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Técnicas de entrevista

Técnicas de entrevistaPSICOLOGIA

Um dos aspectos essenciais da entrevista está na investigação que se realiza durante o seu transcurso.
As observações são registradas em função das hipóteses que o entrevistado emite. O entrevistador
ordena na seguinte disposição: observação, hipótese e verificação. Uma boa observação consiste de
algum modo, em formular hipóteses que vão sendo reformuladas durante a entrevista em função das
observações subsequentes.

No entender de Bleger (1980), o trabalho do psicólogo somente adquire real envergadura e


transcendência quando coincidem a investigação e a tarefa profissional, porque estas são as unidades
de uma práxis que resguarda a tarefa mais humana: compreender e ajudar os outros. Assim, indagação
e atuação, teoria e prática, devem ser manejadas como momentos e aspectos inseparáveis do mesmo
processo.

Segundo Bleger (1980), a entrevista se diferencia de acordo com o beneficiário do resultado:

- A entrevista que se realiza em benefício do entrevistado, a exemplo da consulta psicológica ou


psiquiátrica;

- A entrevista cujo objetivo é a pesquisa, valorizando, apenas, o resultado científico da mesma;

- A entrevista que se realiza para terceiro, neste caso, a serviço de uma instituição.

Com exceção do primeiro tipo de entrevista, os demais exigem do entrevistador que desperte interesse
ou motive a participação do entrevistado.

Segundo Gil (1999), as entrevistas podem acontecer em duas modalidades: Face a face e por Telefone. A
entrevista tradicional tem sido realizada face a face. No entanto, nas últimas décadas vem sendo
desenvolvida a entrevista por telefone.

- Principais vantagens da entrevista por telefone, em relação à entrevista pessoal: custos mais baixos;
facilidade na seleção da amostra; rapidez; maior aceitação dos moradores das grandes cidades, que
temem abrir suas portas para estranhos; facilidade de agendar o momento mais apropriado para a
realização da entrevista;

- Limitações da entrevista por telefone: interrupção da entrevista pelo entrevistado; menor quantidade
de informações; impossibilidade de descrever as características do entrevistado ou as circunstâncias em
que se realizou a entrevista; parcela significativa da população que não dispõe de telefone ou não tem
seu nome na lista.Segundo Erickson (apud SCHEEFFER, 1977), algumas recomendações devem ser
aplicáveis ao processo de entrevista psicológica:

- O entrevistador deve ter o cuidado para não transformar a entrevista numa conversa social. “Como
posso ajudá-lo?”, é uma boa maneira de se iniciar uma entrevista;

- O entrevistador não deve completar as frases do entrevistado. Devem-se evitar perguntas que induzam
respostas do tipo “sim” ou “não”. Não interromper o fluxo do pensamento do entrevistado, a não ser
que ele se perca em ideias que fogem dos tópicos da entrevista;

- A atitude do entrevistador deve ser de aceitação completa das vivências do entrevistado. Não deve
haver discussão de pontos de vista;

- As pausas e silêncios são, quase sempre, embaraçosos para o entrevistador. Nesses momentos,
possivelmente, o entrevistado está revivendo experiências que não consegue expressar verbalmente.
Quando as pausas forem longas, o entrevistador poderá retomar um tópico anterior que estava sendo
discutido;

- O tempo de entrevista deve ser marcado, e o entrevistado será comunicado de quanto tempo dispõe.
Se necessário, marca-se outra (s) entrevista (s). Deve-se limitar o número de assuntos em cada sessão
para não confundir o entrevistado;

- É necessário trocar o pronome pessoal “eu”, pelo uso de expressões mais vagas, tais como: “parece
que...”; “parece melhor...”; etc.;

- Recomenda-se fazer o resumo do que fora discutido em cada final de entrevista. E que o entrevistador
faça uma síntese para o entrevistado do que foi abordado na sessão;

- O término da entrevista não deve transformar-se numa conversa social, sem nenhuma relação com os
problemas discutidos. Isto pode prejudicar o resultado da entrevista.

Segundo Foddy (2002), é aconselhável o investigador ou entrevistador:

- Adotar uma atitude comum e casual. Ex. “Por acaso você...”;

- Empregar a técnica “Kinsey” de olhar os inquiridos bem nos olhos, e colocar a pergunta sem rodeios de
modo a que eles tenham dificuldade em mentir;
- Adotar uma aproximação indireta de modo a que os inquiridos forneçam a informação desejada sem
terem consciência disso, a exemplo das técnicas projetivas;

- Colocar as perguntas perturbadoras na parte final do questionário ou da entrevista de modo a que as


respostas não sofram qualquer consequência desse efeito.

Segundo Gilliéron (1996), podem-se estudar os comportamentos do paciente praticamente em relação a


dois eixos:

- A anamnese do sujeito que permite a observação dos comportamentos repetitivos que dão uma ideia
exata da sua personalidade: trata-se do ponto de vista histórico;

- A observação do comportamento do paciente quando da primeira entrevista também fornece


indicações muito precisas sobre a organização da sua personalidade

entrevista psicológica é utilizada em todas as áreas da psicologia. Em especial, na psicologia clínica e na


psicologia organizacional – aonde encontramos a entrevista psicológica para os candidatos a uma vaga
de emprego.

Neste texto, você conhecerá mais o que é a entrevista psicológica e as principais definições. Leia
também sobre a entrevista na psicanálise.

A entrevista é definida por Bleger (1991) como um instrumento de investigação, um dos procedimentos
que o profissional, no caso, o psicólogo, dispõe em seu trabalho a fim de alcançar objetivos como
investigação de um problema ou elaboração de diagnóstico.

Basicamente, as entrevistas podem ser de dois tipos: abertas ou fechadas, sendo que as variações
ocorrem em grau (mais ou menos abertas ou fechadas).

Nas entrevistas fechadas, ou estruturadas, como também são conhecidas, as perguntas são previamente
formuladas e ordenadas e o entrevistador não pode alterar esta disposição.
Na entrevista aberta (não-dirigida ou não-estruturada) o entrevistado tem ampla liberdade para
discorrer sobre um assunto, e o entrevistador, liberdade para formular e/ou alterar as perguntas de
acordo com o fluxo da entrevista, bem como para fazer intervenções (o que não é possível nas
entrevistas fechadas).

Moreno, C. (2005). Avaliação psicológica Madri: Sanz e Torres.

Fernández-Ballesteros, R (2011). Avaliação psicológica. Conceitos, métodos e estudos de caso. Madri:


pirâmide.

Del Barrio, V. (2003). Avaliação psicológica aplicada a diferentes contextos . Madri: UNED.

Del Barrio, V. (2002). Avaliação psicológica na infância e adolescência . Madri: UNED.

Segundo Bleger (1980), a entrevista se diferencia de acordo com o beneficiário do resultado:

- A entrevista que se realiza em benefício do entrevistado, a exemplo da consulta psicológica ou


psiquiátrica;

- A entrevista cujo objetivo é a pesquisa, valorizando, apenas, o resultado científico da mesma;

- A entrevista que se realiza para terceiro, neste caso, a serviço de uma instituição.

Com exceção do primeiro tipo de entrevista, os demais exigem do entrevistador que desperte interesse
ou motive a participação do entrevistado.

8.2) Segundo Gil (1999), as entrevistas podem se dá em duas modalidades: Face a face e por Telefone. A
entrevista tradicional tem sido realizada face a face. No entanto, nas últimas décadas vem sendo
desenvolvida a entrevista por telefone.

- Principais vantagens da entrevista por telefone, em relação à entrevista pessoal: custos mais baixos;
facilidade na seleção da amostra; rapidez; maior aceitação dos moradores das grandes cidades, que
temem abrir suas portas para estranhos; facilidade de agendar o momento mais apropriado para a
realização da entrevista;
- Limitações da entrevista por telefone: interrupção da entrevista pelo entrevistado; menor quantidade
de informações; impossibilidade de descrever as características do entrevistado ou as circunstâncias em
que se realizou a entrevista; parcela significativa da população que não dispõe de telefone ou não tem
seu nome na lista.

8.3) Segundo Erickson (apud SCHEEFFER, 1977), algumas recomendações devem ser aplicáveis ao
processo de entrevista psicológica:

- O entrevistador deve ter o cuidado para não transformar a entrevista numa conversa social. “Como
posso ajudá-lo?”, é uma boa maneira de se iniciar uma entrevista;

- O entrevistador não deve completar as frases do entrevistado. Devem-se evitar perguntas que induzam
respostas do tipo “sim” ou “não”. Não interromper o fluxo do pensamento do entrevistado, a não ser
que ele se perca em ideias que fogem dos tópicos da entrevista;

- A atitude do entrevistador deve ser de aceitação completa das vivências do entrevistado. Não deve
haver discussão de pontos de vista;

- As pausas e silêncios são, quase sempre, embaraçosos para o entrevistador. Nesses momentos,
possivelmente, o entrevistado está revivendo experiências que não consegue expressar verbalmente.
Quando as pausas forem longas, o entrevistador poderá retomar um tópico anterior que estava sendo
discutido;

- O tempo de entrevista deve ser marcado, e o entrevistado será comunicado de quanto tempo dispõe.
Se necessário, marca-se outra (s) entrevista (s). Deve-se limitar o número de assuntos em cada sessão
para não confundir o entrevistado;

- É necessário trocar o pronome pessoal “eu”, pelo uso de expressões2 mais vagas, tais como: “parece
que ...”; “parece melhor ...”; etc.;

- Recomenda-se fazer o resumo do que fora discutido em cada final de entrevista. E que o entrevistador
faça uma síntese para o entrevistado do que foi abordado na sessão;

- O término da entrevista não deve transformar-se numa conversa social, sem nenhuma relação com os
problemas discutidos. Isto pode prejudicar o resultado da entrevista.

8.4) Segundo Foddy (2002), é aconselhável o investigador ou entrevistador:

- Adotar uma atitude comum e casual. Ex. “Por acaso você ...”;
- Empregar a técnica “Kinsey” de olhar os inquiridos bem nos olhos, e colocar a pergunta sem rodeios de
modo a que eles tenham dificuldade em mentir;

- Adotar uma aproximação indireta de modo a que os inquiridos forneçam a informação desejada sem
terem consciência disso, a exemplo das técnicas projetivas;

- Colocar as perguntas perturbadoras na parte final do questionário ou da entrevista de modo a que as


respostas não sofram qualquer consequência desse efeito.

8.5) Segundo Gilliéron (1996), pode-se estudar os comportamentos do paciente praticamente em


relação a dois eixos:

- A anamnese do sujeito que permite a observação dos comportamentos repetitivos que dão uma ideia
exata da sua personalidade: trata-se do ponto de vista histórico;

- A observação do comportamento do paciente quando da primeira entrevista também fornece


indicações muito precisas sobre a organização da sua personalidade.

TÉCNICAS DE ENTREVISTA

DINÂMICA DA ENTREVISTA

O entrevistador, no seu papel de técnico, não deve expor suas reações e nem sua história de vida. Não
deve permitir em ser considerado como um amigo pelo entrevistado e, nem entrar em relação
comercial, de amizade ou de qualquer outro benefício que não seja o pagamento dos seus honorários.
Para Gilliéron (1996), a investigação repousará:

- Na análise do comportamento do paciente com relação ao enquadre;

- Num modelo preciso suscetível de evidenciar a dinâmica relacional que se estabelece entre o paciente
e o terapeuta; modelo de apoio objetal.

O entrevistado deve ser recebido com cordialidade, e não de forma efusiva. Diante de informações
prévias fornecidas por outra pessoa, se deixa claro que essas não serão mantidas em reserva. Em função
de não abalar a confiança do entrevistado, estas lhe serão comunicadas. A reação contratransferencial
deve ser encarada com um dado de análise da entrevista, não se deve atuar diante da rejeição, inveja ou
qualquer outro sentimento do entrevistado. As atitudes deste não devem ser “domadas” ou subjugadas,
não se trata de querer triunfar e nem se impor perante o mesmo. Compete ao entrevistador averiguar
como essas atitudes funcionam e como o afetam. O grau de repressão do entrevistado, de um certo
modo, tem uma relação direta com o nível de repressão do entrevistador.

Necessariamente, o entrevistado que fala muito não traz à tona aspectos relevantes das suas
dificuldades. A linguagem que é um meio de transmitir informação, mas poderá ser também uma
maneira poderosa de se evitar uma verdadeira comunicação (BLEGER, 1980). Nem sempre, uma carga
emocional intensa significa uma evolução no processo. O silêncio é uma expressão não-verbal que
muitas vezes comunica bem mais que as palavras. O silêncio é, geralmente, o fantasma do entrevistador
iniciante. Ele pode ser também uma tentativa de encobrir a faceta de um momento o qual o sujeito não
consegue enfrentar. Castilho (1995) cita uma série de tipos de silêncio que são comuns nas dinâmicas de
grupo, mas que também ocorrem, com bastante frequência, no processo de entrevista, etc. Para ilustrar
foram destacados alguns tipos de silêncio:

- Silêncio de Tensão – É a expressão da ansiedade. Facilmente observado através da postura corporal


tensa ou inquieta do entrevistado, da sua respiração ofegante, do tamborilar dos dedos, etc.;

- Silêncio de Medo – Deixa o entrevistado petrificado, na sua tentativa de fugir de uma situação
psicologicamente ameaçadora. Esse silêncio suscita muita tensão e, como consequência, forte descarga
psicossomática;

- Silêncio de Reflexão – Surge normalmente após a intervenção do entrevistador, ou logo após um


feedback, ou mesmo depois do entrevistador ter passado por algum tipo de vivência. Nele, observa-se a
ausência de tensão, há um recolhimento introspectivo de elaboração mental;

- Silêncio de Desinteresse – O indivíduo perde o foco da atenção, camufla resistência, se desinteressa


pela situação externa porque interiormente ela o atinge.

9.1) A Ansiedade na Entrevista

A ansiedade é parte da existência humana, todas as pessoas a sentem em grau variado, por vezes
consiste em uma resposta adaptativa do organismo (SIERRA, 2003). Para Bion (apud ALMEIDA &
WETZEL, 2001), se duas pessoas estão numa sala de análise sem angústia, não está havendo análise
(p.272). Calligaris (apud GOLDER, 2000), percebe que em todo encontro, o outro está imediatamente
implicado enquanto “semelhante imaginário”, o que se busca primeiro é uma tela, uma espécie de
cumplicidade que supõe um sentido comum ao que estamos dizendo(p.151). Desse modo, a ansiedade é
um indicativo do desenvolvimento de uma entrevista, e deve ser controlada pelo entrevistador, a sua
própria, e a que aparece no entrevistado.

Durante a situação de entrevista, tanto à ansiedade quando os mecanismos de defesa do entrevistado


podem aumentar, não somente devido a esse novo contexto externo que ele enfrenta, mas também
devido ao perigo, em potencial, daquilo que desconhece em sua personalidade. O contato direto com
seres humanos, coloca o técnico diante da sua própria vida, saúde ou doença, conflitos e frustrações.
Considerando que o entrevistador é um agente ativo na investigação, sua ansiedade torna-se um dos
fatores mais difíceis de lidar. Em sua tarefa, o psicólogo pode oscilar facilmente entre a ansiedade e o
bloqueio, sem que isto o perturbe, desde que possa resolver na medida em que surja.

Toda investigação implica a presença de ansiedade frente ao desconhecido, e o investigador deve ter a
capacidade para tolerá-la, assim, poderá manter o controle da situação. Há casos em que o investigador,
devido aos seus bloqueios e limitações, se vê oprimido pela ansiedade, e recorre a mecanismos de
defesa para se sentir seguro, e assim, elimina a possibilidade de uma investigação eficaz, uma vez que
conduz a entrevista de maneira estereotipada. Um outro problema frequente diz respeito a uma certa
compulsão do entrevistador focalizar seu interesse ou encontrar perturbações exatamente na esfera
que ele nega os seus próprios conflitos.

A manipulação técnica, de toda ansiedade, deve ser realizada com referência a personalidade do
entrevistado, e o nível de timing (sincronização e ajustamento) que se tenha estabelecido na relação.
Toda interpretação fora desse contexto implica em agressão ao paciente ou entrevistado. Cabe ao
psicólogo saber calar, na proporção inversa da sua vontade compulsiva de interferir. Nessa ótica,
Almeida & Wetzel (2001, p.271) dizem que a interpretação algumas vezes vem de um desejo de
intervenção com a finalidade de eliminar angústias (perda de continência), instados pela situação e
autorizados pelo setting (grifo dos autores).

Segundo Piaget (apud GIL, 1999), o bom entrevistador deve reunir duas qualidades: saber observar (não
desviar nada, não esgotar nada); saber buscar (algo de preciso, ter a cada instante uma hipótese de
trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar) (grifo do autor). Douglas (apud FODDY, 2002)
corrobora com essa ideia quando afirma que entrevistar criativamente é ter determinação atendendo
ao contexto, em vez de negar, ou não conseguir compreender. O que se passa numa situação de
entrevista é determinado pelo processo de perguntas e respostas, a entrevista criativa agarra o
imediato, a situação concreta, tenta perceber de que modo esta afetação vai sendo comunicada e, ao
compreender esses efeitos, modifica a recepção do entrevistador, aumentando, assim, a descoberta das
verdades3.
9.2) Transferência e Contratransferência

a) Transferência

Freud (1914-1969) entende que a transferência é (...) apenas um fragmento da repetição e que a
repetição é uma transferência do passado esquecido (...) para todos os aspectos da situação atual
(p.166). A transferência é designada pela psicanálise como um processo através do qual os desejos
inconscientes se atualizam sobre determinados objetos, num certo tipo de relação estabelecida,
eminentemente, no quadro da relação analítica. A repetição de protótipos infantis vividos com um
sentimento de atualidade acentuada. Classicamente a transferência é reconhecida como o terreno em
que se dá a problemática de um tratamento psicanalítico, pois são a sua instalação, as suas
modalidades, a sua interpretação e a sua resolução que as caracteriza (LAPLANCHE & PONTALIS, 2004).

A transferência e a contratransferência são fenômenos que estão presentes em toda relação


interpessoal, inclusive na entrevista. Na transferência o entrevistado atribui papéis ao entrevistador, e
se comporta em função dos mesmos, transfere situações e modelos para a realidade presente e
desconhecida, e tende à configurar esta última como situação já conhecida, repetitiva. No entender de
Gori (2002), repetindo transferencialmente, evoca-se a lembrança e é somente por meio da lembrança
que temos acesso á história [...] Por meio da transferência é forjado num lugar intermediário entre a
vida real e um ensaio de vida, para que o drama humano possa ter um desfecho (p.78).

A articulação do conceito de “momento sensível”(grifo da autora) passa pelo posicionamento do


terapeuta. Esse instante preciso determina os mecanismos que instalam a transferência. Com efeito, é o
momento em que uma relação de trabalho se torna possível. A abertura ao outro, a espera de ajuda
vinda do exterior é forte e expõe o paciente tanto ao melhor quanto ao pior dessa interação (GOLDER,
2000).

Nessa perspectiva, Gilliéron (1996) diz que todo paciente procura obter alguma coisa do terapeuta. Ele
não busca apenas a cura de um sintoma, mas também certa qualidade de relação (p.14). O entrevistado
revela aspectos irracionais ou imaturos de sua personalidade, seu grau de dependência, sua onipotência
e seu pensamento mágico. As transferências negativas e positivas podem coexistir num mesmo
processo, embora, quase sempre com predomínio relativo, estável ou alterado, de uma delas. Segundo
Sang (2001), é a situação analítica e não a sua pessoa o que levou a paciente a se apaixonar por ele, isto
é, que o amor de transferência é essencialmente impessoal. [...] o analista não deve nem reprimir nem
satisfazer as pretensões amorosas da paciente. Deve sim, tratá-las como algo irreal (pp.319-20). No que
é confirmado por Yalom (2006), quando diz que os sentimentos que surgem na situação terapêutica
geralmente pertencem mais ao papel que à pessoa, é um equívoco tomar a adoração transferencial
como um sinal de sua atratividade ou charme pessoal irresistível (p.175).

b) Contratransferência

Na contratransferência emerge do entrevistador reações que se originam do campo psicológico em que


se estrutura a entrevista. Porém, se constitui, quando bem conduzida, num indício de grande
significação e valor para orientar o entrevistador no estudo que realiza. Seu manejo requer preparação,
experiência e um alto grau de equilíbrio mental, para que possa ser utilizada com validade e eficiência.
Na contratransferência, salienta Gilliéron (1996), as emoções vividas pelo analista são consideradas
reativas às do paciente, vinculando-se, portanto, ao passado deste último, e não dizendo respeito
diretamente à pessoa do analista.

Manfredi (apud ZASLAVSKY & SANTOS, 2005, p.296), distingue cinco tendências de abordagens desta
questão:

1 - A contratransferência não é mais considerada como uma criação unicamente do paciente, por
ignorar a transferência do analista;

2 - É problemático diferenciar a contratransferência normal da patológica (os dados á disposição do


analista não permitem, quase sempre, uma diferenciação);

3 - A tolerância à contratransferência já seria suficiente, dada, aqui, a dificuldade da diferenciação dos


sentimentos envolvidos na dupla;

4 - Devia-se, mais sábia e humildemente, fazer também a rota inversa: procurar no paciente, e não só
procurar no analista;

5 - A questão do confessar ou não, ou confessar/revelar até quando/quanto, os sentimentos


contratransferenciais despertados.

X – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para que o instrumento Entrevista Psicológica, de fato, se efetive como auxiliar no trabalho do
psicólogo, não é o bastante a sua compreensão ou domínio teórico e técnico que fundamenta e norteia
sua prática, mas também de experiências que são adquiridas em rollyplays através de estágio,
supervisão; laboratório ou oficinas de sensibilidade. É preciso desenvolver a sensibilidade para
entrevistar, aprender ser empático, saber lidar com a própria subjetividade e com a subjetividade do
outro (entrevistando), facilitando assim que seu universo, um tanto livre das “ameaças”, se descortine.
O entrevistador precisa adquirir à habilidade da “dissociação instrumental”, e ser capaz de adentrar esse
universo, sem juízo de valor, sem preconceito, para que assim possa estar com o Outro, conhecer, não
temer, se perder e se achar e, finalmente, voltar à realidade do contexto. E agora, de posse de sua
bagagem técnica tecer suas observações, ponderações e considerações, de modo axiomático,
considerado que a utópica da neutralidade sempre deverá ser perseguida. Os princípios éticos serão
avivados em cada encontro, e nenhum instrumento poderá adquirir uma aura de prevalência sobre a
pessoa do entrevistado, que é mais importante e assim deve ser respeitado. O que não significa ser
“meloso”, por demais solicito, muito menos autoritário. O entrevistador deve habilitar-se em se
inscrever na virtualidade da distância e proximidades ótimas que o trabalho possa fluir. Ser a pessoa na
figura do profissional imbuído da intenção singular de realizar uma atividade sem perder sua essência
humana. Nesse investida, é fundamental que o profissional se “conheça”, e que faça de rotineiras as
reflexões sobre suas atitudes, postura e comportamento, bem como de que tenha também flexibilidade
em reformulá-los, quando a necessidade aponte. Muito do trabalho do psicólogo certamente vem em
consequência do auto “mergulho” que lhe dará a base na qual se apóiam à sua atuação e intervenção
com toda transparência.

XI - REFERÊNCIAS

ALMEIDA, R. M. F & WETZEL, S. G. Quando o esperar é um à-toa muito ativo: apreensão dos fenômenos
emocionais na relação mãe-bebê, no observador e no pequeno grupo de discussão. Revista ALTER (SPB).
Origens: mente e psicanálise. v. XX, Brasília-DF, n. 2, dez de 2001.

BLEGER, José. Temas de psicologia: entrevista e grupos. Trad. Rita M. de Moraes. São Paulo: Martins
Fontes, 1980.

CASTILHO, Áurea. A dinâmica do trabalho de grupo. 2 ed. Rio de Janeiro: Qualitymark ed, 1995.

CUNHA, Jurema Alcides e cols. Psicodiagnóstico-R. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

FIORINI, Hector J. Teoria e técnica de psicoterapias. Trad. Carlos Sussekind. 7 ed. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1987.

FODDY, William. Como Perguntar: Teoria e prática da construção de perguntas em entrevistas e


questionários. 2 ed. Trad. Luís Campos. Oeiras-PT: Celta, 2002.

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