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3/17/22, 11:03 AM jurisprudência.

pt - Pesquisa de jurisprudência Portuguesa

jurisprudência.pt

Supremo Tribunal
de Justiça
Processo

082807
Relator

MIRANDA GUSMÃO
Sessão

14 Janeiro 1993
Votação

UNANIMIDADE
Meio Processual

REVISTA.
Decisão

NEGADA A REVISTA.

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NULIDADE DE SENTENÇA

FALTA DE MOTIVAÇÃO MACAU

ENFITEUSE DOMINIO UTIL

PROPRIEDADE PRIVADA USUCAPIÃO

Sumário
I - So a falta absoluta de motivação produz a
nulidade do artigo 668 n. 1 alinea b) do Codigo de
Processo Civil de 1967.

II - E usucapivel o dominio util de um predio foreiro


do Territorio de Macau.

Texto Integral
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Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:


1. No Tribunal Judicial da comarca de Macau, A e B
intentaram acção com processo ordinário contra o
Estado e interessados incertos pedindo que sejam
declaradas proprietárias do domínio

útil do prédio ..., descrito na Conservatória sob o n.


8312, com o fundamento na aquisição por
usucapião.

O Ministério Publico contestou.

Procedeu-se a audiência de discussão e


julgamento, tendo sido proferida sentença no
sentido de se declarar que as autoras são titulares
do domínio útil do prédio ..., prédio este descrito
sob o n.
8312 a fls. 183 do Livro B-25 da Conservatória do

Registo Predial de Macau.

2. O Estado apelou, e a Relação de Lisboa, por seu


acórdão de 26 de Novembro de 1991, negou
provimento ao recurso, confirmando a sentença.

3. O Estado pede revista, formulando as seguintes


conclusões:

1) A "vexata questio" é a de se saber se no Território


de Macau, um prédio foreiro do Estado é ou não
usucapível, designadamente pela banda do seu
domínio útil.

2) O artigo 8 da Lei n. 6/80/M de 5 de Julho (T.C.P.


Lei das Terras de Macau), dispõe que não.

3) A questão colocada tem vindo a assumir um


certo relevo no âmbito daquele Território;

4) O douto aresto recorrido não atenta na


apreciação integral do caso concreto, é omisso na
vertente e extensão da lei aplicável e assenta em
jeito conclusivo numa mera afirmação
generalizante;

5) Por isso que, suscita a questão da sua nulidade,


face ao disposto no artigo 668 n. 1, alínea b) e d), do

Código de Processo Civil;

6) Nos autos, A e B, foram consideradas donas do


domínio útil do prédio sito no prédio ... - Macau,
foreiro ao Estado (sec. Território de Macau);

7) Dai a pertinência que desponta quanto à


caracterização no actual quadro legal, dos terrenos
nos territórios de Macau, a perspectiva sobre se os
prédios foreiros pertencem ou não ao domínio
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privado do Território e consequentemente, o


posicionamento em matéria da usucapibilidade ou
não dos mesmos;

8) No caso concreto dos autos há que atentar antes


de mais nada que o Território de Macau é senhorio
directo do imóvel referido em 6).

9) Assumida a classificação tripartida de terrenos


em Públicos, Privados e Vagos, sublinha-se que o
artigo 8 da Lei das Terras de Macau (L.T.M.),
exprimindo o principio inspirador e o espírito
subjacente às leis das terras então ultramarinas,
consagrou a imprescritibilidade dos Terrenos do
Estado, quer do domínio público quer como do
domínio privado da Província ou do Estado (douto
acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 27 de
Julho de 71, in B.M.J. 209/134).

10) Por sua vez os terrenos vagos, definidos no n. 1


do artigo 7 da L.T.M. integrando o domínio privado
disponível do território e estando subtraídos ao uso
geral, são passíveis de concessão por aforamento
ou arrendamento.

11) Ocorre sublinhar porém que a distinção entre


terrenos do domínio privado e vagos no que tange
a propriedade do Território de Macau não assume
relevância, em questão de usucapião; face à
existência de legislação especial aí em vigor, nesta
matéria, e do que decorra além do mais a
imprescritibilidade dos terrenos do domínio
privado do território, nos quais se incluem não só
os terrenos privados do Território como ainda os
Vagos.

12) Ora esta especificidade legislativa não foi


contemplada no douto aresto recorrido.

13) O prédio em causa pertence ao Território de


Macau, na qualidade de senhorio directo, portanto,
ao seu domínio privado, logo, não usucapível.

14) A situação de domínio útil caracterizadora do


prédio, não tem a virtualidade de alterar a natureza
e a qualificação do imóvel em si.

- já que o aforamento é precisamente uma das


formas de concessão de terrenos pelo Território de
Macau;

- estando por isso mesmo aquele domínio sujeito


às limitações que decorram do domínio directo
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sobre o mesmo incidente.

15) Por isso que, a não usucapibilidade do domínio

útil, em terrenos desde jaez se acha incluída na


previsão do artigo 8 da Lei das Terras de Macau.

16) Assim o douto aresto, ao considerar adquirido


por usucapião um prédio foreiro ao Estado, violou a
norma do artigo 8 da Lei n. 6/80/M de 5 de Julho.

17) Em consequência do exposto deve por isso a


douta decisão recorrida ser anulada ou revogada e
outra proferida em que se declare que o prédio,
nas condições indicadas em 16), não pode ser
adquirido por usucapião, nem em termos do
domínio integral ou do seu domínio

útil.

- as recorridas não apresentaram contra-


alegações.

Corridos os vistos, cumpre decidir.

Elementos a tomar em conta:

1) o prédio n. 9 da actual Rua da Vitória - Macau -


outrora sem nome confronta a norte com o prédio
n. 7 da mesma Rua, a Sul com terrenos aforados a
Choi Ião, a leste com a Travessa da Codorniz e a
este com a Rua da Vitória;

2) Este prédio está descrito na Conservatória do

Registo Predial sob o n. 8312, a fls. 183 do Livro

B-25, sendo esta descrição duplicação daquela


outra com o n. 10157, a fls. 124 do Livro B-9;

3) Este prédio é foreiro à Fazenda Nacional


conforme inscrição n. 1404, a fls. 180 do Livro F. 2.

4) O domínio útil está inscrito a favor de B,


conforme inscrição n. 23871, a fls. 191 do Livro B

18, que teve por base a escritura de 25 de Outubro


de

1946.

5) Está inscrito na matriz sob o n. 12187.

6) a B faleceu em 18 de Agosto de 1970.

7) Em 1947 a B doou às autoras o prédio em causa.

8) De imediato entraram as Autoras na posse do


prédio.

9) Nele se tendo mantido até hoje continuamente.

10) Publicamente e pacificamente.

11) Pagando as contribuições devidas.

12) E fazendo obras de beneficiação.

Questões a apreciar no presente recurso:

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A apreciação e a decisão do presente recurso,


delimitado pelas conclusões das alegações, passa
pela análise das seguintes questões: a primeira, a
nulidade do acórdão recorrido face ao disposto no
artigo 668 n.

1 alínea b) e d) do Código de Processo Civil; a


segunda, se o acórdão recorrido, ao considerar
adquirido por usucapião um prédio foreiro do
Estado, violou a norma do artigo 8 da lei n. 6/80/M,
de 5 de

Julho.

- Abordemos, pois, tais questões:

A nulidade do acórdão recorrido face ao disposto


no artigo 668 n. 1 alínea b) e d) do Código de
Processo

Civil.

1. O estado-recorrente sustenta que o acórdão


recorrido enferma de nulidade face ao disposto no
artigo 668 n. 1 alínea b) e d), do Código de Processo
Civil, por não apreciar com efeito a vertente da
extensão da lei material com reporte à especifica
situação e assenta em jeito conclusivo duma
decorrência de uma generalidade, ou afirmação
generalizante, por a nervura do raciocínio expresso
no douto aresto ser o seguinte:-

- Para Orlando C., a usucapião do domínio útil


verifica-se ou em prejuízo do proprietário que
passa à situação de senhorio ou em prejuízo do
anterior enfiteuta;

- As autoras invocaram o 2 caso de usucapião.

- O artigo 8 da Lei das Terras só se aplica ao 1 caso


de usucapião.

- Logo, têm razão as Autoras.

2. Considera-se que o acórdão recorrido não


enferma das nulidades invocadas pelo recorrente.

- Por um lado, só existiria a invocada nulidade do


artigo 668 n. 1 alínea b), do Código de Processo Civil
se houvesse a total omissão dos fundamentos de
facto ou dos fundamentos de direito em que
assenta a decisão.

Tal não aconteceu no acórdão recorrido já que o


mesmo se encontra fundamentado em termos que
são insuficientes na perspectiva do recorrente, e,
por isso, veio com o presente recurso com vista à
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sua revogação.

- Sempre se tem entendido que só a falta absoluta


de motivação produz nulidade (A. dos Reis, Código
de Processo Civil anotado, volume V, páginas 139 e
140;

Antunes Varela, Manual de Processo Civil, páginas


669; e acórdãos deste Supremo Tribunal de 24 de
Novembro de

1976 - Boletim n. 261, páginas 201 -, e de 6 de


Janeiro de 1977 - Boletim n. 263, páginas 185).

Por outro lado, a nulidade prevista na primeira


parte da alínea d) e n. 1 do artigo 668 do Código de
Processo

Civil está em correlação com o n. 2 do artigo 660: o

Juiz deve resolver todas as questões que as partes


tenham submetido a essa apreciação.

As questões que foram submetidas pelo recorrente


à

Relação de Lisboa constam das conclusões das


suas alegações, onde sobrelevam as duas últimas
(um terreno foreiro ao Estado - Território -
pertence ao seu domínio público e sobre o mesmo
não podem ser adquiridos direitos por usucapião),
sendo certo que as mesmas foram alvo de análise
sumária por parte do acórdão recorrido.

- Não houve, assim, omissão de pronuncia.

Se o acórdão recorrido, ao considerar adquirido


por usucapião um prédio foreiro ao Estado, violou a
norma do artigo 8 da Lei n. 6/80/M, de 5 de Julho.

1. A Relação de Lisboa sustenta, no seu acórdão


recorrido, que o artigo 8 da Lei das Terras só se
mostra aplicável à usucapião do domínio útil em
prejuízo do Estado proprietário, ou seja, não é
aplicável quando se invoque (como os autores
invocaram) a aquisição por usucapião do domínio
útil em prejuízo do anterior enfiteuta.

Por sua vez, o Estado-recorrente sustenta que, por


um lado, a Lei n. 6/80/M de 5 de Julho não constitui
qualquer excepção ao regime de especialidade
decorrente do Regulamento de ocupação e
concessão de terrenos das Províncias Ultramarinas
(aprovado pelo decreto-Lei n.

43894, de 6 de Setembro de 1961), pelo que será


neste sentido que terá de ser entendido e
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interpretado o seu artigo 8, e, por outro lado, o


prédio em causa pertence ao Território de Macau,
na qualidade de senhorio directo, ou seja, pertence
ao seu domínio privado, como tal não usucapivel,
sendo certo que a circunstância de um domínio útil
incidente no prédio não pode afectar a natureza e a
qualificação do próprio imóvel, já que o
aforamento, na Lei das Terras de Macau, é uma
forma de concessão de terrenos - artigo 29 alínea
f).

2 a) A Lei n. 6/80/M, de 5 de Julho (Lei de terras),


contém o regime actual sobre a ocupação e a
concessão dos terrenos do Território de Macau,
pois que o seu artigo 202 revogou toda a legislação
geral e especial que a contrarie.

Segundo essa Lei os terrenos de Macau


distinguem-se em terrenos do domínio publico do
Território, terrenos do seu domínio privado e
terrenos de propriedade privada.

- Pertencem ao domínio publico os terrenos como


tais considerados por lei... artigo 2.-

- São terrenos do domínio privado do Território os


que nem pertencem ao domínio público nem sejam
considerados de propriedade privada, sendo certo
que os terrenos vagos (os que não tenham entrado
definitivamente no regime de propriedade privada
ou de domínio público - artigo 7 n. 1, integram-se
no domínio privado do Território - artigos 6 e 7 n. 2.

- São terrenos de propriedade privada os terrenos


sobre os quais tenha sido constituído
definitivamente um direito de propriedade por
outrem - artigo 5 n. 1.

Através das apontadas distinções verifica-se que


são qualificados como terrenos vagos os que só se
integram no domínio privado do Território
enquanto não entrarem definitivamente ou no
regime de propriedade privada ou de domínio
público, o que equivale a dizer que os terrenos
vagos passam, de um momento para o outro, à
categoria de terrenos de propriedade privada ou à
de domínio público.

- A qualificação e a situação dos terrenos vagos é


semelhante em todos os diplomas legais que
versaram sobre a ocupação e concessão de
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terrenos nas Províncias Ultramarinas - artigo 2 do


regulamento aprovado pelo

Decreto n. 43894, de 6 de Setembro de 1961, artigo


1 n.

2 do Diploma Legislativo n. 1679, de 21 de Agosto de

1965, Base I n. 1, da Lei n. 6/73, de 13 de Agosto, e


artigo 167 da Constituição de 33.

- Surpreende-se em todas as citadas normas


legais que os terrenos vagos faziam parte
integrante do património da província ou do
Território e só eram considerados como tais
enquanto não entrassem no regime de propriedade
privada ou de domínio publico.

Os terrenos vagos destinavam-se ao seu


aproveitamento, mediante a apropriação individual
ou por uma pessoa colectiva, do direito público ou
privado (Marcelo

Caetano, Manual de Direito Administrativo, volume


II,

10 edição, páginas 978).

- Tais terrenos entravam no regime de propriedade


privada sempre que sobre os mesmos um direito
de propriedade perfeito ou um direito de
propriedade imperfeito proveniente de concessão
definitiva, sendo certo que esta entrada não podia
ser feita por meio de prescrição ou de acessão
imobiliária - artigo 2, parágrafo 2 e artigo 48 do
Regulamento aprovado pelo decreto n. 43894, de 6
de Setembro de 1961.

- De entre os modos de disposição dos terrenos


vagos apresentava-se à venda (artigo 49 do
Regulamento de 61) e a concessão por aforamento
(artigo 50 do Regulamento de 61), à qual se
aplicavam os preceitos do Regulamento e do
Código Civil (artigo 107).

- A concessão definitiva, por aforamento,


apresentava-se como um meio de disposição dos
terrenos vagos, ou, melhor dizendo, como um meio
de aquisição do direito de propriedade imperfeita e
precisamente o enfiteuse (artigo 2189 n. 1 do
Código de Seabra), cuja noção se encontra contida
no artigo 1653 do Código de

Seabra.

- Conforme adverte Marcelo Caetano o emprego do


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termo "concessão", no Regulamento de 61, tem um


sentido muito amplo, equivalente ao de outorga do
direito de aproveitamento das terras: é assim que
a lei fala em concessões por aforamento (artigos
107 e seguintes) e concessões por arrendamento
(artigos 125 e seguintes) - obra citada, páginas 979,
nota 1).

- O que se acaba de dizer lança luz sobre o sentido


e alcance decisivo quer do artigo 5 n. 1 quer do
artigo

29 alínea b), sendo certo que tal sentido fica


reforçado quando se tenha presente o artigo 45,
todos da Lei de Terras.

- O sentido de tais disposições não pode ser senão


o dos terrenos vagos passarem a ser considerados
terrenos de propriedade privada sempre que os
mesmos tiverem sido objecto ou de venda ou de
concessão por aforamento, pois sobre esses
terrenos constitui-se definitivamente um direito
de propriedade perfeita

(caso da venda) ou um direito de propriedade


imperfeita

(caso da concessão por aforamento).

- Sentido este reforçado, como se disse, quando se


tenha presente o artigo 45 da Lei de Terras que
prescreve: "o aforamento rege-se pelas
disposições desta lei e diplomas complementares
bem como pelas cláusulas dos respectivos
contratos, observando-se em todo o caso omisso
os preceitos aplicáveis do Código

Civil".

- o legislador, que sabe exprimir o seu pensamento


em termos adequados, empregou, na norma
transcrita, o termo "contrato" - com a noção e a
disciplina do direito civil -, o que significa que quis
salientar o verdadeiro alcance da concessão por
aforamento: o de tratar-se, na boa tradição
histórica, de acto de disposição, de acto através do
qual um particular
(pessoa física ou jurídica), adquiria um direito de
propriedade imperfeito, precisamente o domínio
útil do terreno.

2 b) o que se deixa dito vem a significar, por um


lado, que o terreno vago concedido por aforamento
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passa a ser considerado terreno de propriedade


privada, ou seja, passa a ficar sujeito ao regime
geral das coisas imóveis consagrado no direito
privado (e assim, o domínio útil passa a ser
susceptível de ser adquirido por usucapião - artigo
1287 e seguintes do Código

Civil), e, por outro lado, sai do âmbito de aplicação


do artigo 8 da Lei das Terras que prescreve: "sobre
os terrenos do domínio público e do domínio
privado do Território não podem ser adquiridos
direitos por meio de usucapião ou acessão
imobiliária".

2 c) No caso concreto, verifica-se que num prédio


urbano, devidamente identificado na
Conservatória do

Registo Predial de Macau, foi inscrito o domínio útil


a favor de um particular (de nome Ski Ching Kan),
em resultado de escritura celebrada em 25 de
Outubro de

1946, ficando o Estado como titular do domínio


direito.

A inscrição vem a significar que existe uma


presunção

"juris tantum" não só de que o direito registado (o


domínio útil do prédio em causa) existe, mas de
que pertence à pessoa em cujo nome esteja
inscrita, conforme entendimento a partir do
Regulamento das Conservatórias do Registo
Predial de 28 de Abril de

1870 (Boletim Ministério da Justiça n. 87, 98).

Daqui que o prédio em causa tenha passado, a


partir da inscrição do domínio útil sobre o mesmo,
ao regime de propriedade privada, passagem que
se mantém por não terem sido alegados (e
provados), factos a ilidir a respectiva presunção.

- A partir do momento em que o prédio em causa


passou ao regime de propriedade privada, passou a
estar submetido ao regime geral das coisas
imóveis consagrado no direito privado, de sorte
que será este a decidir se, face à matéria de facto
provada, se verificou ou não a aquisição do
domínio útil sobre o mesmo por usucapião.

- Tudo a significar que o artigo 8 da Lei de Terras


passa ao lado (permita-se a expressão) na
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apreciação da aquisição do domínio útil sobre o


prédio em causa.

- Daqui o concluir-se, como se conclui, que o


acórdão recorrido não violou o artigo 8 da Lei n.
6/80/M, de 5 de Julho.

Conclusão:

Do exposto, poderá extrair-se que:-

1) os terrenos vagos do Território de Macau só se


integram no seu domínio privado enquanto não
entram definitivamente ou no regime de
propriedade privada ou de domínio público.

2) os terrenos vagos do Território de Macau passam


a ser considerados terrenos de propriedade
privada sempre que os mesmos são objecto ou de
venda (constituindo-se sobre os mesmos um
direito de propriedade), ou de concessão por
aforamento (constituindo-se sobre os mesmos um
direito de propriedade imperfeita).-

3) um terreno vago do Território de Macau


concedido por aforamento passa a ficar sujeito ao
regime geral das coisas imóveis consagrado no
direito privado, e, assim, sai do âmbito de
aplicação do artigo 8 da Lei n. 6/80/M, de 5 de
Julho (Lei de Terras).

Face a tais conclusões, em conjugação com os


elementos reunidos no autos, poderá precisar-se
que:

1) o prédio em causa passou, a partir da inscrição a


favor de particular do domínio útil sobre o mesmo,
ao regime de propriedade privada, passagem que
se mantém por não terem sido alegados (e
provados), factos a ilidir a respectiva presunção.

2) a partir da inscrição do domínio útil sobre o


prédio em causa será o direito privado a decidir,
face à matéria de facto provada, se verificou ou
não aquisição desse direito por usucapião.

3) o acórdão recorrido terá de ser mantido por não


ter inobservado o afirmado em 1) e 2).

Termos em que se nega a revista.

Sem custas dado o recorrente se encontrar isento


das mesmas.

Lisboa, 14 de Janeiro de 1993.

Miranda Gusmão,

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Araújo Ribeiro,

Raul Mateus.

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