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2 – O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

1. ORIGEM
2. FUNÇÕES E CONTEÚDO
3. FORMAS DE CONSTITUIÇÃO
4.A ESTRUTURA DA NORMA CONSTITUCIONAL
5. A TEORIA DO PODER CONSTITUINTE
6.A REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO
1. Origem
O Estado Constitucional é o Estado com uma Constituição limitadora do poder
através do Direito.
Gomes Canotilho refere que as ideias do governo de leis e não de homens, de
Estado submetido ao Direito, de constituição como vinculação jurídica do poder,
foram realizadas através dos institutos do rule of law, due process of law,
rechtsstaat, príncipe de la legalité, faltando no entanto, a legitimação democrática
do poder.

O elemento democrático foi introduzido não só para travar o poder, mas


também pela necessidade de legitimação do mesmo poder.

Só o principio da soberania popular (todo o poder vem do povo), assegura e


garante a igual participação na formação democrática da vontade popular.
É este principio que permite a compreensão da moderna fórmula de
Estado de Direito Democrático.

CONSTITUIÇÃO MODERNA = é entendida como a “ordenação


sistemática e racional da comunidade politica através de um documento
escrito no qual se declaram as liberdades e os direitos e se fixam os limites
do poder politico.” GOMES CANOTILHO

A Constituição neste sentido assenta em 2 ideias básicas


- Ordenar, legitimar e limitar o poder politico;
- Reconhecer e garantir os direitos e liberdades dos indivíduos.
Funções e Conteúdo

A Constituição é a “ordem jurídica fundamental da


comunidade”, ordenadora da vida social e politica. Possui um
carácter de “ordem”, que é mais do que uma simples sistemática.
Pretende ordenar, estabilizar, assegurar, determinar um
“quadro” para o desenvolvimento da vida social e politica de uma
determinada comunidade.
A Constituição moderna, neste sentido, compreende assim, um
“projecto politico” de instituição de uma “ordem nova”, como que a
construção de um projecto politico para o “futuro”.

A Constituição como “norma das normas” , não constitui


unicamente uma “ordem jurídica objectiva”. Representa ainda uma
“ordem de garantia” dos direitos dos cidadãos no Estado.
A liberdade dos cidadãos será optimizada e melhor garantida se os poderes
estaduais se encontrarem relativizados através de um sábio e prudente sistema de
separação dos poderes do Estado:
. Legislativo
. Executivo
. Judicial

ARTIGO 16º DA DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO


francesa de 1789.

“Toda a sociedade na qual a separação de poderes e a garantia dos direitos


não resulte assegurada (…) não tem Constituição.”
O PODER CONSTITUINTE e os problemas que suscita:
1º o que é o poder constituinte?
Revela-se sempre como uma questão de poder, de força ou autoridade
politica, que está em condições de em determinada situação concreta, criar,
garantir ou eliminar uma constituição percebida como lei fundamental da
comunidade politica;
2º quem é o titular do poder constituinte?
O Povo é o titular do poder constituinte, sendo este exercido nas formas
previstas pela Constituição, isto é, basicamente nos termos do disposto nos
artigos 284º e SS da Lei Fundamental.
3º como proceder para elaborar e aprovar uma Constituição?
Através de um procedimento legislativo-constituinte, através de uma
assembleia eleita de propósito para fazer essa constituição; ou por processo
referendário-plebiscitário, em que o povo decide a aprovação como lei
fundamental de um texto que foi submetido à sua aprovação.
4º saber qual o conteúdo e a legitimidade da Constituição e quais os limites do
poder constituinte.
Ou seja, a questão de saber se existem ou não limites jurídicos e políticos
quanto ao exercício do poder constituinte.
O poder constituinte está vinculado à observação de certos princípios
de justiça e ao princípio do Direito Constitucional.

Exemplo: o Pr. da independência, da observância dos direitos


humanos, designadamente da Declaração Universal dos Direitos do
Homem, pois nenhum sistema jurídico interno poderá considerar-se hoje
fora da comunidade internacional.
DIREITO CONSTITUCIONAL = CONJUNTO DE PRINCIPIOS E NORMAS
QUE REGULAM A ORGANIZAÇÃO, O FUNCIONAMENTO E OS LIMITES DO
PODER PÚBLICO DO ESTADO, ALÉM DE ESTABELECEREM OS DIREITOS DAS
PESSOAS QUE PERTENCEM À RESPECTIVA COMUNIDADE.
Visa o equilíbrio entre
OS PRINCIPIOS ESTRUTURANTES DA CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA
PORTUGUESA

. Principio do Estado de Direito


. Principio Democrático traves mestres da CRP

. Principio da Socialidade
. Principio da Unidade do Estado

Estes princípios estruturantes ganham concretização ou


densificação através de outros princípios ou sub-principios.

Ex.: o Pr. do Estado de direito é densificado ou


concretizado através de outros sub-principios: principio da
constitucionalidade; o principio da legalidade da administração.
Esses princípios constitucionais chamam-se gerais ou
fundamentais, e podem, por sua vez, concretizar-se ou densificar-se ainda
mais através de outros princípios constitucionais especiais.

Ex.: o Pr. da legalidade da administração é concretizado pelo principio


da prevalência da lei e pelo principio da reserva de lei.

INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO

A interpretação constitucional não é diferente da que se faz em outras


áreas do direito. No entanto, a interpretação constitucional tem de ter em
conta condicionalismos e fins políticos, apesar de não poder visar outra
coisa que não sejam os preceitos e princípios jurídicos que lhes
correspondam.
Não há norma na CRP sobre interpretação art. 9º do CCivil.

“ A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos
textos o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do
sistema jurídico, as circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições
especificas do tempo em que é aplicada.
(…) ”

ELEMENTOS DA INTERPRETAÇÃO
1. Elemento literal/gramatical
2. Elemento lógico
2.1. Elemento teleológico
2.2. Elemento sistemático
2.3. Elemento histórico
A interpretação da Constituição tem de ser objectiva e evolutiva, por forma a assegurar a coerência e a
subsistência do ordenamento.

Deverá ter sempre em conta os seguintes aspectos:


► A Constituição deverá ser sempre entendida como um todo, em busca da unidade e harmonia de sentido;

► Será sempre necessário um esforço de concordância prática assente num critério de proporcionalidade,
podendo existir ponderação e hierarquização dos valores inerentes aos princípios constitucionais;

► Interpretar a Constituição é ainda realizar a Constituição;

► Atender não só ao que as normas constitucionais explicitamente ostentam como também ao que
implicitamente delas resulta;

► As normas constitucionais deverão ser sempre interpretadas e aplicadas à luz da Constituição actual;

► Não é a Constituição que deve ser interpretada em conformidade com a lei, mas sim a lei que deve ser
interpretada em conformidade com a Constituição.
A INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO

Interpretar a lei ordinária para que esta respeite os preceitos constitucionais


requer a prévia interpretação da Constituição no sentido de se apurar que
sentido o legislador constitucional pretendia dar à lei ordinária caso a tivesse
feito.

Interpretação conforme a Constituição será discernir no limite, um sentido


que, embora não decorrente de outros elementos de interpretação, é o
sentido necessário e o que se torna possível em virtude da força
conformadora da Lei Fundamental.

Requisito de razoabilidade: implica um mínimo de base na letra da lei; e


tem de se deter aí onde o preceito legal conforme com a Constituição, fique
privado da função útil ou onde seja incontestável que o legislador ordinário
acolheu critérios e soluções opostos aos critérios e soluções do legislador
constituinte.
A INTEGRAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO

A CRP não regula tudo quanto dela deve ou pode ser objecto. A Constituição
expressamente o admite prescrevendo a integração pela Declaração Universal dos
Direitos do Homem .

Artº 16 nºs 1 e 2 CRP

A universalidade do ser humana e da sociedade humana não é comportável num


texto constitucional.

Por isso a existência de lacunas.

INTEGRAÇÃO DAS LACUNAS DA CRP


Deve ser feita no interior da Constituição formal à luz de valores da
Constituição material, sem recurso a normas da legislação ordinária.
Os critérios do art.º 10 do CCivil aplicam-se pelo facto de
traduzirem uma vontade legislativa, não contrariada por nenhumas
outras disposições, podendo, da mesma forma que o art.º 9 do CCivil,
considerar-se normas substancialmente constitucionais, não
repugnando mesmo vê-las dotadas do valor do costume
constitucional. (Jorge Miranda)

Artigo 10º do Código Civil


(Integração das lacunas da lei)
1. Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável
aos casos análogos.
2. Há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões
justificativas da regulamentação do caso previsto na lei.
3. Na falta de caso análogo, a situação é resolvida segundo a norma que o
próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do espírito do
sistema.
A integração das lacunas da CRP deverá ser feita por analogia ou
pela ficção da norma que o legislador constitucional criaria caso tivesse
previsto a situação em atenção à unidade do sistema constitucional.

MODIFICAÇÃO E SUBSISTÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO

A Constituição de um Estado Democrático que aceita a circunstância


dinâmica do principio democrático, não pode deixar de ser permeável a
este dinamismo, pois a vida constitucional é igualmente um processo
dinâmico.
Assim, a vida do Estado gera inevitavelmente factos e momentos
históricos que se projectam na Constituição
Vicissitudes constitucionais.

RIGIDEZ E FLEXIBILIDADE CONSTITUCIONAL

Diz-se rígida a Constituição que, para ser revista, exige a observação


de uma forma partícula distinta da forma seguida para a elaboração das
leis ordinárias.

Diz-se flexível aquela em que são idênticos os processo legislativo e o


processo de revisão constitucional.

A rigidez constitucional é a norma nos Estados modernos e resulta da


adopção do conceito da constituição formal e instrumental.
VANTAGENS DE UMA CONSTITUIÇÃO RIGIDA

1. A superior legitimação democrática confere legitimidade à sua superior


força normativa;
2. Impede que a Constituição possa ser alterada levianamente sob pressão
de quaisquer acontecimentos circunstanciais;
3. Garantia de estabilidade ao ordenamento jurídico e consequente
confiança e credibilidade do mesmo.

VANTAGENS DE UMA CONSTITUIÇÃO FLEXÍVEL


a) Permite a fácil actualização da constituição formal e instrumental em
função da natural evolução da consciência global;
b) Impede que a Constituição formal e instrumental seja ultrapassada pela
realidade constitucional, tornando-se obsoleta.
Por um lado, os fins de Segurança e Justiça que o Estado de Direito
pretende alcançar, exigem estabilidade, confiança e credibilidade ao
ordenamento jurídico, o que só pode ser garantido mediante a rigidez dos
princípios estruturantes deste ordenamento.
Por outro lado, é imperioso a existência da possibilidade formal de
revisão, ainda que dentro de regras mais apertadas, no sentido de impedir
que a Constituição seja ultrapassada pela realidade constitucional.

A par da rigidez, uma flexibilidade controlada de revisão, é a melhor


garantia da perpetuação da própria Constituição.

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