5ª edição
Ira N. Levine
No final de 1800, os físicos mediram a intensidade da luz emitida por um corpo ne-
gro quente a uma temperatura fixa em função da freqüência. Um corpo negro é um objeto
que absorve toda a luz que incide sobre o mesmo. Uma boa aproximação a um corpo negro
é uma cavidade com um pequeno furo. Quando os físicos utilizaram a mecânica estatística e
o modelo ondulatório da luz para prever as curvas de intensidade frente a freqüência da ra-
diação emitida pelo corpo negro, obtiveram um resultado na seção de altas freqüências que
estavam em completo desacordo com as curvas observadas experimentalmente.
Em 1900, Max Planck desenvolveu uma teoria que reproduzia de forma excelente
as curvas experimentais da radiação do corpo negro. Planck supôs que os átomos do corpo
negro podiam emitir energia na forma de luz, porém somente em quantidades dadas por hν,
onde ν é a freqüência da radiação e h é uma constante de proporcionalidade, chamada cons-
tante de Planck. Utilizando o valor h=6,6 x 10-34 J.s obteve-se curvas teóricas que reprodu-
ziam de forma precisa as curvas experimentais do corpo negro. O trabalho de Planck mar-
cou o nascimento da mecânica quântica.
A hipótese de Planck de que só se pode emitir certas quantidades de energia eletro-
magnética radiante (ou seja, que a emissão está quantizada) estava em franca contradição
com todas as idéias preestabelecidas da física. A energia de uma onda está relacionada com
sua amplitude, e a amplitude varia continuamente de zero para cima. Também, de acordo
com a mecânica Newtoniana, a energia de um corpo material varia de forma contínua, por-
tanto era de se esperar que ocorresse o mesmo com a energia dos átomos. Se a energia dos
átomos e a das ondas ondas eletromagnéticas tomem valores contínuos, então a energia da
radiação eletromagnética emitida pelos átomos também deve variar continuamente. No en-
tanto, somente introduzindo a hipótese de emissão quantizada da energia se obteve as cur-
vas corretas da radiação do corpo negro.
A quantização da energia foi utilizada pela segunda vez para explicar o efeito fotoe-
létrico. No efeito fotoelétrico, a luz que incide sobre um material provoca a emissão de elé-
trons. A energia da onda é proporcional a sua intensidade e não está relacionada com sua
freqüência, de maneira que a descrição da luz em forma de ondas eletromagnéticas previu
que a energia cinética do fotoelétron emitido aumenta conforme o faz a intensidade da radi-
ação e que a energia não muda com a freqüência. Em vez disso, se observa que a energia ci-
nética do elétron emitido é independente da intensidade da luz e aumenta com sua freqüên-
cia.
Em 1905, Einstein mostrou que estas observações experimentais podiam ser expli-
cadas supondo que a luz era composta por certas entidades corpusculares (chamadas fótons),
cada um deles com uma energia dada por
Quando um elétron do metal absorve um fóton, parte de sua energia é utilizada para
vencer as forças que mantém o elétron no interior do metal, e o resto se transforma em e-
nergia cinética do elétron que abandona o metal. A conservação da energia implica que
hν=Φ + T, onde Φ e a energia mínima necessária para que um elétron escape do metal (a
função de trabalho do metal) e T é a energia cinética máxima do elétron emitido. Um au-
mento da freqüência da luz ν provoca o aumento da energia do fóton e, portanto, da energia
cinética do elétron emitido. Um aumento da intensidade da luz a uma freqüência dada, au-
menta o número de fótons que golpeiam o metal e, portanto, o número de elétrons que são
emitidos, porém não muda a energia cinética de cada um deles.
O efeito fotoelétrico mostra que a luz pode mostrar um comportamento corpuscular,
além do comportamento ondulatório que manifesta nos experimentos de difração.
Consideremos agora a estrutura da matéria.
Ao final do século 19, as pesquisas realizadas em tubos de descarga e sobre a radio-
atividade natural revelaram que os átomos e moléculas são formados por partículas carrega-
das. Os elétrons têm carga negativa. O próton tem uma carga positiva igual, em magnitude,
a do elétron, porém de sinal oposto e é 1836 vezes mais pesado que o elétron. O terceiro
constituinte dos átomos, o nêutron (descoberto em 1932) não tem carga e é ligeiramente
mais pesado do que o próton.
No começo de 1909, Rutherford, Geiger e Marsden passaram repetidamente um fei-
xe de partículas alfa através de lâminas metálicas finas e observaram os desvios que se pro-
duziam ao fazê-las incidir sobre uma tela fluorescente. As partículas alfas são núcleos de
hélio, carregados positivamente, que se obtém em desintegrações radioativas naturais. A
maioria das partículas alfa atravessam as lâminas metálicas praticamente sem se desviarem
porém, surpreendentemente, umas poucas sofriam um desvio grande e algumas delas salta-
ram para trás. Para que se produzam desvios grandes é necessário que as cargas se aproxi-
mem muito, de forma que a força repulsiva de Coulomb seja grande. Se a carga positiva es-
tivesse dispersa no interior do átomo (como J.J Thomson havia proposto em 1904), ao pene-
trar no mesmo uma partícula alfa de alta energia, a força repulsiva diminuiria até anular-se
no centro do átomo, de acordo com a teoria eletrostática clássica. Portanto, Rutherford con-
cluiu que os grandes desvios observados só poderiam ocorrer se a carga positiva estivesse
concentrada em um núcleo pesado e pequeno.
Um átomo está formado por um pequeno núcleo pesado (de 10-13 a 10-12 cm de raio)
composto de nêutrons e de Z prótons, onde Z é o número atômico. Fora do núcleo há Z elé-
trons. As partículas com cargas interagem de acordo com a lei de Coulomb. (Os nucleons se
mantêm unidos no interior do núcleo mediante intensas forças nucleares de curto alcance,
das quais não nos ocuparemos aqui.). O raio de um átomo é de aproximadamente um angs-
trom como mostram, por exemplo, os resultados obtidos a partir da teoria cinética dos gases.
As moléculas tem mais de um núcleo.
As propriedades químicas dos átomos e moléculas estão determinadas por suas es-
truturas eletrônicas, de maneira que é necessário pensar sobre a natureza do movimento e a
energia dos elétrons. Desde que o núcleo é muito mais pesado que o elétron, espera-se que o
movimento do núcleo seja lento comparado com o dos elétrons.
Em 1911, Rutherford propôs um modelo planetário do átomo, em que os elétrons
dão voltas ao redor do núcleo em diferentes órbitas, do mesmo modo que os planetas dão
voltas ao redor do Sol. No entanto, este modelo apresenta uma dificuldade fundamental. De
acordo com a teoria eletromagnética clássica, uma partícula carregada acelerada irradia e-
nergia na forma de ondas eletromagnéticas (luz). Um elétron que gira ao redor do núcleo a
uma velocidade constante sofre uma aceleração, já que a direção de seu vetor velocidade
muda continuamente. Devido a isto, os elétrons do modelo de Rutherford deveriam perder
continuamente energia na forma de radiação e cair, portanto, em espiral em direção ao nú-
cleo. Portanto, de acordo com a física clássica (século XIX), o átomo de Rutherford seria
instável e entraria em colapso.
Niels Bohr propôs em 1913 uma forma de superar esta dificuldade aplicando o con-
ceito de quantização da energia ao átomo de hidrogênio. Bohr supôs que a energia do elé-
tron no átomo de hidrogênio estava quantizada, de maneira que o elétron só podia mover-se
em alguma órbita das compreendidas dentro de um certo número de órbitas permitidas.
Quando o elétron efetua uma transição de uma órbita de Bohr a outra, se absorve ou se emi-
te um fóton de luz cuja freqüência ν é dada pela relação
Onde Esuperior e Einferior são as energias dos estados superior e inferior (conservação
da energia). Bohr utilizou a mecânica clássica para deduzir uma fórmula dos níveis de ener-
gia do átomo de hidrogênio, supondo que o elétron que efetua uma transação de um estado
livre até a metade da freqüência de revolução clássica do elétron no orbital ligante. Usnado
a relação (1.4) obteve-se valores concordantes com os observados para o espectro de hidro-
gênio. No entanto, as intenções de explicar o espectro de hélio usando a teoria de Bohr fra-
cassou. Além disso, a teoria tampouco dava conta da ligação química das moléculas.
A dificuldade básica do modelo de Bohr estava na utilização da mecânica clássica
para descrever os movimentos eletrônicos dos átomos. Os espectros atômicos, com suas
freqüências discretas, mostram que efetivamente só estão permitidas certas energias para o
movimento eletrônico, é dito que a energia está quantizada. Porém, na mecânica clássica a
energia varia de forma contínua. A quantização ocorre no movimento ondulatório, como é o
caso, por exemplo, da freqüência fundamental e os sobretons emitidos por uma corda de vi-
olino. Portanto, Louis de Broglie sugeriu em 923 que o movimento dos elétrons devia ter
uma componente ondulatória, isto é, que um elétron de massa m e velocidade v teria um
comprimento de onda associado ao mesmo, onde p é o momento linear. De Broglie chegou
a equação (1.5) por meio de um raciocínio análogo para fótons. A energia de qualquer partí-
cula (incluindo o fóton) pode se expressa de acordo com a teoria da relatividade especial de
Einstein, como E= mc2, onde c é a velocidade da luz e m é a massa relativista da partícula
(não sua massa em repouso). Usando Efóton=hν , obtemos mc2 = hν = hc/λ e λ= h/mc = h/ρ
para o fóton que viaja na velocidade c. A equação (1.5) é, portanto, a equação comparável a
esta última, porém para o elétron.
onde F é a força que atua sobre a partícula, m é a sua massa, t é o tempo e a é a acelera-
ção, que é dada por a=dv/dt= (d/dt)(dx/dt)=d2x/dt2, onde v é a velocidade. A equação
1.8) contém a segunda derivada da coordenada x com relação a tempo. Para resolvê-la
devemos realizar duas integrações, o que introduz as constantes arbitrárias c1 e c2 na so-
lução, de modo que
Onde g é alguma função do tempo. Perguntamos agora: que informação devemos pos-
suir em um tempo dado t0 para poder predizer o movimento futuro da partícula? Se sa-
bemos que no instante t0 a partícula está no ponto x0, temos que
De modo que, se sabemos também que a partícula tem uma velocidade v0 no instante de
tempo t0, então dispomos da relação adicional
Por exemplo, para uma partícula que se move no campo gravitacional temos
, e integrando temos V=mgx+ c, onde c é uma constante arbitrária. Po-
demos fixar o zero de energia potencial como nós quisermos. Neste caso, tomando c=0,
obtemos V=mgx para a função de energia potencial.
A palavra estado em mecânica clássica significa a especificação da posição e da
velocidade de cada partícula do sistema em algum instante de tempo, uma maior especi-
ficação das forças que atuam sobre as partículas. De acordo com a segunda Lei de New-
ton, dado o estado de um sistema em qualquer tempo, seu estado e movimento futuros
são completamente determinados, como mostram as equações (1.9) a (1.11). O impres-
sionante êxito das Leis de Newton ao explicar os movimentos de planetas levou a mui-
tos filósofos a utilizar as Leis de Newton como um argumento para justificar o determi-
nismo filosófico. O matemático e astrônomo Laplace (1749-1827) supôs que o Universo
era formado por partículas que obedeciam as Leis de Newton. Portanto, conhecendo o
estado do Universo em algum instante, o movimento futuro de todas e cada uma das
coisas que o formam estaria completamente determinado. Um ser superior capaz de co-
nhecer o estado do Universo em qualquer instante, poderia, em princípio, calcular todos
os movimentos futuros.
Embora a mecânica clássica seja determinista, no ano de 1970 tomou-se o co-
nhecimento de que muitos sistemas mecanoclássicos (por exemplo, um pêndulo sob a
influência da gravidade, sujeito a uma força de fricção e a uma força impulsora periódi-
ca) mostram um comportamento caótico para certos conjuntos de valores dos parâme-
tros do sistema. Em um sistema caótico, o movimento é extraordinariamente sensível
aos valores iniciais das posições e velocidades das partículas e as forças que atuam so-
bre elas, de modo que dois estados iniciais que diferem em uma quantidade não detec-
tável experimentalmente acabando levando o sistema a estados futuros completamente
diferentes. Assim, a predição do comportamento a largo prazo de um sistema mecano-
clássico caótico é, na prática, impossível, devido ao fato de que a precisão com a que se
pode medir o estado inicial é limitada, incluindo se os sistema obedece equações do
movimento determinista. Os cálculos realizados mediante computador de órbitas plane-
tárias do sistema solar ao longo de dezenas de milhões de anos indicam que os movi-
mentos dos planetas são caóticos [Science, 257, 33 (1992); G.J Sussman e J.Wisdom,
Science, 257, 56 (1992); I. Peterson, Newton’s Clock: Chaos in the Solar System, Fre-
eman, 1993].
Conhecendo a forma exata do estado presente de um sistema mecanoclássico,
podemos predizer seu estado futuro. No entanto, o princípio da incerteza de Heisenberg
mostra que não podemos determinar simultaneamente a posição e a velocidade exatas
de uma partícula microscópica, de modo que não podemos dispor da informação que
requer a mecânica clássica para predizer o movimento futuro do sistema. Em mecânica
quântica devemos nos contentar com algo menos que a predição completa do movimen-
to futuro exato do sistema.
Nossa aproximação a mecânica quântica vai consistir em postular os princípios
básicos e logo usar esses postulados para deduzir conseqüências que podem ser com-
provadas experimentalmente, côo os níveis de energia dos átomos. Para descrever o es-
tado de um sistema em mecânica quântica, postulamos a existência de uma função das
coordenadas das partículas, chamada função de onda ou função de estado Ψ. Posto que
o estado muda, em geral, com o tempo, Ψ também é função do tempo. Para um sistema
unidimensional de uma só partícula temos Ψ = Ψ(x,t). A função de onda contém toda a
informação que é possível conhecer sobre o sistema, de modo que no lugar de falar de
“estado descrito pela função de onda Ψ”, simplesmente falaremos de “estado Ψ”. A se-
gunda Lei de Newton nos diz como encontrar o estado futuro de um sistema mecano-
clássico conhecendo o estado presente. Para encontrar o estado futuro de um sistema
mecanoquântico conhecendo o estado presente necessitamos de uma equação que nos
diga com muda a função de onda com o tempo. Par um sistema unidimensional de uma
só partícula se postula que esta equação é
tremos valores de x próximos a x=0, já que tem neste caso um máximo na ori-
gem.
Para resolver esta equação podemos buscar soluções que possam ser escritas como o produto de
uma função do tempo por uma função de x:
Note que utilizamos a letra psi maiúscula para a função de onda dependente do tempo e a letra
psi minúscula para o fator que depende unicamente das coordenadas. Os estados corresponden-
tes as funções de onda que podem ser escritas na forma (1.17) possuem certas propriedades (que
examinaremos em seguida) de grande interesse. [Não todas as soluções da Equação (1.16) tem a
forma (1.17); ver problema 3.41]. Tendo derivadas parciais na equação (1.17) temos
onde temos dividido por fψ. Em geral, é de se esperar que os membros da Equação (1.18) a cada
lado do sinal igual seja função de x e de t. No entanto, a parte direita desta equação não depende
de t, de forma que ambos os membros devem ser independentes de t. Do mesmo modo o lado
esquerdo da equação 1.18) é independente de x. Uma vez que ambas as funções são independen-
tes das variáveis x e t, dêem ser constantes. Chamaremos E a esta constante.
Onde a constante arbitrária A foi substituído por eC. Como podemos incluir A como um fator da
função ψ(x) que multiplica a f(t) na equação (1.16), A pode ser omitido de f(t). Assim temos
Que é a chamada equação de Schrödinger independente do tempo para uma partícula de massa
m que se move em uma dimensão.
Onde o asterisco denota o complexo conjugado. Para a função de onda (1.20), temos
Na dedução da Equação (1.22) supomos que E é um número real, de modo que E = E*, fato que
demonstraremos na seção 7.2.
Vamos nos interessar, na maior parte dos casos, por estados de energia constante (esta-
dos estacionários), pois geralmente trabalharemos com a equação de Schrödinger independente
do tempo (1.19). Para simplificar, nos referiremos a esta equação como “a equação de
Schrödinger”. Deve-se notar que a equação de Schrödinger contém duas incógnitas, as energias
permitidas E e as funções de onda permitidas ψ. Para obtê-las é necessário impor condições
adicionais (chamadas condições limites) à função ψ, também disso requer que esta função satis-
faça a equação (1.19). As condições limites determinam as energias permitidas, já que as fun-
ções ψ satisfazem estas condições somente para certos valores de E. Isto ficará mais claro quan-
do estudarmos exemplos concretos nos capítulos seguintes.
1.6 PROBABILIDADE
Assim, se lançarmos ao ar repetidamente uma moeda, a fração de vezes que sairá cara
se aproximará a ½ conforme aumentemos o número de lançamentos.
Suponhamos, por exemplo, que tomamos uma carta a sorte de um baralho e nos pergun-
tamos pela probabilidade de sacar um coração. Tem 52 cartas e, portanto, 52 casos igualmente
prováveis. Já que tem 13 corações, haverá 13 casos favoráveis e, portanto, m/n= 13/52= ¼ será
a probabilidade de sacar um coração.
Podemos nos perguntar também pela probabilidade de que ocorram dois sucessos rela-
cionados entre si. Por exemplo, podemos perguntar-nos pela probabilidade de sacar dois cora-
ções do baralho de 52 cartas, supondo que não substituímos a primeira carta depois de sacá-la.
Para a primeira tirada tem 52 casos possíveis e para cada um deles tem 51 possibilidades para a
segunda extração. Temos então 52 x 51 casos possíveis. Como tem 13 corações, há 13 x 12
formas distintas de sacar dois corações. A probabilidade que buscamos é (13x12)/(52x51)= 1/17.
Este cálculo exemplifica o seguinte teorema: a probabilidade de que ocorram dois sucessos A e
B é o produto da probabilidade de que ocorra A pela probabilidade de que ocorra B, calculando
esta última probabilidade supondo que A tenha ocorrido. Assim, se A é a probabilidade de sacar
um coração na primeira extração, a probabilidade de A é 13/52. A probabilidade de sacar um
coração na segunda extração, dado que a primeira que sacamos é um coração, é 12/51 já que só
sobraram 12 corações no baralho. A probabilidade de sacar dois corações é então
(13/52)x(12/50)=1/17, como tínhamos obtido antes.
Em mecânica quântica temos de tratar com probabilidades nas quais a variável é contí-
nua, como, por exemplo, a variável de posição x. Não tem muito sentido neste caos, falar de
probabilidade de encontrar a partícula em um ponto determinado, como pode ser o x= 0,5000 ....
já que tem um número infinito de pontos no eixo x e, para qualquer número finito de medidas
que fizermos, a probabilidade de se obter exatamente 0,5000.... é desprezível. Em vez disto,
falamos da probabilidade de encontrar a partícula em um pequeno intervalo do eixo x compre-
endido entre x e x+dx, sendo dx um elemento de comprimento infinitesimal. Esta probabilidade
é, naturalmente, proporcional ao comprimento do intervalo, dx, e varia entre as distintas regiões
do eixo x. Assim, a probabilidade de que a partícula se encontre entre x e x+dx é g(x)dx, onde
g(x) é alguma função que nos diz como varia a probabilidade no eixo x. A função g(x) recebe o
nome de densidade de probabilidade, já que é uma probabilidade por unidade de comprimento.
Dado que as probabilidades são números reais não negativos, g(x) deve ser uma função real não
negativa em todos os pontos do eixo x. A função de onda Ψ pode tomar valores negativos e
complexos e não pode ser, portanto, uma densidade de probabilidade. A mecânica quântica pos-
Onde Pr denota probabilidade. Uma probabilidade igual a unidade representa certeza. Como é
certo que a partícula se encontra em algum ponto do eixo x, deve-se considerar que
Quando Ψ satisfaz a Equação (1.24) se diz que está normalizada. Para estados estacionários,
EXEMPLO. Um sistema unidimensional de uma só partícula está descrito pela função de onda
no tempo t=0, onde a= 1,0000nm (1nm=10- 9m). Mede-se a posição da partí-
cula no tempo t=0. (a) Obtenha a probabilidade de que o valor medido está compreendido entre
x= 1,5000nm e x=1,5001nm. (b) Obtenha a probabilidade de que o valor medido está compre-
endido entre x=0 e x=2 nm. (c) Comprove que Ψ está normalizada.
Vimos que a função de onda pode ser complexa e vamos revisar agora algumas proprie-
dades dos números complexos
onde i≡
Onde x e y são números reais (números que não contêm a raiz quadrada de uma quanti-
dade negativa). Se y= 0 na equação (1.25), então z é um número real. Se y 0, então z é um
número imaginário. Se x=0 e y 0, então z é um número imaginário puro. Por exemplo, 6,83
é um número real, 5,4 -3i é um número imaginário e 0,60i é um número imaginário puro. Os
números reais e os imaginários puros são casos particulares dos números complexos. Na equa-
ção (1.25), x e y são denominadas partes real e imaginária de z, respectivamente: x=Re(z);
y=Im(z).
Figura 1.3. (a) Representação de um número complexo z= x+ iy. (b) Representação do nú-
mero -2+i.
Se z é um número real, sua parte imaginária é zero. Assim, z é real se e somente se z = z*.
Tomando duas vezes a conjugada complexa obtemos de novo z, é dito (z*)* = z. Multipli-
cando z por seu conjugado complexo usando i 2 = -1 obtemos
Para o produto e o quociente de dois números complexos z1=r1e iθ1 e z2=r2e iθ2, temos
É fácil comprovar, bem diretamente a partir da definição de conjugado complexo ou bem a par-
tir da relação (1.31), que
Do mesmo modo
A partir da equação (1.31) se obtém as seguintes expressões para os valores absolutos de produ-
tos e quocientes
Vamos obter agora uma fórmula para as raízes n-ésimas da unidade. Para elas, note que
podemos tomar como fase do número 1 os valores 0, 2π, 4π, e assim sucessivamente; portanto,
i2πk
podemos escrever 1= e , onde k é um número inteiro qualquer, zero, positivo ou negativo.
consideremos então o número ω definido como , sendo n um número inteiro po-
sitivo. Utilizando n vezes a equação (1.31) vemos que , portanto que ω é
uma raiz n-ésima da unidade. Existem n raízes complexas diferentes da raiz n-ésima da unidade,
e todas elas são obtidas tomando os sucessivos n valores do número inteiro k:
Qualquer outro valor de k distinto dos incluídos nesta equação dá um número cuja fase difere
em um múltiplo inteiro de 2π de algum dos números dados pela Equação (1.36) e portanto não é
uma raiz diferente. Para n= 2 a Equação (1.36) proporciona as duas raízes quadradas de 1; para
n=3, as três raízes cúbicas de 1; e assim sucessivamente.
1.8 UNIDADES
O que leva a pensar que estamos utilizando o sistema de unidades gaussianas, com as
cargas Q’1 e Q’2 em statcoulombs, a distância r em centímetros e a força F em dinas. Alternati-
vamente pode entender-se também que a Equação (1.37) está escrita em unidades SI, com r em
1.9 RESUMO
Se a função de energia potencial do sistema não depende do tempo t, então o sistema pode estar
em um de seus estados estacionários de energia constante. Para um estado estacionário de uma