Você está na página 1de 20

Certificação e Orientação

Ambiental de Edificações
Material Teórico
Contextualização sobre a Questão Ambiental

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Michele Cavalcanti Toledo

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Contextualização sobre
a Questão Ambiental

• Relação entre os Seres Humanos e o Meio Ambiente;


• História;
• Contexto Atual;
• Natureza Urbana;
• Conceito de Sustentabilidade;
• Ferramenta: Avaliação de Ciclo de Vida.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conhecer um breve resumo da história da problemática ambiental, assim como a
sua caracterização no contexto contemporâneo;
• Discutir as principais visões sobre o conceito de sustentabilidade.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Contextualização sobre a Questão Ambiental

Relação entre os Seres Humanos


e o Meio Ambiente
A espécie humana é, no mínimo, curiosa, talvez a única a pensar sobre a sua
relação com o meio ambiente, ainda que deste faça parte, criando, então, uma
ideia de dualidade, como se fosse algo à parte. Essa mentalidade esquizofrênica se
intensificou no período da Revolução Industrial, onde o domínio sobre os novos
processos produtivos e materiais decorreu da crença de superioridade e necessidade
de controle e modificação da natureza pela espécie humana.

Talvez por isso tenhamos chegado ao cenário atual, onde a indústria de construção
civil consome cerca de 50% dos recursos naturais, sendo, certamente, responsável
por parte dos maiores impactos que causamos no Planeta (EDWARDS, 2005).

Obviamente, essa generalização não abarca tantos pormenores culturais e


históricos de nossa área, espaço repleto de exemplos de trabalhos e profissionais
preocupados em respeitar as condições do meio ambiente em que estão inseridos,
assim como em tornar os seus trabalhos mais sustentáveis, minimizando impactos
negativos e potencializando os positivos da construção, uso e ocupação da terra.

Durante esta e as próximas unidades estudaremos e analisaremos algumas das


complexas relações multifacetadas entre a nossa espécie e o meio que a cerca.
Buscaremos examinar o histórico da questão ambiental, assim como exemplos
positivos e negativos imprescindíveis ao entendimento do contexto atual do debate
e conceitos à sustentabilidade em edificações.

Como você acha que nos relacionamos com o meio que nos cerca? Acredita que é o nosso
Explor

dever dominá-lo e controlá-lo? Quais são as suas referências arquitetônicas em relação ao


meio ambiente construído?

História
Sob a perspectiva das edificações e o meio ambiente, é difícil traçar um marco
inicial dessa relação. Talvez tivéssemos que voltar à sedentarização da espécie
humana, na construção de nossas primeiras casas “artificiais”, ou seja, feitas pela
própria espécie. Ou talvez devêssemos nos ater as questões pertinentes à história
brasileira e analisarmos a relação dos múltiplos povos indígenas de nosso território.
Ou, quem sabe, atermo-nos à perspectiva ocidental, mais bem documentada,
analisando o conceito das “cidades de taipa” das residências brasileiras do século
XVI ao XIX (CIANCIARDI, 2014).

8
Ainda que todas essas sejam abordagens válidas, para melhor entendermos o
contexto das certificações e casas sustentáveis dos dias atuais precisaremos nos
ater aos debates em que o conceito da sustentabilidade emergiu – lembrando que
as nossas referências bibliográficas estão repletas de indicações úteis para maior
aprofundamento sobre tal conteúdo.

Até a década de 1970, o uso do adjetivo sustentável estava comumente atrelado


a trabalhos que analisavam a resiliência de ecossistemas. Em 1962, a autora norte-
americana Rachel Carson (2010) publicou o livro Primavera silenciosa, de cunho
jornalístico, sendo considerada uma das maiores reportagens investigativas do
século XX. Associou a grande taxa de mortalidade e problemas de reprodução
em aves ao Diclorodifeniltricloroetano (DDT), um agrotóxico organoclorado, muito
comum naquele período, porém, atualmente proibido em vários países. O livro teve
grande repercussão, acarretando em uma investigação no senado estadunidense
e colocando o tema ambiental em voga na política e mídia em nível mundial
(HELSON, 2007).

Resiliência: neste contexto, é a capacidade de o meio ambiente se recuperar e resistir a


Explor

impactos. Quando a resiliência é quebrada, significa que, naturalmente, aquele espaço não se
recuperará de um impacto; por exemplo, se algumas árvores caem em uma floresta durante um
vendaval, com o passar do tempo a floresta se recuperará sem nenhuma intervenção humana.
Já quando é feito o corte raso de uma grande porção de floresta, mesmo se abandonarmos a
área, a floresta jamais virá a ter a riqueza e biodiversidade de outrora.

Foi na década de 1980 que o termo sustentável passou a ser utilizado como
um tipo de adjetivo para qualificar o desenvolvimento. Essa abordagem ganhou
força após o relatório intitulado Nosso futuro comum – conhecido também como
Relatório Brundtland –, elaborado por uma comissão da Organização das Nações
Unidas (ONU), o qual afirmou a importância de mantermos equilíbrio no uso dos
recursos naturais de forma a não prejudicar as gerações futuras (VEIGA, 2005).

Nos anos subsequentes, o substantivo sustentabilidade passou a ser utilizado de


múltiplas maneiras, gerando certa ambiguidade e desconfiança no meio acadêmico.
A princípio, foi rejeitado politicamente pela esquerda e direita, tendo sido visto
como um conceito que não se adequava às questões de países em desenvolvimento.
A posteriori, contudo, o termo passou a ser adotado em ambos os lados, de modo
que atualmente a maior parte dos políticos discursa a importância do tema.

9
9
UNIDADE Contextualização sobre a Questão Ambiental

Quadro 1 - Principais eventos internacionais sobre meio ambiente e sustentabilidade


1972 Conferência de Estocolmo
1979 Convenção de Genebra Sobre a Poluição do Ar
1980 Estratégia Mundial para a Conservação
1983 Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
1987 Protocolo de Montreal Sobre a Camada de Ozônio
1990 Livro Verde Sobre o Meio Ambiente Urbano
1992 Rio 92 – Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
1996 Conferência Habitat
1997 Conferência de Quioto Sobre o Aquecimento Global
2016 Acordo de Paris Sobre as Mudanças Climáticas
Fonte: adaptado de Edwards (2005)

Figura 1 - Foi no Parlamento Sueco que muitas dessas conferências aconteceram


Fonte: Wikimedia Commons

Esses e outros eventos internacionais foram de grande importância para o


desenvolvimento da discussão em relação à sustentabilidade. Ademais, talvez tão
importante quanto tenham sido alguns grandes exemplos negativos, ou seja, obras
que acarretaram em grandes impactos ambientais, cidades estéreis e repletas
de problemas ambientais e de saneamento básico, chuvas ácidas, mudanças
climáticas, edifícios doentes e tantos outros casos lamentáveis ajudaram a construir
os paradigmas mentais e conceituais de nossa Era (CIANCIARDI, 2014).

Podemos utilizar a própria história da Cidade de São Paulo para isso: fundada
à beira do rio Piratininga – hoje o canalizado rio Tamanduateí – e de uma colina,
São Paulo sempre teve os seus muitos rios como “corações da Cidade”, seja como
forma de transporte, abastecimento, saneamento, esporte, ou mesmo por aspectos
culturais. No final do século XIX e começo do XX, a Cidade viu, por meio de seus
gestores, a necessidade de priorizar a construção de grandes avenidas e novos
loteamentos em detrimento dos rios. Dessa forma, tais rios foram canalizados,

10
tamponados ou até mesmo tiveram o seu fluxo invertido – como no caso do rio
Pinheiros –, tornando as suas águas o destino final de esgotos. Com o passar do
tempo, esses rios sofreram grande deterioração e se tornaram fontes de estorvo
aos paulistanos (JORGE, 2006).

Em cerca de vinte minutos, o documentário Entre rios mostra bem a relação e deterioração
Explor

dos rios na Cidade de São Paulo nas últimas décadas. Assista-o em: https://goo.gl/ikXUIC

Contexto Atual
Hoje são muitos os desafios relacionados ao contexto ambiental para as edi-
ficações. Precisamos responder a demandas relacionadas à gestão dos recursos
naturais; poluição; às mudanças climáticas; à biodiversidade; ao crescimento da
população urbana etc.

Esses e outros fatores interagem gerando grande pressão sobre arquitetos e


planejadores, os quais precisam lidar, comumente, com baixas verbas e grande
pressão imobiliária acerca dessas problemáticas (GAUZIN-MÜLLER, 2011).

Felizmente, a área de edificações conta com uma série de inovações e recursos


para lidar com tais questões, sejam de baixa tecnologia – low tech – ou alta
tecnologia – high tech. Assim e atualmente, uma edificação sustentável abarca
questões como as seguintes (CIANCIARDI, 2014):
• Adaptação e respeito ao meio em que está inserido;
• Cuidado em relação à orientação do Sol, ventos e ruídos;
• Utilização de materiais de baixo impacto em seu ciclo de vida;
• Utilização e otimização de iluminação e circulação de ar natural;
• Preocupação com a operação e manutenção visando eficiência no uso de recursos.

Nesta breve introdução acerca de aspectos comuns para edificações ecológicas


observaremos que a sustentabilidade é um novo paradigma, algo muito maior
do que apenas uma mudança de estilo, abarcando comportamentos e valores de
nossa sociedade – este Material teórico não distinguirá a utilização de termos como
sustentável, verde e ecológico.

Importante! Importante!

A sustentabilidade não é mero novo estilo. Trata-se de mudança de estilo!

11
11
UNIDADE Contextualização sobre a Questão Ambiental

Ao mesmo tempo em que vemos o seu debate se desenvolver em nível global,


percebemos que as ações concretas se dão em âmbito local, de maneira que a
arquitetura deve respeitar o meio, os materiais e a cultura do espaço onde está
inserida, sendo impossível criarmos uma lista geral, ou uma receita, sobre o que e
como ser sustentável (EDWARDS, 2005).
Explor

Pense globalmente, aja localmente.

Natureza Urbana
A “explosão demográfica” no último século foi, antes de tudo, uma deflagração
urbana. Se por volta de 1900 14% da população mundial habitavam cidades, no
início do século XXI mais de 50% das pessoas passaram a viver em meio urbano, e
esses números são ainda mais impressionantes em países desenvolvidos. Na União
Europeia, por exemplo, as médias de cidadãos que vivem na cidade e no campo
são de 70% e 30%, respectivamente (GAUZIN-MÜLLER, 2011).

O tamanho das cidades também sofreu grande acréscimo. Se considerarmos


a média de habitantes das cem maiores cidades mundiais da época, temos em
(GAUZIN-MÜLLER, 2011):
• 1800: 200 mil habitantes;
• 1900: 700 mil habitantes;
• 1950: 2,1 milhões de habitantes;
• 2000: 5 milhões de habitantes.

Esse cenário gera uma série de demandas urbanas, tais como transporte, sane-
amento, habitação e áreas livres; anseios que muitas vezes são respondidos por
meio de grandes obras artificiais, alienando os seus habitantes do meio em que
estão inseridos.

Em um primeiro olhar, as cidades podem parecer um grande mosaico – ou “jar-


dim” – de concreto, no qual os parques são os poucos remanescentes de uma espé-
cie de meio natural que ali já esteve (SPIRIN, 1984). Contudo, além de representar
a visão dualista que buscamos combater nos tópicos teóricos anteriores, esse é um
olhar incapaz de perceber os múltiplos sistemas que compõem as cidades. Afinal,
a natureza urbana se faz presente de muitas formas, entre as quais:
• Na vegetação de parques, jardins, terrenos baldios, calçadas, praças e demais
áreas verdes, responsáveis por alguns transtornos quando, por exemplo,
árvores caem; além de prazeres, tais como a sombra e produção de frutas;

12
• Nos rios, córregos, lagos e sistemas tamponados, lembrados em momentos
de cheias e alagamentos – mas esquecidos e ignorados no dia a dia – e na
disposição irregular do esgoto em seus leitos;
• No vento e na circulação do ar, condição muitas vezes intensificada nas regiões
centrais em decorrência de cânions artificiais, formados pelas edificações mais altas;
• Na iluminação do Sol, um recurso extremamente democrático, ainda que muitas
edificações tenham sido impedidas de usufrui-la por estarem à sombra de outras;
• No solo, base de sustentação de nossos edifícios, calçadas, ruas e árvores, mas
muitas vezes lembrados apenas nas ocorrências de deslizamentos ou quando
são comprovadamente tóxicos, comumente em função da deposição irregular
de rejeitos industriais;
• Com os animais, sejam domésticos, tais como cães e gatos; pestes, tais como
ratos e baratas; ou silvestres, tais como corujas, pica-paus e beija-flores.

Figura 2 - Querendo ou não, a natureza urbana se faz presente nas cidades. Nos canais de Santos,
por exemplo, vemos um ambiente construído e adaptado para as necessidades da época
Fonte: iStock/Getty Images

A relação dos habitantes para com esses aspectos mais evidentes do meio am-
biente nas cidades, comumente, variará de acordo com o bairro e a faixa de renda.
Infelizmente, os bairros que possuem arquitetura e urbanismo mais integrados,
permitindo conexão mais intensa com os seus habitantes, são os de alta renda
(GOMES; SOARES, 2003).

Esse cenário se torna ainda mais complexo quando começamos a analisar alguns
pormenores históricos: por exemplo, as vegetações dos parques urbanos são, em
sua grande maioria, oriundas de plantios paisagísticos compostos de espécies
exóticas à região – ou seja, que não são nativas; de modo que, como uma de suas

13
13
UNIDADE Contextualização sobre a Questão Ambiental

consequências, as pragas comuns à cidade não são originais daquela região – o


pernilongo Aedes aegypti, por exemplo, é uma espécie africana. Em paralelo, rios
e outros corpos d’água mudam de lugar em razão da intervenção humana.

Apesar desse contexto soar como algo pessimista, é importante enfatizarmos as


funções sociais das cidades, resgatando os conceitos de urbs, da poli.

Assim, a cidade é, antes de tudo, o espaço coletivo no qual a nossa espécie


escolheu para viver e interagir, de modo que cidades maiores e com mais recursos
permitem um número significativo de interações e usos.

Atualmente, muitos autores apontam para as características únicas que as ci-


dades apresentam, defendendo, inclusive, que grandes cidades possam ser mais
sustentáveis a longo prazo. Trata-se de uma abordagem complexa e que será me-
lhor discutida ao longo das próximas unidades, mas a ideia geral é que ao concen-
trarmos pessoas e recursos em um mesmo lugar, podemos realizar ações coletivas
mais eficazes. Por exemplo, muitos veículos automotivos individuais são claramen-
te mais impactantes que meios coletivos de transporte; além disso, aquecer a água
de muitas casas individualmente exige mais energia do que utilizar um aquecimento
central em um edifício com muitos apartamentos (GLAESER, 2011).

Assim, tão importante quanto a sustentabilidade de nossas cidades é a de nossas


edificações. Afinal, em média passamos, pelo menos, 80% de nossas vidas dentro
de edificações (EDWARDS, 2005).

Conceito de Sustentabilidade
Apesar de não possuirmos um consenso sobre a definição de sustentabilidade,
especialmente sobre o que seria uma edificação sustentável, a maioria dos autores
concorda que quando trabalhamos com esse tema acabamos por buscar ações
que reduzam a nossa insustentabilidade, ou seja, que diminua os nossos impactos
negativos, potencializando os nossos impactos positivos (GRÜNBERG; MEDEIROS;
TAVARES, 2014).

Entre os pontos em comum destacados pela maioria dos autores, temos a busca
pela transição a uma economia de baixo carbono, mais solidária e compartilhada; ser
inclusiva e socialmente justa; que supere os atuais e pobres paradigmas de desempenho
econômico; e que fortaleça os Direitos Humanos (GAUZIN-MÜLLER, 2011).

Trocando ideias...Importante!
“A adjetivação deveria ser desdobrada em socialmente includente, ambientalmente
sustentável e economicamente sustentado no tempo” (VEIGA, 2005, p. 10).

14
A Comissão Brundtland, no documento Nosso futuro comum, trouxe a definição
mais famosa de desenvolvimento sustentável, “[...] que satisfaz as necessidades do
presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer suas
próprias necessidades” (WCED, 1987, p. 16).

É uma abordagem válida, especialmente pela capacidade em demonstrar as


intenções de manutenção de uma espécie de resiliência global ao grande público.
Ainda assim, é uma definição aberta a muitas interpretações, sendo considerada,
às vezes, um tanto vaga (GAUZIN-MÜLLER, 2011).

A partir dessa abordagem outras surgiram, de modo que em algumas áreas é


bem popular o conceito do “tripé da sustentabilidade”. Nesse ponto de vista, a
sustentabilidade seria decorrente do mínimo de impactos negativos e do máximo
de impactos positivos nas questões sociais, ambientais e econômicas.

Ambiental

Econômico Social

Figura 3 - O “tripé da sustentabilidade”


Fonte: Elaborada pelo autor

Ao analisar as múltiplas variações para o conceito de sustentabilidade na arqui-


tetura, Edwards (2005, p. 21) destaca duas definições populares nos debates de
edificações ecológicas, vejamos:
1. Para o escritório Norman Foster + Partners seria a criação de edificações
eficientes do ponto de vista energético; além de saudáveis, confortáveis, de
uso flexível e projetadas para terem longa vida útil;
2. A associação Building Services Research and Information (BSRIA) defende
que a construção sustentável é a criação e gestão de edifícios saudáveis,
baseados em princípios ecológicos e no uso eficiente dos recursos.

Essas definições nos mostram uma convergência sobre as intenções e valores


das edificações ecológicas, deixando claro que para um projeto ser sustentável não
podemos nos ater apenas à fase de sua execução – como na escolha de materiais
ou construção.

15
15
UNIDADE Contextualização sobre a Questão Ambiental

Afinal, quando buscamos incorporar a sustentabilidade em nossa área, devemos


contemplá-la na fase de projeto, respeitando os muitos aspectos do meio onde
a edificação está inserida, considerando sempre a possibilidade de não realizar o
projeto, pois após um diagnóstico inicial, talvez cheguemos à conclusão de que os
impactos positivos da obra não sejam suficientes para compensar os negativos.

Devemos ainda nos ater à implantação do empreendimento, buscando os pro-


cessos e materiais mitigadores; para finalizar, as edificações devem ser pensadas
em sua utilização e desativação, a fim de que possam ser mais eficientes, integradas
e autossuficientes (GAUZIN-MÜLLER, 2011).

Figura 4 - Edificações sustentáveis devem buscar, cada vez mais, integrar


e explicitar os elementos da natureza urbana em sua composição
Fonte: iStock/Getty Images

Ferramenta: Avaliação de Ciclo de Vida


Uma importante ferramenta metodológica de gestão ambiental no contexto das edi-
ficações ecológicas é a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), técnica capaz de nos indicar a
natureza e grandeza do impacto gerado pelos materiais que escolhemos utilizar.

Importante! Importante!

Em poucas palavras, ACV identificará os fluxos de materiais, energia e resíduos no tempo e


espaço para entender o impacto total gerado na fabricação e utilização de um componente..

16
Uma característica interessante dessa ferramenta está na contextualização, con-
siderando que o impacto de um material está associado ao período e local; significa
que a utilização de um material, tal como um móvel de madeira de peroba-rosa,
terá impactos diferentes no Paraná, onde foi fabricado, ou no Ceará, para aonde
será transportado por meio de um caminhão.

Outro exemplo famoso e curioso nesse assunto é o uso de energia elétrica: a


partir da matriz de eletricidade dos países, podemos chegar a curiosas conclusões,
por exemplo, de maneira geral podemos dizer que um carro movido e abastecido
por energia elétrica geraria menos impactos no Brasil do que nos Estados Unidos.

A matriz brasileira de eletricidade é composta principalmente por energia renovável, com


Explor

cerca de 75%, constituída principalmente por energia hídrica, eólica, de biomassa e solar; já
nos Estados Unidos esse número é de 14%, apenas (ANEEL, 2018; GAUZIN-MÜLLER, 2011).
Dessa maneira, podemos concluir que a energia elétrica brasileira é menos dependente de
recursos naturais não renováveis, logo, menos geradora de poluição atmosférica.

A partir da utilização da ACV o profissional perceberá com facilidade que nos


projetos deverá priorizar a (EDWARDS, 2005):
• Reutilização de materiais;
• Reciclagem de materiais;
• Valorização de componentes locais;
• Preocupação com o transporte de materiais;
• Deposição de resíduos não reutilizáveis em locais adequados.

17
17
UNIDADE Contextualização sobre a Questão Ambiental

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
O Guia Básico para a Sustentabilidade
EDWARDS, B. 2. ed. Barcelona: GG, 2005.

 Vídeos
Rio Pinheiros - Sua História e Perspectivas
História Ambiental do Rio Pinheiros, em São Paulo.
https://goo.gl/CnZW2E
Top Vídeos Manual do Mundo
Entenda mais sobre a Produção de Energia Elétrica no Brasil.
https://goo.gl/E8pr21
Forma Urbana e Sustentabilidade: Fausto Nilo at TEDxFortaleza
A Sustentabilidade e as Cidades.
https://goo.gl/kGRgWW
Apocalipse Moderno | Nerdologia
As Cidades e a nossa Relação com as quais.
https://goo.gl/bHBGgQ

 Leitura
A Receita de Sucesso
Reportagem sobre o livro “O Triunfo das Cidades”.
https://goo.gl/1hdLeu

18
Referências
CARSON, R. Primavera silenciosa. São Paulo: Gaia, 2010.

CIANCIARDI, G. A casa ecológica. Vinhedo, SP: Horizonte, 2014.

EDWARDS, B. O guia básico para a sustentabilidade. 2. ed. Barcelona: GG, 2005.

GAUZIN-MÜLLER, D. Arquitetura ecológica. São Paulo: Senac, 2011.

GLAESER, E. Triumph of the city: how our invention makes us richer, smarter,
greener, healthier and happier. 2rd ed. [S.l.]: Macmillan, 2011.

GOMES, M. A. S.; SOARES, B. R. A vegetação nos centros urbanos: considerações


sobre os espaços verdes em cidades médias brasileiras. Estudos Geográficos:
Revista Eletrônica de Geografia, v. 1, n. 1, p. 19-29, 2003.

GRÜNBERG, P. R. M.; MEDEIROS, M. H. F. de; TAVARES, S. F. Certificação


ambiental de habitações: comparação entre Leed for Homes, Processo Aqua e
Selo Casa Azul. Ambiente & Sociedade, v. 17, n. 2, p. 195-214, 2014.

HELSON, R. Rachel Carson: the strength of wonder. Women of vision: their


psychology, circumstances, and success. [S.l.: s.n.], 2007.

JORGE, J. Tietê: o rio que a cidade perdeu. São Paulo: Alameda, 2006.

SPIRIN, A. W. The granite garden. New York: Basic Books, 1984.

VEIGA, J. E. da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. 3. ed.


Rio de Janeiro: Garamond, 2005.

WCED. Our common future. New York: Oxford University, 1987.

Sites visitados
ANEEL. Matriz energética brasileira. jun. 2018. Disponível em: <http://www2.
aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm>. Acesso em: 28
jun. 2018.

19
19

Você também pode gostar