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Quixadá torna-se a Hollywood Sertaneja

02.10.2011 - ALEX PIMENTEL

Produções ganham o mundo exaltando a paisagem, a paisagem e os costumes


nordestinos do Interior do Estado

Quixadá. Quando os produtores de uma das maiores obras cinematográficas nacionais


escolheram Quixadá como cenário do longa-metragem "A morte comanda o cangaço",
não imaginavam que estavam dando o passo fundamental para transformar esta cidade
interiorana, situada a pouco mais de 160Km de Fortaleza, numas espécie de Hollywood
sertaneja. Aos poucos a região começou a ser procurada por outros cineastas. Hoje, os
amantes do cinema catalogam mais de 50 produções, entre longas, médias, curtas-
metragens, vídeo clips e até produções experimentais. Todos os cantos da cidade, quer
seja na área urbana ou rural acabam entrando em cena, transformando Quixadá numa
cidade cenográfica, de verdade.

No ano passado três filmes foram produzidos na cidade. "O Auto da Camisinha", com a
participação do humorista Chico Anysio; "Homens com cheiro de flor", retratando a
história de matadores de aluguel, e "Área Q", a primeira coprodução cearense Brasil -
Estados Unidos, abordando uma misteriosa história sobre ufologia. Este ano,
produtores, roteiristas, câmeras e atores deverão invadir a cidade novamente para
concluírem mais uma produção, "Gato Preto", de Clébio Viriato Ribeiro. Mais uma vez,
Quixadá será transformada em uma cidade cenográfica. Ruas serão isoladas e as
claquetes baterão dezenas de vezes.

Entretanto, enquanto na Hollywood americana, produtores e atores utilizam imensos


galpões, ou sets de filmagem, como são tecnicamente conhecidos, por aqui os alpendres
das edificações rurais serão transformados em camarins. A Fazenda Fonseca, situada a
pouco mais de 5Km do Centro de Quixadá, costuma ser um desses estúdios. Cenas de
"A morte comanda o cangaço", "O Quinze", e "Siri-a-rá" foram gravadas no casarão e
também no seu entorno, lembra a proprietária, Guiomar Holanda. Mais um entraria na
lista, "Luzia Homem", não fosse uma indisposição de saúde do patriarca da família,
lembra o filho da herdeira, Leorne Menescal.

Gravação ao vivo

No início, eram poucos os que se interessavam em apreciar as gravações. São horas de


espera para observarem uma cena. Na maioria das vezes o silêncio é prioridade. Daí,
quem espera para ver como se produz um filme é porque gosta mesmo, lembra Edna
Letícia Uchôa. Nos últimos anos, ela participou das gravações de todos os filmes
produzidos em Quixadá. O último deles foi "Área Q", mas pela lista, além do "Gato
Preto", ainda em fase de produção e de "Homens com cheiro de flor", de Joe Pimentel,
ela lembra de alguns, dentre dezenas, que lhe despertaram o fascínio pela sétima arte:
"Quixadá, curral de pedras"; "Luiza Homem" e "O cangaceiro trapalhão" são os mais
conhecidos.
Outros jovens também ficaram fascinados pelo mundo cinematográfico quando em
1998 resolveram fundar a Associação de Cinema e Vídeo de Quixadá (ACVQ). Já
tinham na bagagem da "CactusHollywod" grandes produções. Quixadá ficou famosa
nas telas de cinemas através de várias delas. Além de "A Morte comanda o cangaço" e
"O cangaceiro trapalhão", 20 anos depois, "Dora Doralina", "Corisco e Dadá", "Ô
Casamento", "Vila Lobos", "O Caminho das Nuvens", "Siri-a-rá" e "Cine Tapuia"
confirmam a potencialidade da cidade e região aptas a receber trabalhos
cinematográficos nacionais e internacionais. Além do sol, a cidade está sempre de
braços abertos para mais uma produção.

E tem lugar, como o povoado de Juatama, a pouco mais de 20Km do Centro de


Quixadá, onde praticamente todos os moradores acabaram se transformando em atores e
figurantes, nas vilas, ferrovia e na estação. Enquanto na Hollywood americana tudo é
montado, no pacato vilarejo está tudo ali, prontinho, construído por Deus, pela natureza
e pelo progresso, adormecido nos últimos anos. E daquele cantinho de meu Deus, o qual
fez o maior humorista do Brasil, Chico Anysio, relembrar sua amada Maranguape, um
ator da terra, Brasilino de Freitas, teve a honra de contracenar com o mestre, nas cenas
de "O auto da camisinha". Além de conquistar a confiança e o interesse de Chico por
seu projeto, o produtor, Cébio Ribeiro encontrou naquele lugar o cenário ideal para
desenvolver sua trama.

Acerca do interesse de tantos cineastas por Quixadá, Clébio Ribeiro explica ocorrer
principalmente em razão de dois aspectos: Um deles está relacionado à luminosidade. O
céu ensolarado, na maior parte do ano, com poucas nuvens, é ideal para as gravações
diurnas. O outro está relacionado aos locais para gravações.

MAIS INFORMAÇÕES

Associação de Cinema e Vídeo de Quixadá: (88) 3414.3488


Rua Francisco Batista de Queiroz, 1149 - Centro/ Acvq2011@hotmail.com

FILMES

Filmes retratam cotidiano do agreste

Diversas tramas foram gravadas pelo Sertão Central cearense. Conheça as histórias de
alguns desses filmes

Quixadá. "A morte comanda o cangaço", produzido em 1960, por Walter Guimarães
Motta, e dirigido por Carlos Coimbra, foi o primeiro filme a levar as imagens de
Quixadá mundo aforam. Conta uma história registrada em meados de 1929, de um
cangaceiro, protegido por um coronel latifundiário, o homem forte da região. Mas é
dado como morto por seu bando, que organiza uma desforra. O filme mostra com
impressionante realismo o cenário de horror e ódio pelo qual passou o Nordeste
brasileiro na época do cangaço. O filme se consolidava no cinema brasileiro, e fazia por
aqui a vez dos faroestes americanos, sendo sucesso de crítica e de bilheteria e é
considerado um dos melhores filmes do gênero. Chegou a ser indicado oficialmente
pelo Brasil ao Oscar para concorrer na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. A
produção está sendo remasterizada por Autora Duarte e sua equipe.
Já "O cangaceiro trapalhão" foi produzido em 1983. A direção foi de Daniel Filho, mas
no roteiro o humorista Renato Aragão deu seu toque pessoal. No elenco, além de grupo
de comediantes "Os Trapalhões" (Didi, Dedé Santana, Mussum e Zacarias), Regina
Duarte e Tânia Alves. O filme é inspirado na história do cangaceiro Virgulino Ferreira
da Silva, também conhecido como Lampião, o assim chamado "Rei do cangaço".

"Luzia Homem", direção de Fábio Barreto, foi lançado em 1984. Com duração de 104
minutos, o filme conta a história de uma menina que presencia o assassinato de seus
pais e em seguida é criada por um vaqueiro, passando a adotar os costumes masculinos
do sertão. Quando se torna mulher, procura o assassino de seus pais, para se vingar, mas
encontra o amor.

"O Quinze", um filme brasileiro dirigido por Jurandir de Oliveira, veio 20 anos depois,
em 2004. Foi baseado no romance homônimo, de Rachel de Queiroz. Retrata o
sofrimento nordestino na grande seca que atingiu o Sertão Central do Ceará em 1915.
"Homens com cheiro de flor", produzido no ano passado, transita em torno da história
de vida de três pistoleiros. Deodato, que deseja abandonar o ofício; Zé Galego, que, ao
matar uma bezerra de uma fazendeira, acaba, casualmente, se envolvendo com a
pistolagem, e Custódio, que deixa de ser policial e se transformar em pistoleiro. No
entrecruzamento da vida desses três personagens, revela-se a antropologia da
pistolagem: crenças, costumes, lendas, desejos e valores. O filme tem na direção Joe
Pimentel, com roteiro de Emmanuel Nogueira e produção de Isabela Veras, Dora Freitas
e Willa Lima. No elenco: Aury Porto, Joelson Medeiros, Démick Lopes, Zécarlos
Machado, Simone Iliescu, Guilherme Tortolio, Fabíola Liper, Artur Mota Filho, Nelito
Reis, Robério Diógenes, Rodger Rogério, Ângela Moura, Felipe Sales, Ilclemar Nunes,
Joca Andrade, Fernanda Duarte e Victória Pozzan.

Internacional

"Área Q" é o nome do longa-metragem de ficção científica filmado em Quixadá e


Quixeramobim e em Los Angeles, nos Estados Unidos. O filme é a primeira coprodução
EUA e Brasil (Reef Pictures Inc., ATC Entretenimentos e Estação Luz Filmes) no Ceará
e tem roteiro e produção de Halder Gomes. A direção é de Gerson Sanginitto. O filme
contará histórias de avistamentos e abduções no interior do Ceará que os produtores
escutam desde criança. O nome do filme faz referência aos Municípios de
Quixeramobim e Quixadá, onde são comuns as aparições de Ovnis. O filme será
lançado em breve nos cinemas americanos.

"O auto da camisinha" é uma média-metragem produzido e dirigido por Clébio Viriato
Ribeiro. Por meio do resgate às diversas manifestações culturais e de situações
quotidianas, o filme apresenta questões importantes sobre a prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis. Trata com humor as formas de transmissão do vírus HIV.

ALEX PIMENTEL
COLABORADOR

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