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O Choque do Especialista de Computador

e o Novo Médico
(Resgate Contratado do Oeste 9)
Por: Bellann Summer

Todos na vida de Morgan King, perito em informática, o deixaram


para trás. Seus sonhos de se estabelecer e adotar um garotinho são
quebrados, deixando Morgan arrasado.
Com excesso de trabalho e querendo mais da vida, o paramédico
Tatum Janis se propõe a realizar dois objetivos: tornar-se o novo médico do
Resgate Contratado do Oeste e reivindicar Morgan King como seu. Quando
realiza o primeiro, consegue colocar um anel ao redor do dedo de Morgan. Ok,
talvez seja apenas um elástico de cabelo, mas Tatum promete substituí-lo com
um símbolo permanente de seu amor e compromisso eterno com Morgan.
Enquanto esses dois estão lutando contra as dores do passado de
Morgan, o Resgate Contratado do Oeste está mudando. A equipe ainda vai sair
e resgatar pessoas necessitadas, mas agora estão resgatando crianças
abandonadas e tornando-se uma família ainda maior.
Capítulo Um

Finalmente, estavam ali.


Morgan King deixou o Chevy Suburban alugado e seguiu os caras no
caminho em direção à praia. Desejou que o resto da equipe do Resgate
Contratado do Oeste se apressasse. A antecipação e a emoção correram
através de seu sistema, e apenas o fato de seu capitão, Roman, estar
conduzido o grupo o impediu de afastar todos e correr o resto do caminho.
Encontraram Reese. Se sua informação estivesse correta, o bom
amigo de Morgan, companheiro de equipe e amante, deveria estar a apenas
alguns metros de distância. Depois de dois meses de Morgan usando todas as
habilidades de busca técnica que possuía, o resgate de Reese foi possível
graças a um telefonema de algum obscuro assistente que Roman conheceu em
um seminário.
Sim, Morgan ressentiu-se do fato.
Quando chegaram à beira da praia, Isaiah, seu segundo em
comando, gesticulou para que parassem, enquanto Roman continuava em
direção a um homem loiro sentado na areia e olhando para o oceano.
Roman se instalou ao lado do homem, e os dois começaram uma
conversa. A advertência de seu chefe de que Reese teve problemas com um
acidente de carro veio à sua mente.
Morgan estudou o homem conversando com Roman. O corte de
cabelo de estilo moderno, substituído por um corte militar, e agora começando
a crescer. Um recuo superficial e uma cicatriz danificaram um lado da cabeça
do cara. Ele podia estar mais magro do que o habitual, mas Morgan
reconheceria aquele corpo em qualquer lugar. Aquele era Reese, o valioso
amigo de Morgan e amigo de foda. Sua proximidade física significava muito
para Morgan.
Reese entendeu as razões pelas quais não aproveitou e deixou
alguém perto por muito tempo. As coisas nunca foram bem. Mas Morgan
confiava numa futura relação com Reese. Até que, um dia, Reese desapareceu
da face da terra e da vida de Morgan.
Através de intensas pesquisas, a equipe descobriu que Reese esteve
envolvido num terrível acidente de carro. Depois de ser levado para um
hospital como John Doe, ele saiu e desapareceu.
Ele deixar o hospital não surpreendeu Morgan. Reese odiava os
hospitais com paixão. A dor de não ter sido chamado o preencheu, depois o
preocupou. “Responsável” era o segundo nome de Reese.
Morgan se aproximou e tentou ouvir o que Reese estava
falando. Uma mão em seu ombro o deteve. Ele enviou um olhar furioso ao
rastreador da equipe, Santos.
— Deixe Roman lidar com a situação. — Exigiu o grande brasileiro. —
Não sabemos o quão ferida está a mente de Reese por causa do acidente.
Morgan apertou os dentes e engoliu uma resposta mordaz. Um grito
o fez balançar.
— Ricky!
Morgan endureceu quando um homem de descendência mexicana
atravessou a areia, empurrou as pernas de Reese e ergueu os punhos em
direção a Roman. Morgan se ofendeu não só pelos punhos, mas também pelo
dedo acusador que o homem empurrou para o capitão.
Apenas a pressão da mão de Santos o impediu de correr para lá.
— Deixe Ricky sozinho! — O intruso gritou.
O temperamento de Morgan aumentou. Ele tinha tido o suficiente da
insolência do homem. Quem esse cara achava que era, para ficar gritando com
Roman assim? Por que diabos ele continuou agarrando Reese ”Ricky”? Era hora
de um pequeno ajuste de atitude. Santos colocou o braço no peito de Morgan,
parando-o no meio do passo.
Roman falou algo para Reese e o homem assustador. O corpo de
Reese tremeu antes de encarar o amplo espaço de um oceano azul claro em
frente a ele. Um estranho silêncio se instalou sobre Reese.
O mexicano se ajoelhou atrás do companheiro de equipe de Morgan e
esfregou seus ombros enquanto murmurava algo em sua orelha.
Morgan estreitou seu olhar para o estranho, pensando que o homem
deveria se afastar.
Depois de alguns longos momentos, Reese piscou e espiou
Roman. Ele franziu a testa e disse algo ao capitão. Morgan desejou que a brisa
soprasse em uma direção diferente para que pudesse ouvir a conversa dos
dois homens. Roman respondeu, e Reese reagiu saltando de pé.
— Deixe-me em paz! — Gritou Reese.
Reese virou-se para correr e ficou cara a cara com a equipe. Ele caiu
na areia, com as pernas abertas e as mãos soltas. Morgan sabia que olhava o
rosto de Reese. Se alguém não desarmasse a situação, o homem usaria todas
as habilidades de luta que tinha para sair.
Parker, o outro médico da equipe, caminhou em direção a Reese com
a mão estendida.
— Reese, o que está fazendo?
— Afaste-se!
Morgan se encolheu pelo modo como Reese rosnou aquela
palavra. Estava tornando-se óbvio que a lesão cerebral que tinha recebido no
acidente era séria. Por que diabos estava fazendo correndo pela praia? Alguém
deveria ter lhe ajudado.
Tentando acalmar o homem em pânico, Morgan disse:
— Somos seus amigos. Viemos para levá-lo para casa.
Reese correu seu olhar sobre Morgan, estudando seu rosto e suas
roupas. O coração de Morgan doeu quando seu amigo não mostrou
emoções. Uma nuvem grossa de confusão pairava sobre o grupo. Era como se
Reese não reconhecesse nenhum deles. O agravamento aumentou quando o
estranho irritante se moveu para o lado de Reese, que sorriu para o homem
antes de olhar para Morgan.
— O sol é meu amigo. — Declarou Reese. — Lee é minha casa.
Lâminas afiadas destroçaram o interior de Morgan. Ele usou cada
grama de força de vontade para evitar que seu rosto mostrasse a consternação
agitando suas tripas em uma bagunça amarga. Talvez, se tentasse, poderia
chegar até Reese, e a vida voltaria ao normal.
— Meu nome é Morgan. — Lembre de mim, droga. — Você não se
lembra de mim?
— Ricky...
— Reese. — Interrompeu Morgan. Era melhor o cara dizer isso de
agora em diante. — Seu nome é Reese.
— Reese... — O homem repetiu. — Não lembra de nada.
Parker aproximou-se de Reese e pegou sua mão.
— Eu sou Parker. Você e eu somos médicos para uma empresa
chamada Resgate Contratado do Oeste. Nós, juntamente com o resto dos
caras aqui, salvamos pessoas quando estão com problemas.
— Agora eu estou com problemas...
A tristeza na voz de Reese rasgou outro buraco na alma de
Morgan. O buraco se abriu quando Reese moveu sua mão livre para o alcance
do estranho. Não muito tempo atrás, Reese entrelaçou os dedos dessa mesma
mão com Morgan, enquanto ambos atingiam o orgasmo.
— Posso ver sua cabeça? — Perguntou Parker. — Essa cicatriz parece
ser de uma ferida muito terrível.
Reese deu um passo atrás. Ele ignorou a pergunta de Parker e
perguntou:
— Parker, eu tenho uma família?
Morgan não perdeu a jogada de Reese e o estranho apertando as
mãos um do outro. Agradeceu que Parker ainda segurava a outra mão de
Reese. Pelo menos algo no mundo parecia um pouco comum.
— Consideramos todos no Resgate Contratado do Oeste, não apenas
uma equipe, mas uma família. — Respondeu Parker.
— Sua mãe e seu pai morreram anos atrás. — Disse Morgan. Pelo
menos poderia dar a Reese essa informação. — Você nunca mencionou irmãs
ou irmãos.
— Você não tem irmãos. — Roman moveu-se para ficar ao lado de
Parker.
— Tenho uma esposa, marido ou alguém a quem amo? — Perguntou
Reese.
Morgan queria saltar para cima e para baixo e lembrar a Reese que
ele o tinha, que eram próximos, mas Roman falou antes que pudesse fazê-lo.
— Você não é casado, nem está envolvido com ninguém. Também
não tem filhos.
Morgan reconheceu o olhar de Roman. Ele viu a verdade nos olhos de
seu chefe. Roman sabia dos encontros dele e Reese no final da noite, mas o
fato era que suas reuniões eram apenas de carne, nada mais. Não importava
quanto Morgan quisesse que as coisas fossem diferentes.
— Você tem certeza, sem dúvida, que sou Reese Palmer?
Ao redor, a equipe assentiu e disse que sim. Morgan não podia falar
com o nódulo de emoção em sua garganta.
— Você é 100% Reese Palmer.
A firme resposta de Roman pareceu incitar Reese a agir. Reese sorriu
e tentou puxar Lee depois dele. Somente a mão de Parker ainda segurando o
impediu.
— Onde está indo? — Perguntou Parker.
— Não sou casado. Lee e eu temos que ir para casa. — Reese tentou
afastar a mão.
— Posso ver sua cicatriz primeiro? — Continuou Parker.
— Vamos subir até o carrinho. — Sugeriu Lee. — Será mais fácil para
Parker olhar sua cabeça se você se sentar em um banquinho.
Parte de Morgan detestava o homem por cooperar e ser razoável.
— Tudo bem. — Disse Reese.
Morgan não tinha certeza se deveria estar preocupado com o
estranho comportamento de Reese ou irritado com a rapidez com que ele
concordou com os desejos deste Lee. Ele franziu o cenho quando viu Reese
caminhar em direção a um carrinho de hot-dog prata. Ele notou que o pé
esquerdo de Reese arrastava ligeiramente pela areia.
Quando Reese estava sentado num banquinho atrás do carrinho de
cachorro quente, Parker escovou os dedos gentilmente sobre a pele levantada,
onde ficou claro pelas curtas linhas verticais que os grampos estavam
embutidos em sua cabeça. Morgan cerrou os dentes ao ver o recuo raso no
crânio de Reese. O que seu amigo passou, deve ter sido horrível.
— Lee diz que tenho uma cicatriz na parte de trás do meu ombro. —
Disse Reese.
Morgan odiava que Lee tivesse visto a cicatriz de Reese. Sua aversão
cresceu ao pensar que o cara viu o corpo de Reese.
Parker riu.
— Você recebeu essa quando uma garota loira disparou uma
arma. Nunca te vi tão bravo. Se Isaiah não o tivesse segurado, você teria
surrado seu namorado por deixá-la tocar uma arma sem treinamento.
Reese assentiu, mas não comentou. Ele ergueu a ponta do calção e
tocou uma linha de pele avermelhada na perna.
— Tenho uma cicatriz na minha coxa. — Afirmou.
Parker estudou a linha grossa.
— O acidente de carro rasgou seu músculo?
— Foi isso o que aconteceu? — Perguntou Lee. — Reese esteve num
acidente automobilístico?
Roman respondeu à pergunta do homem.
— Ele estava numa van Uber quando o veículo foi atingido por um
caminhão de bombeiros.
O rosto do homem empalideceu.
— Estou surpreso que ele tenha sobrevivido. — Comentou Lee.
— O relatório da polícia afirmou que ele foi ejetado do veículo antes
que a van explodisse em chamas. — Disse Roman.
— Lee, precisamos ir para casa. — Disse Reese. — Temos que voltar
e dizer adeus ao sol.
— Estou surpreso que ele tenha sobrevivido.
— O relatório da polícia afirmou que ele foi ejetado da van antes que
explodisse em chamas. — Disse Roman.
— Lee, precisamos ir para casa. — Interrompeu Reese. — Temos que
voltar e dizer adeus ao sol.
A voz de Reese tremia e seus dedos se torciam na bainha de seu
short, esmagando o material. A frustração e a preocupação de Morgan
duplicaram quando viu que a mão esquerda de Reese não conseguia agarrar
nem torcer o pano tão forte quanto a mão direita. Sua raiva brotou. Por que
estavam parados sem fazer nada? Reese precisava de cuidados médicos. Eles
eram uma equipe que ganhava a vida resgatando pessoas, e ninguém estava
apressado em ajudar um dos seus.
A situação tornou-se surreal quando Lee voltou-se para Roman e
disse:
— Reese precisa de algum tempo. Vou te dar meu endereço. Por que
não vêm mais tarde, hoje à noite? Eu acho que estar em um ambiente que ele
está acostumado vai tornar mais fácil para ele conhecê-lo melhor e tomar
algumas decisões.
Morgan tinha certeza de que todos deveriam estar brincando. Por que
Roman não discutiu?
— Ele embola as palavras e tem um dano cerebral. — Explodiu
Morgan. — Ele não pode tomar decisões. Precisa estar em um hospital.
Lee correu para Morgan e ficou bem na sua cara.
— Foda-se. Não se incomode em aparecer na minha casa hoje à
noite. Você não é bem-vindo.
— Afaste-se. — Morgan disse com um rosnado. — Ou vou te fazer se
afastar.
— Você pode tentar. — Desafiou Lee.
A emoção e a exaltação aumentaram. Morgan queria a oportunidade
de derrubar o homem.
— Chega. — Roman empurrou seu enorme corpo musculoso entre os
homens, forçando-os a se separar. — Eu concordo que Reese precisa de um
pouco de tempo para chegar a um acordo com a gente encontrando-o. —
Roman sorriu para Reese. — Vamos levar sua comida chinesa favorita e
comemorar.
Morgan tentou acalmar-se enquanto observava seu chefe jogar
legal. Ele não concordava com as ações atuais do homem, mas o respeitava e
seguiria seus desejos.
— Reese não se importa com comida chinesa. — Disse Lee. — Nós
tentamos várias vezes e ele não achou nenhum prato favorável.
A declaração de Lee não fez sentido para Morgan.
— Isso é estranho. — Morgan comentou. — Reese nunca poderia ter
o suficiente de chinesa antes.
— Na verdade, esse fenômeno não é incomum. — Afirmou Parker. —
O cérebro é uma maravilha que não entendemos completamente. As pessoas
respondem de maneiras diferentes após ferimentos na cabeça. Alguns mudam
hábitos alimentares, outros, suas escolhas de roupas. Questões de raiva e
depressão podem ser um problema.
Morgan olhou para o estranho que, em sua opinião, não estava
cuidando adequadamente de Reese.
Ele não conseguiu conter o desprezo quando disse:
— Eu diria que Reese não é o único com problemas de raiva
Lee avançou em direção a Morgan, e seu coração começou a bater
em antecipação. Sim!
— Eu vou te mostrar alguns problemas. — Disse Lee
Reese colocou a mão no braço de Lee, e Morgan não podia acreditar
quando Reese disse:
— Não sei qual é o problema dele, mas quero ir para casa.
Lee cobriu a mão de Reese e sorriu para ele.
— Tudo bem, luz do sol.
Morgan viu tudo vermelho. Todo o seu corpo congelou com dor,
atordoado com o amor incrível entre seu amigo e amante, e o outro homem. O
que estava acontecendo? O cara deve estar aproveitando da confusão de
Reese. Se ninguém mais pudesse resolver esta situação, ele faria.
Antes que Morgan pudesse afastar Reese, uma mão firme agarrou
seu braço e o girou. Olhos castanhos. Olhos castanhos, intensos e
achocolatados, olharam para ele. Sua mente registrou o cabelo loiro-escuro
com surpreendentes pontas douradas. Seu olhar se instalou em lábios firmes
enterrados no meio de um pequeno bigode e uma rala barba loiro-escuro.
Quem diabos era aquele cara?
Morgan tirou o braço do alcance do homem. Isso não durou muito. O
sujeito agarrou seus ombros e empurrou-o para trás.
— Ei! — A objeção de Morgan poderia ter sido dirigida a um muro por
toda a atenção que recebeu.
Morgan levantou os braços e tentou derrubar as mãos dos
ombros. As mãos não se moviam, o dono continuava empurrando-o de volta.
— Você precisa se acalmar, doce. — Advertiu o homem.
Morgan foi interrompido abruptamente pela casca áspera de uma
árvore contra suas costas. O fato de ter que erguer os olhos para olhar para o
homem acrescentou muito ao seu temperamento já fumegante. O homem
podia ser alguns centímetros mais alto do que ele, mas neste momento a
frustração, a ira e uma enorme quantidade de dores o estimularam ao limite
do controle.
— Deixe-me ir! — Morgan tentou afastar o homem, mas só encontrou
um peito duro e musculoso. — Quem diabos é você?
— Meu nome é Tatum Janis. — O homem pressionou os ombros de
Morgan contra a árvore antes de se inclinar e colocar seus lábios ao lado da
orelha de Morgan. — Sou o homem que o virará sobre o joelho e espancará
sua bela bunda, até que ela brilhe, para ajudá-lo a recuperar sua compostura.
Não se preocupe, doce, vou lamber suas lágrimas.
Através de dentes cerrados, Morgan ordenou:
— Não me chame de doce.
— Ah, mas sob todos esses espinhos, tenho certeza que você é doce
como uma torta.
Morgan não pensou duas vezes e atacou o homem, feliz em estragar
um pouco aquele rosto bonito. Seu punho bateu na palma do homem. Merda,
o cara era forte. A ira de Morgan desinflou.
A exaustão penetrou profundamente em seus ossos.
Tatum puxou Morgan em seu abraço, e Morgan o deixou. Os arrepios
de consciência levantaram ondas sobre sua pele. Morgan queria correr e gritar
no topo de seus pulmões. Queria usar cada movimento de combate corpo-a-
corpo que conhecia e colocar aquele cara no chão.
Em vez disso, pousou sua testa contra o ombro do homem. A
aceitação de um estranho depois de ser rejeitado por todo homem em sua vida
colapsou sua ira, deixando sua alma quebrada e atraiu-o para os braços de um
desconhecido.
Uma pequena parte de Morgan se rebelou em ser tão carente, mas
neste momento, não tinha forças para protestar.
— É isso, doce. — Dedos massagearam a parte de trás do pescoço de
Morgan. — Relaxe. Queimou suas pontes no que diz respeito a Lee. Ele falou
sério quando disse que não é bem-vindo em sua casa esta noite. Enquanto sua
equipe está visitando Reese, você e eu podemos sair para jantar e nos
conhecer melhor.
Morgan olhou nos olhos do outro homem e tentou não se afogar em
suas profundidades quentes. Depois de um momento, Tatum deixou-o pisar
para o lado, fora de seus braços. Um rápido olhar lhe mostrou que a equipe o
tinha deixado na praia.
— Tenho que ir.
— Você está tentando correr. — Tatum correu a ponta do dedo pelo
lado da bochecha de Morgan, arrastando-a pela barba curta. — Estarei em seu
hotel esta noite, às sete. Conheço um ótimo lugar que serve um excelente bife
e cerveja gelada.
Morgan franziu a testa.
— Como sabe onde estou hospedado?
— Sou aquele que chamou Roman e disse-lhe que Reese estava aqui
em San Clemente.
Morgan deu outro passo à distância.
— Você é o paramédico.
Sim, havia uma acusação nessa frase. Morgan detestou que falhou ao
encontrar Reese. Ele se perguntou se, de alguma maneira tentasse mais,
teriam encontrado Reese mais cedo.
— Sou. — Disse Tatum. — Conheci Roman e alguns dos caras da sua
equipe num seminário no ano passado. Você não estava lá. Me lembraria de te
ver.
Morgan afastou uma imagem de Tatum de pé atrás dele, segurando-o
contra uma parede enquanto violava seu traseiro. Não podia se dar ao luxo de
dar mais uma chance a alguém. Mesmo Reese, sólido e respeitável, acabou por
rejeitá-lo por algum vendedor de cachorro-quente, pequeno e desagradável.
O coração de Morgan não teria chance com esse garoto mal.
— Tenho que ir antes que os caras partam sem mim. — Morgan
virou-se e começou a caminhar em direção ao estacionamento.
— Estarei lá às sete. — Gritou Tatum.
Morgan não respondeu.
Às sete horas daquela noite, não estava nem perto do hotel. Foi a um
bar distante e bebeu cerveja até bem depois das onze. Quando ele e a equipe
voltaram para Los Héroes, Morgan conseguiu manter alguns pedaços de seu
esfarrapado coração seguro.

****
Dois meses depois

Morgan desejava que Jimmy se apressasse e superasse a gripe. Ele


odiava ter que lidar com toda a documentação gerada pelo Resgate Contratado
do Oeste. Não tinha certeza por que ele sempre tinha que assumir o escritório
quando Jimmy não podia.
Talvez fosse hora de construir uma caixa de sugestões. Morgan seria
o primeiro a sugerir a contratação de um assistente de escritório em tempo
parcial.
O mais recente pedido de Roman o fez querer arrancar seus cabelos.
Passar por currículos para um novo médico rasgou seu coração. O mundo
deveria se endireitar e Reese deveria estar ali novamente. Parecia que Roman
não iria esperar que isso acontecesse e pediu a Morgan que lhe enviasse os
currículos de possíveis candidatos para o trabalho.
Culpa sentou-se no ombro de Morgan e cutucou-o com suas farpas.
Um nome em um currículo parecia familiar. Quando Morgan leu o currículo
bem elaborado, percebeu que o amigo de Lee, Tatum Janis, enviara seu
currículo. Depois de examinar as qualificações do homem, sabia que o cara era
perfeito para o trabalho.
Morgan iria dar o currículo de Tatum a Roman? De jeito nenhum. Ele
pode ter visto o homem apenas uma vez depois de chegar à praia para
encontrar Reese, mas aquela curta reunião foi suficiente.
O cara praticamente prendeu Morgan em uma árvore e ameaçou
bater em sua bunda se não se acalmasse.
Não, Tatum não estava chegando perto do Resgate Contratado do
Oeste.
Apertando o botão Enviar em seu computador, Morgan suspirou de
alívio por ter feito esse trabalho. Ele só podia esperar que Jimmy assumisse o
controle antes que Roman terminasse de ler os currículos medíocres que
Morgan lhe enviara.
Vinte minutos depois, o telefone de Morgan apitou. Suspirando, ele
ativou a tela e leu a mensagem de Roman.

Vou te dar uma hora para tirar sua cabeça da bunda e me enviar
alguns currículos que valham o meu tempo.

Num ataque de mau humor, Morgan jogou a caneta pelo escritório.


Porra, merda, porcaria.
Por que tinha que ter um chefe com um sexto sentido que sempre
sabia quando estava escondendo algo dele?

Capítulo Dois

Tatum estacionou sua motocicleta num estacionamento à beira de


San Onofre State Beach. Ele tinha algum tempo antes de seu turno começar
nos Serviços Médicos de Emergência de San Clemente. Depois de desligar o
motor, tirou o capacete e sacudiu os cabelos do ombro. Gozou da liberdade de
deixar o cabelo solto, sabendo que em breve teria que cumprir as regras de
seu trabalho e prendê-lo de volta na nuca.
Não havia verificado seu amigo Lee ou o parceiro de Lee, Reese, por
um tempo. Ser um paramédico na cidade de San Clemente, no auge da
temporada turística, significava trabalhar longas horas extras, depois cair na
cama para pequenas pausas entre os turnos.
Tatum seguiu o caminho em direção à praia em uma dupla missão:
amigos e sustento. Seu estômago grunhiu em antecipação ao ver o carrinho de
hot-dog de Lee. Um cachorro-quente com todas as fixações e ketchup extra
seria o ideal agora.
— Ei, Tatum... — Lee gritou enquanto caminhava. — Como está indo?
— Ah, reclamar não me levaria a lugar algum. — Respondeu
Tatum. — Como estão as coisas com você e Reese?
Lee acenou com a cabeça para a praia, onde um loiro alto segurando
uma bolsa de plástico branca conversava com alguns adolescentes. O loiro,
Reese, pegou a bolsa e entregou a cada jovem um cachorro-quente cheio de
molho.
— Ele está ficando mais forte à medida que o tempo passa. — O rosto
bonito de Lee se iluminou com um sorriso. — Quando Reese está feliz, estou
feliz.
— Sua felicidade é aparente, meu amigo. Quando é o casamento?
Lee escolheu propor quando o sol se pôs sobre o oceano. Tatum
estava lá e viu Reese, com lágrimas nos olhos, aceitar o anel de Lee e um
futuro juntos.
Linhas fracas apareceram na testa de Lee enquanto suas
sobrancelhas se uniam. O olhar do homem nunca deixou a forma de
Reese. Um dia, Tatum queria experimentar esse tipo de necessidade para
proteger seu interesse amoroso. A imagem de Morgan veio à sua mente. Sim,
pegar e manter aquele homem seria um desafio.
— Vamos esperar e ver se há alguma melhoria com a memória de
Reese e tentar continuar fortalecendo seu lado esquerdo. — Disse Lee. — Ele
começou a terapia de fala. Seu objetivo é dizer “ eu aceito” no nosso
casamento sem problemas.
— Sua compreensão de tempo e números melhorou? — Ele sabia que
Reese tinha sido um médico brilhante no campo, mas agora, às vezes, era
reduzido a uma compreensão infantil. As lesões cerebrais eram uma puta e
poderia acontecer com qualquer um. — E as letras? Ele pode ler alguma coisa?
— Sabe que há muitas pessoas no mundo que não conseguem ler,
nem reconhecer números e letras. — Defendeu Lee.
— É verdade. — Tatum teve que concordar com esse fato. — Mas
Reese teve uma lesão cerebral. Acho fascinante assistir e ver se seu cérebro
pode compensar de maneira diferente.
— Ele não é um rato de laboratório. — Lee grunhiu e seu rosto corou.
Tatum sabia que devia recuar. O temperamento de Lee era
lendário. Mas ele tinha uma última pergunta.
— Como estão as convulsões? — O curador em Tatum entendia as
ramificações dessas falhas do cérebro. Quando Lee sorriu, a preocupação de
Tatum diminuiu.
— Elas se estabeleceram em cerca de uma a cada semana ou duas. —
Lee encolheu os ombros. — Pelo menos, pelo que observei. Elas não parecem
durar tanto quanto costumavam.
— Acho que você saberia. — Provocou Tatum. — Vocês dois são
colados juntos vinte e quatro horas.
O olhar de Lee descansou sobre Reese, que ainda tinha os
adolescentes envolvidos em uma conversa.
— Eu não gostaria de outra maneira.
Tatum sabia que Reese sentia o mesmo. Ele não queria estar além de
Lee e na praia, com seu amado sol brilhando sobre ele.
Tatum estudou as roupas enrugadas e sujas dos adolescentes. O
cabelo despenteado e os ombros caídos adicionaram às suas conclusões da
situação.
— Ele ainda está coletando fugitivos?
Um aviso surgiu no tom de Lee.
— Ele está fazendo o seu melhor para ajudar numa situação trágica,
e eu o apoio inteiramente.
Tatum levantou as mãos em rendição.
— Ei, concordo, é uma ótima causa. — Tatum riu. — Então, quando
vai comprar uma casa maior para aqueles que acabou levando para casa?
— Cale a boca e encha sua boca com isso. — Lee entregou a Tatum
um cachorro-quente recheado do jeito que gostava. Ele tomou uma mordida e
levantou uma sobrancelha, exortando Lee a confessar. Não demorou muito. —
Tudo bem, talvez a casa vizinha tenha ido à venda, e tive dificuldade em
deixar Reese sair uma vez que viu o seu interior.
Com medo de engasgar com seu cachorro-quente, Tatum absteve-se
de rir. Seu amigo adorava o ex-desabrigado e faria qualquer coisa por
ele. Mesmo uma lesão cerebral causada por um acidente de carro não
conseguiu evitar o amor profundo entre eles. Tatum queria esse tipo de
conexão com alguém. O rosto de Morgan voltou a sua mente.
— A venda de cachorros quente deve ter aumentado, se pode pagar
uma casa maior localizada tão perto da praia. — Comentou.
Lee havia dito uma vez a Tatum que havia alcançado um acordo
substancial com a cidade para a qual trabalhava quando uma operação secreta
deu errado. O homem não era um grande gastador e investiu seu dinheiro.
Tatum suspeitava que Lee vendia lanches porque gostava e dava-lhe
algo para fazer todos os dias, para não mencionar que era bastante
lucrativo. Mas, como amigo, Tatum fez a pergunta para garantir que Lee
estava bem financeiramente.
— Sabe tão bem quanto eu que ganho muito dinheiro vendendo
cachorros-quentes. — Lembrou Lee. — Reese quer pagar metade da
casa. Comprar o lugar não será um problema.
— Isso tem que ser uma situação complicada. — Tatum tentou
envolver sua mente em torno do que poderia ser um enorme dilema. — Ele
não consegue compreender o dinheiro. Ele poderia estar oferecendo algo que
não tem.
Lee riu e balançou a cabeça.
— Imagine minha surpresa quando Roman me entregou os extratos
bancários da Reese e o portfólio de investimentos. O Resgate Contratado do
Oeste pagou bem à Reese, e parte do pacote de benefícios é um extraordinário
assessor financeiro. Reese pode viver bem e nunca mais tem que trabalhar
outro dia em sua vida. A menos que algo dramático ocorra, nenhum de nós
terá problemas financeiros e, juntos, temos a liberdade de escolher o que
queremos fazer todos os dias.
Ok, aquilo foi uma surpresa. Tatum não poderia estar mais feliz por
Lee e Reese. Eles teriam uma estrada desafiadora à frente deles, e a falta de
preocupações com o dinheiro tornaria suas vidas um pouco mais fácil.
— Parece que você lidou com as coisas. — Comentou Tatum. — Bom
para você.
O olhar de Lee percorreu a camisa branca e a calça preta de Tatum.
— Vejo pelo seu uniforme que está a caminho do trabalho.
— Sim. — Tatum franziu o cenho. — Os responsáveis decidiram
atribuir a todos os EMTs turnos de quarenta e oito horas para o restante da
temporada turística, para acompanhar a demanda por serviços de emergência.
— Disse ele, repetindo o memorando que recebeu.
— Droga. — Comentou Lee. — Pensei que seus turnos de vinte e
quatro horas eram brutais. É hora de sair daqui, meu amigo.
— Enviei alguns currículos. — Admitiu Tatum. — Tive uma entrevista,
mas seria apenas trocar uma cidade por outra. Se eu for fazer uma mudança,
desta vez quero que o trabalho use minhas habilidades ao máximo.
— Você solicitou a antiga posição de Reese no Resgate Contratado do
Oeste? Roman quer que seja preenchida o mais rápido possível.
Tatum enviou a Lee um olhar afiado.
— Como sabe disso?
Lee deu de ombros.
— Reese ainda fala com alguns da equipe.
Tatum se perguntou se uma dessas pessoas com quem Reese
conversava era Morgan. Ele pensou que a comunicação entre os dois não fosse
boa. Sob esse exterior espinhoso, havia um ser humano vulnerável.
Ele viu a dor de Morgan de primeira mão quando Reese escolheu
Lee. Tatum suspeitava que houvesse algo entre eles.
— Enviei um currículo. — Admitiu Tatum.
O olhar de Lee estreitou enquanto procurava o rosto de Tatum.
— Ligou para o número que eu dei?
Tatum deslocou-se sob o súbito escrutínio de Lee. Fale sobre sentir
como se fosse um germe no microscópio.
— Tenho trabalhado muito. — Isso soou tão coxo, e ele percebeu no
momento em que as palavras saíram de sua boca.
— É a sua vida. — Lee entregou a uma jovem mulher um cachorro-
quente antes de receber seu dinheiro. — Não o culpo por deixar esse ir.
Tatum levantou-se, pronto para dar uma boa parte de sua mente a
Lee. Suspirando, sentou-se, sabendo que acabara de engolir a isca que Lee
jogou.
Maldito fosse o homem.
Tatum deveria ser o pensador dos dois amigos.
— Preciso de mais do que cinco minutos quando entrar em contato
com Morgan. — Tatum empurrou os dedos pelos cabelos. — Quero que
entenda e acredite que não vou brincar com ele.
Lee entregou a Tatum outro cachorro quente embrulhado.
— Veja. Não sou fã do homem, mas se acha que ele vai fazê-lo feliz,
digo boa sorte. Se as coisas não funcionarem, volte aqui para seus amigos. —
Um canto dos lábios de Lee levantou. — Sempre posso configurá-lo com seu
carrinho de cachorro-quente.
— Eu vou lembrar. — Ele bateu os nódulos no balcão do carrinho e
levantou-se. — Tenho que trabalhar. Vou parar e conversar com Reese nos
próximos dias.
— Quando quiser. — Lee gritou quando Tatum se afastou com seu
cachorro-quente. — Não deixe o trabalho chegar até você.
Tatum pensou sobre essas últimas palavras, sete horas depois, após
atender a emergências de saúdes incessantes. Agora, na última chamada, ele
só podia ficar parado, congelado fixo no lugar.
— Alguma ideia?
De alguma forma, Tatum afastou o olhar do espetáculo a sua frente e
olhou para o seu parceiro. Os olhos de Rod estavam enormes. Tatum imaginou
que seus próprios olhos deveriam ter a mesma expressão de cervos nos faróis.
— Não tenho ideia. — Admitiu. Ele tinha a sensação de que gostaria
de esfregar os olhos com alvejante após essa chamada.
— Vocês dois vão nos ajudar ou simplesmente ficar aí? — Gritou a
mulher mais velha.
Tatum e Rod se empurraram. Se pudesse ter outro desejo, Tatum
esperava que o universo estivesse ouvindo e concedesse sua oração silenciosa
para que a mulher não voltasse a falar em sua presença. Pelo menos não
enquanto estivesse seminua e naquela posição.
— Isso está te excitando? — Tatum murmurou do lado de sua boca.
— Tanto quanto as boas penduradas do velho estão te deixando duro.
— Murmurou Rod.
Tatum estremeceu. Ele se perguntou em quantos problemas estariam
se saíssem correndo pela porta.
A mulher tentou olhar por cima do ombro para eles. Isso não seria
fácil; teria de dobrar quase pelo meio.
— Sei que está aí. Se sair, terei seus empregos no segundo em que
estiver livre.
Por um momento, Tatum se perguntou se não ter que se aproximar
dessas duas pessoas valeria a pena perder seu emprego.
Rod, homem corajoso que era, andou mais para dentro da cozinha e
ficou de pé ao lado do casal.
— Recebemos uma chamada de uma mulher com problemas
respiratórios e um coração acelerado.
Tatum tossiu para cobrir suas risadas na fachada profissional de
Rod. Como o homem manteve uma cara séria, enquanto olhava para uma
mulher nua debruçado sobre uma pia de cozinha, os seios grandes como bolas
de basquete, estava além dele.
Ok, ela não estava completamente nua. Ela, de alguma forma,
manteve o equilíbrio num par de pernas finas que terminavam em sandálias de
salto alto.
— Minha mão está presa no ralo da pia, e não posso tirá-la. — A
mulher puxou o braço e gemeu de dor. — É claro que meu coração está
acelerado. Ernie está preso também. Você tem que tirá-lo de lá antes que Sally
fique desconfiada e começa a procurar por ele.
Rod franziu a testa, e Tatum descobriu que a mulher havia
confundido seu parceiro com sua explicação. Ele, por outro lado, suspeitava
que sabia o que estava acontecendo.
Depois de definir para baixo o seu kit médico e puxar um par de
luvas de látex, Tatum foi até a mulher e examinou a situação. Sua mão, quase
até o pulso, desaparecia no ralo da pia. Em torno de seu pulso haviam duas
pulseiras com pingentes pendurados nelas. Todos os dedos da outra mão
continham um anel decorado com pedras maciças. Tatum tinha descoberto no
passado que joias e pias não se misturavam bem.
Tatum começou com perguntas básicas.
— Tem alguma dor?
Com as respostas certas, ele e Rod estariam fora de lá em segundos.
— Sim, minhas costas estão me matando. — Respondeu a mulher. —
Estou presa, debruçada sobre uma pia, claro que tenho dor.
Tatum fez uma careta de simpatia. Percebeu que o seio naquela
posição também deveria doer.
— Não vejo nenhum sangue ao redor da borda de drenagem. —
Tatum comentou. — Você sente alguma dor na mão... Senhora...
A mulher dirigiu um sorriso radiante na direção de Tatum.
— Pode me chamar de Daphne.
— Outra tentando encantar o cara gay. — Rod murmurou.
— Daphne. — Tatum limpou a garganta e piscou. De perto, o perfume
da mulher dominava seus sentidos. — Pode me contar o que aconteceu? É sua
mão que está presa no ralo, ou são seus dedos encravados no tubo menor?
— Minha linda borboleta nova que Ernie me deu caiu no triturador de
lixo. Quando fui retirá-la para fora, um dos meus anéis prendeu em alguma
coisa. — A mulher respirou, e seus seios saltaram, como se fossem as grandes
rochas de Gibraltar. — Ernie se arrastou sob a pia para me soltar, mas, sua
mão ficou presa em alguma coisa lá embaixo.
Euforia borbulhou em sua mente. Tinha encontrado a solução para
obter o inferno fora de lá.
— Senhora, você precisa chamar o corpo de bombeiros. — Tatum
aconselhou. — Eles são os únicos que podem ajudá-la.
Ernie se deslocou ao redor e gritou:
— Não, não, não! Meu cunhado é um bombeiro. Ele não pode me
encontrar aqui assim. Ele não pode me encontrar aqui.
Seus gemidos aumentaram. Sua fuga se desintegrou no vento. Tatum
estudou o velho magro. Adivinhou que Ernie deveria ter pelo menos setenta e
se perguntou por que, na sua idade, iria colocar-se nesta situação. Franzindo a
testa, Tatum caiu de joelhos, preocupado com o tom cinzento e suor
revestindo o corpo trêmulo do velho. Tocou o ombro de Ernie e encontrou sua
pele gelada.
— Senhor, precisa se acalmar. — Tatum usou um tom suave. —
Deixe-me ver se posso libertá-lo, enquanto Rod o cobre com um cobertor para
aquecê-lo.
— Obrigado. — Ernie tentou olhar para Tatum sobre o braço
estendido. — Não estou me sentindo muito bem.
— É claro que não está. — Disse Daphne. — Você nunca está depois
de bater para baixo quatro Viagras.
Tatum encontrou o olhar de Ernie e tentou o seu melhor para não
olhar para a região da virilha do homem. Certo, algumas chamadas eram
simplesmente estranhas.
Ele se esforçou para manter seu tom profissional e perguntou:
— Sabe há quanto tempo ingeriu o Viagra?
Ernie olhou para o relógio na parede.
— Quarenta e cinco minutos.
Ok, então Ernie deve estar pronto para alguma, hum, ação a
qualquer momento dentro da próxima meia hora ou algo assim.
— Tirem-me daqui! — Daphne bateu seus pés.
A mulher poderia ser descrita como cheia de curvas, para dizer o
mínimo, e com mais de cinquenta anos, a gravidade tinha tomado o seu
pedágio. Tatum teve que lutar para não fechar os olhos.
— Senhora, vamos tentar o nosso melhor. — Rod tentou apaziguar
Daphne, enquanto cobria Ernie com um cobertor de primeiros socorros. — Dê-
nos alguns momentos para avaliar se podemos ajudá-lo.
— Bem, se você se apressasse seria melhor. — A mulher bufou. —
Sabe quanto custam essas pílulas?
Tatum mal resistiu, revirando os olhos, exasperado. Inclinando-se
para frente, olhou através da dupla abertura do grande armário. Ele viu que
Ernie tinha separado o tubo do depósito de lixo e retirado a metade inferior do
aparelho. Os dedos do homem desapareceram dentro do buraco onde o tubo
foi conectado. Tatum apoiou uma mão no chão e usou a outra para seguir o
braço fino de Ernie até o pulso.
Ele fez uma pausa, em seguida, perguntou:
— Pode ficar firme em sua mão e joelhos, enquanto tento ver como
está preso, ou devo encontrar algo para que se apoie?
— Estou bem. Basta fazer o que tem que fazer. — Uma trilha de suor
escorreu pelo lado do rosto pálido de Ernie.
Tatum estremeceu ao uso da palavra de Ernie “bem”. As pessoas
nunca estavam bem quando diziam essa palavra.
— Vejo três dedos dentro do cano. — Tatum estendeu a mão e com
cuidado deslizou seu dedo ao lado dos de Ernie. — Todos os seus dedos estão
presos?
— Não, acredito que minha aliança está presa em alguma coisa. —
Ernie afirmou. — Tentei libertá-la, mas agora está tão apertada que está
cortando meu dedo.
Daphne bufou.
— Você deveria ter abandonou essa coisa e a mulher com ela há
muito tempo.
— Agora, bebê... — Ernie lamentou. — Não comece.
— Só estou dizendo. — Daphne respondeu antes de abordar Rod. —
Cuidado, querido, você não quer arranhar minha joia preciosa.
— Quantos anéis você está usando?
Tatum virou o rosto para Ernie assim o velho não iria ver o seu
sorriso pela exasperação na pergunta de Rod. Feliz não poderia começar a
descrever a sua euforia que Rod estava lidando com Daphne.
— Tenho um anel em cada dedo. Amo joias.
— Posso atestar isso. — Ernie comentou.
— Ernie, querido... — A doçura na voz de Daphne fez Tatum
engasgar. — Acho que devemos chamar Sally e ver se ela gostaria de
comparar nossas joias. Acha que meus diamantes são maiores do que os dela?
Tatum mordeu o lábio para impedir de deixar escapar um: aposto
que seus peitos são.
Ao lado dele, Ernie murmurou:
— Siga o meu conselho, filho. Acabe com as promessas de juventude
antes de pegar o amor de sua vida. Caso contrário, o estresse vai matá-lo.
— Você disse algo, Ernie? — Daphne chamou.
— Nada, bebê.
— Não penso assim.
Tatum renovou seus esforços para descobrir no que a aliança de
Ernie estava presa. Pesquisando por sensação, detectou uma cavilha em forma
de L pressionada entre o dedo de Ernie e o anel. Uma outra parte mais
espessa e curva de metal arqueado sobre a extremidade da cavilha, impedindo
Ernie de puxar o seu anel livre.
Depois de virar de costas, Tatum disse:
— Ok, Ernie. Vou levantar a palma de sua mão para cima e para os
lados. Isso deve torcer o dedo em um ângulo. Espero que isso vai funcionar e
deixar seu anel livre.
— Por favor, depressa. — Ernie pediu. — Temo que meu braço esteja
ficando cansado, meu jovem.
Tatum redobrou seus esforços. Quando começou a considerar o
pensamento de chamar os bombeiros apesar das objeções de Ernie, a aliança
escorregou através da pequena abertura.
Agora que a pressão em seu braço se foi, Ernie começou a entrar em
colapso. Tatum puxou para fora de seu lado do armário, agarrou o homem
pelos ombros, e guiou-o até que estava deitado de costas.
Tatum inclinou-se e perguntou:
— Você está bem, Ernie?
Ele observou que as bochechas de Ernie estavam coradas e seus
olhos tinham um olhar vidrado sobre eles. Tatum suspeitava que os efeitos do
Viagra estavam chutando.
Ernie se abaixou e ajustou o cobertor térmico sobre sua virilha.
— Estou bem. — Ele respondeu, olhando para tudo em volta, menos o
rosto de Tatum.
Depois de examinar o dedo de Ernie e encontrar apenas uma
pequena quantidade de vermelhidão na pele em torno do anel, Tatum abriu a
caixa e encontrou um medidor de pressão arterial. Tomou os sinais vitais de
Ernie, e manteve um olho em Rod, curvado sobre a pia, com muito de pele nua
de Daphne pressionada firmemente contra o seu lado.
— Consegui! — Rod levantou a mão de Daphne no ar.
Tatum observou que a mulher segurava um pingente de borboleta
colorida na mão. Ele suspirou de alívio. Ele suspeitava que Daphne teria
exigido que pagassem a joia se tivesse sido deixada para trás.
Dez minutos depois, Tatum e Rod não podiam sair pela porta rápido o
suficiente. Atrás deles, uma Daphne mais alta foi cercada no abraço minúsculo
de Ernie, enquanto cochichava e ria em seu ouvido.
Tatum tentou esquecer a visão de que os efeitos do Viagra tinham
chutado.
Rod pegou o equipamento de Tatum.
— Vou guardar isso. É sua vez de dirigir.
Tatum sorriu para o rosto pálido de Rod e o conjunto duro de sua
mandíbula. Alguns casos assustavam um EMT o suficiente para que, após a
excitação acabar, precisasse de alguns minutos para reunir a
compostura. Parecia que Daphne tinha atingido Rod.
Quando se acomodou atrás do volante, seu telefone tocou.
— Olá.
— Aqui é Roman Marshall do Resgate Contratado do Oeste. Estou
procurando Tatum Janis.
Puta merda! Tatum sentou-se em linha reta.
— Aqui é Tatum. Como está, Roman?
— Estou bem. Olhei sobre seu currículo e quero saber se consideraria
vir até a sede do Resgate para uma entrevista? Vamos ver... Que tal na
próxima quinta-feira? Claro, vou cuidar de suas despesas de viagem.
Tatum podia sentir um sorriso enorme se espalhando por todo seu
rosto. Ele trabalhou duro para manter seu tom calmo e firme.
— Próxima quinta-feira seria ótimo. Estou ansioso para uma reunião
com você.
— Parece bom. Vou te enviar a passagem.
Mais conversa ocorreu depois disso, mas em sua excitação, Tatum
perdeu toda lembrança do que foi dito. Após a conversa terminar, com o
coração ainda acelerado, Tatum ergueu o braço e deu um soco no ar.
— Sim!
— Uau. Eu diria que acaba de receber uma grande notícia. — Rod
comentou. — Você mencionou quinta-feira ser um bom dia para ver
alguém. Odeio estourar sua bolha, mas tem um turno de setenta e duas horas
programadas, e na quinta-feira, estará no meio dele.
Raiva e frustração o atingiram. Um turno de setenta e duas horas
tinha que ser contra algum tipo de regra em algum lugar.
— Rod, posso garantir que não vou estar sentado numa ambulância
na quinta-feira. — Prometeu.
Tatum ligou o veículo e acelerou, quando outra chamada de
emergência veio pelo rádio.

Capítulo Três

— Morgan!
Morgan se ajoelhou e estendeu os braços. Nunca em sua vida se
sentiu tão cheio de alegria como quando Kevin o olhou com total confiança e
felicidade. O menino lançou-se no ar. Morgan pegou o garoto de quatro anos
de idade, e balançou-o num círculo. Braços finos abraçaram o pescoço de
Morgan apertado. O amor por aquela criança o encheu de lágrimas, até que a
emoção se tornou quase grande demais, e ele pensou que iria explodir.
Kevin se inclinou para trás e segurou as bochechas de Morgan com
suas pequenas mãos.
— Sra. Peterson diz que posso ficar com você por um par de dias. Eu
quero ficar para sempre.
— Estou trabalhando nisso, amigo. — Morgan fez questão de
encontrar o olhar de Kevin para mostrar que quis dizer o que disse. Adultos
tinham decepcionado aquela criança de muitas maneiras, e Morgan não seria
um deles.
Morgan virou-se para a atual mãe adotiva de Kevin, que estava
andando pela calçada em direção a ele. Ele gostara da mulher de quarenta
anos desde a primeira vez que a conheceu. Ele observou o saco de lixo preto
que ela carregava. Morgan prometeu substituir o saco por uma mochila
ostentando o personagem de desenho animado favorito de Kevin. Em sua
opinião, o menino merecia o melhor.
— Estou feliz que esteja aqui. — Betty Peterson comentou. — Kevin
esteve olhando para fora da janela pela última meia hora. Está tão animado
para passar a noite com você.
Morgan abraçou Kevin.
— A menos que eu seja chamado para um resgate, nunca iria perder
um dos nossos encontros. E, com certeza, não iria perder o nosso primeiro fim
de semana juntos.
— Já teve alguma notícia? Você está mais perto de ser capaz de
mantê-lo? E quanto a sua mãe?
Morgan conheceu Kevin durante um resgate. O menino havia sido
sequestrado de seu jardim da frente, por uma quadrilha de tráfico de criança,
e foi vendido a um pedófilo. Instintos protetores o chutaram no momento que
viu Kevin, e formaram uma conexão instantânea. Kevin falou sobre a mãe,
mas não poderia dar-lhes qualquer informação pertinente para ajudar a
descobrir onde ele morava. Sabia que seu nome era Kevin Jackson e que
estava brincando em seu quintal quando um homem o pegou e jogou-o num
carro. Até agora, seu nome não tinha aparecido em nenhuma pesquisa sobre
crianças desaparecidas. Morgan se perguntou por que não foi ensinado um
endereço básico a Kevin. O garoto era esperto o suficiente.
Quando o Serviço de Bem-Estar da Criança foi chamado para levar
Kevin para longe, Morgan estava pronto para bater cabeças juntas. Ele sabia
quão brutal algumas dessas casas poderia ser. Sob a orientação de Roman,
Morgan solicitou uma licença de assistência social e frequentou aulas de
parentalidade. A fazenda e todos os caras passaram por controles e visitas dos
agentes designados para avaliar se o ambiente era um lugar adequado para
criar filhos. Após mais de um mês de saltar através de aros, Morgan estava
perto de trazer Kevin para casa por mais do que um fim de semana.
— Devo ser nomeado pai adotivo de Kevin e ser capaz de mantê-lo
em Los Héroes dentro da próxima semana ou duas. — Morgan colocou Kevin
no chão. O menino agarrou sua mão. — Ainda estou trabalhando com a polícia
para tentar localizar sua mãe. Até agora todas as pistas que temos acaba por
ser um beco sem saída.
— Bem, boa sorte. — O sorriso da mulher alcançou seus olhos. —
Kevin é um bom menino. Só tem que estar ciente de que ele vagueia durante
a noite. Ele não me diz o que o está incomodando, mas suspeito que sejam
memórias ruins.
— Obrigado. — Morgan quis dizer isso. Ele apreciaria qualquer ideia
que pudesse ajudar Kevin.
Kevin puxou a bainha da camisa de Morgan.
— Podemos ir para a fazenda?
— Claro, pequeno. — Morgan bagunçou o cabelo loiro de Kevin.
Betty se inclinou e estendeu os braços.
— Até logo, Kevin. Divirta-se com Morgan.
— Há gatinhos e cachorros para brincar. — Kevin entrou no abraço da
mulher e disse: — Morgan me deixa montar Goldie. — O menino esticou os
braços acima da cabeça. — Ele é um cavalo grande.
— Parece que vai ser um menino ocupado. — Betty deixou Kevin ir e
olhou para Morgan. — Não acho que vai precisar, mas estou sempre disponível
se tiver qualquer problema.
— Obrigado. — Ele respondeu por cima do ombro quando Kevin
puxou-o pela calçada em direção a sua caminhonete.
Quinze minutos depois, Morgan parou a caminhonete num
estacionamento em frente da fazenda.
— Vou dar ao gato de Carson um biscoito. E vou segurar Bentley com
muito cuidado, porque ele é tão pequeno. Vou jogar a bola para Norman, e
vou...
Morgan assentiu para deixar o menino no banco de trás saber que ele
estava ouvindo sua conversa interminável. Às vezes, ele se perguntava quando
o garoto bonito tomaria folego.
Depois de desligar o motor, ele olhou no espelho retrovisor para a
criança que roubou seu coração. Quem diria que ele tinha um fraquinho por
cabelo loiro ondulado, grandes olhos azuis e sardas? Uma imagem de Tatum
passou por sua mente. Ok, talvez também sentisse algo por alto e loiro, com
olhos castanhos, como uma sombra de chocolate quente.
Kevin chutou seus pés e puxou as correias de seu assento de
criança.
— Vamos, Morgan. Temos coisas para fazer.
Morgan riu.
— Claro, amigo.
A hora seguinte foi um turbilhão de seguir Kevin em torno de Los
Héroes, enquanto cumprimentava cada ser humano e animal no lugar. Morgan
observou Kevin para qualquer sinal de medo em torno dos caras. De acordo
com relatórios do médico, o menino havia sido espancado e abusado
sexualmente. Até agora, Morgan só observou uma criança feliz explorando o
mundo ao seu redor.
— Morgan, venha ver.
Kevin se ajoelhou no chão, inclinou-se, e estava olhando para algo no
lado do celeiro. Morgan foi para trás do menino e viu o que fez Kevin vibrar de
empolgação.
— O que é isso?
Morgan amava o som da voz de Kevin.
— Isso é um camaleão. — Respondeu Morgan. — Ele se meteu em
dificuldades. Ele deve estar escondido em um arbusto para que um pássaro
não possa agarrá-lo para o jantar. — Os grandes olhos azuis de Kevin se
fixaram em Morgan.
— Temos que ajudá-lo.
— Ok, amigo. — Morgan se agachou e guiou a mão de Kevin na frente
do camaleão. — Coloque sua mão aqui e deixe-o arrastar-se para o seu
braço. Seus pés podem picar um pouco, mas ele não vai mordê-lo.
O camaleão de seis centímetros cooperou e se arrastou na mão de
Kevin. Ele não parou descansar até estar no antebraço da criança.
— Morgan, ele está em mim. — Kevin sussurrou e nunca desviou o
olhar do réptil em seu braço.
— Ele está. — Morgan descansou as mãos nos ombros de Kevin. —
Vamos levá-lo até a mata.
O menino andou com passos cuidadosos até um conjunto de
arbustos, durante todo o tempo sem tirar o olhar do camaleão. Depois de se
ajoelhar, Kevin enfiou o braço entre as folhas verdes.
— Olha, ele está se movendo... — Disse Kevin. — Ele está subindo em
uma folha. — Uma pequena ruga apareceu entre suas sobrancelhas, e seu
lábio inferior tremeu. — Ele não vai ser comido, vai?
Morgan se ajoelhou ao lado de Kevin. Ele queria dizer a Kevin que o
camaleão estaria bem, mas a criança merecia mais do que uma mentira
potencial.
— Viu como sua cor mudou de vermelho para verde? — Disse
Morgan. — Esse é o seu truque para ficar escondido. Enquanto os pássaros e
lagartos não o virem, ele vai ficar bem.
Kevin olhou para Morgan com olhos azuis assombrados. Sua apatia
partiu seu coração.
— Às vezes o monstro o encontra mesmo quando você tenta se
esconder.
Morgan sabia que este momento era grande. Kevin estava
começando a se abrir.
Colocou o braço em volta dos ombros de Kevin e apontou para o
inseto.
— Esse cara tem mais um truque para ajudá-lo a permanecer
seguro. Se um pássaro agarra a perna, ele permite que a levem, porque pode
crescer outra. — Morgan deu ao ombro de Kevin um aperto suave. — Monstros
podem nos ferir, mas não podem nos impedir de ser feliz. Podemos ser assim,
como esse animal, e deixá-los comendo poeira.
— Como o Homem-Aranha?
Uma imagem de um super-herói vestido de azul e vermelho
balançando a partir de um fio de teia passou pela mente de Morgan.
Morgan riu e ergueu o menino em seus braços.
— Sim, assim como o Homem-Aranha.
— Garrett faz bons cookies. — Kevin informou a Morgan.
— Sim, ele faz. Acha que devemos ir e ver que tipo ele fez esta
manhã?
Kevin assentiu.
— OK, vamos lá.
Morgan balançou o menino rindo sobre seus ombros e começou a
caminhar para a fazenda.
Mais tarde naquela noite, Morgan acordou de um sono
profundo. Passos suaves ecoaram pelo corredor. Ele estava aliviado que tinha
deixado a porta aberta para o caso de Kevin sair de seu quarto do outro lado
do corredor. Morgan pegou uma camiseta e puxou-a sobre a cabeça, contente
que decidiu usar short para dormir, enquanto Kevin o visitava.
Morgan saiu do quarto. E pelo brilho fraco que as luzes noturnas que
Garrett instalou em torno da fazenda, Morgan viu o menino, vestido de pijama
do Homem Aranha, espreitando ao redor da sala de estar e cozinha. Ele parou
para olhar para fora das portas que davam para o pátio central, onde a piscina
estava localizada. Orgulho preencheu Morgan quando Kevin não tentou abrir a
porta. Ele não era permitido no espaço tropical sem supervisão.
— Ei, amigo... — Morgan falou num tom suave, calmo, não querendo
assustar o rapaz. — Posso te ajudar com alguma coisa?
— Por que Parker está beijando Cayman e Seth na piscina? Eles
deveriam estar dormindo.
Morgan correu e pegou Kevin. Ele se sentou numa cadeira de balanço
de madeira bem longe da porta do pátio e colocou a criança em seu
colo. Agora, teria que achar uma explicação para que um garoto de quatro
anos entendesse e não surtasse.
— Um monte de pessoas vive em Los Héroes, e alguém está sempre
usando a piscina. — Morgan tentou escolher suas palavras com cuidado. —
Parker ama Cayman e Seth. Ele quer nadar com eles sozinho, então escolheu
esta hora, porque todo mundo está na cama.
Um sussurro tremendo rompeu o quarto silencioso e arrancou
pedaços fora do coração de Morgan, seu temperamento subindo.
— A Senhora Thomas diz que o que papai me fez estava errado. — O
menino se referiu a terapeuta que via uma vez por semana.
Os atos desprezíveis de pedofilia com Kevin já eram ruins o
suficiente, mas pedir ao menino para chamá-lo de “papai” era inconcebível e
do mal. Morgan queria cinco minutos com o bastardo. Apenas cinco minutos.
Morgan usou cada gota de seu controle para manter a voz calma.
— Nenhum adulto deve fazer o que o homem fez com você. É por isso
que ele vai para a prisão por um longo tempo.
— À noite, eu o ouvia conversando e rindo em outras salas. — Os
pequenos dedos de Kevin procuraram e encontraram a mão de Morgan. — Isso
significava que iria para o meu quarto.
Morgan piscou, umidade surgiu em seus olhos pelo terror e dor que
Kevin passou. Ele usou o seu dedo do pé para impulsionar a cadeira.
— Aposto que você estava com medo. — Ele não iria desvalorizar a
declaração de Kevin não a reconhecendo, mas tentou minimizar a dor do
garoto.
Kevin balançou a cabeça, mas não disse mais nada.
— Você está seguro agora. — Disse Morgan, tentando confortar o
menino. — Amanhã podemos transportar as esteiras para fora, e vou lhe
mostrar alguns movimentos para defender-se o suficiente para ter uma chance
de ficar longe de alguém tentando te machucar.
Kevin olhou para Morgan.
— Me defender como o camaleão?
— Sim, como o camaleão.
A sala ficou em silêncio. O pequeno corpo em seu colo relaxou
quando Morgan continuou a mover a cadeira num movimento lento. Roncos
breve e suaves mostraram que Kevin tinha adormecido. Ele levou Kevin de
volta para o quarto da criança e colocou-o na cama.
Depois de um momento observando a criança dormir, Morgan tomou
uma decisão. Abaixando seu corpo no chão duro, sentou-se ao lado da cabeça
de Kevin e se encostou na cama. Aquela não seria a primeira vez e
provavelmente não a última que dormia sentado.
Quando Morgan se acomodou, uma mão repousou em seu ombro.

****
A água fresca se agitava sob a força do vento forte. Com suas pernas
balançando na água, Tatum vigiava. Ele balançou seu cabelo para fora do
caminho quando se sentou e esperou a próxima grande onda.
Respirou fundo e deixou o aroma do oceano varrer o último da tensão
de seus músculos do pescoço e ombros. Tatum não poderia mudar o passado,
mas o futuro estava aberto e amplo a sua frente.
À distância, espumas brancas se formaram e começaram a rolar,
ganhando força ao se aproximar. Tatum virou a prancha para a praia e usou as
mãos para remar.
A água inchou e seu coração acelerou. Tatum remou mais duro, não
querendo deixar a oportunidade passar por ele. Em um movimento fluido,
apoiou as mãos na prancha, puxou as pernas para fora da água, e lançou-se
sobre seus pés.
Com movimentos de um surfista clássico, Tatum montou a onda,
deixando as correntes solares e oceânicas quentes levá-lo voando enquanto
durou o passeio.
Enquanto se aproximava da costa, Tatum avistou Reese de pé na
beira da água, o observando. Ao alcançar a areia, Tatum pulou, agarrou a
prancha e caminhou até o loiro bonito.
— Como vai, Reese?
— Muito bem. — Reese olhou para o oceano. — Gostaria de tentar
algumas dessas ondas, mas Lee está reclamando que o oceano está muito
forte hoje.
O acidente vascular cerebral sofrido em seu acidente de carro
enfraqueceu o lado esquerdo do homem. Ele gostava de surfar, mas esforçava-
se para manter o equilíbrio na prancha. Agradou a Tatum ouvir apenas uma
pequena tristeza em seu discurso. Reese parecia melhorar pouco a pouco.
— As ondas estão começando a ficar violentas. — Disse Tatum. —
Acho que vou parar por hoje. Odiaria acabar me ferindo. Tenho uma entrevista
de emprego com o Resgate Contratado do Oeste.
Tatum se esforçava para não usar quaisquer referências a tempo ou
números. A lesão cerebral desde o acidente deixou Reese com nenhum
conceito deles, e as conversas, por vezes, acabavam confusas e frustrantes
para ele.
— Você quer o trabalho?
A pergunta de Reese surpreendeu Tatum. Ele não teria enviado seu
currículo, se não estivesse interessado na posição. Por outro lado, ele tinha
pedido uma posição EMT em uma cidade diferente, sabendo que estava à
procura de algo diferente.
— Quero o suficiente para sair do meu emprego em San Clemente
para ir a entrevista. — Tatum admitiu. — Meu chefe não está louco por mim
por pedir um dia de folga do trabalho.
— Lee me disse que você tem as habilidades para trabalhar na equipe
de salvamento do Resgate. — Reese declarou. — O problema que vai ter é ser
aceito na equipe.
Tatum deixou cair a prancha na areia. Merda. Ele não tinha pensado
nas ramificações de alguém novo substituindo Reese. A reputação do Resgate
ser uma família unida era lendária. Como iria superar o ressentimento natural
de alguém substituir o seu amado companheiro de equipe? Ele apostaria seu
último salário que os caras ainda viam Reese como seu segundo médico.
Ele enfiou os dedos pelos cabelos e olhou o oceano.
— Acho que Lee vai ter que me encontrar um daqueles carrinhos de
cachorro-quente.
— Lee diz que o dinheiro está na praia. Como pode ganhar dinheiro se
estiver em Nevada?
Tatum virou-se para olhar para Reese.
— Se a equipe não puder me aceitar porque ainda querem que você
seja seu médico, não vou durar um mês.
— Não tenho certeza sobre isso de 'mês', mas se não tentar, nunca
vai saber. — Reese pegou a prancha de Tatum.
Tatum se esforçou para fazer uma pergunta que Reese
entendesse. Reese perdeu todas as lembranças de seu passado, mas talvez
pudesse lançar alguma visão sobre a equipe de sua última visita a Los
Héroes. Apesar de seus desafios, a inteligência e perspicácia do homem eram
surpreendentes.
— Alguma sugestão sobre como lidar com os caras?
Reese deu de ombros.
— Perder.
Tatum recuou.
— Perder o quê?
Talvez Reese estivesse confuso.
Reese, ainda carregando a prancha de Tatum, começou a caminhar
até a praia em direção a Lee e seu carrinho de cachorro-quente.
— Eles vão desafiá-lo para uma competição. — Reese continuou
andando.
Tatum trabalhou a ideia de Reese em sua mente. A ideia de que a
equipe iria testá-lo fazia sentido.
— Ei, luz do sol... — Lee gritou quando se aproximaram. — Você já
decidiu confiscar a prancha de Tatum?
— Ele não vai precisar dela quando estiver trabalhando no Resgate
Contratado. — Reese caminhou até Lee com um balanço extra em seus quadris
e recebeu um beijo.
— Oh? — Lee olhou para Tatum.
— Estou voando para uma entrevista na parte da manhã. — Tatum
admitiu.
Um sorriso branco e brilhante se espalhou pelo rosto de Lee.
— Bem, parabéns. Eles vão ter sorte de ter suas habilidades.
Tatum fez uma careta.
— Vamos esperar que a equipe pense assim. O fantasma de Reese
pode fazer os caras se ressentirem com um novo médico.
— Merda. Isso poderia ser um problema.
Ele concordou com Lee.
— Eu lhe disse para perder quando os caras o desafiarem. — Disse
Reese.
Uma ruga apareceu na testa de Lee.
— Você está falando sobre a pista de obstáculos em que estavam
trabalhando? Acha que vão colocar Tatum à prova nessa coisa?
Reese balançou a cabeça e olhou para Tatum.
— Não caia imediatamente. Mostre a Roman que pode lidar com o
percurso. Não caia no final, ou os homens saberão que está jogando. O meio
não seria bom.
— Como? — Tatum pensou que o conselho de Reese era tão claro
como lama.
— Acho que o que ele está dizendo é que deve perder ou tropeçar em
torno do último terço do curso. — Disse Lee.
O olhar sério de Reese se fixou em Tatum.
— Roman vai saber que pode fazê-lo, e vai ficar impressionado que
escolheu não se mostrar aos outros membros da equipe. Sendo uma família,
isso é importante para ele.
— Faz sentido. — Lee apontou.
— Concordo. — Disse Tatum. — Mas só para você saber, larguei meu
emprego de paramédico na cidade. Se as coisas não funcionam em Nevada,
vou voltar e vender cachorros-quentes.
— Anotado e aceito. — Lee respondeu. — Mas tem que escolher uma
praia diferente.
— Feito. — Tatum saudou os dois homens e deixou sua prancha para
trás. Sabia que Reese iria cuidar bem dela e devolvê-la, se fosse forçado a
retornar.

Capítulo Quatro

— Olá, doce.
Os dedos de Morgan doeram sob a força que usou para apertar a
madeira grossa da porta da frente. Ele recusou-se a alargar a abertura. De
jeito nenhum deixaria aquele homem entrar.
— O que está fazendo aqui? — Perguntou.
— Eu o convidei. — Roman deu um passo atrás de Morgan. — Venha,
Tatum.
Morgan apertou os dentes e abriu a porta, dando passagem ao
homem. O aroma fresco e picante de uma colônia popular vagou sobre
Morgan. Ele sempre gostou dessa marca e se ressentia de que cheirasse ainda
melhor em Tatum.
Vestido com um terno de linho de cor clara, e com seu cabelo puxado
para trás num coque na nuca, Tatum Janis apresentava uma imagem de
confiança e estilo.
A irritação de Morgan aumentou quando percebeu que seus dedos
coçaram para explorar a dureza dos músculos sob esse tecido. Droga. Tatum
exalava força e poder enquanto se movia em direção ao escritório de Roman, o
que o fez desejar que o homem se virasse e fosse em sua direção.
A porta se fechou atrás de Tatum. Morgan balançou a cabeça,
tentando afastar as noções indesejadas de tentar um outro
relacionamento. Ele não precisava desse stress. Tinha que comprar animais e
figuras de ação para a cama de Kevin.
O menino estava programado para visitar no próximo fim de semana,
e se toda a papelada estivesse liberada, a criança ficaria indefinidamente, até
que sua mãe ou outros membros da família fossem encontrados. Se ninguém
reclamasse Kevin, Morgan pensava numa adoção.
Morgan passou pelo escritório de Roman, notou o riso abafado vindo
do lugar, e se apressou para seu próprio santuário técnico.
Grandes monitores estavam alinhados em três das paredes. Do chão
ao teto, prateleiras enchiam a quarta parede. Uma mesa de grandes
dimensões estava no meio da sala. Utensílios sem utilidade, metal e plástico
cobriam a maior parte da superfície, circundando um teclado moderno ligado a
um poderoso computador que preenchia o armário no canto e cada tela nas
paredes.
Quando o máximo de privacidade ou sigilo era um problema, Morgan
poderia puxar para cima mais um pequeno monitor de um cubículo em sua
mesa. Caminhos estreitos serpenteavam por toda a sala, manobrando em
torno de caixas e mesas cheias de material e do mais novo equipamento que
obteve para ajudar a equipe no resgate de pessoas.
Quando Morgan não estava criando programas especiais de
computador ou pesquisando na web, participava de conferências técnicas e
assistia vários informativos sobre ordenação e integração do novo software e
equipamentos em seus sistemas. Muitos especialistas no campo solicitavam o
conselho do Morgan. Alguns eram parte de agências que não se podia falar, a
menos que possuísse uma ordem judicial em sua mão.
Enquanto enchia um carrinho virtual com brinquedos e roupas para
Kevin, Morgan manteve uma orelha para fora para a porta do escritório de
Roman. Dois outros homens tinham entrado para entrevistas de emprego,
pensando que eram qualificados para substituir Reese.
Morgan poderia dizer pela carranca no rosto de Roman e seu ar de
desprezo quando os homens deixaram seu escritório que não estariam de
volta.
Uma hora depois, o som de uma maçaneta fez Morgan sentar ereto.
— Você tem tempo para um passeio? Gostaria de ouvir o que acha
das nossas instalações.
O tom morno de Roman fez Morgan endurecer. Ele ignorou a lasca de
prazer proibido que correu em seu peito com o pensamento de Tatum
conseguir a posição médica. Parte dele sentia como se estivesse traindo Reese.
— O meu voo não sairá até esta noite. — Respondeu Tatum. — O que
vi do lugar até agora tem sido magnífico. Gostaria de ver mais.
A voz de Tatum lembrou Morgan de caramelo quente espalhando
sobre uma maçã vermelha crocante. O pensamento dessa voz murmurando
em seu ouvido, enquanto Tatum o segurava para baixo e deslizava
profundamente em seu traseiro, fez seu pulso acelerar e seu pau endurecer.
Passos recuaram e a voz de Roman se afastou. Morgan estava
paralisado. Esperou até que ouviu a porta da frente fechar antes de sair de seu
escritório.
Estava com a mão na maçaneta da porta quando Garrett falou atrás
dele:
— Eu sabia que Roman tinha ficado impressionado com esse cara no
ano passado, quando se conheceram num seminário, mas pela expressão no
rosto do capitão, o homem conseguiu superar todas as expectativas. Diria que
temos o nosso novo médico.
Morgan olhou por cima do ombro para Garrett, que cozinhava todas
as refeições e mantinha a fazenda funcionando como se fosse uma máquina
bem oleada.
— Não sabemos se Roman ofereceu-lhe o trabalho, ou se ele aceitou
o cargo. — Ressaltou.
Os olhos azuis claros de Garrett se estreitaram quando o homem
estudou Morgan.
— Você tem um problema com ele? Se tem, é melhor falar com
Roman. Sabe tão bem quanto eu que Roman não aprova qualquer atrito entre
seus homens. — Garrett levantou uma sobrancelha. — A menos que seja de
natureza sexual.
Morgan teve uma súbita necessidade de obter o inferno longe do
homem demasiadamente observador.
— Vou ver como o curso de obstáculo está indo.
A risada de Garrett seguiu-o para fora da porta e azedou ainda mais
o seu humor.
O curso de obstáculo havia nascido depois que a equipe se tornou
obcecada em assistir a um show de televisão chamado American Ninja Warrior.
As vaias e insultos voaram quando os participantes caíam enquanto tentava
manobrar através de uma sequência fisicamente difícil de desafios.
Quando alguém sugeriu que poderia fazer melhor, começaram a
planejar construir um percurso próprio.
Ao longo dos meses, a dificuldade dos obstáculos cresceu de uma
atividade divertida, para um treino duro, algo que ninguém tinha conquistado.
Até agora, só tiveram um acidente grave, quando Joe, o marido de
Rhys, deslocou o ombro e quebrou o braço.
Morgan pesquisou o curso e contou nove diferentes tarefas. Os caras
tinham adicionado mais uma ao longo da última semana. O início desafiava
uma pessoa a pular através de postes verticais enterrados no chão a uma
distância de 1.80m entre eles. De lá, observou vários aros, paredes e
obstáculos que precisavam ser conquistados até que a pessoa alcançasse uma
enorme parede deformada elevando-se sobre eles. O último obstáculo
desafiava uma pessoa a escalá-lo, chegar a borda superior, e mover seu corpo
por cima da borda para que pudesse pegar uma bandeira que indicava que
tinha terminado o percurso.
Olhando através do gramado, ele viu Roman e Tatum desaparecer
pela porta de trás da parede que se abria para a fazenda de dez
acres. Localizado no outro lado da porta, estava o hangar e outras
dependências que mantinham grandes máquinas. Flyer e Styx tinham
construído uma nova casa ao lado do hangar.
— Vamos, Cayman, você pode fazê-lo. — Parker gritou.
Morgan olhou para o percurso. Ele tinha que dar crédito ao médico
por apoiar um de seus maridos, mas Morgan podia ver que Cayman, tentando
manobrar a partir de uma pequena bola de ténis para a próxima, estava
forçando a massa muscular de seu corpo. De jeito nenhum iria durar muito
tempo segurando todo o seu peso com apenas suas mãos.
Os braços do homem tremiam, e suor acrescentou um brilho a sua
pele bronzeada. Cayman parou e os cotovelos tremeram até que ele desligou,
mole e imóvel. Segundos depois, o corpo do grande homem pousou numa
grossa esteira com um enorme estrondo e uma lufada de ar liberado. Parker
lançou seu corpo muito menor sobre seu marido, e eles rolaram em torno,
rindo e se beijando.
— O que acha, Morgan? — Isaiah subiu ao lado dele. — Já faz um
tempo desde que tentou vencer “a Besta”.
Morgan riu.
— É assim que estão chamando isso agora?
O sorriso branco do homem alto se destacou contra sua pele escura e
um toque de diversão alcançou seus olhos verdes. Morgan respeitava Isaiah e
achava que o homem negro era uma das poucas pessoas que não o irritavam
muito.
— Jimmy e Tristen decidiram que ele precisava de um nome — O
especialista em armas respondeu. — E não vou discutir com aqueles dois.
— Isso é porque é um homem inteligente. — Morgan comentou.
Os dois irmãos eram notórios pelas discussões entre eles. Apenas
Roman poderia exercer qualquer controle sobre a boca de Jimmy. As medidas
utilizadas por Roman incluíam uma grande palmada para deleite de
Jimmy. Morgan nunca duvidou que Jimmy amasse cada segundo da punição.
Tristen era o único que trocava palavras ásperas com Jimmy. Caso
contrário, o homem pequeno e lindo era calmo e só tinha olhos para seu
marido, Santos.
— Vai experimentá-lo, Morgan? — Isaiah estendeu um braço e seu
marido, Carson, deslizou no abraço do homem.
Olhando em volta, Morgan viu que toda a equipe e seus maridos
estavam reunidos em torno do campo.
— Tudo bem. — Morgan tirou a camisa de manga comprida xadrez e
colocou-o sobre as costas de uma cadeira de gramado nas proximidades. —
Acho que posso mostrar-lhes como deve ser feito.
Assobios, gritos e risadas seguiram seu anúncio.
Morgan podia ver que suas botas seriam inúteis nesse percurso. Ele
precisava de alguma tração pesada para enfrentar alguns dos
obstáculos. Sentou-se no chão e tirou o calçado e as meias.
— Uhu, ele vai com os pés descalços. — Flyer brincou. — Morgan está
falando sério.
Morgan ignorou os arrepios cobrindo seus braços. Mesmo com a alta
temperatura, sem sua camisa de flanela, sentia frio, graças a um acidente de
infância envolvendo uma lagoa, um pouco de gelo instável e temperaturas
abaixo de zero. Sua temperatura corporal nunca tinha se recuperado para o
que deveria ser.
Depois de subir uma escada para uma pequena plataforma, Morgan
saudou a multidão e fez uma reverência quando todo mundo aplaudiu. Ele
sabia que o consideravam como um pavio curto e mal-humorado. Por baixo,
ele realmente amava e, mais importante, respeitava cada homem presente.
Depois de tomar uma respiração profunda, Morgan começou sua
tentativa de conquistar cada obstáculo. Ele começou saltando de um poste
vertical para outro até chegar a uma plataforma. Sem parar, se balançou de
anel para anel, até que deixou um total de cinco atrás dele.
Morgan caiu em um poste horizontal de 7,5 centímetros e estendeu
os braços para manter o equilíbrio enquanto manobrava seu corpo. Com
ambas as mãos, ele agarrou uma barra de metal e balançou o corpo para trás
e para frente até que se lançou no ar e pegou outra barra a 1.80 de distância.
Repetiu esta ação mais duas vezes. Ele atacou uma parede de escalada e
deslizou por uma tirolesa.
Fazendo uma pausa, Morgan olhou para cima ao longo do
comprimento de seis metros de rede de carga que precisava subir. Mesmo
tomando seu tempo, suas pernas e coxas doíam e seus antebraços
queimavam. No topo, ele se inclinou e balançou os braços.
Ele se perguntou quanto mais o seu corpo poderia aguentar.
O próximo obstáculo consistiu de pedaços de madeira de cinco
centímetros de espessura e comprimentos diferentes. Eles eram ligados em
diferentes alturas sobre uma parede com cerca de seis metros de
comprimento. Ele precisava usar as pontas dos dedos para atravessar aquelas
minis prateleiras até chegar ao final da parede.
Chegou ao fim de um pedaço de madeira antes que seus dedos
cedessem e caiu quase quatro metros até a esteira.
Morgan estava deitado na esteira, tentando dizer a seus músculos
zumbindo que precisavam começar a trabalhar novamente. Ao redor dele,
todos aplaudiram e o felicitaram até onde tinha ido.
Pronto para se mover fora do tatame, Morgan sentou-se. A sua frente
estava Tatum. Os olhos castanhos do homem brilharam e Morgan endureceu,
com certeza o recém-chegado estava tramando algo.
— Bom trabalho. — Disse Tatum.
Alívio o preencheu que o homem não o chamou de “doce” na frente
dos caras. Por outro lado, uma parte minúscula dentro dele ficou desapontada,
porque o homem não usou o nome especial.
Morgan estava começando a se perguntar se estava indo ou vindo
com todas essas emoções confusas em guerra dentro dele. Graças a Deus o
homem logo estaria saindo e Morgan poderia ter um pouco de paz.
Tatum estendeu a mão.
— Vamos, doce. Vamos tirá-lo do caminho para que a próxima pessoa
possa tentar vencer essa coisa.
Morgan franziu os lábios para o homem exasperante. Sabendo que o
grupo estava observando cada movimento seu, agarrou a mão de Tatum e
deixou o cara puxá-lo de pé. Ele podia jogar bonito.
Uma vez de pé, Morgan se moveu fora do tatame. Ele tentou ser
discreto, enquanto puxava a mão livre. A aderência do polvo não afrouxou.
— Gostaria de fazer um anúncio. — Roman falou, ganhando a atenção
de todos.
Tatum soltou a mão de Morgan. Seu alívio por estar livre foi de curta
duração quando Roman continuou falando.
— Tenho o prazer de anunciar que Tatum aceitou minha oferta da
posição de médico no Resgate Contratado do Oeste.
Ninguém falou ou se moveu. Todos sabiam que esse dia chegaria. A
equipe precisava de dois médicos, e logicamente, perceberam que Reese
nunca seria capaz de voltar.
Isso não significa que ainda não doesse como uma cadela.
Morgan não conseguia evitar a tensão fluindo através de seu corpo. O
estresse derramou de sua boca:
— Sabemos que ele tem sido um paramédico na cidade grande, mas
ele pode lidar com a parte física do nosso trabalho?
— Está questionando a decisão de Roman? — Perguntou Jimmy.
— É uma preocupação justa. — Tatum disse antes que Morgan
pudesse se defender.
— Vamos ver o quão longe você pode ir na “Besta”. — Parker sugeriu.
Todos esperaram pela resposta de Tatum. Morgan podia ver esta
situação terminando de uma série de maneiras diferentes, sendo uma delas
Tatum voltando para San Clemente e nunca retornando. Por que não tinha
vontade de dançar o cha-cha-cha com esse pensamento? Isso deveria fazê-lo
feliz, certo?
O olhar de Tatum flutuou sobre o grupo antes de examinar o
percurso.
Depois de um momento, ele se voltou para os outros homens e disse:
— Tudo bem.
Morgan assistiu Tatum tirar o paletó e colocá-lo sobre a camisa de
flanela de Morgan, ainda deitada na parte de trás da cadeira do
gramado. Dedos ágeis desabotoaram a camisa, que se juntou ao paletó.
Tatum enrolou as pernas da calça até chegarem à altura dos
joelhos. Depois, tirou as meias e os sapatos.
Vestindo apenas a calça e uma fina camiseta branca sem mangas,
Tatum voltou-se para Morgan e sorriu antes de retirar a faixa segurando o
cabelo para trás. Ele pegou a mão esquerda de Morgan e deslizou a faixa no
dedo de Morgan.
— Aqui está, doce. Segure isso para mim.
— Puta merda. — Exclamou Jimmy. — Tatum reivindicou Morgan.
— Não acho que ele é o tipo que se contenta com um arranjo de
amigos-com-benefícios. — Tristen comentou.
— Claro que não. — Jimmy disse. — Tatum pode ser apenas alguns
centímetros mais alto do que Morgan, mas está claro que é um alfa como o
resto dos grandes caras por aqui.
Morgan olhou para os irmãos. Eles poderiam ter sabido sobre Reese e
suas visitas de fim de noite a seu quarto? Ele tinha certeza de que ninguém
sabia. Tinham sido cuidadosos.
Um dedo deslizou sob o queixo de Morgan e correu até sua boca
fechada.
— Não sei por que está tão assustado, mas agora é a hora de ficar
impressionado com os meus movimentos. — O dedo de Tatum deixou o queixo
de Morgan e beliscou sua bochecha.
— Pare com isso. — Morgan passou a mão sobre o local abusado em
seu rosto.
Tatum deu um tapinha no traseiro de Morgan antes de subir para a
primeira plataforma.
Morgan apertou os dentes. Esperava que o homem caísse no primeiro
obstáculo. Direto sobre essa bunda poderosa e redonda. Morgan poderia
consolá-lo por cair sobre sua bunda antes de se afastar.
O pensamento de deixar o homem deitado de costas como se fosse
uma tartaruga presa encheu Morgan com paz e felicidade absoluta.
Todos os seus pensamentos paralisaram. Morgan ficou encantado
com a visão de Tatum atacando o percurso. Santo inferno. Sua pele ouro
bronzeada brilhava com o suor. O sol pegou nas pontas loiras brilhantes de seu
cabelo, e nos músculos flexionados da coxa.
O homem parecia flutuar ao longo dos postes verticais.
— Acho que os homens estão observando como ele está trabalhando
duro para não se machucar ao cair. — Carson comentou.
Morgan olhou para o pequeno loiro. Os olhos azuis do homem se
arregalaram enquanto observava Tatum. Isaiah jogou o braço em volta do
peito de Carson e o puxou de volta contra o seu corpo maior. O pequeno
homem derreteu no abraço de seu marido.
— Ele é quase melhor do que pornografia. — Acrescentou Jimmy.
Tatum tinha atingido os anéis. Ele ficou pendurado no metal curvo e
balançou duro, esticando o braço para o próximo. Morgan não conseguia tirar
os olhos do homem, seus ombros e peito.
— Vamos esperar que ele não caia antes da rede de carga. — Tristen
afirmou.
— Por quê? — Tolliver, o marido de Garrett, perguntou.
— Pode imaginar como seu traseiro irá parecer, enquanto ele está
subindo? — Explicou Jimmy.
O olhar de olhos azuis de Tolliver assistiram a poesia no movimento
de deslizamento para baixo da linha zip.
— Foda. — Ele sussurrou.
Santos deu a Jimmy, Tristen, e Tolliver os apelidos de Flopsy, Mopsy
e Cottontail1, Morgan, porém, não se divertiu com os três coelhos travessos.
— Ele não é um pedaço de carne. — Morgan estalou.
— É verdade. — Jimmy concordou. — Mas com certeza é um grande
colírio para os olhos.
— Punhado... — A advertência na voz de Roman quando ele chamava
Jimmy por seu apelido especial enviou um arrepio na espinha de
Morgan. Roman poderia ser letal em um bom dia, terrível num mau.
Jimmy sorriu, aproximou-se de Roman, e apoiou-se contra o corpo de
seu marido. Morgan pensou que o homem menor tinha bolas maiores do que
jamais teria.
Roman abraçou Jimmy, levantou-o do chão, e roçou os lábios contra
a têmpora do homem menor.
— Apenas um lembrete a quem você pertence. — Roman murmurou
ao ouvido de Jimmy. — Mais tarde vou lhe mostrar com a palma da minha
mão, onde o meu nome está tatuado em sua bunda doce.
A resposta de Jimmy foi um enorme sorriso e um sussurro:
— Mal posso esperar.
Morgan ouviu o comentário, e assim o fez todos a seu redor. Os caras
riram. A bunda de Morgan vibrou com a ideia de ser reivindicada com tal
intensidade.
— Alguém quer apostar que ele faz todo o caminho? — Perguntou
Rhys.
Tatum alcançou a última plataforma e balançou os braços. Com seu
peito musculoso, braços, e coxas esticando as costuras das calças, o homem

1
Flopsy, Mopsy e Cotton-tail , são coelhos que vivem em uma toca que tem cozinha e móveis humanos.
parecia magnífico.
Morgan teve que engolir a saliva extra em sua boca.
— Acho que ele poderia fazê-lo até o fim. — Disse Santos. — Mas será
que vai?
— Não aposte no meu novo funcionário. — Roman afirmou antes que
alguém pudesse perguntar o que Santos queria dizer com essa pergunta.
Tatum atingiu a primeira pequena placa fixada à parede. Morgan não
tinha chegado muito mais longe antes que tivesse caído.
Com movimentos rápidos, eficientes, Tatum mudou da primeira placa
para a próxima. Ele continuou até que alcançou o menor pedaço de madeira no
meio do caminho.
O próximo pedaço estava 90 centímetros acima dele e a 60
centímetros de distância. Tatum firmou os pés na parede e lançou seu corpo
para cima, tentando agarrar a madeira, mas errou e caiu para o tapete.
— Ah, tão perto.
— Impressionante.
— Não foi ruim.
Morgan não se incomodou em acrescentar algo aos comentários. Ele
caminhou até a cadeira de gramado e puxou a camisa de debaixo da pilha de
roupas de Tatum, deixando-as cair no assento.
Depois de pegar os sapatos e as meias, ele foi para a fazenda.
De propósito ou não, Tatum caindo tinha sido o suficiente para
impressionar a equipe. O homem estaria se enturmando.
A lealdade de Morgan para Reese guerreou com a atração que tinha
por Tatum. Seu mundo inteiro ruiu quando pensou em todas as suas tentativas
falhas de relacionamentos.
Se Morgan começasse algo com Tatum e sua falta de sorte no amor
se repetisse, ele não achava que poderia voltar a coexistir na mesma casa. Os
outros tinham facilmente se adaptado depois de jogá-lo fora.
Desta vez com Tatum, Morgan não achou que seria capaz de
permanecer na equipe.
Depois de entrar na fazenda, Morgan entrou em seu escritório e
fechou a porta atrás dele.

****
Tatum sentou-se e ouviu a incrível variedade de homens sentados ao
redor da mesa. Aquela seria sua casa.
Seus sonhos se tornaram realidade.
Depois que Tatum tinha caído sobre a pista de obstáculos, Garrett
anunciou que havia frutas frescas e pão caseiro esperando na cozinha para
fazer um lanche. Ninguém hesitou, e minutos depois eles estavam na sala de
jantar da hacienda.
Ele tinha conhecido a maioria da equipe em Reno no ano anterior,
num seminário sobre treinamento de salvamento, e novamente quando tinha
chamado Roman para ver se um homem sem-teto que vivia na praia era o seu
médico, Reese.
Agora maridos da equipe tinham sido adicionados à mistura, e os
resultados foram surpreendentes. Todo homem presente tinha o tipo de boa
aparência que faria uma pessoa observá-los quando entravam numa sala. Mas
nenhum deles era semelhante, até mesmo os irmãos, Jimmy e Tristen. Jimmy
projetava um pequeno atributo agressivo, com tendência a irritação, enquanto
Tristen tinha a fluidez e magnetismo bonito de uma estrela pornô.
As cicatrizes externas de Tolliver e Carson não diminuíram sua doçura
ou auras frágeis. Joe Beck não poderia ser confundido com qualquer outra
coisa, além do cowboy que era, nem podia o enorme bad-boy Styx Randall ser
qualquer coisa, além de um mecânico de motocicleta. Tatum não podia esperar
para trocar pontos de vista sobre motocicletas com ele.
Cayman e Seth Kent confundiram a mente de Tatum. Ele identificou
os irmãos como fisiculturistas. Apostaria nessa ideia. Mas, eram
encanadores. Quem diria?
— Sua família vive na Califórnia? — Perguntou Jimmy. — Será que
eles têm um problema com você se mudando para Nevada?
— Meus pais são professores de uma universidade em Massachusetts.
— Tatum tentou evitar um sorriso amargo se formando. — Eles nunca me
perdoaram ou a meu irmão por não obter um mestrado e ir para o mundo da
educação como eles.
— Você salva vidas. — Parker comentou. — Acho que se orgulham
disso.
Tatum bufou.
— Mesmo que me tornasse um médico, ainda teriam um ataque. Isto
é, a menos que desse aulas de medicina em alguma universidade.
— Uau, eles são duros. — Comentou Jimmy.
— Só um pouco. — Disse Tatum.
— Você mencionou um irmão. — Flyer encheu seu prato com
frutas. Seu terceiro prato cheio. — O que ele faz para viver?
— Ezra é da Força Aérea, servindo na Alemanha. — Tatum
respondeu. — Ele diz que é um intérprete de computador, seja lá o que isso
signifique.
— Não entendi. — Flyer balançou o garfo no ar enquanto falava. —
Mas entendo tudo o que envolve voar, então adoraria conversar com ele.
— Ele tem sua licença de piloto, mas não tenho certeza do quanto voa
n uma base diária. — Tatum admitiu.
Flyer assentiu e empurrou a metade de um grosso pedaço de pão
com manteiga em sua boca. Tatum nunca tinha visto alguém comer tanto.
A seu lado, Cayman inclinou-se e murmurou:
— A primeira vez que o vi comer, tinha certeza de que ele iria entrar
em coma induzida por alimentos e que íamos ter que arrastá-lo para o
hospital.
Tatum estudou Flyer.
— Eu diria que seu metabolismo está fora do normal.
— Essa compulsão nunca para, exceto quando está voando. — Disse
Seth. — A transformação é surpreendente. Ele se torna o piloto mais calmo e
competente que já vi.
— Bom. — Tatum comentou.
Garrett entrou na sala segurando uma pequena tigela e a colocou na
frente de Flyer.
— Me pergunto se Morgan vai fazer uma aparição. Acredito que ele
está escondido em seu escritório.
Tatum quase perdeu a afirmação de Garrett. Sua atenção estava fixa
na tigela cheia de gelatina verde. Fascinado, assistiu Flyer sorrir e puxar a taça
antes do material verde desaparecer em sua boca. Grande e de aparência
perigosa, Styx colocou o braço ao longo das costas da cadeira do
homem. Flyer escavou uma porção de gelatina em sua colher e alimentou seu
marido, o amor entre os dois era aparente.
Rhys disse:
— Posso ir perguntar a ele.
Tatum desviou o olhar do casal, empurrou a cadeira para trás, e se
levantou.
— Vou ver.
Alguns dos caras limparam as mãos sobre a boca. Outros apenas
riram. Jimmy foi o único que se atreveu a dizer algo em voz alta:
— Bem, acho que precisa fazer algo para obter a sua faixa de cabelo
de volta.
Tatum parou na porta.
— Ou talvez mantê-la em seu dedo.
Riso e assovios o seguiram pelo corredor até o escritório de
Morgan. Não dando ao homem espinhoso a chance de evitá-lo, Tatum não se
preocupou em bater na porta e entrou em uma sala cheia até a borda com
material tecnológico.
— Saia.
Tatum fez questão de manter o passo fácil quando se aproximou e
encostou-se à mesa. Domar aquele homem rabugento era um desafio que
pretendia superar. Ele sentiu que os benefícios resultariam numa vida
maravilhosa.
Morgan estava sentado com os braços cruzados sobre o peito.
— Não amue, doce. — Ordenou.
— Que diabos está falando? — Morgan se inclinou para frente e pôs as
mãos sobre a mesa. — Você é o único que entrou aqui sem ser convidado.
Tatum pegou a mão de Morgan e traçou a faixa de cabelo ainda
envolto em torno de seu dedo anelar. Morgan empurrou a mão dele.
— Vai sair e ter algo para comer com o resto dos caras?
— Você não pode substituir Reese. — Morgan passou a mão sobre o
rosto e olhou para Tatum do canto do olho. — Ele era um em um milhão.
Ok, o homem não era de rodeios.
Tatum admirava essa característica.
— Não sou Reese. Sou Tatum. — Respondeu. — Vou trazer minha
própria maneira de fazer as coisas na posição de médico. — Tatum estudou
Morgan, observando os dedos nervosos movendo porcas, parafusos, e cartões
de memória de um lugar na mesa para outra. — Do que tem medo?
Morgan ficou de pé, fazendo sua cadeira de escritório voar de volta
até que caiu numa das caixas cheias de roupas verde-limão fluorescente.
— Não tenho medo de nada! — Morgan gritou. — Quem pensa que
é? Tem jogado desde que nos conhecemos. Existe uma placa pendurada em
mim que diz: use-me, sou fácil e descartável?
Tatum se levantou, agarrou a frente da camisa de Morgan, e puxou-o
mais perto até que seus rostos estavam a centímetros de distância.
— Não sei de onde no inferno isso veio, meu amigo...
— Amigo? — Morgan cuspiu. — Veja, esse é o problema. Os amigos
não agarram amigos e os ameaçam com danos corporais. Por que diabos é que
todos querem ser meus amigos? Não valho nada mais?
Tatum estudou o rosto corado de Morgan e seus olhos
brilhantes. Havia um monte acontecendo sob a superfície deste homem, e não
tinha tempo para resolver o problema. Isso poderia levar uma vida inteira, e
tinha que pegar um avião.
A boa notícia era que estaria de volta e mais do que disposto a
assumir Morgan.
Com um puxão, a distância que os separava desapareceu. Tatum fez
com que seu beijo deixasse claro suas intenções. Não haveria persuasão ou
provocação. Sua boca trabalhou Morgan em uma clara reivindicação. O homem
tinha um sabor delicioso.
Eles se separaram. Morgan olhou com olhos arregalados para ele.
— Quando eu voltar, vamos terminar esta linha de discussão. Para
registro, não somos amigos. Somos muito mais.
Tatum depositou mais um beijo duro na boca de Morgan e se
afastou. Na porta, ele parou e olhou para trás por cima do ombro.
— Mantenha a faixa em seu dedo. — Tatum piscou para Morgan. —
Parece boa lá.

Capítulo Cinco

Morgan reorganizou os ursos de pelúcia, macacos e figuras de ação


na cama de Kevin até estarem do jeito que queria. Esperava que isso ajudasse
o menino a dormir melhor à noite. Ele também tinha uma lata de spray de
cabelo, com uma etiqueta especial anti-monstro que tinha criado para derrotar
qualquer terror sob a cama ou no armário.
Recebeu a notícia no início da manhã, da responsável do Serviço de
Bem-Estar Infantil, que tinha sido aprovado para ser pai adotivo de Kevin e
que Los Héroes tinha passado como um ambiente adequado para crianças
adotivas. Morgan não poderia estar menos irritado com o fato de que uma casa
cheia de pessoas que salvavam vidas para viver teve de passar por alguns
testes idiotas, em parte, porque eram gays.
Eles eram heróis, pelo amor de Deus!
Esta tarde Morgan iria pegar Kevin na casa de Betty e trazê-lo para
Los Héroes para ficar o maior tempo possível.
Agora que o quarto de Kevin estava pronto, Morgan entrou em seu
escritório e ligou o computador. Digitalizando o monitor, viu que seu último
programa tinha terminado o download e o computador já tinha reiniciado.
Seus dedos voaram sobre o teclado quando digitou Kevin Jackson no
novo site de busca de pessoas desaparecidas. No espaço intitulado data de
desaparecimento, Morgan digitou o primeiro dia do ano anterior.
Depois de alguns segundos, um Kevin Jackson apareceu. A idade do
homem era de trinta e quatro anos.
Morgan retornou a busca novamente, utilizando apenas o nome
Kevin. No prazo de um ano, cento e trinta e cinco pessoas com o nome de
Kevin, tinham sido dadas como desaparecidas. Morgan estreitou a busca para
crianças com menos de cinco anos de idade. Quatro nomes apareceram.
Um bip agudo ecoou através da sala. Os músculos de Morgan ficaram
tensos.
Não, não, não.
Ele pegou o telefone apoiado sobre a mesa e leu a tela:
Terremoto no norte da Califórnia. Múltiplo resgate de pessoas
desaparecidas. Reunião em meu escritório.
Morgan se absteve de arremessar seu telefone do outro lado da
sala. Ele precisava pegar Kevin naquela tarde. A criança estava na pré-escola
esta manhã. Morgan não seria capaz de falar pessoalmente com ele e deixá-lo
saber que estaria de volta para buscá-lo o mais rápido possível. Só teve tempo
de ligar para o escritório principal do Bem-Estar Infantil e informá-los de suas
circunstâncias atuais.
Quando terminou a ligação, a mente de Morgan virou-se para o
resgate e os novos reforços que tinha pedido para os seus dispositivos de
comunicação. Enquanto se dirigia para o escritório de Roman, ele esfregou as
mãos. Adorava adicionar tecnologia ao trabalho de salvamento no Resgate
Contratado do Oeste.
Três horas depois, Morgan estava em cima de uma torre de vigia,
examinando quilômetros de vale abaixo. Em suas mãos, segurava seu novo
bebê.
— Como é que isto vai funcionar? — Perguntou Bruce.
Morgan olhou para cima a partir do controle remoto em suas
mãos. Bruce tinha a posição difícil de observar o vasto parque estadual em
torno deles. Vestido com seu uniforme bege, o guarda florestal, em seus trinta
e tantos anos, já tinha cinza espalhados por todo o espesso cabelo castanho.
Na noite anterior, um terremoto de seis ponto oito graus na escala
Richter foi adicionado na mistura de uma temporada sitiada com ventos fortes
e chuvas pesadas. Os resultados foram desastrosos; riachos transformados em
rios caudalosos, e rachaduras dividindo formações rochosas ao meio, criando
fissuras profundas. Durante toda a noite, uma enxurrada de relatórios de
pessoas desaparecidas e feridas chegou ao escritório do parque.
Bruce tinha chamado o Resgate Contratado do Oeste por causa da
magnitude e do longo alcance da destruição do terremoto que exigiria
múltiplos recursos humanos e equipamentos técnicos.
O único consolo, se poderia haver um, era que o terremoto não
afetou todas as áreas metropolitanas.
— Como sabe pela reunião inicial, Roman dividiu a equipe em grupos.
— Explicou Morgan. — Nosso médico, Parker, está emparelhado com um dos
nossos rastreadores, Rhys, e seu cachorro, Norman. Estamos com menos um
médico agora, então Roman está trabalhando com nosso outro rastreador,
Santos, e seu cão, Sadie. Nosso especialista em armas, Isaiah, e nosso piloto,
Flyer, são a última equipe. Styx, que é o outro piloto, está em nosso
helicóptero varrendo o parque.
— Estou contente que um fazendeiro local nos emprestou alguns
cavalos para você usar. — Disse Bruce. — Com o conhecimento que tem do
lugar, acho que você tem uma boa chance de cobrir a maior parte do parque.
Teria sido melhor se pudessem usar seus próprios cavalos. Os
animais de Santos e Rhys seriam uma adição fenomenal nesta situação. O
tempo de onze horas para transportar os animais até aqui fez essa opção
inviável. As habilidades de resgate da equipe estavam em alta demanda, e no
vasto sertão oeste, o tempo era um problema. Morgan só podia especular o
que poderia acontecer para elevar o problema.
Houve alguns rumores em torno de que Cade Miller, do resgate
original estava procurando diferentes localizações para novas filiais da
empresa. Alguns especularam que o próximo seria na parte noroeste do
país. Outros disseram no nordeste. Até a Flórida foi mencionada.
— Os ATV2s que seus funcionários estão usando serão úteis. —
Morgan ativou o controle em sua mão. No chão, uma luz vermelha no lado de
um drone de alta potência piscou para verde. — Assim que colocar este drone
no ar, podemos começar a trabalhar.
— Essa coisa não se parece com qualquer robô que já vi. — Bruce
comentou.
Morgan riu.
— Este é o mais novo modelo de drone profissional, e não é para uso
privado.
Ele não podia admitir que um amigo da Força Aérea servindo na
Alemanha o ajudou a adquirir este doce bebê.
2
Pequeno veículo motorizado aberto com quatro rodas, desenhado para uso off-road, normalmente chamado de
quadriciclo.
— Agora que estamos aqui, como vamos fazer isso? — Perguntou
Bruce.
— Se Styx visualizar alguém em apuros, pode entrar em contato
comigo e vou usar o drone para investigar a situação. A câmara sobre este
drone é épica, do outro mundo. Posso ver em tempo real ou ativar o modo
infravermelho e varrer a área para pegar o calor do corpo. — Morgan passou a
explicar: — Podemos não ser capazes de ver uma vítima presa em uma fenda,
mas com o infravermelho, podemos ver um ponto vermelho brilhante entre as
rachaduras e investigar ainda mais a situação. Então posso avaliar se é uma
situação de código-vermelho e como temos de abordar o resgate. O drone me
permite orientar os companheiros mais próximos à área. A visão de trezentos
e sessenta graus me permite ver quaisquer estradas, caminhos, ATV próximos
ou localizações dos veículos de emergência. — Morgan pressionou um dos
botões do controle, e as lâminas sobre o drone começaram a girar. — Qualquer
sinal de zumbido que aparece no meu monitor, posso encaminhar para os
telefones dos meus companheiros. Todo mundo vai ter um vídeo em tempo
integral no minuto do resgate que estou enviando-lhes.
— Sua tecnologia é impressionante. — Disse Bruce. — Preciso voltar
para o escritório. Deixei meu pessoal por conta própria.
— Quando as chamadas de emergência chegarem, entre em contato
comigo e vou retransmitir as informações para o meu capitão. — Disse
Morgan.
— Farei isso. — Bruce respondeu antes de começar a descer os
grossos degraus de madeira que circundavam a enorme torre.
Morgan respirou fundo. Ele não tinha medo de altura, mas não era
algo que gostasse de fazer em uma tarde preguiçosa de domingo. Dê-lhe um
jogo de vídeo e ele era um homem feliz.
Ele empurrou uma alavanca no controle. Abaixo, as lâminas do drone
giravam mais rápido, e seu zumbido de baixa frequência ficou mais alto. Com
movimentos lentos, mas seguros, a máquina levantou do chão.
Morgan olhou para os monitores perto de seus pés. Um mostrava um
mapa do parque, pontos vermelhos estavam situados em vários pontos dentro
do perímetro do parque. Cada ponto representando um da equipe. Ao observar
o monitor, Morgan poderia manter o controle de cada membro. Outro monitor
mostrava a Morgan o que a câmera do robô pegou. Quando manobrou a peça
voando cada vez mais alto, era como se ele estivesse ali montando no drone.
Impressionante!
Até o final do terceiro dia, Morgan se moveu sistematicamente
através de uma névoa entorpecente. Quando uma chamada de emergência
chegou, ele encontrou a vítima com o drone. Ele usou os números de longitude
e latitude na parte inferior do vídeo do robô para guiar os membros da equipe
para as pessoas que necessitavam de resgate.
Quando os caras voltaram ao seu acampamento base para
reabastecer seus corpos com alimentos, água e descanso, Morgan recolhia
seus telefones, mudava as baterias e limpava os dispositivos de
comunicação. Se eles usaram qualquer outro equipamento, tais como cordas,
dispositivos de flutuação, ou outros equipamentos de resgate, ele os substituía
por novos. A vida tornou-se uma infindável variedade de mover-se de uma
tarefa para outra.
—Quando foi a última vez teve um pouco de descanso? — Roman
sentou numa das cadeiras em torno de uma pequena mesa que Morgan estava
usando para reparar o fone do aparelho de comunicação de Santos.
Morgan pegou uma chave de fenda pequena e usou para apertar um
pequeno parafuso na lateral do dispositivo.
— Cerca de 18 horas atrás. — Respondeu.
— Você precisa ir e descansar um pouco.
— Há muito o que fazer. — Morgan ligou o reforço para o fone de
ouvido. — Tenho que manter tudo pronto para a equipe.
— Esse drone tem sido útil. — Comentou Roman.
Morgan olhou para onde a máquina estava sendo recarregada. A luz
no lado ainda brilhava vermelho brilhante. Quando se tornasse verde, Morgan
iria subir os degraus da torre e começar a procurar novamente por pessoas em
apuros.
— Quando voltar para Los Héroes, pretendo fazer alguns ajustes, mas
no geral estou satisfeito com a forma como ele funciona. — Morgan depositou
a peça reparada do equipamento numa pequena caixa. Quando Santos
estivesse pronto para voltar para o campo, ela estaria esperando.
— Vamos fazer uma pausa e comer alguma coisa. — Convidou
Roman.
Comer não era sua prioridade. Sua fome tinha passado horas atrás,
quando estava muito ocupado para comer. Agora ele não tinha escolha no
assunto. A ordem por trás da sugestão do capitão era clara.
O grande homem se levantou e caminhou em direção aos
refrigeradores sob uma pequena copa. Morgan mordeu o lábio e forçou seu
corpo exausto a seguir.
Roman entregou a Morgan um prato cheio com um ovo e um
sanduíche de manteiga de amendoim. Batatas fritas no lado adicionavam
algum sal muito necessário. Uma garrafa de Gatorade completava a refeição, e
ambos voltaram para a mesa.
Os alimentos de Morgan desapareceram em minutos. Roman não. O
homem levou o seu tempo. Morgan bateu os dedos sobre a mesa. Roman
ignorou. A perna de Morgan balançava impacientemente. Roman continuou
comendo. Finalmente, Morgan recostou-se na cadeira e esperou.
Algum tempo depois, ele abriu os olhos e se perguntou onde diabos
estava. Droga, Roman o enganou. Morgan saiu da cama em que estava
deitado e se levantou. Seus músculos protestaram. Ele esticou os braços sobre
a cabeça e trabalhou as torções fora.
— Morgan, venha aqui! — A ordem de Roman soou mais como um
rugido.
Como o homem sabia que ele estava acordado, nunca saberia.
Saindo da tenda, Morgan foi recebido com caos.
Os caras devem ter jogado seus dispositivos de comunicação e seus
faróis em cima da mesa quando entraram para reabastecer. Telefones
celulares e cintos de ferramentas adicionadas à desordem sobre a mesa. Pelo
menos parecia que tinham recarregado seus dispositivos. Infelizmente, as
cordas adicionais tornavam a bagunça parecer muito pior. Os companheiros de
Morgan andavam em volta da mesa, tentando pescar suas coisas fora da
confusão.
Morgan levou sessenta segundos para ter os caras estabelecidos com
o seu equipamento e voltando para o campo. Trinta segundos desse tempo foi
gasto distribuindo novas baterias.
Depois de pegar o controle do robô, subiu os degraus da torre e
voltou a trabalhar.
Um dia depois, Morgan se sentou esparramado em uma cadeira no
avião para dez passageiros do Resgate, voltando para Los Héroes, cansado até
os ossos.
Checou seu telefone para chamadas perdidas e mensagens. Durante
todo o resgate, não houve tempo para assuntos pessoais, e agora ele se
perguntou se perdeu alguma coisa importante durante os quatro dias que a
equipe ficou fora. Talvez Betty tenha ajudado Kevin durante esse tempo.
Dispensou alguns dos números. Poderiam chamar de volta. Parou
quando viu um número familiar listado quatro vezes diferentes.
Depois de mudar para uma tela diferente, Morgan pressionou o
código para recuperar suas mensagens. Pulou as duas primeiras e ouviu a
terceira.
— Morgan, aqui é Sheilla Bennington, do Serviço de Bem-Estar da
Criança. Estou ligando com informações sobre Kevin Jackson. Entre em contato
comigo o mais cedo possível.
Havia mais três chamadas de Sheilla Bennington com mensagens
semelhantes. A mensagem seguinte era de Betty Peterson.
— Pode acreditar, Morgan? Não posso acreditar. Chame-me quando
tiver uma chance.
O coração de Morgan trovejou. Algo tinha acontecido com Kevin. Ele
sugou o ar em seus pulmões, percebendo que estava segurando a respiração.
— Você está bem, cara? — Perguntou Rhys. — Está terrivelmente
pálido.
Morgan não poderia empurrar as palavras através do aperto de sua
garganta. Balançou a cabeça e olhou para Rhys por um momento. Cada célula
do seu corpo parecia estar dormente. Desistindo de tentar encontrar algo para
dizer, apertou o botão de chamada em seu telefone e o ouviu tocar.
Uma mulher respondeu a sua chamada.
— Serviço de Bem-Estar da Criança. Sheilla Bennington falando.
— Aqui é... — Morgan pigarreou. — Aqui é Morgan King, retornando
sua chamada.
— Sr. King, entendo que estava fora da cidade a negócios por alguns
dias. — Disse a mulher. — Tivemos um desenvolvimento interessante no caso
Kevin Jackson.
— Kevin está bem? — Para Morgan, o bem-estar de Kevin era mais
importante do que qualquer outra coisa.
— Sim, ele está, Sr. King. — Ela respondeu. — Kevin foi devolvido à
sua mãe.
Morgan congelou.
— O que?
— Encontramos a mãe de Kevin, e ele se reuniu com ela. — O tom da
mulher permaneceu calmo e suas palavras precisas.
Morgan queria gritar. Não o fez. Deixaria a dor destroçar sua alma
depois. Agora, ele precisava de respostas.
— Como isso aconteceu?
— Um dos nossos detetives do condado estava investigando um caso
em Nevada. — Explicou ela. — Ele recebeu o relatório de uma criança
desaparecida e reconheceu a foto de Kevin anexada ao arquivo. Acontece que
o nome completo de Kevin é Kevin James Jackson Gray. Sua mãe sempre o
chama de Kevin Jackson. É por isso que ele disse que seu nome era Kevin
Jackson.
Morgan caiu de volta no assento do avião. Sua mente correu sobre a
informação.
— Tem certeza de que ela é sua mãe?
Os deuses teriam de ajudar a mulher se ela estava prestes a deixar
que explorassem Kevin em pornografia infantil no subsolo ou outra coisa
horrível. Ele usaria todos os contatos que possuía para ver se ela tinha alguma
coisa a ver com o primeiro suposto sequestro de Kevin.
Sim, Morgan estava pronto para enfrentar qualquer um para manter
Kevin a salvo.
— Sr. King, já fiz uma investigação completa da Sra. Gray. — O tom
da mulher tornou-se nervoso. — Ela é a mãe de Kevin. Ambos estavam em
êxtase ao se reunir.
— Posso ligar para ver como ele está? — Perguntou Morgan.
O tom da mulher suavizou.
— Não recomendamos contato. Kevin e sua mãe precisam de tempo
para se ajustar e curar do trauma de sua separação.
— Entendo. — Ele não entendia. Seu coração doía.
— Sei que isto deve ser perturbador para você. — Disse ela. — Sei
que trabalhou duro para se tornar pai adotivo de Kevin. Espero que possa
permanecer aberto a aceitar outras crianças que precisam de um lar estável.
Morgan não respondeu. Terminou a ligação, desligou o telefone e
colocou-o no bolso. Não querendo ouvir nada ao seu redor, enfiou a mão no
bolso, tirou seus óculos de sol e fones de ouvido. Pelo resto do voo para Los
Héroes, escondeu-se atrás das lentes escuras e a música de hard rock
estridente em seus ouvidos.
Capítulo Seis

Tatum entrou em Los Héroes mais do que pronto para começar seu
novo trabalho e vida. Uma ligação para Garrett tinha confirmado que seu
material tinha chegado e estava empilhado em seu quarto. Agora tudo o que
tinha a fazer era encontrar um determinado especialista em computador e ver
se poderia passar por seu exterior espinhoso. Na realidade, Tatum não se
importava com quão rude Morgan se tornasse. Ele gostava do homem do jeito
que ele era.
Depois de uma leve batida na porta do escritório de Roman, entrou
na sala. Roman estava sentado atrás de sua mesa, escrevendo num laptop.
— Olá, Tatum. — O grande homem fechou o computador. — Espero
que sua mudança para Los Héroes tenha ocorrido bem.
— Sim, acabei de chegar. — Respondeu Tatum e se sentou numa
cadeira em frente a Roman. — Agora tudo o que tenho a fazer é
desempacotar.
— Tire o dia para se ajustar. — Roman juntou as pontas dos dedos. —
Toda manhã, depois do café, a equipe se reúne aqui para passar a
programação diária. Vou esperar que se junte a nós amanhã. O único outro
item que deve estar ciente neste momento é que o horário de refeição de
Garrett está escrito em pedra. Ele é o único que pode fazer qualquer
alteração. Basta lembrar sete, meio-dia e seis. Nunca, não importa o que, se
atrase.
— OK. Vou manter isso em mente. — Tatum não tinha planos para
balançar o barco.
A porta do escritório se abriu. O marido de Roman correu e ficou com
as mãos nos quadris.
— Roman, ele está na piscina novamente. — Jimmy anunciou. — Vai
se machucar ou se afogar. Tristen diz que está nadando sem parar durante a
última hora.
A mandíbula de Roman endureceu.
— Ele está trabalhando através das coisas. Dê-lhe tempo.
Tatum se perguntou de quem eles estavam falando.
— Não. — Jimmy opôs. — Ele não precisa sair correndo pelo campo
até entrar em colapso, e nadar até que não tenha a energia para sair da
piscina. Ele vai ferir alguma coisa e estar fora de combate quando uma
chamada de resgate entrar. Nos últimos dias, mal falou com alguém, e quando
diz algo, puro veneno sai de sua boca. — Jimmy se inclinou para frente, apoiou
a mãos sobre a mesa, e olhou para Roman. — Faça alguma coisa. Você sabe
que os caras estão prontos para intervir e fazê-lo falar sobre o que o está
incomodando. Nada nisso vai ser bonito.
Quem estava tendo problemas? Tatum pensou que soava como se
essa pessoa estivesse muito ruim.
— Estava esperando que Morgan dissesse algo, mas esta noite no
jantar, decidi fazer o anúncio de que Morgan perdeu Kevin.
Kevin? Quem diabos é Kevin?
A boca de Jimmy caiu aberta por um momento, antes que
recuperasse a compostura.
— Do que está falando? Isso é insano. Para onde ele foi?
Tatum não conseguiu segurar um segundo a mais.
— Quem é Kevin?
— Kevin é um menino que encontramos durante um resgate. —
Respondeu Roman. — Ele foi sequestrado e vendido para um pedófilo. Algo
clicou entre Morgan e Kevin. Morgan tornou-se licenciado como um pai adotivo
e deveria trazer Kevin aqui para Los Héroes no último fim de semana, mas
fomos chamados para fora num resgate.
— Como Morgan perdeu Kevin? — Jimmy interrompeu.
— Enquanto estávamos fora no resgate, as autoridades encontraram
a mãe de Kevin e ele retornou para ela. — Disse Roman.
— Puta merda, que droga! — Exclamou Jimmy. — Não é de admirar
que Morgan esteja uma bagunça. Ele adorava aquela criança. — Jimmy
mordeu o lábio e parecia estar pensando antes de dizer: — Droga. Morgan vai
ser um inferno para se viver por um longo tempo.
Tatum se ergueu.
— Com licença. Acho que vou vê-lo.
A cadeira de Roman rangeu quando o grande homem mudou seu
peso. Algo sobre o olhar de Roman fez Tatum parar. Ele esperou e suportou o
escrutínio de Roman. Roman pegou uma caneta e girou em torno de seus
dedos.
— Sei que há uma forte atração entre você e Morgan. — Roman
continuou a brincar com a caneta. — Te aconselho a pensar muito sobre o que
quer. Ninguém aqui lhe permitirá empurrar Morgan ao redor ou usá-lo para
aliviar o tédio. Se for para Morgan agora, é melhor que seja porque quer um
relacionamento sério. Ele está sofrendo por perder mais do que apenas Kevin.
— Sim, como...
— Nem mais uma palavra. — Roman interrompeu Jimmy. — Essa
informação é para Morgan contar.
Tatum suspeitava que Morgan e Reese tinham algum tipo de
relacionamento, mas sentiu que Roman estava falando sobre algo ou alguém
que não Kevin ou Reese.
Para Tatum, o destino tinha selado seu futuro na primeira vez que viu
Morgan. Tatum achou a expressão intensa nos olhos de Morgan e sua postura
de tirar o fôlego.
— Vou manter isso em mente, obrigado. — Tatum assentiu e foi
encontrar Morgan.
Atrás dele, ouviu Jimmy dizer:
— Poderíamos ter dito a ele. Não é como se fosse um grande segredo
por aqui.
— Não. — A firmeza na resposta de Roman disse que o assunto
estava encerrado.
Tatum entrou no pátio com teto de vidro e cheio de plantas. Quem
planejou a fazenda e decidiu colocar o pequeno pedaço de paraíso no centro da
grande casa merecia receber um prêmio.
Seu olhar caiu sobre o homem na piscina, atacando a água. Aquilo
não era um deslizar suave através do líquido cristalino, de qualquer maneira
ou forma. As braçadas furiosas de Morgan e seus pontapés jogavam água em
todas as direções.
Ao lado da piscina estava uma pilha de boias infladas
coloridas. Tatum pegou um golfinho de grandes dimensões e jogou na
piscina. Ele fez com que o mamífero plástico brilhante bloqueasse o caminho
de Morgan.
Sua tentativa de interromper o treino de autodestruição do homem
falhou quando a mão de Morgan encontrou o brinquedo e o tirou fora do
caminho. Suspirando, Tatum tirou a camisa, sua calça favorita de motociclista
e suas sandálias. Vestido com uma cueca azul-escuro, desceu os degraus da
piscina, fazendo uma careta quando o líquido atingiu suas bolas. Não
importava o quão quente estivesse, nunca iria se acostumar com o choque de
submergir seus pedaços sensíveis na água.
Morgan tocou a parede no final da piscina e virou-se para nadar mais
uma volta. O homem estava tão profundamente mergulhado em si mesmo que
nunca abriu os olhos. Tatum agarrou o golfinho, fez seu caminho através da
água até que atingiu sua cintura, e esperou. Quando Morgan alcançasse o
golfinho, desta vez, não iria a lugar nenhum.
Tatum apoiou as pernas para o impacto. O braço de Morgan bateu no
brinquedo. Água espirrou em todas as direções, e Morgan soltou um grito
antes de mergulhar. O homem quebrou a superfície com o cabelo colado à
cabeça, a água escorrendo por seu corpo musculoso e fogo piscando em seus
olhos. Tatum deixou o golfinho flutuar.
— Que diabos está fazendo? — Morgan empurrou seu cabelo e a água
gotejando em seus olhos.
— Olá, doce. — Tatum não teve que esperar muito tempo por uma
reação.
— Não me chame assim.
Os lábios de Morgan estavam azuis e tremiam. Arrepios cobriam a
pele do homem. Morgan cruzou os braços sobre o peito, enquanto ondas de
tremores sacudiram seu corpo.
Tatum nadou mais perto. Morgan se afastou.
— Hora de se aquecer, doce.
— Não me diga o que fazer. Estou sempre frio. Tentar pescar uma
bola de futebol no gelo fino de um lago e cair nele, faz isso com você. Quando
a polícia chegou, a hipotermia havia se estabelecido.
Tatum franziu o cenho e se aproximou.
— Será que a imersão no gelo afetou a temperatura do seu corpo?
Morgan recuou.
— Estou bem. Vá embora.
O avô de Tatum costumava dizer que havia mais de uma maneira de
esfolar um gato. Quando criança, ficou chocado com as palavras grosseiras do
velho. Quando cresceu, percebeu que era apenas uma maneira de afirmar que
havia maneiras diferentes para realizar um objetivo.
Seu avô já havia tirado a pele de um gato? A resposta dele para essa
pergunta tinha sido: “de jeito nenhum; eles são muito magros”.
Tatum tinha adorado o homem.
Agora seguiu o conselho de seu avô e se aproximou de Morgan,
certificando-se de que, quando o homem se afastou, estivesse indo para os
degraus da piscina. Neste ponto Tatum sabia que se dissesse preto, Morgan
diria branco.
— Vejo que eles têm um aquecedor. — Tatum manteve seus
movimentos e tom lento e suave. Morgan o lembrou de um potro arisco que foi
espancado e privado de comida. Ele suspeitava que Morgan havia sido
espancado pela vida, mas do que ele estava carente? — Aposto que uma
toalha quente iria ser boa agora.
O olhar de Morgan correu em volta antes de descansar em Tatum.
— Me deixe em paz. Estou ocupado.
O homem era uma bagunça. Uma massa tremula de miséria. O
desespero em seus olhos quebrou o coração de Tatum.
— O que aconteceu, doce?
Morgan entrou em ação, girando e nadando através da água até
chegar ao lado da piscina. Sem se incomodar em usar a escada, ele apoiou as
mãos no piso de azulejos e impulsionou-se para fora da água. Pelo menos essa
era a sua intenção.
Na realidade, os movimentos de Morgan eram desajeitados, e ele
levou duas tentativas antes de estar ajoelhado na cerâmica turquesa com os
ombros curvados e cabeça baixa. A visão era o epítome da desolação.
Tatum retirou uma grande toalha branca, quente e envolveu em volta
dos ombros de Morgan. Ele recebeu um encolher de ombros indiferente como
objeção por seus esforços. Ele se ajoelhou atrás de Morgan e puxou o homem
exausto, derrotado de volta em seu abraço.
— Deixe-me sozinho. — Morgan sussurrou.
Tatum sorriu para a faísca de rebeldia que ainda brilhava nos olhos
do homem. Atração se transformou em desejo, que se transformou em
necessidade. Finalmente se transformando em posse. A semente do amor
cresceu e formou raízes fortes.
Naquele momento, Tatum soube, sem dúvida que Morgan era o
homem para ele.
Morgan pareceu perder sua força e se apoiou pesadamente contra
Tatum. Ele precisava levar o homem ainda tremendo para cima e ao
chuveiro. Sabendo que Morgan iria tentar lutar com ele por todo o caminho,
Tatum tentou manter as coisas suaves por agora.
— Acho que precisamos lavar o cloro. — Disse Tatum. — Não sei
sobre você, mas estas pedras são duras para os joelhos.
— Não sinto nada. — O homem confessou.
Num movimento discreto, Tatum mudou sua mão e descansou as
pontas dos dedos no pulso de Morgan. Ele encontrou um pulso acelerado. O
paramédico em Tatum queria explodir em ação. Morgan necessitava se
aquecer, agora. Mas, lidando com um parceiro espinhoso, tinha de manter
suas ações de maneira branda.
— Ok, doce, precisamos levantar.
— Não quero.
Tatum puxou Morgan perto e empurrou-se para levantar a
ambos. Apesar das objeções do homem, Morgan colocou algum esforço nisso,
e conseguiram ficar de pé.
— Não me sinto bem. — Morgan sussurrou.
— Um banho quente vai ajudar.
Tatum acabou meio arrastando, meio carregando Morgan para a
porta do pátio que dava para o quarto do homem. Mais uma vez, pensou que o
criador da casa merecia um prêmio pela instalação dos quartos da casa ao lado
do pátio com portas que davam para a linda área. O quarto de Tatum era ao
lado do de Morgan. Por causa da necessidade de desembalar e se instalar,
tomou a decisão de usar o quarto de Morgan.
— Estamos quase lá. — Tatum tentou incentivar, um pouco
ofegante. O homem estava ficando mais pesado a cada segundo. — Só mais
um pouco.
Depois de entrar no quarto, Tatum não perdeu tempo, correu para o
banheiro e ligou o chuveiro. Assim que a água morna jorrou do grande
chuveiro, empurrou Morgan sob os jatos leves e se juntou a ele.
— Pode tentar ficar em pé, enquanto te ensaboo? — Perguntou
Tatum.
— Permanecer de pé é superestimado. — Morgan resmungou.
Tatum desistiu dessa ideia quando Morgan começou a inclinar-se para
o lado. Ele conseguiu pegar o corpo molhado, escorregadio no último
minuto. Depois de espiar o banco de chuveiro, Tatum guiou o homem quase
em coma para o banco, feliz que o local estava quente e cheio do vapor de
água quente. Demorou algumas manobras, mas Tatum conseguiu retirar o
calção de Morgan e sua própria roupa interior e jogar no canto.
Encontrou sabonete e toalhinhas limpas numa prateleira perto de
suas cabeças. Quando deslizou a toalhinha com sabão sobre a pele de Morgan,
o homem sexy gemeu e um sopro de ar quente acariciou o pescoço de Tatum,
que desejou que estivessem numa cena de sexo, em vez de puxando Morgan
de volta de um colapso de saúde.
Assim que tinha Morgan coberto de espuma, Tatum usou a toalhinha
para se lavar. Ele franziu a testa quando Morgan fechou os olhos e caiu de
volta contra a parede de azulejos. Era hora de obter os dois secos e na cama.
— Vamos lá, doce. — Tatum puxou Morgan na vertical antes de tentar
levantá-lo. Braços cercaram os ombros de Tatum, e quando Morgan estava em
pé, seus corpos se uniram.
— Você é um homem sexy. — As palavras de Morgan podem ter sido
arrastadas com fadiga, mas seu pau ficou em linha reta e orgulhoso.
— Vamos nos secar. — Tatum pediu. — Acho que uma soneca é o
próximo passo.
— Uma cama soa como uma grande ideia. — Morgan esfregou seu
corpo contra Tatum, sua pele escorregando e deslizando com água morna e
sabão.
O corpo de Tatum reagiu à provocação, e o sangue subiu em seu
pênis. Ele sabia que a situação poderia ficar fora de controle, se não pusesse
fim as ações de Morgan. Quando tomasse este homem e o fizesse seu, Morgan
estaria ciente do que estava acontecendo, não mergulhado em exaustão e
tristeza.
— Chega. — Ordenou, usando um tom que não admitia discussão.
Morgan congelou por um momento, parecendo desinflar. Ele tentou
se afastar de Tatum, mas Tatum não estava tendo nada disso.
As palavras de Morgan saíram duras, secas, e seus olhos brilharam
com veneno.
— Recue.
Tatum enfrentou a raiva de Morgan com autoridade sólida.
— Não.
Morgan trouxe seus braços para cima e tentou afastar os braços de
Tatum. Num movimento surpresa, Tatum girou Morgan ao redor e empurrou-o
sob o jato de água. Ele segurou o homem, cuspindo e engasgando, até que o
sabão se foi, antes de pisar mais perto, deixando o spray limpar as bolhas de
seu próprio corpo.
Tatum puxou Morgan sem resistência, para fora do chuveiro e o
secou com uma toalha de uma das prateleiras montadas no canto. Morgan
tinha se desligado. Seu rosto era uma parede em branco, e seu corpo moveu
somente quando Tatum se moveu.
— Ninguém pode correr mais que a dor. — Disse Tatum guiando
Morgan para fora do banheiro. — Ela vai pegar você de uma maneira ou de
outra.
— Foda-se.
Tatum piscou, se aproximou da cama, puxou o cobertor e a colcha
antes de incitar Morgan para se deitar. Ele empurrou atrás dele, forçando o
homem a se mover e dar-lhe espaço.
Morgan virou e deu as costas a Tatum. Homem tolo. Tatum deslizou
por trás de Morgan. Ele fez com que seu pênis duro descansasse contra a
bunda apertada de Morgan antes de colocar o braço em volta da cintura do
homem e puxá-lo até que seus corpos se encaixaram como se fossem peças
do puzzle.
— Não o convidei para minha cama. — Morgan quebrou o silêncio.
— Não, não convidou. — Tatum concordou.
— Por que está aqui, se não me quer?
— Quem disse que não o quero? — Tatum correu os dedos ao longo
dos músculos rasgados do abdômen de Morgan.
Morgan tentou se afastar, mas Tatum o segurou mais apertado.
— Você deixou isso claro no chuveiro. — Disse Morgan.
— Deixei o que claro? — Tatum replicou. — Que o respeito o
suficiente para não tirar proveito de sua dor de cabeça e cansaço? Vá dormir,
Morgan.
— Você não sabe nada sobre a minha mágoa. — Morgan murmurou.
— Vá dormir, doce. — Tatum ordenou mais uma vez. — Deixe meus
braços serem a sua segurança. Senão, vou te amarrar para ajudá-lo a se
acalmar.
O corpo de Morgan endureceu.
— Quem você pensa que é?
Tatum teve uma chance e cutucou o que achava ser um ponto
sensível com Morgan. Sua resposta iria dizer a Tatum se ele estava certo ou
não.
— Sou o único que vai lhe mostrar como é um relacionamento real.
— Você não sabe nada sobre mim. — Morgan estalou, em seguida,
voltou ao sarcasmo. — Relação real, certo. Dê o fora da minha cama.
— Não. — Tatum sorriu e aconchegou o corpo fresco do homem mais
perto, tentando aquecê-lo.
Achou a mudança de humor de Morgan fascinante. O homem lutou
contra ele. O fato era que Tatum superava Morgan por cerca de sete
centímetros e talvez seis quilos de músculos. A qualquer momento durante a
última hora, Morgan poderia ter se afastado se realmente quisesse. Era a
natureza de Tatum sempre ganhar a guerra, mas poderia ter sido uma grande
batalha entre eles. Morgan não o fez, o que, mais do que qualquer outra coisa,
mostrou a Tatum que o homem seria dele.
O quarto ficou em silêncio e Tatum relaxou, curtindo o aroma e o
corpo de Morgan. Logo, ele estava dormindo.
Um movimento trouxe Tatum de volta à consciência. Sua consciência
aguçada quando uma gaveta se fechou. Morgan virou e enfrentou
Tatum. Dedos super revestidos com gel deslizaram pelo pênis de Tatum até
seu saco. Uma língua lambia seu mamilo.
Morgan beijou seu caminho sobre o peito de Tatum e arrastou sua
língua pelo pescoço até que seus lábios roçavam a orelha de Tatum.
— Por favor, eu preciso...
Tatum suspeitava que Morgan precisava era de uma maneira de
esquecer. Ele deixaria o homem fazer exigências desta vez. Da maneira que
via, poderia dar o controle a Morgan talvez um punhado de vezes nos
próximos sessenta anos de sua vida em comum. No resto, ele estaria no
comando.
— O que precisa, doce? — Tatum segurou as bochechas de Morgan,
enterrando as pontas dos dedos em sua barba suave. Ele observou que mesmo
através de sua barba, a pele de Morgan permanecia fria.
Seus olhares se encontraram e se fixaram. Morgan soltou o pênis de
Tatum e gemeu de volta. A ingestão rápida de respiração do homem, lhe
mostrou que Morgan tinha violado seu próprio ânus. As pálpebras de Morgan
estavam meio fechadas. Um rubor atingiu seu rosto, e seus lábios se
separaram. O homem era glorioso em sua paixão.
— Estou limpo, mas sempre uso um preservativo. — Disse Tatum.
Morgan abriu os olhos e olhou para baixo. Um momento depois, um
pacote foi rasgado e látex deslizou sobre o pênis de Tatum.
O sorriso que Morgan deu a Tatum nunca alcançou os olhos do
homem.
— Estou limpo, também. — Morgan virou-se e deu as costas para
Tatum. — Agora me fode.
Que homem tolo.
Tatum pegou a garrafa que Morgan deixou cair sobre a cama e
derramou um pouco na mão. Depois de untar o látex cobrindo seu pênis,
alcançou entre as nádegas apertadas de Morgan e pressionou um dedo no
ânus do homem.
— O que está fazendo? — Morgan olhou por cima do ombro. — Já me
preparei.
Satisfeito quando seu dedo deslizou dentro e fora com facilidade,
Tatum acrescentou outro dedo. O estremecer que suas ações causaram
mostrou que Morgan não estava nem perto de pronto para tomar o seu pau.
— Vai aprender a confiar que nunca vou te machucar. — Disse Tatum.
Morgan se afastou de Tatum. O homem estava se escondendo. Tatum
abriu os dedos, esticando a entrada de Morgan. Ele se inclinou e colocou
alguns beijos de boca aberta no lado da garganta de Morgan. O homem
estremeceu e inclinou a cabeça para trás, dando acesso a Tatum para mais
pele.
Esse foi o gesto de submissão que Tatum estava procurando. Depois
de alinhar seu pênis, Tatum empurrou para um paraíso de aperto e calor. No
momento em que seu pênis estava cercado por Morgan, Tatum fechou a boca
de volta para a garganta de Morgan e sugou uma contusão.
A parte de trás da cabeça de Morgan pousou no ombro de Tatum.
— Merda, você está me dando arrepios.
— Vou dar-lhe muito mais do que isso. — Tatum prometeu e começou
uma série de lentas e suaves estocadas.
Morgan pressionou seus quadris para trás, tomando o pau de Tatum
mais profundamente.
— Não faça promessas que não significam nada.
— Se eu disser algo, quero dizer isso. — Tatum prometeu.
Ele acariciou ao redor do corpo de Morgan e explorou os contornos
firmes do homem. Músculos se espremiam em torno do pênis de Tatum.
— Já faz um tempo que fui fodido. — Morgan chiou entre gemidos. —
Se continuar fazendo isso, vou gozar.
— Goze para mim, bebê. — Tatum ordenou e mergulhou nas
profundezas do corpo de Morgan, enquanto acariciava seu pau.
Morgan gritou, e seu corpo ondulou sob as ministrações de prazer de
Tatum. Pré-sêmen jorrou da pequena fenda do homem, tornando o pau de
Morgan sedoso, brilhante, facilitando o caminho.
Tatum moveu seus quadris e pregou o ponto doce de Morgan. Morgan
endureceu e seu pau convulsionou. Sêmen revestiu a mão de Tatum. Queria
pedir a Morgan para lamber sua mão limpa, mas esse tipo de diversão viria
mais tarde.
Ele agarrou o quadril de Morgan para segurar o homem firme e levou
seu prazer com golpes curtos, rápidos, seguidos por golpes mais
profundos. Quando puxou o pênis para fora, os músculos de Morgan o
agarraram, tentando mantê-lo dentro. Quando empurrou, Morgan enfiou a
bunda para trás, engolindo o pau de Tatum.
Os pelos no pescoço de Tatum se arrepiaram, e relâmpagos de
desejo rolaram de suas bolas batendo-se em seu corpo. Sêmen explodiu fora
do seu pau, enchendo o preservativo quando rangeu os dentes e montou o
prazer de seu orgasmo.
Quando não tinha nada mais para dar, Tatum entrou em colapso,
forçando o homem sobre seu estômago. Tatum se abaixou e puxou seu pênis
coberto de preservativo fora do corpo de Morgan. Vendo uma caixa de lenços
sobre uma pequena mesa ao lado da cama, Tatum estendeu a mão e agarrou
alguns para limpar-se. Pegou um pouco mais e limpou Morgan.
— Vamos aconchegar um pouco. — Tatum colou seu corpo a Morgan,
passou os braços em torno do homem, e descansou sua coxa por cima das
pernas dele.
— Não precisa. — Morgan manteve o rosto enterrado debaixo de um
braço. — Sou um menino grande. Conheço o jogo. — O homem começou a
cutucar o temperamento de Tatum com suas próximas palavras. — Talvez hoje
à noite, após todos dormirem, você possa voltar aqui.
Tatum puxou Morgan e o sacudiu. Ele se inclinou até que seus rostos
estavam a apenas alguns centímetros de distância.
— Vamos esclarecer uma coisa agora. — Satisfação o encheu quando
os olhos de Morgan se arregalaram. Sim, estava chateado e era melhor
Morgan aprender rapidamente os sinais para evitar. — Não serei o pequeno
segredo sujo de ninguém.
Morgan balançou a cabeça.
— Não estava pensando nisso. Acho que estava esperando algo como
amigos com benefícios.
A cabeça de Tatum recuou como se tivesse levado um tapa fantasma
no rosto. Ele estreitou seu olhar para o homem e tentou descobrir onde
Morgan tinha tomado uma curva à esquerda em entender seu relacionamento.
O rosto de Reese surgiu em sua cabeça.
— É isso que você e Reese foram? — Perguntou.
Morgan tentou evitar o encontro com o seu olhar. Tatum não iria
permitir.
— Olhe para mim e responda à minha pergunta. — Rosnou.
Os olhos castanhos de Morgan mudaram num tom de marrom.
— Não importa o que Reese e eu fomos. Acabou. Ele escolheu Lee. As
coisas nunca foram realmente sérias entre nós, de qualquer maneira. Sou uma
daquelas pessoas que não podem formar relacionamentos profundos e
duradouros. Eles não são para mim.
O homem estava mentindo. Letras de néon azuis brilhantes e
vermelhas estavam dançando sobre a cabeça do homem e soletrando a
palavra MENTIROSO. Não admira que Morgan era uma bagunça quando Tatum
chegou. Primeiro, perdeu tudo o que pensou que tinha com Reese, depois
aquele garotinho. Por alguma razão, Tatum tinha a sensação de que poderia
haver mais algumas mágoas no passado de Morgan que ainda precisava
descobrir.
— Você está com sorte, doce. — Tatum abraçou Morgan apertado. —
Há muito tempo atrás, tomei a decisão de não desperdiçar meu tempo com
encontros de uma noite e só investir num relacionamento profundo quando
encontrasse a pessoa certa para mim. Você ganha o prêmio, doce.
Morgan empurrou seu peito e se mexeu até Tatum deixá-lo ir. O
homem saiu da cama e ficou de pé, nu em toda a sua glória.
— Já disse que ninguém fica comigo. — Morgan descansou as mãos
nos quadris. — Me recuso a me abrir para terminar machucado novamente.
Tatum se sentou e balançou as pernas para fora da cama.
— Haverá muito tempo para convencê-lo. Sou teimoso. — Ele decidiu
irritar Morgan um pouco para mantê-lo fora de equilíbrio e evitar que se
fechasse. — Você continua seguindo minhas ordens, e nossa vida juntos vai
ser incrível.
Não teve de esperar muito tempo pelo temperamento de Morgan vir
à tona.
— O quê? Está sonhando se acha que vou segui-lo como um
cachorrinho.
Tatum estava cheio e empurrou Morgan contra uma parede. Apoiou a
mão ao lado da cabeça de Morgan e se inclinou até que seus lábios quase se
tocaram.
— Você vai seguir as minhas ordens e amar cada minuto. —
Prometeu.
— Foda-se. — Morgan se moveu sob o braço de Tatum e caminhou
até o banheiro. A porta se fechou atrás dele.
Tatum olhou para o relógio na mesinha ao lado da cama antes de
sorrir e caminhar até a porta do banheiro.
Depois de dar a porta um golpe rápido, gritou:
— Dormimos a noite toda, doce. O café é em dez minutos. Vou
guardar-lhe uma cadeira.
Ele ignorou o rugido de raiva do outro lado da porta e se dirigiu para
seu próprio quarto para ficar limpo e vestido.

Capítulo Sete

Morgan olhou para o pequeno bebê dormindo em seus braços e


tentou envolver sua mente em torno de todas as mudanças ocorridas ao longo
da última semana. Por um lado, ele tinha um homem dominando sua vida.
Durante todo o dia, o cara iria importuná-lo com as demandas para que fizesse
intervalos regulares de descanso e o lado técnico do salvamento de uma forma
harmoniosa. Durante esses supostamente períodos de descanso, Morgan
tornou-se o destinatário de avassaladores beijos apaixonados, e se seguisse as
exigências de seu amante, era autorizado a gozar. Autorizado. Como isso
aconteceu?
À noite, se estavam assistindo maratonas de Big Bang Theory com
Garrett ou juntando-se a um intenso jogo de voleibol de piscina, Tatum insistia
em dar as mãos ou colocar o braço sobre os ombros de Morgan. Essas
demonstrações de afeto foram realizadas em frente ao resto dos caras sem um
pingo de vergonha da parte de Tatum.
No final da noite, Tatum levava Morgan para o seu quarto. Ele não se
preocupou em manter o fato de que dormiam juntos em segredo. Não que
houvesse muito de dormir sendo feito. Morgan olhou para a marca rosa em
seu pulso, cortesia de uma corda de restrição frustrante e deliciosa usada
durante uma cena erótica na noite anterior. Sem ser pedido, Tatum cumpriu
cada uma das fantasias sexuais de Morgan.
O bebê esticou o braço um pouco para fora, e abriu a bonita boca
num grande bocejo antes de voltar para o cochilo dos recém-nascidos. Suas
pálpebras frágeis vibraram, enquanto ela sonhava, ou talvez apenas estivesse
relaxada.
Morgan tinha aprendido esta semana que pais cuidadores estavam
em alta demanda. A agência não estava disposta a dar-lhe tempo para superar
a perda de Kevin. Sheilla Bennington, do Bem-Estar Infantil, ligou dias
atrás. Explicou que um casal esteve envolvido num acidente de carro que
matou o marido instantaneamente. A mulher deu à luz antes de sucumbir aos
seus ferimentos. Sheilla queria que Morgan cuidasse da criança por alguns
dias, até que os membros da família pudessem voar para assumir a custódia
do bebê.
O pânico se instalou. Ele não sabia nada sobre bebês, exceto o que
aprendeu nas aulas de parentalidade. Quando discutiu a situação com a
equipe, Isaiah admitiu ter ajudado a cuidar de sua sobrinha e sabia como
cuidar deles. Assim, a equipe acolheu o pequeno bebê.
Carson entrou na sala de estar. Morgan percebeu que o olhar do
homem nunca se desviou do bebê dormindo.
— Como ela está? — Carson sussurrou.
— Muito bem. — Morgan deu a Carson um sorriso cansado. — Ela só
acordou exigindo uma mamadeira duas vezes ontem à noite. Graças a Deus
por monitores do bebê. Quando ela começou a agitação, fiz isso no seu quarto
antes que começasse a chorar e acordasse o resto de vocês.
— Roman e eu estávamos discutindo a ideia de remover uma parede
e transformar o quarto que ela está usando num quarto de crianças. — Carson
estendeu a mão e tocou a mão da criança. — Poderíamos pintar com uma cor
calmante, e talvez Tristen fizesse uma espécie de mural divertido na
parede. Posso construir beliches para crianças mais velhas, de um lado, e
talvez um canto pode ser configurado como um mini berçário.
— Soa como se estivessem amadurecendo a ideia de ter mais
crianças aqui. — Morgan comentou. Não mencionou o quarto de Kevin estar
vazio. Não estava pronto para qualquer um usar aquele quarto ainda.
— Este lugar é grande o suficiente para trazer mais crianças que
necessitam de nossa ajuda. — Disse Carson. — Isaiah e eu estamos pensando
em nos tornar pais adotivos. Sei que alguns dos outros caras falaram sobre ir
para as aulas de parentalidade, também.
Ok, isso surpreendeu Morgan.
Por outro lado, eram socorristas até o osso. Por que não tentar ajudar
crianças necessitadas?
— Posso segurá-la? — A pergunta de Carson quebrou através dos
pensamentos de Morgan. — Prometo que não vou deixá-la cair.
A maioria dos homens tinha preocupações injustificadas sobre
derrubar um bebê quando os seguravam pela primeira vez. Mas, as
preocupações de Carson eram legítimas, já que tinha um braço mutilado de
um acidente de avião. O homem tinha trabalhado duro para recuperar a força
naquele membro. Morgan confiava em Carson para não machucar o bebê.
— Aqui. — Ele esperou até que Carson se sentasse a seu lado no sofá
antes de entregá-la. O homem foi profissional de imediato ao apoiar seu
pescoço frágil.
— Não posso acreditar o quão pequena e bonita ela é. — Carson se
inclinou e cheirou. — Ela cheira tão bem.
— Não há nada como o cheiro de um bebê. — Morgan comentou. De
alguma forma, não pensou que Carson ouviu. Um olhar de admiração brilhou
no rosto do homem.
Isaiah entrou na sala. Morgan percebeu um aperto na mandíbula de
Isaiah e um flash de dor entrar em seus olhos quando olhou para Carson com
o bebê. Tinha que haver uma história lá em algum lugar.
Morgan percebeu que Isaiah tinha seu gorro cinza. Desde que o
grande homem havia se reunido com Carson, ele usava menos o chapéu e
tinha começado a deixar crescer o cabelo. Hoje, era um desses dias.
— Vejo que fez um amigo, bebê. — Ele se sentou e deslizou o braço
ao longo das costas do sofá, encaixando Carson na curva de seu corpo.
— Ela é tão bonita, Isaiah. — Carson sussurrou.
Isaiah estendeu a mão e tocou o rosto do bebê, perto de seu
olho. Morgan observou que era quase o local exato onde sua tatuagem de
lágrima estava localizada.
— Ela é uma coisinha linda. — Isaiah comentou.
O bebê abriu os olhos. Ela virou a cabeça para o peito de Carson e
começou a mover ao redor com sua boca.
— Acho que alguém está com fome. — Disse Morgan. — Hora de ir
encontrar uma mamadeira.
— Posso ajudar? — Os olhos azuis de Carson pareciam implorar a
Morgan uma chance de cuidar do bebê.
— Claro. — Respondeu ele. — Aprendi a trocar a fralda antes de
alimentá-la. Dessa forma, se ela adormece enquanto come, fica mais
confortável.
— Posso fazer isso. — Disse Carson.
A porta da frente se abriu e bateu contra a parede. Um Jimmy de
olhos arregalados correu para a sala com seu telefone pressionado numa
orelha. Não olhou para ninguém e continuou pelo corredor.
— Estou indo para o escritório de Roman agora, mãe. — Cada palavra
repleta de pânico. — Vou dizer a Tristen. Tenho certeza que Roman pedirá a
Flyer para nos levar até lá. Estaremos lá assim que pudermos.
Ninguém na sala falou. Algo estava errado. Eles esperaram, prontos
para agir quando veio a resposta.
Do fundo do corredor, ouviram Jimmy gritar:
— Roman, meu pai teve um ataque cardíaco!
As mensagens de texto voaram. Todo homem vivendo em Los Héroes
congregados na fazenda, ajudaram Roman e Santos com o que precisavam
para atender Jimmy e Tristen. Dentro de meia hora, os quatro homens
estavam no avião da empresa, com Flyer pilotando em seu caminho para a
fazenda onde os irmãos cresceram.
Quando os cinco partiram, a fazenda ficou assustadoramente
tranquila. Todos estavam reunidos na cozinha. Ninguém falou, todos
parecendo perdidos em seus próprios pensamentos. Alguns ficaram, outros
pegaram um banquinho ao lado do balcão que separa a cozinha enorme da
sala de estar, e o resto se inclinou contra uma parede ou armário.
Garrett colocou uma bandeja com uma grande garrafa de café e
pratos cheios com biscoitos de chocolate e macadâmia no balcão.
— Peguem uma xícara. — Ordenou. — Vamos fazer uma
pausa. Roman vai nos manter informados sobre o estado do Sr. Earl. Esse
homem é um cowboy durão. Vai lutar com essa coisa.
Morgan se absteve de comentar. Não importa o que, a vida do
homem e de sua família tinha mudado para sempre.
No final da tarde, Morgan estava na sala de estar, olhando para fora
pela porta para o pátio.
— O que está fazendo? — Tatum se aproximou e pousou as mãos nos
ombros de Morgan.
Morgan observava Carson e Isaiah sentados em um banco entre as
plantas exuberantes. O bebê dormia, deitado no peito e ombro de
Carson. Isaiah assentiu com qualquer coisa que Carson estava dizendo, o amor
no sorriso do grande homem evidente para todos verem.
— Carson não largou a bebê desde que pediu para segurá-la, mais
cedo. — Morgan enfiou as mãos nos bolsos da frente da calça jeans. — Não
quero que ele fique muito apegado. Sua família deve estar chegando em breve
para levá-la para casa.
— Eu não me preocuparia. — Tatum comentou. — Todo mundo está
ciente de que ela está aqui apenas por alguns dias. Carson é um menino
grande; ele pode lidar com isso quando ela sair.
Morgan virou-se e empurrou Tatum para longe.
— Ninguém pode lidar com a perda de um filho. A dor é uma porcaria,
e não há nada que você possa fazer sobre isso.
— Está falando de Kevin, não é?
A dor atravessou o coração de Morgan quando Tatum disse o nome
de Kevin.
— Deixe Kevin fora disso. — Morgan ordenou e saiu pela porta da
frente. Ele fez uma pausa, tentando decidir se deveria selar seu cavalo ou
levar o caminhão para o campo.
— Você está tentando me afastar novamente. — Tatum falou atrás
dele.
Morgan virou-se e apontou o dedo para Tatum.
— Oh, estou ciente disso. Estou fugindo de você.
— Desperdício de tempo, doce. Sempre vou te pegar.
Tatum pegou o dedo de Morgan e obrigou-o a se aproximar. Morgan
odiava que seu corpo parecia ter uma mente própria; tinha que lutar para
parar, antes de se derreter todo em Tatum.
— Deixe-me sozinho. — Disse com os dentes cerrados.
— Nunca. — Tatum deu um beijo duro na boca de Morgan. — Acho
que precisamos de algum tempo sozinhos no meu quarto para que possa
relaxar por um tempo.
Morgan abriu a boca para dizer a Tatum onde ele poderia enfiar essa
ideia, quando um som alto explodiu entre eles. Tatum soltou seu dedo, e
Morgan enfiou a mão no bolso e tirou seu telefone.
— Olá.
— Morgan, é Sheilla Bennington. Preciso que traga o bebê ao meu
escritório esta tarde. A família está chegando esta noite para levá-la para casa.
Bem, estava esperando essa ligação. Ao contrário de quando Kevin
tinha sido reivindicado por sua mãe, essa notícia trouxe um sorriso ao seu
rosto. Pela primeira vez, Morgan realizou algo. Ele fez o seu melhor para
manter o bebê aquecido e seco. Nunca a deixou com fome. Ele gostava de
balançá-la para dormir, enquanto cantava uma canção de ninar e lhe contava
sobre as maravilhas do mundo que ela iria experimentar quando crescesse. Ele
lhe deu um pouco de carinho humano até que sua família pudesse trazê-la
para casa.
— Tudo bem. — Disse Morgan. — Vou pegar suas coisas e ir para a
cidade.
— Obrigada, Morgan. — Disse Sheilla. — Te vejo depois, então.
A ligação terminou, e Morgan ficou parado por um momento,
deixando o sol quente de Nevada aquecer seu corpo sempre frio.
— Você está bem?
A pergunta tranquila de Tatum fez Morgan virar e olhar para o
homem impressionante. Mesmo quando estava irritado como o inferno com o
cara, a atração entre eles fervia sob a superfície.
— Sim. — Respondeu. — Acho que fiz bem.
— Pelo que os caras me disseram, você era maravilhoso com Kevin,
também.
Sua dor voltou, e Morgan passou de um momento de bem-estar para
uma expressão dura.
— Pare de trazer Kevin. Você nunca o conheceu, e não tem o direito
de falar sobre ele. Foda-se!
A expressão nos olhos castanhos de Tatum endureceu, e seu olhar
fez um buraco em Morgan.
— Vamos dizer a Carson que temos que levar o bebê de volta à
cidade. Enquanto estiver na cidade, podemos ter um bom jantar em algum
lugar e ver um filme. — A última frase de Tatum foi uma afirmação, não uma
sugestão.
Morgan piscou com o rumo da conversa. Ele esperava que Tatum
explodisse, ao invés disso, recebeu um convite para jantar. Bem, talvez não
exatamente um convite, mais como uma proclamação.
— Quer vir comigo quando levar o bebê de volta? — Morgan procurou
o rosto de Tatum, tentando ler o humor do homem.
Tatum estendeu a mão, entrelaçou os dedos juntos, e começou a
caminhar de volta para a fazenda.
— Claro. — Seu tom calmo e suave colocou Morgan em alerta
instantâneo. — Isso é o que pessoas num relacionamento fazem. Apoiam uns
aos outros, mesmo quando um deles não percebe que precisa de alguma coisa.
Os dedos a sua volta se apertaram, e o coração de Morgan começou
a bater mais rápido.
— Apoiam? — Morgan conseguiu guinchar para fora através do súbito
aperto em sua garganta.
— Sim, doce. — Tatum olhou para Morgan com faíscas de alegria
dançando em seus olhos. — Agora, você precisa do meu apoio.
Morgan tinha sido rotulado como inteligente no passado. Essa
inteligência disse que o uso atual de Tatum da palavra apoio, provavelmente,
teria um significado diferente do que ele imaginava.
Suas suspeitas foram confirmadas quando entraram na fazenda e
Tatum se voltou para o corredor que levava ao quarto, em vez de ir em
direção ao pátio.
— Tatum, não temos tempo para sexo. Sheilla está me esperando. —
Morgan apontou.
— Ela vai esperar. — Tatum afirmou. — Ouvi através do telefone que
a família não está chegando até hoje à noite.
— Disse-lhe que levaria o bebê imediatamente. — Morgan puxou sua
mão, mas ainda foi puxado para dentro do quarto de Tatum.
— Você vai, depois que cuidarmos da questão da comunicação entre
nós. — Tatum puxou Morgan em seu abraço.
Morgan relaxou. Estar nos braços de Tatum sempre o fazia se sentir
querido.
— Não acho que temos quaisquer problemas com comunicação. —
Morgan inclinou o rosto para o beijo de Tatum.
Os lábios de Tatum cobriram Morgan num beijo duro. Morgan agarrou
os ombros do homem sob o ataque de dentes e língua. Ele mal registrou sua
calça sendo aberta, e empurrada junto com sua roupa íntima para baixo, em
suas pernas, um pouco acima dos joelhos.
Os lábios de Morgan foram liberados. Ele piscou, tentando limpar a
névoa de excitação de seu cérebro.
— Sim, temos. — Disse Tatum, pegando onde a conversa havia sido
interrompida. Ele empurrou a camisa de Morgan sobre sua cabeça e deixou-a
cair no chão. — Mas estamos prestes a cuidar desse problema agora.
Num momento Morgan estava em pé, tentando descobrir o que
Tatum quis dizer; no próximo, Tatum recuou, sentou-se e puxou Morgan sobre
seu colo. Assustado, Morgan não se opôs até o som da primeira queda da mão
de Tatum contra suas nádegas ecoar pela sala. Uma afiada, picada quente
sobre sua pele sendo ministrada pela palma da mão de Tatum.
— Ei. — Morgan tentou deslizar para fora do colo de Tatum, mas sua
calça emaranhada em volta dos joelhos impediam seus movimentos. Um braço
duro como ferro parou sua fuga. — O que diabos pensa que está fazendo?
Outro tapa acertou o traseiro de Morgan.
— Você verificou a mãe de Kevin? — Perguntou Tatum.
Morgan endureceu, atordoado pela pergunta de Tatum. Sua bunda
suportou outra palmada.
— Claro. — Ele deixou escapar.
— Será que ela tem algumas bandeiras vermelhas em seu histórico?
— Não quero falar sobre isso. — Morgan declarou.
Uma onda de calor floresceu no âmbito do próximo tapa. Morgan
estremeceu. As emoções estavam subindo sob o ataque da surra de
Tatum. Outro tapa no mesmo local deu espasmos em sua perna.
— Ela estava limpa. — Admitiu. — A única marca que tinha era uma
dispensa de um trabalho há alguns anos por estar atrasada muitas
vezes. Achei as ausências compreensíveis. Era uma mãe solteira com uma
criança pequena. Descobri que Kevin estava lutando contra um terrível caso de
gripe durante esse tempo, que tinha avançado para uma pneumonia.
— Dói que ele se foi?
Tristeza queimou as bordas do buraco no coração de Morgan.
— Cale-se. Não quero falar sobre isso.
Por que o homem não podia deixá-lo sozinho? Tinha perdido Kevin,
final do assunto.
Mais três golpes trouxeram lágrimas aos olhos de Morgan. Sua bunda
queimava.
— Eu lhe fiz uma pergunta. Gostaria que a repetisse?
Mais dois tapas enfatizaram a determinação de Tatum em obter uma
resposta. Um inferno de agonia irrompeu da alma de Morgan, combinando com
a dor escaldante em sua bunda. Palavras afiadas como lâminas de barbear
rasgaram suas entranhas quando vieram à tona.
— É como se meu coração tivesse sido arrancado. — Morgan enterrou
o rosto em seu braço dobrado e deixou as lágrimas caírem.
Tatum se levantou e ergueu Morgan. O homem maior deitou na cama
e puxou Morgan em cima de seu corpo musculoso e quente. Braços fortes o
acolheram num refúgio quente e seguro.
— Deixe ir. — Tatum pediu. — Estou aqui. Está seguro comigo.
Soluços sacudiam Morgan completamente. Apenas quando todo o seu
trabalho para ter Kevin em sua vida bem-sucedida foi realizado, o menino foi
levado. A perda saiu em espasmos gigantes e gritos de angústia.
Apesar das lágrimas quentes, ranho confuso, e saliva em sua camisa,
Tatum nunca parou de murmurar palavras de conforto e esperança.
Quando Morgan começou a se acalmar, ouviu Tatum dizer:
— Sei que vai acompanhá-lo através de sua magia tecnológica. Seja
feliz por suas realizações, e por saber que durante um tempo difícil, você lhe
deu uma conexão cintilante de amor.
Mais algumas lágrimas rolaram pelo rosto de Morgan. Tatum
descreveu seu tempo com Kevin perfeitamente. Tinham sido brilhantes
momentos de amor.
Tatum rolou-os até poder olhar para Morgan.
— Melhor, doce?
— Ainda dói, mas acho que agora posso lidar com as memórias e
pensamentos dele, enquanto antes tive que colocar uma parede mental, ou iria
ficar louco de tristeza. — Morgan admitiu.
— Quando os tempos ficarem difíceis, doce... — Tatum deu um beijo
rápido nos lábios de Morgan. — Sempre estarei lá para você.
Morgan se mexeu e estremeceu quando a pele macia de seu traseiro
fez contato contra as cobertas.
— Acho que vou estar sentindo essas palmadas por um tempo.
O sorriso malicioso que se espalhou pelo rosto de Tatum irritou
Morgan um pouco. Pensando sobre a surra, ele manteve sua ira para si
mesmo. Ele não era um tolo. Pelo menos pelo resto do dia.
Tatum deixou a cama e deu um show rápido ao tirar suas
roupas. Uma vez nu, desamarrou as botas de Morgan antes de puxá-las junto
com sua calça. Morgan apreciou cada flexão dos músculos de Tatum
conquistados através de seu trabalho, mas amou o toque de animal quando o
homem se arrastou para a cama e deitou a seu lado.
— Basta lembrar as consequências quando decidir se tornar teimoso e
suas necessidades de comunicação melhorarão. — Tatum aconselhou.
— Não vou ser espancado cada vez que você não gostar de algo que
eu faça. — Morgan opôs.
Tatum estendeu a mão, e a respiração de Morgan falhou quando a
mão agarrou seu pau duro e acariciou um caminho da base à ponta. Sim,
estava tentando ignorar a coisa desde que se levantou em uma saudação após
a primeira palmada na sua bunda.
— Sempre lhe darei o que você precisa. — Tatum prometeu. — Se
isso inclui algum aquecimento em sua bunda sexy antes de fodê-lo, que assim
seja.
O pau de Morgan endureceu com a declaração de Tatum. Ele fechou
os olhos quando Tatum começou um ritmo metódico na carícia de seu pau. A
antecipação de um tapa fez Morgan dobrar os joelhos e espalhar suas
coxas. Gel fresco tocou a pele sensível de sua abertura apertada.
Tatum esfregou, acariciou, e bateu um dedo contra seu ânus, até que
o músculo soltou, deixando-o entrar. Morgan respirava através da preparação
de Tatum e se concentrou em não gozar. O homem tinha dedos mágicos.
— Você merece uma recompensa por sua bonita apresentação. —
Tatum comentou.
Antes que Morgan pudesse perguntar do que ele estava falando,
Tatum moveu-se para baixo e engoliu o pau de Morgan. Três dedos invadiram
seu ânus e tocaram seu ponto doce. Morgan gritou, suas entranhas torcidas,
sêmen jorrou de seu pau. Tatum engoliu cada gota antes de escalar o corpo de
Morgan para dar-lhe um beijo salgado, com o gosto de seu sêmen.
— Agora está pronto para descobrir como o amor, a conexão mais
pura entre dois homens, pode curar.
Os olhos castanhos de Tatum eram um chocolate quente. E
hipnotizaram Morgan. As ações deste homem mantinham-no tão fora de
equilíbrio que na maioria das vezes ele não sabia onde estava.
— É muito cedo para falar de amor. — Morgan advertiu. — Não nos
conhecemos o suficiente.
— Ah, querido, os homens da minha família sabem o que sentem
quando encontram a pessoa certa para eles. Somos famosos por agarrar e
nunca deixar ir.
Morgan fungou e virou o rosto. Disse a si mesmo que a umidade
nublando seus olhos era de sua luta para não chorar, não de algumas emoções
profundas e estúpidas tentando fazer seu caminho para a superfície.
— Diga-me o que está pensando. — Tatum exigiu.
As palavras se derramaram.
— Todo mundo me deixou. Meu pai se foi antes de eu nascer. Minha
mãe me jogou numa dessas gavetas para bebês indesejados numa
igreja. Todo relacionamento desde então terminou comigo sozinho, enquanto
eles continuaram com suas vidas e encontraram o amor.
Tatum colocou beijos suaves em cada face. Morgan ergueu o queixo,
e Tatum o premiou com beijos lentos e suaves contra sua boca. Tatum
arrastou seus dedos sobre o peito de Morgan e para baixo em sua barriga,
depois, segurou seu pênis latejante e bolas. Morgan estremeceu, mas não
conseguiu desviar o olhar do rosto do outro homem.
Tatum pressionou um pequeno pacote em sua mão.
— Coloque-me o preservativo e deixe-me te amar
Naquele momento Morgan acreditava. Ele rasgou a embalagem e
removeu o látex lubrificado. Segundos depois, ele teve os 22 centímetros de
Tatum cobertos.
Tatum se posicionou entre as pernas de Morgan.
— De agora em diante, tudo em nossas vidas se resume a você e eu.
Dúvidas minúsculas surgiram na mente de Morgan quando
respondeu:
— Só o tempo irá dizer.
Tatum guiou seu pau até que a cabeça pressionou contra a entrada
de Morgan.
— Deixe-me entrar. Deixe-me te amar.
Morgan empurrou para fora, apreciando o movimento de invasão de
Tatum. O homem olhou nos olhos de Morgan, tornando-o impotente contra a
pura força de vontade de Tatum. O corpo de Morgan se submeteu e ele estava
pronto para dar tudo o que o homem exigiu.
Tatum tirou seu pênis parcialmente para fora e empurrou de volta.
— Sinta o seu corpo ao redor da minha carne. Este é o abraço
final. Você me abraçando com a sua alma.
Ninguém nunca falou com Morgan desta forma. Nunca durante o
sexo. Ele não tinha certeza de como responder.
Tatum enfiou os dedos nos cabelos de Morgan, agarrou os fios
apertados, e puxou até seu pescoço arquear para trás, expondo sua garganta.
— Vejo a sombra de dúvida em seus olhos. — Tatum lambeu um
longo caminho até a garganta de Morgan até que seus lábios estavam um fio
de cabelo de distância da orelha de Morgan. — Está tudo bem, doce. Tenho os
próximos sessenta anos para convencê-lo que estou aderindo a você como
cola. Não estou indo embora ou escolhendo qualquer outra pessoa.
Tatum começou uma série de lentas e possessivas estocadas no
corpo de Morgan. O quarto desapareceu. O mundo de Morgan tornou-se
apenas o homem acima dele e as sensações no âmago do seu ser. Logo
Morgan teve que levantar as pernas e envolvê-las em torno da cintura do
homem. Ele precisava de mais, mais profundo, mais duro.
Morgan doía. Ele implorou:
— Mais.
O pau de Tatum inchou e suas estocadas tornaram-se cruéis,
atingindo-o mais profundamente. O orgasmo de Morgan bateu-lhe com força
total, e sêmen explodiu em seu peito. O pau de Tatum empurrou dentro dele,
e através do preservativo, Morgan sentiu o calor da libertação do homem.
Morgan passou os braços em torno de Tatum e abraçou-o
apertado. Lágrimas encheram seus olhos. Ele não sabia por que, e as
piscou. Um cansaço súbito se apoderou dele. Queria ficar abrigado nos braços
de Tatum e dormir o dia inteiro. Apenas ele e Tatum, longe do mundo.
Tatum virou o rosto para Morgan.
— Mudança de planos, doce.
— Oh? — Ele não sabia o quanto eles poderiam mudar. Eles
precisavam ir até o Serviço de Bem-Estar Infantil.
— Vamos levar a menina até o Centro, pegar alguma comida para
viagem, e passar o resto deste dia na cama.
Morgan sorriu.
— Cara, gosto da maneira como pensa.
— Claro que sim. — Tatum saiu da cama, puxando Morgan com ele, e
levou-o para o banheiro. — É por isso que estou no comando.
Morgan estancou e puxou de volta na mão de Tatum.
— Tatum...
Tatum fez uma pausa, olhou por cima do ombro, e piscou.
— Vamos, doce. A aventura será épica.

Capítulo Oito

Tatum caminhou até a fazenda, pronto para encontrar um homem


vestindo xadrez. Fazia duas semanas desde o dia fatídico, que pensou como
um avanço na relação dele e Morgan. Ele sabia que Morgan ainda tinha medos,
mas as ações de Tatum iriam convencer o homem mais do que qualquer
palavra o faria.
— Acho que está preparado para o seu primeiro resgate, tanto quanto
pode estar. — Disse Parker.
Tatum sorriu e acenou para Parker. A amizade, aconselhamento e
formação do homem nas últimas semanas tinha sido inestimável.
— Este pedido de suprimentos foi impressionante. — Tatum
comentou. — Pensei que nunca iria terminar de desembalar tudo. Pelo menos
agora, sei o que está disponível para eu usar no campo.
— Raramente estamos sozinhos durante um resgate. — Parker fez
uma pausa na entrada da varanda da frente. — Na maioria das vezes,
emparelhamos com alguém, e Roman está sempre falando em nossos ouvidos
através de dispositivos de comunicação. Se tiver um problema ou pensar que
algo está errado no resgate, chame e alguém estará lá. Trabalhamos como
uma equipe; essa é a beleza desta empresa.
— Até agora, não tenho queixas. — Disse Tatum. Todos os caras
tinham tomado tempo para mostrar-lhe seus conhecimentos na empresa e
como se correspondiam com os deveres de Tatum. Sua empolgação com o
trabalho ficou mais forte a cada dia. Ele não podia esperar até que Roman
voltasse e a equipe pudesse sair em um resgate.
— Aposto que tem ouvido muitas reclamações desde que Morgan
ficou preso fazendo o trabalho de escritório de Jimmy, enquanto ele está com o
seu pai. — Parker brincou.
Tatum balançou a cabeça, pensando sobre a escalada de frustração e
palavrões que saíram da boca de Morgan nos últimos dias. Mesmo uma oferta,
com algumas ameaças jogadas, de uma surra não tinha suavizado o humor
azedo de Morgan.
— Vamos apenas dizer que estou feliz que Roman está programado
para chegar a qualquer momento agora. — Disse Tatum.
— Sim, mas Morgan ainda estará preso com a papelada até Jimmy
assumir na próxima semana. — Parker apontou. — Uma vez aqui, Jimmy e
Tristen estarão ocupados ajudando seu pai e sua mãe a se estabelecerem em
seu quarto e cuidando de seu pai. Penso que Morgan será forçado a lidar com
as responsabilidades do escritório por um tempo.
— Morgan tem pedido a Roman para contratar um auxiliar de
escritório em tempo parcial. — Tatum admitiu.
Parker riu.
— Certo, e, depois, Morgan terá que sofrer com a pessoa aprendendo
o serviço e aguentando suas asneiras.
— Vou pensar em alguma coisa para manter Morgan um pouco mais
calmo. — Tatum sorriu. Talvez fosse hora de adicionar alguns brinquedos em
suas cenas. Usar os grampos de mamilo daria a Morgan a chance de gritar as
emoções guardadas dentro do pobre rapaz.
— Tenho que dizer que com o que você está fazendo, seu sarcasmo e
humor desafiantes têm diminuído. Pela primeira vez desde que o conheço,
Morgan parece mais feliz e não está transportando essa atitude de raiva e dor
em seus ombros.
— E talvez algum dia ele vai me dizer o que aconteceu com ele. —
Disse Tatum.
A sobrancelha de Parker se levantou e ele parou de andar.
— Quer dizer que ele não lhe contou?
— Contou o quê? — Tatum poderia dizer que o segredo era grande
pela maneira que Parker teve um súbito interesse na parede em torno da
fazenda.
Quando voltou a olhá-lo, Tatum podia ver pelo aperto da boca do
homem que não estaria recebendo nenhuma resposta dele.
— Olha, cara... — Parker enfiou a mão por seu cabelo cor de mel,
fazendo-o levantar-se em tufos. — Não são os meus segredos para
contar. Suas habilidades estão fora deste mundo, e a empresa nunca seria tão
boa sem ele. Mas, se eu fosse ele, não sei se teria vindo aqui para trabalhar, e
muito menos me estabelecido.
— Você percebe que já despertou minha curiosidade. — Disse Tatum.
— Desculpe. — Parker olhou para baixo e arrastou os pés.
Eles retomaram caminhando em direção à fazenda. Quando se
aproximaram da porta da frente, o som de uma serra elétrica perfurou o ar.
— Carson tem as mãos cheias remodelando o espaço para as crianças
adotivas, e agora uma suíte para os pais de Jimmy. — Disse Tatum, mudando
de assunto. Ele iria receber suas respostas de Morgan.
— Acho que era para ser. — Disse Parker. — Não me entenda mal. O
Sr. Earl ter um ataque cardíaco fulminante e precisar de cirurgia de coração é
terrível. Ter que desistir de cuidar do rancho da família que seu avô construiu é
horrível. Mas vir aqui e deixar-nos ajudá-lo com a sua reabilitação é uma coisa
boa.
— Onde é que a entra a parte: ”era para ser”? — Tatum perguntou,
sem entender onde Parker estava indo com este pensamento.
— A mãe de Jimmy adora crianças. — Respondeu Parker. — Ela
cuidou de Jimmy e Tristen por anos. Agora que estamos indo para ter filhos
adotivos aqui, creio que ter aconselhamento e assistência de uma mulher
quando estamos fora em um resgate é o destino.
Tatum pensou sobre a teoria de Parker por um momento.
— Vejo o seu ponto, mas haverá muitas outras caras ao redor para
cuidar das crianças quando estivermos num resgate.
— É verdade, mas uma mãe experiente vai evitar que as coisas
fiquem fora de mão. — Parker argumentou. — Todas essas crianças tiveram
algum tipo de trauma. Quanto mais conhecimento tivermos do modo como as
crianças pensam, melhor.
— Acho que vamos ver como as coisas vão. — Tatum respondeu e
pisou na varanda frontal. — Mas agora, tenho um parceiro para resgatar antes
que ele estoure e desligue a internet e o telefones de todos. Ele ameaçou fazer
isso algumas vezes nos últimos dias.
Um avião voou e circulou acima deles, abafando o riso de Parker. Eles
assistiram a elegante aeronave virar e alinhar com a pista que levava ao
hangar. O avião pousou e taxiou até a pista de pouso, o zumbido de seus
motores diminuindo. À medida que se aproximava, o muro bloqueou a vista de
Tatum do avião no hangar.
— Bem, Roman chegou. — Parker anunciou. — Agora podemos obter
todos os detalhes para que você e eu possamos preparar os medicamentos
para cuidar do Sr. Earl.
Antes que Tatum pudesse responder, a porta da frente foi
aberta. Morgan saiu correndo, passou por eles, e continuou correndo pela
estrada de cascalho em direção ao hangar.
Parker fez um gesto para um UTV estacionado alguns metros
distante.
— Vamos com o Ranger. Não quero perder um segundo dos fogos de
artifício.
Tatum assentiu e seguiu Parker ao veículo. Quando estacionaram em
frente ao hangar, Tatum viu que Styx tinha a escada de saída descansando
contra o avião de dez lugares. Na parte inferior da escada, havia um Morgan
furioso, braços-cruzados. O corpo do homem vibrava e Tatum correu, pronto
para parar Morgan de fazer algo que ambos se arrependeriam.
Roman apareceu na porta do avião. Um manto de poder rodeava o
homem grande. Enquanto descia as escadas, seu olhar nunca deixou
Morgan. Quando chegou ao chão, ele cruzou os braços sobre o peito, copiando
o homem agitado diante dele.
— Problemas, Morgan?
— Estou cansado de você sempre me deixar segurando o rojão. —
Morgan rosnou. — Cade Miller me contratou para cuidar do lado técnico da
empresa, não para ser um secretário decorativo.
Roman ergueu o queixo e estreitou seu olhar.
— Eu não deixaria Jimmy ouvi-lo se referir a ele nesses termos. Sua
posição é tão valiosa quanto qualquer outra pessoa nesta empresa. — Roman
levantou uma sobrancelha. — Mesmo a minha.
Tatum envolveu seu braço em volta da cintura de Morgan, parando o
homem de pular em Roman. Era tudo o que podia fazer para manter o homem
enfurecido sob controle.
O tom de Roman ficou mortal.
— Deixe ele ir.
Não tendo nenhuma escolha senão seguir o comando de seu chefe,
Tatum liberou seu amante.
Morgan se moveu, não parando até que estava no rosto de Roman.
— Você deixou claro há muitos anos que sou descartável. — O rosto
corado de Morgan empalideceu e assumiu um tom acinzentado. — Naquela
época, eu não tinha escolha no que aconteceu. Você nunca se preocupou em
perguntar, mas passei meses no hospital me recuperando depois que
descobriram que fui eu quem lhe deu a chance de fugir daquele inferno
vivo. Mesmo o seu clube privado não funcionou. Me recuperei e aprimorei
minhas habilidades técnicas. Trabalhei duro e fiz uma reputação merecida por
ser top na minha área.
— Pensei que estabelecemos isso quando me tornei o líder do Resgate
do Oeste. — Disse Roman.
As bochechas de Morgan avermelharam.
— Pensei que eu poderia esquecer o passado. A vida continuou e você
encontrou Jimmy. O que estava bem. Sou do tipo para ser usado e depois
jogado fora. Mas ao longo dos últimos anos, você continua apertando os
parafusos. — Morgan recuou. — Não tenho nenhum problema em ajudar
quando há uma necessidade. Todos nós cobrimos um ao outro. Mas a posição
do seu marido cresceu e se expandiu. Ninguém mais foi solicitado para fazer o
seu trabalho e ajudar no escritório quando algo vem à tona. Você me mantem
nessa posição, sob suas botas. Já tive o suficiente. Desta vez, serei o único a
abandonar você.
Tatum observou Morgan se voltar e dirigir-se para a fazenda. Ele
olhou para um Roman impassível. Ele queria gritar com Roman para fazer
algo. Deixar Morgan ir seria desastroso para a equipe e para Tatum. Ele queria
correr atrás de seu amante e tentar acalmá-lo para que pudessem conversar
sobre isso. O que diabos aconteceu?
A aparição de Jimmy no topo da escada fez todos os seus
pensamentos chiar a uma parada. Puta merda!
— Roman Marshall. — Jimmy gritou e desceu as escadas. —
Conversamos sobre isso. Eu lhe disse que com o seu passado, se aproveitar de
Morgan iria sair pela culatra. Vá consertar as coisas com ele. Estou exausto e
meus nervos estão a flor da pele. Não posso levar muito mais stress. Quero
olhar para a frente com nossa vida ficando para trás em uma rotina. Não posso
esperar para ajudar com os filhos adotivos que estarão chegando, e com os
meus pais aqui. Para o bem da equipe, e o resto de nós, conserte as coisas
com Morgan.
Jimmy tinha chegado a um ponto na escada onde sua pequena
estatura estava a uma altura maior que seu marido. Roman enfrentou Jimmy,
e os dois se encararam numa comunicação silenciosa.
Roman estendeu a mão, puxou Jimmy mais perto, e o beijou. O beijo
não durou muito tempo, mas o dominante em Tatum viu que a conexão tinha
sido retomada. Jimmy podia puxar cordas, mas Roman governava os cabos.
Depois de colocar Jimmy de volta na escada, Roman assentiu
enquanto passava por Tatum e Parker, e subia no Ranger. Tatum o observou
dirigir o UTV para onde Morgan ainda estava caminhando com raiva pela
calçada. Roman desacelerou o veículo e gritou alguma coisa. Morgan balançou
a cabeça. Roman se inclinou, agarrou o homem, e puxou-o no banco do
passageiro. O veículo decolou n um spray de cascalho e poeira em direção à
fazenda.
Tatum observou por um momento antes de olhar para Jimmy.
— Que diabos foi isso?
— Ele não sabe? — Jimmy perguntou a Parker.
— Não. — Parker enfiou as mãos nos bolsos da frente da calça
jeans. — Acho que ele não sabe sobre ninguém.
— Vá ajudar Styx e Flyer a trazer nossas coisas até a fazenda. Tatum
e eu estamos indo para um pequeno passeio.
— Não tem problema. — Parker não perdeu tempo em subir os
degraus e entrar no avião.
Tatum olhou para Jimmy, imaginando o que o homem tinha a dizer.
— Vamos. Vamos para a casa. — Jimmy sacudiu a cabeça em direção
à fazenda. — Estou cansado e você merece algumas respostas.
— O que Morgan quis dizer sobre o clube secreto de Roman? — Ele ia
começar com essa pergunta, mesmo que a parte hospitalar do discurso de
Morgan o incomodasse mais.
— Há muito tempo atrás Roman foi contratado por um cara rico, cuja
esposa havia sido sequestrada pela máfia. — Começou Jimmy. — Eles estavam
exigindo milhões do cara. Roman escondeu o cara rico e seus filhos numa casa
segura e foi trabalhar para o mafioso, para tentar encontrar a mulher e tirá-la
de lá. Morgan estava trabalhando disfarçado para os Federais para derrubar
essas pessoas, que estavam envolvidos em alguma merda pesada, incluindo
tráfico de humanos. — Jimmy fez uma careta. — Roman não tinha ideia de que
Morgan estava trabalhando disfarçado. Você também deve saber que Roman e
Morgan tornaram-se próximos e pessoal.
— O quão próximo? — Tatum preparou-se para a resposta.
— Roman diz que não foi mais longe do que um boquete. — Jimmy
respondeu. — Veja. Não gosto disso, mas é passado e agora Morgan tem você.
— Morgan mostrou muita raiva em direção a Roman por apenas um
boquete. — Tatum comentou. — Alguma coisa deve ter acontecido.
— Oh, a merda bateu no ventilador. — Disse Jimmy. — Num
momento de fraqueza pós-sexual, que queima a minha bunda por sinal,
Roman disse a Morgan onde tinha escondido o marido e os filhos. Acho que no
dia seguinte, mataram a esposa e incendiaram a casa, matando o cara rico e
seus filhos. Roman mal conseguiu sair de lá inteiro. Agora, descobrimos que a
fuga de Roman foi graças a Morgan.
— Roman pensou que Morgan o vendeu. — Essa seria a conclusão
fácil, mas Tatum não acreditava nisso nem por um momento.
— Sim. — Jimmy concordou. — Mas ele não o fez. O marido ligou
para a sua secretária, que também era sua amante. Os mafiosos tinham seu
telefone grampeado e o encontraram. Roman não lida bem com traidores. Ele
fez com que todos os seus contatos soubessem o que Morgan supostamente
tinha feito.
— Então, Morgan fez tudo que podia para ajudar Roman. Suas ordens
eram para ser deixado para trás e banido. — O coração de Tatum doía por seu
amante. — E, então, ele aceitou um trabalho aqui. Por outro lado, Morgan
anseia aceitação. O pensamento de ser parte de uma equipe unida deve ter
sido muito tentador, mesmo que Roman liderasse o grupo.
— Cade Miller, do Resgate Contratado original, o contratou. — Disse
Jimmy. — Roman só foi trazido depois que a equipe foi montada.
Tatum não fez comentários. Ele precisava encontrar seu amante e
segurá-lo.
— Há mais. — Disse Jimmy.
— O quê? — Céus, quanto mais Morgan foi obrigado a suportar?
— Não tenho certeza, mas acho que Morgan pode ter tentado se
reunir com Parker, mas ele já estava interessado em seus encanadores. —
Jimmy levantou a mão para evitar que Tatum falasse. — Ele emaranhou
línguas com Tristen, quando meu irmão estava em sua fase puta e
experimentando todos na fazenda. Santos mergulhou e reivindicou
Tristen. Eles pensavam que estavam mantendo um grande segredo, mas
Reese costumava ir ao quarto de Morgan um par de noites a cada semana.
— É tudo? — Tatum perguntou com os dentes cerrados.
— Não fique com raiva de Morgan. — Jimmy censurou. — Ele era livre
quando tudo aconteceu.
Tinham chegado à porta da frente da fazenda. Tatum fez uma pausa
e olhou para Jimmy.
— Não estou com raiva de Morgan. Estou furioso com o que
aconteceu com ele. Todos em sua vida o abandonaram. Ninguém jamais
mostrou-lhe que ele vale a pena.
Tatum não se incomodou em esperar pela resposta de Jimmy. Ele
entrou na fazenda e correu pelo corredor até seu quarto, onde Morgan dormia
todas as noites e onde a maioria de suas coisas agora tinha um lugar
próprio. O antigo quarto de Morgan parecia muito vazio.
Um quarto vazio cumprimentou-o.
Tatum mudou de direção e abriu a porta do quarto de Morgan. O
quarto aparentava desuso e abandono. Tatum recuou e seguiu pelo corredor
ao lado da porta da frente, onde o escritório de Roman era localizado. A porta
do escritório estava fechada.
Um ruído chamou sua atenção, e ele continuou no final do
corredor. Através da porta aberta da sala de descobertas técnicas de Morgan,
Tatum o achou.
O amor da vida de Tatum estava sentado em sua cadeira de
escritório, batendo uma chave em seu laptop. Fotos de drones, caminhões 4x4
de alta potência e todos os tipos de pequenos equipamentos técnicos
brilhavam em toda a tela.
Tatum entrou na sala e se aproximou. Encostou a bunda na borda da
mesa e procurou o rosto de seu amante. Olheiras de tensão coloriam a pele
sob seus olhos. Através da barba curta, Tatum podia ver as linhas que
delimitam os cantos de sua boca.
— Bem, vamos fazer nossas malas? — Perguntou Tatum.
Agora que ele disse as palavras, sua mente começou a vagar. Não
era como se pudessem voltar para as praias da Califórnia e vender cachorros-
quentes. Lee e Morgan não se davam bem, e agora Tatum não estava tão
ansioso por Morgan e Reese estarem próximos.
Morgan desviou seu olhar longe do monitor do computador e olhou
para Tatum.
— Está dizendo que se for embora, você vai junto?
— Claro. Nós somos um time. — Respondeu Tatum. — Eu lhe disse
que está preso comigo.
Eles precisariam seguir o plano B, seja lá o que fosse. Droga, teria
gostado de participar de um resgate.
Morgan estudou Tatum, parecendo olhar para sua alma. Um pequeno
sorriso se formou no rosto do homem bonito.
— Vamos ficar.
Tatum piscou, tentando envolver sua mente em torno das palavras
de Morgan.
— Realmente? Como?
— Roman pediu desculpas, me deu um grande aumento, a
contratação de um outro assistente de escritório, e me disse para pedir
qualquer coisa que quero para a empresa.
Tatum riu e puxou o homem precioso de sua cadeira e entre suas
pernas. Ele capturou aqueles lábios tentadores em um beijo doce.
Uma vez que seus lábios se separaram, Tatum perguntou:
— Foi o que temos que o ajudou a resolver, não foi?
— Sim. — O sorriso de Morgan iluminou o quarto.
Tatum segurou a bochecha do homem e olhou profundamente em
seus olhos.
— Morgan King. Quer se casar comigo?

Capítulo Nove

Duas semanas depois

— Eu os declaro marido e marido.


Morgan olhou para Tatum. Puta merda! Eles haviam feito isso.
— Eu te amo, Morgan King.
Tatum puxou um atordoado Morgan e começou a saquear sua
boca. Puta merda! Ele sabia que amava Tatum, e tinham acabado de se casar,
mas nenhum deles disse as palavras até agora.
O som de um limpar de garganta penetrou na consciência de
Morgan. Ele deu ao amplo peito de Tatum um leve empurrão. Tatum recuou e
sorriu para ele. O mundo de Morgan nunca brilhou tão brilhante. Emoções
bloquearam sua garganta, e as palavras não saíam. Tatum não pareceu se
importar.
— Acho que esqueceu algo, doce. — Disse Tatum.
Morgan franziu a testa, não sabia do que Tatum estava falando.
Tatum acenou para a frente da calça de Morgan.
— Sei que você sempre a carrega.
Compreensão floresceu. Com um rosto ficando mais quente a cada
momento, Morgan enfiou a mão no bolso da frente e tirou a faixa de cabelo de
Tatum.
Tatum tomou o pequeno pedaço de tecido e deslizou no dedo de anel
de Morgan. Mais uma vez, seus lábios se encontraram num beijo doce. Morgan
nunca se sentiu tão querido, e alegria se infiltrou em sua alma, curando as
manchas escuras de dor.
— Agora que fizemos tudo legalmente, está pronto para fazer o
compromisso permanente? — Perguntou Tatum. — Eu lhe disse que nunca vai
se livrar de mim.
Morgan assentiu. Tatum agarrou sua mão, e puxou-o para fora
através de vasos cobertos de flores que iam até o altar coberto de tapete
branco, deixando para trás a capela de casamento de Vegas. Eles voltariam na
manhã seguinte para pegar as fotos e outras coisas que acompanhavam o
pacote.
Uma hora depois, Morgan observou o artista delinear os elos da
cadeia em todo o antebraço de Tatum, cerca de seis centímetros acima de seu
pulso. O homem já tinha escrito o nome de Morgan em letra cursiva através do
peitoral esquerdo de Tatum, sobre o coração. Uma vez que o trabalho fosse
concluído, as primeiras letras de seus nomes seriam adicionadas ao espaço
deixado entre os links na parte superior do braço de Tatum.
Morgan também teria a cadeia e letras tatuadas em seu braço, e o
nome de Tatum seria escrito em sua bunda. Morgan foi o último da equipe a se
casar, e gostava que estivessem seguindo a tradição do Resgate Contratado do
Oeste com o casamento em Vegas e as tatuagens. Adorou que Tatum o
amasse o suficiente para concordar com seus desejos.
Após as tatuagens serem feitas, saíram para jantar e, ainda em seus
ternos, experimentaram as máquinas caça-níqueis. Morgan ganhou cinquenta
dólares e perdeu setenta. Tatum riu e, com uma mão na parte inferior das
costas de Morgan, o guiou até seu quarto.
Quando a porta do seu quarto se fechou atrás deles, Tatum agarrou
os ombros de Morgan e empurrou-o contra a parede.
— Preciso ver o meu nome. — Sussurrou no ouvido de Morgan.
Morgan abriu sua calça e deixou-a cair no chão. Ele olhou por cima do
ombro para encontrar Tatum ajoelhado atrás dele. Ele sentiu um dedo traçar a
borda do plástico que o artista usou para proteger a tinta na pele macia de sua
nádega.
— Não posso esperar até que esteja curado e possa avermelhá-la com
minha mão. — Tatum admitiu e beijou o lado do quadril de Morgan.
— Posso dar-lhe uma surra enquanto ela cura. — Morgan ofereceu.
— Não vai acontecer, doce. — Tatum respondeu e se levantou. — Tire
os sapatos e a calça. Quero consumar nosso casamento.
Enquanto obedecia, Tatum se despiu, jogou sua roupa na cama e
desapareceu no banheiro por um momento, voltando com lubrificante e uma
caixa de preservativos. Morgan abriu as pernas, diante da parede, e
esperou. Em seu interior, sua felicidade crescia com os acontecimentos da
tarde.
Com mãos firmes, Tatum tirou o paletó de Morgan e sua
gravata. Morgan levantou os braços ajudando Tatum a retirar sua
camisa. Antes que ele pudesse baixar os braços, seu amante dominante
envolveu um cinto em torno de seus pulsos. Ele tentou manter a respiração
suave, mas ondas de emoção ameaçavam sua compostura.
O corpo quente de Tatum o empurrou contra a parede e grudou em
suas costas. Morgan só podia ficar com as mãos atadas descansando na
parede, acima da cabeça, e submeter-se à vontade de seu marido.
Morgan estremeceu quando Tatum sugou o lado de seu pescoço, sem
dúvida, deixando uma marca de posse para trás. Rindo, Tatum soltou e
sussurrou contra seu ouvido:
— Entenda o que estou fazendo, doce. Suas pernas estão abertas e
seu corpo está aberto aos meus desejos. Suas mãos estão presas e meu nome
é uma marca permanente em sua bunda. Você se sente vulnerável? —Tatum
segurou o queixo de Morgan e virou sua cabeça até olhar para o seu rosto. —
Quero a verdade.
— Não. — Morgan respondeu, com seu coração. — Nunca me senti
tão seguro antes.
— Você está seguro, protegido e valorizado. — Tatum declarou.
O pau de Morgan que tinha ido a meio mastro durante os
movimentos possessivos de Tatum, agora subiu para uma plena ereção.
Esforçou-se para manter suas mãos na parede acima de sua
cabeça. Ele coçava para dar a seu pau um bom aperto.
Necessidade o fez deslocar seu peso de uma perna para a outra.
Tatum segurou o rosto de Morgan e o beijou. Um plástico duro e frio
tocou a pele de sua bunda, e líquido frio escorreu entre suas nádegas. Um
momento depois, um suave baque revelou que Tatum tinha deixado cair a
garrafa de lubrificante.
Sucção, beijos, lambidas levaram Morgan a um mundo de desejo
apaixonado. Ele abriu os lábios para a língua de Tatum e deixou o homem
explorar os recantos de sua boca.
Os dedos de Tatum empurraram para a fenda da bunda de Morgan e
espalharam o líquido escorregadio sobre a pele sensível guardando seu
ânus. Morgan relaxou, deixando seu corpo aberto para o prazer que aqueles
dedos maravilhosos poderiam lhe dar.
Não ficou desapontado quando Tatum pressionou um dedo, seguido
por outro.
Tatum levantou a cabeça e perguntou:
— É demais, doce?
Morgan balançou a cabeça e tentou virar o rosto ainda mais,
querendo um beijo de seu marido. O homem respondeu às suas necessidades,
e um beijo duro enviou Morgan para a lua. Tatum sondou seu ânus, esticando
e abrindo-o com um terceiro dígito, levando-o selvagem.
O corpo de Morgan estremeceu. Seu pênis necessitado derramando
gotas de pré-sêmen sobre o tapete a seus pés.
Atendendo a seus desejos, Tatum empurrou seu pau grosso contra o
ânus de Morgan e fechou a mão sobre o pau de Morgan. Um gemido escapou
dele, quando a cabeça larga do pênis de Tatum passou através do músculo,
forçando seus quadris para frente. Os calos nas mãos de Tatum esfregando
sobre a pele sensível de seu pênis.
Tatum se afastou de seu rosto e agarrou seu quadril. O homem
começou a empurrar profundamente em seu canal, fazendo com que o impulso
o levasse a se mover contra a mão em seu pau. Morgan amou cada
segundo. Ele puxou o ar em seus pulmões, e quando soltou o oxigênio, seu
corpo relaxou e se submeteu à vontade de Tatum.
Logo, ondas de desejo se formaram em seu baixo ventre e pressão se
acumulou em suas bolas. O pau dentro de seu canal se expandiu, esticando-o
ao máximo.
— Goze para mim, meu marido. — Tatum ordenou.
As bolas de Morgan bateram contra seu corpo, e sêmen explodiu de
seu pau, pintando listras na parede na frente dele. Ele gritou quando ondas do
seu orgasmo continuou e continuou.
Tatum bateu seu pau no canal de Morgan, e a mão segurando em seu
quadril se apertou. Sabia que estriam gozando juntos. Uma onda de felicidade
se juntou a seu êxtase.
Quando seus corpos se acalmaram e sua respiração voltou ao normal,
Tatum passou os braços em torno de Morgan e o abraçou apertado.
— Feliz casamento, marido. — Tatum sussurrou em seu ouvido.
Morgan recostou-se e agarrou os braços de Tatum.
— Feliz casamento, marido.

****
— Eu me casei.
— Você está brincando comigo? Pensei que estava esperando eu
terminar minha missão aqui na Alemanha. Como é que vou te montar e te tirar
de seus pés, se já tiver uma bola e uma corrente pendurada em seu pescoço?
Morgan riu para o amigo. A personalidade do sujeito era
hilariante. Morgan podia admitir que a aparência do soldado não era ruim de
se olhar também.
Cabelo loiro cortado curto, olhos castanhos e um sorriso contagiante
completavam a imagem olhando para ele. Skype era uma grande invenção.
— É certo. — Morgan riu e brincou: — Teria que correr por minha
vida, se todas as mulheres que lambem seus pés descobrirem que
secretamente estava apaixonado por mim.
— Eu jogaria tudo fora por você, meu amor.
Morgan riu do falso sotaque irlandês saindo daquela boca
generosa. Ele fez uma pausa, pensando no motivo que o fez ligar para seu
amigo.
Limpando a garganta, Morgan foi direto ao assunto.
— Você recebeu esse novo programa que te enviei? Penso que vai
ajudar a esclarecer os erros que está enfrentando em seu hardware.
— Tão longe, tão bom. — O homem deu um sorriso brilhante e
levantou uma sobrancelha. — Acha que poderia dar uma olhada em outro
problema em que estou tendo dificuldade?
Morgan riu do duplo sentido da frase.
— Trabalho ou jogo?
— Ha! Você me pegou. — O homem admitiu. — Você vê, tenho esse
cyborg e continuo a explodir...
Mãos repousaram e apertaram os ombros de Morgan. Ele inclinou a
cabeça para trás para ver Tatum atrás dele. A boca do homem estava aberta
quando olhou boquiaberto para o monitor do computador.
— Ezra?
— Tatum?
Confuso, Morgan olhou entre Tatum e o monitor.
— Vocês se conhecem?
O olhar de Tatum voltou a Morgan, e linhas de expressão apareceram
em sua testa.
— Vim aqui para ver com quem você estava flertando. — Tatum
sacudiu a cabeça e olhou para o monitor antes de olhar para Morgan. — Como
conheceu meu irmão?
— Ezra é seu irmão? — Perguntou Morgan.
— Sim. — Tatum olhou para o monitor. — Tenho tentado ligar para
lhe dizer que me casei.
— Morgan, você se casou com meu irmão? — Acusação cobria as
palavras de Ezra.
Ele conhecia o humor do homem e levantou as mãos em sinal de
rendição.
— O que eu deveria fazer? Ele continuou me perseguindo.
Todos os três homens riram.
Quando a sala ficou em silêncio, Morgan notou que os homens
estavam olhando um para o outro. Ele sabia que era hora de deixá-los
sozinhos.
Erguendo-se, beijou o rosto de Tatum, e então virou a cadeira para
ele.
— Divirta-se falando com o seu irmão. — Ele olhou para o monitor. —
Adeus, Ezra.
No momento em que chegou à porta, uma tagarelice animada enchia
a sala.

****
Uma semana depois, Morgan esperou para que todos estivessem
sentados em torno da mesa da sala de jantar. A pilha de sanduíches coloridos
enfeitando o prato no centro da mesa estava seduzindo a todos para entrar. O
Sr. e Sra. Earl fizeram uma aparição hoje. O espírito do homem ainda era
forte, embora seu corpo precisaria de tempo para superar o dano do ataque
cardíaco quase fulminante.
Após seu regresso de Vegas, Morgan e Tatum descobriram que
algumas grandes decisões foram tomadas. O irmão mais velho de Jimmy e
Tristen estava comprando o rancho de seus pais, e os Earl iriam ficar em Los
Héroes definitivamente.
Um aceno de Tatum fez Morgan limpar a garganta à espera de
atenção de todos. Não sabendo como começar, decidiu vomitar tudo.
— Acabei de receber um telefonema de Sheilla Bennington. Houve
uma invasão contra drogas do lado sul da cidade. As autoridades encontraram
quatro crianças que viviam no meio de uma casa de metanfetamina. Seus pais
são viciados e vendem drogas para poderem usar mais drogas.
A Sra. Earl levou a mão à garganta.
— Oh, isso é terrível.
— Sheilla perguntou se eu consideraria tomar uma ou mais das
crianças. — Morgan continuou. — Essas crianças estão com medo e
confusas. Elas têm problemas. Eu queria discutir a possibilidade de trazer
qualquer um deles aqui com vocês para obter suas opiniões sobre o assunto.
— Sabe suas idades e algo sobre seu histórico médico? — Perguntou
Roman. — As crianças podem ter problemas potenciais de saúde que podem
ser agravados em certos tipos de ambientes.
— O mais velho é um menino de doze anos, seu nome é Mason. —
Explicou Morgan. — Ele está limpo, mas perdeu mais dias de escola do que
participou. Fui avisado que ele tem um gênio forte. Os policiais acham que os
pais o usavam para vender drogas na rua. — Morgan olhou ao redor da mesa
para permitir que a informação fosse absorvida antes de continuar. — Joey
tem dez. Mais uma vez, a escola não era uma prioridade em sua vida. Seu
físico não mostrou sinais de abuso, mas acho que foi deixado sozinho para
fazer o que queria. Os outros dois são meninas. Lea tem dois. Ela está
desnutrida, não anda muito, e não começou o treinamento básico. —Morgan
respirou. Algo sobre Lea o tocou. — O bebê é Katie. As autoridades estimam a
idade em dois meses. Ela não tem registro de nascimento. E está em
tratamento para o vício.
— Droga. — Parker comentou.
O resto da sala concordou com a cabeça.
— Quatro crianças é muito, e eles vêm com problemas. — Disse
Tatum.
Morgan amava o homem ainda mais por se manifestar. Era tudo o
que podia fazer para não gritar o que ele queria. Odiou, mas podia ser um
adulto, por um tempo, pelo menos.
— Estou pedindo para darem suas opiniões. — Morgan observou os
rostos ao redor da mesa. — Trazer qualquer uma destas crianças aqui afetará
todos vocês.
— Temos o conhecimento médico para lidar com as meninas. —
Parker apontou.
— E temos músculos necessário para lidar com os meninos. — Disse
Rhys e sorriu.
— O que acontece quando formos chamados para um resgate? —
Perguntou Roman.
— Atuei como babá de uma sobrinha ou sobrinho no meu tempo. —
Disse Garrett. — Tolliver e eu não teremos nenhum problema em cuidar de um
grupo de crianças que não pediram para passar o que passaram.
— Claro que vou ajudar. — Disse a senhora Earl.
— Jimmy e eu também. — Tristen entrou na conversa.
Jimmy olhou para Tristen.
— Eu vou?
— Sim. — Respondeu Tristen.
Jimmy deu de ombros.
— Estou dentro.
— Acho que, como de costume esta casa está se juntando por uma
grande causa. — Joe falou, e todos em volta da mesa se acalmaram, querendo
ouvir o que o cowboy tinha a dizer. — Agora a questão é, quantas dessas
crianças Morgan trará para casa?
Ninguém falou.
Morgan agarrou a parte de trás da cadeira, pronto para saltar para
fora de sua pele. Ele queria falar, mas velhos sentimentos de inadequação
sufocaram suas palavras.
— Você nunca segurou essa língua antes. — Disse Roman. —
Derrame, Morgan.
— Quero ajudar a todos eles. — Desabafou.
— Você tem tempo suficiente para verificá-las, mantendo seu próprio
horário? — Perguntou Roman. — Vou repetir o que já foi mencionado: é um
monte de crianças.
— Com a ajuda de todos, acho que podemos dar a estas crianças uma
chance de lutar por uma boa vida. — Morgan quis dizer cada palavra.
— Tudo bem. — Roman olhou ao redor da mesa. — Objecções a
trazer estas quatro crianças para Los Héroes? Seus comentários são bem-
vindos. Tenho certeza que todos gostaríamos de discuti-los.
Mais uma vez, a sala ficou em silêncio. O coração de Morgan
trovejou. Ele tinha feito isso, e pelos olhares de expectativa no rosto dos
homens, eles estavam prontos para esta nova aventura também.
— Diria que vamos ter uma casa cheia de crianças. — Comentou
Roman.
Morgan virou-se para sair. Um olhar para trás mostrou Tatum o
seguindo.
— Para onde está indo? — Garrett o chamou. — Não vai comer um
lanche?
— Não. — Morgan respondeu de volta. — Tenho algumas crianças
para pegar.
Duas horas depois, Morgan decidiu que a aventura não era tão
fascinante como pensou que seria. Ele não podia esperar para chegar a Los
Héroes. O mais velho, Mason, se enroscou no canto do banco de trás e se
recusou a falar ou responder a qualquer de suas perguntas. Joey não
conseguia parar de remexer ao redor, e Tatum teve que parar a caminhonete
duas vezes para Morgan poder afivelá-lo de volta em sua cadeira infantil. Lea
estava com medo, e não parava de chorar. O bebê juntou-se a ela; seu
pequeno corpo tendo espasmos como resultado das drogas correndo através
de seu sistema.
Tatum estendeu a mão e pegou a mão dele. O sorriso do homem e a
força quente em seu aperto acalmou os nervos de Morgan. Ok, talvez ele
pudesse fazer isso.
Quando chegaram à fazenda, Morgan retirou Lea de seu
assento. Aqueles grandes olhos castanhos se afogando em lágrimas derreteu
seu coração.
— Vamos, bebê. Vamos ver se Garrett tem alguns cookies na cozinha.
A menina parou de chorar e o olhou com os olhos arregalados.
— Eu gosto de biscoitos. — Disse Joey.
— Bem, tenho certeza que Garrett tem o suficiente para todos. —
Morgan disse ao menino.
— Biscoitos não são saudáveis. — Mason comentou.
— Suponho que seja verdade. — Disse Morgan. — Sempre pensei que
uma boa regra na vida é desfrutar das coisas com moderação.
Mason não respondeu, mas não mais estava zombando de Morgan,
então ele decidiu olhar para a conversa como uma vitória.
Com Tatum segurando o bebê e Morgan, Lea, eles levaram os
meninos para a fazenda. Foram recebidos por toda a equipe e seus maridos.
Por um momento, parecia a Morgan que estavam tendo um
impasse. Carson avançou e quebrou a tensão no edifício.
— Que lindo bebê. — Ele exclamou e estendeu as mãos.
Tatum não hesitou e entregou a criança agora choramingando para
Carson. Com um largo sorriso iluminando todo o seu rosto, o pequeno homem
olhou para a pequena menina.
— Olha, Isaiah. — Alegria em sua voz. — Ela se parece com você.
Carson estava certo. O bebê se parecia com Isaiah. Morgan nunca
tinha pensado em perguntar sobre a ascendência das crianças. Não tinha
importância para ele de uma forma ou de outra, quando Sheilla conduziu as
crianças fora de seu escritório e viu que eram negros. Eram crianças que
esperava ajudar.
— Aposto que ela está com fome. — Carson sacudiu o bebê e, para
surpresa de Morgan, ela se acalmou. — Será que enviaram suprimentos junto?
— Aqui está. — Tatum entregou a Isaiah, o saco de fraldas de
grandes dimensões, e os três desapareceram na cozinha.
— Você gosta de carros?
Morgan olhou para ver Mason falando com Styx. O olhar do menino
viajou pelo macacão manchado de graxa do grande homem.
— Gosto de qualquer coisa com um motor. — Respondeu Styx. Sua
voz tinha melhorado desde que chegou a Los Héroes, mas ainda soava como
se tivesse cascalho na garganta.
— Você os conserta ou algo assim? — Perguntou Mason.
Styx assentiu.
— Acho que seria divertido ver isso. — Comentou Mason.
— Quer ver no que estou trabalhando? — Perguntou Styx.
Os olhos do menino se arregalaram.
— Sério?
Styx assentiu.
— Você tem que pedir permissão a Morgan.
Mason olhou para Morgan. Desafio guerreou com uma sombra de
súplica em seus olhos.
— Vá em frente. — Disse Morgan.
— Vou com você. — Flyer levantou e caminhou até Mason. — Posso
mostrar-lhe meus brinquedos. Tenho algumas belezas no hangar.
— Você pilota aviões? — Mason quase tropeçou nos próprios pés
tentando manter-se com Styx, enquanto caminharam para fora da porta.
Morgan olhou para Joey e encontrou-o quase dançando na frente de
Joe, que estava sentado em uma das cadeiras altas perto da porta de entrada.
— Há cavalos, gatos e cachorros no celeiro?
— Há cavalos e alguns gatos. — Respondeu Joe. — Os cães que
temos aqui estão nos quartos de seus donos no momento. Vou apresentá-lo a
eles quando as coisas se acalmarem.
— Posso ver os cavalos? — Agora Joey tinha as mãos sobre os joelhos
de Joe.
— Claro, se Morgan disser que está tudo bem. — Disse Joe.
Joey virou e apertou as mãos. Morgan riu diante da pequena rainha
do drama.
— Posso, Morgan?
— Tudo bem, mas precisa obedecer a tudo o que Joe disser. —
Respondeu Morgan. — Os cavalos são animais bem grandes.
— Oh, eu vou. — A animada criança prometeu.
Joe se levantou e Joey colocou sua mão na do cowboy. Quando se
afastaram da fazenda, Joey começou a contar a Joe sobre alguém que ele
conhecia com um coxear como o seu e como uma bomba explodiu sua perna.
— Diria que as coisas estão tendo num bom começo. — Roman tocou
o rosto de Lea e sorriu.
A menina sorriu de volta antes de enterrar a testa no peito de
Morgan, espreitando de lado para Roman.
— Tenho certeza que vamos ter problemas e eles vão nos desafiar. —
Disse Morgan. — Mas vou levar os bons tempos enquanto durar. — Morgan
olhou para Lea. — Que tal acharmos aquele biscoito que prometi?
— Cookie. — A menina corrigiu.
Morgan riu e se dirigiu para a cozinha.

Capítulo Dez

Morgan terminou de atualizar a planilha de inventário e apertou o


botão Salvar. Ele esticou os braços acima da cabeça, tentando soltar seus
músculos cansados. As duas últimas semanas tinham sido tanto desgastantes
como emocionantes. As crianças estavam mais desafiadoras do que pensava
que seriam, mas as recompensas foram maiores.
Pensando sobre as crianças o fez se perguntar o que eles estavam
fazendo. As coisas estavam muito quietas. A partir do monitor de bebê portátil
preso ao cinto, nenhum som das meninas exigentes chorando para serem
carregadas. Os meninos não estavam de pé em sua porta do escritório,
declarando que estavam entediados e que deveria fazer algo sobre isso, como
dar-lhes um novo jogo de vídeo.
Ah! Jogos de vídeo eram apenas recompensas, e ele deixou os
meninos saberem disso, em termos inequívocos. Trabalho escolar era
prioridade. Isso não os impediu de pedir, uma e outra vez.
Morgan deixou seu escritório.
Um riso estridente chamou sua atenção, e ele o seguiu para o
escritório de Roman.
O grande homem sentava-se atrás da mesa com Lea em seu
colo. Roman segurava um cavalo de plástico, fazendo o brinquedo galopar
sobre a mesa. A menina bateu suas pequenas mãos, e os arcos nas
extremidades das trancinhas cobrindo sua cabeça dançavam.
Jimmy estava sentado no braço da cadeira do escritório de
Roman. Ele pulava com uma ovelha de plástico branco em um círculo,
incitando mais o riso da criança.
Morgan sorriu para a imagem a sua frente. Parecia que a princesa
tinha encontrado seu rei e cavaleiro.
Depois de se afastar, Morgan caminhou para a sala em busca do
resto das crianças.
Num canto da sala de estar, Isaiah e Carson sentavam juntos na
enorme cadeira de balanço. O bebê Katie estava com os olhos fixos em Isaiah,
observando cada movimento do homem grande. Uma voz de tenor grave,
profunda e clara soou com harmonia, hipnotizando o bebê com as notas de
uma canção de ninar.
Um movimento fora da janela chamou a atenção de Morgan. No início
da semana Joe tinha tomado um dos reboques de cavalos e pegou um par de
pôneis de um rancho de resgate e reabilitação. Joey estava sentado num
desses pôneis, apertando as rédeas com excitação, um sorriso repleto de
felicidade em seu rosto. Joe ficou ao lado do cavalo com uma mão apoiada
sobre a rédea do cavalo e outra nas costas de Joey. O garoto acenou para cada
palavra que Joe falou.
O olhar de Morgan se deslocou para o estacionamento em frente da
casa, onde todos estacionavam seus veículos. No café da manhã, Tristen disse
que um ruído estranho tinha começado na área do motor de seu presente de
aniversário de Santos, um Corvette laranja.
Dois conjuntos de pernas apareceram debaixo do capô aberto do
carro esportivo. Um estava coberto de um macacão bem-gasto e o outro um
macacão novo e muito menor. Morgan sorriu ao ver Styx e sua sombra,
Mason.
Los Héroes parecia ser bom para as crianças.
Agora que os verificou, Morgan voltou ao seu escritório. Ele precisava
fazer algo para si mesmo.
Cinco minutos depois, Morgan estava sentado numa cadeira de
escritório olhando para a foto em seu monitor. A mulher sorriu de volta para
ele. À primeira vista nada sobre ela parecia fora do comum. Mas quanto mais
Morgan a estudava, mais tinha a sensação de que algo estava errado.
Os olhos de Kevin olhavam para ele daquele rosto. É aí que a
semelhança terminava. Seu cabelo e pele pálida castanho-escuro não
correspondiam ao menino loiro que Morgan adorava.
Morgan observou o sulco minúsculo comprimido ao redor de sua boca
e a pequena sombra em seus olhos e percebeu que tudo não era o que
parecia. Na foto, a mãe de Kevin estava em apuros.
De acordo com o relatório da polícia, a mãe nunca foi implicada no
sequestro de Kevin. Enquanto terminava de fazer o almoço para ir trabalhar e
procurava a mochila de Kevin para leva-lo à creche, Kevin estava brincando no
quintal. No momento em que ela saiu para ir até o carro, ele sumira.
Morgan recostou-se, imaginando o medo que Kevin sentiu.
Um sonoro bip ecoou pela sala. Morgan pegou o telefone de sobre a
mesa e olhou para a tela.

Situação de refém em restaurante. Reunião no escritório.

Morgan fechou a tela do computador. Iria começar a investigação


sobre a mãe de Kevin depois. Seu desconforto tocou sinos de alerta em sua
mente.
Uma hora mais tarde, Morgan estava subindo através de uma
pequena janela do porão do restaurante. Ele manteve suas ações em silêncio,
não querendo alertar o atirador de sua presença. Ele fez o seu caminho
através do labirinto de salas para a escada de madeira aberta que levava ao
andar principal. Atrás dele, Santos e Parker o seguiam.
Através do chão acima de sua cabeça, ouviu pratos e copos
quebrando. Gritos e mais gritos soaram. Houve um tiroteio e gritos de dor se
seguiram.
— Falem comigo. — Disse a voz de Roman no ouvido de Morgan.
— Santos, Morgan, e Parker entraram no porão. — Santos disse.
— Rhys e Tatum posicionados atrás do balcão de padaria. — Relatou
Rhys.
— Flyer e eu estamos na cozinha. — Disse Roman. — Vejo pelo
menos quatro pessoas feridas, mas vivas. O criminoso está sentado numa
mesa na sala de jantar traseira e protegido atrás de uma mulher. Há crianças
presentes. Repito, há crianças presentes.
— Sou um fantasma. — Isaiah sussurrou.
As palavras de Isaiah mostraram que em algum lugar no meio do
caos, ele observou por uma oportunidade para conter o atirador ou acabar com
sua existência.
Morgan imaginou a planta do restaurante em sua mente. Os clientes
entravam por uma porta da frente em um grande vestíbulo. Um longo balcão
de padaria revestido de vidro, incluindo uma caixa registradora, corria ao longo
da parede do lado esquerdo. Depois de caminhar através do vestíbulo, os
clientes entraram numa enorme sala dividida por duas meias paredes. Cabines
cobriam as paredes do meio, criando uma impressão de três salas de jantar
separadas, a área central sendo a maior. Mais cabines situadas ao longo das
paredes exteriores da sala com mesas no meio das áreas de refeições.
Se Morgan se lembrava direito, a porta do porão estava localizada
fora da sala de jantar no meio de um cubículo onde as máquinas de café
estavam instaladas e condimentos eram armazenados. Morgan esperava que o
cubículo oferecesse cobertura suficiente para fazê-los subir as escadas e
passar pela porta, sem o criminoso vê-los e atirar em suas cabeças.
Este resgate era um caso clássico de uma mulher que leva seus filhos
a um restaurante para conhecer o novo namorado. O problema veio quando o
ex-marido decidiu armar-se para impedir sua esposa de seguir em frente sem
ele.
O Resgate Contratado do Oeste entrou em cena por que a equipe da
SWAT da cidade tinha sido despachada para o outro lado da
cidade. Aparentemente, um homem com uma arma estava mantendo uma
atendente de posto de gasolina e outros clientes em uma loja de conveniência,
como reféns. De acordo com relatórios que receberam antes de violar o
restaurante, o homem estava exigindo um milhão de dólares e um helicóptero
para levá-lo para fora do país. Morgan imaginou se a lua cheia estava incitando
a loucura nas pessoas.
Para complicar as coisas para o Resgate, a neta do prefeito estava
em algum lugar no restaurante, comemorando o aniversário de um
amigo. Quando a equipe deixou o chefe de polícia e seus homens atrás das
barricadas bloqueando o estacionamento do público, o prefeito estava gritando
com o chefe. O homem acreditava que de alguma forma sua neta poderia ser
milagrosamente resgatada do restaurante, porque ele exigia. Mais uma vez,
Morgan pensou na posição da lua e nos cérebros das pessoas.
Um baque tremendo na porta do porão fez Morgan olhar para cima
nas escadas. Ele, Parker, e Santos sacaram suas armas e se agacharam,
prontos para ter cobertura ou ação, o que fosse necessário.
A porta abriu-se parcialmente, e um homem se arrastou através dela.
Sangue vermelho-escuro saturava o material de sua camisa em torno de seu
braço. O homem começou a descer as escadas.
— Temos você. — Morgan fez questão de manter a voz pouco acima
de um sussurro, não querendo alarme ou atrair atenção indesejada.
Ele e Parker subiram os degraus. Juntos, conseguiram pegá-lo e, com
a ajuda de Santos, ajudaram o homem tonto a descer os degraus.
Mais tiros soaram. Enquanto Parker tirou seus suprimentos médicos e
passou a trabalhar no braço da vítima, Morgan voltou a subir os degraus. Ele
se aproximou da porta e a abriu com cautela. Através da abertura, ele podia
ver as pessoas se amontoando debaixo das mesas da cabine do outro lado da
sala. Estendendo a mão com movimentos lentos, Morgan abriu a porta mais
alguns centímetros.
Tiros irromperam e as pessoas gritavam. Pedaços de madeira voaram
em todas as direções quando as balas perfuraram a porta. Morgan se abaixou,
mas usou os momentos de caos para abrir mais a porta.
— Por favor, Jacob, pare. — Uma mulher implorou.
— Isso é culpa sua. — O homem acusou.
Morgan examinou o cubículo. Um carrinho de metal prateado de dois
andares bloqueava a porta, o impedindo de avançar ainda mais. Mantendo-se
encostado ao chão, Morgan usou o pequeno carrinho como escudo para entrar
no cubículo. Através de um corredor, mais pessoas se encolheram sob as
mesas dos estandes que revestiam a parede que separava a área de jantar
principal da última área onde o atirador estava posicionado.
— O criminoso está sentado em cima de uma mesa na cabine
localizada na parede traseira na última área de jantar. Ele está usando uma
mulher como escudo, e há crianças sentadas na cabine. — Disse Isaiah. —
Morgan, fique abaixado. A menos que se levante, ele não pode vê-lo de seu
ângulo, com exceção de um espaço no meio desse caminho a sua frente. Há
uma boa chance que possa levar essas pessoas para dentro do porão.
Apenas movendo seus olhos, Morgan examinou a área, mas não
podia ver Isaiah. Não importava; Isaiah o via, e isso era tudo que
importava. Olhando através do corredor, Morgan encontrou o olhar de pânico
de uma mulher de trinta anos. Ela tinha os braços em torno de dois filhos
pequenos.
Uma mão tocou a perna de Morgan. Ele se virou para ver
Santos. Morgan moveu sua cabeça para a mulher e as crianças antes de
acenar para Santos. O homem acenou de volta que entendeu. Uma vez que
Morgan retirasse as vítimas do corredor, Santos iria escoltá-los até o porão.
Morgan voltou-se para a mulher e colocou um dedo sobre os lábios
para indicar que deveriam permanecer em silêncio. Ele manteve a mão plana,
com a palma para baixo, e tentou transmitir que deveriam ficar abaixados no
chão.
A mulher assentiu.
Ele apontou para ela e deslizou seu dedo num arco de lado para a
porta do porão.
Mais uma vez, ela balançou a cabeça.
Morgan levantou três dedos, em seguida, inclinou um. Dois
permaneceram, em seguida, um. Depois que inclinou o último dedo, ele se
arrastou através da passagem e encontrou um dos filhos. Morgan usava um
colete de Kevlar. Se o atirador disparasse contra eles, ele iria usar seu corpo
como proteção. Ele se virou quando a criança passou por ele, mantendo o
menino seguro até que chegasse a Santos.
Mais pessoas nesse lado da parede viram as crianças e mulher
escapar descendo as escadas do porão. Eles rastejaram para Morgan. Com os
cabelos de seu corpo em pé, e à espera de sentir o impacto de uma bala,
Morgan ficou no meio do corredor até a última pessoa sair dessa área em
segurança.
As pessoas nas cabines do outro lado da sala pensaram que
escapariam da mesma maneira. No momento em que se moveram, balas
perfuraram a madeira acima de suas cabeças.
— Pare com isso, Jacob. Deixe de ser um tolo.
Morgan se arrastou para o interior do corredor, fora da vista do
atirador, e olhou em torno de um estande. O atirador empurrou a mulher para
fora da mesa, saltou para baixo, e ficou sobre ela com a arma apontada para
sua cabeça.
A arma balançou na mão do homem transpirando. Morgan não tinha
uma chance clara, mas pensou que este era um bom momento para matar o
bastardo.
O homem se enfureceu sobre a mulher de joelhos, gritando no topo
de seus pulmões. Ela manteve a cabeça inclinada, com os ombros sacudindo
com soluços. Na cabine, algumas das crianças gritavam e choravam. Outros
sentaram num silêncio chocado.
Do outro lado da sala, Tatum se arrastou ao longo de uma fila de
cabines para uma mulher mais velha que estava enrolada em seu lado e
segurando seu estômago.
O coração de Morgan parou. E se o atirador o notasse? Tatum poderia
morrer, e Morgan não tinha dito a ele que o amava. A última barreira ao redor
do coração de Morgan entrou em colapso. O amor por seu marido inundou sua
alma. O medo por sua segurança lhe tirou o fôlego.
Tatum olhou para Morgan. Um pequeno sorriso apareceu, e o homem
arrogante piscou. O homem tinha isso. Confiança cobria o medo. Cada resgate
trazia perigo, e cada membro da equipe o enfrentava de frente.
Morgan se voltou para o homem gritando com a ex-esposa. Um
movimento atrás do homem chamou a atenção de Morgan. Isaiah apareceu
num canto sombreado. Ele levantou a arma e apoiou o cano contra a cabeça
do atirador.
A voz profunda e clara de Isaiah podia ser ouvida por toda a sala.
— Se levantar as mãos, vai viver para ver o amanhã.
— Qual é o ponto? — O homem zombou. — Minha vida acabou e ela é
um pedaço inútil de merda que não merece criar meus filhos.
— As crianças foram resgatadas e você já feriu pessoas o suficiente.
— Respondeu Isaiah. — Não os faça ver mais derramamento de sangue.
O homem ficou em silêncio. Um momento depois, levantou as mãos
com a arma pendurada em dois dedos. Isaiah bateu a arma e agarrou os
pulsos do homem. Em poucos segundos, ele tinha o homem preso com laços
zip. A equipe começou a ajudar as vítimas, enquanto Isaiah conduzia o homem
para fora do restaurante até as autoridades.
Morgan foi até Tatum, que tinha acabado de ajudar um par de
paramédicos a levantar a mulher numa maca. Ele tocou o braço do
homem. Olhos quentes cor de chocolate olharam para ele, quase afogando
Morgan em seu amor.
— Eu te amo. — Morgan sussurrou.
— Você escolheu um grande momento, doce. — Tatum acariciou o
rosto de Morgan. — Deixe isso para mais tarde e vou lhe mostrar o quanto
essas palavras significam para mim.
Morgan assentiu e ambos retomaram suas funções, ajudando outras
pessoas traumatizadas a sair do restaurante.

*****
Uma semana depois, Morgan acordou e lutou para desembaraçar o
corpo dos lençóis e do braço de seu marido. Mais dormindo do que acordado,
tateou em torno do topo da mesa de cabeceira, em busca de seu telefone
tocando. Depois de conseguir agarrar a maldita coisa, a trouxe debaixo das
cobertas com ele.
— Olá.
— Morgan? Aqui é Sheilla Bennington.
Morgan abriu os olhos.
— Olá, Sheilla.
— Pensei que gostaria de saber que houve um incidente com Kevin.
Morgan sentou-se, agora bem acordado.
— O que aconteceu?
— A polícia foi chamada à casa de sua mãe por um distúrbio
doméstico. O namorado da mãe tornou-se irritado e a agrediu. Estou com
medo que ela não sobreviva.
Morgan encontrou-se de pé ao lado da cama. Ele não tinha ideia de
como chegou lá.
— Como está Kevin? Ele está ferido?
— Ele não foi ferido fisicamente, mas está traumatizado. Pensei
imediatamente em você. Kevin te adora, e sei que o teria adotado, se fosse
possível. O problema que estou tendo é com a papelada e logística. Ele está
vivendo num país diferente, e eles têm o seu próprio sistema de adoção.
— Entendo. — Morgan não entendia. Kevin pertencia a ele.
— Só queria que estivesse ciente da situação. Vou fazer o meu
melhor para trabalhar com a agência em seu nome e mantê-lo informado
sobre o meu progresso.
— Obrigado. Falo com você em breve. — Morgan desligou e vestiu um
short.
— O que está acontecendo? — A voz sonolenta de Tatum soou no
quarto.
Morgan fez uma pausa no meio do quarto.
— Tenho que falar com Roman.
Sua mente estava girando, tentando achar uma maneira de trazer
Kevin para Los Héroes, Morgan correu pelo corredor até a parte de trás da
fazenda, onde a suíte de Roman se localizava. Seu chefe tinha grandes
contatos que poderiam trilhar enormes caminhos através da
burocracia. Morgan imaginou que precisaria de uma máquina ceifadeira para
arar através deste problema. Ele orou que seu chefe e amigo pudesse ajudar.
Morgan bateu na porta.
— Capitão, preciso de sua ajuda!

****
Quarenta e oito horas depois, Morgan bateu o pé contra o chão de
azulejos do aeroporto e esperou que as pessoas descessem do avião. Ele
queria que Flyer o levasse para o outro lado do estado para pegar Kevin, mas
o Serviço Infantil insistiu em seguir o protocolo. Apenas a mão quente de
Tatum descansando na parte inferior de suas costas impediu o temperamento
de Morgan de obter o melhor dele.
— Só mais um pouco, doce. — Tatum esfregou as costas de
Morgan. — Nunca vai ter que deixá-lo ir de novo.
Morgan sorriu para o homem que era dono de seu coração.
— Você quer dizer, até que tenha dezoito anos e vá para a faculdade.
Tatum tocou a ponta do nariz de Morgan com a ponta do dedo.
— Você não me engana. Sei que vai ter o GPS de seu telefone ligado
para que possa acompanhar todos os seus movimentos. Estou pensando que
vai haver conversas de Skype entre você todos os dias, e se puder, vai tentar
levá-lo a concordar com um chip inserido em sua pele, assim saberá tudo o
que ele está fazendo.
— Poderíamos simplesmente ir com ele. — Morgan sugeriu.
— Acho que vai estar ocupado com todo o resto das crianças que está
trazendo para a fazenda. — Tatum apontou para o outro lado da sala de
espera. — Lá vem eles.
As mãos de Morgan ficaram frias e molhadas. Quando os passageiros
entraram na sala, ele esfregou seu pescoço, perguntando-se onde Kevin
estava. Talvez perdeu o avião.
Kevin entrou pela porta segurando a mão de uma mulher de meia-
idade. Alegria explodiu dentro de Morgan. Como sentiu saudades daquele
garotinho.
— Morgan! — Kevin largou a mão da senhora e correu para ele.
Com lágrimas escorrendo pelo rosto, Morgan pegou Kevin em seus
braços e abraçou-o apertado. Kevin balançou ao redor, inclinou-se para trás, e
tocou seu rosto.
— Por que você está chorando, Morgan?
Morgan sorriu.
— São lágrimas felizes. Estou tão feliz em vê-lo.
O lábio inferior de Kevin tremeu.
— Qual é o problema, pequeno? — Perguntou Morgan.
— Eu deveria chorar também, porque estou tão feliz de vê-lo.
Morgan apertou Kevin e respirou seu cheiro de garotinho. A vida era
tão boa neste momento. A mão nas costas de Morgan lembrou-lhe que havia
mais alguém que Kevin precisava conhecer.
Com Kevin em seus braços, Morgan se virou.
— Kevin, gostaria que conhecesse meu marido, Tatum.
Os grandes olhos azuis de Kevin estudaram Tatum por um
momento. A criança enterrou o rosto no pescoço de Morgan antes de espreitar
Tatum.
— Oi, Kevin. — Tatum sorriu. — Morgan e eu estamos tão felizes que
está aqui. Agora todos podemos ir para casa em Los Héroes, juntos.
Kevin olhou para Morgan.
— Para sempre?
Com o braço de Tatum em torno de seu ombro e Kevin em seus
braços, Morgan respondeu:
— Para sempre, pequeno, para sempre.

Epílogo

Roman pegou seu telefone vibrando e recostou-se na cadeira do


escritório.
— Roman.
— Encontrei um candidato para liderar uma nova equipe para o
Resgate Contratado. — Disse Cade Miller. — Está interessado em fazer uma
viagem?
Roman clicou fora dos currículos que estava estudando em seu
computador.
— Estou dentro.

FIM

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