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Segundo volume
Nicola A bbagnano
DIGITALIZAÇÃO E ARRANJO:
ÂNGELO MIGUEL ABRANTES
HISTÓRIA DA FILOSOFIA
VOLUME II
XIII
A ESCOLA PERIPATÉTICA
§ 86. TEOFRASTO
sentiu pela música, à qual dedicou uma obra intitulada Harmatúa, de que
nos restam fragmentos. Foi também autor de biografias de filósofos, em
particular de Pitágoras e de Platão.
§ 88. ESTRATÃO
mento -dizia ele - não há sensação." Mas, por outro lado, tanto o
pensamento como a sensação não são mais que movimento e deste modo
voltam a entrar no mecanismo geral da natureza.
Depois de Estratão, a escola peripatética continuou o seu trabalho
através de numerosos representantes dos quais nos restam escassas
notícias e fragmentos. Mas estes dedicaram-se todos a investigações
naturalistas particulares e assim não trouxeram contributos relevantes
à ulterior elaboração da filosofia aristotélica.
NOTA BIBLIOGRÁFICA
]o
XIIII
O ESTOICISMO
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Com o termo Lógica, adoptado pela primeira vez por Zenão, os Estoicos
expressavam a doutrina que tem por objecto os logoi ou discursos. Como
ciência dos discursos contínuos, a lógica é Retórica; como ciência dos
discursos divididos por perguntas e respostas, a lógica é dialéctica.
Mais precisamente, a
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4,,
dialéctica é definida como "a ciência daquilo que é verdadeiro e
daquilo que é falso e daquilo que não. é nem verdadeiro nem falso."
(Diog. L., VII,
42; Séneca, EP., 89). Com a expressão "aquilo que não é nem verdadeiro
nem falso", os Estoicos entendiam provavelmente os sofismas ou os
paradoxos, sobre cuja verdade ou falsidade não se pode decidir e cujo
tratamento ocupa muito os Estoicos que, neste ponto, seguem as pisadas
dos Megáricos. Por sua vez, a dialéctica divide-se em duas partes
segundo trata das palavras ou das coisas que as palavras
significam: a que trata das palavras é a Gramática, a que trata das
coisas significadas é a Lógica em sentido próprio, a qual, portanto,
tem por objecto as representações, as preposições, os raciocínios e os
sofismas (Diog. L., VII, 43-44).
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e marcada por isso em conformidade com ele próprio, de modo que não
poderia nascer de um objecto diferente. Por outro lado, Zenão (segundo
um testemunho de Cioero, Acad., 11, 144) colocava o significado da
representação catalética na sua capacidade de prender ou compreender o
objecto. Ele comparava a mão aberta e os dedos estendidos à
representação pura e simples; a mão contraída no acto de agarrar, ao
assentimento; o punho fechado à compreensão catalética. Finalmente, as
duas mãos apertadas uma sobre a outra, com grande força, eram o símbolo
da ciência, a qual dá a verdadeira e completa posse do objecto.
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para o princípio que opera e age no homem. Não faltou, porém, entre os
mestres do Stoa quem quisesse reconhecer a iniciativa do sage uma certa
margem de liberdade no confronto com a própria ordem cósmica. Crisipo
distinguia entre as causas perfeitas e fundamentais e as concomitantes
ou próximas. As primeiras agem com necessidade absoluta; as segundas
podem sofrer a nossa influência; e mesmo quando não a sofrem está no
nosso poder secundá-las ou não. Assim como quem dá um impulso a um
cilindro lhe imprime o começo do movimento mas não a capacidade de
rodar, assim os objectos externos imprimem dentro de nós a
representação mas não determinam o assentimento que permanece em nosso
poder. Nestes limites, a vontade e a índole de cada um podem influir,
em conformidade com a ordem do todo, na escolha e na execução das
acções (Cícer., De fato,
41-43; Aulo G., Noet. att., VII, 2).
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Entre a virtude e o vício não há, portanto, meio termo. Como um pedaço
de madeira ou é direito
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outras não, como os seus contrários. Existem, pois, além dos bens (a
virtude), outras coisas que não são bens mas que, todavia, são também
dignos de ser escolhidos. E para indicar o conjunto dos bens e de tais
coisas os Estoicos utilizaram a palavra valor (axia). Valor é,
portanto, "todo o contributo para uma vida conforme com a razão" (Diog.
L., VII, 105) ou em geral "aquilo que é digno de escolha" (Cicer., De
fin., 111, 6, 20). Com esta noção de valor fazia o seu ingresso na
Ética um conceito que devia revelar-se de grande importância na
história desta disciplina.
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NOTA BIBLIOGRáFICA
XIV
O EPICURISMO
§ 96. EPICURO
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A escola tinha a sua sede no jardim (kepos) de Epicuro pelo que os seus
sequazes foram chamados "filósofos do jardim". A autoridade de Epicuro
sobre os seus discípulos era muito grande. Como as outras escolas, o
Epicurismo constituía uma associação de carácter religioso, mas a
divindade a que era dedicada esta associação era o próprio fundador da
escola. "As grandes almas epicuristas -diz Séneca (Ep., 6) - não as
formou a doutrina mas a assídua companhia de Epicuro". Tanto durante a
sua vida como depois da sua morte, lhe tributaram os discípulos e os
amigos honras quase divinas e procuraram modelar a sua conduta pelo seu
exemplo. "Comporta-te sempre como se Epicuro te visse"-era o preceito
fundamental da escola (Séneca, Ep., 25).
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Tito Lucrécio Caro deixou-nos no seu De rerum natura não só uma obra de
grande valor poético mas também uma exposição fiel do Epicurismo. Pouco
se sabe da vida de Lucrécio. Nasceu provavelmente em 96 a.C. e morreu
em 55 -a.C.. A notícia de que estava louco, transmitida pelos
escritores cristãos, e que havia escrito o seu poema nos intervalos da
loucura, ode ser uma invenção devida à
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EPICURO
dos deuses, demonstrando que pela sua natureza feliz, não se ocupam das
obras humanas. 2.' Libertar os homens do temor da morte, demonstrando
que ela não é nada para o homem: "quando nós existimos, não existe a
morte; quando a morte existe, não existimos nós" (Ep. a Men., 125).
3.' Demonstrar a acessibilidade do limite do prazer, isto é, o alcançar
fácil do próprio prazer; 4.' Demonstrar a distância do limite do mal,
isto é, a brevidade e a provisoriedade da dor.
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O erro, que não pode subsistir nas sensações e nos conceitos, pode
subsistir, em contravertida, na opinião, a qual é verdadeira se é
confirmada pelos testemunhos dos sentidos ou pelo menos não
contraditada por tal testemunho; é falsa no caso contrário. Atendo-se
aos fenómenos, tal como se nos manifestam mercê das sensações, pode-se,
com o raciocínio, estender o conhecimento até às coisas que para a
própria sensação são desconhecidas; mas a regra fundamental do
raciocínio é, neste caso, o mais rigoroso acordo com os fenómenos
percebidos.
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Como os Estoicos, Epicuro afirma que tudo aquilo que existe é corpo
porque só o corpo pode agir ou sofrer uma acção. De incorpóreo, admite
apenas o vazio, mas o vazio não age nem sofre alguma coisa, apenas
permite aos corpos moverem-se através de si próprio (Ep. ad Her., 67).
Tudo aquilo
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NOTA BIBLIOGRÁFICA
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§ 99. Sobre Epicuro em geral: BAILEY, The Greek Atomists and Epicurus,
Oxford, 1928; N. W. DE WITT, Epicurus and his Philosophy, Minneapolis,
1954.
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O CEPTICISMO
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§ 103. PIRRO
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Esta suspensão leva a admitir que todas as coisas são indiferentes para
o homem e evita que se conceda qualquer preferência a uma mais do que a
outra. Assim a suspensão do juízo é já por si mesma ataraxia, ausência
de qualquer perturbação ou paixão. Para ser coerente, Pirro, que não
tinha fé nos sentidos, andava em redor sem olhar e sem se esquivar de
nada, afrontando os carros se os encontrava, precipícios, cães, etc.
(Diog. L., IX, 62).
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Aquele que iniciou este novo rumo da Academia foi Arquesilau de Pitane
(315/14-241/40) que sucedeu a Cratete na direcção da escola. Arquesilau
não escreveu nada, de modo que conhecemos as suas doutrinas só
indirectamente.
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Segundo Sexto Empírico, Enesidemo admitia dez modos (tropi) para chegar
à suspensão do juízo.
O primeiro é a diferença entre os animais, pela qual não podemos julgar
entre as nossas representações e as dos animais, porque derivam de
diferentes constituições corpóreas. O segundo é a diferença entre os
homens; o terceiro o da diferença entre as sensações; o quarto, o das
circunstâncias, isto é, das diferentes disposições humanas. O quinto é
o das posições, dos intervalos e dos lugares. O sexto, o das misturas.
O sétimo, o da quantidade e composições dos objectos. O oitavo, o da
relação das coisas entre si e com o sujeito que as julga. O nono, o da
continuidade ou raridade dos encontros entre o sujeito que julga e os
objectos. O décimo, o da educação, dos costumes, das leis, das crenças,
e das opiniões dogmáticas. Cada um destes modos estabelece uma
diversidade nos conhecimentos humanos
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A Agripa (de quem não se sabe nada), atribui Sexto Empírico outros
cinco modos para alcançar a suspensão do juízo, modos de carácter
dialéctico, úteis sobretudo para refutar as opiniões dos dogmáticos:
1.' o modo da discordância, que consiste em mostrar um dissídio
insanável entre as opiniões dos filósofos e, por conseguinte, a
impossibilidade de escolher entre elas, 2.' o modo que consiste em
reconhecer que toda a prova parte de princípios que, por ;sua vez,
exigem prova e assim até ao infinito; 3.O o modo da relação, pelo qual
nós conhecemos o objecto relativamente a nós, e não qual é em si
próprio; 4.' o modo da hipótese, pelo qual se vê que toda a
demonstração se funda em princípios que não se demonstram, mas se
admitem por convenção; 5.O o círculo vicioso (dialelo), pelo qual se
assume como demonstrado precisamente aquilo que se deve demonstrar: o
que demonstra a impossibilidade da demonstração.
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segura, podendo desmenti-la em qualquer altura. os casos não
examinados, e se se pretende que se funda em todos os casos
particulares, o seu objectivo é impossível porque tais casos são
infinitos (Pirr. hyp.,
11, 193, 204).
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NOTA BIBLIOGRÁFICA
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XVI
O ECLECTISMO
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1,
CICERO
Menipo de Gadara, pelos meados do século 111 a.C., nas suas sátiras
escritas em prosa mas intercaladas de versos, representou cenas
burlescas
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§ 113. SÉNECA
O Estoicismo do período romano, ainda que obedecendo à orientação
ecléctica, geral da época, orientação para a qual as divergências
teóricas passam para segundo plano frente ao acordo fundamental das
conclusões práticas, a que se subordina completamente a investigação
filosófica, mostra já de modo evidente um carácter que a fase ulterior
da especulação deveria acentuar: a prevalência do interesse religioso.
Esta prevalência funda-se no
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(IV, 21). Nisto Marco Aurélio é mais fiel que o platonizante Séneca à
doutrina original do Estoicismo.
NOTA BIBLIOGRÁFICA
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XVIII
PRECURSORES DO NEOPLATONISMO
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§ 117. OS NEOPITAGóRICOS
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Se, por uma parte, a filosofia grega estende a mão neste período à
sabedoria oriental, por outra a sabedoria oriental estende a mão à
filosofia grega, solidarizando-se com ela na mesma tentativa de fundir
juntamente os resultados da especulação grega e da tradição religiosa
do Oriente.
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MARCO AURÉLIO
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O fim do homem é a sua união com Deus. Para chegar a Deus o homem deve,
em primeiro lugar, libertar-se da sensibilidade e dos vínculos com o
corpo, deve libertar-se também da razão e esperar a graça divina que o
eleve até à visão de Deus. Só se tem esta visão quando o homem saiu
fora de si mesmo (estasi) e está debaixo de urna espécie de furor
dionisíaco, como ébrio e enlouquecido. Trata-se de uma condição que não
se pode exprimir porque é sobrehumana e misteriosa (De ebrietate, 261-
62).
NOTA BIBLIOGRÁFICA
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§ 120. Das obras de Ffion as edições são: Mangey, Londres, 1742 (com
tradução latina); Richter, Leipzig, 1828-30; Cohn e WendIand, Berlim,
1896 ss. Commentaire allégorique des saintes lois, texto, tradução
francesa e comentário de BRÉHIER, Paris, 1909.
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XVIII
O NEOPLATONISMO
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Por isso o Neoplatonismo não tem nada que ver com o Platonismo original
e autêntico. É, pelo contrário, uma espécie de escolástica que utiliza
o Platonismo, em mistura confusa com elementos doutrinais heterogéneos
com o fim de justificar uma atitude religiosa. O facto de Proclo, o
representante mais sabedor da escolástica neoplatónica, ter considerado
apócrifas a República e as Leis de Platão, que se prestam mal, pelo seu
dominante interesse político, a serem utilizadas para os fins de uma
apologética religiosa, constitui uma prova evidente da descontinuidade
que existe entre o Platonismo e Neoplatonismo e da impossibilidade de
utilizar este último como elemento de compreensão histórica do
Platonismo originário.
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Para uma divindade concebida deste modo a criação não pode ser um acto
de vontade, o que implicaria uma mudança na essência divina. A criação
acontece de tal maneira que Deus permanece imóvel no centro dela, sem
querê-la nem consenti-Ia. Ela é um processo de emanação, semelhante
àquele pelo qual a luz se difunde em torno do corpo luminoso ou o calor
em torno do corpo cálido ou, melhor, semelhante ao perfume que emana do
corpo odorífero (V, 1, 6). Utilizando a noção aristotélica de Deus como
"pensamento do pensamento" (§ 78), Plotino interpreta a própria
emanação como o pensamento que o Uno pensa de si.
O Uno, pensando-se, dá origem ao Intelecto, que é a sua imagem (V, 4,
2); o Intelecto, pensando-se, dá origem à Alma, que é a imagem do
Intelecto (IV, 8, 3). Passando rapidamente de imagem a imagem, a
emanação @ também um processo de degradação. Aquilo que emana do Uno é
inferior ao Uno, assim como a luz é menos luminosa do que a fonte donde
emana e a onda de perfume é menos intensa à medida que se afasta do
corpo odorífero. Os seres que emanam de Deus não podem--- por-
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séneca
tanto, ter nem a sua perfeição nem a sua unidade, mas tendem cada vez
mais para a imperfeição e a multiplicidade.
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Dominado como está pela Alma universal, o mundo tem uma ordem e uma
beleza perfeitas. Para descobrir esta ordem é necessário olhar o todo
no qual encontra o seu posto e a sua função cada parte singular, ainda
aquela aparentemente imperfeita ou má. O próprio vício tem uma função
útil ao todo porque se torna um exemplo da força das leis e acaba por
produzir consequências úteis (111, 2, 5).
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póreos; com a temperança liberta-se das paixões; com a coragem não teme
separar-se do corpo; com a justiça faz que comande em si apenas a razão
e o Intelecto (1, 2, 3). A virtude como purificação constitui, contudo,
apenas uma condição libertadora do itinerário interior em direcção a
Deus. Na música, no amor e na filosofia, a alma encontra os caminhos
positivos do retorno a Deus.
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semelhança com ela, permanece aderido a ela e por sua vez se afasta
dela; 3.' o retorno ou conversão (epistrophé) do ser derivado à sua
causa originária. Aquele processo de emanação, que Plotino ilustrava em
termos metafópicos com o exemplo da luz e do odor, é justificado por
Proclo com esta dialéctica da relação entre a causa e a coisa
produzida, pela qual ao mesmo tempo se enlaçam, se separam e voltam a
unir-se num processo circular no qual o princípio e o fim coincidem.
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NOTA BIBLIOGRÁFICA
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Sobre os mistérios dos egípcios, ed. Parthey, Berlim,
1857.
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SEGUNDA PARTE
FILOSOFIA PATRISTICA
O CRISTIANISMO E A FILOSOFIA
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lio
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o seu próprio eu, o que esta total entrega a Deus implica para o homem
disse-o Jesus no Sermão da Montanha. O reino de Deus é para os pobres
de espírito, para os que sofrem, para os pacíficos, para aqueles que
desejam a justiça, para os que são perseguidos. Isto impõe ao homem o
amor. À lei do Velho Testamento: "Olho por olho, dente por dente",
Jesus opõe a nova lei cristã: "Amai os vossos inimigos, e orai pelos
que vos perseguem e caluniam, para que sejais filhos do vosso Pai que
está nos céus, o qual faz nascer o sol para os bons e os maus e dá a
chuva aos justos e aos injustos. Pois se amais apenas os que vos amam
que mérito tereis? Não fazem os publicanos 1 o mesmo? E se estimais ape-
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Na pregação de Jesus, Deus mais do que Senhor é o Pai dos homens; mais
do que executor daquela justiça inflexível e vingativa que lhe
atribuíam os hebreus, é fonte inesgotável de amor, que aponta a todos
os homens como primeiro e fundamental dever. A comunidade humana que
deverá surgir da pregação de Cristo será , portanto, uma comunidade
fundada no amor. Mesmo a relação entre o homem e Deus deve ser uma
relação de amor. O homem deve abandonar-se à providência do seu Pai
celeste: "Procurai antes de mais nada o reino de Deus e
a sua justiça e tudo o restante vos será concedido" (S* Mateus, 6, 33).
Mas este abandono não deve ser uma expectativa inerte. "Velai-disse
Jesus porque não sabeis o dia em que chegará o vosso Senhor. (S.
Mateus, 24, 42). Esperar pelo reino de Deus significa preparar-se
incessantemente para ele. Não é concedido sem esforço: "Pedi e
recebereis; procurai e encontrareis; batei e as portas se abrirão" (S.
Lucas, 11, 9). Todo o ensinamento de Jesus pretende transmitir a
necessidade desta expectativa activa e preparatória, desta procura sem
a qual não é possível tornarmo-nos dignos do reino de Deus. Por isso
Jesus se volta de preferência para os humildes e para os que sofrem
("Eu fui enviado apenas às ovelhas tresmalhadas da casa de Israel", S.
Mateus, 15, 24), enquanto considera que o seu apelo ressoa em vão
naqueles que estão contentes consigo e nada têm que pedir à vida": "É
mais fácil passar um camelo pelo cu de uma agulha do que entrar um rico
no reino de Deus" (S. Mateus, 19,
24). Só pela dor, pela inquietação e pela necessidade nasce no homem a
aspiração da justiça, da paz e do amor, que conduz ao reino de Deus.
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em mim, para que todos sejam uma única coisa, como tu, 6 Pai, estás em
mim e eu em ti, para que eles estejam em nós e todo o mundo acredite
que tu me enviaste". (17, 20-21).
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NOTA BIBLIOGRÁFICA
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Era natural, segundo este ponto de vista, que se tentasse, por uni lado
interpretar o cristianismo mediante conceitos tirados da filosofia
grega, para assim o ligar a esta filosofia e, por outro, -reconduzir o
significado da filosofia grega ao próprio cristianismo. Esta dupla
tentativa que, na realidade, é uma só, constitui a essência da
elaboração doutrinal que o cristianismo sustentou nos primeiros séculos
da nossa era.
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§ 135. JUSTINO
Justino nasceu provavelmente no primeiro decénio do século 11 em Flávia
Neápolis, a antiga Siquem, agora Nablus na Palestina. Ele próprio nos
descreve a sua formação espiritual. Filho de pais pagãos, frequentou os
representantes das várias escolas filosóficas.- Estoicos, Peripatéticos
e Pitagóricos, e professou durante largo tempo as doutrinas dos
Platónicos. Por fim, encontrou no cristianismo aquilo que procurava e
desde então com a sua palavra e os seus escritos defende-o como a única
e verdadeira filosofia. Viveu muito tempo em Roma e ali fundou uma
escola, foi ainda em Roma que suportou o martírio entre 163
e 167. Das obras que nos ficaram, apenas três são seguramente
autênticas: o Diálogo com o judeu Trifon e duas Apologias. A primeira e
a mais importante é dirigida ao imperador Antonino Pio e deve ter sido
composta nos anos 150-155. A segunda, que é um suplemento ou um
apêndice da primeira, foi motivada pela condenação de três cristãos,
réus apenas por se terem confessado como tais: O Diálogo com o judeu
Tri-
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fon refere uma discussão que ocorreu em Éfeso entre Justino e Trifon e
visa, em substância, demonstrar que a pregação de Cristo realiza e
completa os ensinamentos do Velho Testamento.
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O homem foi criado por Deus, livre de fazer o bem e o mal. Se o homem
não tivesse liberdade, não teria mérito no bem nem culpa no mal
realizado (Apol. prima, 43). A alma do homem é imortal, apenas por obra
de Deus: sem esta, com a morte volveria ao nada (Dial., 6). Mas o
próprio corpo está destinado a participar na imortalidade da alma.
Efectivam-ente, deverá vir, segundo o anúncio dos profetas, uma segunda
parusia de Cristo, e desta vez ele virá em glória, acompanhado pela
legião dos anjos, ressuscitará os corpos e revestirá com imortalidade
os dos justos, ao mesmo tempo que condenará ao fogo eterno os dos
iníquos (Apol. prima, 52).
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desse a sua grandeza. Por isso, ele torna-se visível através da, sua
criação. "Como a alma humana que é invisível aos homens é conhecida
através dos movimentos do corpo, também Deus, que não pode ser visto
pelos olhos humanos, pode ser visto e conhecido através da sua
providência e das suas obras." (Ib., 1, 5). A via da criação divina
é o Logos Deus, mediante o Logos e a sabedoria, criou todas as coisas
(1b., 1, 7). O Logos é o conselheiro de Deus, a sua mente e a sua
prudência (1b., 11, 22). Pela primeira vez, Teófilo usou a palavra
trindade (trias) para indicar a distinção das pessoas divinas. Os três
dias da criação da luz de que fala o Génesis "são imagens da trindade,
de Deus, do seu Verbo, da sua sabedoria" (1b.,
11, 15).
Sob o nome de Justino chegou até nós uma Carta a Diogneto que
certamente não pertence a Justino pela diversidade do estilo e da
doutrina.
O autor responde às dúvidas levantadas por um pagão que se interessa
pelo cristianismo. A composição da Carta não deve ter sido antes de
160, e provavelmente nos finais do século 11. O autor responde a três
dúvidas de Diogneto. Ao culto pagão e judaico, a Carta contrapõe o
culto cristão do Deus invisível e criador. A religião cristã não é uma
descoberta humana mas uma revelação divina: Deus mandou o seu Filho, a
eterna Verdade e a eterna Palavra, a ensinar aos homens a verdadeira
religião; e o Filho de Deus veio ao mundo não como senhor mas como
salvador @ libertador e encaminhou-nos para a salvação pelo amor (Ep.
ad Diog., 7).
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§ 137. A GNOSE
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O homem foi criado por Deus dotado de liberdade e Deus deu-lhe. através
dos profetas e especialmente de Moisés, a lei que deve guiar a sua
vontade livre. O homem não é Deus; mas se quiser pode tornar-se Deus: "
Sô seguidor de Deus e co-herdeiro de Cristo, em vez de servir os
instintos e as paixões e tornar-te-ás Deus" (Philos., X, 33).
§ 139. TERTULIANO
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pôde seduzi-lo por algum tempo, mas não pôde detê-lo. E assim, se
imprimiu à especulação cristã do Ocidente a sua terminologia, não
conseguiu dar-lhe um contributo substancial de pensamento.
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contrário à morte, a vida, não será outra coisa senão a união da alma e
do corpo. Estão fundidos pela vida os elementos que são desintegrados
na morte" (1b., 27). Por isso, Tertuliano defende a realidade do corpo
de Cristo contra aqueles que o reduziam a uma pura aparência
(docetismo). No De carne Christi detém-se, com aquela complacência no
repugnante e no abjecto que lhe é tão característica, nos mais
grosseiros detalhes da geração e do nascimento, para defender a total e
plena humanidade do homem. "Cristo, diz ele (De carne Christi, 4), amou
o homem tal como é. Se Cristo é o criador, amou justamente o que era
seu; se vem de outro Deus, o seu amor é mais meritório porque se
redimiu a um estranho. Era, pois, lógico que amasse também o seu
nascimento, a sua carne; é impossível amar um objecto qualquer sem amar
o que é uno com ele. Acaba com o nascimento e faz-me ver um só homem
que seja; suprime a carne e diz-me que coisa pôde Deus remir, se de um
e da outra resultou a humanidade que Deus redimiu". A realidade e o
valor da carne justificam a ressurreição de Cristo. E a este respeito
encontramos palavras paradoxais que exprimem aquela exasperada tensão
entre a certeza da fé e a verdade do intelecto que se expressou na
fórmula (que não se encontra em Tertuliano): credo quia absurdum. "0
Filho de Deus foi crucificado; não é vergonhoso porque poderia sê -lo.
O Filho de Deus morreu: é crível porque é inconcebível. Sepultado,
ressuscitou: é certo porque é impossível" (De carne
Chr., 5). Aqui a fé tem tanta maior certeza quanto mais repugna às
avaliações naturais do homem.
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A alma humana não tem, pois, o carácter divino que os Platónicos lhe
tinham atribuído. Arnóbio combate expressamente a doutrina platónica da
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e o reconheça igual a si, não cessa com isto de ser juridicamente uma
só casa com um só dono, assim o mundo é a casa de Deus e o Pai e o
Filho que a habitam são um único Deus (1b., IV, 29). O Filho foi gerado
antes da criação do mundo para ser o conselheiro de Deus na concepção e
na realização do plano da criação (Ibid., 11, 10). E o mundo não foi
criado por Deus para si próprio, pois não tem necessidade dele, mas
para o homem; Deus criou, em contrapartida, o homem para si, para que o
reconhecesse e lhe prestasse o devido culto, compreendendo e medindo a
perfeição da obra que tem diante de si (Ib., VII, 5). Deus também não
teve necessidade, na criação, de uma matéria pré-existente: o homem tem
necessidade da matéria para todas as suas obras, mas Deus cria a
própria matéria (1b., 11, 9). O homen-i é composto de alma e corpo. A
alma não tem nenhum peso terreno: é tão ténue e subtil que escapa até
aos olhos da mente (1b., VII,
12-13). Alma e mente não são idênticos; a alma é o princípio da vida e
não entorpece no sonho nem se extingue na loucura; a mente é o
princípio do pensamento, aumenta ou diminui com a idade, perde-se no
sonho e na loucura (1b., VII, 12). A alma e o corpo estão ligados entre
si e contudo são opostos: aquilo que é bem para a alma como a renúncia
à riqueza, aos prazeres, o desprezo pela dor e pela morte é um mal para
o corpo; aquilo que é um bem para o corpo é um mal para a alma que se
relaxa e extingue com os prazeres e com o desejo da riqueza (1b., VII,
15). O homem é formado por princípios diferentes e contrários, como o
mundo é formado
151
por luz e trevas, vida e morte. Estes princípios combatem dentro dele e
se nesta luta a alma vence será imortal e admitida à luz eterna; se
vence o corpo, a alma estará sujeita às trevas e à morte (1b., 11, 13).
Mas a imortalidade não é só o termo e o prémio da virtude: é condição
da própria virtude. Seria estulto renunciar àqueles prazeres aos quais
o homem é naturalmente inclinado e entrar num caminho que é hostil e
mortificante para a natureza humana, se a imortalidade não existisse
para dar um sentido à obra contra a natureza da virtude (lb., VII, 9).
a sua salvação, este é também o sumo grau da sabedoria (Ib., VI, 9).
Mas este grau mais alto da sabedoria não é a filosofia. A filosofia
procura a
152
sabedoria, mas não é a própria sabedoria (1b., 111, 2). Ela não atinge
o conhecimento das causas, como ensinam com razão Sócrates e os
Académicos. A disparidade das escolas filosóficas torna impossível
orientar-se alguém nas suas opiniões se se não possui antecipadamente a
verdade. Só a revelação pode, pois, dar a verdade. E a dialéctica é
inútil (1b., 111, 13).
NOTA BIBLIOGRáFICA
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HI
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mas Deus não participa de nada. Do Logos pode dizer-se que é o ser dos
seres, a substância das substâncias, a ideia das ideias; Deus está para
lá de todas estas coisas (1b., VI, 64). Orígenes rejeita decididamente
os antropomorfismos do Velho Testamento, interpretando-os
alegóricamente. Dizer que Deus tem forma humana e é agitado por paixões
como as nossas é a maior das impiedades (1b., IV,
71). A omnipotência de Deus encontra um limite na sua perfeição. Deus
pode fazer tudo aquilo que não é contrário à sua natureza, mas não pode
cometer a injustiça, porque o poder ser injusto é contrário à sua
divindade e à sua potência divina (1b., 111, 70). Deus é vida, mas num
significado diferente da vida no nosso mundo, ele é a vida absoluta,
isto é, na sua absoluta imutabilidade (In Joha., 1, 31). Deus é o bem
no sentido platónico já que só a ele pertence a bondade absoluta: o
Logos é a imagem da bondade de Deus, mas não o bem em si (In Math., XV,
10). A providência divina dirige-se, em primeiro lugar, à educação dos
homens. Retomando e ampliando o conceito de Clemente, Orígenes compara
a acção de Deus à de um pedagogo ou de um médico que pune ou inflige
males e dores para corrigir ou para curar (Contra Cels., VI, 56). Assim
se explica a própria severidade divina, da qual os livros do Velho
Testamento dão tantos exemplos. "Se Deus fosse apenas bom e não fosse
severo, desprezaríamos a sua bondade; se fosse apenas severo sem ser
bom, os nossos pecados conduzir-nos-iam ao desespero" (In Jerem., IV,
4).
166
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11, 2). Por esta sua natureza subordinada, o Logos recebeu do Pai a
tarefa de penetrar a obra da criação e de infundir-lhe ordem e beleza
(Ib., VI, 38,
39). Mas, em segundo lugar, o Logos vive nos homens e todos participam
dele (1b., 1, 3): ainda que permanecendo idêntico a si mesmo, o Logos
adapta-se aos homens e à sua capacidade de atingi-lo (Co.,dra Cels.,
IV, 15); e reveste formas diversas, segundo aqueles que conseguem
conhecê-lo, isto é, segundo a sua disposição e a sua capacidade de
progresso Ub., IV, 16). O Logos é, portanto, a força imanente que
diviniza o mundo e o homem. Na mesma medida em que se aproxima do mundo
e do homem para penetrá-los e reconduzi-los à perfeição originária,
assim se afasta do Pai.
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e a natureza do Deus (In Jomi., VIII, 19). Mas quando for possível este
conhecimento directo de Deus, quando Deus não for visto já através do
Filho, na imagem de uma imagem, mas directamente corno o próprio Filho
o vê, o ciclo do retorno do mundo a Deus, da apocatastasi, estará
completo e Deus será tudo em todos (lb., XX, 7).
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dela por Basílio que o nomeou bispo de Nisa. Como tal Gregório
participou na luta contra os arianos. Em 394 estava em Constantinopla
para participar num sínodo que devia resolver uma controvérsia entre
bispos árabes; depois o seu nome deixa de aparecer; muito
provavelmente, a sua morte ocorreu pouco depois daquela data. A sua
obra mais notável é o Discurso Catequético Grande, demonstração e
defesa dos dogmas principais da Igreja contra os pagãos, judeus e
heréticos. A obra mais extensa é o escrito Contra Eunómio, réplica ao
escrito Em Defesa da Apologia, com o qual Eunómio respondem a Basílio.
Gregório escreveu mais: duas obras Contra Apolinário: vários tratados
ou diálogos (Contra os Gregos, Sobre a Fé, Sobre a Trindade, Sobre a
Alma e a Ressurreição, Contra o Fado, Sobre os Meninos que Morrem
Prematuramente). Compôs, além disso, numerosos escritos exegéticos, dos
quais os mais notáveis são o Apologético sobre Hexameron e o De
opificio hominis e outros discursos ascéticos, discursos e cartas.
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O mundo é uma criação de Deus. A questão de saber por que modo uma
essência absolutamente simples, incorpórea e imutável, como Deus, tenha
podido produzir uma realidade composta, mutável e, sobretudo, corpórea,
só pode encontrar resposta se se considera a natureza do corpo. Todo o
185
não pudesse escolher entre o bem e o mal. Sem liberdade não haveria
virtude nem mérito nem pecado (1b., 5). Só na liberdade está a origem
do mal. O corpo não é um mal nem causa do mal porque é uma criação de
Deus. O mal está na nossa interioridade e consiste no desvio do bem
devido ao livre arbítrio (1b., 5). O mal não tem nenhuma essência na
realidade em que é apenas privação do bem, que é a única realidade
positiva. Como a obscuridade é a privação da luz ou a cegueira a
privação da vista, assim o mal não é outra coisa senão a falta do bem.
"A maldade tem o seu ser no não-ser: e não tem outra origem senão a
privação do sem (De an. et resur., p. 223).
Segue-se daqui que a punição que cai sobre o mal na outra vida só pode
ser purificador. Aqueles que deixaram por si a sujidade do vício com a
água do baptismo não terão necessidade de outra purificação, mas
aqueles que não participaram desta purificação sacramental serão
necessàriamente purgados pelo fogo (1b., 35). Finalmente, a natureza
chega por necessidade inevitável à apocatástasis, à reconstrução da
condição feliz, divina e livre de toda a dor, como era a originária
(1b., 35). Gregório afirma decididamente o carácter universal da
apocatástasis: "Até o inventor do mal, isto é, o demónio, unirá a sua
própria voz no hino de gratidão ao Salvador (1b., 26). Já um escritor
antigo (Germano de Constantinopla em Fozio, Bibli. cod., 233) adiantara
a hipótese de uma posterior falsificação dos
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O mais douto adversário de Grilo foi Teodoreto, que nasceu por volta do
ano 386 em Antioquia, discípulo de Crisóstomo e de Teodoro de
Mopsuestia e condiscípulo de Nestório. Primeiramente favorável
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NOTA BIBLIOGRÁFICA
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IV
SANTO AGOSTINHO
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o seu rigor, mas não é exigência de pura razão. Todo o homem procura:
toda a parte ou elemento da sua natureza, intranquilidade da sua
finitude, dirige-se para o Ser que é o único que pode dar-lhe
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S
1 . AGOSTINHO (Ambrósio Berognone)
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Contra esta tese escreveu Santo Agostinho, entre 412 e 426, a sua obra-
prima: A Cidade de Deus. Mas, entretanto, um flagelo análogo, a invasão
dos Vândalos, abateu-se em 428 sobre a África romana. Havia três meses
que as tropas de Genserico assediavam Hipona quando, a 28 de Agosto de
430, Agostinho morreu.
204
No início dos Solilóquios (1, 2), que são uma das suas primeiras obras,
Agostinho declarava o fim da sua investigação deste modo: "Desejo
conhecer Deus e a alma. E nada mais? Nada mais, absolutamente". E tais
foram na realidade os termos para os quais se dirigiu constantemente a
sua especulação
205
do princípio ao fim. Mas Deus e a alma não requerem para Agostinho duas
investigações paralelas ou diversas. Com efeito, Deus está na alma e
revela-se na mais recôndita interioridade da própria alma. Procurar a
Deus significa procurar a alma e procurar a alma -significa reclinar-se
sobre si mesmo, reconhecer-se, na própria natureza espiritual,
confessar-se. A atitude de confissão que deu origem à mais famosa das
obras agustinianas é, na realidade, desde o princípio, a atitude
fundamental de S. Agostinho, aquela que ele mantém e observa
constantemente em toda a sua actividade de filósofo e de homem de
acção. Esta atitude não consiste em descrever para si e os outros as
alternativas da própria vida interna ou externa, mas em pôr a claro
todos os problemas que constituem o núcleo da própria personalidade.
Mesmo as Confissões não são uma obra autobiográfica: a autobiografia é
um dos seus elementos que fornece os pontos de referência dos problemas
na vida de Santo Agostinho, mas não é o seu carácter dominante, tanto
que, num certo ponto, no livro X todo o acento autobiográfico cessa e
Santo Agostinho passa nos outros três livros a tratar de problemas de
pura especulação teológica. O esforço de Santo Agostinho nesta obra é
dirigido no sentido de fazer luz sobre os problemas que constituem a
sua própria existência. quando, consegue aclarar a natureza da
inquietação que dominou a primeira parte da sua vida e que o levou a
dissipar-se e a divagar desordenadamente, dá-se conta que, na
realidade, nunca desejou outra coisa a não ser a verdade, que a verdade
é o próprio Deus, que Deus se encontra no interior da sua alma. "Não,
saias de ti mesmo, volta * ti próprio, no interior do homem habita a
verdade; * se verificas que a tua natureza é mutável, transcende-te
para lá de ti mesmo" (De vera rel., 39). Apenas o retorno a si próprio,
o encerrar-se na própria interioridade é verdadeiramente o abrir-se à
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Deus, que é coeterno como ele (1b., XI, 7). O Logos ou Filho tem em si
as ideias, isto é, as formas ou as razões imutáveis das coisas que são
eternas como eterno é ele próprio: e em conformidade com tais formas ou
razões são formadas todas as coisas que nascem e morrem (De div.
quaest., 83, q; 46). Estas formas ou ideias não constituem, portanto,
como queria Platão, um mundo inteligível, mas a eterna e imutável
Razão, através d a qual Deus criou o mundo. Separar o mundo
inteligível de Deus significaria admitir que Deus está privado de razão
na criação do mundo ou antes dela (Retract., 1, 3). As ideias divinas
são comparadas por Agostinho às raízes seminais de que falavam os
Estoicos (§ 93). A ordem do mundo, que depende da divisão das coisas em
géneros e espécies, é garantida precisamente pelas razões seminais que,
implícitas na mente divina, determinam, no acto da criação, a divisão e
o ordenamento das coisas singulares.
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Não pode, pois, haver outro mal no mundo senão o pecado e a pena do
pecado. Ora o pecado consiste, como se viu, na deficiência da vontade
que renuncia ao ser e se entrega ao que é inferior. Como não é um mal a
água, enquanto, pelo contrário, é um mal o precipitar-se
voluntariamente na água, assim nenhuma coisa criada, por humilde que
seja, é um mal, mas é mal entregar-se a ela como se fosse o ser e
renunciar por isso ao ser verdadeiro. (De Vera rel., 20). Da tese
maniqueia que fazia do mal não apenas unia realidade, mas um princípio
substancial do mundo, Santo Agostinho chegou à tese oposta: a negação
total da realidade ou substancialidade do mal e a sua redução à
defecção da vontade humana frente ao ser. O mal não é, portanto,
realidade nem sempre no homem, dado que é defecção, deficiência,
renúncia, não-decisão, não-escolha; também no homem é, pois, não-ser e
217
tendas por toda a parte onde há vida civil, testemunha, com a sua
existência, a validade do Evangelho no mundo. E esta Igreja é a Igreja
de torna." Assim Santo Agostinho via na universalidade da Igreja a
demonstração de facto do valor da mensagem cristã e ao mesmo tempo
defendia essa universalidade contra a tentativa de a negar e de reduzir
* comunidade cristã, como queriam os Donatistas,
* um conventículo de isolados.
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dade final, aquela que Deus dará como prémio, consistirá no não poder
pecar. Esta última liberdade -será dada ao homem como um dom divino,
dado que não pertence à natureza humana, e tornará esta última
partícipe da impecabilidade própria de Deus. Mas pois que a primeira
liberdade foi dada ao homem a fim de que ele procure a última e
completa liberdade, é evidente que só esta última exprime aquilo que o
homem verdadeiramente deve ser e pode ser. O não poder pecar, a
libertação total do mal é uma possibilidade do homem fundada numa
dádiva divina: "0 próprio Deus é a nossa possibilidade" diz Agostinho
(Sol., 11, 1; De gratia Chr., 25).
homem, a sua pátria celeste, mas não puderam ensinar-lhe o caminho que
é o assinalado pelo apóstolo João: a encarnação do Verbo (De civ. Dei,
X, 29).
NOTA BIBLIOGRÁFICA
224
§ 163. Sobre a doutrina das razões seminais: WIE=, Geschichte der Lehre
von den Koimekrãften,
1914, p. 108-224.
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A úLTIMA PATRÍSTICA
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são criadas por Deus no momento desta união. Deus criou todas as
inteligências incorpóreas de uma vez, mas cria diariamente as almas dos
homens.
230
em Deus como a natureza comum das três hipóstasis e fazia assim, das
três pessoas divinas, três existências particulares, isto é, três
divindades. Ao lado desde trideísmo (que, por outro lado, teve neste
período, como no precedente, numerosos defensores) João admitia o
monofisismo no que respeita à encarnação. Não podem subsistir duas
naturezas numa única hipóstasis: na pessoa de Cristo não pode,
portanto, subsistir senão a natureza divina. O pressuposto destas
interpretações dogmáticas é a lógica aristotélica, à qual João dedicara
um comentário: de facto o significado de natureza e de hipóstasis é
tirado de Aristóteles. É curioso notar que quando a lógica aristotélica
for de novo empregada, por acção de Roscelino de Compiègne, na
interpretação do dogma da trindade, chegar-se-á à mesma conclusão
trideIstica.
231
232
nem como qualquer outro termo de que nos servimos para as coisas
finitas. O próprio -nome de Bem, que é o mais alto de todos, é
inadequado para a altura da perfeição divina. A emanação das coisas por
Deus, que tem em si as ideias ou modelos de toda a realidade, é
compreendida por Dionísio como criação. O mundo não é um estádio do
desenvolvimento de Deus, mas um produto da vontade divina. Contudo os
seres do mundo sã o todos manifestações ou símbolos de Deus e por isso
a sua consideração permite ao homem ascender a Deus e refazer assim no
inverso o caminho da criação.
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criador, que não seja criado por sua vez mas incriado; e este é Deus.
Em segundo lugar, a conservação e
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existência de Deus pode ser alcançada pela razão humana, a sua essência
é incompreensível. "A divindade, diz joão (Ib., 1, 4), é indeterminável
e incOm-
237
quios travados por ele e seu amigo Germano com eremitas egípcios.
Precisamente nesta obra, Cassiano considera a tese de que Deus ilumina
e reforça a boa vontade que nasce no homem, mas que esta vontade tem
origem apenas no esforço humano. Se o querer bem não basta ao homem,
quando não é socorrido pela graça divina, todavia esta graça só é dada
àquele que tem boa vontade. A tese de Cassiano difundiu-se largamente
nos mosteiros do Sul da Gália.
238
239
De fide, está comprovada, não só pelo testemunho dos códices, como pelo
do contemporâneo de Boécio, Cassiodoro, e portanto não pode ser posta
em dúvida. Além disso, se o De consolatione não tem qualquer referência
aos mistérios do cristianismo, está impregnado por aquele espírito
platónico ou neoplatónico que os escritores da patrística consideram
substancialmente cristão. As traduções e os escritos lógicos de Boécio
asseguraram a sobrevivência da lógica aristotélica mesmo no período da
maior obscuridade medieval e fizeram dela um elemento fundamental da
cultura e do ensino medieval. Quanto à De consolatione, está entre as
obras mais famosas da Idade Média. Divide-se em 5 livros e é mista em
verso e prosa. O primeiro livro é uma espé cie de introdução na qual a
filosofia se apresenta a Boécio na forma de augusta matrona que vem
trazer-lhe conforto na triste condição em que se encontra, não por sua
culpa, mas por ter querido seguir a verdade
e a justiça. No segundo livro, a filosofia faz ver a Boécio que a
felicidade não consiste nos bens da fortuna, que são mutáveis e caducos
e que, mesmo quando se possuem, trazem consigo o perigo e o temor da
sua perda. A felicidade deve consistir numa condição que exclua
qualquer temor deste género e compreenda em si todos os bens que tornam
o homem suficiente por si próprio. O terceiro livro contém,
precisamente, a teoria da felicidade assim compreendida. É evidente que
não pode consistir nem na riqueza, nem no poder, nem nas honras, nem na
glória, nem nos prazeres. Nenhum destes é o bem supremo, o bem melhor
de todos e que torna o homem auto-suficiente. Defende pois que a
felicidade consiste no próprio Deus, enquanto é o ser de que não se
pode conceber melhor, portanto o bem supremo. Deus é conjuntamente a
origem de todas as coisas e o fundamento da verdadeira felicidade
humana (111, 10). O quarto livro examina em que
240
S. GREGÓRIO MAGNO
o mundo e modo Deus, como supremo bem, rege expõe uma teoria da
providência e do fado. A proVidência é o plano da ordem e da
disposição do mundo na inteligência divina; o fado é a própria
ordem que por aquele plano vem a ser determinada no mundo. "A
providência é a própria razão (ratio) divina que, constituída como
supremo Princípio de tudo, dispõe todas as coisas; o fado é a
disposição inerente às coisas mutáveis, disposição pela qual a
Providência assinala a cada coisa a sua ordem própria" (IV, 6). A ordem
do fado, na multiplicidade dos seus desenvolvimentos temporais, depende
pois da própria razão de Deus. Os problemas que nascem deste conceito
da Providência e do fado são examinados no quinto livro. A Providência
e o fado parecem excluir à primeira vista a liberdade, mas em tal caso
seria inútil para o homem a razão que serve para julgar e escolher
livremente. A resposta da filosofia ao problema é que, se Deus prevê
tudo, não prevê que tudo aconteça com necessidade. A previsão de um
acontecimento não implica que o acontecimento se deva realizar
necessariamente. Além disso, em Deus a previsão é inerente à natureza
da sua vida, que é uma eternidade privada de qualquer sucessão. Nele
não existe nem o passado nem o futuro e a sua ciência é o conhecimento
total e simultâneo de todos os acontecimentos que se verificam
sucessivamente no tempo (V, 6). Nele estão presentes também os
241
rico, cuja recolha leva o nome@de Variae, e a História dos godos de que
só nos chegou um estrato A obra mais importante, que escreveu no
claustro, são as
Istitutiones divinarum et saecularium lectiOnum em
dois livros: o primeiro indica os autores que são estudados Corno guias
das disciplinas teológicas; o
devia servir aos monges e foi na Idade Média um dos manuais mais
usados. Num breve escrito, De a?úma, Cassiodoro propõe-se demonstrar,
nas pegadas de Claudiano Mamerto, a incorporeidade da alma humana. O
escrito reproduz os argumentos de Mamerto que, por sua vez, como se
viu, foram retirados de S. Agostinho.
242
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NOTA BIBLIOGRÁFICA
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245
íNDICE
§ 96. Epicuro ... ... ... ... ... ... 37 § 97. A escola
epicurista ... ... ... 38
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249
SEGUI-4DA PARTE
FILOSOFIA PATRISTICA
cristã ... ... ... ... ... ... 109 § 129. Os evangelhos
sinópticos ... ... 111 § 130. As "cartas"
Paulinas ... ... 114 § 131. O quarto
evangelho ... ... ... 116 § 132. A Filosofia
cristã ... ... ... 117
250
A PATRISTICA DOS DOIS PR=IROS SÊCULOS ... ... ... ... ... ...
121
251
tástasis ... ... ... ... ... 187 §154. Outros padres
orientais do sé-
culo IV ... ... ... ... ... 190 §155. Os padres latinos
do IV século 192
Agostiniana ... ... ... ... ... 204 § 160. O fim da procura
Deus e a
252
tempo ... ... ... ... ... ... 213 § 164. A polémica
contra o mani-
nismo ... ... ... ... ... ... 219 § 167. A cidade de Deus
... ... ... 222
253