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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

ESCOLA POLITÉCNICA DE PERNAMBUCO

RELATÓRIO DE ESTÁGIO OBRIGATÓRIO

por

MARCUS VINÍCIUS DE BRITO SILVA


Engenharia Elétrica Eletrotécnica

Relatório de Estágio Obrigatório da


disciplina de Estágio Supervisionado,
realizado na DURATEX S.A. e no setor de
Manutenção.

ORIENTADOR: ANTÔNIO SAMUEL


NETO, Prof. Assistente e Coordenador
de Curso de Engenharia Elétrica
Eletrotécnica
SUPERVISOR: SAULO RODRIGO DIAS
PIMENTEL, Eng. Mecânico e Gerente da
Fábrica

Recife, setembro de 2020


© Marcus Vinícius de Brito Silva, 2020
I. DADOS DO ESTAGIÁRIO

Nome do estagiário:
Marcus Vinícius de Brito Silva
CPF: E-mail:
047.849.944-24 mvdebritosilva@gmail.com
Instituição de ensino:
Universidade de Pernambuco – Escola Politécnica de Pernambuco
Curso: Período/Ano:
Engenharia Elétrica Eletrotécnica 8º período/2020
Professor(a) Orientador(a): Gerente da Divisão de Estágio:
Antônio Samuel Neto Prof. Francisco José Costa Araújo
II. DADOS DA UNIDADE CONCEDENTE

Unidade concedente:
Duratex S.A. – Divisão Deca – Unidade Louças Recife
Ramo de atuação:
Fabricação de material sanitário de cerâmica
Supervisor(a) de estágio: CREA:
Saulo Rodrigo Dias Pimentel 1810866740
Setor da empresa em que foi realizado o estágio:
Manutenção
Período de realização do estágio:
16/03/2020 – 16/09/2020
Número de horas diárias do estágio: Total de horas diárias do estágio:
6h 774h (129 dias úteis)
SUMÁRIO

1. OBJETIVOS ........................................................................................................ 5
1.1. Objetivos gerais........................................................................................... 5
1.2. Objetivos específicos.................................................................................. 5
2. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7
3. CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES ................................................................. 12
4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ...................................................................... 13
4.1. Gestão de Ordens de Serviço .................................................................. 13
4.2. Planejamento de ações de manutenção do Sistema de Proteção contra
Descargas Atmosféricas .................................................................................... 20
4.2.1. Fundamentação teórica ...................................................................... 20
4.2.2. Revisão de pontos significativos de mudança com o advento da
nova Norma ABNT NBR 5419:2015................................................................. 23
4.2.3. Avaliação e readequação do SPDA da LR às novas exigências
normativas ........................................................................................................ 26
4.3. Acompanhamento de rotinas de funcionamento da Manutenção ........ 33
4.4. Atualização de dados técnicos do parque de máquinas da unidade ... 37
4.5. Dimensionamento e implantação de Kanban de peças reservas para
equipamentos críticos ........................................................................................ 41
4.6. Levantamento de oportunidades de melhorias acerca de redução de
custos................................................................................................................... 45
5. RESULTADOS ALCANÇADOS ........................................................................ 53
6. PONTOS POSITIVOS E FACILIDADES DO ESTÁGIO .................................... 54
7. PONTOS NEGATIVOS E FACILIADES DO ESTÁGIO..................................... 55
8. CONCLUSÃO .................................................................................................... 56
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 57
10. DECLARAÇÃO FINAL DA EMPRESA ............................................................. 59
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1. OBJETIVOS

1.1. Objetivos gerais

Em alinhamento com o disposto no Art. 2º §1º da Lei 11.788, de 25 de setembro de


2008, o estágio obrigatório destina-se à obtenção de diploma em cursos de formação
técnica e superior em Instituições de Ensino, e tem por objetivo final a consolidação
dos conhecimentos necessários ao exercício da futura profissão do estudante, através
da sua inserção naquele que – muitas vezes – será o seu primeiro contato com o
mercado de trabalho.
Nesta modalidade, as atividades desenvolvidas pelo estagiário são suportadas e
supervisionadas em uma via de mão dupla, a qual se sustenta, de um lado, pela
Universidade, com a figura do professor orientador; e por outro, pela empresa, com a
figura do Supervisor, devendo culminar, ao fim, na interação Empresa-Escola e no
alinhamento entre conhecimentos teórico-acadêmicos e prático-profissionais.
Em um estágio de Engenharia, independentemente da especialização, busca-se de
forma geral aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e
instrumentais à Engenharia, por meio da utilização da pesquisa e desenvolvimento de
tecnologias, bem como da identificação e resolução de problemas, em um nível de
complexidade compatível com o nível de finalização do curso e em um ambiente
profissional, não acadêmico.

1.2. Objetivos específicos

Na Manutenção Industrial, sob o viés da Engenharia Elétrica Eletrotécnica, objetiva-


se o desenvolvimento das habilidades profissionais do estagiário através de:
a) Gestão de manutenção preventiva e atualização de indicadores de manutenção;

b) Desenvolvimento de pequenos projetos em sistemas elétricos: painéis, geradores


elétricos e motores;

c) Atualização de documentos técnicos internos: diagramas e plantas baixas;

d) Elaboração e análise de fluxos de materiais.

Para tanto, foi importante ao estagiário munir-se de conhecimentos nas seguintes


disciplinas:
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 Planejamento e Controle da Manutenção (PCM): planejamento, programação e


controle de manutenções preventivas e corretivas; controle de custos e parada de
máquinas; controle de estoque de sobressalentes e armazenagem; softwares
auxiliares de controle e supervisão: Microsoft Excel, SAP, Power BI; Padrão
Descritivo de Material: cadastro de materiais.

 Instalações elétricas industriais: esquemas de acionamento e partida de motores


de indução: partida direta, partida estrela-triângulo, partida com inversor de
frequência e soft-starter; comandos elétricos; manutenção em cabines primárias
(subestações); automação e controladores lógicos programáveis (CLPs);
diagramas elétricos: edição com softwares de desenho auxiliado por computador
(CAD).

 Qualidade de energia: supervisão de demanda máxima e consumo energético


diário por Automação CCK; notificações de interrupção de fornecimento de
energia à distribuidora (CELPE).

 Gestão de projetos: estudos de viabilização e adequação de sistemas elétricos


existentes a novas exigências técnico-legais; noções sobre Normas Técnicas
Brasileiras: NBR 5410 – Instalações elétricas de baixa tensão; NBR 14039 –
Instalações elétricas de média tensão; NBR 5419 – Proteção contra descargas
atmosféricas; e NR 10 – Segurança em instalações e serviços em eletricidade.
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2. INTRODUÇÃO

O presente relatório destina-se ao registro das atividades desenvolvidas pelo autor na


vigência do estágio supervisionado obrigatório do qual se ocupou, no setor de
Manutenção da Unidade Louças Recife (LR), Divisão Deca, da empresa Duratex S.A.,
a qual se presta à fabricação de materiais sanitários de cerâmica.
A Duratex S.A. é uma empresa brasileira, privada e de capital aberta, controlada pela
Itaúsa – Investimentos Itaú S.A. – e pela Companhia Ligna de Investimentos. Com as
marcas Deca, Hydra, Duratex, Durafloor, Ceusa, Cecrisa e Portinari, é considerada
uma das dez maiores empresas do mundo nos setores nos quais atua e a maior
produtora de painéis de madeira industrializada e pisos, louças e metais sanitários do
Hemisfério Sul, além de ser uma das maiores produtoras de revestimentos cerâmicos
do Brasil.
Além da sede em Jundiaí – SP, a empresa conta com mais vinte e uma unidades
industriais e florestais estrategicamente localizadas nos estados de Minas Gerais,
Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Sergipe e
São Paulo, além de três fábricas de painéis na Colômbia – Duratex Colômbia. A
Figura 1 exibe a distribuição das unidades fabris da Divisão Deca ao longo do país,
dentre as quais destaca-se a LR, localizada na cidade do Cabo de Santo Agostinho
(PE) e, atualmente, a maior e mais importante fábrica da marca na região Nordeste.

Figura 1. Distribuição das unidades fabris da Divisão Deca (Duratex S.A.) ao longo do Brasil. Fonte:
https://www.duratex.com.br/pt/quem-somos/a-duratex. Editado pelo autor.
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A LR foi adquirida em 2008 pela Duratex e conta com as marcas Deca e Belize. A
unidade ocupa uma área total de quase 80.000 m², dos quais um pouco menos de
35.000 m² destinam-se às atividades de produção, com média anual de 2,8 milhões
de peças. A planta da fábrica está dividida, essencialmente, em cinco agrupamentos
de edificação (Figura 2): Administrativo, Fábrica de Massas, Área de Recuperação de
Materiais (A.R.M.), Produção, Portaria e Prédio de Apoio, estando sediadas, neste
último, a Engenharia e a Manutenção.
O setor de Manutenção é responsável por gerenciar e organizar atividades de
manutenção, instalação, reparação e reformas em máquinas e equipamentos,
possuindo – como o layout da fábrica sugere – estreita relação com o setor de
Engenharia, com o qual atua conjuntamente em trabalhos de impacto sobre o fluxo
produtivo da fábrica (a exemplo de alterações da disposição física de máquinas ou
execução de projetos de baixa complexidade) e serviços que envolvam itens de
segurança do trabalho e construção civil. Cabe, ainda, à Manutenção, a administração
e o controle sobre o consumo de insumos como água, energia elétrica e gás.

2
3
6
4

1: Administrativo
2: Fábrica de Massas
3: A.R.M.
4: Produção
5: Portaria
6: Manutenção e Engenharia

Figura 2. Vista aérea da LR com indicação dos agrupamentos de edificações da fábrica. Fonte:
https://www.deca.com.br/fabricas/. Editado pelo autor.

O corpo mantenedor da LR é composto de uma equipe multidisciplinar, que inclui


mecânicos e eletricistas – com e sem formação técnica –, um Analista de Processos,
um Analista de Planejamento e Controle de Manutenção (PCM), além de estagiários
de cursos de Engenharia e jovens aprendizes com formação voltada para a área
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fabril e administrativa em um programa de parceria com o Serviço Nacional da


Indústria (SENAI). A supervisão do setor, na ocasião deste estágio, era do Técnico
em Mecânica José Carlos de Lima, o qual respondia, diretamente, à Coordenação
de Produção de João Felipe de Oliveira Cangussu. Um nível organizacional acima, a
Gerência de Fábrica estava sendo ocupada por Fábrica Saulo Rodrigo Dias
Pimentel, ora designado Supervisor de Estágio. A estrutura organizacional da
Manutenção da LR à Presidência da Duratex S.A. pode ser melhor entendida
através do organograma da Figura 3, no qual os níveis hierárquicos crescem de
baixo para cima e estão omitidos os nomes daqueles que não ocupam cargos de
gestão.

Presidente Duratex
Antônio Joaquim de Oliveira

Vice-presidente
Marcelo Izzo

Diretor Industrial
Marco Antônio Milleo

Gerente Fáb Louças Recife


Saulo Rodrigo Dias Pimentel

Coordenador de Produção
João Felipe de O. Cangussu

Supervisor de Manutenção
José Carlos de Lima

Analista de Analista
Mecânicos Eletricistas
Processos PCM

Jovens
Estagiários
Aprendizes

Figura 3. Organograma LR. Fonte: produzido pelo autor.

Os intervalos de trabalho dos colaboradores da Manutenção, na LR, se distinguem,


essencialmente, em administrativo, que compreende o assim chamado horário
comercial – das 8h às 17h –, e em plantões matutinos e noturnos , os quais se
estendem, respectivamente, das 5h às 14h e das 20h às 5h. No horário administrativo,
concentram-se a maioria das atividades desempenhadas pelo setor e,
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consequentemente, é nele onde estão alocados a maior parte do quadro de pessoal,


incluindo os cargos e funções diretamente ligados às atividades de Administração e
Controle, a saber: Supervisor, Analista de Processos, Analista de PCM, estagiários e
jovens aprendizes.
A divisão dos horários de serviço do setor visa o melhor e mais amplo aproveitamento
possível da capacidade de mão de obra dos empregados, tendo-se em mente que as
demandas da fábrica surgem por força do registro simultâneo de diversas formas de
ocorrência, com diferentes graus de urgência e com incidência em diferentes pontos
de abrangência da fábrica, mas, sobretudo, na planta de produção, a qual se rege por
um ciclo praticamente ininterrupto de trabalho. Assim sendo, no horário administrativo,
optou-se pela priorização de atividades de natureza programada, quer sejam de
caráter preventivo, quando sua periodicidade está condicionada a fatores de tempo
de utilização de um maquinário qualquer, quer sejam de caráter corretivo, quando de
ocorrências que, devido ao seu grau de complexidade, exijam planejamento para sua
perfeita execução. Neste horário, são ainda executadas as atividades de Setup, ou
seja, ajustes de sistemas e equipamentos para alteração de objetos de produção ou
do fluxo produtivo como um todo, como moldes, conexões e suspensões. Aos
plantões, recai a responsabilidade de responder às falhas mais urgentes mais
corriqueiras e, também, de menor complexidade, dos sistemas produtivos da fábrica:
vazamentos em tubulações, desenergizações por ação de dispositivos de proteção
elétrica, interrupções no sistema coletor de água e falhas eletromecânicas em
equipamentos críticos como a Máquina de Alta Pressão (APR) e os fornos da
Fundição, que compõem o fluxo de produção da fábrica.
Deixando um pouco de lado a parte mais presumível das atividades da Manutenção,
contempladas basicamente pelos mecânicos e eletricistas, é válido recair o olhar
sobre o papel das funções administrativas do setor, das quais é impensável abrir mão
para que haja um controle de demandas e metas de gestão, além de melhorias de
atendimento dos clientes – nesse caso, internos.
Como o próprio nome sugere, o papel de planejamento, programação e controle das
atividades que não se enquadrem no escopo dos mantenedores em regime de plantão
é do Analista de PCM. É ele que filtra e define, através do uso de sistemas eletrônicos
e de comunicação direta com clientes – baseado na urgência, escopo e tempo
disponível de trabalho – como e quando deve ser feito o atendimento a um Pedido de
Trabalho (PT). Esse processo de análise depende fortemente do poder dedutivo do
Analista e é função direta de sua experiência técnica em área, ficando quase que
impossibilitando o seu exercício por aquele que não conheça de forma rica e
abrangente a realidade dos trabalhos de intervenção dos quais se ocupa o corpo
técnico de mecânicos e eletricistas.
As atividades de manutenção requerem, não raramente, a aquisição de materiais,
ferramentas e, até mesmo, contratação de empresas terceirizadas, para cumprimento
de atividades que, por exemplo, fujam à capacidade técnica do quadro próprio de
pessoal. Para isso, independentemente do porte, toda empresa se utiliza em maior ou
menor grau de métodos burocráticos, impondo no mínimo, geralmente, o controle
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orçamentário e a avaliação de conveniência como princípios primordiais e de start


desses processos. Nesse contexto, é figura importante o Analista de Processos, que
não acompanhará não somente números, mas conduzirá os processos
administrativos gerais do setor em conformidade com as limitações impostas pelos
regulamentos e normas internas da companhia.
Ao Supervisor, cabe o acompanhamento diário das operações, a criação de metas, a
avaliação dos indicadores de atendimento como assertividade e cumprimento, a
intervenção – quando preciso – na programação estabelecida pelo Analista de PCM,
o estabelecimento de planos e padrões de manutenção, mapa e rastreamento de
equipamentos da fábrica, além da participação em reuniões de alinhamento com
outros departamentos e setores da fábrica. Em suma, o Supervisor de Manutenção
deve atuar de acordo com aquilo que se espera de um Gestor, exercendo o papel de
líder da definição de responsabilidades do quadro de pessoal e intervendo
globalmente nos processos em busca da otimização do setor.
Por fim, cabem aos estagiários, assim como aos jovens aprendizes, atividades
técnico-administrativas de suporte àquilo que julgarem necessários os seus
respectivos supervisores, dentro dos limites daquilo que ditam os instrumentos legais
e da compatibilidade avaliada com os cursos de formação dos quais se originam. Na
LR, as atribuições dos dois cargos distinguem-se uma da outra, apenas, em questão
de complexidade, o que se justifica pelas diferenças entre os objetivos do Ensino
Superior e o Ensino Profissionalizante, tomados, respectivamente, por estagiários e
aprendizes. De forma objetiva, pode-se dizer que os primeiros, em detrimento dos
segundos, acabam sendo expostos a maiores graus de responsabilidade profissional
e a experiências introdutórias de gestão e tomada de decisão, qualidades importantes
em seu futuro como Engenheiros.
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3. CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES

Atividades mar apr mai jun jul ago set

Gestão de Ordens de Serviço por tipo,


X X
data e criticidade.

Planejamento de ações de manutenção


do Sistema de Proteção contra X X X X
Descargas Atmosféricas (SPDA).

Acompanhamento de rotinas de
funcionamento da Manutenção: reuniões
X X X X X X X
de programação, atualização de quadros
de gestão à vista e gestão de indicadores.

Atualização de dados técnicos (com apoio


da equipe de Manutenção) do parque de
máquinas da unidade (esquemas X X X X X X X
elétricos, desenhos, manuais de
funcionamento de equipamentos).

Dimensionamento e implantação de
Kanban de peças reservas para X X X X X X X
equipamentos críticos.

Levantamento de oportunidades de
X X X X X X X
melhorias acerca de redução de custos.

Confecção do Relatório de Estágio


X
Supervisionado
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4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

4.1. Gestão de Ordens de Serviço

O início de qualquer experiência profissional é marcado pelo célere e diversificado


contato com diferentes áreas, processos e repartições do ambiente de trabalho, na
elementar e importante tentativa de se apreender, a princípio, de forma macroscópica,
como se desenvolvem as relações de gestão e de fluxo produtivo entre colaboradores
de uma seção ou departamento da empresa. Nessa empreitada, é mais lógico que o
estagiário inicie seu percurso por meio do acompanhamento de atividades da área em
que atuará a partir do ponto no qual elas são cogitadas, planejadas e coordenadas
em primeira instância, para só então ir de encontro ao ponto onde elas são
executadas. Partindo-se deste pressuposto, as primeiras atividades desenvolvidas
neste Estágio Supervisionado foram de suporte ao Analista de PCM, o responsável
pela Gestão de Ordens de Serviço, mais especificamente, em sua etapa de
planejamento e programação.
Esta, talvez, seja a atividade que mais obviamente se correlaciona com a ementa da
disciplina Administração da Manutenção, prevista como eletiva no currículo do curso
de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco e que
tem por objetivo o desenvolvimento de competências relativas ao planejamento,
programação, controle e gestão das pessoas que trabalham na manutenção de
máquinas e equipamentos industriais.
O PCM é o núcleo estratégico do setor de Manutenção, responsável por traçar
estratégias que possam garantir a disponibilidade e confiabilidade dos ativos e, dessa
forma, fazer com que os processos de produção sejam cada vez mais produtivos e
lucrativos. Sua missão é planejar as atividades de manutenção, programar a sua
execução, medir tudo o que foi feito, analisar se o que foi feito foi realizado da forma
mais produtiva possível e verificar a existência de lacunas.
O principal benefício do PCM, enquanto área de gestão, é a redução de desperdícios.
Seja desperdício de mão de obra, tempo ou materiais. Se qualquer atividade não for
planejada, seja ela aligada à manutenção ou não, com certeza haverá desperdício de
algum desses recursos.
De forma prática, o planejamento consiste em documentar todos os trabalhos da
manutenção: desde procedimentos de segurança para realização das atividades até
o detalhamento dos planos de manutenção. Também são identificados e quantificados
todos os recursos necessários para a realização das tarefas, tais como: recursos
humanos (mão de obra), peças de reposição, ferramentas, materiais e insumos.
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Dentro do PCM, a fase de planejamento tem como finalidade principal criar e gerenciar
os planos de manutenção, distinguindo-se, quanto à natureza da atividade, em planos
de manutenção preventiva, manutenção preditiva, inspeção sensitiva, lubrificação,
calibração e de melhorias. Cada plano tem uma forma de gerenciamento, execução e
programação específica, porém o objetivo é o mesmo: garantir a confiabilidade e
disponibilidade dos ativos.
Enquanto o planejamento é a fase em que é definido tudo o que deve ser feito para
se manter os ativos disponíveis e confiáveis por um determinado período de termo, a
programação da manutenção é a fase em que se define quando tudo deve ser feito.
Ela é a função de coordenar todas as questões logísticas em torno das questões
relativas à fase de execução do trabalho.
No período pelo qual se estendeu a realização deste estágio, o sistema de PCM da
LR encontrava-se em fase inicial de implantação, de modo que os planos de
manutenção ora viabilizados contemplavam apenas uma das tipologias anteriormente
enumeradas – a manutenção preventiva –, além das atividades rotineiras de
mudanças e reinstalações inerentes aos processos de produção da fábrica, neste
caso enquadradas no que o setor denominou plano de setup. A manutenção preditiva,
que, de certa forma, se utiliza de ferramentas mais sofisticadas para predizer o tempo
de vida útil de uma máquina ou equipamento por meio de ensaios técnicos, eram
visionadas como objeto de planos mais futuros, quando do sólido estabelecimento do
PCM. Isso não é de surpreender, visto que embora a manutenção preditiva reduza a
quantidade de interrupções da produção por ocasião de ações corretivas ou
substituição de peças desnecessárias apenas por efeito de tempo (manutenção
preventiva), ela exige da fábrica a existência de profissionais dedicados à atividade,
com renomada experiência e treinamento especializado, algo difícil de se atender
quando padrões e etapas básicas do planejamento e da programação ainda não foram
completamente bem estabelecidos ou mesmo incorporados à cultura da organização.
Além dos planos de manutenção preventiva, que contemplam atividades periódicas
em equipamentos críticos da produção baseadas em uma falha premeditada em
função do tempo de operação, a Gestão de Ordens de Serviço, ou melhor, a
Programação de Manutenção da LR, ocupava-se de alocar a realização de atividades
de setup e de manutenção corretiva. Para tanto, fazia-se uso tanto de planilhas
eletrônicas do Microsoft Excel quanto da ferramenta de gestão MANTec uma solução
eletrônica que permite desde a criação de planos de manutenção com cronogramas,
emissão e controle de ordens de serviço (OSs) à consulta do histórico de atendimento
e o controle de indicadores de performance. A Figura 4 é uma captura de tela da
janela inicial do MANTec em execução no Windows, onde são exibidas as principais
opções de acesso do programa: PTs, OSs e Ocorrências.
Para bem compreender como se dava o mapeamento das atividades de manutenção,
a estipulação dos tempos de execução e a sua alocação em datas, assim como a sua
distribuição entre o quadro de pessoal, é preciso, primeiro, esclarecer como elas
estavam classificadas. As atividades constantes dos planos de manutenção
preventiva, juntamente com as de setup, compunham o que poder-se-ia chamar de
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manutenções periódicas, pois se davam em intervalos de tempo cíclicos e pré-


estabelecidos, em função do equipamento e tempo de operação, e das necessidades
da produção, respectivamente, podendo ser elencadas e preparadas com bastante
antecedência à sua realização. Essas atividades possuíam escopo bem definido e
detalhado, já que eram designadas pela própria Manutenção e faziam jus às
necessidades tão somente da própria máquina, reconhecidas de forma empírica pela
experiência da equipe de trabalho. Tais atividades geravam, por si só, uma OS.

Figura 4. Ambiente inicial de navegação do MANTec da LR, com exibição das principais opções de
acesso. Fonte: screenshot do Windows, editado pelo autor e autorizado pela empresa.

Por outro lado, as atividades corretivas surgiam por demanda essencialmente externa
à Manutenção, pelo pessoal da Produção ou de qualquer outro setor, possuindo
caráter imprevisível, escopo mal definido e urgência variável. Não podiam, portanto,
ser planejadas com antecedência, necessitando para tanto, primeiro, avaliação in
loco, e em seguida, verificação da disponibilidade de material e de mão-de-obra
aplicáveis. Esse segundo grupo de atividades era resultado direto do registro de
ocorrências de falha, interrupção, pane ou quebra de um ou mais componentes dos
sistemas produtivos, de segurança, alimentação ou monitoramento da fábrica, feito no
MANTec, e sob o título de Pedido de Trabalho (PT). Na Figura 5, é possível enxergar
como as informações de um PT ficam dispostas para consulta pelo usuário
programador. Para atividades corretivas, consequentemente, não era possível a
geração de uma OS sem que houvesse sua vinculação a uma PT, salvo em exceções
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autorizadas pelo Supervisor de Manutenção, já que o MANTec, por si só, não impunha
essa restrição.

Figura 5. Detalhes de um PT registrado no MANTec da LR para uma ocorrência verificada na


produção. Fonte: screenshot do Windows, editado pelo autor e autorizado pela empresa.

A programação de uma OS costumava ser feita com antecedência mínima de sete


dias à sua realização, a não ser nos casos onde a urgência da atividade –
normalmente ditada pelo Supervisor ou cargo hierarquicamente superior – justificasse
ação diversa. Através do MANTec, era possível filtrar PTs por data de abertura do
chamado, natureza da atividade (oficina) – elétrica ou mecânica –, área de
abrangência da fábrica e solicitante, e importar esses dados sob a forma de lista
impressa ou arquivos de bloco de notas (.txt) com campos separados por tubulações,
sendo estes facilmente convertidos para a forma de planilhas eletrônicas (.xls). PTs e
OSs são identificados por códigos numéricos sequenciais, únicos e independentes um
do outro, gerados de maneira automática pelo MANTec no momento do seu registro.
Isso, como diz o jargão, “facilitava a vida” do Analista de PCM, principalmente, quando
havia grandes quantidades de atividades pendentes de avaliação e programação, pois
através da identificação numérica, torna-se mais fácil o controle e manipulação com o
auxílio de fórmulas condicionais e decisórias disponíveis na lógica do MS Excel.
Uma vez exportados os dados dos PTs de interesse, a avaliação de cada serviço ou
atividade era realizada por meio de reuniões de programação entre o Analista de PCM
e o Supervisor de Manutenção, normalmente às segundas-feiras. Nesse processo,
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era estimado o tempo de execução de cada tarefa, designado o(s) executante(s), e,


também, verificada a disponibilidade de ferramentas e materiais e ferramentas
necessárias à sua execução. Nos casos em que a atividade afetasse, de alguma
maneira, os setores produtivos, a informação era repassada, de antemão, para o
supervisor da área responsável por meio de correio eletrônico, a fim de evitar
eventuais problemas que da falta de tempo hábil para planejamento do próprio cliente
pudessem surgir.
De posse da avaliação dos PTs, tornava-se possível gerar OSs corretivas, decidir
como alocar os tempos de trabalho disponíveis nas quatro semanas em que se dividia
o mês, quais atividades seriam priorizadas em detrimento de outras e quais seriam as
metas de atendimento dentro daquele período. De consenso da Manutenção, eram
alocadas, primeiramente, atividades previstas nos planos de manutenção preventiva
e de setup, dado que a natureza de ambas estava diretamente ligada à garantia da
eficiência dos sistemas produtivos, da manutenção da qualidade e da geração de valor
para o produto-fim da fábrica. Só então as OSs corretivas eram alocadas, ficando
condicionadas à disponibilidade de tempo de trabalho e de mão-de-obra.
Naturalmente, em caráter extraordinário, essa sistemática necessitava ser
flexibilizada conforme incidiam ocorrências de atendimento mais urgente ou maior
impacto. A Figura 6 mostra como essas informações eram elencadas no corpo da
planilha mensal de programação de manutenção da LR, de fácil refinamento através
da utilização de filtros do MS Excel. Em um apanhado geral, o número de OSs
envolvendo atividades de mecânica era bem superior ao daquelas que envolviam
elétrica.

Figura 6. Planilha eletrônica do MS Excel utilizada na programação da manutenção da LR, com filtros
ativos para data e área das atividades. Fonte: screenshot do Windows, editado pelo autor e
autorizado pela empresa.
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Realizada a programação e emissão, as OSs eram impressas e distribuídas aos seus


respectivos executantes nos devidos dias de execução. Era costume resumir as
informações gerais da programação de cada executante em uma pequena tabela que
listava as atividades, suas áreas de abrangência e seu tempo estimado de realização,
de forma a facilitar o controle do próprio executante sobre seu horário e sua sequência
de trabalho. Os detalhes mais importantes da versão impressa de uma OS podem ser
acompanhados através da Figura 7. Além de dados que ajudam alguém a se situar
sobre a natureza e finalidade da tarefa, nela constam campos para preenchimento por
parte do executante sobre sua identificação – número de matrícula – e intervalos de
execução do serviço, incluindo data e hora.

Figura 7. Detalhes de uma OS registrada no MANTec da LR para substituição de um relé integrante


de um equipamento da produção. Fonte: screenshot do Windows, editado pelo autor e autorizado
pela empresa.

Após a execução do escopo previsto em suas programações, do devido registro de


informações adicionais porventura relevantes na análise do PCM e da autenticação
do atendimento por parte do solicitante, os executantes retornavam as OSs para o
encerramento técnico no ambiente do MANTec e seu cômputo, enfim, nos
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indicadores de cumprimento da programação, controlados, também, por meio de


planilha eletrônica. Nos casos fortuitos em que as OSs não podiam ser cumpridas
conforme estipulado pelo Analista de PCM, era necessário avaliar o estágio das
atividades anteriormente filtrados e proceder da mesma descrita nos parágrafos
anteriores para que o processo completasse, enfim, um ciclo completo. Nessas
situações, o processo de programação se tornava ainda mais complexo, e a
assertividade (índice ora não controlado formalmente na LR) do próprio Analista
podia vir a ficar em evidência de maneira negativa.

Figura 8. Fluxograma do PCM da LR. Componentes em azul representam atividades vinculadas


diretamente à atividade de gestão de ordens de serviço. Fonte: produzido pelo autor.

Um problema comum e recorrente que afetava o ciclo de avaliação de PTs, de um


lado, e a programação e cumprimento de OSs, de outro, era resultado da falta de um
fluxo entre os dois que apontasse para o ressuprimento ou aquisição de novas
ferramentas e novos materiais, que não estavam presentes no correto local e na
correta hora. Em pormenores explorados na descrição de outra atividade, a aquisição
de materiais – quer fosse sua modalidade – estava condicionada à prévia existência
de cadastro no Padrão Descrito de Materiais do Sistema de Gestão Integrada da
Fábrica. Por esse motivo, embora não compusesse diretamente a atividade de gestão
de ordens de serviço, a consulta ao cadastro de materiais era parte integrante do fluxo
de trabalho do PCM da maneira indicada pelo fluxograma da Figura 8, em que os
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símbolos tingidos de azul representam todas as atividades de responsabilidade direta


da gestão de ordens de serviço, os retângulos de cantos arredondados simbolizam
processos e os paralelogramos, por fim, tomadas de decisão.

4.2. Planejamento de ações de manutenção do Sistema de Proteção contra


Descargas Atmosféricas

4.2.1. Fundamentação teórica

Popularmente conhecidas como raios e trovões, as descargas atmosféricas colocam


sob risco de segurança não somente a vida humana, mas também a vida animal, a
integridade de construções civis e o desempenho de equipamentos e dispositivos
elétricos que, porventura, estejam no seu limiar de incidência. Tais fenômenos podem
ocorrer tanto em áreas com alta densidade popular – como centros urbanos – quanto
em áreas mais remotas e afastadas, resultando anualmente no prejuízo de milhões
de dólares em todo o globo, em especial, devido ao desencadeamento de oscilações
e surtos elétricos em redes de transmissão e distribuição de energia.
Segundo Mamede (2010), os surtos de tensão induzidos em uma rede elétrica por
ocasião de descargas atmosféricas chegam a atingir o patamar de quilovolts, tendo
efeitos mais dramáticos quanto o impacto direto se dá sobre construções civis, como
edificações, tanques metálicos de armazenamento de líquidos isolados da terra e
partes estruturais ou não de subestações.
Nesse cenário, o Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas, mais
conhecido pela sigla SPDA, surge como primeira medida de segurança, reduzindo –
mas não extinguindo – os riscos à integridade humana e material decorrentes desses
fenômenos, incêndios, eletrocussões e danos estruturais. Prever com total precisão
quando uma descarga atmosférica incidirá sobre uma área geográfica ainda é
impossível, mas entender como esses fenômenos meteorológicos são ocasionados e
a que condições climáticas se conectam têm ajudado bastante nas atividades
preventivas e se tornado uma área de estudo cada vez mais importante graças aos
avanços tecnológicos no decorrer dos últimos anos.
As descargas atmosféricas têm origem no transporte de massas de ar contendo
grandes quantidades de umidade para pontos de altitude de até 15km, e no
conseguinte surgimento de nuvens de tempestade. A depender do ente físico que as
promoveu, as nuvens de tempestade podem ser agrupadas, simplificadamente, em
três categorias: quentes, frias e orográficas. No caso de tempestades quentes, o chão
é inicialmente aquecido pela incidência local de intensa irradiação solar, aquecendo,
consequentemente, as camadas de ar de menor altitude e fazendo com estas se
elevem. Nas tempestades frias, a invasão de uma frente de ar fria faz com que o ar
mais frio seja empurrado para baixo do ar quente, forçando-o para maiores altitudes
em um processo contínuo de convecção térmica. Já as tempestades orográficas são
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promovidas pela elevação de ar quente próximo ao chão devido ao cruzamento com


acidentes de relevo ascendentes. A Figura 9 e a Figura 10 ilustram os dois primeiros
tipos de formação de tempestades citados.

Figura 9. Fluxo de calor no processo de formação de uma tempestade do tipo quente.


Fonte: OBO BETTERMANN, Lightning protection guide.

Figura 10. Fluxo de calor no processo de formação de uma tempestade do tipo fria.
Fonte: OBO BETTERMANN, Lightning protection guide.

Outros efeitos climáticos podem insurgir sobre as camadas de ar e fazer com que
estas rumem ainda mais rapidamente para maiores altitudes, chegando a atingir
velocidades de até 100km/h e resultando, por fim, na formação de nuvens do tipo
cúmulo-nimbo, as quais tipicamente apresentam-se com diâmetro de 5 a 10km e
distantes de 5 a 12km do nível do solo. Em seguida, processos de segregação de
cargas elétrica como fricção e atrito, por exemplo, tornam-se responsáveis pela
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formação de polos dielétricos em gotículas de água e partículas de gelo presentes na


nuvem: partículas carregadas positivamente acumulam-se na parte superior e
partículas carregadas negativamente, na parte inferior da nuvem. As cargas então
presentes no inferior da nuvem provocam, por indução, o acúmulo de cargas positivas
na superfície da área sobre a qual se encontram.

Figura 11. Mecanismo de descarga piloto Figura 12. Mecanismo de descarga piloto
ascendente. Fonte: DEHN, Lightning descendente. Fonte: DEHN, Lightning
protection guide. protection guide.

Quando a densidade de carga presente na nuvem é grande o suficiente para produzir


um campo elétrico que supere a rigidez dielétrica do ar interposto entre a nuvem e a
terra, tipicamente para valores próximos a 1kV/mm, torna-se possível que elétrons,
cargas negativas, comecem a se mover da nuvem para o solo, em um percurso que
se assemelha ao de um ziguezague. Esse percurso, na literatura técnica, é
denominado líder escalonado ou descarga piloto, uma vez que abre caminho para
outros elétrons e, geometricamente, obedece a uma sequência de degraus. O módulo
da velocidade desses elétrons é altíssima, aproximadamente da ordem de 100km/h.
Alguns elétrons podem se separar do trajeto principal, formando ramificações.
A ionização do caminho seguido pela descarga piloto propicia condições favoráveis
de condutibilidade do ar ambiente. Mantendo-se elevado o gradiente de tensão na
região entre a nuvem e a terra, surge, em função da aproximação do solo de uma das
ramificações da descarga piloto, uma descarga ascendente, constituída de cargas
elétricas positivas, denominada descarga ascendente de retorno da terra para a
nuvem, originando-se, em seguida, a descarga principal no sentido da nuvem para a
terra, de grande intensidade, responsável pelo fenômeno conhecido como trovão, que
é o deslocamento da massa de ar circundante ao caminhamento do raio, em função
| 23

da elevação de temperatura e, consequentemente, do aumento de volume. Se as


nuvens acumulam uma grande quantidade de cargas elétricas que não foram
neutralizadas pela descarga principal, inicia-se as chamadas descargas reflexas ou
múltiplas, cujas características são semelhantes à descarga principal e podem
acontecer por várias vezes após cessada a descarga principal. A Figura 11 e a
Figura 12 ilustram, respectivamente, os mecanismos de uma descarga piloto
descendente e uma descarga piloto ascendente.
Em função de como se estabelecem em relação ao ponto de impacto da descarga
nuvem-terra, os efeitos da corrente de descarga atmosférica subdividem-se em diretos
e indiretos. No primeiro grupo, visualizam-se os efeitos de maior impacto e,
consequentemente, mais fácil visibilidade, contemplando a destruição estrutural de
prédios, o surgimento de incêndios e danos estruturais de ordem geral decorrentes da
alta temperatura e do alto poder de força gerados sobre a área de contato direto. No
segundo grupo, incluem-se os danos permanentes de sistemas eletroeletrônicos por
ocasião de pulso eletromagnético devido a descargas atmosféricas (LEMP), dos quais
as transmissoras, distribuidoras e grandes consumidores como indústrias e grandes
comércios são a principal vítima, sofrendo graves prejuízos econômicos e de
sustentabilidade.
Não por acaso, à medida que as ferramentas de análise se aperfeiçoaram e o
conhecimento sobre técnicas de proteção contra descargas atmosféricas foram
compiladas, o projeto de SPDA tornou-se, a nível internacional, uma etapa mandatória
do projeto de qualquer tipo de construção com alguma concentração de pessoas ou
de dispositivos eletroeletrônicos de relevância social, quer na zona urbana, quer na
zona rural. Em um mundo globalizado, onde a maior parte, senão toda, das
informações são geradas e processadas em sistemas digitais que de objetos
eletrônicos e da rede elétrica dependem, proteger-se contra possíveis interrupções de
serviço e perdas patrimoniais irreparáveis por meio de procedimentos normatizados,
tornou-se uma necessidade urgente e o Brasil não é uma exceção a esta regra.

4.2.2. Revisão de pontos significativos de mudança com o advento da


nova Norma ABNT NBR 5419:2015

A nível nacional, as condições exigíveis ao projeto, instalação e manutenção de SPDA


de estruturas, bem como de pessoas e instalações no seu aspecto físico dentro do
volume protegido são regidas, atualmente, pela NBR 5419 – Proteção contra
descargas atmosféricas, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A
última edição da Norma Brasileira foi atualizada em 2015, como resposta à edição
mais recente da Norma Internacional IEC 60364 – Protection against lightning, na qual
desde as primeiras publicações se baseia. Os instrumentos nacional e internacional
são idênticos e estão igualmente divididos em quatro partes:
Parte 1 – Princípios gerais;
| 24

Parte 2 – Gerenciamento de risco;


Parte 3 – Danos físicos à estrutura e perigos à vida;
Parte 4 – Sistemas elétricos e eletrônicos internos na estrutura.
A Figura 13 mostra a conexão entre cada uma das partes que compõem a Norma
atualizada. As medidas de proteção contra descargas atmosféricas integram de forma
completa a proteção contra descargas atmosféricas, colocando em segurança a vida
dos ocupantes e a integridade dos equipamentos presentes no interior da estrutura.
A nova Norma mostra-se bem mais robusta e rigorosa quando comparada à edição
anterior, de 2005, o que desde o princípio fica evidenciado, em um olhar superficial,
pela diferença do número de páginas, antes quarenta e duas (42), agora trezentas e
oitenta (380). Dentre as mudanças, a que mais causa impactos na análise e
determinação de proteções nos projetos de SPDA é a determinação dos riscos de um
evento perigoso que pode causar perdas de vida humana, estrutural e econômicas,
onde novos parâmetros são considerados para a composição de tais valores. Isso fez
com que muitos dos projetos de SPDA executados à luz da normativa anterior
perdessem sua completude, devendo passar por manutenções corretivas e novas
avaliações técnicas, para que os riscos de perdas existentes se limitem a valores
inferiores ao tolerável.

Figura 13. Conexões entre as partes da ABNT NBR 5419. Fonte: NBR 5419-1:2015
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A Parte 1 do texto do documento trata exclusivamente sobre o fenômeno da descarga


atmosférica, definindo parâmetros das correntes das descargas que são utilizados
como a base das regras de medidas de proteção e dimensionamento de
componentes, por exemplo. Sendo uma das partes com a tradução mais próxima da
IEC 62305-I. Tais parâmetros são considerados para detalhamento das medidas de
proteção e não eram tratados de forma explícita, sendo abordados na Norma ABNT
NBR 5419:2005, no Anexo C (normativo), apresentando parâmetros do valor de crista
da corrente da descarga, utilizado para o cálculo do raio da esfera rolante (Modelo
Eletrogeométrico) e determinação do nível de proteção.
A segunda parte traz as maiores mudanças na proteção de estruturas contra as
descargas atmosféricas. É apresentada de forma detalhada a definição de diversos
parâmetros da estrutura, dos danos às estruturas decorrentes das descargas
atmosféricas, sendo consideradas quatro fontes de danos distintas pelo ponto de
impacto da descarga, definidas como: descarga na estrutura; descarga perto da
estrutura; descarga na linha; e descarga perto da linha. Define-se também tipos de
danos como consequência das descargas atmosféricas, sendo: ferimentos a seres
vivos; danos físicos; e falhas de sistemas eletroeletrônicos. Cada um destes danos,
sozinhos ou combinados, refletem-se em diferentes tipos de perdas à estrutura,
definidas como: perdas da vida humana; perda de serviços públicos; perda de
patrimônio cultural; e perda de valores econômicos.
Torna-se necessária a realização de cálculos referentes aos riscos em uma estrutura
(associados aos tipos de perdas). Cada risco depende do número anual de descargas
atmosféricas que incidem na estrutura ou próximo a ela, da probabilidade de dano por
uma das descargas atmosféricas que influenciam esta estrutura e da quantidade
média das perdas causadas. Dois fluxogramas, um referente ao procedimento para
avaliar a necessidade de proteção e outro para que seja avaliada a eficiência do custo
da proteção são mostrados na figura 1 – procedimentos para decisão da necessidade
da proteção e para selecionar as medidas de proteção; e na figura 2 – procedimento
para avaliação da eficiência do custo das medidas de proteção, do subitem 5.5 –
procedimento específico para avaliar a necessidade de proteção, da NBR 5419-
2:2015.
A terceira parte do documento normativo define a finalidade de se utilizar um SPDA
externo e interno, bem como ao que estará destinado a proteger em estruturas sem
limitação de altura, garantindo que a descarga seja captada pela estrutura, conduzida
pelos condutores e dispersada na terra de forma eficaz e segura, reduzindo os riscos
de centelhamento perigosos no interior da estrutura sem expor a riscos os ocupantes
e outros elementos eletricamente condutores. Apresenta mudanças quanto a
materiais de condutores de captação e descida, procedimentos nos testes de
continuidade e arquitetura de interligação dos condutores de descida.
O método do ângulo de proteção (método Franklin) teve um aumento significativo em
relação ao alcance dos captores. Os ângulos não são mais fixados em função do nível
de proteção, passando a serem obtidos em função da altura dos captores. A utilização
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do método das malhas (Faraday) teve suas dimensões de espaçamento entre as


malhas diminuídas, tendo um formato mais “quadrado”.
Referente aos condutores utilizados para os sistemas de captação e de descida,
materiais como o aço e o alumínio cobreado foram adicionados e houve um aumento
nas dimensões mínimas, e das tolerâncias, dos condutores de captação, hastes
captoras e condutores de descida considerados para a composição do SPDA. A
continuidade elétrica das armaduras de concreto armado existentes, apresentada no
atual texto da Norma, deverão apresentar uma resistência elétrica inferior a 0,2 Ω para
que sejam considerados como condutores naturais da corrente da descarga
atmosférica, contrapondo a ABNT NBR 5419:2005 que determinava que uma
resistência medida poderia ser inferior a 1 Ω. Caso este valor não seja alcançado ou
não possa ser medido, um sistema convencional de proteção deve ser adotado e
instalado.
Houve, ainda, a retirada da consideração da medição da resistência ôhmica do
aterramento do SPDA, para o qual antes sugeria-se o valor de 10 Ω, e da configuração
de aterramento conforme o arranjo A, sendo considerado apenas o arranjo B.
A quarta parte da Norma não tem referência com a Norma ABNT NBR 5419:2005 e é
voltada para a proteção de equipamentos eletroeletrônicos no interior da estrutura,
utilizando as chamadas Medidas de Proteção contra Surtos (MPS), tratando
basicamente de aspectos gerais ligados à compatibilidade eletromagnética e proteção
para equipamentos elétricos e eletrônicos. A base destas medidas são o roteamento
dos condutores, suas blindagens e equipotencialização por meio dos DPSs daqueles
condutores normalmente energizados.

4.2.3. Avaliação e readequação do SPDA da LR às novas exigências


normativas

A concepção das diferentes partes integrantes do projeto de SPDA da LR datam da


mesma época de construção de suas edificações, as quais, obviamente, não
permaneceram estáticas ao longo do tempo em termos de composição, layout e
tamanho, mas, pelo contrário, foram ampliadas, evoluíram e se diversificaram de
acordo com as necessidades de administração e evolução de capacidade produtiva
da indústria. Em função da emissão de novo instrumento normativo, posterior a esses
projetos, nomeadamente, da NBR 5419:2015, torna-se necessária a inspeção das
instalações de proteção dessas edificações a fim de que avalie se atendem ou não às
novas exigências prescritas pelo órgão normativo e, conforme o resultado, intervir
sobre o sistema sob a forma de manutenção corretiva ou mesmo reformulação
completa do projeto original.
A necessidade de inspeções periódicas sobre um SPDA é tratada no item 7 –
Manutenção, inspeção e documentação de um SPDA, da NBR 5419-3:2015, segundo
a qual elas devem assegurar que:
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a) o SPDA esteja de acordo com projeto baseado nesta Norma;

b) todos os componentes do SPDA estão em boas condições e são capazes de


cumprir suas funções; que não apresentem corrosão, e atendam às suas
respectivas normas;

c) qualquer nova construção ou reforma que altere as condições iniciais previstas


em projeto além de novas tubulações metálicas, linhas de energia e sinal que
adentrem a estrutura e que estejam incorporados ao SPDA externo e interno
se enquadrem nesta Norma.

Para o fim a que se destina, essas inspeções devem ser realizadas por profissional
habilitado e capacitado a exercer esta atividade, com emissão de laudo detalhado que
aponte as medições realizadas, as condições de estado observados e indiquem as
ações porventura necessárias à adequação do sistema. Nesse sentido, foram
contratados pela LR , em setembro de 2019 (anteriormente à realização deste
Estágio), em caráter de emergência, os serviços de inspeção e emissão de laudo de
avaliação de SPDA em conformidade com a Norma vigente.
O trabalho foi realizado pela empresa Gravatec Engenharia e Manutenção e contou
com a participação de um Engenheiro Eletricista, um Técnico em Eletrotécnica e um
Arquiteto, tendo compreendido:
 inspeção e identificação dos pontos de descida existentes;

 medição das malhas de aterramento e comparação com limites-padrão;

 avaliação dos estados dos componentes, conexões e configuração de


instalação do SPDA;

 atualização de plantas e desenhos técnicos pertinentes;

 sugestões de intervenção para cumprimento da Norma;

 emissão de Relatório Técnico e Anotação de Responsabilidade Técnica (ART).

Este escopo está compatível com o que também preconiza a Norma ANBT NBR 5419-
3:2015 em seu subitem 7.3.2, segundo o qual, durante as inspeções periódicas, é
particularmente importante checar os seguintes itens:
a) deterioração e corrosão dos captores, condutores de descida e conexões;

b) condição das equipotencializações;

c) corrosão dos eletrodos de aterramento;

d) verificação da integridade física dos condutores do eletrodo de aterramento


para os subsistemas de aterramento não naturais.
| 28

A Norma indica ainda, como possibilidade, que parte do procedimento do ensaio para
medição de continuidade elétrica das armaduras pode ser aplicado aos condutores do
sistema de aterramento do SPDA a fim de comprovar a continuidade elétrica dos
trechos sob ensaio. Dessa forma, é possível ter em mãos parâmetros para
determinação da integridade física do eletrodo de aterramento e de suas conexões,
devendo os valores de validação, neste caso, serem compatíveis com parâmetros
relacionados ao tipo de material usado (resistividade do condutor relacionada ao
comprimento do trecho ensaiado).
Realizada a análise de risco sobre a área de 79.282,m² da fábrica, concluiu-se que
apenas 38.257,57m² correspondiam a área construída com necessidade de proteção
por SPDA. O sistema original foi concebido para atender o nível de proteção (Np) III e
seus componentes externos foram dimensionados através do Método das Malhas (ou
Gaiola de Faraday).

1. Compressores
3. Requeima
4. Qualidade
5. Classificação
6. Docas
7. Fundição
8. Esmaltação
9. Matrizaria
10. Expedição

Figura 14. Planta baixa da LR com detalhes para as subdivisões em blocos do prédio da Produção
da LR em função do fluxo produtivo. Fonte: GRAVATEC (2019), Laudo Técnico GT051719.

Para efeito de melhor organização e oportunidades de estudo do projeto, a Gravatec


optou pela subdivisão das edificações e estruturas inseridas na área da fábrica
propriamente dita de acordo com as denominações internas da empresa,
normalmente utilizadas para identificação das etapas individuais do fluxo produtivo,
que possuem características de operação e administração próprias. Seguindo esse
princípio, foram apontados onze (11) blocos de edificações para a produção e, para
cada um, o gerenciamento de risco e o escopo das inspeções foi executado e
detalhado no relatório de forma segregada, sem considerar os prédios administrativos
e de suporte, dentre os quais se inclui a Manutenção. A Figura 14 mostra as
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subdivisões da planta do prédio da Produção para efeito de estudos de projeto do


SPDA da LR.

Figura 15. Planta baixa da LR com apontamento das caixas de passagem do SPDA detectadas no
bloco construtivo da Expedição da LR. Fonte: GRAVATEC (2019), Laudo Técnico GT051719

O resultado das inspeções locais em cada um dos blocos foi compilado em um


relatório detalhado integrante do laudo técnico, contendo indicações em plantas sobre
a localização precisa de caixas de passagem, irregularidades encontradas e
sugestões de intervenção. Foram, também, apresentados os valores de medição de
| 30

cada um dos condutores de descida detectados, os quais devem estar devidamente


conectados a uma malha de aterramento própria do SPDA e ter sua continuidade
elétrica atestada. Essas medições foram realizadas através do uso de um
microhmímetro, com escala de 0 a 20mΩ e com certificado de calibração anexado ao
laudo, e comparadas com o que estipula a Norma NBR 5419:2015. Na Figura 15
consta o detalhamento das caixas de passagem por onde circundam os condutores
de descida do SPDA do bloco construtivo 10 – Expedição. Imagens do ponto de
inspeção e do estado do cabo de descida correspondente estão exibidas,
respectivamente, na Figura 16 e na Figura 17.

Figura 16. Ponto de inspeção da caixa de passagem do condutor de descida PL-01/21 do bloco
construtivo da Expedição da LR. Fonte: GRAVATEC (2019), Laudo Técnico GT051719

A instalação do condutor de descida no ponto PL-01/21, por exemplo, foi reprovada


pela Gravatec, devido ao fato de o cabo não estar esticado, apresentar curvaturas, e
o parafuso de fixação à estrutura que deveria proteger estar oxidado, promovendo a
possibilidade de isolação elétrica entre a estrutura e o condutor, e extinguindo, por
fim, o seu significado. Para este caso, foi sugerido: raspar a tinta presente no ponto
de acoplamento do cabo; substituir o parafuso de fixação por um de aço inoxidável e
diâmetro de ¼”; utilizar conector olhal bimetálico; utilizar cabo de 35mm² de espessura
e 30orn-lo através do uso de presilhas.
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Figura 17. Detalhe do cabo de descida PL-01/21 do bloco construtivo da Expedição da LR. Fonte:
GRAVATEC (2019), Laudo Técnico GT051719

Esses dados, assim como o de todas as outras instalações do SPDA da LR


reprovadas pela Gravatec em função do que determina a Norma, foram organizados
em um Plano de Ação, contendo informações sobre a ação, o local, o responsável e
observações gerais de acesso. Muitos dos pontos constituíam trabalho em altura,
fazendo-se necessária a utilização de uma escada ou, em pontos mais críticos, de
uma plataforma elevatória, o que exigia do executante o treinamento na Norma
Regulamentadora (NR) 35 – Trabalho em altura.
As formas de intervenção em atendimento às sugestões do Laudo Técnico foram
analisadas em conjunto por meio de reuniões no setor de Manutenção, e uma vez
acertadas, foram incluídas no MANTec sob a forma de PTs. O Analista PCM, por fim,
então, transformou os PTs em OSs conforme conveniência e disponibilidade de
pessoal e material, sendo que os serviços foram realizados por mão-de-obra
terceirizada contratada para este fim. Um cruzamento entre todos esses detalhes
pode ser feito com base na Tabela 1, um espelho de parte da planilha eletrônica
originalmente utilizada para este fim. Um escopo único para realização dessas
manutenções corretivas foi definido da seguinte maneira, com duração média por
instalação de 1h e necessidade de dois colaboradores:
 Reapertar conexão com haste de aterramento;

 Realizar limpeza e raspagem da pintura no ponto de conexão para aumentar a


área de contato entre condutor de descida e estrutura;

 Substituir parafuso por um de aço inoxidável e diâmetro de ¼”;


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 Substituir terminal de compressão de 35mm², caso necessário;

 Manter condutor de descida esticado e fixado com presilhas.

Caixa de
N PT OS Setor Acesso Observação
Passagem

1 20801 48218 Matrizaria PL-01/05 Escada -

2 20802 48247 Matrizaria PL-02/05 Escada -

3 20803 48248 Matrizaria PL-03/05 Escada -

Verificar disponibilidade
de espaço para plataforma
4 20750 48253 Expedição PI-01/21 Plataforma
próximo ao Banheiro da
Expedição
Verificar disponibilidade
de espaço para plataforma
5 20752 48281 Expedição PI-02/21 Plataforma
próximo à Saída da
Expedição
Verificar disponibilidade
6 20804 48249 Expedição PI-03/21 Plataforma de espaço para plataforma
próximo à Quadra 13
Verificar disponibilidade
de espaço para plataforma
7 20805 48250 Expedição PI-04/21 Plataforma
próximo à Quadra 7 –
Hidrante H
Verificar disponibilidade
8 20806 48251 Expedição PI-05/21 Plataforma de espaço para plataforma
próximo à Quadra 12
Verificar disponibilidade
de espaço para plataforma
9 20753 48284 Expedição PI-06/21 Plataforma
próximo à Quadra 12 –
Hidrante H

Tabela 1. Planilha de controle de manutenções corretivas em pontos de instalação do SPDA em


atendimento ao prescrito no laudo técnico Gravatec – GT051719.
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As ações corretivas da Tabela 1 foram supervisionadas pelo Técnico Eletrotécnico


responsável pela NR-10 da LR, mas ainda careciam de nova inspeção a ser realizada
pela Gravatec ou profissional habilitado e qualificado, conforme previsto na alínea c)
do subitem 7.3.1, que dita sobre a necessidade de inspeções após alterações ou
reparos, ou quando houver suspeita de que a estrutura foi atingida por uma descarga
atmosférica.
Além das manutenções corretivas sugeridas sobre os pontos constituintes do SPDA,
o laudo técnico da Gravatec apontava a necessidade de instalação e readequação
completa de condutores, captores naturais e malha de aterramento em determinados
blocos construtivos da fábrica, principalmente no Administrativo e na Portaria. Por
questões de complexidade, mão-de-obra, material e capital necessários e maior
pertinência a um trabalho envolvendo projetos, essas atividades ficaram sob
responsabilidade da Engenharia, não tendo a Manutenção se envolvido.
Vale ainda, lembrar, que inspeções visuais semestrais apontando eventuais pontos
deteriorados no sistema, assim como inspeções completas com reemissão de
documentação pertinente a cada três anos, devem ser realizadas sobre o SPDA da
LR continuamente, conforme preconiza a Norma nas alíneas d) e e) do subitem 7.3.1,
respectivamente.

4.3. Acompanhamento de rotinas de funcionamento da Manutenção

No modo como estruturava-se a Manutenção da LR (Figura 18), as atividades mais


significativas da rotina de funcionamento do setor eram as reuniões semanais de
programação, o acompanhamento de planos de ação através de quadros de gestão à
vista, o controle de indicadores e a gestão de custos. De modo geral, cada uma dessas
atividades estava condicionada especificamente a uma das funções administrativas
da Manutenção, de modo que o controle orçamentário, por exemplo, era atribuição
mais direcionada à atenção do Analista de Processos; e a programação e gestão de
indicadores, à atenção do Analista PCM. Por outro lado, a responsabilidade pelo
atingimento de metas e resultados, pelo atendimento a planos de ação estabelecidos
para resolução de problemas e demandas, assim como pelo acompanhamento da
performance da equipe em comparação a outros setores da fábrica, era compartilhada
por todos os colaboradores envolvidos, estendendo-se desde os empregados aos
estagiários e jovens aprendizes.
As reuniões de programação foram planejadas para ocorrer na sala da Manutenção
sempre às quartas-feiras, durante a manhã e com duração de duas horas. Como
muitas das tratativas diárias ficavam sob a guarda de um “padrinho” em específico,
isto é, de um colaborador a quem se destinava todo o controle e acompanhamento de
um determinado tipo de atividade ou projeto como, por exemplo, o tratamento dos
problemas associados ao mal funcionamento de Secadores e Fundições de Alta
Pressão (APR) – equipamentos críticos da produção –, era importante oportunizar a
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disseminação de dados e ideias entre todos aqueles ligados à gestão do setor, com
fins de extinguir a monopolização do conhecimento e da informação e, desta forma,
estimular o trabalho em equipe. Afinal, as demandas de cada integrante da
Manutenção, assim como de qualquer outro setor de uma empresa, não são
autossuficientes e se encerram em si mesmas, mas, pelo contrário, vivem em um
sistema de interpendência do qual dependem para serem plenamente atendidas. A
ideia das reuniões eram, em suma, despertar o que os administradores chamam de
senso de dono em todos os mantenedores, fazendo com que se sentissem
responsáveis pelo desenvolvimento da Manutenção como um todo e não somente
pelas suas atividades segregadas.

Figura 18. Sala de Gestão da Manutenção da LR. Fonte: registro do autor, autorizado pela empresa.

As reuniões eram organizadas por meio de lembrete contínuo do sistema de eventos


e calendário do Outlook, serviço de e-mail da Microsoft, que permite a definição de
datas, participantes, tema, local, data, horário e o detalhamento do escopo da reunião
em um ambiente visualmente agradável e de acesso remoto através da Internet a
qualquer momento e em qualquer lugar. A Figura 19 ilustra como esses dados
ficavam organizados no ambiente gerenciador de eventos do Outlook. Tendo como
principal organizador o Coordenador de Produção João Cangussú, nas reuniões
semanais discutia-se, pelo menos:
| 35

 O fechamento semanal da programação, que envolvia análises e conclusões


sobre atividades de Manutenção programadas, realizadas e canceladas ao
longo da semana anterior e o planejamento da semana seguinte à do encontro;

 O tratamento de falhas em equipamentos críticos, em essência um apanhado


geral das ações enumeradas em planos de ação que contemplam as APRs, os
secadores, o carrossel e os moinhos da Fábrica de Massa, por exemplo;

 Gestão de custos – controle orçamentário mensal, com revisão das alíquotas


destinadas à aquisição de materiais e serviços de manutenção, pagamentos
provisionados e investimentos.

Figura 19. Lembrete da Reunião de Manutenção semanal no ambiente de gestão de eventos do


Outlook. Fonte: screenshot do Windows, autorizado pela empresa.

Dados relativos à programação e à gestão de custos costumavam ser consolidados e


apresentados nas reuniões sob a forma de gráficos e de indicadores, que além de
facilitarem e tornarem mais intuitiva a interpretação de grandes quantidades de dados,
permitem a fácil comparação entre resultados e metas numéricos de quem os lê
requerer conhecimentos avançados do tema em questão. Eles também são parte
integrante do conceito de Gestão à Vista, que busca integrar todas as equipes de
trabalho em prol dos mesmos objetivos, através de uma comunicação confiável e
| 36

transparente. A Gestão à Vista pode ser considerada uma grande aliada para os
processos de comunicar e engajar os colaboradores, já que, como o próprio nome diz,
informações relevantes são colocadas à vista dos colaboradores e gestores,
permitindo o acompanhamento de indicadores da área, status de projetos e tendência.
A LR, enquanto indústria, se utiliza de muitas das ferramentas mais conhecidas da
Gestão à Vista, como o Kanban e os dashboards. O sistema Kanban utiliza cartões
para indicar o andamento dos fluxos de produção. Esses cartões contêm orientações
sobre uma determinada tarefa, por exemplo, “a executar”, “em andamento” ou
“finalizado”. A utilização de um sistema Kanban permite um controle detalhado de
produção com informações sobre quando, quanto e o que produzir. Já os dashboards
são painéis que englobam informações sobre uma série de indicadores e podem até
mesmo incentivar uma competição sadia entre as equipes, através da comparação de
desempenhos alcançados.

Figura 20. Recorte do Dashboard de cumprimento de programação da Manutenção da LR, para a 35ª
semana do ano (agosto/2020). Fonte: planilha de programação da LR, autorizado pela empresa.

Na Manutenção da LR, os dashboards são gerados em planilhas do Microsoft Excel e


exibidos em uma televisão externa à sala de gestão, expondo dados principalmente
relativos a custo com reservas de materiais apropriados por meio do almoxarifado e o
| 37

índice de cumprimento de manutenções programadas da semana, detalhando os


resultados individuais dos mecânicos e eletricistas frente às suas metas. O índice de
cumprimento da programação é definido como a relação entre a quantidade de
atividades programadas efetivamente realizadas e o número total de atividades
previstas, dentro de um período determinado, normalmente uma semana ou um mês,
servindo de parâmetro para avaliação do quantitativo de atividades realizadas de
forma planejada. Já os Kanbans eram construídos diretamente nos quadros brancos
da parte interna da sala da Manutenção e os status das atividades elencadas sofriam
atualização diariamente. A Figura 20 exibe parte do dashboard com informações
sobre programação e cumprimento da Manutenção de uma das semanas de agosto.
Já a Figura 21 é um recorte do dashboard de controle de custos com Manutenção em
junho de 2020.

Figura 21. Recorte do dashboard de gestão de custos do setor de Manutenção da LR em junho de


2020 . Fonte: planilha de gestão de custos da LR, autorizado pela empresa.

4.4. Atualização de dados técnicos do parque de máquinas da unidade

Além do mapeamento do fluxo de processo, o chamado workflow, ao longo do


desenvolvimento de qualquer projeto de instalações industriais, uma etapa primordial
é definir por completo o elenco de dispositivos, máquinas e materiais integrantes da
planta, atendo-se ao seu detalhamento por meio do recolhimento de dados técnicos
importantes, que permitam sua identificação por completo e sua distinção por qualquer
pessoa, tenha ela participado do seu processo de execução ou não, e
independentemente do lapso de tempo existente entre sua origem e seu estado
| 38

presente. Para isso, é preciso o recolhimento de dados técnicos dos itens produtivos
como um todo, ao que se exemplifica: modelo, marca, data de fabricação ou aquisição,
número de série, país de origem, dimensões, peso ou quaisquer outros detalhamentos
que se façam necessários em função da natureza do item.
Para cada tipo de material, os tipos de informações e a maneira como devem ser
apresentadas variam em função de padronizações internacionais e nacionais ditadas
por órgãos normativos, como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a
Comissão Eletrotécnica Internacional (IEC) e o Instituto Alemão de Normatização
(DIN). Quando se trata de dispositivos eletroeletrônicos como um todo, os dados
técnicos costumam ser compilados em datasheets, e como não raramente são
utilizados em conjunto sob a forma de um sistema complexo, é taxativa, também, a
presença de desenhos técnicos como diagramas e esquemas de ligação, controle e
comando.
Se ter em mãos todo esse arsenal de informações a respeito dos itens da planta
industrial parece trabalhoso, mantê-los organizados e em conformidade com a
realidade encontrada diretamente na planta, demanda, em realidade, um esforço
muito maior. Isto porque, como já dito em outra oportunidade deste relatório, as
instalações industriais não são estáticas e perpétuas em si, mas ao longo do tempo,
comportam-se de maneira análoga à de um ser vivo, expandindo-se, evoluindo,
regredindo, alterando-se, enfim, por ocasião de novas demandas, paradigmas e
perspectivas produtivas. Assim sendo, e como consequência natural das intervenções
da Manutenção, inclusive, o maquinário industrial sofre constantes adaptações,
conversões e atualizações, quer de arranjo, quer de componentes e função em
sistemas, diminuindo cada vez mais a representatividade e o significado dos desenhos
técnicos e datasheets que o representam.
Na rotina de funcionamento da Manutenção, os manuais de operação e
funcionamento, os diagramas elétricos e os datahseets, quando alinhados com o
estado real de máquinas e sistemas, são verdadeiras relíquias nas mãos do corpo
técnico que atua em campo, principalmente nas tarefas de análise de falhas, pois além
de listarem todos os componentes individuais da máquina, que devem ser verificados
pelo mecânico ou eletricista em suas tentativas de entender a causa-raiz de uma
anormalidade, eles comumente apresentam listas dos principais problemas e
soluções de funcionamento da máquina, códigos de peças de reposição (spare parts),
contatos com fornecedores e mesmo instruções e periodicidade de manutenções
preventivas e calibrações, como é o caso de sensores e instrumentos de medição.
Todos esses recursos ajudam na redução do tempo de atuação necessário para a
resolução de uma ocorrência do Plantão, por exemplo, e garantem a qualidade e a
vida útil do maquinário previstas pelo fabricante ou projetista, ou seja, aumentam a
eficiência da Manutenção, ao direcionar o tempo de trabalho para ações mais
assertivas.
Na LR, uma parte majoritária da documentação técnica pertinente ao maquinário
produtivo da fábrica data de mais de uma década. Nesse ínterim, é impossível precisar
os tipos de falhas apresentadas por uma máquina, assim como o é mensurar as
| 39

intervenções pelas quais passaram e o ponto determinante para seus diagramas


elétricos e outros esquemas originais de projeto não mais condizerem plenamente
com a realidade observada em campo. Uma outra parte desse maquinário também é
fruto de realocação de outras unidades, para os quais foram originalmente
concebidos, sem que tenha havido o cuidado de preservar sua documentação durante
o processo logístico. Para esse segundo grupo, a situação é ainda mais agravante,
pois não há dados sequer que permitam a identificação básica do equipamento, o que
dificulta enormemente a atuação da Manutenção.

Figura 22. Parte interna do painel de controle e comando de uma APR após rearranjo físico. Fonte:
registro do autor.

Por se tratar de sistemas com pouco ou elevado grau de automatização, os


controladores lógicos programáveis (CLPs) são dispositivos facilmente encontrados
nos painéis elétricos de máquinas cujo processo de funcionamento depende da leitura
de sensores e da resposta de atuadores sobre grandezas físicas como temperatura,
umidade e pressão. Tais painéis elétricos são estruturalmente bastante complexos, já
que possuem uma carga considerável de dispositivos interconectados, barramentos,
bornes e elementos de condução e conexão elétrica em geral, demandando de quem
| 40

os mantém não somente experiência, organização e boa capacidade analítica, mas


antes de tudo a posse de diagramas elétricos e esquemas atualizados que forneçam
informações de disposição, funcionamento e segurança.
A Figura 22 mostra a parte interna do painel elétrico de controle e comando de uma
APR após serviço de rearranjo físico. A partir tão somente da avaliação visual e do
cruzamento superficial com algumas informações apontadas no diagrama elétrico, era
possível concluir que o documento técnico carecia de atualização, assim como os
comandos e controles do quadro precisavam ser reposicionados de forma mais
apropriada. Serviços dessa natureza não eram diretamente realizados pela
Manutenção, mas sim por empresas terceirizadas, não só porque não havia
disponibilidade de tempo por parte da equipe elétrica da LR para tanto, mas também
pela falta de expertise desta, da capacitação e da habilitação para emissão de
documentos técnicos de validade reconhecida pelo Conselho Regional de Engenharia
e Agronomia (CREA) por meio de emissão de ART. Por outro lado, diagramas
unifilares simples de quadros elétricos de distribuição da subestação, por exemplo,
costumavam receber atualização anual e por meio de equipe própria da sede da
Duratex, a título de sugestões e orientações fornecidas pelo responsável pelo
prontuário elétrico NR-10 da LR, Técnico em Eletrotécnica que acompanhou senão
todas, a maioria das atividades apresentadas neste relatório.

Figura 23. Secador-estufa 4 da Pré-secagem da LR.

Longe de se resumir apenas a questões de origem elétrica, um problema constante


proveniente da ausência de informações técnicas sobre equipamentos projetados
para uso especial na LR, era de natureza mecânica e consistia na dificuldade para
| 41

determinação das especificações necessárias à reposição de peças e componentes


sobressalentes. Nesse caso, era necessário percorrer um longo caminho de
rastreamento, que ia desde o refinamento de informações internas com colegas do
setor de Engenharia da LR e de outras unidades da Deca até longas trocas de e-mail
com fabricantes e fornecedores estrangeiros, como foi o caso dos secadores-estufas
do setor de Pré-secagem (Figura 23), que não possuíam qualquer tipo de
identificação em seu painel elétrico ou em sua estrutura.
Uma vez descoberto o fabricante e o ano aproximado de edição do projeto executivo,
tornava-se possível uma consulta direta com o fabricante através desses e outros
dados básicos, eventualmente conseguindo-se obter manuais de operação e, o mais
desejado, uma lista de spare parts, triviais no processo interno da Duratex de cadastro
de materiais e na criação dos Kanbans de peças reservas para Manutenção. Toda a
documentação obtida nesse processo passou a ser organizada em diretórios
eletrônicos criados no Windows para este afim, ao mesmo tempo em que ganhavam
uma versão impressa, encadernada e arquivada para fácil consulta do pessoal de
campo, normalmente sem acesso aos computadores.

4.5. Dimensionamento e implantação de Kanban de peças reservas para


equipamentos críticos

O estoque de materiais indiretos e peças de reposição, amplamente conhecidos na


literatura administrativa como itens MRO – Manutenção, Reparos e Operações, é uma
das atividades mais críticas e, também, mais complexas de responsabilidade do PCM.
Junto ao levantamento e atualização do parque de máquinas, ela é uma etapa
primordial no processo de implantação de uma boa Gestão da Manutenção em
qualquer indústria, já que boa parte do escopo das atividades de intervenção em
equipamentos, principalmente em caráter emergencial, requerem a substituição
imediata de suas partes e peças, as quais na eventualidade de não estarem
disponíveis, podem insurgir na paralização de equipamentos críticos da produção e,
consequentemente interromper processos vitais e desencadear enormes prejuízos
econômicos.
O dimensionamento de estoque reserva de peças é uma atividade técnico-
administrativa incorporada no escopo de planejamento do Analista PCM e deste
requer tanta experiência quando o fazem as atividades de programação e gestão de
ordens de serviço, já que a ideia não é simplesmente criar amontoados de peças e
componentes em excesso ou desnecessários armazenados em um almoxarifado, mas
antes de tudo, 41orna-los disponíveis em quantidade e tempo exatamente alinhados
com as necessidades do campo. Do contrário, não somente um espaço considerável
das instalações físicas será ocupado de forma desnecessária, mas também os custos
de aquisição se darão de forma desordenada e descabida e os materiais, por fim,
perderão sua validade se não utilizados conforme o tempo indicado por seus
fabricantes.
| 42

Definir um estoque de segurança para itens de almoxarifado é uma atividade que,


obviamente, se torna tão mais difícil quanto maior for a empresa ou o seu parque de
máquinas. No caso de pequenas instalações, a administração do almoxarifado é
normalmente realizada de forma primária, sem muitas variáveis de classificação e
controle, através de planilhas eletrônicas que listam informações sobre itens, como
sua denominação, quantidade disponível e localização; em empresas de médio a
grande porte, por outro lado, a necessidade por um software de ERP – Enterprise
Resource Planning, em tradução livre, Sistema Integrado de Gestão Empresarial, é
inevitável.
Os ERPs são sistemas de gestão que permitem acesso fácil, integrado e confiável
aos dados de uma empresa. A partir das informações levantadas pelo software, é
possível faze diagnósticos aprofundados sobre as medidas necessárias para reduzir
custos e aumentar a produtividade. Essa tecnologia auxilia o gestor da empresa a
melhorar os processos internos e integrar as atividades de diferentes setores, como
vendas, finanças, estoque e recursos humanos. No mercado, estão disponíveis
diversas plataformas de ERP, cabendo às empresas optarem pela ferramenta que
melhor atende à relação custo-benefício, o que depende muito, em linhas gerais, do
ramo de atividades que exerce e da quantidade de dinheiro que pretende investir em
uma solução de gestão. A Duratex S.A. e todas as empresas do grupo optaram pela
utilização do SAP ERP.
A criação de um estoque de peças reservas em uma fábrica se inicia com a definição
dos equipamentos críticos da produção, aqueles cuja parada, em linhas gerais,
resultam na interrupção de processos-chave da manufatura e geram grandes gargalos
de produção e perdas de faturamento para a empresa. Na LR, alguns dos
equipamentos críticos são: as APRs, responsáveis pela fundição automatizada de
louças como pias e caixas de bacia sanitária; os secadores-estufas, integrantes da
Pré-Secagem, setor responsável pelo controle de umidade das peças; os moinhos de
massa, onde é preparada a matéria prima para fabricação da massa-base de
fabricação das louças; e o carrossel, máquina da Esmaltação que aplica de forma
automatizada o esmalte de acabamento das peças.
Em seguida, é preciso elencar, para cada máquina, todos os seus elementos
substituíveis e passíveis de problemas com potencial de parada, especificando-os o
máximo possível através de dados técnicos e documentos como desenhos e
diagramas, quando necessário. Uma vez bem identificada uma máquina ou
equipamento, de posse do seu número de série e fabricante, por exemplo, essa etapa
é facilmente cumprida ao se acessar documentos normalmente disponibilizados online
sob a forma de manual ou de listas de peças de reposição. Neles, são apresentados
desenhos explodidos da máquina, identificadas suas partes, seus códigos (part
number) e, também, sugeridas representações comerciais para aquisição. Contudo,
na LR, muitos dos equipamentos críticos do parque de máquinas não estavam bem
identificados ou não tinham sua documentação bem organizada e disposta para
consultas, de forma que boa parte do trabalho investido nessa atividade consistiu no
contato com empresas e fabricantes para obtenção de manuais e de listas de peças
| 43

de reposição, a exemplo dos secadores-estufas. Fruto desse trabalho, a Figura 24


mostra uma lista de peças de reposição para o sistema de aquecimento de ar do
secador-estufa 4, de fabricação da Unimak, empresa turca especializada em soluções
do tipo para fabricantes de louças cerâmicas e de outros setores.

Figura 24. Lista de peças de reposição do sistema de aquecimento do secador-estufa 4 da LR,


fabricante Unimak. Fonte: UNIMAK, Spare parts list for greenware dryer machine.

Tal como os fabricantes fazem com suas máquinas e peças de deposição, no SAP
ERP, cada item ou material de estoque é identificado por um código único, gerado de
forma automática pelo sistema. Quando um novo item devia ser adicionado à base de
dados do software na LR, criava-se uma solicitação interna junto ao Centro de
Serviços Compartilhados (CSC) – uma gerência da Duratex S.A. responsável, entre
| 44

outros, pela administração de materiais de almoxarifado – de inclusão de material. Em


termos práticos, um material ou item qualquer só poderia fazer parte do estoque e do
patrimônio da LR após a criação de um código específico para ele dentro do SAP
ERP, o qual se distinguia entre fabricante, modelo, tamanho, tipo e muitos outros
dados técnicos que se julgassem necessários em função da natureza do material pela
gerência responsável. Esse conjunto de dados técnicos referentes a um agrupamento
de materiais que compartilham entre si características semelhantes e podem ser
identificados através de uma palavra-chave, é denominado Padrão Descritivo de
Material (PDM). A Figura 25 mostra alguns dos dados exigidos na inclusão de um
material ao PDM criado para inversores de frequência.

Figura 25. Recorte de uma solicitação CSC de inclusão de material ao PDM de inversores de
frequência. Fonte: screenshot do Windows. Autorizado pela empresa.

Como pode-se observar pela imagem, os dados exigidos para incorporação de um


material à base de dados do SAP, na LR, são bastante específicos e demandam do
usuário solicitante conhecimento técnico detalhado sobre o item em questão. No caso
de um inversor de frequência, é preciso saber, entre outros, se sua forma de
modulação é escalar ou vetorial, se é monofásico ou trifásico, qual a sua frequência,
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tensão e corrente de alimentação e qual a potência do motor a ser por ele controlado.
Além de dados técnicos, a solicitação de inclusão de material do CSC exigia a
inserção de informações sobre a natureza contábil e patrimonial do item, a fim de
defini-lo como item estocável em almoxarifado, item de fabricação própria ou item
imobilizado, nomenclatura utilizada para itens de alto valor econômico e com alta
expectativa de vida útil, dentre os quais se figura, por exemplo, um motor elétrico de
alta potência. Tratava-se, portanto, de uma atividade de certo rigor técnico, que não
podia ser executada por alguém que não soubesse, ao menos, como recolher as
informações necessárias por meio de catálogos, manuais ou mesmo inspeções locais
no parque de máquinas, e, por esse emotivo, foram fruto de bastante aprendizado
tanto técnico quanto administrativo durante a realização do estágio neste relatório
documentado.
Criados os códigos ERP para as peças de reposição de um equipamento crítico, a
última etapa para incorporá-los como um item de almoxarifado da LR de reposição
contínua era a solicitação específica por meio do preenchimento de um formulário
online. Através dele, definia-se sobre qual dos setores de produção o item teria
impacto, o que exatamente o tornaria um item estratégico, isto é, qual a sua atuação
sobre o equipamento ou máquina do qual fazia parte, se o seu consumo seria
esporádico ou regular e qual a sua estimativa de preço. Uma vez que envolviam a
gestão de custos e da disposição do almoxarifado, as informações desse formulário
eram preenchidas comumente sob orientação do Supervisor de Manutenção ou do
Analista de Processos.
A inclusão de um item de almoxarifado como item estratégico da LR dava início
automático um processo de compra por meio da automação do SAP ERP, a fim de
que o quantitativo definido e aceito pelo CSC fosse atendido pela primeira vez,
ocorrendo o mesmo, também, sempre que detectado pelo sistema uma diferença
maior que o estipulado para o estoque real e o estoque estratégico definido para o
item. Em caso fortuito dos materiais não serem repostos de forma automática, sua
remessa atrasar ou sua demanda superar a inicialmente prevista quando do
preenchimento do formulário de estoque estratégico, eram realizadas tratativas por e-
mail com o pessoal da gerência de Suprimentos.

4.6. Levantamento de oportunidades de melhorias acerca de redução de


custos.

A procura pela redução de custos é uma preocupação inevitável, e frente às restrições


provocadas pela atual ordem econômica mundial, vem exigindo dos administradores
formas cada vez mais assertivas e imediatas de supervisão e controle sobre fontes de
desperdício, sejam eles associados direta ou indiretamente à atividade-fim da
empresa em que atuam. Nesse cenário, tem-se apontado, nos últimos anos, um
grande holofote sobre o que diz respeito a eficiência energética. Instituições sociais,
desde concessionárias de energia a prefeituras municipais e indústrias passaram a
| 46

adotar como parte de suas estratégias para redução de consumo de energia


campanhas e ações que englobam desde o apelo para o desligamento de pontos de
iluminação em ambientes de consumidores residenciais durante ocasiões
desnecessárias à completa substituição de lâmpadas incandescentes do sistema de
iluminação pública por outras de tecnologia light-emitting diode (diodo emissor de luz),
popularmente conhecidos pela sigla LED.
Tais ações passam a fazer mais sentido quando analisados dados sobre custos
industriais provenientes de consumo do insumo. Ainda em 2017, de acordo com um
estudo divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan),
houve uma queda de 10,7% com relação ao custo da energia elétrica para a pequena
e média indústria nacional no mercado regulado computado em 2015, quando a
energia custava para a indústria do país R$ 565,34 por MWh. De 2013 a 2017,
entretanto, o custo com energia elétrica subiu 48,2%, quando era R$ 240,10 por MWh,
menor resultado da série histórica iniciada em 2010. Segundo a mesma entidade, a
energia é um dos principais insumos para a indústria brasileira, usado por 79% das
empresas e podendo representar mais de 40% de seus custos de produção.
Quando se trata de indústrias, reduzir efetivamente os custos provenientes da
utilização de energia elétrica não é uma atividade que se constitui simplesmente da
substituição de máquinas e equipamentos por outros de maior rendimento energético,
limitando-se, tampouco, à diminuição da quantidade de quilowatt-hora consumido. Isto
porque a forma como uma indústria, normalmente enquadrada nos grupos de médios
ou grandes consumidores, é faturada pela concessionária de energia de forma
bastante distinta se comparada com consumidores residenciais e comerciais de
pequeno porte, em função da existência de parâmetros que se atém não somente à
quantidade, mas principalmente à forma como a indústria dela faz proveito. A quais
parâmetros uma indústria se sujeita em sua tarifação, também, essencialmente, de
sua modalidade tarifária junto à concessionária e demais detalhes porventura com ela
acordados no contrato de prestação de serviços.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), as modalidades tarifárias
são um conjunto de tarifas aplicáveis ao consumo de energia elétrica e demanda de
potências ativas, sendo definidas de acordo com o Grupo Tarifário, o qual se distingue
em Grupo A: unidades consumidores da alta tensão (Subgrupos A1, A2 e A3) e média
tensão (A3a e A4), e de sistemas subterrâneos (Subgrupo AS); e Grupo B: unidades
consumidoras da Baixa Tensão, das Classes Residencial (Subgrupo 1), Rural (B2),
Demais Classes (B3) e Iluminação Pública (B4). Se do Grupo A, o consumido optar
pela modalidade tarifária que melhor lhe convir e lhe for permitida, nominalmente,
horária azul e horária verde. No primeiro caso, são aplicadas tarifas diferenciadas de
consumo de energia elétrica e de demanda de potência, de acordo com as horas de
utilização do dia; no segundo, aplicam-se tarifas diferenciadas de consumo de energia
elétrica, de acordo com as horas de utilização do dia, e uma única tarifa de demanda
de potência. Se do Grupo B, o consumidor será regulado pela modalidade tarifária
convencional monômia, constituída de uma tarifa única de consumo de energia
elétrica, independentemente das horas de utilização do dia; ou pela horária branca,
| 47

com tarifa diferenciada de consumo de energia elétrica, de acordo com as horas de


utilização do dia (postos horários).
A energia elétrica da LR é suprida pela Companhia Energética de Pernambuco
(CELPE), através de um ramal de ligação que parte de uma linha de distribuição de
13,8kV e conecta-se às instalações da fábrica por meio de uma subestação
abaixadora do tipo abrigada. A tensão de linha da entrada é ajustada para o nível de
380V graças ao funcionamento de três transformadores trifásicos Dyn 13.8kV/380V,
os quais operam em configuração não-paralela, com cargas distintas conectadas aos
secundários, e, juntos, totalizam 3.500kVA de potência aparente. A nível tarifário, a
LR, como esperado de uma indústria, está classificada no Subgrupo Tarifário A4, que
compreende o atendimento da rede elétrica em tensão situado na faixa de 2,3kV a
44kV, tendo sido adotada como modalidade tarifária a horária azul. Na Tabela 2, estão
elencadas as principais informações sobre o sistema de fornecimento de energia da
LR.
Por estar classificada no Subgrupo A4, é garantida à LR, a qualquer momento, a
opção de escolha pelo enquadramento tarifário horário que melhor lhe convir, sendo
que esta decisão, quando tomada ainda na fase de projeto da fábrica, costuma se
basear numa projeção do consumo de energia ao longo de um dado período sob a
forma de um gráfico denominado curva de carga. É através da curva de carga que o
projetista pode estimar o pico máximo de potência elétrica demandada da rede em um
intervalo de tempo pré-estabelecido, isto é, a demanda máxima, além de entender
como se e como se distribui o consumo de energia em função do acionamento de
máquinas e dispositivos elétricos em geral ao longo dos ciclos produtivos de um dia,
por exemplo, constituindo o que se chama de demanda média.

Concessionária Companhia Energética de Pernambuco


Tensão de atendimento 13,8 kV
Modalidade tarifária Subgrupo A4 – horosazonal azul
Potência da subestação 3.500 kVA
Relação de transformação 13,8 kV / 380 V
Demanda contratada na Ponta 1.750 kW
Demanda contratada Fora da Ponta 1.950 kW

Tabela 2 Principais informações sobre o sistema de fornecimento de energia da LR

As indústrias, por estarem inseridas no Subgrupo A, sujeitam-se à tarifação das


concessionárias não apenas pela quantidade de consumo de energia elétrica ativa
(kWh), mas também em função da demanda máxima (kW) detectada em um intervalo
de tempo pela agência reguladora determinado. Independentemente da modalidade
tarifária optada, costuma-se exigir contratualmente da indústria a determinação prévia
dos valores de demandas máximas projetadas para duas faixas de horário que variam
conforme a prestadora do serviço o horário de ponta e o horário fora da ponta. Quando
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a concessionária detecta a ultrapassagem desse limites por parte deste tipo de


consumidor, incide sobre a conta de energia, também, uma multa por excesso de
demanda. Os valores contratados pela LR estão visíveis na Tabela 2.
O horário de ponta compreende um período de três horas consecutivas, exceto
sábados, domingos e feriados nacionais , em que normalmente se registra as maiores
demandas de energia e seu sistema elétrico, portanto, opera em condições mais
vigorosas e exigentes de maior infraestrutura. Já o período fora da ponta compreende
o período do dia onde o consumo de energia elétrica é mais baixo, ou seja, a
capacidade máxima das linhas de transmissão de energia está longe de ser atingida.
Na tarifa horosazonal azul, o valor correspondente à demanda máxima detectada no
horário de ponta chega a atingir três vezes o valor da tarifa cobrada nas demais horas
do dia. Este aumento ocorre principalmente para estimular o consumo de energia
elétrica durante períodos do dia, o que acarretaria linhas de transmissão mais bem
dimensionadas para o atendimento da carga, sem necessitar de um
sobredimensionamento para atendimento da demanda por energia elétrica apenas
dentro deste período de três horas.
Um outo parâmetro de controle utilizado pelas concessionárias de energia para
avaliação da eficiência do consumo energético dos consumidores, isto é, se a energia
elétrica está sendo utilizada de maneira tal que mitigue todos os desperdícios mais
essenciais, é o fator de potência. Na relação comercial, o fator de potência fica
matematicamente pela relação entre a quantidade de energia ativa e a soma das
quantidades de energia ativa e reativa consumidas dentro ao longo de um ciclo de
faturamento da concessionária. Trata-se, portanto, de um indicador do quanto de
energia elétrica consumida é efetivamente convertida em trabalho, no sentido estrito
e físico da palavra. Em sua Resolução Normativa nº 414, de 9 de setembro de 2010,
art. 95, que o fator de potência deve ter como limite mínimo permitido, o valor de 0,92
indutivo ou capacitivo para as unidades consumidoras dos grupos A e B conectadas
em níveis de tensão inferiores a 69kV, aplicando-se aos montantes de energia elétrica
e demanda de potência reativos que excederem o limite permitido as cobranças
estabelecidas nos arts. 96 e 97, a serem adicionadas ao faturamento regular.
Por esse e pelos outros motivos anteriormente elencados, é importante para as
indústrias dispor de um sistema de medição ou supervisório dedicado ao
acompanhamento e controle em tempo real ou periódico sobre parâmetros de
qualidade vinculados ao seu consumo de energia. Do contrário, corre o risco não
somente de infringir desnecessariamente regramentos contratuais, o que resulta em
multas, mas também de sobrecarregar o próprio sistema elétrico ao se sobrepor, por
exemplo, a fatores de simultaneidade de certos grupos de máquinas. Para tanto, a
LR dispõe de um medidor de energia multifunção com memória de massa, da
fabricante CCK Automação, modelo 7200S, idêntico ao da Figura 26.
| 49

Figura 26. Multimedidor de energia CCK 7200S. Fonte: CCK Automação

Através de três entradas de medição de tensão e de três entradas de sinais de


medição de corrente, é possível, além de parametrizar o CCK 7200S para medição
de uma série de grandezas elétricas da instalação, especificar parâmetros de controle
como demanda máxima permitida e condições horosazonais, por exemplo, para a
geração de gráficos e de relatórios de forma automatizada. O equipamento dispõe,
ainda, de protocolos de comunicação RS 485 e ETHERNET, o que permitia a
transmissão dos dados medidos para o computador pessoal (PC) da sala de gestão
da Manutenção. As medidas diárias são efetuadas sob a forma de médias aritméticas
atualizadas na memória de massa do medidor a cada cinco minutos e ficam
disponíveis para consulta por trinta e cinco dias contínuos, sendo que no trigésimo
sexto dia seguinte eram apagadas. Através do ambiente supervisório da CCK
Automação, é possível ter acesso, a relatórios e gráficos, entre outras, das seguintes
medidas: tensão, corrente, potência aparente, potência ativa na ponta e potência ativa
fora da ponta, potência reativa total (indutiva e capacitiva), cálculo de potência de
banco de capacitores requerido para correção do fator de potência, fator de potência,
demanda, frequência, espectro de harmônicas de tensão até 30ª ordem e espectro de
harmônicas de controle até 30ª ordem.

Com o intuito de verificar se a supervisão dos dados de consumo de energia elétrica


garantidos pelo CCK7200S estavam surtindo, de fato, em uma gestão inteligente do
insumo na LR, foram analisadas, durante a realização deste estágio, a composição
do faturamento das contas de energia dos últimos seis meses, a saber: janeiro de
2020 a junho de 2020. Os dados foram colhidos manualmente a partir da leitura direta
das faturas da CELPE e transferidos para uma planilha eletrônica do Microsoft Excel,
culminando na geração de gráficos comparativos e de um relatório de causas e
possíveis ações de intervenção encaminhado à liderança da fábrica, servindo de
subsídio para justificativas mensais que se fazem necessárias junto à Gerência de
Suprimentos da Duratex S.A., a qual alinha dados sobre o consumo de energia elétrica
| 50

do período com os resultados quantitativos obtidos pela produção, estipulando limites


às unidades baseados na relação custo energético de produção – quantidade.

Demanda NA PONTA (kW)


2.200
2.050
2.000
1.800 1.750

1.600
1.400
Máxima
1.200
Média
1.000
Contratada vigente
800
Contratada nova
600
400
200
000
Jan Fev Mar Abr Mai Jun

Figura 27. Demandas máximas e médias do consumo de energia da LR na ponta, 2020

Demanda FORA DA PONTA (kW)


2.400
2.150
2.200
2.000 1.950
1.800
1.600
Máxima
1.400
1.200 Média
1.000 Contratada vigente
800 Contratada nova
600
400
200
000
Jan Fev Mar Abr Mai Jun

Figura 28. Demandas máximas e médias do consumo de energia da LR fora da ponta, 2020

Os dados de maior relevância do relatório chamavam atenção para a recorrência de


multas por excesso dos valores de demanda detectados pela CELPE em relação às
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determinações contratuais, principalmente no horário de ponta, assim como de multas


por reativos excedentes ao que determina a ANEEL, ou seja, pela utilização de
energia elétrica com fator de potência total médio inferior a 0,92. Na Figura 27 e
Figura 28 estão dispostos dois dos gráficos utilizados no relatório e que resumem as
detecções de demandas máximas e médias constadas pela CELPE, respectivamente,
nos horários de ponta e fora de ponta, ao longo dos meses de janeiro de 2020 a junho
de 2020.
Através da leitura dos gráficos da Figura 27 e Figura 28, é possível obter informações
diretas sobre a distribuição do uso de energia elétrica ao longo do ciclo de
faturamento, nos horários de ponta e fora da ponta, uma característica do consumidor
que fica mais bem definida pelo indicador denominado fator de carga.
Matematicamente, o fator de carga é definido pela relação entre os valores de
demanda máxima e demanda média considerados para um mesmo período,
correspondendo a um valor que varia de zero a um e indicando, em termos práticos,
se os dispositivos elétricos de uma instalação são utilizados muito em um trecho do
dia em detrimento de outros ou se o uso deles ocorre de forma mais espaçada e
igualitária.

Composição da Fatura de Energia LR (sem


impostos) - Março/2020

R$80.466,42

Multa
R$18.826,58
R$19.316,94

R$92.150,36

R$490,36

Consumo Demanda Demanda Excedente Reativo Excedente

Figura 29. Composição da fatura de Energia LR (sem impostos) – março de 2020

Nos gráficos dos relatórios, o fator de carga está representado de forma inversamente
proporcional à área retangular em azul claro das barras: quanto maior elas são,
menores são os fatores de carga individuais dos respectivos meses, de maneira que
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é fácil chegar à conclusão de que no período de ponta, a energia é utilizada de forma


mais concentrada ao longo do mês. Esse fato tem relação direta com as demandas
máximas registradas pela CELPE, já que nada mais expressam do que a maior soma
das potências individuais de dispositivos eletrônicos utilizados em um mesmo intervalo
de tempo detectadas dentro de um certo período de medição. Nesses termos, o mês
com pior performance foi março, no qual – não por acaso – registrou-se o maior valor
de fatura a ser pago pela LR. Na Figura 30, um gráfico pizza detalha a composição
de cada um dos parâmetros no valor da conta de energia desse mês.
Replicando-se o mesmo gráfico de detalhamento do mês de maio para o restante do
período em estudo, pôde-se observar que o percentual de custos com que contribuem
as multas por excedência de demanda contratada é bem expressivo, sendo esse,
muito antes da quantidade de consumo de energia ativa propriamente dita, um
problema que requer ação imediata. A redução das demandas máximas é reflexo
direto da forma como a produção da fábrica se utiliza de máquinas e equipamentos
elétricos em geral em meio à rotina.
Sendo o fluxo de manufatura da fábrica a sua verdadeira atividade-fim, não é fácil
sobre ela atuar sem que se pense em possíveis reduções quantitativas de capacidade
produtiva. Assim sendo, foram propostas alternativas à liderança que não têm impacto
sobre o fluxo produtivo: a instalação de módulos de medição segregados por área e
conectados ao CCK para estratificação dos detalhes de consumo de energia por setor
e área, a fim de melhor estudar qual agrupamento de máquinas tem sido responsável
pelos picos de demanda; a renegociação dos valores de demanda máxima nos
horários de ponta (Figura 27) e fora de ponta (Figura 28); e, por fim, a transição da
modalidade tarifária para horosazonal verde, se constatado vantagem sobre a
modalidade vigente. Para diminuição do excesso de reativos constatados em alguns
meses, é interessante recalcular a potência necessária para adequação do fator de
potência ao exigido pela agência reguladora e inspecionar, também, o estado do
banco dos capacitores.
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5. RESULTADOS ALCANÇADOS

Comparando-se o cronograma de atividades desenvolvidas com aquele previsto na


concepção do programa de estágio, poder-se-á ver que a experiência vivenciada na
Deca Louças Recife – Duratex S.A se deu de forma bem planejada, construtiva e
atendeu aos objetivos a que se destina: a introdução do estudante de Engenharia às
técnicas e ferramentas aplicadas no cotidiano de sua futura profissão.
Duas importantes atividades, concebidas similarmente a um projeto – adequação do
Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas à nova Norma e a implantação
de Kanbans de peças reservas para equipamentos críticos – mostraram-se
desafiadoras de se cumprir e agregaram valor técnico-intelectual, ao exigir de um
estagiário sem vivência na área o acúmulo de uma gama de informações sobre
máquinas, dispositivos e regulamentações legais em um curto período de tempo. Mais
do que isso, ao ser necessário o contato direto contínuo e direto com o corpo de
profissionais mais voltados a atividades de execução e “pesadas”, desenvolveu-se,
também, muito do manejo pessoal e da adequação linguística imprescindíveis na
carreira de um Engenheiro, que costuma atuar como gestor de equipes de
Manutenção e diversas outras áreas.
Graças ao árduo trabalho de especificação de materiais e definição de estoques de
peças de reposição de equipamentos críticos, a fábrica passou a dispor de um arsenal
mais seguro e adequado e as manutenções corretivas passaram a ser mais
assertivas, graças à redução do tempo antes desperdiçado em processos de compra
com caráter de urgência. Já o estudo do detalhamento do perfil de consumo da fábrica
e o apontamento da composição tarifária serviu de alavanca para a visualização da
eficiência energética como parte importante do planejamento da fábrica e com
impactos não só financeiros, mas também patrimoniais.
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6. PONTOS POSITIVOS E FACILIDADES DO ESTÁGIO

Com um ambiente agradável e uma cultura de empresa que reforça o respeito às


diversidades, em qualquer que seja a experiência de trabalho dentro da Deca Louças
Recife, o colaborador sente-se livre para ser fiel à sua personalidade, suas crenças e
posicionamentos político-sociais. Na Manutenção, em especial, as relações
interpessoais são leves e o contato com a Liderança é estreito, havendo espaço para
uma comunicação franca e sincera entre funcionários independentemente do cargo
que ocupam. Por esse motivo, foi fácil dirimir dúvidas e pedir ajuda, sempre que
preciso, aos técnicos executivos – mecânicos e eletricistas –, aos analistas e mesmo
funcionários ocupantes de outros setores da fábrica, o que contribuiu para o
fortalecimento de conhecimentos acerca de aspectos técnicos e administrativos
pertinentes à Engenharia como um todo.
Do ponto de vista mais crítico, a Manutenção proporciona ao estagiário contato com
uma gama de situações das mais diferentes possíveis, exigindo conhecimentos do
bacharelando em Engenharia Elétrica, especificamente, conhecimentos que vão
desde noções básicas sobre desenho técnico e aplicação de Normas Técnicas a
conteúdos mais abrangentes envolvendo instrumentação, automação, engenharia
civil, eletrotécnica, sistemas elétricos de potência e administração.
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7. PONTOS NEGATIVOS E FACILIADES DO ESTÁGIO

Devido à dinamicidade própria dos setores de Manutenção de qualquer fábrica, onde


novas e imprevisíveis demandas surgem a todo instante, sob a constante visita de
funcionários de outros departamentos e de empresas terceirizadas executantes de
serviço, concentrar-se na própria atividade, às vezes, era difícil, já que interrupções,
nesse contexto, eram uma realidade irremediável. Isso, alinhado à reduzida carga
horária de trabalho do estagiário, acabava resultando na incompletude de tarefas,
postergadas, por caso fortuito, e estendendo-se, de forma precária, às deadlines.
Por, no momento do estágio, a Manutenção da LR estar passando por um processo
de restruturação do modelo de gestão, a desorganização tanto física quanto
intelectual de materiais, documentos e arquivos digitalizados, era uma realidade
dificultosa, tornando a localização de dados, relatórios, diagramas e outras
ferramentas técnico-administrativas, muitas vezes, de difícil acesso. Um último ponto
negativo crítico era a indisponibilidade de um PC ou um espaço próprio destinado
exclusivamente às atividades do estagiário, o que atrapalhava tanto na qualidade
quanto no tempo de execução das suas obrigações.
Como resultado das restrições sociais mais críticas impostas pela pandemia do novo
coronavírus, entre março e abril de 2020, parte do programa de estágio precisou ser
revisto.
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8. CONCLUSÃO

A Eletrotécnica é uma das especializações da Engenharia mais versáteis e com uma


vasto número de possibilidades de mercado, que variam desde o mais óbvio cenário
como o projeto de instalações elétricas de uma indústria ou outra construção civil
qualquer até a realidade burocrática das transações do mercado de energia e a gestão
de ordens de serviço e de pessoas de uma equipe técnica. Estagiar no setor de
Manutenção da Deca Louças Recife serviu, antes de tudo, para abrir olhos para essa
realidade: a necessidade do Engenheiro possuir domínio não só sobre ferramentas
técnicas pertinentes à sua especialidade, mas também – talvez até mais importante –
de se inteirar sobre métodos, concepções e diretrizes que passam distante do
conteúdo programático de seu curso, mas que dele são exigidas diariamente no
ambiente de trabalho por seus superiores e subordinados.
Ferramentas administrativas de análise de problemas como o diagrama de Ishikawa
e filosofias de melhoria contínua como o Lean Manufacturing (em inglês, Manufatura
Enxuta), embora não diretamente ligados à atividade do Engenheiro Eletricista,
acabam tornando-se necessárias, por exemplo, na apresentação de planos de ações
de um projeto ou intervenção sobre problemas e sistemas. Tais apresentações são
executadas para a Liderança e outros colaboradores como um todo da equipe de
trabalho do Engenheiro, que muitas vezes não dispõem de conhecimentos técnicos
sobre sua área de atuação, mas precisam estar a par do estado de execução de um
projeto.
Em um ambiente dinâmico e rico como é o da Manutenção, torna-se ainda mais claro
que não é sábio se limitar apenas a um outro viés do conhecimento, assim como fica
óbvio que a divisão rígida das disciplinas estudadas na universidade tão somente
fazem sentido para propósitos didáticos e não condizem, portanto, com a realidade
integradora, contínua, e indissociável da interdisciplinaridade aplicada à resolução de
problemas práticos. Portanto, estagiar na Manutenção da fábrica que atualmente
dispõe da maior capacidade produtiva mundial do setor em que atua, foi, sem dúvidas,
uma experiência enriquecedora, trazendo a realidade de mercado à tona e revelando
as primeiras aptidões, fraquezas e pontos de melhoria a serem perseguidos pelo
estagiário ao longo da sua futura carreira de trabalho.
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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. TELES, Jhonata. PCM Planejamento e Controle da Manutenção: melhores


práticas. Melhores Práticas. Disponível em: https://engeteles.com.br/pcm-
planejamento-e-controle-da-manutencao/. Acesso em: 28 jul. 2020.

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Protection against lightning: General principles. Rio de Janeiro: ABNT, 2010.

3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5410: Instalações


elétricas de baixa tensão. 2 ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5419-1: Proteção


contra descargas atmosféricas - Parte 1: Princípios Gerais. Rio de Janeiro: ABNT,
2015.

5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5419-2: Proteção


contra descargas atmosféricas - Parte 2: Gerenciamento de risco. Rio de Janeiro:
ABNT, 2015.

6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5419-3: Proteção


contra descargas atmosféricas - Parte 3: Danos físicos a estruturas e perigos à vida.
Rio de Janeiro: ABNT, 2015.

7. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5419-4: Proteção


contra descargas atmosféricas - Parte 4: Sistemas elétricos e eletrônicos internos na
estrutura. Rio de Janeiro: ABNT, 2015

8. FRANCISCO GONÇALVES JUNIOR. Mais Engenharia. NBR 5419: principais


mudanças e impacto em projetos de SPDA. Disponível em:
http://maisengenharia.altoqi.com.br/eletrico/nbr-5419-principais-mudancas-impacto-
projetos-spda/. Acesso em: 01 ago. 2020.

9. SHIGIHARA, Miltom. Avaliação de correntes de descargas atmosféricas através


de medições diretas em estruturas altas. 2015. 152 f. Dissertação (Mestrado) –
Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2005. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/86/86131/tde-20122005-
115553/publico/Dissertacao_MShigihara.pdf. Acesso em: 01 ago. 2020.

10. ALVES, Normando V. B. A nova ABNT NBR 5419: preciso adequar a minha
instalação? haverá choro e ranger de dentes. O Setor Elétrico, Campinas, v. 1, n.
136, p. 1-1, maio 2017. Disponível em: https://www.osetoreletrico.com.br/nova-abnt-
nbr-5419-preciso-adequar-minha-instalacao-havera-choro-e-ranger-de-dentes/.
Acesso em: 02 ago. 2020.

11. INSTRUTEMP (ed.). NBR 5419: você está preparado?. 2015. Disponível em:
https://instrutemp.com.br/nbr-5419-voce-esta-preparado/. Acesso em: 02 ago. 2020.
| 58

12. BORTOLATO, Wuallyson Wuilton. Estudo comparativo das alterações da norma


NBR 5419, avaliação e estudo de gerenciamento de risco. 2017. 73 f. TCC
(Graduação) - Curso de Engenharia Elétrica, Universidade Estadual de Londrina,
Londrina, 2017. Disponível em:
http://www.uel.br/ctu/deel/TCC/TCC2016_WuallysonWuiltonBortolato.pdf. Acesso
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13. GOMES, Pedro César Tebaldi. O que é gestão à vista e como implementar na
sua empresa. 2015. Disponível em: https://www.opservices.com.br/gestao-a-vista/.
Acesso em: 03 ago. 2020.

14. OLIVIERA, Wallace. Conheça os tipos de Kanban e melhore a produtividade na


sua empresa. Disponível em: https://www.heflo.com/pt-br/agil/tipos-de-
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15. CYRINO, Luis. Estoque da Manutenção: PCM no controle. 2016. Disponível em:
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16. DIAS, Ricardo. Enquadramento tarifário: qual o melhor? azul ou verde?. 2020.
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17. AGÊNCIA BRASIL. Brasília, 23 fev. 2017. Disponível em:


https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-02/custo-da-energia-eletrica-
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18. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. REN 2010414: RESOLUÇÃO


NORMATIVA Nº 414. Brasília: Aneel, 2010. Disponível em:
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19. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. REN 2013569: Resolução


normativa nº 569. Brasília: Aneel, 2013. Disponível em:
http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/arquivo/2012/065/resultado/ren20135
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2019. Disponível em: https://beenergy.com.br/consumo-ponta-e-fora-ponta-o-que-e/.
Acesso em: 23 set. 2020.

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