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A IGUALDADE DO HOMEM E DA MULHER NA RELAÇÃO

CONJUGAL

Desde os tempos antes de Cristo a mulher foi vista apenas como um ser

reprodutivo, que sua única obrigação era não deixar de perpetuar a espécie.

A mulher nunca foi tratada de igual como os homens, sido considerada um ser

inferior por muitos anos. Hoje num mundo um pouco mais moderno, que vivemos,

podemos verificar que há grandes mudanças nestas questões.

No entanto, há muito ainda, para se conquistar, acredito estarmos longe de

poder afirmar que hoje homens e mulheres são igualmente respeitados, tratados,

considerados e etc.

Mas podemos sim festejar algumas mudanças que são bem visíveis, como o

direito ao voto, a citação da mulher pela lei em igualdade com o homem, dentre seus

vários papeis, mãe, esposa, empresaria etc.

Um passo dos muitos que sofreu a legislação civil foi a da atual legislação que

alterou as disposições de lei no que se referia ao pátrio poder, modernizando e

enquadrando a lei dentro do artigo 5º, I, e artigo 226, § 5º, da Constituição Federal, para

PODER FAMILIAR.

Distribuindo igualmente os deveres e direitos dos pais aos filhos.

O instituto anterior fazia referencia ao homem como o chefe da família, não

mencionando o papel da mulher, dentro dos parâmetros da família.

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Com a mudança da legislação no ano de 2002 o legislador acertadamente

alterou os dispositivos legais, ao passo de incluir a mulher como participante das ações

vinculada à família.

A alteração só veio a beneficiar a sociedade em geral, que ansiava por tal

mudança, angariando a mulher o posto de pessoa responsável pelo instituto da família.

Com o evoluir dos costumes, o rigor da jurisdição paterna foi pouco a pouco

arrefecendo.

Caio Mário Pereira da Silva, fixa o conceito no direito moderno como sendo

um complexo de direitos e deveres quanto à pessoa e bens do filho, exercido pelos pais,

na mais estreita colaboração, e em igualdade de condições segundo o art. 226 § 5 da

Constituição Federal.

Segundo o Estatuto da Mulher Casada, Lei 4.121/62 a mulher poderia exercer

como colaboradora e juntamente com seu marido, o pátrio poder, mas não possuía

autonomia para conduzir sozinha o “pátrio poder” era submissa de certa forma as

vontades do homem/pai.

Com o passar dos tempos e com a modernização e atualização das leis as

atribuições deixaram de ser exclusivamente paternas passando-se a auferir grau de

importância em igualdade para a figura materna, o Poder Familiar corresponde aos

direitos e deveres dos pais, em relação aos filhos menores (não emancipados) e seus

bens.

Surge então uma nova nomenclatura para o “pátrio poder”, agora conceituado

pela legislação que tende a deixar o “machismo” de lado, e surge então o PODER

FAMILIAR, consagrando a igualdade da mulher no comando da família.

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Os ensinamentos de Caio Mário Pereira da Silva, sobre a relação do Poder

Familiar, importam em um complexo de direitos e deveres quanto à pessoa e bens do

filho, exercidos pelos pais na mais estreita colaboração.

Segundo Silvio Rodrigues: o poder familiar é considerado em direito de

família, como direito indisponível, inalienável, irrenunciável e imprescritível, desde que

os pais não sejam impedidos pela suspensão ou destituição do poder familiar, ou deixem

de exercê-lo.

Isto porque, houve o tempo em que o pai podia dispor de seu próprio filho,

comum era a venda dos filhos, hoje a sociedade não mais permite tal abuso, e legalizou

tal instituto.

Outra lei que veio a aflorar a mulher o direito de igualdade na sociedade é a lei

Maria da Penha (lei 11.340/2006), que não permite mais que a mulher seja alvo da

violência doméstica.

Como nos ensina Maria Berenice Dias à lei veio para coibir e prevenir a

violência doméstica e familiar, visando assegurar a integridade física, psíquica, sexual,

moral e patrimonial da mulher.

Como dispõe em seu artigo 5º da Lei 11.340/2006:

"Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar

contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,

lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.”

A lei Maria da Penha trouxe muitas novidades, que facilitam que a vítima seja

protegida com mais urgência e sem tanta burocracia, pois, o juiz age de ofício, e a

vítima no primeiro momento não precisa mais estar acompanhada por advogado para

fazer a representação.

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Criaram os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher –

JVDFM – que terá competência cível e criminal, com servidores capacitados, contudo, a

lei não exige a imediata implantação, em alguns estados já estão em funcionamento,

mas de maneira ainda precária.

Desta forma, houve o afastamento da violência doméstica do âmbito do

juizado especial criminal, nas comarcas onde ainda não foram implantados os JVDFM

as ações por infração a lei Maria da Penha, correrá nas varas criminais.

Novas mudanças surgiram também no conceito de família, mas estas

mudanças não vieram a beneficiar somente a mulher, mas também os filhos havidos

fora do casamento.

Nossa legislação regulou e reconheceu a existência da união estável entre

homem e mulher, conferindo-lhes direitos e obrigações. Artigos 1723/1727 Código

Civil. Incumbindo aos companheiros algumas regras antes vistas pela sociedade como

regras apenas a quem aderia ao casamento legal.

O dever de lealdade, respeito, guarda, assistência, sustento e educação dos

filhos, e regula a relação patrimonial segundo os dispositivos do regime de comunhão

parcial, mas abre margem para que os companheiros possam contratar diverso da lei,

desde que seja por meio de contrato escrito.

Carlos Alberto Menezes Direito afirma que, com a nova disciplina

constitucional, a sociedade concubinária, que tinha lastro nas regras da sociedade de

fato, passou ao patamar de união estável, reconhecida pela Constituição Federal de

1988, como entidade familiar e como tal, regulada pelo Direito de Família. E conclui:

Assim, não se deve mais falar em concubinato, em sociedade de fato. São

termos que têm de ser arquivados, assim porque quis o constituinte que seja a união

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estável entre o homem e a mulher considerada como entidade familiar. Como

conseqüência, o tratamento de todas as questões relativas à união estável deve ser nas

varas especializadas de família, não mais nas varas cíveis. Com isso, também, estão

superadas tanto a necessidade da prova do esforço comum, como a indenização por

serviços domésticos. No primeiro caso é de ser reconhecida à comunhão de bens

adquiridos na sua constância e, no segundo caso, deve ser facultado o pensionamento.

Presentemente, a matéria patrimonial encontra-se tratada superficialmente pelo

artigo 1.725 do Código Civil, que dita aplicarem-se, na ausência de disposição

contratual entre os conviventes, as regras do regime da comunhão parcial de bens, sem

qualquer outra especificação temporal para a comunicação dos aqüestos.

Por tal regime, afastam-se os bens pessoais havidos antes do casamento ou do

momento em que a relação afetiva se converteu em união estável, e comunicam-se os

adquiridos na sua constância, por qualquer dos cônjuges ou companheiros, presumindo-

se o esforço comum.

Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL Nº 726.822 - SP (2005/0028356-1)

RELATOR: MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO

RECORRENTE: J B

ADVOGADO: ELIANA FERNANDES

RECORRIDO: I G DE A

ADVOGADO: THEREZINHA MARTINS RAMOS

EMENTA

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União estável. Partilha de bens. Art. 5° da Lei nº. 9.728/96. Alimentos:

ausência de violação dos artigos 128, 460, 512 e 515 do Código de Processo Civil.

Precedentes da Corte. 1. O art. 5° da lei n° 9.728/96 determina que os bens adquiridos

na constância da união estável por um ou por ambos os conviventes são considerados

fruto do trabalho e da colaboração comum, pertencendo a ambos em condomínio, salvo

estipulação contrária por escrito, com o que devem ser partilhados.

2. Postulando o réu, na apelação, reforma integral da sentença, não há falar em

violação dos artigos 128, 460, 512 e 515 do Código de Processo Civil no julgado que

afasta os alimentos.

3. Recurso especial conhecido e provido, em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe parcial provimento, nos termos do

voto do Senhor Ministro Relator. Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Castro Filho,

Humberto Gomes de Barros e Ari Pargendler votaram com o Senhor Ministro Relator.

Brasília (DF), 6 de outubro de 2005 (data do julgamento).

MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO

Relator

Do mesmo modo restaram disciplinados os alimentos, que são devidos por

qualquer dos companheiros ao outro, atendendo ao binômio necessidade/possibilidade,

perdurando o direito até que venha o alimentado credor contrair casamento, nova união

estável ou passe a viver em concubinato.

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Quanto ao reconhecimento dos filhos, nossa legislação civil inicialmente

vedava o reconhecimento dos filhos adulterinos e incestuosos, os filhos procriados por

pessoas não casadas eram designados de ilegítimos, o que não mais se permite.

O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será

feita no registro de nascimento, por escritura pública ou escrito particular, e se

arquivado em cartório, por testamento, ainda que nele incidentalmente manifestado, e

por manifestação expressa e direta perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja

sido o objeto único principal do ato que o contém.

O reconhecimento por testamento só poderá ser feito por quem tenha

capacidade para testar, ou seja, pelo maior de 16 anos que esteja em seu perfeito juízo.

Finalmente, ainda na vigência do casamento, qualquer dos cônjuges poderá

reconhecer o filho havido fora do matrimônio.

Entendimento do STJ:

Processo

REsp 58 / RS RECURSO ESPECIAL 1989/0008227-2 Relator (a)

Ministro FONTES DE ALENCAR (1086) Órgão Julgador T4 - QUARTA

TURMA Data do Julgamento 29/04/1992 Data da Publicação/Fonte DJ 20.03.1995 p.

6117 LEXSTJ vol. 73 p. 82 RSTJ vol. 74 p. 193 RT vol. 717 p. 255

Ementa

DIREITO DE FAMÍLIA. REGISTRO CIVIL.

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PODE O PAI LEVAR A REGISTRO, NA CONSTANCIA DO VINCULO

MATRIMONIAL, O NASCIMENTO DE FILHO HAVIDO FORA DA RELAÇÃO

DO CASAMENTO. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. UNÂNIME.

Acórdão

POR UNANIMIDADE, NÃO CONHECER DO RECURSO.

Resumo Estruturado

LEGALIDADE, PAI, RECONHECIMENTO, FILHO ILEGÍTIMO,

REGISTRO DE NASCIMENTO, VIGÊNCIA, CASAMENTO.

CONCLUSÃO

Tiramos destes ensinamentos, a conclusão de que a mulher é vista como ser

importante na sociedade, não ficando mais as margens da proteção legal, mas sim, em

paridade de igualdade. No entanto, só teremos igualdade plena nas relações entre

homem e mulher, o dia em que não se faça mais necessário que a lei ampare as relações

e inclua os direitos das mulheres.

Para concluir o trabalho quero compartilhar uma bela norma portuguesa que

relata de forma brilhante o que se tem por igualdade social, abrangendo não só respeito

à mulher, mas a toda sociedade; vejamos:

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Constituição da República Portuguesa de 2 de Abril de 1976, Art. 13º:

Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou

isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de

origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação econômica ou

condição social.

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BIBLIOGRAFIA

PEREIRA, Caio Mário da Silva, op.cit., p. 245 -247. in REIS, Luis Eduardo

Bittencourt. A Guarda dos Filhos. Disponível em

http://www.pailegal.net/textoimprime.asp?rvTextoId=1081864118, acesso em 23 de

fevereiro de 2008.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo. Revista

dos Tribunais, 2007, p. 103/105, 155, 166.

DIAS, Maria Berenice. Direito de Família e o Novo Código Civil. São Paulo.

Revista dos Tribunais, 2004.

DIREITO, Carlos Alberto Menezes. Da união estável. In: O direito na

década de 1990: novos aspectos. São Paulo. Revista dos Tribunais, 1992. p. 136.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo. Saraiva,

2007.

VENOSA, Sílvio de Salvo, Direito Civil, Direito de Família. São Paulo.

Editora Atlas S.A, 2004.

Consultas sobre julgados no Superior Tribunal de Justiça pelo site:

www.stj.gov.br.

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