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Luiza Neto Jorge Poetas contemporâneos

EDUCAÇÃOLITERÁRIA|ESCRITA EXPOSIÇÃO SOBRE UM TEMA

1. Lê os poemas a seguir transcritos.

O poema O poema ensina a cair


I O poema ensina a cair
Esclarecendo que o poema sobre os vários solos
é um duelo agudíssimo desde perder o chão repentino sob os pés
quero eu dizer um dedo como se perde os sentidos numa
agudíssimo claro queda de amor, ao encontro
apontado ao coração do homem do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede
falo 5

com uma agulha de sangue até à queda vinda


5 a coser-me todo o corpo da lenta volúpia de cair,
à garganta quando a face atinge o solo
numa curva delgada e subtil
e a esta terra imóvel uma vénia a ninguém de especial
onde já a minha sombra ou especialmente a nós numa homenagem
é um traço de alarme póstuma.

JORGE, Luiza Neto. Op. cit., p. 57. JORGE, Luiza Neto. Op. cit., p. 141.
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2. Faz uma análise comparativa dos dois textos, preenchendo o quadro:

O poema O poema ensina a cair


Sentido Efeitos que o poema pode ter no leitor:
Conceção de poema: ___a. ___
global ___h. ___
Campo lexical predominante: ___b. ___ Campo lexical predominante: ___i. ___
Recursos expressivos:
Linguagem Recursos expressivos:
• metáfora: ___j. ___
e estilo • metáfora: ___ c. ___
• comparação: ___k. ___
• uso do adjetivo: ___d. ___
• uso do adjetivo: ___l. ___

Estrutura estrófica: ___e. ___ Estrutura estrófica: ___m. ___


Estrutura
formal
Estrutura rimática: ___f. ___ Estrutura rimática: ___n. ___

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Estrutura métrica: ___g. ___ Estrutura métrica: ___o. ___

3. Redige uma exposição (130-170 palavras) sobre os poemas, tendo em conta:


a. o sentido global;
b. a linguagem e o estilo;
c. a estrutura formal.

LEITURA ARTIGO DE OPINIÃO

O preço de um poema
“É triste constatar que um poeta consegue fazer mais tostões escrevendo ou
falando da sua arte, do que a praticá-la.” O lamento tem décadas e vem assinado
por W.H. Auden, mas serve completamente para hoje. Se aceitássemos sem mais
que o valor intrínseco de um bem é aquele determinado pelo seu potencial eco-
nómico, a poesia já há muito teria desaparecido. Mas na situação atual, onde as
questões da produção artística e cultural são mais ou menos remetidas para um
limbo, não se pode garantir que a extinção não seja uma efetiva ameaça. Sabe-mos
que uma carcaça anda à volta dos vinte cêntimos, que um litro de leite anda
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à roda dos sessenta e por aí fora. São números que muito justamente nos preocu-
pam, enquanto indicadores das linhas de sobrevivência. Mas quanto custa um
poema?
O exemplo que avanço não é o de um poeta obscuro: o seu trabalho tem uma
extensão assinalável e um enorme reconhecimento. Está, além disso, traduzido
em várias línguas, comparece em manuais escolares e vai sendo objeto de um
crescente estudo em artigos e teses, tanto em Portugal, como no Brasil. Pois bem,
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o seu primeiro livro surgiu em edição de autor (quer dizer, inteiramente do seu
bolso). O que obteve dos exemplares vendidos nem chegou para pagar metade
das despesas de tipografia. Editou, depois, vários títulos numa importante chan-
cela de poesia, mas que, por razões de sustentabilidade, propõe o seguinte acordo
aos criadores: não pagam para editar, mas também não recebem direitos em di-
nheiro (ficam com trinta exemplares da sua obra, e é tudo). O primeiro salário
que este autor de primeiro plano recebeu foi o de um livro editado na Imprensa
Nacional Casa da Moeda: quinze contos, em dinheiro da altura. Não pensem que
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se tratou de uma fortuna, pois um volume reúne a produção literária de um ou
dois anos de trabalho. Recentemente viu a sua obra reunida, e um coro de vozes
destacou a sua importância na paisagem da literatura contemporânea. Recebeu
de direitos €500 no primeiro ano, e €1700 no segundo. E estamos a falar de uma
safra de décadas. Quanto custa mesmo um poema?
Quanto é que nos custou o nosso poema nacional, Os Lusíadas, e quanta po-
breza custou a Camões? Quanto custou a obra de Álvaro de Campos, que é tão
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extraordinária como o claustro do mosteiro dos Jerónimos onde jaz o seu cria-

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dor? Quanto nos custou “Um adeus português” do Alexandre O’Neill ou “Natu-
reza morta com louva-a-deus”, de Fiama Hasse Pais Brandão? Que preço coletiva-
mente nós pagamos por “A magnólia” de Luiza Neto Jorge ou por “O inominável”
de Eugénio de Andrade? Sentimo-nos em dívida por Armando Silva Carvalho ter
escrito no nosso tempo e a nosso lado um conjunto tão extraordinário de poemas
como o do seu “De Amore”? É claro que podemos remeter a poesia para uma
25 escolha individual, de que mais ninguém pode ser “culpado”. Vão nesse sentido
as palavras de e.e.cummings: “A poesia e a arte em geral foi, é e sempre será, na
forma mais pura e estrita, um problema do indivíduo.” Creio que todos os poetas
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se reconhecem existencialmente nessa formulação, pois a poesia é, de facto, uma


questão que têm consigo. Seria, contudo, muito estranho desconhecer a função
antropológica e social da poesia. Das muitas definições de poesia, há duas a que
retorno sempre. A primeira é de Paul Celan: “A poesia é qualquer coisa que pode
significar uma mudança na respiração.” E a outra, de Jean-Yves Masson: “A poesia
é uma água à qual podemos pedir a sede.” Gosto destas definições por acreditar
45 que o poema ilumina e adensa o caminho da nossa própria humanidade. Mas os
poetas precisam que a sociedade pergunte se tem a pagar alguma coisa.

MENDONÇA, José Tolentino. “O preço de um poema” [Em linha]. Expresso, 02-02-2013


[Consult. em 11-01-2017].

2. Reflete sobre o plano de texto do artigo de opinião, identificando as linhas a que se referem os
tópicos abordados:

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Introdução
Apresentação do tema (primeiro parágrafo)

• Reprodução de uma citação / argumento de autoridade (ll. ___ a. ___ )


• Apresentação da problemática, de forma hipotética (ll. ___ b. ___ )
• Exemplificação da problemática, com base em elementos retirados da vida quotidiana (ll. ___ c. ___ )
• Apresentação de uma interrogação retórica que concretiza a problematização (ll. ___ d. ___ )

Desenvolvimento
Abordagem do tema, articulando argumentos e exemplos
(segundo parágrafo e início do terceiro parágrafo)

• Introdução do exemplo a utilizar (l. e. )


• Explicitação do exemplo, sem o identificar explicitamente (ll. ___ f. ___ )
• Reiteração da questão apresentada na introdução (ll. ___ g. ___ )
• Apresentação de outros exemplos, através de interrogações retóricas semelhantes à
anterior (ll. ___ h. ___ )
• Apresentação de um argumento, seguido de exemplo de autoridade /citação (ll. ___ i. ___ )
• Apresentação de um contra-argumento, seguido de dois exemplos (ll. ___ j. ___ )

Conclusão
Fecho do tema (última parte do terceiro parágrafo)

• Síntese dos dois argumentos apresentados e tomada explícita de posição relativamente ao


assunto abordado (ll. ___ k. ___ )

3. Exprime os teus pontos de vista suscitados pela leitura, em relação:


a. à pertinência do tema apresentado e do ponto de vista assumido;
b. à eficácia da estrutura do texto (forma como os argumentos e os exemplos são apresentados, se
relacionam entre si e promovem a progressão textual).

SOLUÇÕES|SUGESTÕESMETODOLÓGICAS

“O poema”, “O poema ensina a cair” (p. 87)


Educação Literária | Escrita

2. a. Poema como “duelo agudíssimo” (v. 2), originador de sofrimento (vv. 4-9); poema como grito, associado à
exteriorização a necessidade de liberdade (repressão das autoridades salazaristas). b. Sofrimento (“duelo”, “agudíssimo”,
“agulha”, “sangue”, “coser”). c. “o poema é um duelo agudíssimo” (vv. 1-2); “agulha de sangue/ a coser-me o corpo todo / à
garganta” (vv. 7-9). d. “agudíssimo” (cf. grau superlativo absoluto sintético). e. Três estrofes (quintilha, quadra, terceto). f.
Sem rima. g. Métrica irregular. h. Dois tipos de efeitos, associados à forma como reagimos à leitura (e à forma como essa
reação nos prepara a para a vida): efeito intenso, baseado em emoções fortes (vv. 3-7); efeito de prazer, “volúpia” (vv. 8-

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14). i. Queda (“cair”, “solo”, “chão”, “pés”, “queda”, “terra”, “abate”). j. “O poema ensina a cair” (v. 1). k. “como se perde os
sentidos numa queda de amor” (vv. 4-5). l. “repentino”, “lenta”, “delgada e subtil”, “póstuma”. m. Duas estrofes (sétimas). n.
Sem rima. o. Métrica irregular.

Leitura
2. a. Linhas 1-3. b. Linhas 3-5. c. Linhas 5-10. d. Linhas 10-11. e. Linha 12. f. Linhas 12-28. g. Linha 28. h. Linhas 29-37. i.
Linhas 37-40. j. Linhas 40-46. k. Linhas 46-48.

3. Resposta pessoal.

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