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Revista Eletrônica Bragantina On Line

Discutindo ideias, construindo opiniões!

Número 21 – Julho/2013
Joanópolis/SP

Edição nº 21 – Julho/2013 0
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SUMÁRIO

Nesta Edição:

- EDITORIAL – Amadurecimento .......................................................................... Página 3;

- DIVULGAÇÃO – Realidade Alternativa: Anime e RPG


Por Ricardo Nascimento ........................................................................................... Página 4;

- LINHA DO TEMPO – Pata-de-vaca


Por Helen Kaline Pinheiro ....................................................................................... Página 6;

- LOUCOS PELO TEMPO – Restabelecimento de condições climáticas úmidas e a


ocupação pré-histórica na região
Por Diego de Toledo Lima da Silva ....................................................................... Página 10;

- O ANDARILHO DA SERRA – Tempos de maturação


Por Susumu Yamaguchi ......................................................................................... Página 17;

- SEGURANÇA DO TRABALHO – Proteção das mãos


Por Rildo Aparecido Fonseca ................................................................................ Página 21;

- BIOLOGIA – Água e cultura: origem da apropriação deste recurso


Por Jennifer Leão dos Santos ................................................................................. Página 24;

- EDUCAÇÃO AMBIENTAL – Gestão ambiental no agronegócio


Por Flávio Roberto Chaddad ................................................................................. Página 27.

Edição nº 21 – Julho/2013 1
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REVISTA ELETRÔNICA BRAGANTINA ON LINE


Uma publicação independente, com periodicidade mensal.

Site:
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EDITORIAL

AMADURECIMENTO

Prezados leitores!
As manifestações e eventos que “agitaram” o país em junho e julho deste ano
evidenciam um momento importante, um momento de amadurecimento. Sem dúvidas, esta é
uma grande oportunidade de amadurecimento das instituições e das pessoas, além da
construção de uma mudança estrutural para melhor.
Nesse sentido, amadurecer significa experiência, vivência e esforço. Esses valores e
atitudes devem ser contínuos, numa verdadeira rede de relações e trocas, que encontram na
internet e nas redes sociais instrumentos de base para a execução prática.
Sempre, a luta por algo melhor deve estar baseada no bem difuso, de resultado à
coletividade, superando as barreiras do individualismo, de forma inclusiva, social e
comunitária.
Aproveitemos este tempo para reflexão, consciência e ação, cada um da sua maneira,
numa vivência que proporcione o amadurecimento como pessoa, cidadão e profissional. E se
errar, lembre-se: Tente outra vez, que sempre é tempo!

Diego de Toledo Lima da Silva – Editor (16/07/2013)

Uma boa leitura e não deixe de enviar sua opinião pelo e-mail
(revistabragantinaon@gmail.com)!

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DIVULGAÇÃO

Ricardo Nascimento
Montanhista e Louco por Astronomia
E-mail: rickranius@yahoo.com.br

REALIDADE ALTERNATIVA: ANIME E RPG

O evento acontecerá nos dias 17 e 18 de Agosto, na Rua Arthur Bernardes, nº 111 (no
pátio de eventos da Igreja Santa Terezinha), em Bragança Paulista/SP.
O Realidade Alternativa, já em sua 6ª edição, tem como principal objetivo divulgar a
cultura pop japonesa, além dos card games e de outras atrações voltadas ao público jovem,
como:
- Concurso Cosplay (fantasias de personagens), com premiação de R$ 150,00 ao 1º
colocado;
- Exibição de animes;
- Estandes de produtos variados;
- Estande para a prática de Arco e Flecha (com instrutores qualificados);
- Torneio de Arco e Flecha aberto a todo o público - com premiação em dinheiro ao
vencedor;
- Batalha Campal - simulação de lutas medievais com espadas de espuma - aberto a
todo o público;
- Praça de alimentação incluindo pratos da culinária japonesa;
- Shows com bandas da região;
- Sorteio de brindes.
Todos os alimentos arrecadados no evento serão doados a uma instituição de caridade.
Colabore com nossa campanha.

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Como citar:
NASCIMENTO, R. Realidade Alternativa: Anime e RPG. Revista Eletrônica Bragantina
On Line. Joanópolis, n.21, p. 4-5, jul. 2013.

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LINHA DO TEMPO

Helen Kaline Pinheiro

Estudante e jovem talento de Joanópolis


E-mail: helenkpinheiro@gmail.com

PATA-DE-VACA

A Pata-de-vaca (Bauhinia forficata), também chamada Mororó e Pé-de-boi, é uma


árvore brasileira nativa da Mata Atlântica. O nome "Pata-de-vaca" e "Pé-de-boi" é uma
referência ao formato de suas folhas.
Árvore entre 2 e 8 metros de altura, folhas lisas de 10 cm., divididas em duas a partir
da metade, flores claras sem muito destaque. O fruto é uma vagem chata com 20 cm.,
contendo 12 sementes redondas, achatadas, marrom esverdeado. É encontrada na América do
Sul: Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, Peru e Bolívia.
Portadora de uma das mais belas flores e folhagem entre as plantas do gênero
Bauhinia. Essa planta é utilizada tradicionalmente como medicamento e tem sido objeto de
estudos no controle da diabetes. Estudos científicos comprovaram que contêm insulina.

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Veja muito mais no Blog: http://helenkaline.blogspot.com.br/

Como citar:
PINHEIRO, H.K. Pata-de-vaca. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.21,
p. 6-8, jul. 2013.

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PROJETO HERBÁRIO

Edição nº 21 – Julho/2013 9
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LOUCOS PELO TEMPO

Diego de Toledo Lima da Silva


Técnico Ambiental
E-mail: diegoaikidojoa@hotmail.com

RESTABELECIMENTO DE CONDIÇÕES CLIMÁTICAS ÚMIDAS E A


OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA NA REGIÃO

É clara a dependência da sociedade atual a aspectos climáticos, como temperatura,


volume e distribuição de chuvas, umidade do ar, ventos, entre outros. Muitas vezes, esses
fatores passam despercebidos no dia-a-dia da grande maioria, mas determinam o local da
habitação, o tipo de vestuário, a alimentação, a escolha da viagem de férias, etc. E as
populações pré-históricas que ocuparam a região também dependiam do clima?
Com certeza sim! Elas norteavam suas ações com base no conhecimento que tinham
do clima, como a localização do abrigo, deslocamentos no território, busca por frutos e caça, e
fontes de abastecimento de água. Quando o clima se tornou inóspito e/ou imprevisível, essas
populações buscaram locais com fontes perenes de água ou foram obrigadas a grandes
deslocamentos na busca por alimento e água.
Este artigo busca discutir a ocupação pré-histórica da região bragantina do estado de
São Paulo e áreas vizinhas e sua relação com o restabelecimento de condições úmidas a partir
de 3 mil anos atrás. Para tanto, serão utilizados dados de 2 sítios arqueológicos recentemente
estudados na região: Abrigo Fazenda do Matão (Cód. CNSA MG00781) – Extrema (MG) e
Toca da Paineira (Cód. CNSA SP01059) – Bragança Paulista (SP); e mais 4 sítios registrados
pelo PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas) e pela UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais), no município de Itapeva (MG): Sítio do Poscai
(Cód. CNSA MG000258); Sítio do Itapeva (Cód. CNSA MG000259); Sítio Pessegueiro (Cód.
CNSA MG000782); e Sítio da Ponte de Zinco (Cód. CNSA MG 000783).

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Povos pioneiros e os abrigos sob rocha

Achados arqueológicos de grande antiguidade vêm se multiplicando pelo interior do


estado de São Paulo e fornecendo informações a respeito do modo de vida desses pioneiros:
povos que viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos e tubérculos. Viviam em pequenos
grupos, sempre se deslocando ao longo dos vales (WICHERS, 2010).
No geral, os grupos caçadores-coletores se deslocavam dentro de uma macrorregião já
conhecida e muito bem mapeada. Os cristais de quartzo foram a principal matéria-prima
utilizada pelos grupos pré-históricos na fabricação de ferramentas de pedra lascada (NEVES
& PILÓ, 2008), mineral este abundante na região em estudo.
Assim, os sítios arqueológicos destes primeiros habitantes são encontrados em grutas,
terrenos a céu aberto, próximos aos cursos d’água, ou em locais onde encontravam rochas
adequadas ao feitio de seus instrumentos (pontas de flecha, machados, facas, etc.). Esses
testemunhos nos conectam a evidências similares, com mais de 11 mil anos, em outros
estados brasileiros e países da América do Sul, indicando que grupos de caçadores-coletores
foram os pioneiros na ocupação da América (WICHERS, 2010).
Uma característica marcante dos grupos humanos caçadores-coletores é a mobilidade,
popularmente conhecida como nomadismo, fundamental nas suas estratégias de obtenção de
recursos e de sobrevivência (NEVES & PILÓ, 2008).
Para a região, o Abrigo Fazenda do Matão (Figura 1), em Extrema, e a Toca da
Paineira, em Bragança Paulista, são dois abrigos sob rocha, com existência de pinturas ou
gravuras rupestres (Figura 2). Ambos estão localizados à meia encosta/topo de morro, com o
rio Jaguari nas proximidades.
Quanto aos abrigos sob rocha, estes podem ser formados simplesmente por uma
inclinação significativa de um paredão rochoso ou pela boca de uma gruta. Esses nichos
foram especialmente convidativos para o estabelecimento do homem pré-histórico, tendo em
vista que proporcionam ao mesmo tempo áreas naturalmente abrigadas e bem iluminadas,
diferentemente do interior das grutas, que são geralmente escuras e úmidas (NEVES & PILÓ,
2008).

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FIGURA 1 – Vista interna do abrigo sob rocha da Fazenda do Matão, Extrema (Foto: Autor, 2013).

FIGURA 2 – Arte rupestre do Abrigo Fazenda do Matão, Extrema (Foto: Jean Marie Polli, 2011).

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A Toca da Paineira, abrigo sob rocha com gravuras rupestres, localizado no Bairro do
Guaripocaba, em Bragança Paulista, foi descoberto graças à realização de um programa de
Arqueologia Preventiva para o licenciamento de uma pedreira. No interior do abrigo foram
encontradas não só as ferramentas dos artistas pré-históricos, mas também fragmentos de
antigas garrafas indicando o seu uso em diversas épocas (WICHERS, 2010).
Na Toca da Paineira foram encontrados artefatos líticos lascados e polidos (tradição
lítico não ceramista), com estrutura de combustão (mancha de queima no teto – fuligem). Para
efeito de comparação, NEVES & PILÓ (2008) apontam que em Lagoa Santa (MG) a indústria
lítica é muito generalizada, expedita, com poucas peças retocadas e quase nenhuma
formalização, artefatos estes encontrados em abrigos rochosos.
RAMBELLI et al. (2000) descreve o achado de um “tacape” de madeira encontrado
nas proximidades da Toca da Paineira, próximo ao rio Jaguari, para o qual foi realizada
datação de Carbono 14, que após calibração gerou como resultado a possibilidade de
corresponder a dois períodos:
- 2.345 a 2.302 anos AP (Antes do Presente);
- 2.257 a 2.183 anos AP.
Assim, o artefato encontrado nas proximidades do sítio arqueológico da Toca da
Paineira apresenta entre 2.183 e 2.345 anos AP, contemporâneo à estimativa de antiguidade
para o Abrigo Fazenda do Matão (2.500 anos AP), em Extrema. É possível também se tratar
do mesmo bando, levando em conta que esses indígenas se deslocavam numa região maior.
Certamente, os deslocamentos dos paleoíndios que ocuparam a região eram realizados pelas
margens do rio Jaguari, bem como por outros cursos d’água da região.

Restabelecimento de condições úmidas e a ocupação da região

Atualmente, a paisagem da área de estudo é um mosaico de Floresta, Mata de


Araucária, campos cerrados e de altitude, com frutos como o pinhão, o araticum, coquinhos
de palmeiras, entre outros. Esses frutos foram tradicionalmente consumidos pelos grupos
indígenas, conforme a literatura pesquisada. No entanto, ao longo dos últimos milhares de
anos, a dinâmica, extensão e estrutura dessas unidades de paisagem se alteraram conforme as
condições climáticas predominantes em cada período.
Portanto, a ocupação da área de estudo a partir de 2.500 anos AP pode ter sido
favorecida pelo aumento da umidade e, consequentemente, de elementos da Mata de
Araucária, pois SIQUEIRA (2006) aponta que condições úmidas e frias são restabelecidas na
região de Monte Verde (MG), por volta de 3 mil anos AP.
Em Campos do Jordão (SP), registrou-se uma umidade crescente de 4.560 anos AP até
os dias atuais, com uma fase mais acentuada entre 2.750 e 500 anos AP; sendo que as espécies

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da Mata de Araucária também aumentam sua frequência de ocorrência após 2.610 anos AP,
substituindo as florestas nebulares e avançando sobre os campos de altitude em locais de
topografia mais elevada (BEHLING, 1997; HAUCK, 2009).
Segundo NEVES & PILÓ (2008), em torno de 3 a 1 mil anos AP, a região de Lagoa
Santa (MG) apresentou condições ambientais mais estáveis, proporcionando uma ocupação
humana mais permanente. Essa população, denominada Aratu-Sapucaí, além de usar artefatos
cerâmicos, praticava a agricultura de subsistência e tinha uma dieta apenas complementada
por caça, coleta e pesca.
Para os estados da região sul do Brasil, as pesquisas indicam que, após cerca de 4 mil
anos AP, o clima se tornou mais úmido, permitindo a expansão lenta da paisagem florestal,
principalmente ao longo dos rios. Quanto à velocidade dessa expansão, esta aumentou após
1.100 anos AP, levando à substituição mais pronunciada das paisagens campestres pela
vegetação florestal. BEHLING et al. (2009) aponta que a expansão da Floresta de Araucária
sobre áreas de vegetação campestre teve início em torno de 3.210 anos calibrados AP,
começando a partir da migração de matas de galeria ao longo de rios, indicando o advento de
condições climáticas mais úmidas sem estação marcadamente seca.
Esta umidificação climática do planalto da região sul possibilitou um maior
povoamento local, como apontado para o planalto e regiões setentrionais da Depressão
Central e da Planície Costeira do Rio Grande do Sul. JACOBUS (2006) descreve que essas
regiões foram ocupadas desde 2 mil anos atrás, por grupos portadores de uma tradição
tecnológica possuidora de cerâmica, denominada tradição Taquara, sendo que em dois sítios
dessa tradição, localizados no vale do rio das Antas, foram identificados restos de milho,
pinhão e de paragens.
Estudando a tradição Taquara, SCHMITZ & BECKER (2006) descrevem o achado de
agrupamentos de casas subterrâneas em terrenos cobertos de mata mista com pinheiros, no
interior dessas casas, junto a uma das paredes, foi encontrado um fogão de pequenos blocos
com muito carvão, pinhões calcinados e cerâmica.

Acampamentos a céu aberto

As pesquisas desenvolvidas pelo PRONAPA e pela UFMG identificaram 4 sítios a céu


aberto no município de Itapeva. Dois deles (Sítios do Poscai e do Itapeva) identificados como
da tradição Uma, fase Piumhí, ou seja, povos ceramistas e agricultores iniciantes, com
registros entre 3.000 anos até 800 anos atrás. Os outros dois sítios (Sítios Pessegueiro e da
Ponte de Zinco) não tiveram sua tradição identificada.

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No caso dos materiais encontrados nos 4 sítios arqueológicos, 3 continham artefatos


cerâmicos (Sítios do Itapeva, Pessegueiro e da Ponte de Zinco), enquanto o Sítio do Poscai
apresentou artefatos lítico-lascado e cerâmico.
É bem possível que caçadores-coletores de indústria lítica tardios chegaram à região
pouco antes dos grupos ceramistas, ou até em concomitância com estes últimos. Tal
possibilidade também foi apresentada para o Sítio Lund, a céu aberto, localizado nas margens
da Lagoa do Sumidouro (MG), em que NEVES & PILÓ (2008) realizaram datações de
carvões obtidos nas sondagens, que geraram datas ao redor de 2 mil anos.
Ainda sobre esta hipótese, ela é concordante com sítios arqueológicos encontrados na
proximidade da área de estudo, como a Toca da Paineira (tradição lítico não ceramista), os
sítios arqueológicos do município de Itapeva (tradição Una, fase Piumhí - acampamentos a
céu aberto com artefatos cerâmico e lítico-lascado) e outros sítios de municípios do sul de
Minas Gerais, da tradição Tupiguarani, com artefatos cerâmicos.

Considerações finais

Sem dúvidas, o pinhão da Araucaria angustifolia foi uma importante fonte alimentar
das populações pré-históricas que ocuparam a região bragantina, sul de Minas Gerais e Serra
da Mantiqueira. Assim, o restabelecimento de condições úmidas e a expansão da Mata de
Araucária a partir de 3 mil anos AP favoreceu uma ocupação mais efetiva da região. Os sítios
arqueológicos encontrados em Itapeva (tradição Una, fase Piumhí) e outros municípios do sul
de Minas Gerais (tradição Tupiguarani) indicam que algumas populações tenham iniciado a
agricultura de subsistência.
No caso dos estados da região sul do Brasil, a coleta proporcionava uma forte
complementação alimentar às populações que iniciavam a agricultura de subsistência, sendo
até mais importante no começo. O pinhão era a coleta mais substancial e o domínio da Mata
de Araucária deveria ser uma preocupação permanente das populações do planalto, pois
provavelmente as populações dos vales (tradição Tupiguarani) também ambicionavam este
fruto quando maduro (SCHMITZ & BECKER, 2006).
Sendo assim, as condições climáticas e o mosaico paisagístico regional foram fatores
importantes na ocupação indígena local. NEVES & PILÓ (2008) explicam que o
estabelecimento de grupos caçadores-coletores em Lagoa Santa foi significativamente afetado
pela disponibilidade de água na paisagem, além da duração das estações secas e a quantidade
anual de chuvas. Tais fatores também foram condicionantes na ocupação da região
bragantina, assim como as incertezas quanto às condições futuras.

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Referências Bibliográficas

BEHLING, H. Late Quaternary vegetation and fire history from the tropical mountain region
of Morro do Itapeva, SE, Brazil. Paleogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology,
Amsterdam, v,129, n.3-4, p. 407-422, 1997.

BEHLING, H. et al. Dinâmica dos campos no sul do Brasil durante o Quaternário Tardio. In:
PILLAR, V. P. et al. (ed.) Campos Sulinos – conservação e uso sustentável da
biodiversidade. Brasília: MMA, 2009. 403p.

GRAFISMO RUPESTRE. (2011) Abrigo da Pedra do Índio – Extrema – MG. Disponível


em: http://www.grafismorupestre.com/archives/533. Acesso em: 26 Junho 2013.

GRAFISMO RUPESTRE. (2011) Formas geométricas do Abrigo da Pedra do Índio.


Disponível em: http://www.grafismorupestre.com/archives/563. Acesso em: 26 Junho 2013.

HAUCK, P.A.S. Cerrados, campos e araucárias: A teoria dos refúgios florestais e o


significado paleogeográfico da paisagem do Parque Estadual de Vila Velha, Ponta Grossa –
Paraná. 2009. 146p. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

JACOBUS, A.L. Alimentos usados pelo homem pré-histórico. In: SCHMITZ, P.I. (ed.) Pré-
história do Rio Grande do Sul. 2. ed. São Leopoldo, RS: Instituto Anchietano de Pesquisas
– UNISINOS, 2006. 164p.

NEVES, W.A. & PILÓ, L.B. O povo de Luzia: em busca dos primeiros americanos. São
Paulo: Editora Globo, 2008. 334p.

RAMBELLI, G.; TOMAZELLO, M.; CAMARGO, P.B. A canoa monóxila indígena de


Bragança Paulista: uma análise arqueológica interdisciplinar. Revista FESB, Bragança
Paulista, v.01, n.01, p. 30-43, 2000.

SCHMITZ, P.I.; BECKER, Í.I.B. Os primitivos engenheiros do Planalto e suas estruturas


subterrâneas: a tradição Taquara. In: SCHMITZ, P.I. (ed.) Pré-história do Rio Grande do
Sul. 2. ed. São Leopoldo, RS: Instituto Anchietano de Pesquisas – UNISINOS, 2006. 164p.

SIQUEIRA, E. História ecológica da floresta de Araucaria durante o Quaternário


Tardio no setor sul da serra da Mantiqueira: análises sedimentológicas e palinológicas na
região de Monte Verde (MG). 2006. 142p. Dissertação de Mestrado. Instituto de Geociências
da Universidade de São Paulo, São Paulo.

WICHERS, C.A.M. (Org.) Mosaico paulista: guia do patrimônio arqueológico do estado de


São Paulo. São Paulo: Zanettini Arqueologia, 2010. 48p.

Como citar:
DA SILVA, D.T.L. Restabelecimento de condições climáticas úmidas e a ocupação pré-
histórica na região. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.21, p. 10-16, jul.
2013.

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O ANDARILHO DA SERRA

Susumu Yamaguchi
Cronista, andarilho e morador de Joanópolis
E-mail: sussayam@gmail.com

TEMPOS DE MATURAÇÃO

(Crônicas diamantinas – 2)

Bem pouco tempo se passou entre a última visão do distante Milho Verde e a primeira
do Pico do Itambé, do lado de cá. Meia hora antes, eu olhara para trás ao atingir o alto da
Serra do Raio e achara que era sua derradeira reaparição. Não era ainda, mas dessa vez eu
sabia que nas próximas horas deveria avistar o povoado do Capivari no sopé daquele pico que
passaria a nortear, vez ou outra, meu caminho pelas trilhas altas do descampado.
“Você vai na direção do Itambé”, tinha dito seu Jairo. “Bem lá na frente você vai cair
na estrada, mas não esqueça que ela estará sempre à sua direita”. Era uma distância de
apenas seis quilômetros do Milho Verde até São Gonçalo do Rio das Pedras pela Estrada
Real, mas como eu queria ainda passar pelo Capivari seriam dezenove quilômetros e depois
mais de uma légua para chegar até lá. “Quero passar lá também por gratidão”, expliquei
quando ele disse que se saíssemos dali naquele momento, andando e conversando, em uma
hora estaríamos em São Gonçalo. E concordou que eu tinha tomado uma boa decisão ao
desistir de fazer a Trilha dos Tropeiros naquelas condições, pois uma vez ele desafiou – por
burrice – um tempo fechado lá em cima e só se safou por causa de seu cavalo.
Saí do Milho Verde bem cedo com o tempo prometendo mais chuva, e tomei o
caminho que seu amigo Vavá tinha me mostrado no final da tarde anterior: “Você vai seguir
sempre pela trilha principal, passar por uma lagoa e atravessar um córrego antes de subir a
serra”. Levei mais de duas horas para atravessar a Várzea do Lajeado e começar a subir,
depois de voltar em um ponto e tirar dúvidas em uma casa. Começou a chover logo no início e
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as pedras ficaram escorregadias, exigindo muita atenção na subida íngreme. Após a meia-
encosta não havia mais uma trilha definida e fui sempre em direção ao mais alto, e ao chegar
lá vi que a chuva caía em revoadas apenas para os lados do Milho Verde.
E agora: onde, a trilha? Eu sabia que ela devia passar um pouco mais abaixo, à direita,
no colo da serra, e comecei uma varredura em busca de uma abertura na mata ou até mesmo
um totem que indicasse o caminho. Como recompensa a esse exercício meticuloso de
orientação, encontrei duas pistas antes do local previsto – falsas, naturalmente. A abertura na
mata parecia, em princípio, uma picada para coleta de brotos de samambaia – que eu tinha
visto em maços à venda na feira do Serro – mas ela acabou me levando a um esquivo garimpo
em uma vala de enxurrada, com algumas bateias, picaretas e enxadões espalhados ali. Quanto
à outra pista, era apenas um recente totem biodesagradável – um monte que alguém tinha
feito bem no meio de uma trilha secundária.
Enfim, atravessada a mata, despachado o Milho Verde e com o Pico do Itambé na
mira, passei a vagar por trilhas que se cruzavam no campo e, seguindo a mais batida, cheguei
ao fim da linha em uma inesperada lapa. Voltei, fui pela direita por uma longa e desnorteada
trilha que atravessava valetas e capões até que acabei por cair na estrada, como previra seu
Jairo. Segui pela estrada colocando e tirando a capa de chuva, deslizando na terra vermelha e
cruzando com carros e ônibus escolares. E mais de cinco horas após deixar o Milho Verde
cheguei enfim ao Capivari, meta que não conseguira alcançar vindo de Santo Antônio do
Itambé, do outro lado do Pico, pela Trilha dos Tropeiros.
Enquanto eu almoçava no Receptivo Familiar de Noeme houve um telefonema de
dona Olímpia, em cujo receptivo me hospedara no Milho Verde. Ela queria saber se eu tinha
chegado bem a Capivari e agradecia pelo bilhete que lhe deixara ao sair bem cedo, sem querer
incomodar seu horário matinal habitual. Fora ela quem me falara de Noeme e – para minha
surpresa – de seu marido Gonçalo, justamente a pessoa que eu queria encontrar no Capivari.
Mas, antes, quem me falara sobre os Receptivos Familiares tinha sido Letícia, do Instituto de
Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais, IDENE, em Diamantina, órgão
encarregado de cadastrar e capacitar famílias para receber visitantes em suas casas para
convívios temporários, dentro do programa de Turismo Solidário.
“Sim, Letícia esteve aqui e nos orientou”. Noeme confirmou que isso tinha começado
com o pessoal da Andarilho da Luz Caminhadas Ecológicas Terapêuticas, de Belo Horizonte,
primeiramente com entendimentos para hospedagem de visitantes do Parque Estadual do Pico
do Itambé. Com o passar do tempo criou-se uma associação para melhorias no povoado e,
com o envolvimento de outras pessoas e entidades, em 2005 foi inaugurado o Centro
Comunitário de Capivari. “Hoje, temos um local para que equipes de saúde do Serro nos
atendam aqui”. E para quem não tinha possibilidades de acesso a serviços básicos, havia um
justo orgulho nas palavras e na luz do olhar de Noeme, serenas e firmes, que refletiam um

Edição nº 21 – Julho/2013 18
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tempo necessário de maturação de uma pequena comunidade do interior.


“Foi por minha causa que você tomou toda aquela chuva no domingo”, eu disse a
Gonçalo assim que nos encontramos, logo depois do almoço. “Não foi nada, isso faz parte do
nosso trabalho”, contemporizou ele diante de meu agradecimento. Disse que saíra à minha
procura logo que começou a chover forte do lado de cá da Trilha dos Tropeiros e que, se me
localizasse e eu estivesse bem, voltaria pelo atalho para os limites do parque, mas que se eu
preferisse caminharia comigo até o final, conversando. Para prevenir um possível
desencontro, amarrou um frágil cipó que se romperia caso eu passasse pela porteira. Estando
o fio intacto, levou a mão ao rádio para chamar Flavinha na entrada do parque, justamente no
momento em que ela o chamou e avisou que eu tinha desistido da travessia por causa da
chuva. “Graças a Deus!...”, foi o que ouvi pelo rádio do outro lado do Pico, em Santo
Antônio do Itambé.
Através da casa de Noeme e Gonçalo, e igualmente de outros moradores, os visitantes
podiam penetrar em um dos atrativos do Capivari: a vida de sua gente. “Fizemos outro
banheiro e crescemos a cozinha, que é onde o pessoal gosta de fazer serão”. Falavam do
sossego que encantava aqueles que vinham de fora e eu me lembrava da quantidade de bares,
restaurantes e pousadas do Milho Verde; mostravam o calmo ajuntamento de pequenas casas
coloridas e eu revia o Milho Verde se esparramando em grandes construções forasteiras; e
diziam da gente que vinha do Milho Verde para o Capivari em busca de silêncio, fugindo da
invasão de milhares de turistas nos feriados – “Era só som alto dos carros e gente quase sem
roupa dançando na rua”. E eu ouvia Noeme e Gonçalo contando isso que outros contavam e
pensava nas delicadas placas à entrada desses povoados todos do Serro que, invariavelmente,
nos acolhiam com boa-fé: “Seja bem-vindo”, seguido de “Respeite nossos costumes”.

Margareth – margot.joaninha@hotmail.com

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Gonçalo me deu indicações para caminhar até São Gonçalo do Rio das Pedras: “Antes
da igreja, vire à direita e vá sempre pela trilha principal, é só baixada; só tem uma subida,
depois do retiro”. E acrescentou que outra pessoa também tinha vindo lhe agradecer depois
que ele o havia recolocado no caminho certo, já perto do Pico. Inteiramente entregue aos
comandos de seu GPS, o turista seguiu pelos caminhos virtuais e não viu a realidade das
pequenas placas brancas com apoios pretos que sinalizavam a maioria das trilhas do Parque
Estadual do Pico do Itambé.
Parei de frente para a igreja. “Para o caminho da esquerda é de onde você veio: vai
para o Milho Verde”. Vista de baixo, ela aparecia no alto da colina como um portal para um
céu azul de grandes nuvens brancas. Evocava a Matriz de Itacambira, só que menor, mais
afilada e sem as naves laterais, apenas com uma varandinha abrigando o sino, mas bem mais
encorpada que a delicada Capela do Rosário, do Milho Verde. Evoquei então Juju do Milho
Verde, ou Joujou, já que era Joubert, artista plástico nos anos 1960/70 em São Paulo e Rio de
Janeiro que voltou para sua terra, enfartou e vivia sozinho no meio do mato: “Os paulistas
estão invadindo novamente as minas diamantinas; para o bem, ou para o mal”. E evoquei
por fim um menino de uns oito a nove anos, se tanto, com quem encontrei às seis e meia da
manhã no Milho Verde, carregando compenetradamente um tabuleiro redondo com bolo
fatiado. Ao meu cumprimento, ele respondeu com um súbito “Num sô qui nem ocê não, sô!...
Eu tô é trabaiano!...”.
Alguma coisa fora de compasso parecia ocorrer com esses pequenos e coloridos grãos
do Milho Verde, em seu tempo de maturação. Olhei para o Capivari: algumas casas, o
riozinho, a rua que subia a colina entre outras poucas casas e, mais lá atrás, alcançando o céu,
a presença perene do Pico do Itambé. Voltei-me e tomei o caminho da direita.

Como citar:
YAMAGUCHI, S. Tempos de maturação. Revista Eletrônica Bragantina On Line.
Joanópolis, n.21, p. 17-20, jul. 2013.

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SEGURANÇA DO TRABALHO

Rildo Aparecido Fonseca


Técnico de Segurança do Trabalho e Gestor Ambiental
E-mail: rildoapf@ibest.com.br

PROTEÇÃO DAS MÃOS

A ferramenta mais importante que o trabalhador tem ao seu dispor são as mãos. É por
meio delas que ele desenvolve suas atividades profissionais. No entanto, apesar da sua grande
importância como ferramenta de trabalho, a maioria das pessoas não atenta para a sua
segurança, fato que torna as mãos a região do corpo mais lesionada por acidentes. Por isso é
fundamental trabalhar com atenção e de acordo com as recomendações de segurança da sua
atividade. Confira:
- Não opere nenhuma máquina antes de conhecer bem seus riscos;
- Verifique se a máquina tem alguma proteção;
- Em atividades com serra elétrica, empregue dispositivos ao invés das mãos para
empurrar a madeira;
- Use luvas para movimentar cargas;
- Retire adornos pessoais (jóias, relógios, alianças e pulseiras) antes de iniciar algumas
atividades que exijam a utilização de luvas de segurança;
- Caso a atividade exija contato com engrenagem ou polias, nunca fazer uso das luvas
além das medidas de suas mãos;
- Para trabalhos com produtos químicos, com líquidos para limpeza, ácido ou
solventes utilize luvas de borracha ou material sintético;
- Ao pousar ou empilhar objetos pesados tome cuidado para não esmagar as mãos;
- Na ocorrência de algum corte ou lesão faça pressão sobre a área afetada com pano
limpo até a realização do atendimento médico;
- Comunique a chefia ao constatar que alguma ferramenta apresenta defeito;

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- Facas e estiletes representam maiores riscos para as mãos e dedos. Por sua vez, uma
lâmina bem afiada requer menos força do usuário, diminuindo a possibilidade de perda ou
controle;
- No caso de dúvidas procure o seu supervisor de turno.

Como citar:
FONSECA, R.A. Proteção das mãos. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis,
n.21, p. 21-22, jul. 2013.

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PROJETO HERBÁRIO

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BIOLOGIA

Jennifer Leão dos Santos


Bióloga e Pesquisadora
E-mails: jenniferleao@yahoo.com.br

ÁGUA E CULTURA: ORIGEM DA APROPRIAÇÃO DESTE RECURSO

Olá leitores, a coluna deste mês apresenta de forma sintetizada a relação existente
entre a “Água e o Aspecto Cultural” das sociedades em determinados tempos históricos.
O modo pelo qual nos apropriamos dos recursos hídricos atualmente não está
associado apenas às práticas cotidianas, este modo foi construído ao decorrer dos anos, o qual
foi se desenvolvendo de acordo com os momentos histórico, cultural e social antecedentes aos
atuais.
A apropriação dos recursos hídricos não está relacionada apenas com o meio natural –
clima, geografia, entre outros –, mas está intimamente ligada ao aspecto cultural de cada local
e tempo. A religião, por exemplo, é um importante fator cultural, de acordo com a qual se
estabelecia regras para controle da quantidade e qualidade da água. Outro aspecto importante
no uso da água é o desenvolvimento das comunidades – cultural e social – através do
surgimento de novas infraestruturas, por exemplo.
O Brasil apresenta grande diversidade não apenas de espécies e populações, mas
também de clima, de paisagens, de relevo, de solos, entre outros. Apesar do privilégio de
obter tantas características que diversificam ao longo do país, esse fato dificulta o
desenvolvimento de estratégias para resolução de problemas relacionados aos recursos
hídricos de forma unificada, por isso a dificuldade de solucionar problemas que enfrentamos a
vários anos. Já que cada região apresenta sua forma de apropriação dos recursos – pensando
em consumo e desperdício –, não é possível padronizar soluções, sendo necessário para o

Edição nº 21 – Julho/2013 24
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estudo de cada região um trabalho multidisciplinar, que apresente uma abordagem holística e
integre também os valores culturais e sociais, não apenas econômicos e ambientais.
Apesar do ser humano sempre utilizar a água para diversas atividades, os registros
sobre a forma de apropriação dos recursos hídricos brasileiros são recentes, nos quais
aparecem primeiro os sistemas de abastecimento de água em regiões urbanas. Contudo, o uso
da água não apresenta uma grande diferença entre as sociedades, sendo basicamente utilizada
na produção de alimento (irrigação), para higiene pessoal e higiene alimentar.
O fato que diferencia os usos é o desenvolvimento da sociedade e da tecnologia, por
exemplo, nos primórdios da sociedade a utilização do recurso hídrico para higienização
ocorria de forma simples, pensando apenas no afastamento dos dejetos. Em contrapartida,
atualmente existem inúmeras formas de tratamento desses, além de locais ideais para
disposição final.
Os primeiros habitantes do Brasil, os grupos indígenas, apresentavam uma forma
diferente de apropriação dos recursos hídricos se comparada com o uso após a colonização. A
cultura indígena determinava a conservação do ambiente natural, e com isso usufruía de águas
de qualidade, tanto para manutenção da vida, quanto para seus rituais religiosos. Os índios
viam as águas dos rios, riachos, igarapés e lagos, como seres vivos que mereciam ser
respeitados, sendo essenciais para o povo. Existia uma relação íntima entre o povo e a água,
dessa relação criaram-se inúmeros mitos, incluindo a criação de seres da água e a origem dos
povos. Para pesca, por exemplo, eram realizados rituais com o objetivo de conseguir
permissão para entrar nos rios e pescar, a água também estava associada ao crescimento físico
e psicossocial. Dessa forma, o ambiente mantinha seu equilíbrio dinâmico, garantindo os
recursos hídricos e seus serviços ambientais em quantidade e qualidade para atuais e futuras
gerações.
Com a colonização do Brasil, a maneira como se dava a utilização da água pelos
indígenas foi sendo alterada e, em pouco tempo, a população de emigrantes se tornou maior
que a população nativa, o que resultou na formação de uma nova sociedade com um estilo de
vida diferente da anterior. Com isso a apropriação dos recursos hídricos foi construída de
forma semelhante a das sociedades europeias, levando em consideração os fatores ambientais
do nosso país. Cultura essa que consumia e desperdiçava os recursos hídricos de acordo com
sua disponibilidade, sem se preocupar com sua conservação e proteção, a qual prevalece ainda
nos dias atuais.
O crescimento e desenvolvimento da população acarretavam o aumento da poluição e
da demanda por água, problemas relacionados ao abastecimento só se agravavam e ainda
assim não era pensado sobre a necessidade do desenvolvimento de uma nova cultura em
relação à água. Novos estilos de vida também surgiram exigindo recursos em maior
quantidade, resultando na escassez em algumas regiões, contribuindo na geração do domínio

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dos recursos hídricos pelos ricos, e, por conseguinte a comercialização deste aos pobres.
Dentro deste quadro podemos visualizar a forma como usufruímos dos recursos hídricos e os
problemas que enfrentamos atualmente, tanto em quantidade como qualidade, já que é um
recurso finito.
Em síntese pode-se perceber que para o desenvolvimento de estratégias de
conservação, de tomadas de decisão e gestão dos recursos hídricos, não é suficiente conhecer
e analisar os aspectos ambientais e econômicos, mas é necessário conhecer os valores
culturais e sociais dados à água ao longo do tempo. É necessário desconstruir a atual cultura
de apropriação dos recursos hídricos e desenvolver uma nova cultura da água, e assim evitar
os erros do passado e progredir com práticas de conservação e proteção eficientes e adequadas
a cada região brasileira. Quem sabe voltar ao modo como a cultura indígena se relacionava
com a água, que há tempos ficou esquecida, e assim entender que o prioritário é conservar o
ambiente em que vivemos e respeitá-lo, vivendo com menos recursos, entretanto, com mais
qualidade de vida, em busca de que todos possam usufruir de seus direitos, não só as gerações
atuais, mas também as futuras.

Fonte:
http://historiadaagua.ana.gov.br - A história do uso da água no Brasil.

Como citar:
SANTOS, J.L. Água e cultura: origem da apropriação deste recurso. Revista Eletrônica
Bragantina On Line. Joanópolis, n.21, p. 24-26, jul. 2013.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Flávio Roberto Chaddad


Graduado em Engenharia Agronômica e Ciências Biológicas; Especialista em
Educação Ambiental; Especializando em Gestão da Educação Básica e Ambiental;
e Mestre em Educação
E-mail: frchaddad@gmail.com

GESTÃO AMBIENTAL NO AGRONEGÓCIO

1. INTRODUÇÃO

A partir da década de 80, a preocupação do Brasil com seu meio ambiente, com a
utilização de seus recursos naturais aumentou sensivelmente. A Constituição Federal de 1988
criou condições para a descentralização da formulação de políticas, permitindo que estados e
municípios assumissem uma posição mais ativa nas questões ambientais locais e regionais.
Iniciou-se, então, a formulação de políticas e programas mais adaptados à realidade
econômica e institucional de cada estado, permitindo maior integração entre as diversas
esferas governamentais e os agentes econômicos. Alguns estados se destacaram mais que
outros e demonstraram ter maior consciência da necessidade de conservar seus recursos
naturais remanescentes, certamente em razão do agravamento de seus problemas ambientais
ou por possuírem melhor nível de informação sobre eles. Ademais, as condições iniciais em
termos de disponibilidade de recursos humanos e financeiros também variaram
acentuadamente entre as unidades da Federação, explicando seus desempenhos desiguais.
Porém, nos contatos com as autoridades estaduais ficou patente que a legislação federal de
proteção dos recursos naturais, existente há varias décadas, não tem sido capaz de deter
sozinha a degradação continuada dos recursos naturais. Em alguns estados, como o Paraná, o
ritmo da destruição florestal praticamente não se alterou após o advento dessa legislação
ambiental. A fragilidade do aparato estatal de fiscalização e monitoramento tem levado os

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órgãos estaduais de meio ambiente a buscar formas mais criativas de proteção ambiental,
estimulando parcerias com agentes econômicos privados e entidades da sociedade civil e
combinando instrumentos de comando e controle com incentivos econômicos. Programas
estaduais de recuperação dos solos estão conquistando a adesão dos produtores e detendo a
erosão hídrica. Estratégias de persuasão dos produtores estão promovendo a recuperação dos
recursos florestais, mediante amplos programas onde a tônica é a parceria entre estado e os
agentes privados. O uso de instrumentos econômicos está induzindo o uso sustentável dos
recursos florestais. A intermediação das ONG’s tem minimizado conflitos e contribuindo para
implementar a proteção ambiental (LOPES et al., 1998).
Assim, o setor agrícola que, durante as últimas décadas, passou por constantes
aperfeiçoamentos no seu sistema de produção de alimentos, através do uso de insumos
químicos, máquinas e sementes melhoradas, contribuindo para o aumento da produção de
alimentos, também causou fortes impactos no meio ambiente, através da contaminação das
águas, desmatamento, desertificação, perda da biodiversidade, erosão dos solos, entre outros
fatos que ligam a produção agrícola com questões globais, tais como poluição atmosférica, o
aquecimento terrestre e a diminuição da camada de ozônio. Com o aumento dos problemas
relacionados ao meio ambiente em praticamente todos os setores da sociedade, e com o
surgimento de movimentos ambientalistas reivindicando a redução dos impactos dos
processos de produção sobre a natureza, está se formando um novo conceito de
desenvolvimento, o Desenvolvimento Sustentável. Este novo tipo de desenvolvimento encerra
uma ideologia que procura conciliar crescimento econômico com preservação e conservação
ambiental. Os pressupostos deste novo paradigma apresentam desafios às organizações, no
que diz respeito ao uso mais eficiente dos insumos, desenvolvimento de processos e produtos
mais limpos, e maior responsabilidade com os recursos naturais, práticas estas que originam
do conceito de gestão ambiental dos negócios empresariais (GLAUCO; AVILA, 2000).
Porém, estes pressupostos encontram barreiras por críticos do sistema capitalista, que
afirmam que o desenvolvimento sustentável, como vem sendo proposto pela ONU, não crítica
o sistema capitalista em si - o responsável direto pela degradação ambiental e social que o
mundo vem atravessando – mas, apenas suas estratégias baseadas em três eixos de ação deste
novo tipo de desenvolvimento: reorientação tecnológica; ajuda financeira dos países ricos aos
pobres; e controle da fecundidade das mulheres do terceiro mundo. O cerne do capitalismo,
ou seja, a produção da mais valia, onde o capitalista retira o lucro, não é criticada
(HERCULANO, 2001).
Hoje, na agropecuária, o desenvolvimento sustentável vem assumindo um sinônimo de
agricultura sustentável, uma agricultura que respeita as condições do ambiente (homem e
natureza) - porém, em razão dos custos de produção, se comparados à agricultura
convencional ou tradicional, pode-se dizer que ainda é para poucos. Agricultura sustentável

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significa produzir alimentos através de técnicas e processos que minimizem os impactos sobre
o meio ambiente, com garantia de alimentos à população. Muitas formas de produção agrícola
surgem, ainda incipientes, contrapondo-se à agricultura convencional ou ao padrão vigente,
procurando melhorar os alimentos e a qualidade de vida do homem do campo, com
viabilidade econômica, social e ambiental. Estes fatores estão causando mudanças no
agronegócio, criando um ambiente com diversas oportunidades e espaços abertos para serem
exploradas que antes eram pouco imaginadas ou inexistentes, surgindo das exigências não
atendidas ou expectativas insatisfeitas com relação ao que estava sendo oferecido no mercado.
As constantes descobertas científicas sobre a funcionalidade dos alimentos e as pesquisas
sobre modos de vida e saúde provocam grandes alterações nos hábitos dos consumidores, que
podem ser aproveitadas pelos agentes do sistema (GLAUCO; AVILA, 2000).
Conforme o Valor Econômico (2009), o consumidor brasileiro compraria um produto
florestal com certificado ambiental e pagaria um valor maior por isto. E mais gente diz que
daria preferência a carnes, frutas e legumes que viessem com um selo garantido sua produção
de acordo com o manual socioambiental, mesmo que fossem mais caras que as de origem
incerta e duvidosa. É este o diagnóstico de uma pesquisa Datafolha encomendada pela ONG
Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e feita com 2055 pessoas, de 18 anos ou mais,
espalhadas pelo país. No primeiro caso, 81% dos entrevistados disseram que sim, escolheriam
madeiras, pisos ou mel e castanhas que fossem mais “verdes” e socialmente justos. No
segundo, 85% revelaram que pagariam mais caro por produtos agrícolas ou carnes
certificados – uma prática recente e ainda tímida no Brasil. A pesquisa mostra uma
familiarização progressiva do brasileiro com o tema e a disponibilidade de pagar por “isso”.
Portanto, é uma fatia de mercado que promete crescimento.
Em virtude das discussões que embasam uma produção agrícola mais limpa, de acordo
não apenas com a legislação vigente, mas também com a necessidade de um outro paradigma
ou de um outro sistema de produção almejado por todos, este trabalho tem, de uma forma
sucinta, apresentar qual o papel da gestão ambiental neste processo, através dos seguintes
objetivos: 1) Definir o que é gestão ambiental no agronegócio; 2) Apresentar uma discussão
sobre a certificação agrícola; 3) Apresentar um estudo de caso do papel da gestão no
agronegócio.

2. GESTÃO AMBIENTAL NO AGRONEGÓCIO

Gerir significa, fundamentalmente, tomar decisões em face de uma dada escassez e/ou
fins alternativos. Para tanto, são importantes o acesso, o trato e a interpretação de informações
relevantes. A gestão ambiental deve visar o uso de práticas que garantam a conservação e
preservação da biodiversidade, a reciclagem das matérias-primas e a redução do impacto

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ambiental das atividades humanas sobre os recursos naturais. Fazem parte também do
arcabouço de conhecimentos associados à gestão ambiental técnicas para a recuperação de
áreas degradadas, técnicas de reflorestamento, métodos para a exploração sustentável de
recursos naturais, e o estudo de riscos e impactos ambientais para a avaliação de novos
empreendimentos ou ampliação de atividades produtivas. A prática da gestão ambiental
introduz a variável ambiental no planejamento empresarial, e quando bem aplicada, permite a
redução de custos diretos - pela diminuição do desperdício de matérias-primas e de recursos
cada vez mais escassos e mais dispendiosos, como água e energia - e de custos indiretos -
representados por sanções e indenizações relacionadas a danos ao meio ambiente ou à saúde
de funcionários e da população de comunidades que tenham proximidade geográfica com as
unidades de produção da empresa. Um exemplo prático de políticas para a inserção da gestão
ambiental em empresas tem sido a criação de leis que obrigam a prática da responsabilidade
pós-consumo. À medida que a sociedade vai se conscientizando da necessidade de se
preservar o meio ambiente, a opinião pública começa a pressionar o meio empresarial a
buscar meios de desenvolver suas atividades econômicas de maneira mais racional. O próprio
mercado consumidor passa a selecionar os produtos que consome em função da
responsabilidade social das empresas que os produzem. Desta forma, surgiram várias
certificações, tais como as da família ISO14000, que atestam que uma determinada empresa
executa suas atividades com base nos preceitos da gestão ambiental (WIKIPÉDIA, 2009).
No caso de gestão ambiental de atividades relacionadas à agricultura (sistemas vivos –
organismos, sistemas sociais e ecossistemas), essas infomações necessárias são muito mais
amplas e requer ainda uma percepção, a mais completa possível, de todo o conteúdo do
cenário de mudanças na sociedade. É essencial uma adequada percepção de questões como o
próprio conceito de mudanças, de modelos alternativos de desenvolvimento (capitalismo
informacional, economia biológica), da sociedade em rede (o desafio da mudança de época),
do novo rural (mais do que produzir alimentos), dos novos requerimentos de gestão
empresarial (organizações saudáveis, empresas com responsabilidade social, competências
duráveis) e das perspectivas, problemas e prioridades do impacto agroambiental. Essa
percepção inclui também o entendimento das questões relativas à avaliação ambiental
estratégica (de políticas, planos e programas) e à avaliação do impacto ambiental
propriamente dita (de projetos). A gestão ambiental aplicada à agricultura significa
desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter uma política ambiental
agrícola. A consecução desses objetivos requer das empresas uma estrutura orgazicional
adequada e um planejamento com a definição de responsabilidades, práticas, procedimentos,
processos e recursos. Os requisitos básicos de um sistema de getsão ambiental se alicerçam na
existência de uma política ambiental, no planejamento, na implmentação e operação do

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sistema, naverificação e na implementação das ações corretivas e, mais importante, numa


permamente análise crítica pela alta administração tomadora das decisões (IRIAS, 2009).
Diante disso, percebe-se que a gestão ambiental no agronegócio deve se alicerçar
numa abordagem holístico-ecológica. Esse enfoque implica o tratamento integral (antes –
durante – e depois da produção) de todas as questões ambientais relevantes. Requer uma
percepção completa e responsável do negócio, desde sua concepção, incluindo as relações
com os fatores de produção, notadamente os aspectos sociais, até o destino final de todos os
produtos e serviços. Nessa perspectiva, podem ser relevantes as seguintes questões:
adequação à legislação; alternativas viáveis; as indústrias de fatores de produção; implicações
da opção, ou não, pela monocultura; erosão dos solo; poluição (ar, água, solo) química e
orgânica; questões de transporte, tanto de fatores, como de produtos; tecnologias disponíveis e
inovações esperadas (certamente inclui a questão dos transgênicos); indústria de
transformações e todas as questões relativas ao mercado e preços.
Considerando que os agrossistemas estão distribuídos em todas as regiões do planeta,
e suprem de alimentos o homem e os animais domésticos, é importante compatibilizar a
produção de alimentos, fibras e energia com a conservação de recursos naturais, o bem-estar
dos trabalhadores rurais e a saúde humana e animal, num processo de sustentabilidade de todo
o sistema, preservando e conservando-o para as futuras gerações. É neste espaço que se situa a
Gestão Ambiental, como uma ferramenta aliada do produtor, que pretende não apenas mudar
a consciência dos agricultures perante os sistemas de plantio, fazendo uso da educação
ambiental, mas dotá-los de técnicas ou instrumentos capazes fomentar um processo de
produção mais limpo ou ecologicamente correto. Assim, para atingir esta meta, é importante
que o agricultor esteja bastante preparado e também, consciente de sua função social. Este é
um processo que envolve uma mudança cultural a longo prazo (PORTAL DO
AGRONEGÓCIO, 2009).

3. CERTIFICAÇÃO AGRÍCOLA

Como instrumento ou medidas regulatórias que podem ser utilizadas num processo de
gestão ambiental no agronegócio, a fim de que o produtor rural possa conquistar nichos no
mercado, situa-se a certificação agrícola. Trata-se de um instrumento de pressão econômica,
que engloba as exigências do mercado consumidor, cria produtos diferenciados tanto em
termos de aceitação quanto de preços, além de produtos e produtores. A certificação agrícola
surgiu por meio dos movimentos ambientalistas e sociais, enfocando primariamente a
agricultura orgânica e a exploração florestal. Havia grande preocupação com o desbravamento
de florestas nativas na América do Sul, África e Ásia e o uso exagerado de pesticidas em
regiões tropicais do planeta. O processo evoluiu e, atualmente, a própria agricultura

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tradicional é passível de certificação. No processo de avaliação e certificação, a propriedade


ou o produto devem ser avaliados dentro de padrões estabelecidos com base em informações
científicas sólidas e isentas de qualquer critério ideológico. A sustentabilidade do
agroecossistema, o bem-estar do trabalahador rural, sua inserção social e a saúde da
população humana e animal devem ser os principios norteadores da certificação (PORTAL
DO AGRONEGÓCIO, 2009).
Segundo PRADA (2009), o crescimento do interesse internacional pela certificação
agrícola é um fato. Ela nasceu há pelo menos três décadas da necessidade de produtores
europeus garantirem a origem de seus produtos – tomando, como exemplo, produtores de
vinhos franceses da região de Champagne e Bordoux, a certificação agrícola ao longo do
tempo se diversificou, cresceu e atingiu outros públicos e outros interesses, compondo um
cenário atual de inúmeros selos com diferentes mensagens, envolvendo um sem número de
certificadoras e organismos de certificação, organizados pelos mais diversos movimentos de
diferentes setores: sociedade civil, movimento ambientalista, governos, setores do comércio e
da indústria. Os certificados na área agrícola tratam tanto de questões específicas da qualidade
do produto, como segurança sanitária e presença ou não de componentes transgênicos, quanto
questões relacionadas ao processo produtivo e todos os possíveis impactos ambientais e
sociais gerados pela atividade agrícola. Assim, encontra-se no mercado desde produtos
orgânicos, passando por produtos de comércio justo e solidário ou “far trade”, até certificados
específicos para determinados temas como a série SA 8000, que foca a questão dos
trabalhadores. Há também iniciativas específicas para as grandes comodities agrícolas, como
a Round Table da soja, iniciativa motivada pelo avanço desta cultura nas áreas de floresta
primária da Amazônia, tendo sida liderada pelo movimento ambientalista e ganho adesão de
entidades do governo, pesquisa, movimento social e indústria.
Conforme VIALLI (2009), a venda de artigos com selos socioambientais – que
atestam que foram produzidos respeitando os direitos trabalhistas e com cuidados ambientais
– está em expansão no mundo todo. O movimento começou no início da década de 1990, com
os produtos orgânicos, e ganhou impulso com o selo FSC, voltado a produtos florestais, como
a madeira e o papel. Hoje, a certificação florestal cresce a taxas de 40% ao ano, em todo o
mundo, sendo 103 milhões de hectares de florestas certificadas. O Brasil acompanha a
tendência, com uma área de 5 milhões de hectares, sendo metade de floresta nativa. No caso
dos orgânicos, as vendas crescem a taxas de 25% ao ano, de acordo com José Pedro Santiago,
diretor do Instituto Biodinâmico (IBD), uma das entidades responsáveis pela certificação de
produtos orgânicos no Brasil: ”Hoje certificamos cerca de 4 mil produtores, a maioria
agricultores familiares. São mais de cem tipos de produtos, de grandes plantações de grãos a
industrializados como café, açucar, laticínios, cosméticos e vinhos”.

Edição nº 21 – Julho/2013 32
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Além de orgânicos e produtos florestais, está ganhando espaço também o selo


Rainforest Alliance, para produtos agrícolas produzidos com menor impacto ambiental, e o
selo de Comércio Justo (Fairtrade), que garante remuneração adequada aos produtores. A área
agrícola com a certificação Rainforest Alliance creceu 60% em 2007, em relação ao ano
anterior. Hoje são 40 empreendimentos certificados no país, a maior parte de produtores de
café, cacau e frutas. E aumenta o interesse por parte de quem produz cana-de-açucar. Isso
parte tanto do produtor de açucar, que quer exportar o produto com selo verde, e também dos
grupos estrangeiros que vêm invetir em produção de etanol no país e querem evitar riscos
associados a questões socioambientais. Grandes multinacionais estão acelerando esse
movimento. É o caso da Unilever, que fixou uma meta global de ter todo o seu chá pronto da
marca Lipton certificado até 2014. Na Inglaterra, todo café e suco de laranja vendidos na rede
fast food Mc Donald’s agora vem com selo Rainforest Alliance (VIALLI, 2009).
Assim, a certificação pode produzir uma série de benefícios à população e
proporcionar novas oportunidades e desafios aos grupos de interesse envolvidos. Entre eles,
os consumidores são beneficiados pelo conhecimento e opção dos produtos que consomem;
os grupos sociais e ambientais, pela participação na definição de algusn padrões de inserção;
os pesquisadores, no desenvolvimento de trabalhos multidisciplinares contemplando práticas
de menor impacto ambiental e maior inserção social do trabalhador. O Estado também é
favorecido pela possibilidade de formulação de novas políticas públicas para financiamento
da atividade agrícola. Por fim, os produtores, os quais podem ser favorecidos pela
diferenciação de seus produtos, com acesso a fontes alternativas de financiamento, o aumento
do controle interno da produção e do seu sistema produtivo, além dos benefícios à imagem
pública. Considerando a grande demnanda de alimentos e combustíveis no Brasil e no mundo,
a certificação deverá, sem dúvida, contemplar a produtividade da atividade sob exame.
Elevadas produtividades são fundamentais para que a demanda não seja atendida às expensas
do aumento da fronteira agrícola sobre importantes formações vegetais nativas, como a hiléia
amazônica e o remanescente da zona de cerrados. Com relação às grandes variações nas
densidades populacionais de insetos, nematóides, ácaros fitopatógenos e plantas daninhas, o
programa fitossanitário global deve ser avaliado por meio de medidas preventivas e
alternativas no manejo desses organismos e, no caso do controle químico, o uso correto de
pesticidas deve ser avaliado por meio de certificação dos equipamentos e dos aplicadores. É
importante que a armazenagem e o transporte também sejam passíveis de padronização neste
processo. Alguns aspectos gerais da propriedade rural também são fundamentais para a
certificação de uma determinada atividade ou produto, tais como a adoção de práticas
conservacionistas, a manutenção da reserva legal de vegetação nativa, as condições de
trabalho na propriedade e as proteções de mananciais e margens de corpos hídricos. Desta
forma, não há dúvidas de que um programa de certificação baseado em sólidas informações

Edição nº 21 – Julho/2013 33
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científicas e com forte preocupação ambiental e social deverá contribuir para a evolução da
agriocultura siustentável no mundo, para a formação do consumidor consciente, para a
valorização do conhecimento profissional, para os produtores de insumos comprometidos
com o meio ambiente e para as gerações futuras deste planeta finito (PINTO; PRADA, 1999).
Assim, alguns exemplos de selos ecologicamente corretos utilizados na produção
agrícola podem ser citados: a) O FSC; b) Fairtrade; c) Rainflorest Alliance certified; d) IBD.
a) FSC (Conselho de Manejo Florestal)

Selo usado em produtos florestais (papel, madeira, castanhas), atesta que os produtos
vêm de áreas de florestas plantadas ou de mata nativa com manejo controlado. Certifica
empresas do ramo florestal e outros elos da cadeia de negócios, como papeleiras, gráficas e
fabricantes de cosméticos.

b) Fairtrade (Comércio Justo)

Selo que atesta que o produto em questão, geralmente de origem agropecuária,


garantiu uma remuneração adequada aos seus produtores. Certifica empresas de produtos de
consumo, como o café, açúcar, suco de laranja, e também de vestuário.

c) Rainforest Alliance Certified

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Selo que atesta a produção ecologicamente correta, com menor impacto à


biodiversidade e com respeito às leis trabalhistas. Certifica propriedades agrícolas.

d) IBD (Produtos Orgânicos)

Selo que indica a produção orgânica, para produtos agropecuários. Garante o cultivo
sem uso de agroquímicos. Certifica alimentos e cosméticos.

4. UM ESTUDO DE CASO - INICIATIVA PILOTO PARA CERTIFICAÇÃO DA


CANA DE AÇÚCAR

Em função da vivência e participação na certificação florestal, seja como certificador


da Rede Smart Wood ou membro do FSC, o IMAFLORA verificou o alto potencial da
certificação socioambiental como ferramenta para catalisar e incentivar mudanças em
sistemas de produção. A certificação tem colaborado direta e indiretamente para a
conservação de florestas e demais recursos naturais, manutenção e/ou elevação da qualidade
de vida de trabalhadores e comunidades e tem gerado reais benefícios às operações
certificadas, sejam empresariais ou comunitárias. Assim, baseado na experiência e na filosofia
do FSC, o IMAFLORA planejou criar um Programa de Certificação Agrícola Socioambiental
(PCAS), com o objetivo final de estimular mudanças na agricultura em direção ao
desenvolvimento sustentado (PINTO; PRADA, 1998).
A cultura da cana-de-açúcar foi escolhida devido à sua importância estratégica na
economia, conservação de recursos naturais, quantidade e qualidade de emprego e qualidade
de vida do país. Além disso, a cana está ligada a um setor de grande visibilidade no cenário

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nacional e internacional e tem grande potencial demonstrativo de bons e maus exemplos para
a sociedade brasileira. Hoje, ela ocupa cerca de 5 milhões de hectares no Brasil, sendo que
aproximadamente 2,7 milhões somente no Estado de São Paulo. Existem cerca de 221 usinas
e destilarias que processam cerca de 300 milhões de toneladas de cana a cada safra,
produzindo em torno de 14 bilhões de litros de álcool e 13 milhões de toneladas de açúcar, o
que gera para o país cerca de US$ 1,6 bilhão em exportações. Do ponto de vista ambiental,
entre outros aspectos, o manejo da cana é responsável pela destruição ou conservação de um
dos ecossistemas tropicais de maior biodiversidade e mais ameaçados do planeta: a Mata
Atlântica. Também no cenário do desenvolvimento de energias alternativas e renováveis com
a produção de álcool (hidratado ou anidro), a cana desempenha um importante papel na
diminuição do consumo de combustíveis fósseis e poluição atmosférica. Além disso, a
indústria sucroalcooleira tem potencial para gerar energia elétrica a partir de resíduos de
biomassa e pode produzir uma gama de produtos e subprodutos para a indústria farmacêutica
(PINTO; PRADA, 1998).
Além de todas as questões colocadas, outros fatores conjunturais foram considerados
para a escolha da cana como projeto-piloto: o fato de o IMAFLORA estar sediado em
Piracicaba, que é uma tradicional região sucroalcooleira e com ambiente institucional bastante
favorável ao projeto, havendo diversas entidades ligadas ao setor, seja em aspectos técnicos
ou políticos. Assim, o projeto de cana-de-açúcar foi definido com os seguintes objetivos:
Definir padrões para a avaliação, monitoramento e certificação socioambiental;
Definir e implementar um sistema de certificação socioambiental, isto é, criar uma
estrutura institucional e regulamentação para funcionalidade operacional da certificação;
Harmonizar este sistema com as principais iniciativas internacionais de certificação
agrícola, principalmente IFOAM, Fair trade e ECO-OK.
Foram realizados reuniões, Workshops, Grupos de Trabalho e dois testes em campo,
que objetivaram a verificação da aplicabilidade prática dos padrões, já que durante as
discussões nos workshops e reuniões, os participantes foram orientados a discutir apenas as
ideias e conceitos e não se ater a detalhes operacionais e práticos desses padrões (PINTO;
PRADA, 1998).
Como produto deste processo foi construído os “Princípios para Avaliação,
Monitoramento e Certificação Socioambiental da Cana-de-Açúcar e seu Processamento
Industrial”. Este é um documento público e independente, resultado de um processo de vinte
meses de trabalho, que envolveu pesquisa bibliográfica, visitas e testes em campo, quatro
reuniões de um grupo de, dois amplos processos de consulta e uma Assembléia Geral. Os
padrões aqui apresentados foram definidos nestas atividades, envolvendo, de maneira
equilibrada, voluntária e representativa, ONG’s ambientais e sociais, trabalhadores,
pesquisadores, empresários e técnicos do setor sucroalcooleiro paulista. Para fins de

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certificação, este documento deve ser aplicado de acordo com a Regulamentação da


Certificação Socioambiental para o Setor Sucroalcooleiro.

Quadro 1 - Padrões a serem seguidos para a certificação da produção canavieira (IMAFLORA).


1. Conformidade com a legislação e acordos e tratados internacionais: O manejo do sistema de produção
sucroalcooleiro deve respeitar toda a legislação vigente, nos tratados e acordos dos quais o País seja
signatário, bem como os princípios e critérios descritos neste documento.
2. Direito e responsabilidade de posse e uso da terra: A posse e os direitos de uso da terra a longo prazo
devem estar claramente definidos, documentados e legalmente estabelecidos.
3. Relação justa com os trabalhadores: A atividade sucroalcooleira deve cumprir a legislação trabalhista e
elevar o bem-estar sócio-econômico dos trabalhadores.
4. Relação com a comunidade: Deve haver compromisso com bem estar sócio-econômico e respeito à
cultura das comunidades locais onde a atividade agroindustrial esteja inserida.
5. Planejamento e monitoramento: A atividade agroindustrial deve ser planejada, monitorada e avaliada
considerando os aspectos econômicos, sociais e ambientais.
6. Conservação de ecossistemas e proteção da biodiversidade: A atividade agrícola deve promover a
conservação de ecossistemas, com especial atenção para a conservação da biodiversidade e sua recuperação.
7. Conservação do solo e recursos hídricos: A atividade agroindustrial deve promover a conservação dos
solos e recursos hídricos a curto prazo e recuperação dos solos e recursos hídricos a longo prazo.
8. Controle do uso de agroquímicos: Deve-se planejar e controlar o uso de agroquímicos, considerando-se
a saúde dos trabalhadores e comunidades locais e a qualidade dos solos, recursos hídricos e ecossistemas.
Deve haver uma clara política para a redução destes insumos.
9. Manejo e utilização de resíduos e demais substâncias químicas: O manejo e utilização de resíduos
devem considerar a conservação ambiental e a qualidade da vida dos trabalhadores e das populações locais.
10. Interação com a paisagem: O planejamento, implementação e manejo dos sistemas de produção
agroindustrial devem considerar a inserção da unidade de produção no meio físico e biológico regional,
visando integração e estabilidade a longo prazo.
11. Viabilidade econômica: O sistema de produção agrícola deve promover a otimização do uso dos seus
múltiplos recursos e produtos para assegurar a sustentabilidade econômica da atividade, incorporando os
custos sociais, ambientais e operacionais associados à produção.
12. Atividade industrial: O processamento industrial da cana-de-açúcar deve cumprir com a legislação
pertinente e promover a conservação dos recursos naturais e a segurança e bem-estar de trabalhadores e
comunidades.

Como conclusão final a IMAFLORA aponta que os organismos de certificação


agrícola existentes, apesar de serem responsáveis por modificações positivas nos sistemas de
produção, não cumprem, em função de suas especificidades (alguns enfocam a relação
trabalho, outros o uso de agroquímicos, etc.), o papel que poderiam cumprir com relação ao
desenvolvimento sustentável, caso tivessem uma ação mais abrangente, como estes padrões
acima elaborados. Desta forma, considera-se possível solução para este quadro a
harmonização entre todos os organismos de certificação agrícola, através de um fórum de
discussão global, que se imagina inicialmente poderia se chamar Agricultural Stewardship
Council (ASC). O ASC representaria, na prática, o reconhecimento mútuo entre todos os
movimentos de certificação e a adoção de procedimentos e padrões básicos comuns, que
considerassem aspectos ambientais, sociais e econômicos (PINTO; PRADA, 1998).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verifica-se, através deste trabalho, que o processo de gestão ambiental nas empresas e,
consequentemente, na agricultura vem crescendo em todo mundo pela pressão do movimento
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ambientalista e da sociedade. Porém, ainda é um movimento incipiente e carrega consigo um


alto custo para produção, o que vai repercutir no encarecimento do produto, tornando-o
possível só a quem tem condições financeiras. Em si, este processo faz parte das estratégias
para que as empresas possam se adequar dentro das normas da produção limpa ou
ecologicamente correta, indo em direção ao desenvolvimento sustentável. Ainda é cedo para
se emitir qualquer parecer a respeito se este processo vai dar conta da conservação e
preservação da natureza e gerar qualidade de vida ao homem, já que o desenvolvimento
sustentável (crescimento econômico com produção limpa) é contraditório pela lógica do
capital, que se faz pela realização da mais valia.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GLAUCO, S.; AVILA, E.P. Agroecologia: inovações para tornar uma pequena
propriedade rural sustentável. Disponível em:
http://www.portalga.ea.ufrgs.br/acervo/agro_art_02.pdf. Acesso em: 10 Novembro 2009.

IRIAS, L.J. Gestão Ambiental. Disponível em:


http://www.embrapa.br/imprensa/artigos/2000/artigo.2004-12-07.2464043902. Acesso em: 10
Novembro 2009.

LOPES, V.I. et al. Apresentação. In: LOPES, V.I. et al. (Orgs) Gestão ambiental no Brasil.
São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 1998.

PORTAL DO AGRONEGÓCIO. Certificação agrícola: sustentabilidade de todo sistema.


Disponível em:
http://www.portaldoagronegocia.com.br/conteudo.php?a=impressao&id=23297. Acesso em:
10 Novembro 2009.

PINTO, L.F.G.; PRADA, L.S. Certificação agrícola sócio ambiental: iniciativa piloto para a
cana-de-açúcar. Informações econômicas, v.29, n.5, 1998.

PRADA, L.S. A experiência com certificação. Disponível em:


http://www.sitiogralhazul.net/dev15/index.php?view+article&caid+23%3Acesrticacao&id.
Acesso em: 10 Novembro 2009.

VALOR ECONÔMICO. Brasil quer liderar criação de selo socioambiental


agropecuário: consumidor já valoriza certificação. Disponível em:
http://www.agsolve.com.br/noticia.php?cod=2134. Acesso em: 10 Novembro 2009.

VIALLI, A. Certificação ambiental vira exigência para fazer negócio. Disponível em:
http://www.vivagren.com.br/not_print.php?dproduto=251. Acesso em: 10 Novembro 2009.

Como citar:
CHADDAD, F.R. Gestão ambiental no agronegócio. Revista Eletrônica Bragantina On
Line. Joanópolis, n.21, p. 27-38, jul. 2013.

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