 meu esrtéri, em Ginza.” — A senhora vai? — pergunteihhe — Pois, se tinha pedido a ele... — respondeu com incontida ‘expresso de Soledade. 'No dia Seguinte, pediu ao antigo motorisa Sr. Matsuyama que sere, pr pos depois do amos gros eno da oo — Resol Entsou no quarto, spoiow as mios aa minha mesa, sentou-se «como quem desmotona, ¢ pronunciou apenas aquela palava, = Resolveu...0 que? — Tudo Mas “Assustada, pus-me a dizer-he: "Nem vin a casa, Mamae apoiou of cotovelos na mesa, ps 2s mios suavemente a cesta e, com um breve suspiro,tespoadeu-me: — B que Wada dia ser bor o lugar. Tenho 2 impreso de'que podia mudar para esa cast, asim, de olhos fechados. [Erguet o rorto¢ riu com voz quase imperceptivel. Esse rosto, uum pouco abatido, er lindo, ‘Capirulads ante a beleza da confianca que mame deposiava no tkio Wada, concorde’ com ela — Endo, fecho também os olhos, E rimos junto; mas, logo ap6s, fomos assltadas por uma sen- sagio de remenda soledide. Desde eno, diatiamente vicram trabalhadotes que iniciaram 0s preparativos d2 mudanca. Titio Wada veio também, e providen: cdo o que seria vendido ou no. Fu e a empregada Okimi arruma- mos a foupas ¢ queimamos as cosa indteis no quintal, mostrando- “nos, enfim, ocupadisimas. Mamie, porém, no ajudou nem um 10 pouco nas arrumasdes, ndo dirgiu os rabalhos e permaneceu todos ‘esses das fechada no quarto, sem fazer coisa alguna = Que acomteceu? Nio quer it mais para Izu? ‘Assim lbe perguntetrsolutamente, clevando um pouco a vox, ‘mas mesmo assim sua resposta era distraida: — Ni € isso. Pasados uns dez dias, cerminamos os preparativos. A tarde, ‘80 quintal, eu ¢ Okimi queimévamos paps ¢ palhas. Nis, mamae saiu do quarto e, da varanda, em siléncio, lou a observa a nossa fogucira. Um vento orste fro © triste soprou, ea fumaga rastcjou rete a0 chio: levante! sem querer o rostoe reparei entio que ma- sme esava com um aspecto tio ruim como nunca tinha visto, Grite: — Mamie, «senhora ndo se sente bem? ‘Ao que, com débil somo, espondeu: — Nao € nada E depois entou silenciosamente no quarto Nessa noite, como jf tinhamos amartado os cobertotes, Okimi dormiu no sofa da sala, € mamde e eu dotmimos no quarto dela, ‘om um par de coberrores emprestades pelo vizinho. Com uma vox envelhecida € faca, mamde disse entko visas surpreendentes, que me debsaram estupefat: Sabe? Vou 4 Iau porque voed ex... porque vocéextécomi- 50: porque vocéestécomigo, ‘enti um choque no corasio e, sem querer, perguntei = B se eu no exivese? Ela pés-se a chorar de repente: = Melhor mover. Eu também quetia morter nesea casa em ‘que seu pai falece, Depois de dizer estas coisas encrecortadamente, seu choro se rommou mais forte. ‘Acé enti, ela nunca demonstrara semelhante fraquezs, nem jamais chorara asim aa minha frente; fosse por ocasifo do fale mento de papa; fosse quando me case, ou, mais tte, quando vol- tei para junto dela com um bebé no ventte; quando a crianca nas- ‘eu morta no hospital; quando eai deente e fiquei de cama; e aera mesmo chorara quando Naoji pratioou més ages; jamais ela se mos- wou clo fraca, Nos dez anos que se seguiram 20 falecimento de Pai, mostrousse sosegada € meiga como sempte. Prevalecemo-nos " disco e crescemos mimados. Entetanto, mamie jd no tem mais di- fnheio, Gastou tudo em nosso proveito, meu e de Naoj, sem nem sequer hestar. E, dessa maneira, saindo desta casa onde vivemos tantos anos, teremos de recomecar a vida, abundonadas, s6s, numa fasinha de campo em Tau, Se ela fosse maldosae sovin, se fosse da ‘daa nos cenzurare, and, se, 36 oculias, pensasse apenas em amea- thar dinbeizo; nesse caso sim, jamais fcaria com vontade de morter, por mais volts que o mundo dese: e, no entanto, ai, que inferno horroros, misersrel e sem salagio € a gente ficar sem dinheiro! Co- io so tivese sentido pela primeira vez na vida, com o corao opres- 40, quetenda chorare sem podé-lo de tanto penar (eria esta a sen saio do que chamamos « austerdade do viver), era como ve me fencontrase paralisada;fiquei quieta como uma pedra, detada com ‘9 roxo woltado para cima 'No dia seguinte, ainda mamae se mostrava pélida e debiliade, om jeito de querer permanecer em casa 0 maior tempo possivel; fo (quando apareceu titio Wada, que Ihe dise sec aquele o dia da par- Cida, estando ja despachada toda a bagagem, Ela vestiu o casaco a contragosto, cumprimentou calada Okimi, que lhe dirigia palavtas de despedida, e bem assim 4s pessoas que coscumavam fteqientar nossa csa, ela, titi © cu saimos da casa da rua Nishikat. (© rem esta telativamente vazio € pudemos sentar-nos os rts, Titio encontrava-se de muito bom humor e cantatolava; ma- ime, potém, mostravase palidae, eabisbaixa, dava a impressio de sentir fio. Em Mishima baldeares para a Estrada de Sunzu de sembarcamos em Izu Nagaoka. Depois subimos uns quinze minutos ‘de Gnibus, em diregio & mootanha, através de uma estrada de leve aclive; nisio topemos com uma pequena aldeia, em cujo arabalde divisamos uma casa de campo de estilo chinés. de construsio algo camerada, Mamie, € um lugar melhor do que imaginava! Nuo acha? = indaguei, ofegante — Realmeste, Diante do “hall” de entrada da casa de campo, instantanci- mente of olhos dela brilharam contentes, ‘Acima de tudo, vejam 56 que ar bom. Que ar puro. Titio gabou-se dessa maneia —E verdade 2 — Delicioso — disse mame, a somrir. — O ar daqui é delicioso. Erinonos ott Tendo entado, vit que a bagagem jé hava chepado de Ts ioe enchia orimente a cise, do “hall” de entrada ao quan, Depols eum a vista ques em da sala Tram mais ou menos us da tarde, eo sl de vero baa sua vemente no grumado do quinal;slém do gramade, onde termine ‘am ot degra de ped, havia um pequeno tanqus ¢ muita amet ‘Rims mes para bao do quineletendinm oc os aj elm, Gaanda sd, eae loge, o campos de ates iignos, rendre ain dh mais adnare um bosuezinhe de pinheito, por is do qual Se tviearao mat. Sentada, sim, nasla pated que a altura do ar inal gee lisa do hones vahs scr an pons des mes ss. ue visa agradavel ~ de mame num vom abo. = Sei por causa doar) Os ras do soldier eampleanen- te dos de Toquio. recom fluados atnvés de Seda Dise on, THavia um qua de des “ecami"*,outo de es, maa sala de visite chines, bem come o “al” de carada de uot" junto av babel sev us, © depois, « made jana € a conn, Ivendo, em cima, um quart de héspeds. O nkimeo de apse torrie ni, mas me percceu que, paras dus (alo, mes- tno que fSwemor tts, com 0 rexomo de Nal) nfo seta milo derada VTi ly pent foo pe gh dni i ca da alia, undo, pouco as tarde, toe fo entre © met= tia, caendc-a a mls pore «bebe 9 usgur que Nomen on Sige rlaou suns fase softs em avert qu teve at Chins ean compathin do proprio anetordaquea aa de cam po. 0 Visonde de Kavata, mostandese, efim, muito opansve Inamde, prtm 26 knementetxou 0 chashi on marmite pr Hoge ee comgou nemorert, dre bubinbo a Tom tccors, vou me defar om pow. Reel o coboner da agape, deneia, peoeupadisina to sei por gic, pci otemet efu vers ina fee in tae nove gris 1a ‘itio também ficou bastante assustad e sain & procurs do mé- dico da aldeia — Mame! — chamei Veto, entretanto, que s6 est a dormitar. Segurando-lhe as muozinhas, soluce. Ela era tio pobrezinha, ‘io pobrezinha — no, ns éramos elo pobrezinhas, tio pobrezi ‘thas — e, pot mais que chorase, no conseguia alviat'a do. A cho: ‘ar, deseje yerdadeieamente motte ali mesmo, em companhia de- Ja. J nos duas nao precisivamos de nada. Achei que nossa vida ha- vig terminado quando saimos da casa da rua Nishikar. Pasadas cerca de duas hors, tio veio com o médico da aldeia, [Ese parecia bastante idoso, vestia “hakama’"” de Sendaibira ¢ cl sava “eabi"** brancos —E possivel que apanhe pacumonia. Mas, mesmo que fique com pneumonia, nao hi por que se preocupar. Feito 0 exame, disse coiss assim, no muico encorajadors. ew-lhe uma injestoe fo-se embora, [No dia seguince, 2 febre ainda no baixara. Titio entregou-sme dois mil ienes e, recomendando que Ihe telegrafasse no aso de ae. cessidade de intecnamento, resolveu voltar a Téquio Retiei da bagagem os aparlhos de cozinia estritamente neces: stios, fiz caldo de artoz e ofereci a mame. Deitada, comeu tés colheradas ¢, depois, recusou sacudindo 2 cabeca Pouco antes do almoco, o médico da aldeiatornou a aparecer. esta feita nto vesia “hakama’’: entrecanto,calsava ainda “tabi” brancos. "— Nio seria melhor interncla...? — perguntei, masa resposta coatinuava a mesma, pouco encorsjadors: — Nip, nao creo que haja necesidade. Hoje dou-lhe uma in jesdo mais force, ea febre deveré baixar. E foi-se embora apés aplicar dita injeo. Entrementes, quem sabe, ess injesao forte tivesesurtido efei- to surpreendente. Pouco depois do almogo 0 1oso de mame fcot {odo afogueado. Transpirou abundantemente, ru ao Wocat a roupa de cama: — Deve ser um grande médico SER Sate tenn pe 4 A febre 1 debsara. Comtente, corti 2 nica pensio da ald pedi a dona e obtive uns dez ovos de galinha: imediatamente frte ‘05 mal passados ¢ oferec-os 2 mame. Ela comeu trés deles e tomnow ‘mea tgela de caldo de azroz, 'No dla seguinte,outra vex © grande médico apareeeu €, quan- do he agradeci aquelainjesio do dia anterior, asseaviu reconhecido com um ar de que “era natural que surtise efcita”, fer um cuida: ddoso exame suplementare, depois, disse: — A senhora sua mie jf ado estt doente. Assim sendo, jé po: de comer o que quiser¢ fazer 0 que Ihe for do agrado, iso naquele mesmo tom esquisito que me obrigara a fazer ‘um imenso esforgo para reprimir a vontade explosiva de tr. ‘Acompanhei o doutor a o “hall” e, a0 volar & sila, mame jt exava sencada no leto. — Realmente, € um grande médieo.Jé nto estou dacnte. Com uma expressio muito feliz, pronunciara essas palavas, ‘como que de si para si = Mame, vamos abrir 0 “shoji.* Esti nevando. Pednias de neve, grandes como pétalas de flo, haviam come- sado a car leves, leves. Abri o “shoji”, sentei-me ao lado dela ¢ ‘ontemplei, tsaés da vidraga, a neve de To = Nio estou mais doente — disse mamie, no mesmo tom, ¢ — Senrada assim, tenho a sensagio de que foi tudo um sonho que passou. Na verdade, minutas anes da mudangs,fiquei sem von rade, ndo queria de jeito nenhum vir para Inu. Queia fear, na ca: sa-da rua Nishikats, mais um dia, meio dia que fesse. Quando em Darquei no trem, me senti meio morta ¢, mesmo 20 chegar aqui, ti= ve uma sensacio algo apradivel no comeso, porém com o excurceer do dia pasei a sentir canta saudade de Téquio, que sent arder-me fo peito, Pensei que fosse desmatar. Nio se trata de uma doeaca co: ‘mum, Deus matou-me uma vez pars me resuscitar, transformen ddo-me numa pessoa diferente da que era anes, Depois, at€ hoje, nossa vida na casa de campo, sé nés duas decoreu sem novidade © em paz. A gente da aldea foi boa para nis ‘Mudamo-nos em derembro do ano pasado; depois, decotides ja 15 ‘ache, Semin sang, ek, 208 Sele, sen on pengonnainns Ben se feigdes, pasamos a vida quase 6 a fazer wid na varanda, a ler ea ‘omar ché na sala chinesa, como que abandonadas pelo mundo. Em fevercto, as ameixccasfloctam, ¢ toda a aldeia cobriu-se de suas flores. assim, mesmo em mar, os dias continuaram calmos ¢ sem vento, ¢ aZo mutcharam a8 ameiseirs todas floidas, que per severaram em exibit lindas foes at fins dese ms. De mania e dt rante o dia, & tarde, 2 noite, as flores das ameixeias apresentavam- se lindas, a ponto de arancarem supires da gente. E, quando abrie ‘mos a vidaga da varanda, o seu perfume adeacrava suavemente 4 sala, No fim de margo, a tarde, sempre havia vento ¢, encontrando sme a colocartgelas sobre « mesa da sla de jatar, na semicobeu dade, vinham voando da janela pétalas de flor de ameixera que c am nas tigelas, molhando-se. Absil entrante, en © mame nos pi fahamos a fazer wid na varanda, nossa conversa. girava invaiavel mente em torno do plano de cultivo da hora. Ela a dizerme que também quetia ajuda. Ai ao escever estas ois, parece-me que E como dise ea cera fet: mowemus uma vex resumes, eas formadas em ouuras pesoas: mas ressurreislo como a de Jesus nto seria possvel nunca 4 nés, sere humanos? Mamie o disse daquela rmaneia, ¢, no entanto, a0 tomar uma colherada de sopa se lembra de Nagi ese poe a exlamar “Oh!” Da mesma forma, coasato que sé a fetida do meu passado ado se acha oa verdade nem uma poco curada ‘Ai, quetia esrever claramente, sem ocular cosa alguma. Che- 0 & pensar, em sepredo, por vezs, que & paz desta casa de campo no pass toda cla de mentira, de aparéncia. Mesmo que este fosse © breve interalo de repouso que mame e cu merecemos de Deus, Sino que nessa paz jf e acha prxima alguma sombra de desgrac obscura. Mamie disaya felicidade e, no encanto, dia a dia vai se enfraquecendo; em meu peito alojase uma serpente que engorda ‘mesmo com satifico de mame, e eresce, ainda que + opima, ain da que a optima, ai, orld fase ino devdo soment 2 esago do ano mim, estes dias, uma vida como esta, me so algumas vezes i supotabilsimos. Uma coisa impensada como queimar ovos de e0- bra, ndo hi davida que fora a expresso deste meu nervosio in- contido. Que sé aumena a isteza de mame, enfraquecendo-a ‘Amor — escrevi,e tei que ndo conseguiaestever otto 16 I Deconidos crea de der diss do caso dos ovor da cobra, suc dew um fto agoureno, que agravou ainda mais «este de ma- rie e coneorreu pata mina he a vid, FE que cheguc «provocr um incéndio, Eu provocar incéndio... Que chegase 2 suceder cosa tao hor roros em minha vida, nem em sonhos jamais houvers pens, (© incéndio fco do descuido no lidar com o fogo — 3¢ no chegucia perceer iso, que € eo evident, no seré porque munca pase. de simples“ princesinka mimada’'? A meia-noite, ao acordar para ir 20 banheiro, dirigi-me até o biombo do “hall”, quando entio notel que hrvialaridade ao lado do baniio.Espiei despreocupadamente via vidraca tod vermes tha oui crepitarofogo, Cort apressda, abr o posigo do banhei- ro, pusme descalg para fora de eae avs o monte de lea cm- pilhads ao ado da foralha unto ao banheir, queimando com es- Panto impero. "Vor até casa do lavrador que coninavs com o nosso guint brat com fora na ports e it —'. Naki! corde, por favor Incéndio! Sr. Nakai parca ear detado, mas respond — Javou! E, enquanto eu dia “por favor, por favor, depres salou da as num pijama de vero CComtemos para pero do incéndio puscmo-nos a tr a agua do tanque com im balde, quando ouviogrito de mamacvindo do ‘orredor: “Oh! Oh!" Lance! forsobaldee subi 30 coredor — Mame, nio se preocipe, no hi perigo.Fiqu dexansando. Segurando mamic, que desfulecia, lever a0 Isto, dtera ¢ rctmnei a local do fogo, Desa feta passe trata ua do bane toe passa a0 Sr. Nala Este lngeva-a sobre o monte de lena. Masa inensidade do fogo cr tanta que esa aro pateia no sur efi. — Fogo! Fogo! Incéndio na casa de campo! De baixo, ouviram-se essas vores, ¢ logo quatro ou cinco pes- soas da aldeia quebraram a cerca ¢ invadiram a casa. Depois, rans- pportaram com baldes a agua do reservat6tio de debaixo da cerca, co- ‘mo numa cortida de revezamento, ¢ em dois ou tzés minutos debe- laram o fogo. Por pouco a cobertura do bankeito nio foi atingida plas chamas = Que bom — suspite, ¢ passei a conjecturar sobre a causa do incéndio, o que me fez o corasio gear. Em verdade, x6 entlo per- cebi que o incéndio surgra por eu ter deixado, 2 tarde, cera de que hhavia apagado, a lenha da fornalha ainda nao wotalmente queimada’ havia-aretirido da fornalha e deixado ao lado do monte de lenhas. ‘Ao pereebé-l, fiquei como que pregada 20 solo e com vontade de chorar;nisso, ouvi a vor alta da mulher do St. Nishiyama, da casa da frente, que falava de fora da cerca: “O banheiro queimou-se to- do: foi descuido com 0 fogo da fornalha."” Vieram o aldeo-chefe Fujita, o guarda Ninomiya, o coman- dante do corpo de bombeires St. Ouchi; ¢ 0 St. Fujita, com 0 rost0 "isonho e meigo de sempre, perguntou-me: = Que susto, hein? Que foi? — Foi culpa minha. A lenha que julgava apagada ‘Comecei a responder, mas me senti to miseravel que chorei, ‘, sem poder contiouar, abuixei a cabesa ¢ me calei. “Levada pela policia, talvez fose inciminada”” — ocotreu-me nese insante. Des- «alga, ¢ ainda por cima de roupa de dormir — de repente seati ver- gonha do meu aspecto ¢, sinceramente, percebi que me enconerava fem franca decadéncia, — Esé bem. E sua mie? — perguntou-me o Sr. Fujita com afabilidade, em tom reconfortante. = Deitei-a na sala. Esti do assustada, — Entretanto, como. ‘Também o jovem guarda Ninomiya se pés a falar, para me conforar: — ... no pegou fogo na casa, ainda bem, Niso, reapareceu 0 Sr. Nakai, ji de roupa ocada, a dizer: — Nio foi nada. $6 se queimou um pouco de leaha, mais aa dda, Nem chegou a ser incéndio. 1B Ofegante, ele me defendia da falta. — Pois bem. Entendi bem. © aldeto-chefe Fujita fez dois ou «rs sinais de assentimento com a cabega e, em seguida, se pés a conversar em voz baixinha com ‘0 guarda Ninomiya, — Bem, vamo-nos embora. Recomendacio a sua mae, Assim dizendo, retirouse acompanhado do comandante do cor- po de bombeitos Sr. Ouchi e de demais pessoas. ‘86.0 guarda Ninomiye permaneceu. Aproximando-se de mim, © em voz to baixa que parecia apenas respitur, disse encarando-me de frente: — Oucza, ndo vamos registra a ocorréncia polical Quando © guatda Ninomiya se retiou, o Se. Nakai pergun- tou-me em tom serio, muito apreensivo, — O que Ihe disse o Se. Ninomiya? = Que nao registraré a ocorréncia ‘Vi, entio, que havia gence da vizinhanga junto a cerca, © que podiam ter ouvido minhas palavras; essa pessoas foram se reirando sem pressa, repetindo: ““Ah, gracas a Deus." ‘Também o Sr, Nakai me desejou boa noite ¢ se retirou: dquei sozinha. Em pé, distrafda, perto do monte de lenha queima- a, olhei para cima com os olhos marejados de ligtimas, quando ime pareceu que o céu ji prenunciava a manhi. 'No banheito, avei as mos ¢ os pés e, medrosa de avistar ma- ide ndo sei por qué, demorei-me na salea de txés “tatami"” do ba- nnheiro a ajitar 0 cabelo; mais tarde, fui 2 copa, onde fiquei ar rumar desnecessariamente 2s coisas até clarear completamente o dia. Quando amanhicu o dia, ditigime furivamente 2 sa, onde en- ‘onteci mamie jd toda vestida, sentada com ar fatigadissimo na ca- deira da sala chinesa. Ao avistar-me, sorriu um sottso aberto, mas seu tosco estava assustadoramente paid. ‘Sem retibuir osortiso, pus-me calada em pé ats dela, Depois de algum tempo, disse-me: — Nio foi nada, nfo €? A lenha era para queimar mesmo. Repentinamente me alegrei ¢ si “huhu”. "Como macis de ‘ouro em salva de prata, asim é a palava dita a seu tempo.”” — lem brei-me do provérbio da Biblia e, do fundo do coracio, agradeci a Deus a felicdade de possuir mie tio meiga, O que passou, pasou ae Nilo fichtet mais larnentando — peasci, €, YeOCo PCs vidragA O ERA cde lau da manha, um tempo sem fim atrés de mamde, senti que mi: ‘ha respira coincidia perfeitamente com a dela, serena. [Exava arrumando a lenha queimada, depois da frugal refeicio dds manha, quando ouvi 2 vor de Dona Osaki, proprictisia da dnica pensio existente na aldea: — Que aconteceu? Diga, que aconteceu? $6 agora que soube, ‘¢ —meu Deus! Que aconteceu, afinal, ontem 2 noite? Viera correndo do portio da sebe que rodeava o quintal, com igrimas nos olhes. — Desculpe. = Nada de se desulpar. Que disse a policia? = Que deisava passa — Oh, ainda bem. Viaese-lhe no rosto que se alegrava de todo 0 corasio. PergunteicIhe de que forma deveria desculpar-me e, a0 mesmo tempo, agradecer a gente da aldeia, “Dinheiro sera melhor” — res- pondeu-me. E indicou-me as casas que eu deveriavisiar. — Mas se no quiser ir sozinha, posso acompanhi — Melhor it sozinha, no €? — Consegue? Claro que seria melhor. — lei sozinha, Depois, Dona Osaki ausiliou-me um pouguinho na arrumagio do local onde houverafogo. Findo o trabalho, pedi dinheiro a mamae. Embrulhei as no- tas de cem iencs, uma» uma, em papel de Mino, escrevendo em ca -da um dos embralhos: “Peco perdi’ ui primeiso & repartigio. Como estivesse ausente 0 aldezo-chefe jit, extendi o embrulho & atendente e apresentei minhas desculpas ""Cometi uma falta imperdodvel ontem 2 noite. Deravante, tomarei mais cuidado. Pego, por iso, que me desculpem, Recomen dag a0 Se. Fujita rocurei em sequida a casa do comandante do corpo de bom- Deira, Sr. Ouchi, Este veio 8 porta, e olhou-me calado e com um sor Fiso triste, ¢ eu, nZo sei por qué, tive ganas de chorar, S6 com muito esforco consegui dizer: “— Perdoe-me pelo que sucedeu ontem 2 noite. Despedi-me dele depressa. Como no caminho jorraram-me le 20 ‘gtimas dos olhos, estragando a maquiagem, retomei uma vez a casa, lave o roo cade’ novamente da apaténcas quando calgva o patos junto & porta, tencionando sir outa ver, Sugit mame: "Vai sina a algum lugar? = Sim, agora € que vou comeser — respond sem levancar 0 — Comprcendo o seu scifi — dsesme sncidamene Alentada pela compreenso dela, no chore mais nem uma vez viel sedan wena (Quando cheguei resdénca do chefe do disrio, ele hava sai do, Sm nore velo receberome, e mal me avistow se pés a demamar lighmas. Na pola, o guarda Ninomiya. dse-me*"Aioda bem. ainda bem.” , asim, todos foram compreensivos. Vist em se {ida outas casts da visinhang. Da mesma forma, codos demons. traram compzndo por mim ¢ me conferaram. 58 esposa do St. Nishiyama, da cs da fente — uma senbora de quate quatenta anos = 6 cla me censor seversment —“Dagui por diane, ome cuidado. Nao sei se € nobre ou 0 due quer que sa, mas digo que desde o comego figuei a obser Sprcesiv, a vida de vorés patecida com folguedo de cranas, Se do asim das verdadeiaseiangas, € até extaordinirio que not ‘essem causido nenhum incendio a ontem. Verdadciramente, o- ‘me cidado daqui por diate. Ontem dnote — sabe? — so vento sopese forte teria queimade toda sali! ‘Ao contirio do Se. Nakai, da cas de bai, que me defen- deu correndo a freme do aldeio

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