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Competências do PR, AR e Governo na revisão

constitucional de 1982, face à versão originária da CRP de


1976.

De um ponto de vista histórico é importante frisar que a Constituição da


Republica Portuguesa de 1976 entra em vigor após a revolução do 25 de Abril
de 1974, protagonizada pelos militares tendo levado à queda do Estado Novo.

É um período conturbado onde entre 1974 e 1976 vigora o Programa do


Movimento das Forças Armadas, um texto carregado de sentido jurídico e que
se transformou em acto constitucional do Estado. Esta legitimidade tem como
ponto de referência a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Este programa previa que deveria ser o Povo através de eleição a eleger os
deputados à Assembleia Nacional Constituinte e a determinar o sistema
político, económico e social em que deveria viver.

Neste período o Movimento das Forças Armadas nomeia uma Junta de


Salvação Nacional a quem são entregues a título provisório os poderes do
Estado (poderes de fazer leis) até à entrada em vigor da Constituição

Constituição de 1976 é uma constituição descontínua (vem de uma ruptura com


o estado novo), isto é, as regras da constituição não respeitam as da antiga
constituição de 1933, é uma constituição longa e unitextual, ou seja, o nosso
direito constitucional está basicamente contido num só texto (só alguns artigos é
que remetem para fora da constituição art. 290, 292 e 294). É também uma
constituição rígida capaz de resistir às normas. Para a Constituição ser
modificada implica um procedimento específico (constante no art. 284 e
seguintes) garantindo assim a sua identidade. É uma constituição programática
estando expresso o seu programa nos artigos 9 e 81. O seu regime é democrático
e pluralista tendo sido consignação do sufrágio universal

Os seus grandes fundamentos são a democracia representativa e a liberdade


política. É uma constituição muito ligada aos direitos fundamentais dos
cidadãos e dos trabalhadores e com a separação de poderes.
Competências do PR, AR e Governo na revisão
constitucional de 1982, face à versão originária da CRP de
1976.

Sistema de governo de 1976 é o sistema semi-parlamentar, rompe com a


concentração de poderes existente na Constituição de 1933 tendo como órgãos
políticos de soberania:

a) O Presidente da Republica, é eleito por sufrágio universal e direto exigindo a


maioria absoluta, presidia ao Conselho de Revolução, tem poderes reguladores
do sistema político nomeadamente: Poderes de promulgação e veto, poder de
declaração do estado de sítio ou de emergência, Pode dissolver a Assembleia da
Republica e nomear o Governo mediante os resultados eleitorais.

b) O Conselho da Revolução, foi criado pela Assembleia do MFA e é a


representação institucional das forças armadas. Possui reserva de competência
política e legislativa em matérias militares, serve de órgão auxiliar do
Presidente da Republica sendo que a Constituição prevê a separação política e
legislativa do Conselho da Revolução e dos Chefes do Estado Maior
relativamente ao Governo. Tem o poder de condicionar os actos do Presidente
da Republica. Cabe ainda ao Conselho da Revolução (até à primeira revisão em
1982) a fiscalização preventiva e a fiscalização inconstitucional auxiliada pela
instituída a Comissão Constitucional.

c) A Assembleia da Republica, é constituída pelo Parlamento unicamaral com


funções legislativas e de fiscalização do governo.

d) O Governo, é o órgão que conduz a politica geral do país, sendo que o


Conselho de Ministros apenas será presidido pelo Presidente da Republica em
caso se solicitação do Primeiro-ministro. O Governo tem responsabilidades
políticas perante a Assembleia da Republica e o Presidente da Republica

Com a Constituição de 1976 surge a democracia descentralizada,


principalmente no que diz respeito à descentralização administrativa através do
princípio fundamental da autonomia das autarquias locais e da
descentralização democrática da administração pública. Dota os Açores e a
Competências do PR, AR e Governo na revisão
constitucional de 1982, face à versão originária da CRP de
1976.

Madeira como regiões autónomas dotadas de estatutos políticos


administrativos próprios (art. 6 nº 2). Inclui a autonomia das autarquias locais e
a autonomia político-administrativa das regiões autónomas entre os limites
materiais da Revisão constitucional previsto no art. 290.

Concluindo o Estado Português continua a ser unitário mas com capacidade


para distribuir funções e poderes de autoridade pelas regiões autónomas, poder
local ou municípios.

Com a primeira revisão constitucional em 1982 a Constituição Portuguesa sofre


as revisões abaixo descritas;

a) Extingue-se o Conselho da Revolução criado anteriormente pela Assembleia


do Movimento das Forças Armadas,
b) Cria-se o Tribunal Constitucional (a subsistência do Conselho da Revolução
impedia a criação do Tribunal Constitucional),
c) Dá-se termo às funções políticas das forças armadas,
d) Cria-se o Conselho de Estado servindo de órgão consultivo do Presidente da
Republica,
e) Reduz-se o número de artigos na constituição (de 312 para 300),
f) Reduz-se as marcas ou expressões ideológico-cunjunturais constantes na
CRP de 1976,
g) Aperfeiçoa-se os direitos fundamentais e é clarificada a parte económica da
constituição.
h) Presidente da Republica passa a deter competências político-militares,
i) As relações entre o Presidente da Republica, a Assembleia da Republica e o
governo foram repensadas com reflexo no sistema politico,
j) O Presidente da Republica passa a poder dissolver a Assembleia da
Republica com um parecer não vinculativo do Conselho de Estado,
k) O Governo deixa de estar dependente da confiança ou desconfiança do
Presidente da Republica (apenas se encontra dependente do Parlamento)

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