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Meu noivado

(de mentira)
com o PRÍNCIPE

KATE PALACE
Copyright © 2020 by Kate Palace
Tradução e Revisão: Hugo Teixeira
Edição: Hashtags
Arte de Capa: Hashtags
ISBN nº 978-65-00-06232-8
Reservados todos os direitos desta produção
Observações para o(a) leitor(a):
* Não é aconselhável para leitores menores de 18 anos.
* Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos
ou situações da vida real é mera coincidência.
Sinopse

“O bad boy da realeza de Rodin, o príncipe Alexander Elias Van


Dyck, finalmente se apaixonou. Sua noiva é Eleanor Beck, a diretora da
Biblioteca Nacional de Rodin”.
Seria o noivado lindo. Perfeito. Divino. Se não fosse uma grande
MENTIRA!
***
Meu nome é Eleanor Beck, mas, como não tenho noventa e cinco
anos de idade e não sou uma personagem de um romance de Jane Austen,
peço a todos que me chamem de Ellie. No meu aniversário de trinta e um
anos, decidi mudar de vida: sim, tenho uma profissão que amo, amigos
maravilhosos e uma tia incrível, mas quero formar minha própria família.
Eu só não previa que minha mudança de visual atrairia o interesse do
príncipe Alex, o maior bad boy da realeza europeia, um dos meus melhores
amigos (de longe, o mais irritante), e o maior mulherengo de Rodin.
Até agora, eu achava que ele não era meu tipo. Mas... E se eu estiver
errada?
***
Meu nome é Alexander Elias Van Dyck, e sou príncipe de Rodin.
Nunca ouviram falar em Rodin? A maioria das pessoas não conhece, mas é
um pequeno principado às margens do Mar do Norte, espremido entre a
França e a Bélgica.
Sempre tive uma atração por Ellie, mas, para preservar nossa
amizade, mantive minha distância, deixando que nossa relação fosse
platônica. Porém, agora que ela está em busca de um homem, vou me
voluntariar para a posição.
Ela acha que eu não sou o tipo dela, mas eu provarei o contrário.
Nem que tenha que criar um noivado de mentira...
***
Parte 1
“You're just too good to be true
Can't take my eyes off you
You feel like heaven to touch
I wanna hold you so much
At long last love has arrived
And I thank God I'm alive
You're just too good to be true
Can't take my eyes off you”

“Você é boa demais para ser verdade


Não consigo tirar meus olhos de você
Estar contigo é como tocar o céu
Eu quero muito te abraçar
Enfim, o amor chegou
E agradeço a Deus por estar vivo
Você é linda demais para ser verdade
Não consigo tirar meus olhos de você”

“Pardon the way that I stare


There's nothing else to compare
The sight of you leaves me weak
There are no words left to speak
But if you feel like I feel
Please, let me know that is real
You're just too good to be true
Can't take my eyes off you”

“Perdoe-me o jeito como eu te encaro


Não existe nada que se compare
Te ver me deixa fraco
Não há mais palavras a dizer
Mas se você se sente como eu me sinto
Por favor, me deixe saber que é real
Você é linda demais para ser verdade
Não consigo tirar meus olhos de você

(Can’t Take My Eyes Off You, Frankie Velli)


1
Ellie

— Ohhhhh!!!! — desperto com o berro que é mais um longo gemido.


Devo estar tendo um pesadelo, só pode. Minha tia não aprontaria uma
dessas bem no meu aniversário. Olho para o relógio e vejo que, para piorar, o
pesadelo me acordou dez minutos antes do alarme.
Detesto acordar antes do meu alarme tocar: adoro aproveitar cada
segundo de sono. Tia Marie me chama de “Boa Noite, Ellie”, porque sou do
tipo de pessoa que dorme até em pé se possível, especialmente se eu não
dormi minhas oito horas noturnas.
Alguns segundos depois do berro-gemido que me acordou, não escuto
mais nada, então levanto-me da cama aliviada, porque foi, de fato, um
pesadelo.
Ao menos, era isso que eu achava.
— Issooooooooooo! — Desta vez, é a voz de Jean Pierre.
Quem é Jean Pierre, vocês devem estar se perguntando? É o
namorado novo da minha tia. Ele tem setenta anos; ela, sessenta e sete.
Quando começaram a sair juntos, todos ficaram felizes por eles.
Isso é porque ninguém além de mim tem que passar horas seguidas
escutando o quão ativos esses dois são. Depois que Jean Pierre descobriu os
“milagres” do Viagra, como diz minha tia Marie, sou obrigada a ouvir shows
ao vivo de pornô da melhor idade algumas vezes por semana.
Acho que vou me dar hoje um presente de aniversário: um daqueles
abafadores de som que o povo usa em obras e em treinamento de tiro.
— Jean Pierreeeeeeeeee!
Obrigada pelo maravilhoso presente de aniversário, tia Marie. Muito,
mas muito obrigada. Não poderia ter sido melhor.
Alguém mais notou o sarcasmo pingando da minha boca?
— Marieeeeeeeeeee!
Por sorte, eu tenho o costume de separar a roupa de trabalho no dia
anterior. Depois de escovar os dentes e de uma chuveirada rápida, eu visto a
minha roupa em tempo recorde e decido tomar café no caminho para a
biblioteca.
Claro que, no meu desespero de ir embora, eu acabo esquecendo de
colocar a comida do Bruce, meu gato (ele também acha que é o meu chefe e o
de tia Marie, o dono da casa, o segurança oficial do bairro, e o príncipe
reinante de Rodin).
Quando estou chegando na porta, ele solta um forte miado, e salta –
sim, Bruce não pula, ele salta como um acrobata – no meu colo, me fazendo
soltar a bolsa, que cai no piso de madeira com um som abafado.
Ele me dá uma lambida no nariz, que é seu beijo matinal, mas, logo
em seguida, esquece toda a fofura e volta a miar com irritação por sua mamãe
ter esquecido completamente seu café-da-manhã.
— Querida! — ouço a voz da minha tia do quarto dela. Corro até a
cozinha, jogo ração na tigela de Bruce, e corro de volta para a porta, onde
minha bolsa jaz no chão. — Você está acordada?
— Não — minto, — É o Bruce fazendo bagunça.
Onde diabos está a chave de casa? Começo a revirar minha bolsa
desesperadamente, porque NEM MORTA quero que minha tia me dê um
abraço de aniversário depois de tudo que eu ouvi esta manhã.
— Deixa de ser boba, querida! — ela abre um pouco a porta do quarto
dela e vejo que, além de suada, ela está enrolada com um lençol branco que
esconde quase NADA! Ah, droga, estou vendo MUITO mais do que eu
queria. — Vem aqui para eu te dar os parabéns.
Mas nem se Tom Cruise estivesse me esperando lá dentro para me
fazer gritar que nem tia Marie estava gritando agora há pouco.
— Tia, eu estava ouvindo vocês — digo, finalmente achando a
maldita chave. — Nem morta vou até aí.
— Ah, então vamos até você.
Pelo amor de todos os santos de sobrinhas solteiras de tias ativas
sexualmente que adoram Viagras! Me livrem disso, por favor!
Na última vez que tia Marie e Jean Pierre saíram rápido do quarto,
porque Bruce sem querer ligou o alarme do fogão, eu fui obrigada a vê-los.
Pelados. TOTALMENTE pelados.
Sério, foi traumático. Até minha terapeuta, a Dra. Hurley, ficou
traumatizada quando eu lhe contei.
Para piorar, nem direito a reclamar da nudez deles eu tenho. Quando
reclamei da TOTAL falta de noção deles e do fato de que tia Marie não mora
sozinha, Jean Pierre me disse que o corpo nu é a maior maravilha do mundo.
Talvez o corpo do Henry Cavill seja, mas o do Jean Pierre
definitivamente não é. Quando eu disse isso (juro que foi sem querer, nunca
sou cruel com ninguém, mas também eu nunca tinha sido assombrada por um
Jean Pierre Jr.), tia Marie me lembrou que eu moro com ela porque quero.
E ela tem razão: planejo mudar esta situação muito em breve.
— Precisoirdepoisagentesefala! — grito e saio, mas não antes de ver a
cara de irritação da minha tia, e a expressão de puro ódio de Bruce, ao lado de
sua tigela.
Ah, droga. Esqueci de fazer carinho no Bruce para ele comer. Além
de meu chefe, ele acha que sou também sua massagista oficial. Ele me fará
pagar hoje à noite.
***
Às vezes, quando está quente, vou de bicicleta elétrica até a
biblioteca, que fica a cinco quarteirões da casa da tia Marie. Entretanto,
preciso de mais tempo hoje para me acalmar, por isso decido ir a pé.
Não adianta. A cada passo que dou na direção do meu trabalho, vou
ficando mais ansiosa. De nada ajudam as dezenas de mensagens que começo
a receber no celular, lembretes de que estou completando trinta e um anos
hoje.
Trinta e um anos. A mesma idade em que mamãe faleceu. Quando ela
tinha minha idade, já tinha casado com o homem da sua vida, eles já tinham
comprado a casa dos sonhos, ela tinha uma profissão que amava, e já tinha
uma filha. Eu tinha quatro anos quando ela e papai se foram por causa de um
acidente de carro.
Eu cresci planejando meu futuro: se, por um lado, minha vida
profissional e financeira é ainda melhor do que eu havia previsto, minha vida
pessoal é... Bem, INEXISTENTE.
Não tenho marido. Droga, sequer tenho namorado! Até tia Marie tem
Jean Pierre; enquanto isso, eu não tenho nem date há anos.
Moro com minha tia, apesar de ter total condição de morar sozinha.
Meu único filho é felino, o Bruce. Mas o Bruce acha que é meu dono,
não o contrário, então ele não conta.
O que mais me irrita é que estou nesta situação por culpa minha. Não
me esforço para arranjar ninguém: detesto redes sociais, tenho alergia a
barzinhos e boates, e sou daquelas que julgam homens que não conhecem
Jane Austen.
Entro em um café que fica a um quarteirão da biblioteca e, enquanto
me delicio com o café puro e o croissant com Nutella (não me julguem,
posso sair da dieta no meu MALDITO aniversário!), decido que hoje é um
dia de mudança: a partir de hoje, serei uma nova Ellie.
Chego na biblioteca, e, ao inspirar o cheiro tão familiar de livros,
conhecimento e cultura, já me sinto melhor. Pelo menos, ninguém do
trabalho sabe a data do meu aniversário.
— Parabéns, amiga! — Mathias, meu principal funcionário, e um
grande amigo, grita e me agarra, me tirando do chão.
Ah, é. Ele sabe do meu aniversário.
— Shhh! Não quero que ninguém saiba, Matt — eu o puxo para os
fundos da biblioteca, onde ficam os elevadores que nos levarão até o último
andar do edifício histórico, onde ficam os escritórios. — Você contou para
alguém?
— Claro que não — ele revira os olhos. — Além disso, só eu e você
chegamos aqui às oito.
Verdade, todos os demais chegam às oito e meia, uma vez que a
biblioteca só abre às nove da manhã.
— O que houve, Ellie? — ele abre a porta do elevador para mim
quando chegamos no quarto andar, — Tá parecendo que hoje é seu último dia
de vida.
Obrigada pelo lembrete sombrio, Mathias. Respiro fundo, e controlo
meu desconforto: Matt não conhece em detalhes a história dos meus pais,
porque aconteceu na França e não gosto de falar disso.
Não quero falar dos meus pais agora, mas Matt definitivamente pode
me ajudar com o outro problema.
— Eu vou morrer uma solteirona, Matt! — resmungo, jogando-me na
minha poltrona.
— Se continuar vestindo essas roupas de vovó, vai morrer uma
solteirona mesmo.
— Minhas roupas não são de vovó! — eu me defendo, olhando para
minha blusa branca de mangas longas e botões e minha saia bege solta que
bate um pouco abaixo dos joelhos. — São roupas comportadas e formais.
— Com todo respeito, nenhum homem hétero quer comer mulheres
comportadas e formais.
Droga, ele tem razão. Além de todos os outros problemas, ainda terei
que mudar mais isso em mim: minha imagem. De que adianta começar a ir a
barzinhos se eu me visto como alguém mais velha que tia Marie?
— Oh, céus! — bato a cabeça contra o tampo da minha escrivaninha
de carvalho. — O que devo fazer?
Eu passei os últimos dez anos da minha vida tão preocupada em ter
uma boa formação e bom trabalho (e consegui ambos, tendo mestrado em
Literatura por Oxford e me tornando a diretora mais jovem da biblioteca),
porém, acabei ignorando totalmente o resto.
— Quer que os homens descubram que não é uma solteirona frígida?
— balanço a cabeça desesperadamente. — Basta usar tudo o que você já tem
a seu favor, Ellie.
O que ele quer dizer com isso? Quer que eu exponha meu corpo?
— Não quero parecer uma mulher fácil!
— E quem falou em fácil? — ele senta-se em cima da escrivaninha, e
me encara seriamente. — Se você me deixar ajudá-la, se tornará a mulher
sofisticada e elegante que sei que nasceu para ser! E sexy.
— Sexy? — a palavra está tão longe da minha realidade que até soa
estranha nos meus lábios, só para vocês terem ideia de quão sexy eu NÃO
SOU.
— Sim, sexy.
Pelo visto, o que me falta de confiança, sobra em Matt. Que bom que
ele acredita tanto assim em mim. Eu também queria. Não queria, quero.
Preciso acreditar em mim mesma, senão vou continuar como estou: solteira,
sem marido, sem família.
— Por onde começo? — questiono, porque há tanto a fazer que nem
sei o que devo mudar primeiro.
— Pelo começo — ele pega uma sacola de loja que eu não tinha visto
em cima de uma estante, e me entrega. — Tire logo esse saco de batata que
você chama de roupa e coloque o vestido que eu comprei para você.
Tiro o vestido da sacola e meus se olhos enchem de lágrimas com o
que vejo: não é vulgar, longe disso. É um vestido elegante, mas sem ser sério
demais. É profissional, mas também é divertido. É um vestido azul claro, de
linho, com alças, um decote discreto em V, com bordados lindos na saia, que
é longa.
Além do vestido, ele ainda comprou um casaco super estiloso
combinando, que é gelo, mas muito estiloso, bem diferente dos meus
terninhos. Nossa, ver essa roupa linda que o Matt me deu me deixa ainda
mais consciente da minha total falta de estilo.
— Vou ao banheiro me trocar e... — Matt me segura pelo pulso.
— Deixa de ser fresca, amiga! — ele reclama. — Já te vi como veio
ao mundo mais vezes do que posso contar.
Verdade. Eu e Matt, assim como a maior parte dos rodinianos, nos
conhecemos desde que éramos crianças. Ele é meu melhor amigo há mais de
duas décadas. Até seus namorados já me viram pelada.
Gente, acabei de me dar conta de outra coisa: mais homens gays já me
viram nua do que hetéros! Que tristeza...
Nós caminhamos até uma estante antiga, cujas portas são de um vidro
brilhoso, que serve de espelho, e ele me ajuda a me trocar. Só de colocar o
vestido, eu sinto como se já não fosse mais a mesma Ellie.
— Nossa — digo, admirando como o vestido ficou perfeito no meu
corpo, nem muito folgado, nem justo demais, só nos lugares certos.
Ainda disfarça a minha barriguinha. Gente, como eu AMO o Matt!
Sou super consciente da minha barriguinha e não importa quantas dietas eu
faça, ela não some de jeito algum.
Além disso, a cor é do mesmo tom dos meus olhos, e ainda valoriza
meus cabelos loiros. Minha mãe era norueguesa, e eu herdei aquela coloração
de um loiro tão claro que a maior parte das pessoas acha que é pintado.
— Você está ainda mais linda, Ellie.
— Essa sou eu mesma? — questiono, chocada com a imagem que
vejo.
— Sim, e esses são seus peitos — ele olha para as minhas costas. — E
eu sabia que você tinha bunda bonita!
Peitos? Bunda? Ah, não. Sou super envergonhada de mostrar demais
o formato do meu corpo. Minhas bochechas queimam, e eu reclamo com
Mathias:
— Ah, droga, agora que não vou conseguir vestir isso na frente de
homens!
Tiro de novo o vestido e encaro meu sutiã e calcinha. Nossa, até
minha roupa de baixo é sem graça. Não é só meu nome, Eleanor, que é de
vovozinha: aparentemente, meu estilo também é.
Mais uma coisa para mudar: minha roupa de baixo. Não sei quando
terei coragem de usar esse vestido lindo que Matt ou conjuntos de renda, mas
pelo menos preciso tê-los no armário, para quando a coragem chegar.
— Deixa de ser ridícula, Ellie! — Mathias reclama, segurando o
vestido. — Seios maravilhosos e bundas lindas como a sua foram feitos para
serem admirados.
— Não poderia concordar mais — uma voz masculina diz atrás de
nós.
Não só uma voz masculina: a voz de Alexander Elias Van Dyck, o
príncipe de Rodin.
2
Alex

Ao entrar na biblioteca, um sorriso aparece involuntariamente nos


meus lábios. Quando meu irmão gêmeo Max, mais velho que eu por dois
minutos e quarenta e três segundos (que ele nunca me deixa esquecer), me
pediu para voltar a Rodin, tive minhas dúvidas.
A despeito de amar Rodin, eu planejava passar mais algum tempo
fora. Já fazia mais de cinco anos que eu estava trabalhando na nossa
embaixada no Reino Unido, nosso maior parceiro comercial.
Eu adorava meu trabalho em Londres, e queria ficar mais alguns anos
atuando lá, porque ainda tinha alguns projetos para colocar em prática.
Entretanto, depois da morte do nosso avô Paul, que ocorreu no ano
passado, e papai avisar que se afastará este ano do seu papel oficial de
príncipe reinante, Max acabou me pedindo para ajudá-lo em Rodin. E, como
sempre, não pude dizer não, especialmente porque Max só pede ajuda quando
está desesperado.
Ele me pediu duas tarefas principais: que eu seja o Conselheiro
Econômico do Conselho da Coroa, que se reúne quinzenalmente com os
secretários de Rodin, e que eu me torne o patrono real da Biblioteca Nacional
de Rodin, um grande orgulho do nosso pequeno principado.
Geralmente, não curto muito trabalhar com museus, bibliotecas e
teatros, porém, como a diretora da biblioteca é Ellie, uma amiga antiga de
língua afiada, e que não tem medo de me mandar à merda, logo me animei.
Posso não gostar de trabalhar com essa parte mais artística, mas Ellie
e sua irritação sem fim em relação à minha pessoa sempre me diverte.
Pedi ao meu irmão que me deixasse contar a surpresa pessoalmente a
Ellie. Ele riu, e me deu seu cartão de acesso especial para a biblioteca, já que
a minha precisa ser autorizada pela diretora – Ellie – para ser fabricada.
Subo até o quarto andar, onde ficam os escritórios dos funcionários,
usando as escadas mesmo, e aproximo-me em silêncio do escritório dela. A
porta está entreaberta, então consigo ver o que está acontecendo lá dentro.
Ellie discute alguma coisa com Mathias, que, assim como Ellie,
estudou comigo desde o primeiro grau. Entretanto, nunca fui próximo de
Mathias como sempre fui amigo de Ellie, talvez porque ela sempre veio ao
palácio estudar com meu irmão nerd e brincar com minha irmã, Charlotte,
que é só dois anos mais nova que nós e sempre considerou Ellie sua heroína.
Ellie está com um vestido que mostra todas as curvas. Como assim,
Ellie Beck tem curvas? Sempre a achei uma mulher muito bonita, com um
rosto de boneca e uma expressão nos olhos que revela sua inteligência e
perspicácia.
Entretanto, nunca a achei uma mulher sensual e atraente. Até agora.
Ellie tem escondido muito bem seus atributos. Infelizmente, ela não se
enxerga assim: reclama da sua barriga.
Eu odeio essa moda escrota que ensina às mulheres que apenas
magricelas são gostosas. Honestamente, não curto mulheres magras demais, e
detesto mais ainda como essa imposição deixa mulheres fodasticamente
lindas como Ellie se sentirem acima do peso.
Tenho que admitir que ser mulher é foda. Que bom que não sou,
apesar de AMAR mulheres de todas as cores e todas as formas,
especialmente em formas curvilíneas como as de Ellie.
Antes que eu possa me revelar, Ellie tira o vestido e fica só de
calcinha e sutiã. Ah, mas nem ferrando eu perco a oportunidade de zoá-la.
Quando éramos crianças, Ellie aprontava comigo sempre que podia, e meus
pais nunca acreditaram em mim, porque eles achavam que ela era Santa Ellie.
Mas eu sei que ela não é. Eu tinha achado que ia ser divertido
trabalhar com Ellie? Eu estava errado: será ainda melhor, como uma vingança
por todas as vezes que ela aprontou comigo na infância.
— Deixa de ser ridícula, Ellie! — Mathias reclama quando ela diz que
o vestido a deixou insegura. — Seios maravilhosos e bundas lindas como a
sua foram feitos para serem admirados.
— Não poderia concordar mais — anuncio, praticamente fazendo
Ellie ter um derrame.
Ellie está com a boca aberta de choque? Sim.
Seus olhos azuis estão tão esbugalhados que parecem prestes a saltar
de seu crânio? Com certeza.
Expressão impagável de quem acabou de ser pega seminua em seu
local de trabalho? Ah, mas eu vou tirar foto dessa expressão para poder usar
pelo resto de sua vida, e mostrar para seus filhos, netos e bisnetos.
Estou aqui há cinco minutos e já valeu meu retorno do Reino Unido.
— O que DIABOS está fazendo aqui, Alex? — ela questiona, depois
que eu já garanti minha foto do milênio.
Mathias, ao seu lado, usa o vestido para cobrir o sorriso.
— É assim que trata a realeza do seu país, Eleanor? — sei que ela
odeia quando a chamam pelo nome dela.
— Realeza ou não, não tem o direito de entrar aqui fora do horário de
visitas! — ela caminha até mim, completamente esquecida de que está só de
sutiã e calcinha.
Nem minha avó Sophie, que tem oitenta e três anos, deve ter sutiã e
calcinha tão feios quanto os de Ellie. Ainda assim, ela está linda: só para
vocês terem noção do quão linda ela é, e não o sabe.
Olho para o meu relógio: são oito e quinze, e a biblioteca só abre às
nove, o que significa que ainda tenho quarenta e cinco minutos para sacanear
uma das minhas amigas mais antigas – e mais afiadas.
— Assim como você não deveria estar seminua em seu escritório,
Ellie? — imito sua pose, colocando as mãos na cintura e estufando o peito.
Ela olha para o próprio corpo, esbugalha – AINDA MAIS – os olhos
azuis cristalinos, e fica – AINDA MAIS – vermelha.
— Oh! Vocês podem se virar, por favor?
— Eu já te vi nua um milhão de vezes, Ellie — Mathias comenta em
um tom divertido e sorri para mim.
— E eu adoraria vê-la nua, Ellie — eu a provoco, sabendo que ela
ficará ainda mais sem graça.
Dito e feito: se o tom dela era rosa-beterraba, agora está vermelha-
pimentão.
— Aqui, sou Srta. Beck! — ela diz, colocando o indicador na minha
cara. Mathias não segura a gargalhada, e o dedo indicador dela vai para a cara
dele. — Para os dois! Agora, virem-se!
Nós nos viramos sem questionar, e Mathias caminha até ficar ao meu
lado.
— Seja bem-vindo de volta, Alex — ele me cumprimenta.
Em Rodin, especialmente na região central do principado, onde a
realeza vive, há poucas pessoas da minha idade que usam meus títulos, uma
vez que a maioria deles cresceu comigo. Exceto pelos turistas, visitantes
diplomáticos e pessoas de outros países, todos rodinianos da minha faixa
etária me chamam de Alex.
— Valeu, Matt. Bom te ver também — olho para trás por cima do
ombro, e ganho outro grito de Ellie. — Ela é mandona, hein?
— Não tem ideia, Vossa Alteza — ele diz em tom sarcástico.
— Voltarei à minha primeira pergunta: o que DIABOS você está
fazendo aqui, Alex? — ela me vira quando volta a se vestir com suas roupas
sem graça.
— Vim em uma visita oficial — digo seriamente.
— Como assim, oficial?
Notaram como o olhar dela agora está preocupado? Notaram como
ela está desconfiada? Imaginem a cara que ela vai fazer quando souber que
vamos trabalhar juntos e misturados daqui em diante.
Tiro meu celular do bolso, já me preparando para tirar outra foto
lendária de Ellie Beck.
— Pode não se lembrar, mas sou membro da realeza rodiniana —
continuo com o tom sério e seco.
— E?
— E você é diretora de uma biblioteca que pertence à família real.
— E?
— E a biblioteca precisa de um patrono da realeza, já que está sem
um desde que o vô Paul faleceu.
A cara de FODEU-ESTE-HOMEM-VAI-TRABALHAR-COMIGO
aparece em seu rosto, e eu, fingindo olhar uma mensagem no celular, tiro
outra foto dela. Depois de alguns segundos paralisada do pescoço para cima,
ela recupera a fala.
— O-o que isso significa, Alex?
— Eu serei o novo patrono real da biblioteca.
O Vulcão Ellie vai explodir a qualquer momento, aguardem.
— COMO ASSIM? — E ela explodiu. Ellie começa a caminhar de
um lado para o outro do escritório, enquanto Mathias continua cobrindo a
boca com o vestido azul, olhando para os próprios pés. — Você nunca leu um
livro! Nem sei se você consegue ler!
— Leio bastante, Ellie — digo calmamente.
— Revistas pornôs não contam, Alex.
— Como sabe o que eu leio? — cruzo os braços.
— Eu te conheço desde o primário, Alex — ela revira os olhos do
jeito que faz quando está impaciente desde que éramos crianças. — As únicas
vezes que te vi na biblioteca da escola era quando você estava dando uns
pegas em alguma aluna.
— Eu tinha que manter as aparências, Ellie.
— Claro — mais um revirar teatral de olhos azuis. — Senão a mídia
rodiniana não teria mais assunto.
— Ou boa parte da mídia europeia — Mathias complementa, também
ironizando.
Sim, eles têm razão: sou bastante conhecido na mídia europeia, e
definitivamente não é pelo meu intelecto. Pelo menos, no meio comercial,
sou muito respeitado. Empresários e representantes comerciais sabem que eu
separo muito bem toda a fofoca sobre minha vida pessoal e meu trabalho.
— O que posso fazer? — levanto os ombros. — Max é tão perfeito
que fui obrigado a me tornar o gêmeo mau.
— Pode ser o gêmeo mau o quanto quiser, mas preciso que seja um
bom patrono.
— O que preciso fazer para ser um bom patrono?
— Não atrapalhar meu trabalho, e autorizar o aumento de orçamento
para este ano. Ah, é. E não dar pegas em ninguém enquanto estiver aqui.
Ela se acha tão esperta. Mal sabe o que eu planejei para ela.
— Aceito suas exigências — digo docemente, e ela me olha com
desconfiança. Pode desconfiar, Ellie. Não vou te dar tudo o que quer sem um
preço. — Mas tenho uma condição.
— Claro que tem — ela comenta secamente, — Qual é a condição?
— Você vai comigo a todos os eventos reais este ano.
Os da biblioteca e os demais. Sei que Ellie detesta esses eventos ainda
mais que eu, e mal posso esperar para ouvi-la fazendo seus comentários
sarcásticos sobre os convidados. Os únicos eventos nos quais eu me diverti
foram aqueles para os quais ela foi (obrigada pela tia, claro).
— Mas não aceito nem se o Chris Hemsworth fizer um strip tease
privado para mim! Eu detesto esses eventos, sabe muito bem disso!
— Eu também os detesto. Por que acha que quero sua companhia?
Você tornaria as coisas um pouco menos insuportáveis — admito que sua
presença seria exclusivamente para meu divertimento.
Além disso, se eu for acompanhado de Ellie, mamãe não vai insistir
que eu leve alguma pretendente chata que ela adora empurrar para o meu
lado.
— E seria uma ótima forma de conhecer potenciais namorados —
Mathias comenta com um sorriso conspiratório.
Ah, então Ellie está em busca de um namorado? Posso encontrar
vários para ela. Para sacaneá-la, claro. Quando éramos adolescentes e
brigávamos (o que acontecia bastante, porque eu sempre adorei provocá-la),
ela espalhava rumores bem bizarros ao meu respeito para assustar as garotas.
Até hoje, tem gente em Rodin que acredita que eu tenho sífilis por
causa das fofocas que Ellie espalhava pela escola. Agora, eu vou tentar
empurrar para ela os caras mais insuportáveis que eu conheço.
Ah, como a vingança é doce.
— Ah, soube que o Duque de Weliment está solteiro — comento,
brincando, porque ele é o cara mais entediante da Europa, só que Ellie não
pode arrancar seus testículos como deseja porque ele é um dos maiores
doadores da biblioteca. — E soube que ele estará no jantar dos Patronos das
Artes de Rodin esta semana.
— Não vou nem se Jane Austen ressurgisse do túmulo e me contasse
o final de The Watsons!
Sim, graças à minha irmã, eu sei quem é Jane Austen. E também sei
que The Watsons é um dos romances inacabados dela. Viram que não sou
completamente iletrado, como Ellie acredita que eu seja?
— Se quiser companhia divertida, posso ir, Alex — Mathias se
oferece.
— Obrigado, mas quero a diretora da biblioteca comigo — respondo
seriamente. — Faça como quiser, Ellie. Mas, se não vier comigo aos eventos,
posso ficar de mau humor e não assinar o aumento da verba de que precisam.
— Você não faria isso! Preciso da verba para aumentar nosso acervo!
Sabe como isso é importante?
— Claro que não sei. Eu só leio revistas pornôs, lembre-se.
— Eu te odeio, Alex — a resposta dela significa que ela aceitou a
minha condição, como eu imaginava que ela faria.
Ellie faria quase qualquer coisa para garantir que a biblioteca seja
cada vez mais admirada. Por isso se tornou diretora tão jovem.
— Eu te mando o convite do jantar de sábado, Ellie.
— Tudo bem — ela responde com um biquinho, toda mal-humorada.
Ela fica bonitinha mal-humorada. Quero gargalhar, mas me seguro,
porque Ellie tende a ficar ainda mais vingativa que o normal quando eu rio
dela.
— Por sinal: vou enviar o meu stylist para te ajudar com roupas —
aviso, e escrevo uma breve mensagem para o Fabio, que é responsável por
me vestir e os meus irmãos.
— Stylist? Está falando do Fabio? — aceno para ela. — Não precisa,
tenho roupa formal para o jantar.
— Seu amigo Mathias tem razão sobre suas roupas, Ellie — eu digo,
referindo-me ao comentário sobre suas roupas serem de idosas.
Saio da biblioteca antes que ela me jogue da janela.
3
Ellie

Quando Alex abre a porta e sai do escritório, ouço sons vindo de fora,
indicando que os escritórios já estão enchendo. Sei que ele e Mathias têm
razão: meu jeito de vestir é formal demais, mesmo para uma diretora de
biblioteca.
Se, por um lado, quero mudar o visual, sem deixar o profissionalismo
de lado, por outro, não acho correto Alex pagar por esses gastos.
— Vou chamar o Alex. Não quero que ele gaste dinheiro comigo e...
— Shhh! — Mathias me puxa de volta para o escritório. — É sua
oportunidade de mudar seu visual, sua boba! Vai conseguir a imagem nova
que queria! E com a ajuda de um profissional!
Por outro lado, tem isso... O stylist de Alex e seus irmãos é conhecido
por seu gosto impecável e por conseguir pensar em visuais para eles que
reflitam suas personalidades.
Se tem alguém que conseguirá me deixar do jeito que preciso, sem
que eu fique vulgar ou que eu tenha que vestir roupas que não têm NADA ver
com a minha personalidade, esse alguém é o Fabio.
— Será que ele também consegue me ajudar com a casa nova?
Eu preciso de tanta ajuda com decoração quanto eu preciso para me
vestir.
— Casa nova? — Mathias me empurra em uma poltrona que fica na
pequena “sala de estar” do escritório, onde geralmente faço reuniões mais
informais, e se acomoda em uma poltrona combinando de frente para a
minha. — Vai deixar a casa da sua tia?
Claro que ele não sabe dos meus planos, afinal de contas, eu tomei a
decisão esta manhã. Contar para Matt torna a minha decisão ainda mais real,
de certa forma, porque eu sei que, daqui por diante, ele não vai me deixar
desistir desta ideia.
— Sim... Quero mudar de vida de verdade, Matt. E preciso de você
para me mudar o quanto antes.
Calculo rapidamente na minha cabeça o que tenho a fazer: arrumar
minhas coisas na casa da tia Marie, que são basicamente aquelas do meu
quarto e do escritório, comprar os móveis e eletrodomésticos que ainda não
tenho, pintar a casa da mamãe, e arrumar tudo.
Vou me dar um prazo de um mês. Acho que quatro finais de semana
são suficientes, não? Se eu começar a me organizar hoje mesmo, no início do
mês que vem já posso estar lá. Até antes, se Mathias me ajudar. Ele é
excelente com esse tipo de coisa.
— Vai pra onde, Ellie? — ele questiona, animado.
— Para a antiga casa da minha mãe.
Ela e meu pai compraram uma casa juntos, mas foi na época em que
moramos na França. Apesar de ser muito jovem, eu ainda tenho muitas
lembranças felizes daquela época e, felizmente, não tenho qualquer
recordação do acidente.
Só sei os detalhes porque, quando cresci, minha curiosidade levou o
melhor de mim, e acabei pesquisando o que houve.
Tia Marie conseguiu vender a casa da França por um preço
exorbitante (antes de se aposentar, no ano retrasado, ela tinha uma grande
empresa imobiliária em Rodin). Ainda hoje, ele trabalha esporadicamente
para alguns de seus clientes mais leais.
O dinheiro da venda da casa dos meus pais, assim como sua poupança
e o valor do seguro de vida, foi colocado na minha conta.
Mesmo depois de pagar minha graduação na Universidade de
Bolonha, meu mestrado em Oxford, e ter ajudado com meus custos quando
passei dois anos estagiando na Biblioteca do Senado americano, que tem o
maior acervo do mundo, ainda sobrou muito e eu venho poupando ao longo
dos anos, já que divido as despesas com tia Marie.
A antiga casa de mamãe foi herdada por ela de uma tia distante, que a
adorava. Ela é pequena, mas linda e muito confortável: tem dois quartos,
sendo que uma suíte, um ambiente mais amplo que junta cozinha, sala de
estar e de jantar, e o melhor: uma varanda que rodeia a casa inteira.
Além disso, na parte traseira da casa há um pequeno quintal cercado
com árvores frutíferas. Já penso no quanto Bruce vai se divertir no quintal
com os brinquedos que pretendo comprar para ele.
— Amiga, que orgulho! — Matt diz e me abraça forte. — O que
Dona Marie achou?
— Ainda não contei... Mas vou contar hoje sem falta.
— E como está o namorado novo dela?
Mathias sabe da minha odisseia pornográfica. Talvez, Jean Pierre
tenha sido a principal razão para eu FINALMENTE tomar vergonha na cara e
me mudar para a minha própria casa. Então, vou evitar falar (muito) mal
deles dois.
— Jean Pierre está sonoro. Bem sonoro.
Viu? Não foi tão ruim assim, não é?
— Acho que escolheu uma ótima hora, Ellie — Matt continua. — Sua
tia está namorando, está muito feliz, e vai ficar contente por você também.
Assim espero. Apesar dos shows pornôs auditivos, a única coisa que
não quero nessa minha mudança é magoar minha tia. Respiro fundo e começo
meu dia, já temendo a hora que terei que voltar para casa.
***
Nem preciso dizer que estou uma pilha de nervos quando abro a porta
da casa de tia Marie no final do dia. Sinto o coração acelerar, sinto a testa
suar frio, sinto minhas mãos trêmulas. Tenho que agir como Mathias sugeriu:
dar a notícia de forma rápida e indolor, como tirar um band-aid.
Prefiro nem pensar como acho doloroso tirar band-aid.
— Parabéns, minha querida! — Tia Marie vem me receber na entrada
da casa, e me dá um dos seus abraços de urso.
Apesar de ser quinze centímetros mais baixa que eu, e ter ao menos
uns dez quilos a menos, os abraços da tia Marie são bem fortes.
— Tia, precisamos conversar. — Assim que digo isso, considero que
o ideal é conversarmos a sós. — O Jean Pierre está aí?
— Não, ele teve cardiologista hoje.
— Que bom — comento, aliviada, aí me dou conta do que acabei de
dizer e tento consertar —, não queremos que ele tenha um ataque cardíaco no
seu quarto, né?
Nossa, tentei consertar e só piorei. Ouço uma gargalhada vindo da
sala de estar, uma gargalhada bastante familiar. Corro até a sala e confirmo
que o dono da gargalhada é o príncipe mais pentelho de Rodin.
Sim, eu gosto de Alex. Quando eu não o detesto. Hoje, eu o detesto.
— Boa noite, Ellie — ele diz, todo sorridente, daquele jeito sexy que
geralmente faz as mulheres soltarem fogos de artifício.
Felizmente, o charme dele não tem qualquer efeito sobre mim.
— Já não te vi o suficiente hoje, Alex? — coloco as mãos na cintura.
— Isso lá é jeito de receber o príncipe, Eleanor? — minha tia reclama.
— Eu vim te dar os parabéns, Eleanor — ele repete meu nome
lentamente, sabendo que vai me irritar ainda mais. — Você não me disse que
era o seu aniversário.
— Não achei que precisasse, afinal de contas, nós nos conhecemos há
três séculos — comento secamente. Minha tia me dirige um olhar assassino,
praticamente me obrigando a dizer: — Obrigada pela lembrança, de qualquer
maneira.
Sei que estou me comportando como uma garota mimada, mas, além
de todo o estresse com a história da mudança, e o fato dele ter me visto hoje
seminua, ainda tem a questão dele ser o novo patrono da biblioteca.
Eu tenho certeza de que o Alex fez isso só para me irritar. Há diversas
pessoas da família real que têm muito mais perfil para serem patronos reais
da biblioteca. Ele fez para se vingar de todas as vezes que eu consegui levar a
melhor quando éramos mais novos.
Ele se levanta do sofá, e, ao caminhar até mim, sua expressão suaviza.
Será que ele veio para tentar se redimir de toda a história do patrono? Se for,
ele precisa fazer muito mais.
— Trinta e um anos — ele sorri. — Seus pais ficariam tão orgulhosos,
Ellie. Quem diria que você já teria mestrado por Oxford e seria diretora da
Biblioteca Nacional de Rodin?
— E morando com a minha tia, e solteira, e com roupas de vovó e
sem filhos ou marido... — comento baixinho, mas acho que alto o suficiente
para Alex ouvir, porque ele me dirige um olhar de compaixão.
Esse é o lado dele de que eu mais gosto: apesar de me dar muito bem
com Max, e ser muito amiga de Charlotte, às vezes sinto que nenhum deles
me entende como Alex.
— O que disse, querida? — minha tia pergunta.
Ah, céus. Chegou a hora. Não queria fazer isso na frente de Alex, mas
preciso falar isso agora senão perderei a coragem. Quem sabe, a presença de
Alex será boa? Ele sempre foi ótimo ao lidar com tia Marie.
E, cá entre nós, ela tem uma quedinha engraçada por ele desde que
Alex se tornou um adolescente de quase dois metros e um bad boy à la James
Dean.
— Tenho algo a contar, tia — eles me encaram com expectativa. —
Eu... Decidi me mudar para a casa antiga de mamãe — Ah, céus, eu vou
vomitar e Alex vai tirar outra foto vergonhosa minha. — E... Vou mudar a
forma de me vestir... E... Vou começar a sair mais.
Ela não diz nada. Ele não diz nada. Eu engulo o vômito. Noto Alex
mexendo no bolso e sei que está deixando o celular a postos para o caso de
ter a oportunidade de me fotografar pagando mais um mico.
— FINALMENTE, Eleanor! — tia Marie grita, do nada, e me dá
outro abraço de urso. — Estava aqui tentando convencer o príncipe safado
aqui a tirar sua virgindade!
— QUÊ?!?!
De onde ela tirou essa ideia de que eu sou virgem?! Eu já fiz sexo! Fiz
sim, parem de negar com a cabeça! Fiz sexo dezoito vezes com um namorado
que tive na faculdade durante uns meses. E fiz ainda mais sexo (vinte e
quatro vezes, no total!) com meu segundo namorado, na época em que
trabalhei nos Estados Unidos.
Tudo bem, posso não ser MUUUUITO experiente. Mas tampouco sou
virgem!
— Eu disse que ela teria essa reação — Alex diz, sorrindo.
Será que ele acha que eu sou virgem? Será que a tia também acha?
— Eu não sou... Ele não é...
— Você pode não ser virgem, mas está quase lá, do jeito que está
deixando crescer teia de aranha aí embaixo — tia Marie despeja, e eu me
jogo no sofá.
O que poderia ser mais humilhante do que escutar isso da sua tia de
sessenta e sete anos? Ah, claro: saber que o príncipe de Rodin, o patrono real
do lugar onde sou DIRETORA, está ouvindo tudo.
Ele está segurando a gargalhada? Eu vou matá-lo!
— Tia! — digo no meu tom de PARE-DE-FALAR-DISSO-AGORA.
— Além disso, Alex é gato, experiente e príncipe de Rodin!
Alguém por favor me mate agora.
— Por sinal, vou levar sua sobrinha a um jantar este final de semana
— Alex, o traíra desgraçado, coloca ainda mais lenha na fogueira.
— Ah, seu safado! — ela dá um tapa “amigável” no ombro dele, e
aproveita para apertar o bíceps. Sim, minha tia está se aproveitando do
PRÍNCIPE! — Você foi ainda mais rápido do que eu! Mal chegou e já está
saindo com a minha Eleanor?
— Nós não estamos...
— Acha que eu perderia uma chance dessas, tia Marie?
Ah, mas eu vou MATAR esse desgraçado! Ele sabe MUITO BEM
que o sonho da minha tia sempre foi que eu me casasse com um príncipe.
Quando eu era mais nova, ela nutria esperanças de que eu me
envolveria romanticamente com Max. Entretanto, quando ele a assegurou que
só me via como uma irmã, ela passou a focar seus esforços em Alex.
Felizmente, ele se mudou de Rodin e tia Marie aquietou a piriquita
casamenteira dela. Pelo visto, a piriquita voltou a cantar com o retorno de
Alex.
— Você nunca me decepciona, querido — ela aperta o bíceps dele
(DE NOVO), dá um beijo em sua bochecha, e avisa que vai verificar o bolo.
Agora que tia Marie não está aqui para me dar um sermão, posso
olhar abertamente para Alex com cara de serial killer.
— Vou embora antes que você me mate — ele se levanta e me
entrega uma sacola. — Aqui está seu presente.
Curiosa, porque a embalagem dentro da sacola tem formato de um
livro, eu abro o presente, já imaginando que se trate de algum livro sobre
sexo tântrico, por causa do comentário que fiz sobre ele ler apenas revistas
pornôs.
Mas não é um livro sobre sexo tântrico. Ou um best-seller de
autoajuda que eu doaria na primeira chance que tivesse. Alex me deu uma
edição raríssima de Norte e Sul, um dos meus livros favoritos, de Elizabeth
Gaskell.
Eu nem sabia que ele conhecia Gaskell.
— É lindo, Alex — tento não chorar na frente dele, porque esse foi
um dos presentes mais legais que já recebi. E é exatamente por isso que não
posso aceitá-lo: ele é muito caro. — Mas é demais.
— Não é. Você merece, Ellie.
Ele me dá um beijo na bochecha e me abraça. Quando estou nos seus
braços, eu me dou conta de quem NÃO veio me receber na porta, como
sempre faz.
— Estranho... Onde está Bruce?
— Quem é Bruce?
— Meu gato — explico. — O nome dele é Bruce Lee.
— O ator de artes marciais? Por que você deu a ele o nome de Bruce
LeeAHHHHHH!
Alex grita, ao mesmo tempo que Bruce, que surgiu DO NADA, salta
no pescoço dele e gruda na sua cabeça.
— MIAAAAUUUUUUU!
Traduzindo: o que Bruce Lee quis dizer foi, “fique longe da minha
Ellie, desgraçado!”.
— Bruce, sai de cima dele! — eu tento pegá-lo, mas Bruce o agarra
com ainda mais força.
— Ahhhhhhhhh!
Alex começa a pular, e, incomodado, Bruce sai e se esfrega nas
minhas pernas, como se não tivesse acabado de ATACAR a minha visita!
— Desculpa, ele é meio ciumento...
— Acabei de entender o nome Bruce Lee — ele diz, verificando se a
cabeça está sangrando.
— Pois é...
— E eu achando que suas roupas de vovó eram seu maior problema
para arranjar um namorado — ele comenta sarcasticamente.
Claro que ele não resistiu.
— Cala a boca, Alex.
— Feliz Aniversário, Ellie — ele vai me dar outro beijo, mas olha
para o Bruce, que nos observa com atenção, e foge de casa.
4
Alex

Assim que eu chego ao Palácio Dourado, a residência oficial da


família real de Rodin, sou recebido de braços abertos no grande hall de
entrada pela minha irmã, Charlotte, que aparentemente acabou de chegar do
hospital.
Assim como eu, Charlotte retornou a Rodin recentemente. Assim que
terminou sua residência, em Nova Iorque, ela passou dois anos trabalhando
com os Médicos sem Fronteiras, em diversos países da África.
Eu sinceramente achei que minha mãe teria um ataque cardíaco
quando soube que sua princesinha caçula iria para regiões bastante isoladas,
algumas das quais devastadas por longas guerras civis.
Admito que uma das coisas mais difíceis de viver em Londres foi
ficar longe dos meus irmãos. Até os meus dezoito anos, nós éramos
inseparáveis, e apesar de brigarmos mais que cães e gatos, éramos também
muito amigos.
Porém, cada um de nós foi para uma faculdade diferente e, desde
então, nosso maior meio de comunicação era o Whats App. Agora, depois de
muitos anos, finalmente vamos morar na mesma cidade.
Eu a abraço forte e pergunto como foi seu dia. Charlotte está
trabalhando na ala infantil do maior hospital de Rodin e ela me conta, com
animação, sobre uma cirurgia bem-sucedida feita em uma garotinha de dez
anos que teve um acidente sério na escola.
Caminhamos juntos até sala de estar íntima da família, que fica ao
lado da nossa sala de jantar, cumprimentando os funcionários pelos quais
passamos.
O palácio é dividido, basicamente, em três alas: há a ala onde nós de
fato vivemos, com quartos, cozinha, salas e escritórios pessoais; uma ala
onde os funcionários que assessoram a família em seus afazeres oficiais
trabalham; finalmente, há a ala aberta ao público, que funciona como museu
da família real, quando os espaços não estão fechados para eventos.
Quando entramos na sala de estar, Max está lendo documentos
oficiais, sua gravata levemente desfeita, as mangas da camisa social dobradas
até o cotovelo, e levanta-se imediatamente, com um sorriso.
— Alex, finalmente! — ele me cumprimenta com um abraço, depois
de dar um beijo no nariz de Charlotte, gesto que ele faz desde sempre. —
Estava curioso para saber como foi na biblioteca.
— Ah, é mesmo! — os olhos de Charlotte estão brilhando com
divertimento. —Como foi com Ellie, Alex?
Eles dois estão quase babando de curiosidade: na família, todos sabem
o histórico que tenho com Ellie. Basicamente, ela é a única mulher da minha
idade que não é da minha família que nunca teve qualquer interesse
romântico por mim.
Sob meu ponto de vista, isso sempre foi uma grande desvantagem,
porque Ellie era a melhor aluna da turma e seria ótimo se eu pudesse
convencê-la, com meu charme, a fazer alguns trabalhos para mim.
Porém, para a minha família, ela é a grande heroína que sabe me
colocar em meu “devido lugar”, como Charlotte sempre adorou dizer. Para
falar a verdade, é exatamente por isso que sempre adorei Ellie: ela não se
preocupa em me seduzir, em tentar puxar meu saco, ou em tentar me
convencer a levá-la a algum evento oficial.
Hoje, ao vê-la de calcinha e sutiã, pela primeira vez eu gostaria que
ela sentisse uma mini atração por mim. Sempre tive uma queda por ela, mas
aceitei que nossa relação seria platônica e pronto. Agora, tenho minhas
dúvidas se conseguirei manter as coisas apenas amigáveis.
Se nossas discussões já são tão acaloradas, imagina como seríamos na
cama?
Por outro lado, ela é a Ellie, minha grande amiga, uma das minhas
pessoas favoritas do mundo e a diretora da biblioteca no qual sou patrono
real.
Bem, não posso ter todas as mulheres por quem sinto atração. Tenho
que me acostumar de novo à nossa relação completamente platônica.
— Ellie adorou a notícia — digo, convencido, apesar do olhar deles
de descrença.
— Duvido muito — Max levanta uma sobrancelha.
— Até parece — Charlotte cruza os braços.
— Do que estão falando? — questiono sarcasticamente. — Ellie me
adora.
— Sim, ela te adora — Max concorda, a contragosto.
— Quando não te odeia — Charlotte complementa.
Claro que ela tem mais razão que Max, como de costume. Isso é outra
coisa que sempre amei na minha relação com Ellie: apesar de discutirmos dia
sim e o outro também, sempre soube que poderia contar com ela caso
precisasse.
— Você a pentelhou muito? — Charlotte pergunta.
— Não. — Ambos me olham com descrença de novo. — Não muito.
— Tente não fazê-la pedir demissão — Max me pede, com um olhar
preocupado. — Ela é uma das melhores funcionárias da Coroa.
Eu bem o sei. Rodin é um principado que mantém uma cultura mais
tradicional, que valoriza as tradições e, do ponto de vista profissional, a
experiência. Por isso, é mais comum a Coroa contratar pessoas com notório
saber, o que significa algumas décadas de experiência.
Porém, Ellie é tão boa no que faz que até o Conselho da Coroa a
aprovou. Mais que isso, a antiga diretora, que ficou à frente da biblioteca
duas décadas, foi quem a indicou.
Meu irmão, que se tornará o príncipe reinante em poucos meses,
adorou a indicação, claro. Até mesmo os Patronos das Artes de Rodin, muitos
dos quais bastante reticentes com uma diretora tão jovem, acabaram
reconhecendo o potencial de Ellie depois de poucos meses de atuação.
— Hoje foi aniversário de Ellie, lembraram? — questiono, porque eu
definitivamente não lembrei.
Foi Mathias quem me deu o toque.
— Sim, fui visitá-la hoje no almoço — Max retorna à poltrona e volta
a ler documentos.
— Acabei de sair de um plantão de doze horas, mas enviei um buquê
de margaridas para Ellie — levanto as sobrancelhas, e ela explica: — São
suas flores favoritas.
— Ah, e vocês não vão acreditar: Ellie vai comigo para o Baile
Dourado.
O Baile Dourado é o evento mais importante do ano. Ele ocorre no
aniversário de criação oficial do principado, dia quinze de junho.
Comemorações ocorrem em todo o principado ao longo do dia,
inclusive a família real participa do nosso famoso Desfile Dourado, até o
anoitecer, quando o baile se inicia no salão principal do palácio.
Assim como o Baile Dourado é lendário, também é lendário o fato de
que Ellie sempre detestou esse tipo de evento. Enquanto nossos colegas de
escola passavam meses nos bajulando, tentando arranjar convites, Ellie
sempre os recusava.
Por outro lado, ela sempre admirou o Desfile Dourado. Claro que
tampouco aceitava ficar conosco nos carros alegóricos oficiais, sempre
preferindo assistir ao desfile da rua mesmo, com turistas e cidadãos
rodinianos.
— Mentira! — meus irmãos me acusam juntos.
— Não é mentira — afirmo. — Fabio vai ajudá-la a comprar roupas e
tudo.
— O que você fez para convencê-la? — Meu irmão questiona.
— Ele a ameaçou com algo, óbvio — Minha irmã, como de costume,
não acredita no meu cavalheirismo.
— Não a ameacei. Eu apenas prometi que não iria atrapalhá-la e que
iria aprovar o aumento orçamentário que ela pediu para este ano.
— Mas eu já tinha aprovado esse orçamento — Max comenta,
parecendo confuso.
— Você sabe disso; eu sei disso. Ellie não sabia disso.
Os dois começam a rir, enquanto me acusam de ser um péssimo
mentiroso. Charlotte também me alerta para o fato de que, quando Ellie
descobrir o que eu fiz (e Max também tem certeza de que ela vai descobrir), a
vingança dela alcançará novos níveis.
Não havia pensado por esse lado. Terei que postergar, ao máximo,
que ela descubra isso. Por outro lado, será divertido ver como Ellie reagirá.
Os planos malignos dela podem me ferrar, mas eu sempre acabo rindo com
os demais.
— Queridos! — nossa mãe entra na sala. — Que maravilha ver meus
bebês todos juntos aqui!
Ela abraça cada um de nós, e nos dá um beijo no rosto, como se ainda
fôssemos crianças. Mamãe ainda mantém suas feições delicadas. De nós,
Charlotte é a única que parece ser sua filha.
E não é só por causa do tamanho: enquanto eu e Max temos mais de
um metro e noventa, Charlotte e mamãe mal passam do metro e sessenta.
Além disso, eu e Max temos cabelos negros e olhos verdes, como nosso pai,
mas Charlotte é ruiva, com sardas no rosto e olhos cor de mel.
— Mamãe, podem começar com a entrada — Max avisa, olhando
para o celular. — Vou ter que atender um telefonema.
— Esperamos você para jantarmos, querido — ela avisa, e ele a beija
na bochecha antes de sair.
Assim que Max sai do aposento, mamãe vira-se para nós, e seu
sorriso evapora, a expressão animada substituída por uma de puro terror.
— Filha, seu irmão está doente! — ela sacode Charlotte pelos braços.
— Ah, está? — minha irmã responde calmamente, já habituada às
reações dramáticas de mamãe.
Ela é meio hipocondríaca, apesar de não aceitar fazer tratamento para
tal, como Charlotte recomenda desde que se formou em medicina.
Pelo menos, Charlotte lida calmamente com a situação, e não faz
pouco caso da preocupação de mamãe, apenas tenta convencê-la de que vai
resolver o que quer que haja de errado.
— Sim, Max reclamou de uma dor de cabeça esta manhã para Sarah
— Sarah é a secretária pessoal que atende a nós três. Coitada, está atolada de
trabalho, porque ela deveria atender apenas Max, mas eu e Charlotte ainda
não conseguimos contratar as nossas próprias desde que voltamos a Rodin —
Tenho certeza de que é tumor no cérebro. O que faremos?
Claro, porque toda dor de cabeça é indício de tumor no cérebro.
— Mãe, por que acha que é tumor no cérebro? — Charlotte questiona
seriamente.
— Porque ele e jovem demais para ter tantas dores de cabeça! É isso
ou ele está prestes a ter um aneurisma cerebral! Ele tem estado tão
estressado...
Comentário: se ele está tão estressado, por que mamãe não acha que
ele está tendo dores de cabeça exatamente por conta da ansiedade, ou do
cansaço?
Nem ferrando comento isso, entretanto. Uma vez, quando eu tinha uns
sete ou oito anos, meu pai teve uma dor de barriga depois de comer quilos de
batata frita, mas claro que mamãe ficou convencida de que ele estava com
esquistossomose (um verme mais conhecido por “barriga d’água”; por sinal,
nunca houve um caso em Rodin).
Depois de pesquisar em uma enciclopédia (viram como não leio só
revistas pornôs, como algumas bibliotecárias acusaram?) eu argumentei com
mamãe que não fazia qualquer sentido papai ter aquele verme, já que, além
de nunca ter tido caso em Rodin, ele não tinha nenhum dos outros muitos
sintomas.
Ela me deixou de castigo uma semana. E só me liberou da minha
sentença – absolutamente injusta, por sinal – quando papai fez exames para
comprovar que não estava com nenhum verme.
Desde então, eu parei de questioná-la. Além disso, à medida que fui
crescendo, passei a entender melhor seus motivos. Mamãe perdeu o pai muito
jovem, com menos de vinte anos, para um câncer raríssimo. Poucos anos
depois, perderia a mãe para uma doença autoimune ainda mais rara.
Hoje sei, assim como meus irmãos, que ela tem todo o direito de ser
hipocondríaca.
— Vou marcar um check up geral para Max, o que acha? — Charlotte
propõe de forma gentil.
— Obrigada, querida. — os ombros da minha mãe relaxam
imediatamente. Em seguida, ela olha para MIM com preocupação. Ah, não.
O que ela vai achar que eu tenho agora? — Está com uma cara cansada, Alex.
O que houve?
— Foi a viagem — digo como desculpa.
— Mas você chegou ontem, e a tempo de jantar conosco — ela
responde, zero convencida.
— Não dormi muito esta noite.
— Oh, céus! — ela se vira para Charlotte. — Marque um check up
para seu irmão também! Ele está com insônia.
— Não, mamãe, não é insônia — comento calmamente.
— Hipersônia idiopática? Narcolepsia? Apneia do sono? Distúrbio do
movimento periódico dos membros?
Como ela sabe tanta coisa? Fez medicina com Charlotte, por acaso?
Não conheço metade das doenças que ela citou.
— Quer mesmo saber o que me deixou acordado esta noite? —
pergunto com ironia, e recebo um olhar de ameaça de Charlotte.
— Claro, filho! — Como sempre, mamãe não sacou meu tom irônico.
Ela é tão adoravelmente inocente. — Pode me contar qualquer coisa.
— É só Síndrome de Sexo Quente a Noite Inteira — eu sussurro, alto
o suficiente para as duas escutarem.
— Ah, Alexander Elias Van Dyck! — ela dá um tapa fraco no meu
braço. Pelo menos, eu a fiz sorri. E ela também ficou vermelha. — Deixe de
brincar com a sua pobre mãe!
Uma das assessoras avisa que a entrada está servida, e saímos juntos
da sala de estar. Assim que nos sentamos à mesa, Charlotte inclina-se na
minha direção e sussurra no meu ouvido, aproveitando que mamãe está
ocupada dando instruções à assessora.
— Vejo que é o mesmo cavalheiro de sempre, falando da sua noite de
sexo com sua própria mãe — ela diz com desaprovação.
— Pelo menos, ela nunca mais vai perguntar o que há de errado
comigo — replico com um tom vencedor.
— Verdade — Charlotte considera. — Eu deveria tentar essa tática
também.
5
Alex

Minha quarta-feira começou muito bem, obrigado.


Depois de confirmar com Sarah que o crachá da biblioteca está
pronto, que Fabio já confirmou a disponibilidade de agenda para lidar com a
situação das roupas de Ellie, e que o pessoal da obra começará os trabalhos
no meu novo escritório ainda hoje, chego sorridente na biblioteca.
Adivinham quem é a primeira pessoa a me ver? Veem como o sorriso
dela desaparece instantaneamente dos seus lábios? Sim, ela gostou do
presente que lhe dei ontem, mas continua querendo uma coisa: que eu fique
bem longe dela.
Porém, Ellie cometeu um erro: ela me fez prometer que eu não
ATRAPALHARIA o trabalho dela, não falou nada sobre eu manter a
distância. E são duas condições diferentes.
— Está animada com o meu primeiro dia como patrono? — comento
sorridente quando ela me alcança, apesar de Ellie estar com um olhar tão frio
quanto o Ártico.
— O que acha que está fazendo, Alex? — ela mantém o tom baixo,
para que os visitantes e os funcionários da biblioteca não nos escutem.
— Vou reformar o escritório do vô Paul.
— Eu disse que queria você FORA do meu caminho, Alex!
— Não, disse que queria que eu não atrapalhasse seu trabalho. E não
vou atrapalhar.
— Mas você...
Eu a interrompo quando vejo uma das minhas pessoas favoritas do
mundo.
— Ah, Sra. Saraphine! — seguro Ellie pelo pulso. — Veja quem está
aqui!
Sra. Sraphine era diretora da nossa escola do primário. Ela é uma
senhorinha muito simpática e, sempre que eu vinha a Rodin, fazia questão de
visitá-la.
Na última vez que eu a vi, alguns meses atrás, percebi que ela estava
triste e decidi que a melhor coisa para ela seria tirá-la de sua aposentadoria.
— Ah, minha querida Eleanor — a Sra. Seraphine diz, abrindo os
braços e caminha até nós.
Dois minutos depois, e ela ainda está caminhando até nós. Se nós a
aguardarmos nos alcançar, vai ser hora do almoço quando ela finalmente
abraçar Ellie, então eu acho mais fácil ir até a Sra. Seraphine.
— Sra. Seraphine — Ellie lhe dá um abraço caloroso. Assim como eu,
Ellie sempre gostou muito dela. — A senhora está ótima.
E está mesmo. Ela já era bastante idosa quando foi diretora da nossa
escola, vinte anos atrás. Agora, ela já é quase centenária.
— A Sra. Seraphine será a nossa secretária — informo.
— Como?
— Vi que pediu orçamento para uma nova secretária, então contratei
a Sra. Seraphine — informo de novo.
Ellie fica com as bochechas rosadas, o sorriso amarelo, e, depois de
pedir licença à Sra. Seraphine, me puxa para dentro do seu escritório.
— O que pensa que está fazendo? — Ellie reclama, do jeito que eu
imaginava que faria. — Ela tem cem anos! Já deveria ter se aposentado trinta
anos atrás!
— A Sra. Seraphine tem só noventa e dois — eu defendo minha
diretora-secretária favorita. — E só está viva porque continua ativa.
— Precisamos de uma secretária que suba e desça escadas o dia
inteiro, não alguém que leve o dia inteiro para ir da mesa até o banheiro,
Alex.
Eu sabia que ela diria isso, então já bolei a minha estratégia.
— Tudo bem, então você a demite.
— Acha que não consigo?
Duvido muito. Ellie tem um coração tão mole quanto manteiga
derretida.
— Tenho certeza de que não consegue — digo, sabendo que ela vai
morder a isca, vai bater o pezinho dela de forma insolente, e vai até a Sra.
Seraphine.
E não conseguirá demiti-la.
Ellie abre a porta do escritório e retorna para o local onde deixamos a
Sra. Seraphine. Ela está caminhando lentamente até sua mesa. Bem
lentamente.
— Sra. Seraphine — Ellie a chama.
— Minha querida Ellie — o sorriso da sra. Seraphine alarga-se de
novo ao ver uma de suas alunas favoritas. — Queria agradecer tanto por
aceitar me contratar. Estava tão deprimida depois que me aposentaram
forçadamente da escola... Depois que meu Thomas morreu, tenho ficado tão
sozinha. Mas, aqui, verei meus bebês o dia inteiro, e estarei cercada de livros
e visitantes.
Viram como o queixo da Ellie quase bateu no chão? Estão vendo
como os olhos azuis estão se enchendo de água? Notaram que suas mãos
ficaram trêmulas de repente?
— Ellie queria lhe dizer algo — eu digo, apenas para provocá-la.
— Ah, claro — a sra. Seraphine finalmente alcança sua mesa. —
Posso ajudá-la com algo, querida?
— Hã... Eu...
***
Ellie

Alex ainda está rindo na MINHA poltrona, do MEU escritório,


quando Matt entra.
— Ellie, temos um erro aqui — ele se aproxima, e coloca uma folha
sobre minha escrivaninha.
A folha em questão é um formulário simples de contratação. A
contratação da Sra. Seraphine. Ah, não. Espero que não tenha qualquer
problema com a contratação dela, porque, depois do que ela disse, não quero
lhe dar nenhuma má notícia.
— Que erro? — questiono, checando os dados, mas não noto nada de
errado.
— Vi que Alex contratou uma secretária, mas acho que há algumas
informações erradas.
— Ah, é?
— Sim, pela data de nascimento, ela tem noventa e dois anos.
Oh, céus.
— Ah, Mathias está certo — Alex comenta seriamente, mas
reconheço o sarcasmo em seu tom. O que ele vai aprontar agora? — A Sra.
Seraphine não tem noventa e dois anos, como eu te disse: ela fez noventa e
três no mês passado.
— Noventa e três anos? — Mathias quase cai para trás. — Ela tem
condição de subir escadas?
Só se o Dwayne Johnson carregá-la.
— Não, mas Ellie resolveu tudo, não foi? — O desgraçado me abraça
de lado, mas eu afasto sua mão para longe.
— Hã... Eh.... De fato, ela não consegue subir escadas sozinhas —
digo para Mathias.
— E como ela vai dar conta do trabalho? — ele questiona, tão
chocado quanto eu fiquei quando descobri que a Sra. Seraphine seria nossa
nova secretária.
— Então, a Sra. Seraphine terá uma estagiária.
— Como é que é? — Matt diz em tom acusatório. — Pedi uma
estagiária para a gente e você recusou!
— Sim, mas claramente a Sra. Seraphine precisa mais de uma
estagiária do que a gente — tento explicar.
— Ellie, isso não faz qualquer sentido. Temos que demiti-la.
— Por que você não faz isso? — Alex propõe. — Ellie não conseguiu
fazê-lo.
Claro que não! Nem o Ted Bundy resistiria àquela carinha da Sra.
Seraphine! Os olhos dela estavam brilhando como os de uma adolescente
apaixonada enquanto ela falava como estava animada com o novo trabalho!
Mathias deixa o meu escritório em duras passadas, mas, menos de dez
minutos depois, ele retorna, cabisbaixo.
Alex, é claro, está se divertindo muito com toda essa situação que ele
criou.
— E aí? — Alex questiona ironicamente. — Como foi?
— Precisamos de mais dinheiro, chefe — Matt me diz.
— Para quê?
— Prometi à Sra. Seraphine um banheiro mais próximo da mesa dela,
porque o atual fica longe demais.
Ah, que ótimo.
— Tem um banheiro a dez metros da mesa dela — eu o recordo.
— Sim, mas ela leva quinze minutos até lá.
— Um novo banheiro então — Alex fecha as mãos em uma palma
animada. — Acho melhor vocês não conversarem mais com a Sra. Seraphine,
senão, daqui a pouco, terei que doar meu castelo na Irlanda para ela.
6
Ellie

A biblioteca abriu há menos de uma hora, e nós já recebemos quatro


ligações para Alex, de mulheres desconhecidas. Ele não havia me prometido
que NÃO ficaria no meu maldito caminho? Pois, até agora, ele tem feito
exatamente o OPOSTO do que prometeu.
A Sra. Seraphine está conversando com alguns alunos de nosso antigo
colégio, que passarão a manhã aqui em uma visita, e a nova estagiária está lá
para apoiá-la.
Além disso, as recepcionistas da biblioteca apenas têm condições de
atender ligações do público em geral, já que os telefones para os funcionários
do quarto andar fazem parte de uma linha separada, o que significa que não
tem ninguém para atender as pretendentes a princesas de Rodin por uma
noite.
Poderia trazer uma das recepcionistas para o quarto andar hoje, mas
só pioraria as coisas, porque Alex poderia dizer que não há qualquer
problema em receber ligações pessoais aqui, já que há funcionários
suficientes para atender.
Há mais de cinquenta funcionários fixos na biblioteca, além dos mais
de trinta prestadores de serviços, mas a maior parte deles trabalha com
segurança, recepção, guias para visitantes, ou manutenção, ou seja,
atendimento a visitantes.
Minha equipe de apoio, que trabalha diretamente comigo no quarto
andar, é composta por apenas dez funcionários, que se revezam em dois
turnos. Tampouco quero que eles percam tempo com essas ligações.
Para piorar, a linha do quarto andar é centrada no telefone da mesa da
Sra. Seraphine, que fica bem em frente à minha sala e à de Alex, e o toque
está me enlouquecendo. Levanto-me, tiro o telefone do gancho e caminho até
a sala de Alex, que lê calmamente um jornal.
— Alex, posso falar contigo um instante? — entro, e bato a porta dele
com mais força do que queria.
— O que eu fiz agora? — ele dobra o jornal e o coloca sobre a mesa
de centro, sua expressão ficando preocupada.
— É isso que eu quero descobrir — sento-me no sofá de dois lugares
de frente para a poltrona, do outro lado da mesa de centro. — Desde ontem,
mulheres aleatórias começaram a ligar para cá procurando por você.
— Ah, sim. Eu tornei o telefone da biblioteca meu número oficial em
Rodin.
— COMO É QUE É?!
Quanto tempo eu pego de cadeia se jogar o príncipe de Rodin pela
janela? Dependendo do juiz que for me julgar, será que ele considerará esse
caso um crime justificável? Para mim, definitivamente o é.
O DESGRAÇADO do Alex deu voluntariamente o telefone da
biblioteca como se fosse seu número pessoal?!?!
Eu achei que, depois que a mídia descobriu sobre a nova posição de
Alex como patrono real, uma de suas stalkers poderia ter descoberto o
telefone do escritório, porque as recepcionistas jamais o passariam para
mulheres desconhecidas procurando pelo príncipe.
— Não queria que as minhas fãs – e potenciais Noite de Sexo Quente
– me incomodassem no palácio, não é mesmo?
Eu. Vou. Matar. Este. Homem.
Respira, Ellie. Vai dar tudo certo. Você é uma pessoa do bem, não
precisa matar o príncipe para seguir seu trabalho. Você é forte.
EU VOU MATAR ESTE HOMEM!
— Claro, porque não há nenhum problema de suas potenciais
VÍTIMAS nos incomodarem em uma MALDITA biblioteca! — digo
gritando e, quando dou por mim, percebo que estou de pé, inclinada e com o
dedo praticamente na cara de Alex.
— Não se preocupe, Ellie — ele abaixa meu dedo, sorrindo. O
desgraçado está sorrindo. — A Sra. Seraphine foi instruída a atendê-las e
pedir que enviem fotos, preferencialmente de biquíni.
— Ugh, você é nojento.
E machista. E babaca. Sabem como eu digo que adoro o Alex, quando
não o detesto? Pois bem: na última semana, tem sido difícil NÃO detestá-lo
com todas as forças.
Se ele não fosse um mulherengo sem noção, eu diria que ele fez isso
só para me atingir. Mas não há problema: quem ri por último, ri melhor. Eu
ainda não pensei em nada para castigá-lo, mas a criatividade virá. Ela sempre
vem; eu SEMPRE ganho.
Só preciso garantir que não vou assassiná-lo a sangue frio até lá.
— Por que você não manda uma foto de biquíni para a Sra.
Seraphine? — ele usa o tom sexy dele, que sempre me irritou profundamente.
— Posso incluí-la na minha lista de Noite de Sexo Quente.
— Prefiro ser picada por abelhas africanas na bunda — respondo
secamente, e o telefone volta a tocar. Caminho até a escrivaninha dele, e vejo
que é um número desconhecido. Como há poucas pessoas que possuem este
número (havia, pelo menos), sei que deve se tratar de uma das amantes-em-
potencial de Alex. — Ah, de novo não!
— Deixe que a Sra. Seraphine atenda, Ellie — ele comenta,
levantando-se também e parando ao meu lado.
Posso não matá-lo, mas vou lhe dar um peteleco no nariz.
— AI! — ele reclama. — Por que fez isso?
— Porque a Sra. Seraphine não está aqui agora — digo entredentes.
— Você poderia atender, Ellie.
— Ah, virei sua secretária agora?
— É só um favor, Ellie.
Eu não disse que a criatividade viria? Ela chegou. Sei
EXATAMENTE como me vingar por essa porcaria que o Alex aprontou.
Sorrio para ele, comento: “claro que posso te fazer um favor, querido”, e
quase gargalho ao ver a expressão de medo dele.
Alex sabe muito bem qual é o meu humor quando eu o chamo de
“querido”. Dica: é péssimo.
— Bom dia, escritório do Dr. Sanderberg — digo com minha melhor
voz de bibliotecária.
— O que está fazendo? — ele tenta tirar o aparelho da minha mão,
mas eu estapeio a mão dele para longe. — Quem diabos é Dr. Sanderberg?
— Shhh — digo, enquanto a mulher do outro lado pede para falar
com o príncipe Alexander, conforme eu havia previsto. Ah, e ela é modelo.
Quem diria? Só falta dizer que é modelo da Victoria’s Secret.
— Infelizmente, ele não pode atender no momento. O príncipe está na
sala com o Dr. Sanderberg.
Por sinal, eu estava certa: a mulher é da Victoria’s Secret. Ela mora
aqui em Rodin parte do ano, e diz que o príncipe Alex é bem-vindo para
visitá-la qualquer hora do dia. Ou da noite. A modelo, Milena, pergunta se
posso interromper a seção apenas para saber se ele poderá visitá-la hoje.
— Infelizmente, não — comento, fingindo tristeza. — O príncipe está
fazendo tratamento para sua síndrome de Capgras, e o Dr. Sanderberg não
permite interrupções.
— O que diabos é isso? — Alex pergunta, juntamente com a modelo
do outro lado da linha.
— Ah, é uma espécie de transtorno mental — eu respondo mais para
ela do que para ele. — O príncipe acredita que seu irmão gêmeo foi
substituído por uma lagarta reptiliana que veio de Marte para conquistar a
Terra.
— Quê? — ele questiona, enquanto a mulher pergunta se tem
tratamento.
Filha, acabei de te dizer que o príncipe acredita em ETs reptilianos e
você ainda tem esperança de ficar com o homem? Essa Milena e Alex se
merecem, sinceramente.
— Infelizmente, não tem tratamento — explico calmamente,
enquanto desvio de Alex, que continua (sem sucesso) a tentar pegar o
telefone da minha mão. —, mas o Dr. Sanderberg faz tudo o que pode.
Espero que o príncipe não tente matá-lo de novo achando que ele é um agente
secreto da CIA.
— Pare agora! — Alex sussurra.
Está irritadinho? Quem mandou usar o telefone da MINHA biblioteca
para questões pessoais?
A mulher do outro lado da linha começa a conversar com alguém,
talvez uma amiga, e parece bastante preocupada.
— Quer que eu peça para ele te ligar? — pergunto para Milena, mas a
modelo da Victoria’s Secret desliga na minha cara. — Alô?
Coloco o telefone de volta no gancho e levanto os ombros para ele,
com minha melhor cara de inocência.
— Obrigado por essa — ele diz com ódio nos olhos.
— Não tem problema, querido. — digo com falsa doçura. — Por
sinal, era Milena, modelo da Victoria’s Secret. Mas acho que ela não quer
mais que você ligue de volta.
— Eu deveria... — ele começa a fazer o que provavelmente seria uma
ameaça, mas somos interrompidos por um homem que nunca vi na vida.
— Oh. Meu. Senhor. — ele diz lentamente, com um sotaque meio
exótico, olhando-me de cima a baixo. O intruso é um homem muito bonito,
com uma pele dourada, cabelos negros e sedosos que batem nos ombros, e
olhos negros. Ele é muito atraente. — Essa é a garota que eu devo vestir para
amanhã?
Ah, é o Fabio, o stylist dos príncipes. Ele é muito conhecido em
Rodin, mas eu nunca tinha visto uma foto dele. Nunca me interessei muito
em notícias de fofoca ou de moda.
— Hã... Sim, eu sou Ellie Beck — caminho até ele, aperto sua mão e
forço um sorriso.
Fabio está aqui para me ajudar, não atrapalhar, ao contrário do seu
chefe.
— Tenho muito trabalho a fazer — ele comenta, ainda me
investigando, dando uma volta 360 ao meu redor. — Pelo menos, você não é
de todo ruim. Na verdade, se eu mudar seu corte, suas roupas e sua
maquiagem, você tem bastante potencial.
— Ah — isso foi um elogio? Fiquei na dúvida, mas, mesmo assim,
acho adequado agradecer. — Obrigada.
Ele se aproxima ainda mais e ajusta minha camisa, para que fique
mais justa no corpo. A sorte dele é que, segundo os boatos – de Mathias,
claro – Fabio é gay, senão ele também levaria um peteleco no nariz pela
ousadia.
— Vejam só, temos peitos lindos escondidos debaixo dessa blusa
horrorosa! — ele comenta com um sorriso tão largo que nem tenho coragem
de reclamar da falta de tato dele.
Sei que minha roupa é sem graça, mas também não precisa
esculhambar.
— E a bunda dela também é linda — Mathias invade a sala, super
animado, e se apresenta a Fabio.
Agora, há três homens me analisando. Estou me sentindo julgada.
Estou SUPER consciente da minha barriguinha. Estou com vergonha da
minha roupa de vovó.
— O cabelo é lindo, mas sem corte — Fabio tira uma mecha do meu
rosto.
— E ela precisa de uma senhora depilação — Mathias comenta, como
se fosse a coisa MAIS NATURAL do mundo falar disso na frente de um
estranho e do príncipe de Rodin.
— Mathias! — reclamo.
— Ellie! — ele reclama de volta.
— Vou precisar do dia inteiro — Fabio informa, como se fosse a
coisa mais natural do mundo eu passar o dia no shopping.
Minha ideia de shopping é a seguinte: cinco minutos vendo roupas,
duas horas no cinema, e o mesmo tempo em livrarias. Pronto.
— Quer que eu passe o dia inteiro de sábado comprando o vestido
para o jantar com os patronos?
— Ah, não vamos só comprar o vestido do jantar — ele informa. —
Também precisamos fazer algo com seus cabelos, você precisa de depilação,
e manicure e pedicure. Por sinal, não vamos sábado: vamos hoje.
QUÊ?! Ele quer que eu falte trabalho? Eu NUNCA falto trabalho.
Uma vez, eu vim com febre, e só saí porque Matt ameaçou chamar uma
ambulância para me levar embora. Ainda assim, eu me senti tão culpada que
passei a semana seguinte compensando as horas.
— Hoje é dia de trabalho! — digo, caso Fabio não saiba que pessoas
NORMAIS, que não fazem parte da realeza rodiniana, trabalham quarenta
horas semanais, de segunda às sextas, e, às vezes, até aos finais de semana.
— Isso também é trabalho, Ellie — Alex comenta, seu tom racional.
— Considere como parte de sua função de relações públicas para a biblioteca.
— Todas as suas roupas são como esta? — Fabio questiona, com cara
de nojo.
— Bem...
— SÃO — Alex e Mathias respondem em uníssono.
— Então precisaremos do dia inteiro de hoje E amanhã também —
Fabio anuncia, como se o futuro da humanidade dependesse da minha
mudança de imagem.
Gente, não sou tão ruim assim. Sou? Será que sou daquelas pessoas
que o pessoal do Esquadrão da Moda visitaria para mudar o visual?
Por outro lado, mesmo que meu senso de moda seja INEXISTENTE,
isso não justifica ficar longe da biblioteca dois dias seguidos da semana!
— Não posso ficar longe tanto tempo!
— Ellie, lembre-se de sua promessa de aniversário.
Obrigada pela lembrança, Matt. Ele tem razão: é uma chance única. A
minha oportunidade para conseguir me tornar a nova Ellie, aquela que vai
deixar de ser a bibliotecária-vovó que mora com a tia.
— Pode mudar minha imagem completamente em dois dias? —
pergunto a Fabio.
— Com certeza, querida — ele diz, confiante.
7
Ellie

Nos últimos dois dias, Fabio virou o Santo Fabio. Entre quinta e
sexta, ele conseguiu mudar completamente meu visual. Sabem meus cabelos
sem corte? Pois eles agora estão batendo nos ombros, super estilosos,
parecendo os da Jennifer Lawrence.
Sabem minhas roupas de vovó? Pois, ontem, antes de começarmos
nossa odisseia no shopping, Fabio foi até minha casa, esvaziou meu armário,
e doou tudo para um asilo. Ele disse que apenas mulheres maiores de setenta
anos gostariam delas.
Por fim, ele preencheu meu armário de novo com roupas que são
estilosas, elegantes e profissionais ao mesmo tempo. E tem até algumas
roupas divertidas (imaginem, eu, uma mulher divertida!), e outras para sair à
noite.
Hoje, sexta-feira, vou encontrar com Mathias para um jantar. Tia
Marie quase teve um ataque cardíaco quando me viu hoje, depois que eu
voltei do salão de beleza. Até Bruce levou alguns segundos para me
reconhecer.
Quando eu me vi no espelho, com o novo corte, novas roupas, unhas
feitas, e uma leve maquiagem que Fabio me ensinou a fazer, pela primeira
vez na vida, eu me achei GATA. Tipo, MUITO gata.
Eu tinha razão, quando me dei uma mega bronca no meu aniversário:
eu estou solteira pela minha própria culpa. Eu venho me escondendo nos
últimos anos.
Agora, ninguém segura Ellie Beck! Mal posso esperar para ver a cara
de Mathias, especialmente quando ele souber que Fabio está bem interessado
nele, me fez mil e uma perguntas sobre o Matt nos últimos dois dias.
Para meu jantar chique com o Matt, seleciono meu vestido novo
preto, que é bem justo no corpo, bate nos joelhos, e tem um decote sexy nas
costas.
Faço babyliss nos cabelos (sim, a cabeleireira DIVA a quem Fabio me
apresentou me ensinou a fazer babylisssssss), faço uma maquiagem que
valoriza meus olhos, coloco lentes de grau, e estou pronta para arrasar.
Peço uma carona para a tia Marie até meu ponto de encontro com
Matt, que fica a poucos quarteirões da casa de Jean Pierre, onde ela dormirá.
Nem preciso dizer que, além da animação com meu novo visual, estou ainda
mais animada porque esta noite eu conseguirei dormir sem show pornô
auditivo!
Tia Marie consegue estacionar o carro em frente ao meu ponto de
encontro com Matt. Eu lhe dou um beijo na bochecha e saio do carro, ao
mesmo tempo em que Matt passa bem ao meu lado. E me ignora.
— Matt? — eu o chamo.
Talvez ele não tenha me visto porque estamos em um ponto um pouco
menos iluminado. Ele vira o rosto, e me olha com curiosidade.
— Oi?
Ele não me reconheceu? Céus, ele não me reconheceu! Minha
mudança foi ainda melhor do que eu imaginava.
— Sou eu, Ellie!
— Não, não é — ele coloca as mãos na cintura. — Minha amiga Ellie
é uma nerd com cara de virgem que anda com roupas de vovó e teve um
ataque de pânico ao ler Cinquenta Tons de Cinza.
Ah, ele estava me sacaneando.
— Engraçadinho.
— E ainda vamos jantar em um dos lugares mais badalados de Rodin!
— ele me abraça e rodopia comigo em seus braços, me fazendo gargalhar.
— Sim, foi a Sra. Seraphine quem conseguiu a reserva.
Com certeza, ela usou o nome de Alex, porque de jeito nenhum ela
conseguiria uma reserva tão em cima da hora. Há uma fila de um mês para
conseguir reservar nesse restaurante.
— Aposto que foi a única ligação que ela conseguiu fazer hoje —
Matt comenta, e provavelmente está certo. — Mas estou MUITO agradecido
por esta ligação!
— Agora só falta eu ir para a casa de mamãe, e a minha mudança
estará completa!
— Na verdade, tem outra coisa que você poderia fazer — ele me
segura pela mão, me guiando para a direção oposta àquela do restaurante.
Para onde ele está me levando? — Sabe a farmácia da Sra. Burnell?
Ele aponta para a propriedade, que deve ter mais de duzentos anos. A
farmácia é daquelas em estilo antigo, tanto por fora quanto por dentro. A
família Burnell costumava morar ali, até que, nos anos 1950, os Burnell, um
casal de farmacêuticos, decidiu converter a residência em farmácia.
Desde então, muitos membros da família tornaram-se farmacêuticos
para cuidarem do negócio. Atualmente, quem está à frente da farmácia é
Nadia Burnell, que é administradora, e seu marido, Fred Burnell, que é
farmacêutico.
Apesar do casal ser muito respeitado em Rodin por sua competência,
a Sra. Burnell tem uma fama um pouco negativa por desconhecer por
completo o sentido de uma coisinha chamada PRIVACIDADE, algo bem
grave para quem lida com questões de saúde.
— Claro que sei! A Sra. Burnell é a maior fofoqueira de Rodin! Não
sei como alguém ainda compra aqui!
Claro que sei: porque é a única farmácia do bairro mais requintado de
Rodin e os Burnell têm vários clientes importantes, inclusive da realeza, já
que o filho do Sr. Burnell é o médico do palácio.
— Ah, mas VOCÊ vai comprar lá — Matt diz.
— O que eu compraria na farmácia da Sra. Burnell?
— Camisinhas.
Meu amigo está ficando louco ou o quê?
— Mas eu não compraria camisinhas com a Sra. Burnell nem se
minha tia decidisse terminar com Jean Pierre!
— Pense bem, Ellie: os homens solteiros da cidade não vão chegar
perto de você porque acham que é uma virgem frígida!
— Ah, obrigada.
— Mas, se comprar camisinhas com a Sra. Burnell, todos eles saberão
que é uma mulher moderna!
A ideia dele tem mérito. Em parte. Só há um pequeno – GRANDE –
problema.
— Não quero sair por aí transando com homens solteiros de Rodin
para arranjar marido!
Quero algo romântico, uma história fofa que seja muito mais do que
sexo. Quero alguém que me faça gargalhar sempre, mesmo que me irrite às
vezes, alguém que entenda meu humor ácido e que goste de livros, gatos,
crianças, tias safadas, e séries da Netflix.
É pedir muito, por acaso?
— Quem disse que você vai precisar usar as camisinhas? Só precisam
achar que você está disposta a usá-las.
Meu amigo não é louco: é um gênio. Agora entendo qual é o plano
dele, e pode dar muito certo.
— Aí os homens solteiros de Rodin vão saber que estou disponível,
vão me chamar para sair e vou poder ter a oportunidade de conhecê-los.
— E, se quiser, pode usar as camisinhas: mas com seu futuro marido.
— Mathias, você é um GÊNIO! — eu pulo no colo dele, e o encho de
beijos. Ele faz cara de nojo, me fazendo gargalhar. — Vamos logo!
— Vamos o quê? — ele questiona, perdido.
Como assim, vamos o quê? Nem morta vou encarar a Sra. Burnell
sozinha! Ela geralmente fica no caixa, exatamente para saber o que TODOS
os clientes compram e contar para seus amigos depois, que são, basicamente,
Rodin inteira.
— Não vou comprar camisinhas sozinha!
— Querida, se eu for contigo ela terá certeza de que EU estou
comprando!
— Mas sou EU quem vai pagar, Matt! — tento argumentar, mesmo
sabendo que ele tem razão.
Mathias tem fama de gostar de paquerar. Eu, por outro lado, tenho
fama de... Gostar de livros.
— Todos acham que você é uma virgem frígida, lembra? — Sim,
Matt, eu me lembro MUITO BEM, obrigada. Por isso estou mudando o
MALDITO visual. — Ninguém acreditaria que VOCÊ usaria as camisinhas
se entrarmos juntos, Ellie!
— Não consigo fazer isso — estou suando frio, meu coração está
palpitando, minha visão está meio nublada.
Vou ter um ataque cardíaco.
— Claro que consegue. Você está maquiada, usando lentes de contato
e vestindo uma roupa sexy, amiga! Você pode TUDO!
Sim, ele tem razão. Você chegou até aqui, Ellie. Você conseguiu até
mesmo superar seu incômodo com sua barriguinha. Não, não consegui, mas
consegui me sentir GATA apesar da barriguinha.
— Eu posso tudo. Eu posso tudo. Eu posso tudo — repito para mim
mesma, enquanto entro na farmácia.
Sozinha.
Abandonada.
Vou até a seção de camisinhas, e há um casal de adolescentes lá, se
pegando. Eles me olham, dão uma risadinha, e voltam a se beijar. Será que
eles me conhecem? Será que vão à biblioteca com frequência para se
pegarem nas estantes? Será que vão tirar minha foto comprando camisinha e
vão transformar em meme?
Pare, Ellie! Compre logo o diabo da camisinha!
Pego a primeira caixa que vejo e me dirijo até o caixa cabisbaixa, sem
conseguir encarar nenhum dos outros clientes, temendo conhecer alguém.
— Ellie? Oh, está tão linda! Mal a reconheci! Como posso ajudá-la,
querida? — A Sra. Burnell me recebe com um sorriso, provavelmente
pensando que vou comprar um Advil ou um chocolate.
Mal sabe ela.
— Só vou levar isso, obrigada — coloco a caixa de camisinhas em
cima do balcão e, sem conseguir encará-la, e pego dinheiro da bolsa em
miniatura que Fabio escolheu para mim.
— Eleanor Beck! — A Sra. Burnell diz em tom de desaprovação. —
Sua tia sabe o que está aprontando?
QUEM DIABOS ELA É PARA FALAR ASSIM COMIGO? Além do
mais, se a tia Marie estivesse aqui, ela não só estaria me incentivando, como
estaria comprando o dobro de camisinhas para ela é o Jean Pierre!
— Sou uma mulher de trinta e um anos, Sra. Burnell — digo
secamente, e coloco a nota na mão dela. — Quero troco para cinquenta, por
favor.
Nem acredito! Esta é a primeira vez que sou verdadeiramente grossa
com alguém que não seja Alex! Uhuuuu! Sou uma mulher nova! Matt nem
vai acreditar o que fui capaz de fazer SOZINHA!
Esmago a culpa que quer me arrebatar, e mantenho o queixo erguido.
Sim, fui ensinada a SEMPRE respeitar os mais velhos, mas a Sra. Burnell
ultrapassou todos os limites da educação!
— Mas... Mas...
— Vamos logo, estou com pressa — uma voz masculina diz atrás de
mim, em um tom impaciente.
Não só uma voz masculina. Uma voz que pertence ao príncipe mais
inconveniente de Rodin. Nem preciso dizer quem é, não é mesmo?
— Vossa Alteza vai levar alguma coisa? — A Sra. Burnell pergunta,
toda sorrisos de novo.
Duvido que ela perguntaria a Alex se a mãe dele sabia que ele estava
comprando camisinha.
— Não vou levar nada, preciso dela — ele comenta, e me segura pelo
pulso.
Pego a sacola de papel da farmácia com minhas camisinhas dentro e
puxo minha mão de volta.
— Vossa Alteza vai levar alguma coisa SIM! — digo em tom de
ameaça.
O que a Sra. Burnell vai pensar se eu e Alex sairmos daqui juntos
depois de eu ter comprado camisinhas? E o IDIOTA ainda disse que está com
pressa! Só falta ele dizer que tem compromisso no motel mais próximo.
A Sra. Burnell nem consegue respirar enquanto aguarda a resposta de
Alex.
— Não vou comprar nada, só estou esperando você terminar logo a
sua compra.
8
Alex

Admito que senti falta da presença de Ellie na biblioteca nos últimos


dias. Além de não ter ninguém para irritar, ainda a perdi como minha aliada
nas reuniões. Ela é extremamente organizada, tem todos os dados na ponta da
língua, e sabe argumentar como uma juíza da Suprema Corte.
Realmente, Max tem razão ao se preocupar com uma possível saída
de Ellie da diretoria. Ela não é insubstituível na biblioteca, porque ninguém é,
mas sua perda seria inestimável.
No fim da tarde de sexta, estou considerando seriamente chamar Ellie
para jantar, quando ouço a Sra. Seraphine fazendo reservas para o Le Monde,
um dos melhores restaurantes de Rodin, usando meu nome.
Quando lhe pergunto do que se trata, ela explica que a reserva, na
verdade é para Ellie. Ela e Mathias vão comemorar a transformação no visual
de Ellie.
— Para que horas ficou a reserva?
Ela me diz o horário e, logo em seguida, Fabio me manda uma
mensagem, dizendo que foi um prazer trabalhar com Ellie e que ela está
irreconhecível, apenas me deixando mais curioso.
Sabendo que Ellie vai me dar um fora se eu mandar uma mensagem
para ela me autoconvidando para o jantar, decido simplesmente aparecer no
restaurante. Quando está perto do horário da reserva, peço a Mick, meu
motorista, que me leve até o Le Monde.
Ao chegar, não os avisto, e começo a procurar em volta do local, até
ver Mathias parado em frente à farmácia da Sra. Burnell. Caminho até ele
que, estranhamente, encara a farmácia como se uma obra de arte de Monet, e
toco seu ombro. Ele praticamente salta dois metros.
— Mathias, tudo bem?
— Ah, Alex — assim que me reconhece, ele volta a me ignorar e
encarar a farmácia.
— Sabe onde está Ellie? — olho em volta, mas não há ninguém por
perto. — Mandei mensagem mais cedo, mas ela ainda não respondeu. Estou
curioso para saber como ela está. Fabio disse que ela virou outra pessoa.
— Ah, ela virou mesmo — ele comenta, sem olhar para mim. O que
há no diabo dessa farmácia, alguém fazendo strip tease? — Está logo ali na
farmácia, daqui a pouco vai sair.
Finalmente entendo; Matt está encarando Ellie. Puta que o pariu. Ela
está linda. Sexy. Elegante. Sexy. Gata. Sexy.
Sexy pra cacete.
Como já disse anteriormente, sempre tive uma atração platônica por
Ellie, mas vê-la assim torna minha atração ZERO platônica e 100% quero-
passar-a-noite-dentro-dela. Qual é meu maldito problema? Controle-se,
porra! Você já transou com várias mulheres lindas e, além do que, está é a
ELLIE! Sua eterna relação platônica.
Eu já tive essa discussão comigo mesmo sobre relação platônica
versus relação pornográfica com Ellie. E a platônica venceu (mas por uma
margem minúscula, quase invisível a olho nu).
— Vou lá falar com ela — digo, porque, a despeito da minha reação
de adolescente, quero parabenizá-la.
Sei que não deve ter sido fácil para Ellie mudar completamente seu
visual, e devo reconhecer sua coragem. Estou entrando na farmácia, quando
ouço Mathias me chamando:
— Não, espere um momento, Alex!
Ah, mas não vou esperar mesmo. Quero falar logo com Ellie. Ela está
com uma caixa na mão, conversando com a Sra. Burnell, que parece chocada
com alguma coisa. Provavelmente, está chocada com o visual novo de Ellie.
Mas precisam demorar tanto?
— Vamos logo, estou com pressa — eu as apresso, mesmo sabendo
que é rude.
Sei que a Sra. Burnell adora uma boa fofoca, mas todos vão descobrir,
muito em breve, que Ellie mudou seu visual por completo.
— Vossa Alteza vai levar alguma coisa? — a Sra. Burnell questiona,
parecendo curiosa.
— Não, preciso de Ellie.
Se eu quisesse levar alguma coisa, estaria com essa coisa nas mãos,
não? Por que a Sra. Burnell e Ellie estão me olhando como se eu estivesse
fantasiado como o palhaço de It, a Coisa?
— Vossa Alteza vai levar alguma coisa SIM! — Ellie diz entredentes.
Por que ela está com cara de quem quer me matar? O que eu posso ter
feito desta vez? Eu sequer a provoquei. Ainda.
— Não vou comprar nada — insisto, ainda sem entender por que ela
está tão chateada com a minha presença —, só estou esperando você terminar
logo a sua compra.
— Vai levar alguma coisa! — ela pega a primeira coisa que vê e joga
contra mim.
É um pacote de absorvente, ou seja, eu definitivamente não preciso
disso.
— Aqui está seu troco — a Sra. Burnell joga o troco na mão de Ellie.
Por que elas estão agindo assim? A cara de Ellie é de assassinato, a da
Sra. Burnell é de total espanto. A última vez que ela fez essa cara na minha
presença foi quando soube que meu tamanho de camisinha era GG.
Depois de alguns segundos de caras e bocas, eu simplesmente seguro
Ellie pelo pulso e a puxo para longe.
— Vamos logo, Ellie.
Quando saímos, ela se afasta de mim e começa, basicamente, a soltar
fogo pelas narinas. Começa a caminhar em volta de Mathias como se
estivesse tentando furar o concreto com os saltos que deixam suas pernas
absolutamente deliciosas.
Preciso começar a me concentrar apenas no rosto de Ellie. Talvez ela
devesse voltar a vestir as roupas de vovó.
— O que está acontecendo, Ellie? — Questiono.
— Você estragou tudo! — Ellie me acusa, batendo no meu peito com
o indicador.
— O que aconteceu? — Mathias quer saber o mesmo que eu.
— Ele entrou lá dizendo que estava com pressa e que precisava de
MIM! — ela acusa, como se eu tivesse acabado de entrar na farmácia e
pedido por um remédio para sífilis.
— E daí, Ellie? — talvez o Fabio tenha trocado algo no cérebro dela
também, porque eu geralmente sei exatamente por que Ellie está puta comigo
e, neste momento, eu não tenho ideia.
— E daí que a cidade inteira vai achar que estamos fazendo sexo!
Quê? Mas de que PORRA ela está falando? Por que a Sra. Burnell
acharia que eu e Ellie estamos fazendo sexo?
Honestamente, eu gostaria de estar fazendo sexo com ela neste
momento, com essas longas pernas em volta da minha cintura, mas isso não
quer dizer nada. Digo, quase nada.
Enfim, eu estava só falando com Ellie na farmácia, não passando a
mão na bunda dela. Mathias está olhando de mim para Ellie com um sorriso
estranho no rosto. E Ellie está ficando vermelha, mas não é de raiva, e sim de
vergonha.
— Por que a Sra. Burnell acharia que estamos fazendo sexo, Ellie? —
Agora a expressão dela é de culpa, e ela agarra o saco de papel da farmácia
como se fosse um bem precioso. De repente, eu me dou conta de que o
problema não sou eu, é ela, mais especificamente, o que ela comprou lá
dentro. — O que você comprou, Ellie?
Ela aperta o saco de papel com ainda mais força, então eu o tomo da
mão dela. Afasto minha mão enquanto ela tenta, sem sucesso, tomar o saco
de fora, e tiro a caixa de dentro dele.
A caixa de camisinhas.
A esta altura, Matt está gargalhando, e Ellie está tirando os saltos para
poder pular para pegar a caixa.
— Me dá, Alex! — nem ferrando.
Isso aqui está bom demais. Olho para a caixa, e vejo que a Santa Ellie
mudou muito mais que o visual. Quem imaginaria que Ellie estaria em uma
farmácia comprando camisinhas em plena sexta à noite?
Eu sempre a imaginei em um clube de leitura para mulheres da
terceira idade às sextas à noite. Pelo visto, eu estava errado. MUITO errado.
Nossa querida Santa Ellie sabe se divertir.
— Uma dúzia de camisinhas? — comento, fazendo Mathias rir ainda
mais. Ele agora está apoiando as mãos nos joelhos. — Alguém mudou mais
do que o armário...
— Cala a boca! — ela grita, tentando saltar, mas nem chega perto.
Isso que dá quando ela tenta vencer um homem trinta centímetros
maior que ela. Continuo observando o pacote; quanto mais eu vejo, melhor
fica.
— Camisinhas Macho Alfa — leio a marca.
— Quê? — Mathias está secando as lágrimas.
— “Camisinhas para todos os gostos e todas as fantasias” — leio o
slogan deles.
Não só Santa Ellie foi comprar um pacote de camisinhas, como
também comprou camisinhas temáticas? Mathias sinaliza para mim, e eu jogo
o pacote para ele.
— Uau, Srta. Beck... — ele comenta, fazendo cara de sexy. — Elas
são saborizadas de bebidas! Tem de vinho, de uísque, até de cerveja!
— E isso não é tudo — eu complemento —: cada sabor combina com
uma fantasia. A de tequila tem desenho de caubói do Velho Oeste.
— A de uísque tem desenho de smoking — Mathias lê na embalagem,
e volta a gargalhar.
Finalmente, Eliie se dá conta de que não conseguirá pegar as
camisinhas de volta, joga-se em um banco de madeira na esquina, e coloca de
volta os sapatos.
— O plano era comprar camisinhas, eu nem olhei — ela comenta,
cabisbaixa.
— Mal posso ver a cara do seu macho quando for experimentar a de
cerveja com desenho de bombeiro — Matt continua lendo as fantasias das
camisinhas temáticas. — Como deve ser uma camisinha de bombeiro?
— Ellie vai ter que nos contar depois de usá-la — comento, sem
conseguir resistir.
Como eu adoro provocá-la.
— Eu não planejo usá-la, seu imbecil! — ela me diz.
— Então por que comprou camisinhas com a maior fofoqueira de
Rodin? — pergunto, perdido de novo.
— Porque quero que os homens saibam que estou disponível!
— Está disponível para festas à fantasia? — brinco, e ela solta um
som animalesco.
É melhor eu parar, porque ela pode me matar MESMO.
— Vamos agora para o restaurante! — ela diz, afastando-se da gente.
— Vou com vocês — aviso, porque ainda quero jantar com eles.
Juro que não vou mais zoar a história das camisinhas. Não muito.
MENTIRA: vou passar o resto da noite falando das “fantasias” de Ellie.
— Não — ela diz, com um tom ameaçador —, preciso ficar bem
longe de você esta noite, senão todos os homens do principado vão achar que
nós estamos.... — O celular dela toca. — Ah, é a tia Marie. Nos acompanhe,
Alex. Ainda não terminei de brigar contigo.
Ela coloca no viva voz, enquanto continua caminhando até o
restaurante.
— Querida, queria parabenizá-la! — ouço a voz animada de tia
Marie.
— Do que está falando, tia?
— Soube que sua mudança de visual já funcionou: me ligaram e
disseram que acabou de comprar uma caixa com uma dúzia de camisinhas
com o príncipe Alexander e foram direto para o motel!
Ela me lança um olhar mortal, e eu faço de tudo para não gargalhar. E
consigo me segurar; por cinco segundos inteirinhos.
— Que ódio! — ela reclama e, pela milésima vez, aponta o dedo para
mim: — Isso tudo é sua culpa!
— Como diabos isso é culpa minha, Ellie?
O pior é que, desta vez, eu REALMENTE não fiz de propósito.
Jamais imaginei o que ela estava aprontando naquela farmácia. Nunca mais
vou ver uma farmácia da mesma maneira. Muito menos a Sra. Burnell.
— Ah, não vou atrapalhá-los! — Marie comenta, provavelmente
porque conseguiu ouvir minha voz e agora tem certeza de que estamos em
um motel. — Boa sorte com a dúzia de camisinhas, querida! Por sinal, a
marca Macho Alfa é a minha favorita! Sempre uso a do vampiro com gosto
de vinho tinto, que me faz lembrar do Tom Cruise em Entrevista com o
Vampiro.
Ela desliga, e eu e Matt mantemos a boca fechada. Rir agora é pedir
para ser morto por Ellie a sangue frio e com requintes de crueldade. Ela fica
paralisada durante alguns segundos e, em seguida, volta a caminhar pelo
caminho oposto do restaurante.
— Ellie, o restaurante é por ali — Matt a alerta.
— Eu acabei de perder a fome.
9
Alex

Depois de Ellie fugir ontem à noite do jantar, e de ignorar as minhas


mensagens, eu decidi vir pessoalmente entregar algumas roupas que ela e
Fabio compraram juntos, mas que precisavam de uns ajustes.
Estou com medo dela ter ficado sinceramente chateada com o
episódio das camisinhas ontem, ou pior: que ela dê para trás com a história do
jantar de hoje. Nem ferrando quero ir sem ela.
Além disso, por tudo que Matthias e ela vem dizendo nos últimos
dias, está mais do que claro que Ellie está à procura de um homem. E ela está
desesperada, por sinal. Não preciso ser nenhum gênio para perceber isso.
Ela mal resistiu ficar longe da biblioteca DOIS dias seguidos o que,
por si só, já me deixou desconfiado. A caixa de camisinhas de gosto duvidoso
foi apenas a cereja do bolo.
Se ela está à procura de um homem para esquentar seus lençóis, pois
ela já o encontrou: euzinho. O que foi? Sempre gostei de Ellie e somente não
fiz nada a respeito antes por medo dela cortar meus testículos fora. Porém,
agora, ela aparentemente está à procura de companhia masculina, e eu me
candidato.
Só vou fazer essa candidatura com cuidado, porque meus testículos
ainda não estão cem por cento seguros.
Chego à casa da tia Marie às dez da manhã, sentindo uma ansiedade
estranha. Nunca fiquei nervoso para falar com nenhuma mulher, muito menos
Ellie, que eu conheço a vida toda. Por que minhas mãos estão suando então?
Infelizmente, minhas mãos suam por nada, porque ninguém atende a
porta. Toco de novo, alguns segundos depois. Nada. Depois de tocar a
campainha mais duas vezes, decido verificar se a casa está, de fato, vazia.
Vou até a janela da frente, que tem vista da sala de estar, e vejo que
Ellie está encaixotando algumas coisas, com um grande protetor de ouvido,
daqueles que pessoas usam em clubes de tiro.
Dou alguns tapas na janela, tentando chamar sua atenção. Nada. Ligo
para seu celular, mas ele está na mesa de jantar atrás dela, e Ellie não escuta,
continua encaixotando calmamente alguns livros.
Se fosse qualquer outra pessoa, qualquer outra mulher, eu já teria
desistido. Estranhamente, o pensamento nem me ocorre. Continuo a encará-
la, como se conseguisse obrigá-la a olhar na minha direção com a força da
mente. Depois de longos minutos, ela o faz. Tira o protetor de ouvido e
sinaliza que vai abrir a porta.
— Estou te mandando mensagens há horas, Ellie — digo em tom de
reclamação, entrando sem nem pedir licença.
— Ah, estava ocupada com a mudança.
— Mudança?
— Sim, decidi morar na casa antiga da minha mãe.
Ela vai morar SOZINHA? Sem a tia Marie? Sem ninguém para vigiá-
la ou reclamar se nós fizermos muito barulho às duas da manhã? Sim, eu já
me imagino fazendo muito barulho com Ellie, envolvendo gritos como
“Sim”, “OH”, e “Mais”. Daqueles que dão inveja a todos os vizinhos.
— Tem feito várias mudanças recentemente, não? — pergunto,
tentando guiá-la para o assunto do meu interesse, que, neste caso, é o meu
voluntariado na sua cama.
— Se quero mudar de vida, tenho que fazer algo a respeito, não é?
— O que você quer, Ellie?
Um homem? Presente.
Sexo? Presente.
Usar as camisinhas fantasiadas? Com certeza presente. Topo até usar
a camisinha do caubói com gosto de tequila.
— Posso dizer o que não quero mais — ela comenta, segura de si, —:
ser vista como a bibliotecária solteirona da cidade, que vai morrer sozinha
com seus trinta gatos.
Merda, eu tinha esquecido do Bruce Lee Demoníaco. Olho em volta,
tentando descobrir algum esconderijo de onde ele poderia saltar e me atacar,
mas não o vejo em nenhum canto.
— Por falar em gatos, onde está o seu demônio?
— Ele não é demônio, é só protetor! E está dormindo.
— Que continue assim. Por que estava usando isso? — aponto para o
protetor de ouvido.
Provavelmente, ela não teria escutado se uma bomba fosse jogada em
Rodin.
— O namorado da minha tia está aqui — ela comenta, como se isso
justificasse sua surdez seletiva.
— E? — questiono, quando ela para de falar.
— E tudo o que falta de atividade comigo, sobra com ela.
Quando digiro o significado de suas palavras, começo a gargalhar.
Não só a tia Marie está de namorado novo, como também está se
comportando que nem gata no cio? Gente, isso é bom demais para ser
verdade.
— Eles fazem tanto barulho assim? — questiono, quando finalmente
paro de rir.
Pela cara de Ellie, ela definitivamente não acha nenhuma graça das
atividades barulhentas de sua tia.
— Você não tem ideia.
A cara dela me faz gargalhar de novo, tanto que uma lágrima chega a
escapar do meu olho e fico com dor no abdômen.
Quando consigo me controlar, tento prestar atenção nos sons da casa,
mas a única coisa que escuto é o barulho da televisão, que está bem baixa, no
canal de notícia.
— Não ouço nada agora — comento, já julgando que talvez Ellie
tenha exagerado.
Pobres velhinhos, nem podem se divertir um pouco que ela já
reclama.
— Eles param, às vezes — ela resmunga. — Mas nunca dura muito
tempo. Eles deveriam passar o final de semana na casa do Jean Pierre, mas
houve um acidente.
— Que tipo de acidente? — fico curioso, porque Ellie fica ruborizada
com o comentário.
— Aparentemente, eles quebraram a cama do Jean Pierre — ela revira
os olhos, e eu gargalho.
— Esse Viagra dele deve ser dos bons — eu digo, mais para provocá-
la do que qualquer coisa.
— Argh! — Ela faz cara de nojo — Vamos parar de falar disso? O
que veio fazer aqui?
Ofereço a sacola a ela.
— Vim trazer as roupas que estavam ajustando.
Ela abre a sacola com um sorriso gigante, daqueles que me faz querer
pegá-la no colo, jogá-la no sofá e beijá-la enlouquecidamente.
Calma, Alex.
— Ah, obrigada — os olhos dela estão brilhando de animação quando
ela volta a me encarar. — Eu amei o Fabio.
— Sim, ele é ótimo — eu digo distraidamente, vendo seu novo estilo.
Hoje, Ellie está vestindo shorts, que expõem suas longas pernas.
Quem diria que havia pernas lindas desse jeito sob aquelas roupas sem graça?
— O que foi? — ela questiona, uma linha se formando entre seus
olhos.
— Ainda não me acostumei com esse seu visual novo — e com o
desejo desesperador de ter essas longas pernas em volta da minha cintura e
em cima dos meus ombros.
— Pare de me olhar como se quisesse experimentar a camisinha do
Vampiro com sabor de vinho, Alex — ela adivinha quase exatamente o que
eu estava pensando.
Tinha imaginado a camisinha do caubói, mas a do vampiro também
serve.
— Por você, eu até aceitaria usar uma camisinha de vampiro, Ellie —
comento, com divertimento no tom e safadeza no olhar. — Isso deveria lhe
dizer muita coisa.
Veem como as pupilas dela vão ficando dilatadas? Ela ficou curiosa
com o meu comentário, nunca imaginou que eu dissesse algo assim. Eu já a
provoquei antes, especialmente quando eu era adolescente e ficava duro toda
vez que discutíamos.
Porém, nunca cheguei ao ponto de falar abertamente de camisinhas.
Eu lhe dava indiretas, tentava provocá-la para ver se isso nos levaria a um
beijo, a uns pegas e a trocas de fluidos corporais sob os lençóis.
Ela nunca reagiu com qualquer interesse; em geral, quando eu a
provocava, suas respostas eram duras feito rocha e frias como gelo. Hoje,
entretanto, há algo diferente em seu olhar: ela está curiosa.
Claro que a curiosidade some rapidinho e o olhar gélido do Ártico
retorna.
— Esse seu olhar de James Bond deve funcionar com muitas
mulheres — ela comenta acidamente.
Dou um passo à frente, deixando apenas uma mínima camada de ar
entre nossos corpos. Ela, orgulhosa que é, não se afasta, mas noto que para de
respirar, sua cabeça virando para trás para que ela consiga continuar me
encarando.
— Está funcionando com você também, admita — sussurro, usando
meu tom você-não-vai-me-resistir.
Mais uma vez, a curiosidade surge em seus olhos, mas ela disfarça
rapidamente. Foram anos e anos brincando de gato e rato comigo, então ela
se tornou uma expert.
— Você está tão sexy quanto a camisinha do caubói, Alex.
Decido ser ainda mais direto.
— Ellie, muitas mulheres mudam de visual por causa de homem, e
Mathias já mencionou que você quer arranjar um. Pois você pode parar de
procurar. Eu sou um homem. Disponível. E com muita disposição também.
Ela abre a boca para responder, mas, ao invés de sua voz, escuto é um
berro de tia Marie.
— Oh, Jean Pierreeeeeeeeeeeee!
— Mas que porra.... — comento, chocado.
Ellie não estava exagerando: tia Marie faz barulho. Mesmo.
— Eu disse — ela comenta, ficando irritada de novo.
— Marie, que delíciaaaaaaaaaa! — o tal do Jean Pierre é ainda mais
barulhento.
Nesse instante, Bruce aparece, com a cara amarrada. Eu te entendo,
amigo: ele acabou com seu sono, assim como ele matou minha conversa com
Ellie. Nem ferrando vai ter clima depois desses sons.
— Ah, merda. O demônio mal acordou e já está aprontando —
reclamo, enquanto ele tenta morder meu calcanhar.
— Pare de chamar Bruce de demônio!
Percebendo que não conseguirá me atacar enquanto está no chão,
Bruce corre até o sofá, e salta no meu casaco.
— Ele está rasgando meu casaco! — reclamo, mas minha voz é
abafada pelos coroas mais safados de Rodin.
— Oh! Jeannnnn! MIAUUUUUUU!
Mas que porra...
— A sua tia acabou de miar? — pergunto a Ellie.
— Isso, minha gatinha, mia — Jean Pierre responde à minha
pergunta.
Droga, Ellie está ficando verde. Acho que vai vomitar. Não posso
culpá-la: se eu escutasse meus pais fazendo esse som, provavelmente furaria
os próprios tímpanos.
— MIAU, Jeannnnnnnn! — Tia Marie continua miando. —
MIAUUUUUUUU!
— Viu o que eu disse? — ela coloca o protetor de ouvido de volta.
Ah, mas nem ferrando eu vou passar por este inferno sozinho. Tiro o
protetor.
— Quando vai se mudar? — pergunto.
— Mês que vem.
— Não vai aguentar um mês disso. Eu estou aqui há poucos minutos e
já estou considerando seriamente tomar antidepressivo.
Vou até o sofá e enrolo Bruce Lee no meu casaco. Ele já o estragou
mesmo, que fique com ele.
— O que diabos está fazendo? — ela reclama, mas eu a ignoro.
Sou um homem com uma missão. Bruce está se remexendo um pouco
no meu casaco, mas não faz nada mais agressivo, então eu o levo até o quarto
de tia Marie, abro um pouco a porta, e jogo casaco com gato lá dentro.
— MIAUUUUU! MIA.... Bruce? — Tia Marie vê o invasor. — O que
está fazendo aqui?
— Ele acha que você é a gatinha dele. Mas é minha. Sai agora, Bruce
e.... AIIIII! — ele grita, o que significa que Bruce não curtiu muito ver Jean
Pierre mexendo com uma das gatinhas da casa.
Muito bem, Bruce!
— O que houve, Jean Pierre?
— O gato mordeu o meu.... — ele volta a soltar sons de dor.
— NÃO! Ele mordeu Jean Pierre Jr.?
Viro-me para Ellie neste momento, e ela está vermelha, com as duas
mãos tapando a boca e silenciando a risada, lágrimas caindo dos olhos, e a
maior cara de felicidade do mundo.
— Acho que o único a miar nesta casa nas próximas semanas será
Bruce, Ellie.
10
Alex

Aviso a Ellie que vou aguardá-la do lado de fora da casa. Afinal de


contas, depois do episódio Bruce-Jean Pierre acho que vou manter minha
distância de felinos por um tempo.
Mick, o melhor motorista de Rodin, vai me ajudar esta noite. Por que
a noite é tão importante? Bem, porque, desde que vi Ellie ontem na farmácia
da Sra. Burnell, percebi que não consigo mais ter uma relação apenas
platônica com ela.
E por que preciso de toda ajuda possível? Porque Ellie não vai levar
essa história na boa. É capaz dela tentar fugir se eu admitir o que sinto por
ela. Vou ter que ser sutil, ir conquistando minha bibliotecária favorita aos
poucos.
Pelo menos, esse é o meu plano, até ela deixar a casa da tia Marie.
— Boa noite, Alex.
Fico paralisado do pescoço para cima. Porra, ela está linda. Não, linda
é pouco para descrever o que eu vejo.
Ellie sempre despertou algo dentro de mim que ninguém jamais
despertou, mas, como sua beleza geralmente estava escondida sob camadas
de roupas sem graça, armações gigantes de óculos, uma língua afiada e
comentários irritantes, a minha atração por ela sempre ficou na sombra.
Agora, a atração não só saiu das sombras como explodiu feito vulcão
e se espalhou por todo lado. De repente, eu percebo que não é uma questão de
estar mais atraído por ela agora, que Fabio mudou seu visual.
Eu sempre admirei Ellie, primeiro como amiga, mas, há muito tempo,
como mulher também. Seu visual anterior apenas permitia que eu controlasse
esses sentimentos, mas agora, eles se tornaram tão indomáveis quanto a
mulher que os gera.
— Hã...
Diga alguma coisa, porra!
— Planeta Terra para Alex — ela passa a mão na frente do meu rosto,
como se quisesse me tirar de um transe. — Boa noite.
Engulo em seco. Eu a observo dos pés à cabeça. Engulo em seco
novamente.
Ellie está com um vestido que deveria ser proibido. Ele é vermelho,
contrastando com a pele pálida, de mangas longas e bate no joelho. É
amarrado na cintura, permitindo que eu veja a curva dos seus seios e
deixando suas pernas infinitamente longas.
— Ellie, Ellie, Ellie, Ellie — repito o nome dela feito um completo
idiota.
— Sim, este é meu nome — ela comenta sarcasticamente, colocando
as mãos na cintura, claramente irritada.
— Porra, você está... — meus olhos focam nos peitos dela e eles
entram em colapso.
Juro que não é de propósito! Meus globos oculares tiveram um AVC
e não conseguem mais se mover. Eles estão paralisados naquele pequeno
decote que revela o suficiente para outras partes do meu corpo se moverem, e
MUITO.
Nunca me comportei desta maneira com uma mulher; digo, desde a
adolescência. Já saí com celebridades, modelos, membros da realeza, mas
nenhuma delas me atraía como Ellie neste momento.
Afinal de contas, eu as achava bonitas, mas eu ADMIRO Ellie. É um
tipo diferente de atração; é muito mais potente porque, além de achá-la uma
delícia, eu gosto dela, adoro a companhia dela, mesmo quando ela me irrita.
Ellie usa sua micro-bolsa para me dar uma bofetada contra o braço,
que eu nem sinto, e diz em um tom tão frio quanto a Antártida:
— Pare de me olhar assim! Eu já disse que você não é o meu tipo,
Alex.
Ela diz isso porque ainda não experimentou o que Alex tem a
oferecer.
— Posso virar o seu tipo — digo, meus olhos FINALMENTE
voltando a funcionar para encarar os olhos azuis.
Viram como ela estremeceu antes de revirar os olhos teatralmente?
Ela pode acreditar que não me quer, pode mentir o quanto quiser para si
mesma, pode até tentar me convencer de que não me quer.
Mas ela me quer.
Quer sim, não discutam comigo!
Eu a ajudo a entrar no banco de trás do carro que, por ser uma SUV, é
alto. Claro que aproveito para apertar a cintura de Ellie, e tenho um vislumbre
de suas longas pernas, antes que ela acabe com minha festa e coloca a saia no
lugar.
Dou a volta e entro no carro, e Mick dá um “boa noite” cordial a Ellie,
que não entende nada. Ela o conhece há anos, eles sempre se trataram como
membros de família, mas ela não se deu conta de que Mick não a reconheceu.
Não julguem meu motorista, porque (a) Ellie está completamente
diferente com o novo visual, e (b) Mick nunca veio buscá-la em casa. Quando
Ellie nos visitava, tia Marie sempre fazia questão de levá-la, para ter uma
desculpa para ficar passeando pelo palácio, fofocando com todos os
funcionários e com a minha mãe.
— Verifiquei o aplicativo e não há trânsito até o parque, Vossa
Alteza. — Mick comenta com formalidade, como faz quando estou com uma
companhia com quem ele não tem intimidade.
— Mick, por que está chamando o Alex de “Vossa Alteza”? — Ellie
questiona, confusa. — E por que me chamou de senhorita quando entrei no
carro?
— Hã... — Mick olha pelo retrovisor e, depois de observá-la por
alguns segundos, ele enfim a reconhece. — Ellie? Você... Você está linda.
Claro que ela fica vermelha de vergonha.
— Ah, obrigada.
— Então é verdade... — ele comenta distraidamente.
— O que é verdade? — Pergunto, mas aí noto que ele entrou em uma
rua que não está no caminho do Parque das Rosas, onde será o jantar. —
Onde está indo?
— Sua irmã me pediu que nós a levássemos também — Mick
comenta, parecendo confuso de novo. — Ela disse que comentaria com você,
Alex.
Não, ela não comentou. O que significa que Charlotte está aprontando
alguma. Bem, só o fato dela querer ir para o jantar dos Patronos das Artes de
Rodin já é indício de que está aprontando alguma. Ela não suporta a maior
parte dos patronos.
Finalmente, Mick para em frente a uma casa em uma rua tranquila
que é vagamente familiar, e Charlotte nos aguarda com um sorriso tão grande
que me deixa preocupado.
Ela está DEFINITIVAMENTE aprontando alguma coisa.
— ELLIEVOCÊESTÁLINDA! — ela grita ao abrir a porta traseira do
carro e praticamente pular em cima de Ellie. Na verdade, ela pula em cima de
mim, e se coloca no meio do banco entre nós dois. — Quando Fabio me
contou, achei que ele estava exagerando.
— Ah — Porra, como Ellie fica linda toda envergonhada —,
obrigada.
— Isso significa que a Sra. Burnell também não estava exagerando?
— Mick tosse para disfarçar a gargalhada, e Ellie parece à beira de um AVC.
— Sobre a história das camisinhas?
Infelizmente, Ellie nem tem tempo de vomitar na cara de Charlotte,
porque, logo em seguida, alguém sai da casa e caminha até nós com cara de
poucos amigos. Não alguém: o Duque de Weliment.
Ao vê-lo, Mick imediatamente sai do carro e abre a porta do carona
para ele, que olha o veículo com nojo.
— Não sabia que iríamos em um veículo tão... Comum, Vossa Alteza
— ele diz de forma antipática a Charlotte, que solta um som nada educado.
Quando ele vê quem mais está no carro, sua expressão fica ainda mais
carrancuda. O almofadinha me detesta. — Ah, não sabia que estaria aqui
também... Vossa Alteza.
Sei que ele detesta me chamar de Vossa Alteza, assim como ele
detesta o fato de que eu me tornei o patrono real da biblioteca. Ele queria o
cargo, e dizem as más línguas que foi porque desejava usar o orçamento da
biblioteca para promover os livros de romance que ele começou a lançar
alguns anos atrás.
Dizer que o Duque de Weliment escreve ainda pior do que ele fala é
um elogio. Ele não é ruim: ele é péssimo em um nível olímpico.
O último livro dele, “Asas Ardentes”, sobre a história de um duque
que se torna príncipe reinante de um pequeno e rico principado depois que
todos os seus primos morrem em um acidente de avião, vendeu exatamente
cinquenta e duas cópias, e todas para a sua mãe.
— Boa noite, Welly. — sei que ele odeia esse apelido, e é exatamente
por que eu insisto nele. — Como estão as vendas do livro que você mata
todos da minha família?
Ele também detesta quando eu pergunto das vendas de seus livros. Se
ele fosse minimamente simpático conosco, e se não deixasse sempre tão claro
o quanto nos odeia e gostaria de nos ver mortos, eu tentaria tratá-lo como um
ser humano.
Entretanto, nem ferrando vou dar trela para um homem que matou
minha família inteira em um livro de péssima qualidade. Se ainda fosse um
romance aceitável...
— O livro é uma obra de ficção, não sobre sua família — ele diz,
começando a suar. — E quem é a adorável dama?
— Sou eu, Sua Graça, Ellie Beck — a cara dele continua confusa. —
A diretora da Biblioteca Nacional.
Claro que no trajeto entre a casa do duque e o Parque das Rosas só se
fala no novo visual de Ellie. Pelo menos, ninguém mais falou do episódio
camisinhas fantasiadas, mas sei que Charlotte ficou com a garganta coçando
para fazer mais perguntas.
Quando enfim chegamos ao parque, puxo minha irmã para um canto.
— O que está fazendo, vindo aqui com o duque?
— Queria ver Ellie — ela comenta, — e irritar uma pessoa ao mesmo
tempo.
— Essa pessoa seria eu?
Ela ri, e revira os olhos.
— O mundo não gira em torno de você, — ela comenta, e se
aproxima mais de mim para não ser ouvida, — e é verdade que você e Ellie
estão tendo um caso?
Como precisarei de um grande favor da minha irmã, decido lhe contar
a verdade.
— Não, mas pretendo ter — ela ri da minha resposta, e me deseja boa
sorte. — Preciso de sorte mesmo. E que você e o Duque Escritor não voltem
com a gente.
— Pode contar comigo, maninho, mas quero ouvir TUDO sobre o
fora que ela com certeza vai te dar amanhã.
11
Alex

O jantar foi divertido, graças à presença de Charlotte e Ellie. O ponto


alto da noite foi quando Charlotte obrigou Ellie a lhe contar tudo sobre o
episódio da camisinha. Considerando os olhares que eu e Ellie recebemos ao
longo do evento, acho que mais pessoas souberam da fofoca da Sra. Burnell.
Em muitos sentidos, Rodin é como uma cidade pequena: mesmo que
você não conheça pessoalmente alguém, você provavelmente o conhece de
nome ou conhece alguém da família. Todos estão, direta ou indiretamente,
relacionados em uma grande rede de fofocas.
A vantagem é que nunca estamos sozinhos, sempre há alguém para
apoiar. Há desvantagem é que NUNCA estamos sozinhos, sempre há alguém
para fofocar. Esta noite, certamente muitos estão se perguntando se os boatos
da farmácia são verdadeiros, especialmente considerando o visual novo de
Ellie.
Alguns jornalistas tentam nos fazer perguntas pessoais, mas todas são
elegantemente – ou nem tanto – rechaçadas por Charlotte. Eles não chegam a
perguntar diretamente se eu e a diretora da Biblioteca Nacional estamos tendo
um caso, até porque as fofocas da Sra. Burnell já se provaram exageradas em
inúmeras ocasiões.
Nem mesmo a presença de Welly foi capaz de me irritar, até porque,
tinha duas super-mulheres colocando-o em seu devido lugar quando ele
questionava minhas credenciais para ser o patrono real da biblioteca.
Ellie pode me detestar em alguns momentos, mas se tem uma coisa
que ela é acima de tudo, é leal com seus amigos. Ela NUNCA deixaria
ninguém, especialmente Welly, falar mal de mim. Como ela e Charlotte
costumam dizer, “só nós podemos falar mal de você, Alex.”
Na hora combinada, Charlotte deixa o jantar, dando uma desculpa
qualquer que não faz sentido (porque é enrolação, óbvio), mas ela sequer dá
tempo para alguém questionar mais a fundo.
Welly felizmente arranja uma carona com outro convidado, que veio
de limosine, depois esfregar na minha cara, de uma forma nada sutil, como
minha SUV não é adequada para um príncipe de Rodin. Fico tão aliviado por
ter me livrado dele que nem me irrito com sua tentativa patética de me
ofender.
Finalmente – FINALMENTE – o jantar é encerrado. Ansioso para
conseguir logo um muito merecido tempo a sós com Ellie, eu me despeço
rapidamente dos convidados, e fujo com ela para o lado oposto do parque,
local onde Mick deixou a minha SUV.
Enquanto caminhamos pelo parque, olho para trás, verificando se
algum jornalista veio atrás da gente. A maior parte deles foram embora
quando viram que não arrancariam nenhuma informação pessoal minha ou de
Ellie, mas nunca se sabe. Eles podem ser tão ninjas quanto Bruce.
A caminhada é mais longa do que eu havia calculado, mas romântica.
O Parque das Rosas, como o nome indica, é um conjunto de jardins com
diversas espécies de rosas que foram trazidas de todos os cantos do planeta.
Tudo começou com a Princesa Isabella, que foi a líder reinante de
Rodin no século XVIII. Ela adorava flores, e começou a cultivar jardins nesta
região. Com o tempo, líderes de Estado que visitavam Rodin passaram a
trazer rosas para a princesa, e a tradição se perpetuou, continuando até hoje.
No centro do parque, há uma grande estufa, aberta ao público, com as
rosas mais raras e delicadas da coleção. No total, há quinze jardins, quatro
deles com fontes e um deles com a estátua da princesa que o criou.
Nem sou muito fã de jardins, mas o aroma das rosas é incrível. O
cheiro, por si só, já cria o clima romântico de que eu precisava. Quando
estamos chegando no estacionamento onde está a SUV, olho de soslaio para
Ellie, e noto que ela está praticamente suspirando, admirando os jardins pelos
quais passamos.
Ótimo. Em poucos minutos, espero que ela esteja suspirando por
causa dos meus beijos. Chegamos ao carro, e eu uso a minha chave reserva
para destrancá-lo, dirigindo-me até a porta do carona para abri-la para Ellie.
— Onde está o Mick? — ela questiona, dando voltas, fazendo a saia
do vestido rodar, mostrando ainda mais das longas pernas que eu mal posso
esperar para agarrar e colocar em volta da minha cintura.
— Eu o liberei — digo, sem conseguir arrancar os olhos daquelas
pernas.
Pernas como essas têm que ser admiradas; têm que beijadas, chupadas
e lambidas; têm que ser escancaradas, arreganhadas, flexionadas.
— Por que fez isso? — ela questiona, arrancando-me das ideias
brilhantes sobre coisas que pretendo fazer com aquelas pernas.
Meus olhos sobem para seu rosto, o que me faz pensar nas coisas que
planejo fazer com aquela boquinha de veludo.
— Porque eu achei que você não ia gostar se eu te beijasse na frente
dele — digo diretamente.
Eu sei, eu sei...
Deveria ser mais discreto, mais sutil. Culpem as rosas do parque, o
vinho que tive que tomar para aguentar os comentários de Welly, as pernas
maravilhosas de Ellie.
— Como é que...
Eu a puxo pelo pescoço e acabo com os centímetros de distância entre
nós, colando meu corpo ao dela, e meus lábios aos seus.
***
Ellie

— Porque eu achei que você não ia gostar se eu te beijasse na frente


dele — ele responde à minha pergunta sobre Mick.
Até parece. Ele nem é meu tipo! Eu acho o príncipe bonito? Sim,
claro, não sou cega. Eu o acho inteligente? Sim, apesar de não ler o
suficiente. Eu o considero interessante? Às vezes, quando ele não está sendo
irritante.
Mas ele não é meu tipo! É mulherengo, adora me provocar, não é um
modelo de príncipe, provavelmente não quer ter filhos... E, para piorar, eu o
detesto pelo menos a metade do tempo em que estou em sua companhia.
— Como é que... — começo a questionar, praticamente cuspindo
fogo, mas ele me segura com uma mão na nuca, a outra no meu quadril, e me
puxa contra seu corpo.
E que corpo.
Aí, ele gruda os lábios nos meus.
Nossa, que lábios.
Ellie, ELE NÃO É SEU TIPO!, eu me obrigo a lembrar, mas,
enquanto seus lábios macios e firmes atacam minha boca, eu começo a
esquecer as razões pelas quais ele definitivamente não é o meu tipo.
Abro a boca para deixar claro que não podemos fazer isso, mas ele
aproveita a abertura para me penetrar com a língua. Oh, céus. Oh, nossa.
Agora eu sei por que a população feminina europeia fica louca com esse
homem.
Vantagens de beijar um príncipe gato mulherengo: a experiência dele
torna tudo incrível. Entro rapidamente no ritmo dele, beijando-o de volta,
minhas mãos vão para seus braços musculosos, para os mesmos bíceps que
tia Marie tanto admira.
Ele, por sua vez, me cola ao carro, e remexe os quadris contra os
meus, e eu o sinto pulsando lá embaixo, entre minhas coxas, enquanto suas
mãos me enlouquecem, acariciando meus braços, minhas pernas, meus
cabelos. Alex parece ter virado polvo e criado dez mãos.
Desvantagem de beijar um príncipe mulherengo: mesmo sabendo que
ele não é o meu tipo, e que isso é uma péssima ideia, eu simplesmente não
consigo parar.
Mas eu preciso parar.
Daqui a trinta segundos, pode ser?
Ou trinta minutinhos?
CHEGA, ELLIE!
Com muito esforço, coloco as mãos no peito dele, tentando ignorar os
músculos sob minhas mãos, e afasto minha boca da dele.
Ele não é seu tipo, Ellie, continuo repetindo para mim mesma. Isso
não faz sentido, só pode ser carência. É isso. Claro que é isso. Eu não beijo
ninguém há tanto tempo que meus músculos da mandíbula estão até doloridos
da malhação que fizeram agora.
— Esta é uma péssima ideia, Alex — digo, colando minha testa na
dele, respirando fundo, controlando-me para não colar minha boca na dele de
novo.
— Pois eu acho que é uma excelente ideia. A melhor que tenho em
muito tempo.
Abro a boca para responder, mas ele abafa a minha pergunta – e os
últimos resquícios do meu autocontrole – com mais um beijo.
O segundo beijo é ainda mais intenso que o primeiro. Como isso é
possível? Como ele consegue me deixar ainda mais inflamada? Como minhas
pernas podem estar ainda mais fracas? Como meu coração pode estar batendo
ainda mais forte?
Os lábios dele são macios, mas, desta vez, não há gentileza no beijo.
É um ato tão apaixonado que chega a ser um turbilhão de emoções, como se
um vulcão inativo tivesse acabado de explodir, espalhando fumaça, lava e
bolas de fogo para todo lado.
Como se eu fosse tão leve quanto uma pluma, ele me levanta, me
segurando pela bunda, me pressionando ainda mais contra o carro, e minhas
pernas abraçam seus quadris automaticamente, como se já tivéssemos feito
aquilo mil vezes.
Não há carreira neste momento, ou regras de trabalho, ou a biblioteca,
ou os patronos de Rodin, ou jantares formais, ou príncipes e bibliotecárias.
Há um homem que me deseja, e eu o desejo de volta, uma necessidade quase
que biológica de nos unirmos.
Só a biologia para explicar por que estou a ponto de explodir de
prazer por um homem que NÃO deveria ser meu tipo. Pelo visto, eu não
tenho ideia do que seja meu tipo. Talvez, o que meu cérebro deseja é bem
diferente do que meu coração quer.
Gemo de tesão apenas de pensar em todas as coisas que desejo fazer
com ele, e um pensamento excitante – e assombroso ao mesmo tempo – se
apossa de mim: eu quero o príncipe Alexander Elias Van Dyck DENTRO de
mim.
Estou ficando louca, só pode. Mas, devo admitir: que loucura
MARAVILHOSA! Meus quadris movimentam-se para cima e para baixo, em
um ritmo frenético, e sinto a ereção dele pulsando ainda mais forte, ficando
mais dura, mais insistente.
Eu estou me esfregando na ereção do Alex. O príncipe de Rodin. O
patrono da Biblioteca Nacional de Rodin. Até meia hora atrás, eu JAMAIS
teria imaginado que deixaria um beijo superar todos esses obstáculos.
Meia hora atrás, eu não sabia que o beijo do Alex era PERFEITO.
Ele acabou de estragar todos os meus beijos até agora. Mesmo. Eu
achava que o Jones, o meu primeiro namorado sério, beijava bem. Agora, eu
o considero um amador. Eu tinha vontade de beijar o Chis Hemsworth na
boca (e em outros lugares). Claro que ainda quero, mas DUVIDO que ele
beije tão bem quanto Alex. Foi mal, Thor.
As mãos grandes e mornas de Alex encontram o laço que amarra meu
vestido e o solta. Senhor, estamos em um estacionamento no Parque das
Rosas, e ele vai me deixar seminua?
E sabem o que é mais louco? Não só eu não vou interrompê-lo, como
também vou incentivá-lo. Solto um gemido alto, indicando que eu quero que
ele continue fazendo o que está fazendo, então seus dedos ágeis encontram o
decote do vestido e passam por baixo.
Solto MAIS um gemido nada discreto quando sinto sua mão quente
sobre a minha pele, e quase tenho um orgasmo quando eles chegaram aos
meus seios. Gente, meu ex-namorado, com quem eu fiquei ANOS, só me fez
chegar ao ápice uma vez, e isso com MUITO esforço e dedicação.
Alex mal tocou minha pele e eu já estou quase lá. Imaginem quando
ele...
Esse pensamento me faz parar para pensar um pouquinho. Sabem
aquela coisinha chamada razão? Ela serve para alguma coisa, sabem?
Provavelmente, é graças a ela que temos outra coisinha chamada evolução.
Respiro fundo, ouço minha amiga Razão, e decido que isso é uma
Loucura com L maiúsculo. Preciso considerar melhor o que estou fazendo.
Preciso considerar MUITO melhor o que estamos prestes a fazer.
— Precisamos ir, Alex... — digo, sem nenhuma convicção.
— Claro que precisamos ir — não sei se estou aliviada ou frustrada
que ele esteja concordando comigo sem resistência. Depois de me agarrar
toda e abrir meu vestido no meio da rua, ele poderia pelo menos insistir, né?
Aí, ele continua: — Vamos agora mesmo para a minha cama.
— Não é isso que eu quero!
Mentira, quero MUITO. Olha que um raio vai cair e te partir ao meio,
Ellie.
Ele fecha o vestido sem desgrudar o corpo do meu, olhando bem
fundo nos meus olhos, esfregando a ereção dele contra mim.
— Não quer um homem experiente que a faça gozar tão forte que verá
fogos de artifício?
Ô, se quero.
Não! Não quero.
Na verdade, eu quero, mas não posso. Preciso focar nos meus planos.
Preciso focar no motivo que me levou a todas as mudanças – de visual, de
casa, de Ellie. Senão, todo esforço não vai me trazer o que eu quero de
verdade.
— Eu não quero um caso quente, quero marido e filhos, Alex.
— Uh.
É isso que eu mereço? “Uh”? Bem, o que eu esperava de Alex? Uma
aliança de noivado da Tiffany? À medida que todo o fogo do beijo vai se
dissipando, vejo que tomei a decisão certa ao parar.
— Isso mesmo: uh. Você quer um caso. Eu quero um marido. Isso
sem contar que você não é o meu tipo, é o patrono da biblioteca onde eu sou
diretora, e nós nos conhecemos desde o jardim de infância!
— O que tem a ver a gente se conhecer desde sempre?
— É nojento! — MENTIRA, não há nada de nojento no beijo do
Alex. Mas preciso dizer isso para mim mesma até acreditar nisso. — Seria
como transar com um irmão!
Ah, mas não seria MESMO. Porém, não importa o que meu corpo
sem noção e cheio de hormônios acha. Importa é que preciso convencer Alex
a nunca mais tentar nada comigo.
— Eu definitivamente não te vejo como irmã — ele sussurra com
aquela voz aveludada dele de vou-te-jogar-na-cama-e-fazer-tchaca-tchaca-na-
butchaca. — Além disso, os sons que você estava fazendo enquanto eu te
beijava não eram nada fraternos.
O que dizer depois dessa? Eu o empurro, me equilibro de novo nos
meus pés, e entro no carro.
— Vamos logo! — reclamo, enquanto ele me encara com aquele
olhar intenso de príncipe safado.
Calmamente, como se estivesse acabado de sair de uma sessão de
massagem relaxante, e não se pegando (COMIGO) no meio da rua, ele entra
no carro, liga-o, e coloca uma música. Claro que a música é Kiss Me (beije-
me), uma canção muito romântica e sexy.
— Hã... — cruzo as pernas com força, porque elas estão com uma
vontade de arreganhar... — Podemos mudar a música?
Até porque, o Parque das Rosas é bem distante da minha casa, e não
sei quando tempo vou conseguir manter as pernas bem fechadas e seguras
quando ele bota esse tipo de música.
— Por que quer mudar a música? Não gosta de Kiss Me? — ele sai do
estacionamento. — Está pensando no nosso beijo, por acaso?
— Você não desiste, né?
— De você? Não vou desistir mesmo, especialmente depois de sentir
seu gosto.
Claro que fico arrepiada dos pés à cabeça.
— Alex, já disse que é uma péssima ideia — abaixo o som do rádio,
mas ele segura minha mão e começa a acariciá-la.
Como diabos uma simples carícia na mão pode ser tão sexy e íntima?
E como esta simples carícia me faz pensar nele acariciando lá embaixo?
— Você tira tanta onda de já ser uma mulher independente... — ele
diz, com aquela voz sussurro-de-sexo-quente — Por que não pode se divertir
comigo enquanto não conhece o pai dos seus... Quantos filhos pretende ter?
— Como sabe que já planejei a quantidade de filhos?
Ele gargalha com a pergunta.
— Porque você é Ellie Beck e, como fez questão de ressaltar, já te
conheço há bastante tempo. Aposto que também já decidiu os nomes deles.
— Eu te odeio, Alex — cruzo os braços.
— E eu vou convencê-la de que se divertir comigo é uma ótima ideia.
12
Alex

Como não nasci ontem, decido fazer alguns desvios no caminho, para
ter mais tempo de conversar com Ellie. Ela vai relaxando ao meu lado, vai se
acostumando com minha mão cobrindo a sua, não reclama quando alguns
dedos sortudos tocam suas coxas.
Acaba que dou tantas voltas que perco a entrada para nosso bairro;
Ellie me abandona sozinho no carro e adormece. No fim, seu sono trabalha a
meu favor, e eu decido levá-la para a minha casa.
Pelo menos, no palácio, não teremos tia Marie reclamando do Jean
Pierre Jr., o que poderia quebrar o clima. Além disso, consigo entrar e sair do
palácio sem que ninguém nos veja.
Minha suíte fica na parte de trás da ala da família, com acesso direto
para os jardins e o estacionamento da família real. Sei que Ellie não ia querer
ser pega no flagra pela minha mãe enquanto sai do meu quarto de manhã.
Já passa da meia-noite quando enfim chegamos ao palácio. Abro as
janelas da frente do carro para que os seguranças vejam que sou eu. Anos
atrás, um “fã” da família real roubou um dos veículos reais para tentar entrar
no palácio sem ser notado. Desde então, a segurança redobrou.
Estaciono a minha SUV, que Welly tanto desprezou, em sua vaga de
costume na ala da família. Ellie ainda está dormindo profundamente; minha
vontade é carregá-la no colo até minha cama, mas não quero fazer nada sem
sua autorização. Digo, daqui em diante.
Saio do carro, dou a volta no carro, abro a porta dela e acaricio seus
cabelos, despertando-a.
— Onde estamos? — ela questiona, os olhos azuis ficando alertas.
— Na minha casa, Bela Adormecida — inclino-me sobre ela e inspiro
profundamente seu pescoço.
Ei, eu disse que iria esperar sua autorização para levá-la para a cama,
mas não sou perfeito! Nossa, como Ellie é cheirosa. Felizmente, Fabio não
sugeriu que ela mudasse de perfume. Nunca curti mulheres que usam aqueles
perfumes fortes e adocicados, porque eles abafam o cheiro natural das
mulheres.
E o cheiro natural de Ellie é delicioso. Tão feminino, doce e
convidativo. Como aquelas geleias de pimenta. Nossa, que vontade me deu
de espalhar geleia de pimenta pelo corpo dela e lamber tudinho.
— Alex — ela me empurra, mas sua reclamação sai com um leve
gemido no final —, eu disse que não dá! Eu quero um marido, você quer um
caso quente!
— E se eu fizer uma contraproposta? — questiono, minha voz saindo
rouca.
— Contraproposta? — viram como as pupilas dela dilataram?
Ellie está louca para ter uma desculpa para me experimentar. Assim
como eu, ela não está mais satisfeita com nossa relação platônica. Se
depender de mim, ela nunca mais será platônica de novo.
Mas Ellie não pode saber disso ainda.
— Sim, Ellie. Uma contraproposta — digo, sorrindo. — Nós temos
um caso quente até você arranjar um candidato a marido.
— Eu... Eu...
— Diga sim, Ellie. Ninguém precisa saber.
— Eu... Eu...
— Deixa eu fazer uma coisa para te ajudar a decidir.
Sem lhe dizer nenhuma outra palavra, seguro-a pela parte de trás das
coxas, e ela automaticamente agarra meus ombros, para não se desequilibrar.
Puxo-a na minha direção, até ela estar sentada na beira do assento de
couro do carro. Sem arrancar meus olhos dos dela, notando que a safadinha já
respira pela boca, eu abro seus joelhos com minhas mãos, e me posiciono
entre eles.
Ellie está com dúvidas a respeito da gente? Pois eu vou arrancar essas
dúvidas agora mesmo. Eu me aproximo dela até nossos torsos estarem
colados, até minha ereção estar contra a virilha dela.
Como eu já imaginava, Ellie arregala os olhos, sua respiração acelera
e ela solta um gemido muito safado e feminino quando me sente entre suas
longas pernas, suas mãos ainda segurando meus ombros.
Apesar dos seus trinta e um anos de idade, Ellie não é muito
experiente, e vou usar isso a meu favor. Do jeito que ela é formal e certinha,
aposto que nem está acostumada a gozar com um homem. Mas eu vou
mostrar a ela que o sexo masculino serve para muito mais do que ser pai dos
filhos dela.
Tiro as mãos dela dos meus ombros e as coloco em cada lado da
minha cintura. Afasto os cabelos dela de seu pescoço e os prendo em uma das
minhas mãos, puxando sua cabeça para trás, para dar mais acesso. Meus
lábios atacam seu pescoço e a reação dela não é nenhum pouco discreta.
Puxo sua pele entre meus dentes, provando-a, e quase gozo com o
gosto dela; é doce e apimentado ao mesmo tempo, delicioso, assim como seu
cheiro.
As longas pernas dela arreganham-se ainda mais, e ela as coloca em
volta da minha cintura, me puxando contra ela, como se pudéssemos ir contra
as leis da física para fazermos parte de um mesmo espaço.
Estamos tão próximos agora que seus seios ficam achatados contra
meu peito.
— Puta que pariu, Ellie, você tem gosto de pecado — eu digo, a voz
rouca de tesão, e minha mão livre entra no jogo.
Afasto meu estômago do dela só um pouco, apenas para ter espaço
suficiente para colocar minha mão entre nós. Pela segunda vez na noite,
desamarro seu vestido, abro o tecido, e começo a passar os dedos pelo
elástico de sua calcinha.
Ao mesmo tempo, começo a dar leves mordidas na sua mandíbula,
nos seus ombros, embaixo de sua orelha. Ellie sussurra palavras
incompreensíveis, diz meu nome entre gemidos, e suas pernas continuam me
pressionando para junto dela.
Minha outra mão solta seus cabelos, baixa seu sutiã e encontra seu
mamilo direito, que está duro, sensível. Sinto os pelos do pescoço de Ellie
eriçarem sob meus lábios quando começo a massagear seu mamilo com meu
polegar.
Minha outra mão, agindo quase que por vontade própria (foco no
quase), desce um pouco mais, por dentro da calcinha, até atingir sua entrada.
Ela está encharcada, pronta para mim.
Brinco com seu clitóris, usando meus dedos para fazer círculos à sua
volta, chegando bem perto de sua abertura, mas sem invadi-la.
— Por favor, Alex! Enfia! — Ela implora, e eu quase explodo ao
ouvir a paixão em sua voz.
Eu não disse que Ellie pode ser uma bibliotecária muito safadinha?
Felizmente, sou o sortudo que conseguiu ver o potencial de safadeza embaixo
de todas as roupas de vovó, do jeito formal e de toda a nerdice.
Continuo focado em seu pescoço, lambendo-o e chupando-o de um
lado ao outro, enquanto minha mão esquerda massageia seu mamilo.
A sortuda da mão direita, entretanto, tem o papel mais importante,
que é fazer Ellie Beck gozar em volta dos meus dedos. Mas ainda não.
— Vou enfiar nessa sua bocetinha se você aceitar minha proposta,
Ellie. — Eu sussurro contra seu pescoço. — Diga que aceita. Ninguém
precisa saber.
Repito minhas condições, para deixá-la com mais vontade de aceitar.
Ela agarra meus cabelos, puxando meu rosto para longe do pescoço dela, até
que eu possa encarar seus olhos felinos, cujo azul praticamente desapareceu,
porque suas pupilas estão muito dilatadas.
— Enfia logo seus dedos na minha boceta, Alex. — Ellie ordena.
Ellie Beck acabou de dizer a palavra “boceta”? Quase chego ao ápice
ao ouvir sua voz delicada dizer a palavra, ao ver sua boquinha de veludo
formar a palavra. Perfeito demais. Nada melhor do que enlouquecer a
bibliotecária mais gostosa da Europa.
Enfio dois dedos de uma vez, fazendo a cabeça dela voar para trás e
sua garganta libertar um som gutural.
Meus lábios retornam ao seu pescoço, enquanto eu tiro um pouquinho
os dedos, para enfiá-los novamente. Cada vez que eu tiro os dedos e os
penetro de novo dentro dela, eu faço o movimento mais rápido, e Ellie torna
tudo mais intenso ao movimentar seus quadris.
— Alex, Alex! — Ela repete meu apelido cada vez que eu enfio os
dedos dentro da bocetinha apertada dela.
Uso o polegar para acariciar seu clitóris, e enfio um terceiro dedo. É
quando ela chega ao ápice, e goza com meus dedos enfiados nela, apertando-
os com força.
Mal posso esperar para estar com meu pau dentro dela quando ela
gozar a próxima vez.
— E então, Ellie? — pergunto, colando minha testa à dela.
Nem preciso explicar a que estou me referindo: Ellie sabe muito bem
que me deve uma resposta. Ela abre os olhos azuis, que estão brilhando com
um misto de satisfação e divertimento.
— Aceito sua contraproposta, Alex.
***
Ellie

Quando eu lia os livros hot que Matt me dava de presente (segundo


ele, para ver se ele conseguia animar a minha piriquita), sempre achava as
mocinhas umas bananas, que ficavam caidinhas por mulherengos que não
valiam um centavinho sequer.
Bastou uns minutos com O mulherengo de Rodin para eu mudar de
ideia: eu FINALMENTE entendi por que as mocinhas acabam ficando com
bad boys.
Bad boys beijam bem. E eles sabem tocar uma mulher. E eles nos
fazem gozar. Enquanto eu não achar um homem que preencha os critérios
para se tornar meu marido e pai dos meus filhos, ter Alex como meu amante
definitivamente será uma experiência interessante.
Enquanto ele me carrega do estacionamento até a suíte dele, eu
continuo agarrada a ele, com minhas pernas em volta de sua cintura,
beijando-o profundamente, esfregando-me contra seu corpo que nem uma
gata no cio.
Com dificuldade, ele consegue abrir a porta de vidro da suíte, e
admito que eu não ajudo em nada enquanto repito as provocações que ele fez,
chupando seu pescoço, acariciando suas costas musculosas, e esfregando-me
contra ele.
— Calma, Srta. Beck, ainda estou de calça — ele sussurra na minha
boca, e volta a me invadir com a língua.
Nossa, como eu quero aquela língua experiente dele em outros
lugares. Preferencialmente, em locais abaixo da minha cintura. Porém, vai ter
que ficar para outro momento, porque eu quero outra coisa agora dentro de
mim. E o quanto antes.
Gente, por que ele está demorando tanto para ficar logo pelado, tirar
minha roupa toda, e começar oficialmente com nosso caso tórrido?
E desde quando eu sou tão atirada assim? Acho que gosto mais dessa
Ellie atirada, ela vai se divertir bastante com Alex entre os lençóis.
— Vamos logo, Alex! — reclamo, e ele gargalha contra os meus
lábios.
— Não era você que estava toda preocupada com seu futuro
casamento com o cara que precisa cumprir as cinquenta e duas condições da
sua lista?
— Não tenho cinquenta e duas condições para meu futuro marido —
replico, soando ofendida.
Na verdade, tenho uma lista com trinta e sete condições. Mas como
diabos Alex sabe que tenho uma lista? Às vezes, ele sabe tanto a meu respeito
que me assusta. Bem, pelo menos ele pode usar essa sabedoria na cama,
então está tudo certo.
— Quantas condições são e quantas delas eu cumpro? — ele
questiona contra meus lábios, parecendo genuinamente curioso.
Nem se Daniel Craig me prometesse uma massagem sensual eu diria
para Alex! Ele usaria minha lista contra a minha pobre pessoa pelo resto de
nossas vidas! E ainda sacanearia meu futuro marido!
— Não é da sua conta quantas condições são e você não cumpre
NENHUMA delas!
Na verdade, ele cumpre meia dúzia delas, mas o príncipe Alexander
não precisa de MAIS uma otária enchendo o ego dele.
— Quer que eu desista de fazê-la chegar ao ápice do Everest?
— Você é muito convencido — digo, arfando.
Nossa, se o que ele fez comigo no carro NÃO foi um ápice do
Everest, mal posso esperar para ver como será... Será que alguém pode
morrer do coração por chegar ao ápice?
— Com você, sou ZERO convencido — ele comenta timidamente e,
pela primeira vez na minha vida, vejo insegurança nos olhos de Alex. — Não
sou seu tipo, lembra?
— Nem precisa ser meu tipo, Alex — sussurro contra seus lábios. —
Deve saber que nenhum homem me deu prazer como você.
A insegurança desaparece dos seus olhos, substituída por um olhar da
mais pura sedução.
— Mal começamos, Ellie.
Uhuuuuu! Mal posso esperar para começarmos! Jogo o vestido para
longe, que já estava aberto e escondendo muito pouco de qualquer maneira, e
começo a desabotoar sua camisa, mas ele fica me observando com um olhar
indecifrável.
— Anda logo, Alex, senão vou desistir do nosso acordo! — reclamo,
mesmo sabendo que a ameaça é vazia.
Impaciente, ele me joga na cama, arranca a minha calcinha — com os
dentes, um olhar fatal, e um sorriso muito safado na cara linda dele, o que foi
sexy DEMAIS — e enfia um dedo grosso e gigante lá dentro.
Eu gritei de prazer. Sim. Gritei. Quem imaginaria que Ellie Beck, a
bibliotecária que vestia roupas de vovó e tinha uma vida mais sem graça do
que a minha tia de sessenta e sete anos iria GRITAR de prazer com o príncipe
bad boy de Rodin?
Incorporando a safadeza da Sharon Stone em Instinto Selvagem, eu
aperto o dedo dele dentro de mim, e ele ri, uma gargalhada rouca e cheia de
segundas intenções, como se ele soubesse que eu estou na mão dele.
Literalmente.
— Você? Desistir? Do jeito que está molhada? Vou ter dificuldade é
de sair de você, Ellie, não de entrar.
Droga, esse príncipe sexy, gostoso e arrogante tem razão.
Em tempo recorde ele tira a roupa, coloca a camisinha (que,
felizmente, não tem desenhos, cheiros ou gostos estranhos), e mal tenho
tempo de apreciar o famoso corpo delicioso do príncipe, quando ele se deita
sobre mim, separa bem as minhas coxas e, encarando-me intensamente,
deixando claro que eu, a partir deste momento, serei marcada por ele de
forma irreversível, enterra-se dentro de mim.
Eu gozo de novo. Imediatamente. Intensamente. Enlouquecidamente.
Por um segundo, eu imagino se não acordei todos no palácio com
meus gritos. Logo em seguida, dou-me conta de que o pessoal do palácio
deve estar habituado à ação que ocorre no quarto de Alex e, além disso,
ninguém jamais imaginaria que a dona dos gritos sou eu.
Alex não diminui o ritmo de suas estocadas depois que paro de
convulsionar; o oposto ocorre, na realidade. Assim que eu paro de me
contorcer e de apertá-lo, ele continua com ainda mais desespero, e gozo uma
TERCEIRA vez, junto com ele.
13
Alex

Depois de passar a noite dentro de Ellie, eu imaginei que pegaria no


sono e dormiria até meio-dia. Ledo engano; a noite que passamos juntos não
ajudou em NADA para acalmar um pouco meu desejo por ela, muito pelo
contrário.
A culpa não é minha, e muito menos do meu pobre pau! Acontece que
Ellie, além de ser a mulher mais inteligente que conheço, e a única com a
língua afiada o bastante para me tirar do sério, é também uma verdadeira
pantera na cama.
A MINHA pantera.
Ela se soltou de um jeito enlouquecedor, e conseguiu me provocar
ainda mais na cama do que me provoca fora dela. E eu retribuí na mesma
moeda. Ou seja, ao invés da nossa noite juntos trazer um pouco de paz e
tranquilidade para o meu pobre pau, apenas o deixou ainda mais sedento por
Ellie.
É só a bunda redonda dela grudar nos meus quadris, quando ela
procura meu calor na cama, que eu acordo. E são oito da manhã! Só para
vocês saberem: nós só fomos dormir às seis.
Quando ela se aconchega mais, esfrego minha ereção entre suas
nádegas, arrancando uma gargalhada deliciosa dela. Ellie olha para mim por
cima do ombro, e juro que meu coração só falta se estraçalhar no peito.
Como eu consegui passar a vida inteira tendo apenas uma relação
platônica com essa mulher? O que quer que eu faça daqui em diante, preciso
convencê-la de que sou SIM o tipo dela.
Não, não quero me casar. Ainda. Sei que Ellie quer começar logo a
formar família, mas, aos poucos, posso convencê-la a esperar um pouco. Ou
alguns anos. Uma década talvez?
Bem, a primeira coisa que tenho a fazer é garantir que ela entenda
como nós combinamos.
— Bom dia, Srta. Beck — eu sussurro contra seus lábios, que estão
inchados dos nossos beijos.
— Bom dia, Vossa Alteza — ela diz com sua voz rouca.
Por sinal: a voz dela está rouca de tanto gritar de prazer a noite inteira.
— Virei seu tipo, agora?
— Sim — ela suspira —, meu tipo de amante.
Melhor do que nada, não é? E um passo à frente em relação a ontem,
quando ela disse que ficar comigo seria como dar uns pegas em um irmão. Ei,
toda vitória conta!
— Adoro me sentir uma camisinha usada — brinco, invertendo a
lógica do sexismo.
Como eu imaginava, ela revira os olhos azuis, rindo.
— Pobre príncipe mulherengo — comenta ironicamente.
— Talvez eu esteja pronto para mudar.
O sorriso dela logo vira uma gargalhada. Ah, ela está rindo agora,
mas, muito breve, vai me levar a sério.
Nunca fui mulherengo porque gosto de trocar mulheres como troco de
roupas. Eu saía com várias mulheres porque nunca me interessei
particularmente pela companhia de nenhuma delas.
Por outro lado, nunca fiquei entediado na companhia de Ellie.
Especialmente agora, que desfruto da companhia dela nua. Nossa, como uma
mulher com um corpão desses o escondia?
Sei que a “moda” dita que mulheres precisam ter barriga plana, mas,
apesar de não ter tanquinho, Ellie compensa com suas pernas que parecem ser
infinitas, os seios suculentos e a bunda redonda.
Prefiro mil vezes essas curvas que uma barriga lisa e sem graça. Não
posso chupar uma barriga até o mamilo chegar no céu da minha boca, não é
mesmo? Falando em mamilos, os de Ellie estão prontos para serem chupados
de novo.
Mudo de posição para puxá-la para baixo de mim, mas ela se afasta e
enrola o lençol em volta de si.
— O que está fazendo? — eu a seguro pelo pulso, antes que ela se
levante da cama.
— Vou embora — ela diz com naturalidade.
Ah, mas nem ferrando.
— Quando chegar a hora de ir embora, eu vou levá-la — deixo claro.
Ela tem que saber que, dentro deste quarto, em cima desta cama, quem manda
sou EU. — E não vai embora agora, Beck.
— Ah, é? Vai criar um decreto real para me obrigar?
Eu a puxo para mim, e me posiciono em cima dela, abrindo suas
coxas com meus joelhos.
— Não — sussurro no pescoço dela—, vou beijá-la e vai desistir de ir
embora.
— Tão arrogante...
Assim que seu corpo se cola ao meu, eu a seguro pela nuca. Assim
como fez a noite inteira, Ellie vem sem resistência, sem queixas, apenas com
seu sorrisinho safado de “quero mais”. Pois eu lhe darei mais, Beck.
Quando nossos lábios se tocam, é como nosso primeiro beijo, não
nosso centésimo, é como um vulcão entrando em erupção. Se bem que o
vulcão entre minhas pernas está perto da explosão mesmo.
Eu me imagino assim com Ellie desde que a adolescência, quando eu
queria calar seus insultos com beijos, queria acabar com sua arrogância com
estocadas profundas. Entretanto, nem nos meus melhores sonhos eróticos (e
eles eram muitos), os lábios dela eram tão macios, ou seu gosto tão doce.
Merda, Ellie Beck é perfeita. Pelo menos, para mim ela é. Assim que
senti seu gosto, soube que não me satisfaria com apenas com um beijo. Ou
dez. Ou cem.
— Que vontade de lamber cada pedacinho da sua pele, Ellie —
sussurro.
— Você não fez isso várias vezes esta noite? — ah, mas ela não
desiste mesmo de me provocar.
— Pois vou fazer de novo.
Exploro seus lábios, seu queixo, deixando mordidas e beijos ao longo
do caminho. Minhas mãos exploram o corpo curvilíneo e gostoso dela.
Minhas mãos fecham-se em sua bunda redonda e perfeita, e eu puxo
seus quadris contra os meus, esfregando a boceta quente contra meu pau.
Sinto-a úmida e pronta para mim. Ela ficou assim a noite inteirinha, o que
prova sua falta de boas experiências.
Mas isso foi antes. A partir de agora, Ellie não vai mais deitar-se em
uma cama sem pensar em como EU-E-SOMENTE-EU a fiz gozar e gritar
como uma louca. É um sentimento foda, saber que, nesse sentido, fui seu
único. E vou lutar para continuar sendo o único.
Uso minha língua para explorar seu corpo, para deixá-la arrepiada e
sensível ao meu toque. Chupo um mamilo, enquanto massageio o outro com
a palma da minha mão. Ela vira a cabeça para trás e coloca um travesseiro
sobre seu rosto, para abafar os gritos.
Afasto o rosto do seu seio e tiro o travesseiro do seu rosto. Minhas
paredes são protegidas acusticamente (algo que meus irmãos exigiram
quando eu cheguei na puberdade), então ela pode cantar o hino nacional,
gritar “fogo”, e pedir por “mais” à vontade que ninguém dará importância.
Eu a encaro, admirando o contorno do seu rosto, os olhos grandes e
azuis, os lábios inchados, os cabelos loiros, as bochechas rosadas. Meu olhar
desce para seu corpo, e ela tenta se esconder de mim, colocando os braços
sobre o corpo em um gesto automático.
— Nunca se esconda de mim, Ellie — sussurro, olhando em seus
olhos. — Você é linda.
Os braços dela caem de cada lado de seu corpo, e um sorriso tímido &
safado ao mesmo tempo surge em seus lábios.
— Você também dá pro gasto — ela provoca.
Entendem por que eu não consigo ter o bastante dela? Quando acho
que Ellie parou, ela continua me atiçando, me provocando, me deixando
completa e absolutamente louco.
Caralho, como eu queria me enterrar dentro dela com força e comê-la
por uma hora seguida. Infelizmente, depois da nossa noite, sei que terei que
pegar leve com Ellie agora, senão ela passará dias dolorida.
Ellie não era virgem, mas nunca fez muito sexo. Não tem problema:
em pouco tempo, vou habituá-la ao meu ritmo.
O fato de não poder comê-la com força não significa que não a farei
pagar por seu comentário sarcástico. Eu lhe dou um sorriso fatal, baixo meus
lábios para seu seio e puxo um mamilo sensível entre os dentes, fazendo-a
gritar alto.
— Só pro gasto? — Questiono, soprando o mamilo, que, a esta altura,
é um pontinho rosado.
— Serve para beijar também — ela arfa de volta, puxando minha
cabeça para o seio dela.
Esta mulher será meu fim.
Claro que eu atendo ao seu pedido, e com prazer. Abocanho seu seio,
puxando-o para a minha boca, enquanto levo minha mão até sua entrada.
— Quer que eu toque a toque aqui, Ellie? — Afasto meus lábios do
seio perfeito dela apenas para perguntar. — Quer que eu a foda com meus
dedos?
— Por favor! — ela implora, deixando-me ainda mais duro.
— Seu desejo é uma ordem.
Uso o polegar para massagear o clitóris de Ellie, enquanto o indicador
explora sua entrada. Ela não está úmida, está pingando. Para mim. Eu sou um
sortudo da porra.
— Alex — ela arfa de forma incoerente.
Está perto do ápice, posso sentir em sua voz.
— Alex! — ouço uma voz feminina gritar.
Uma voz que não pertence a Ellie, e sim a Charlotte. Pelo som, ela
parece estar do outro lado da porta.
— Oh!
Ellie toma um susto tão grande que se vira no colchão e acaba caindo
da cama. Literalmente. Ela cai do lado oposto da porta, um segundo antes da
minha irmã escancará-la, sem qualquer pudor, sem nem bater na merda da
porta.
Charlotte coloca as mãos na cintura e eu faço pose de quem não
estava chupando os mamilos e fodendo a amiga dela com os dedos.
— Vamos logo! — Charlotte reclama.
— Mas que porra... Nunca ouviu falar de privacidade, não?
— Tinha a esperança de flagrar você e a Ellie juntos — ela comenta,
com o olhar decepcionado. — Por outro lado, eu sabia que você não era o
tipo dela.
Sabe de nada, inocente. Ouço um som irritado vindo do chão, e sei
que Ellie está louca para responder a esse comentário. Eu não era o tipo dela:
até a nossa noite tórrida.
— O que você quer, Charlotte? — pergunto duramente, porque quero
voltar logo a Ellie, seus mamilos saborosos e sua boceta encharcada.
— Esqueceu-se do café-da-manhã com o Secretário da Cultura? —
Depois da minha noite com Ellie? Com certeza eu esqueci. Nem me lembro
qual é o nome do desgraçado. — Ele já está aqui, e quer saber como o foi o
jantar ontem.
O pior é que nem posso dar uma desculpa ou dizer que não vou, senão
minha mãe – e talvez até meu pai – virá me interromper de novo. Só há uma
solução: aparecer no maldito café-da-manhã.
Quem marca uma reunião de trabalho em pleno domingo de manhã?
Mamãe e suas ideias irritantes de criar “laços” com os secretários e líderes
políticos de Rodin. Em geral, eu concordo com ela, mas, esta manhã, eu
queria que ela não fosse tão dedicada ao nosso principado.
— Já estou indo — praticamente rujo em resposta.
— Não vá tomar um dos seus banhos de princesa — ela comenta
sarcasticamente, porque sou famoso por curtir uma longa chuveirada.
— Saia! — grito, e ela bate a porta às gargalhadas, mas não antes de
dizer:
— Não é culpa minha que Ellie não quis nada contigo!
Mais uma vez: sabe de nada, inocente.
Assim que a porta do quarto se fecha, Ellie dá um pulo. Como ela já
está de calcinha e sutiã? Se bem que, na correria ontem para arrancar nossas
roupas, espalhei tudo pelo chão.
Foi sorte as coisas de Ellie caírem do lado oposto da cama, senão
minha irmã teria visto o vestido e se ligaria que eu estou acompanhando da
mulher que ela acha que não quer nada comigo.
— Tenho que ir embora — Ellie diz, pegando seu vestido. —
AGORA!
— Relaxa, Ellie — digo, mas ela já vestiu a roupa e agora está
calçando as sandálias. — Vou dar um jeito de me livrar desse café-da-manhã.
Me espere, ainda precisamos conversar.
Levanto-me da cama, para tomar uma chuveirada (rápida, porque não
quero Charlotte aqui de novo) e trocar de roupa.
— Só vou esperar um pouco — ela avisa.
Caminho até ela, do jeito que vim ao mundo, a seguro pela cintura e
lhe dou um longo beijo. Um incentivo para que ela me espere mais do que
“um pouco”.
— Eu adorei nossa noite, Ellie. Mal posso esperar para repeti-la —
digo, e entro no banheiro.
14
Ellie

Depois de quase uma MALDITA hora, Alex ainda não retornou. Pelo
visto, ele não consegue se safar de tudo. Já tomei banho, já coloquei minha
roupa de ontem de novo, já me escondi de um funcionário da limpeza atrás
das cortinas, e agora CHEGA.
Estou indo embora. Não quero pedir taxi aqui no palácio, prefiro
manter a discrição, então decido sair pelos fundos, especificamente pela
garagem da família onde Alex estacionou seu carro, andar um ou dois
quarteirões (o que conseguir nesses saltos) aí eu peço um táxi ou um Uber.
Consigo chegar até a garagem sem pagar nenhum mico ou ser vista
por nenhum funcionário do palácio. O problema é que não tenho ideia de
como abrir as portas da garagem. Se, por um lado, as luzes se acenderam
automaticamente, não sei se há algum interruptor ou controle remoto para
abrir as portas.
Perco minutos preciosos procurando alguma pista, até finalmente
encontrar um pequeno controle na parede. Pego o controle e começo a testar
os botões, até encontrar o certo! Uhuuuuu, consegui abrir as portas!
Na verdade, não é tão Uhuuuu assim, porque eu me distraio e uma das
quinas das portas automáticas agarram-se ao meu vestido na subida, e eu
acabo fazendo um semi stri tease involuntário.
Levo outros preciosos minutos para conseguir desvencilhar a barra da
saia do vestido do MALDITO portão, rezando, nesse meio tempo, que
ninguém esteja passando por perto.
Por sorte, a porta da garagem dá para jardins que também fazem parte
da propriedade do palácio, então não há pedestres ou fãs loucos da realeza.
Há, infelizmente, seguranças, e um deles está correndo na minha direção.
Quando está próximo o bastante noto, para meu alívio, que não se
trata de segurança, mas sim do Mick, o motorista de Alex, que me observa
com preocupação.
— Ellie, está tudo bem? — ele questiona, acenando para um dos
seguranças que ele me conhece.
— Não — resmungo, ainda envergonhada pelo mico —, fui assediada
sexualmente por este portão!
Mick, cavalheiro que é, segura a gargalhada, e me guia para dentro da
garagem de novo.
— Quer uma carona?
Estou prestes a gritar “ALELUIA, IRMÃO”, porque os saltos já estão
matando meus pés por conta de toda a luta com o portão da garagem
assediador, quando noto dois pontos pretos do lado de fora dos jardins, atrás
das grades que protegem a parte dos fundos do palácio, movendo-se
rapidamente entre os arbustos.
— Oh, céus. O que é aquilo? — aponto para os dois pontos suspeitos.
— São jornalistas, Ellie — ele responde prontamente.
Mick nem precisa olhar para onde estou apontando para saber a que
me refiro, o que significa que (a) eles já estão aí há um tempo e os seguranças
já estão de olho neles e (b) eles COM CERTEZA viram meu mico, porque o
ângulo é perfeitamente enquadrado na garagem.
Ainda assim, mantenho alguma esperança. Talvez, eles tenham
chegado nos últimos trinta segundos, não?
— Eles estão aqui desde quando? — questiono.
— Um dos seguranças me disse que eles estão aqui desde a noite
passada.
Sério? Isso é estranho. Sei que jornalistas têm grande interesse na
realeza rodiniana, mas, que eu saiba, eles só ficam mais “focados” no palácio
quando há algum evento. Até onde eu lembro, não há nenhum, a não ser que
estejam interessados no café-da-manhã da família com o Secretário da
Cultura.
— É normal eles fazerem isso?
— Apenas quando acham que há fofoca — Ah, não. AH, NÃO! Será
que eles sabem? Será que alguém nos flagrou aos beijos no Parque das Rosas
e avisou aos jornalistas? — Acha que eles têm motivos para estarem aqui,
Ellie?
Mas com certeza eles têm, eu só não imaginava que eles iam
descobrir tão rápido. De repente, dou-me conta de que eles podem ter
acreditado no falatório incessante da Sra. Burnell sobre as camisinhas, e
decidiram ficar de olho no príncipe.
Se for o caso, nosso plano de manter a nossa relação quente em
segredo pode ir água abaixo se eles perceberem que a mulher seminua no
portão da garagem é a diretora da Biblioteca Nacional.
— Preciso ir embora daqui AGORA, Mick.
— Vamos — ele abre a porta do carro de Alex para mim. — Vou
levá-la.
Quase meia hora depois, porque Mick fez questão de usar caminhos
diferentes para garantir que não estávamos sendo seguidos, ele me deixa à
porta da casa de minha tia Marie.
Sinto-me esgotada quando entro em casa, e sou recebida por um
Bruce animado. Ah, que bom. Não apenas tia Marie deve ter dado o café-da-
manhã dele, como também deve tê-lo deixado dormir na cama dela.
Bruce fica com um péssimo humor quando não o deixo dormir na
cama comigo. Pior ainda se passo a noite fora. Faço carinho nele, que só falta
causar um terremoto na casa de tanto ronronar, e sigo o som da televisão na
sala de estar.
Lá, dou de cara com a tia Marie encarando a TV atônita.
— Querida, como você não me contou? — ela me pergunta, em tom
de acusação.
Claro que eu teria que receber reclamação de alguém. Bruce está
satisfeito, mas tia Marie deve ter ficado preocupada por eu ter passado a noite
fora e não ter dito nada a ela. Sei que sou uma mulher de trinta e um anos,
mas nunca vivi como tal.
— Tia, eu sinto muito por não ter avisado onde estava — digo,
sentando-me ao seu lado no sofá.
— Eu sei muito bem onde estava! — ela vira minha cabeça na direção
da televisão. — Descobri junto com todos de Rodin!
— Quê?
A TV está no canal de notícias, e o rosto familiar da Sra. Burnell está
bem no centro da tela. Ela está falando do episódio da camisinha. Em
DETALHES. Mostra a marca da camisinha que eu comprei em sua farmácia,
e chega a abrir algumas e mostrar os desenhos.
Chega ao ponto de pedir ao jornalista para experimentar o gosto. O
mundo está acabando mesmo, se um jornalista está lambendo uma camisinha
com um desenho de caubói e gosto de tequila em plena manhã de domingo.
EU. QUERO. MORRER. AGORA.
Mas claro que a reportagem não para por aí. A Sra. Burnell usa o
episódio da camisinha para fazer propaganda da sua farmácia. Meu plano de
atrair homens solteiros de Rodin não poderia ter sido PIOR.
Depois de me matar, eu vou voltar como poltergeist e matar o
Mathias.
— Não que eu seja uma pessoa indiscreta, mas eles não têm muito
bom gosto para a escolha de preservativos. Uma opção muito mais elegante,
que combinaria perfeitamente com a situação deles, se é que me entendem,
seria a marca Proteção Real, produzida localmente.
Ela pega então uma caixa, que diz conter duas dúzias de camisinhas, e
a mostra para a câmera. A estampa é de coroas douradas com um fundo
vinho, cor oficial da realeza rodiniana, e com os dizeres no centro: “Proteção
Real: Divirta-se como um membro da realeza”.
Acham que isso é ruim o bastante? Pois ainda piora. Ela tira algumas
camisinhas e começa a mostrá-la. As camisinhas têm desenhos de coroa em
sua ponta, e uma delas é uma tiara de princesa, segundo a Sra. Burnell,
“porque não somos preconceituosos e aceitamos todos os tipos de amor”.
Parece que a Sra. Burnell, além de achar que é stylist de camisinhas,
também decidiu ser ativista LGBT. Boa sorte para ela com isso, também
apoio a causa, mas por que DIABOS o jornal está dando tanta atenção à Sra.
Burnell?
Ela é conhecida em Rodin por ser exagerada em seus relatos. Uma
coisa é ter boatos entre os cidadãos rodinianos, mas daí a ter jornalistas
falando disso, SEM qualquer comprovação?
A menos que... Será que eles têm relatos mais consistentes do que o
da Sra. Burnell? Será que eles nos viram juntos ontem à noite?
— Por que estão dando tanta atenção à Sra. Burnell? — pergunto à
minha tia.
— Ah, essa já é a terceira vez que mostram a entrevista dela esta
manhã — ela comenta, sem tirar os olhos da tela. — Estão falando do seu
caso com o príncipe desde cedo.
— Como assim? Meu caso com o príncipe?
Nem virou um caso ainda, MALDIÇÃO! Eu só tive uma noite com
ele e já estão chamando de caso? Sim, eu pretendia que se tornasse um caso,
mas os jornalistas não têm como saber disso!
Aí, meu PIOR pesadelo se torna a realidade. Os jornalistas anunciam
que testemunhas alegam que nos viram aos beijos no Parque das Rosas e
mostram a cena da minha briga com o portão da garagem do palácio.
O principado inteiro acabou de ver minhas pernas e minha calcinha
preta de renda.
— Ohhhh! Que pernas lindas, querida! — minha tia diz, animada.
Só a tia Marie para achar lindo a minha completa desgraça.
— Eu. Quero. Morrer — digo lentamente.
— Sobre esse assunto, o Palácio acaba de nos avisar que o Príncipe
Alexander fará um breve anúncio sobre a Srta. Eleanor Beck. Lembramos
que a Srta. Beck é a diretora da Biblioteca Nacional de Rodin, e o príncipe
acabou de se tornar seu patrono real.
— Oh, que excitante! — tia Marie bate palminhas, apesar de sua
sobrinha estar à beira de um ataque de pânico. — Tem ideia do que ele vai
dizer, querida?
Claro que não! Evito responder em voz alta, com medo de vomitar no
sofá da tia Marie, e a cena muda para a frente do palácio, onde Alex está
rodeados por diversos microfones, de jornais de todas as partes da Europa.
— Bom dia a todos — ele diz com um dos seus sorrisos famosos.
— Ele é tão lindo — tia Marie diz, suspirando, — queria tanto ter sua
idade, querida.
O que diabos Alex está aprontando? O que ele vai dizer agora? Não
tem como justificar a cena horrenda na garagem do palácio.
— Farei um breve pronunciamento hoje — Alex diz, ainda sorrindo.
— Estou muito feliz em anunciar que eu e Ellie Beck estamos noivos.
QUÊ?!?!?!
***
Parte 2
“Do that to me one more time
Once is never enough with a man like you
Do that to me one more time
I can never get enough of a man like you
Whoa-oh-oh, kiss me like you just did
Oh, baby, do that to me once again”

“Faça isso comigo mais uma vez


Uma vez que nunca é suficiente com um homem como você
Faça isso comigo mais uma vez
Eu nunca consigo ter o suficiente de um homem como você
Whoa-oh-oh, me beije como você fez
Oh, baby, faça isso comigo mais uma vez”

(Do that to me one more time, Captain & Tenille)


15
Alex

Assim saio do quarto, já quero retornar. Não imaginei que isso


aconteceria: além de Ellie ser ainda mais ardente do que eu havia previsto,
meu desejo por ela só fez aumentar a cada toque.
Diabo, passei uma noite com a mulher e já estou falando como filmes
bregas de comédia romântica. Tenho que arranjar o quanto antes uma
desculpa para retornar aos meus aposentos, passar pelo menos mais uma hora
sob os lençóis com Ellie, e, quem sabe, consigo convencê-la a passar o resto
do domingo na minha cama?
Se ela não quiser ficar no palácio, há alguns locais bem privados onde
posso levá-la sem que sejamos incomodados pela minha família, pela tia dela
brincando com Jean Pierre, por jornalistas e, PRINCIPALMENTE, por Bruce
Lee.
Passo pelos cômodos do meu pai e o escuto conversando com seu
assistente pessoal, Tommy, cujos ancestrais trabalham para a nossa família há
mais de um século. Ele é quase um segundo pai para mim, e é praticamente
uma babá para o meu velho. É ele quem ajuda meu pai a sair da dieta sem
que mamãe saiba.
Bato à porta e, ao abri-la, escuto o que parece o som de pratos e
talheres.
— Tommy! — meu pai diz em seu falso tom de choque. — Isso aqui
é bacon!
Abro um pouco mais a porta, para poder ver o teatrinho deles.
Eles estão na antessala da suíte, onde há um sofá com dois lugares em
frente à uma televisão plana, uma escrivaninha em frente às portas que se
abrem para uma varanda, e uma pequena mesa de café-da-manhã no canto
oposto, bem próximo à porta.
Papai costuma comer ao menos uma refeição por dia em seu quarto,
sem que mamãe saiba, e finge que está cumprindo a dieta quando nós nos
reunimos para comer na sala de jantar.
Todos do palácio perceberam, exceto mamãe. Tenho a impressão de
que ela sabe, no fundo no fundo, mas prefere manter as aparências.
— Sinto muito, senhor — Tommy é bem melhor ator que meu pai,
sempre fico impressionado com ele nessas ocasiões do teatrinho dieta. —
Falarei com a cozinheira.
— Dê-lhe uma advertência! — papai reclama, ainda sem olhar na
direção da porta, tentando dar um ar realista à sua atuação. — Ela também
fritou o ovo!
A cozinheira vai é receber um aumento por ter conseguido traficar
bacon e ovo frito para o quarto de papai sem que a mão descobrisse.
Uns meses atrás, papai pediu que incluíssem uma mesa em seu quarto,
alegando que gostava de ler o jornal à mesa, e mamãe nem desconfiou que
ele fez isso para facilitar suas refeições clandestinas.
— Que absurdo! — Tommy está tão imerso no papel que até coloca a
mão sobre o peito — E eu já disse à cozinheira inúmeras vezes que só pode
comer ovos cozidos, Vossa Alteza, como sua esposa solicitou.
Eles ainda não olharam para a porta, senão teriam percebido que
quem acaba de entrar está pouco se lixando para essa história da dieta e, ao
mesmo tempo, estou me divertindo demais com toda essa encenação.
Será que eles ficam treinando ao longo do dia, preparando-se para o
caso de mamãe flagrá-los? Agora entendo por que o pai quer se aposentar do
cargo de príncipe reinante: ele precisa se dedicar integralmente à arte de
fingir que está seguindo a dieta.
— Sim, a cozinheira deveria saber que eu preciso seguir a dieta que a
minha linda e amada esposa...
Ah, já chega.
— Pai, sou eu — anuncio, tentando segurar a gargalhada.
— Graças aos protetores de Rodin! — ele puxa a bandeja de volta
para si e volta a comer o bacon.
— Por que está tomando café-da-manhã aqui se temos outro com o
Secretário da Cultura?
Claro que eu sei qual é o motivo, mas vê-lo tentando se justificar é
impagável.
— É... Hum... Bem...
Tommy até tenta resgatar meu pai da furada, mas tampouco consegue
ajudá-lo.
— Não havia... Hum...
— Aposto que mamãe não incluiu bacon e ovo frito no cardápio de
hoje — comento ironicamente.
— Infelizmente, não — meu pai admite, tristonho. — Só tinha pão
integral, queijo branco e frutas.
Ele diz com tamanha cara de nojo que me faz gargalhar.
— Mamãe não percebeu que você está com o mesmo peso apesar de
estar “de dieta” há mais de um ano? — questiono, e meu pai fica com as
bochechas coradas.
— Eu digo que meu metabolismo é lento.
Para muitas coisas, meu pai é o cara mais inteligente, sensato e
incrível de Rodin. Para outras (principalmente para assuntos relacionados à
comida), ele se comporta como uma criança chocólatra de sete anos.
— E o seu colesterol?
Da última vez que ele fez o exame, minha mãe estava certa de que ele
iria infartar e o colocou em uma dieta de sopas. Foi a época de maior tráfico
de comida da história do palácio.
— Meu colesterol ainda está limítrofe — ele diz com um tom
ofendido, como se eu tivesse acabado de acusá-lo de assassinato. — Se ele
piorar, juro que faço dieta.
— Duvido muito — digo na lata.
— Eu também, senhor — Tommy concorda comigo.
— Posso fazer cinquenta por cento da dieta — ele promete, mas, na
minha opinião, se ele conseguir seguir vinte e cinco por cento de uma dieta
que minha mãe lhe impuser, já será uma grande vitória.
Por falar em vitória, essa minha parada na suíte do pai apenas me
atrasou mais, e eu mal posso esperar para ter outra vitória dentro de Ellie.
Como se tivesse lido meu pensamento, a assessora pessoal de mamãe,
Dorothy, aparece no vão da porta.
— Oh, Tommy! Isto aqui é bacon? — meu pai recomeça seu teatro
costumeiro.
— Não se preocupe, Vossa Alteza, eu não vi nada. — Dorothy
comenta para meu pai, em seguida, dirige-se a mim: — Vossa Alteza, sua
mãe está à sua procura.
— Já estamos indo — digo, dirigindo um olhar cheio de sentido para
meu pai. É melhor ele descer logo, senão mamãe virá pessoalmente atrás
dele. — O Secretário de Cultura já chegou?
— Não é sobre o café-da-manhã — Dorothy está ansiosa ou é
impressão minha?
Não, não é só impressão. As mãos dela estão levemente trêmulas, há
uma fina camada de suor em sua testa, e seus ombros estão tão altos que
daqui a pouco vão bater nas orelhas.
— O que aconteceu, Dorothy?
— É sobre... Sobre a Srta. Beck.
Ah, não. Será que ela não conseguiu me esperar e acabou se metendo
em enrascada? Eu sabia que não deveria tê-la deixado sozinha no quarto!
Olho para meu pulso, e noto que só se passaram vinte minutos, mas, ainda
assim, Ellie é capaz de fazer MUITA coisa em vinte minutos.
— Ellie? — meu pai questiona, também ficando com o olhar
preocupado. Nem sei como ele vai reagir quando souber que ela passou a
noite no meu quarto. Ele sempre a viu como uma irmã para nós. Na verdade,
toda a família a via assim, exceto por mim. — Ela está bem?
Ah, mas é melhor que esteja muito bem, depois das incontáveis vezes
que eu a fiz chegar ao ápice esta noite.
— Algum funcionário deve tê-la encontrado no meu quarto.
Se vou levar uma bronca homérica, que comece logo.
— Filho, não acredito! — meu pai se levanta e coloca as mãos na
cintura. — Ellie é praticamente da família.
— Também não é isso, Vossa Alteza — Dorothy seca a testa com um
lenço, ainda mais ansiosa.
— O que houve, então?
— O noticiário está falando... Eles estão dizendo... Com licença,
senhor.
Ela caminha até a mesa lateral do sofá, pega o controle remoto e liga a
televisão, e coloca em um canal de noticiário. Eles estão falando sobre nós
dois, eu e Ellie. Juntos. Tendo um caso quente.
MALDIÇÃO DOS INFERNOS, nós mal começamos e os
desgraçados há estão fofocando?
Achei que não poderia piorar, quando eles avisam que têm uma
testemunha muito importante, e quem aparece na maldita tela? A Sra.
Burnell.
— Ah, não — reclamo alto.
— Sinto muito, filho — ele coloca a mão sobre meu ombro para me
reconfortar. — Parece que os urubus já descobriram. Quer que eu peça para
desmentirem?
Não, não quero. Se o palácio desmentir, Ellie nunca mais chegará
perto de mim, com medo de ser pega no flagra pelos ditos urubus. Terei que
fazer algo mais... Extremo. Porém, terei que conversar com Ellie a respeito.
— Não, pai. Tenho outra ideia — viro-me para Dorothy. — Avise aos
jornalistas que tenho um pronunciamento a fazer.
Vou achar Ellie agora mesmo e vou conversar com ela sobre o
pronunciamento.
***
Passei quase uma hora, juntamente com alguns funcionários do
palácio, procurando por Ellie, até que um dos seguranças informou que ela
havia saído com Mick, e que jornalistas estava nos arredores do palácio desde
a noite anterior.
Quando perguntei ao segurança se algum jornalista havia visto Ellie
saindo, recebo uma notificação de Dorothy, pedindo que eu olhe de novo o
noticiário. Agora, eles estavam mostrando cenas de Ellie no meio de uma luta
corporal e seminua com os portões da garagem da família, e ela perdeu feio.
Tenho que me pronunciar agora. Aviso a Dorothy que vou encontrar
com os jornalistas na frente do palácio, e ela pergunta se devo avisar à minha
família.
“Peça-lhes que assistam o meu pronunciamento, porque isso interessa
a eles também”, eu escrevo de volta para Dorothy, torcendo para que minha
bibliotecária favorita NÃO esteja assistindo televisão.
Prefiro que Ellie ouça meu plano pessoalmente, preferencialmente
sem calcinha e com dois dedos meus dentro dela, para que nem tenha
neurônios suficientes para bolar um plano de assassinato contra a minha
pessoa.
Respiro fundo, abro as portas da frente e, com meu sorriso de bom
rapaz, dirijo-me aos jornalistas.
Dez minutos depois, e toda Rodin acha que eu e Ellie estamos noivos.
Que foi? Por que vocês estão me julgando? Eu quis ajudá-la! Quis SIM! Sim,
vocês têm razão, eu também quis ME ajudar, mas, desta forma, os dois
lucram.
Eu lucro, pois poderei ter meu caso tórrido com Ellie e, ao mesmo
tempo, terei a oportunidade de convencê-la que sou SIM seu tipo de homem,
mesmo que não esteja disposto a me casar. Pelo menos, por enquanto.
A vantagem para ela é que sua reputação não será destruída pela
mídia. Jornalistas adoram descobrir meus casos quentes de uma noite, por
mais discreto que eu tente ser sobre a identidade delas. Sempre são as
mulheres que pagam o preço com suas reputações.
Ellie não será exceção, especialmente considerando que ela é
rodiniana e, principalmente, que ela é diretora da biblioteca do qual sou o
patrono real. Não vou permitir que questionem (de novo) se Ellie tem
competência para ficar à frente da biblioteca ou, pior, se ela ganhou o cargo
por minha causa.
Ao entrar de novo no palácio, mais especificamente, na sala da ala da
família onde recebemos convidados para café-da-manhã, brunch, ou refeições
informais, dou de cara com quatro pares de olhos me encarando,
boquiabertos. Meus pais e meus irmãos me observam como se eu fosse um
alienígena reptiliano.
Digo, sete pares de olhos, se eu incluir Tommy, Dorothy e Sarah, que
eu nem sabia que estaria trabalhando hoje. Os três últimos deixam a sala
quando minha mãe solta sua famosa tosse de PRECISAMOS-FICAR-A-SÓS.
É uma tosse conhecida, essa da minha querida mãe.
Geralmente, ela usa quando quer privacidade para dar uma bronca no
papai por não seguir uma dieta, conversar com Charlotte sobre alguma
suspeita de doença na família, aconselhar Max sobre alguma questão de
Estado, ou me dar sermão por conta de alguma fofoca dos tabloides.
Que venha a enxurrada de perguntas.
16
Alex

— Você engravidou a Ellie? — Meu pai pergunta, em tom acusatório.


— Não acredito que Ellie aceitou se casar logo com você! —
Charlotte exclama em tom de descrença.
— Você vai mesmo se casar? — Max quer saber, em um tom de puro
choque.
— Quando você vai se casar? — Mamãe questiona, em um tom de
ansiedade de quem já está pensando nos arranjos do casamento.
Merda. Quando eu tive essa ideia, tinha esquecido do lado
PLANEJADORA-DE-FESTAS da minha mãe. Se tem alguma festa no
horizonte, seja qual for, ela sempre está pronta para planejá-la.
— Como assim, você vai se casar? — Max pergunta de novo, como
se não conseguisse acreditar que, de nós três, logo EU fui o primeiro a ficar
noivo.
Pois é, mano, nem eu esperava por esta. Sabendo que Tommy,
Dorothy e Sarah estão do outro lado da porta, tentando nos escutar, eu
caminho até o lado oposto do cômodo, abro a porta e eles quase caem aos
meus pés.
Os três olham para mim, com expressões similares de falsa inocência
e sorrisos amarelos, e Dorothy ainda tem a audácia de dar a desculpa de que
estavam a postos caso nós precisássemos de alguma coisa.
Observação: meus pais e meus irmãos, depois de me encararem como
se eu fosse um alienígena reptiliano e me questionarem como se fosse um
terrorista, agora me observam como se eu fosse o Cavaleiro do Apocalipse e
tivesse acabado de anunciar o Fim dos Tempos.
Quem acabou de anunciar que está noivo fui EU, que nunca nem
namorei na vida, e ELES estão chocados?
Depois de um silêncio constrangedor, que se arrasta por alguns lentos
minutos, Dorothy limpa a garganta e finalmente tem coragem de quebrá-lo.
— Devo cancelar com o Secretário da Cultura?
— Acho melhor, Dorothy. Acho que minha família está brincando de
estátua.
Ela ri um pouco, e até mesmo as expressões de Tommy e Sarah
relaxam. Olho por cima do ombro: minha família continua a me olhar
petrificada, a não ser por mamãe, que agora está fazendo anotações em seu
caderninho.
Provavelmente, já está planejando a lista de convidados do
casamento.
— Que tal fazermos o casamento no Parque das Rosas, no final do
verão?
Se o casamento fosse acontecer de verdade, o local seria perfeito, e
até romântico. Ellie adora o Parque das Rosas, e eu passei a gostar de lá
também, depois de dar meus primeiros pegas nela.
O lugar virou histórico, vamos combinar.
— Final do verão? — Charlotte finalmente sai do estupor. — Está
muito perto! Temos que dar tempo a Ellie para pensar melhor nisso.
“Pensar melhor nisso”? Obrigado pela confiança, maninha. Quando
tive a ideia, sabia que a notícia chocaria meus pais, mas achei que meus
irmãos ficariam felizes. Charlotte sabe que eu estava tentando conquistar
Ellie, e Max sempre soube que eu era atraído por ela.
— Se demorar demais, ela com certeza vai desistir — Agora é Max
quem me dá seu voto de confiança. Só que não. Gêmeo traíra! — Melhor
marcar logo, mãe. Nada contra você, Alex.
Discretamente, mostro meu dedo do meio para ele em resposta. SE
esse noivado fosse de verdade e SE Ellie não tivesse tanta coisa idiota nessa
lista dela de atributos para seus pretendentes a marido, ela COM CERTEZA
aceitaria se casar comigo.
Aceitaria SIM, parem de balançar a cabeça! O problema de Ellie é
que ela está tão preocupada em procurar o cara que, no papel, seria perfeito
para ela, que não se dá conta de que há um cara – não tão perfeito assim, eu
admito – na vida REAL dela!
A noite passada foi prova de que eu sou o tipo dela; Ellie só precisa
enfiar isso em sua cabeça dura. Ninguém vai irritá-la como eu faço. Que
maior prova ela pode querer de que eu sou exatamente o que ela precisa?
Pessoas que não te irritam são entediantes.
— Precisamos pensar na comida, querida — meu pai, como de
costume, colabora com a futura festa com suas inquietações culinárias. —
Nem todos os convidados estão fazendo dieta, não é mesmo?
— Oh! Os convidados! Precisamos decidir o quanto antes a lista de
convidados!
Deus me livre e guarde. Mesmo se esse noivado fosse de verdade e o
casamento fosse acontecer mesmo, nem morto eu ficaria com a incumbência
de verificar a lista dos convidados.
É o tipo de coisa chata que minha noiva nerd bibliotecária adoraria
fazer, não eu. Viram como nos complementamos perfeitamente até nos
afazeres do nosso casamento de mentira?
Como eu imaginava, Ellie não tarda muito em me ligar. Minha família
está discutindo sobre alguns convidados e onde eles deveriam se sentar, então
aproveito para fugir da sala.
— Onde você está indo, Alex? — minha mãe pergunta.
— Minha noiva está ligando — digo com meu sorriso de cara-fofo-e-
romântico.
Não, nunca usei esse sorriso antes, mas, como agora sou um noivo –
mesmo que de mentira – precisarei de algumas expressões fofas e românticas.
— Ohhhhhhhh! — todas as mulheres do recinto colocam a mão no
peito, e até meu pai seca uma lágrima discretamente.
Max me observa com desconfiança. Ele caminha até mim e me
alcança quando estou com a mão na maçaneta.
— Você não disse a ela que faria o anúncio, né? — ele sussurra, para
que nenhum dos funcionários nos escute. Levanto os ombros em resposta e
ele dá uma gargalhada. — Boa sorte, mano. Vai levar uma bronca daquelas.
— É capaz dela cancelar o noivado agora mesmo — digo de volta,
achando que ninguém pode nos ouvir, mas claro que minha mãe águia
escutou tudo.
— Alexander Elias Van Dyck — ela coloca as mãos na cintura —, vá
logo falar com sua noiva e garanta que o noivado está de pé!
— E avise a ela que estou esperando o convite de madrinha —
Charlotte diz em tom de aviso, deixando claro que não aceitará nada menos
que o papel de madrinha.
— E eu, de padrinho! — meu irmão gêmeo me avisa.
Mas é muita audácia a deles. Depois de desconfiarem do meu
noivado, eles ainda querem ser padrinhos? Mesmo que este noivado fosse de
verdade, eu os deixaria sofrendo um bom tempo, dizendo que ainda não
decidimos até o último momento.
Talvez eu faça EXATAMENTE isso.
— Ah, e pode avisá-la que ela não precisa se preocupar com qualquer
custo do casamento— meu pai comenta com um sorriso. — Mas se a tia dela
quiser preparar um de seus famosos bolos, nós aceitamos doações.
Claro que esta é a prioridade do meu pai.
— Ah, e temos que marcar com ela para vermos o vestido! — Mamãe
comenta, toda animada.
Hum, talvez essa ideia de noivado de mentira não tenha sido das
melhores. Não imaginava que minha mãe ia embarcar nessa tão facilmente
assim. Achei que ela agiria como meus irmãos estão agindo, ela ficaria meio
desconfiada, esperando que Ellie terminasse a qualquer tempo.
Pelo visto, eu me enganei sobre a relação de todos, exceto meu pai,
que está previsivelmente focado na comida.
— Inclusive, se Marie quiser, eu me voluntario para provar os bolos
antes do casamento — meu pai insiste com o diabo do bolo.
Como é que minha mãe pode acreditar que ele faz alguma dieta?
— Preciso atender, senão perderei a noiva.
— Vá logo, Alex! — meu irmão me empurra para fora da sala.
— Boa sorte! — ouço minha irmã dizendo.
— Não estrague tudo, filho — valeu também pela confiança, mãe.
— Não se esqueça do bolo! — adivinham quem falou essa?
Subo correndo até meus cômodos e, por sorte (ou por falta de), Ellie
está insistente, e continua me ligando. Quando estou na privacidade do meu
quarto, respiro fundo e atendo.
***
— Já está com saudades, Ellie? — pergunto, sabendo que vou levar
uma bronca ainda maior por provocá-la.
— Ah, seu...
A partir daí, Ellie passa a me chamar de todos os xingamentos
conhecidos e não conhecidos e não vou repeti-los aqui. Neste momento, eu
descobri que Ellie é a pessoa que fala mais palavras por minuto de Rodin,
porque ela não parou de falar por dez minutos inteirinhos.
Finalmente, quando ela dá uma pausa para respirar (quem aguenta
passar dez minutos sem respirar, de qualquer maneira?), eu aproveito para
tentar acalmá-la. Juro que não vou provocá-la. Digo, juro que vou TENTAR
não provocá-la.
— Posso falar agora, Ellie?
— Pretendia finalizar desligando o celular na sua cara — ela comenta
secamente. — Mas, já que você ouviu como um bom menino, vou deixá-lo
falar.
— Ah, muito obrigado — respondo no mesmo tom seco.
— Mas só vou te dar um minuto.
Não é nada justo, considerando que ela teve dez minutos para me
xingar infinitamente.
Entretanto, como eu pretendo ter um caso quente com ela, e como
cometi o PEQUENO, MÍNIMO, MINÚSCULO erro de ter anunciado um
noivado de mentira (esse não foi o erro) sem falar antes com ela (esta foi a
mancada), vou fazer exatamente o que ela quer.
De repente, a inspiração chega, e eu digo, em menos de dez segundos,
batendo o recorde de Ellie de dizer mais palavras por minuto:
— Eu não queria que minha má reputação manchasse a sua, então, fiz
o pronunciamento sobre nosso noivado. Minha proposta é mantermos nosso
caso, que agora não precisa ser mais secreto, e, quando você encontrar
alguém que seja o seu “tipo”, anunciamos à mídia que você terminou comigo.
Vá por mim, você será a solteira mais desejada de Rodin.
Claro que não vou deixá-la terminar comigo! Nem ferrando. Vou é
usar esse tempo para grudar nela até Ellie entender que nós somos muito
fodas juntos. Não sei se isso vai ou não dar em casamento, porém, mesmo
que o noivado seja de mentira, o que há entre nós definitivamente não é.
Além disso, se ela realmente não quiser ficar comigo, eu vou aceitar.
Ficarei feliz por ela ter encontrado outra pessoa. Não, esta parte é mentira.
Vou me sentir uma merda, e provavelmente vou jogar sujo para mantê-la.
Vale tudo no amor e na guerra, não é?
De uma forma ou de outra, saber que Ellie não será julgada pela mídia
como mais uma das minhas “conquistas de uma noite” já é motivo suficiente
para eu manter esse noivado de mentira. Ellie sempre lutou muito para
conquistar sua posição na Biblioteca, e eu não queria que ninguém
questionasse sua credibilidade.
— Você fez isso para salvaguardar a minha reputação?
Por que ela parece tão surpresa? Sei que posso ser um babaca algumas
vezes, mas não sou SEMPRE um babaca. Além disso, apesar de provocá-la o
tempo inteiro, Ellie ainda não entendeu que eu faria qualquer coisa para
protegê-la?
— Claro, Ellie. Você sempre lutou para manter sua reputação
impecável, eu não me perdoaria se fosse responsável por prejudicá-la de
qualquer forma.
— Ah. Obrigada — praticamente não ouço seu agradecimento.
— Você detesta ter que me agradecer, não é?
— Você não tem ideia — ela resmunga, me fazendo gargalhar.
— Então, eu estou perdoado?
— Bem... Acho... Acho que sim.
— Você me odeia neste momento?
Eu disse que não iria provocá-la, mas simplesmente não resisto.
— Não, não neste momento.
— Então posso lhe falar sobre os preparativos do casório?
— Que preparativos? — ela grita. — Não haverá casório! Ou você
bateu a cabeça nos últimos segundos?
— Eu sei que não haverá casório. Você sabe. Minha família não sabe.
— Você NÃO contou para eles? — uau, ela ficou puta de novo.
E olha que, desta vez, eu não quis provocar. O que ela esperava? Que
eu dissesse para a minha família inteira que queria manter um caso quente
com Ellie, mas, para que a reputação dela não fosse jogada na lama, eu iria
dizer aos jornalistas que estamos noivos quando nem sequer havíamos
combinado as regras do nosso relacionamento?
— Não...
Mal pronuncio a palavra, e ela começa a me atacar de novo. Desta
vez, ouço uma bronca ininterrupta de quinze minutos. Sabem o que é mais
louco? Eu fico excitado. Nunca nenhuma mulher me disse exatamente o que
estavam pensando. Na verdade, NINGUÉM nunca me colocou no meu
devido lugar desse jeito.
Mesmo depois da nossa noite juntos, Ellie não tenta puxar meu saco,
não tenta me agradar. Ela diz o que pensa e esfrega na minha cara, em meio a
xingamentos que ela jamais diria nem na frente de sua tia, o que eu fiz de
errado.
E, pelos quinze minutos de sermão, foi muita coisa mesmo. Tudo que
quero fazer quando ela para de me ofender é ir até a casa da sua tia, me fechar
no quarto dela – SEM o Bruce – e passar o domingo inteiro dentro dela.
— Não acredito que você fez isso! Eles nunca vão me perdoar quando
descobrirem esta mentira!
— Ellie, minha família te adora.
Além do mais, não planejo que eles descubram que é mentira. Vou
postergar esse noivado o máximo possível. Quem sabe, eu e Ellie podemos
ser noivos por tempo indeterminado? Eu definitivamente não me chatearia
com essa possibilidade.
— Eu sei que sua família me adora, por que acha que estou
considerando matá-lo a sangue frio? Não posso mentir para a sua família,
Alex!
— Eles acham que você é uma santa.
— Perto de você, sou mesmo — ela responde toda desaforada,
exatamente o que eu sabia que ela diria.
— E eles acham que eu sou um mulherengo que não te merece.
— Não merece mesmo — mais uma vez, a resposta desaforada que eu
já previa.
Por que eu estou dando abertura para ela me humilhar ainda mais?
Vocês vão descobrir.
— Então o que acha que eles fariam comigo e o que eles pensariam
de você se soubessem que estamos apenas tendo um caso tórrido regado a
muito sexo?
— Hã...
Milagres de fato acontecem: eu consegui deixar Eleanor Beck sem
palavras.
— Por sinal, quando vamos repetir a parte do sexo? — questiono, já
usando meu tom sensual.
— Hã...
O “hã” dela me diz muitas coisas. Me diz, por exemplo, que ela está
apertando as coxas, que seus mamilos ficaram durinhos, que suas bochechas
estão rosadas, e que ela provavelmente está ficando molhadinha.
— Posso passar aí para te pedir em noivado pessoalmente?
Na verdade, o que estou oferecendo é passar na casa da tia dela para
me enterrar nela novamente. Ela entende o recado, pois solta um gemido
baixinho antes de responder:
— Tia Marie está aqui.
Perceberam como o tom dela é de decepção? Eu também estou
decepcionado. Esperava que Marie fosse passar o domingo com Jean Pierre,
bem longe de Bruce Lee. Temos que resolver essa situação o quanto antes.
Não teremos privacidade no palácio, especialmente depois do
pronunciamento de hoje. Minha família não deixará Ellie em paz. Muito
menos teremos privacidade na casa da tia Marie.
Por outro lado, a casa da mãe de Ellie está disponível, vazia, e pronta
para ser muito bem usada no nosso caso tórrido. Para melhorar, Ellie
mencionou que a casa fica em um condomínio fechado, o que ainda nos
oferecerá privacidade dos jornalistas.
Só há uma coisa a fazer.
— Vamos fazer sua mudança HOJE, Ellie.
17
Ellie

Tia Marie passou as duas horas desde o anúncio do meu falso noivado
grudada ao telefone, falando com todas as pessoas que ela conhece, que o
Jean Pierre conhece e, no fim, louca para continuar fofocando, pegou o MEU
caderno de telefones e começou a ligar para os meus conhecidos também.
Ela ligou até mesmo para meus conhecidos da Biblioteca do Senado,
inclusive um senador que nem se lembrava mais da minha existência. Eu
deveria tê-la interrompido quando ela ligou para o Palácio de Buckingham, e
tentou (sem sucesso) falar com a rainha da Inglaterra, mas eu estava ansiosa
demais.
Pelo menos, não precisei falar com a imprensa. Alguns minutos
depois do anúncio de Alex, alguns carros de seguranças da família real de
Rodin apareceram à minha porta, impedindo que os jornalistas nos
incomodassem.
A mídia tampouco conseguiu ligar, felizmente, porque tia Marie não
saiu do telefone. Eu desliguei o celular dela e, depois da minha
conversa/briga/safadezas do Alex, desliguei o meu celular também.
Já era perto das onze da manhã quando a campainha toca. Temendo
que algum jornalista tenha conseguido ultrapassar a barreira dos seguranças,
eu verifico o olho mágico. Do outro lado, vejo toda a família real rodiniana.
Oh, céus.
— Bom dia — tento não vomitar na cara do príncipe e da princesa
reinantes ao abrir a porta.
Os pais de Alex estão aqui, achando que estamos noivos. Os irmãos
de Alex estão aqui, achando que estamos noivos. Alex está aqui, sorrindo
para mim como se fosse o meu MALDITO noivo!
O que diabos ele está aprontando agora?
— Ellie, parabéns! — o tio Peter, pai do meu “noivo” e príncipe
reinante de Rodin, me abraça com força. — Mal posso esperar que você faça
parte da nossa família oficialmente! — ele olha em volta, e começa a farejar
algo. — Sua tia fez bolo?
— Hã... Acho que tem ainda do meu aniversário e... — ele caminha
na direção da cozinha antes que eu possa terminar.
Tudo tem um lado bom: a presença de tio Peter na cozinha
definitivamente vai tirar tia Marie do telefone.
— Querida, estou tão feliz! — desta vez, é tia Brigitte quem me
abraça com força. A princesa reinante de Rodin pode ser magra, mas ela é tão
forte quanto tia Marie — Finalmente Alex tomou vergonha na cara e decidiu
se casar com uma mulher tão maravilhosa quanto você!
Ela me olha com tamanha adoração e amor que eu quero revelar que é
tudo é uma mentira ali mesmo.
Alex me dirige um olhar ameaçador. Ele pode ter errado em muita
coisa, mas ele está certo em um ponto: se nós não participarmos dessa farsa,
minha reputação pode ser destruída, tanto com a população de Rodin, quanto
perante a família real.
Além disso, eu definitivamente não quero incluir a família real inteira
nesta farsa. A única coisa pior do que mentir para eles é pedir que eles
mintam por mim. Por isso, e por eles, eu forço um sorriso no rosto e abraço
tia Brigitte de volta. Em seguida, é a vez de Max me abraçar e plantar um
beijo na minha bochecha.
— Admito que, apesar de torcer muito, nunca imaginaria vocês juntos
— apesar das palavras brincalhonas, o sorriso de Max é encantador, e posso
ver que ele está verdadeiramente feliz.
— Eu nunca imaginaria é que você aceitaria logo o Alex! —
Charlotte me agarra e praticamente me tira do chão com seu abraço. — Max
até vai, mas Alex?
— Eu também jamais imaginaria. — Digo, rindo da animação dela.
— Agradeço novamente pela confiança, Charlotte. — Alex reclama
com a irmã, com cara de que já ouviu comentários semelhantes mais cedo.
Eu imagino qual não foi a reação deles quando Alex fez o anúncio. E,
do jeito que o Alex é, aposto que ele não avisou nada à família antes de dizer
a toda Rodin que nós estávamos noivos.
— Hã... Obrigada a todos pelos parabéns.... — Digo, sentindo-me
uma peça no museu, sendo observada por quase todos os membros da família
real.
O tio Peter deve estar comendo o que sobrou do meu bolo de
aniversário. Eu sempre levava para ele meus bolos de aniversário. Escondida
da tia Brigitte, claro.
— Imagina, querida! — tia Brigitte me segura pelos ombros. — Mas
nós também estamos aqui para ajudar com a mudança e para combinarmos os
preparativos do noivado e do casamento.
Sinto a bile subindo para a garganta, mas me controlo. Há tantos
problemas nesta frase que nem sei por onde começar. Em primeiro lugar:
como assim, a família real vai me ajudar com a minha mudança? Em segundo
lugar, o noivado foi anunciado hoje e tia Brigitte já quer falar do casamento?
Decido, no fim, fazer a terceira pergunta, porque parece mais segura.
— O noivado também tem preparativos?
Para mim, o único preparativo do noivado seria o pedido de
casamento, que Alex, por sinal, NUNCA fez. Vocês provavelmente estão
achando que sou uma tonta, mas a verdade é que nunca me preocupei muito
com esses detalhes.
Sou ótima com detalhes nos estudos, péssimas em detalhes
românticos. Por que acham que o meu primeiro noivado é uma absoluta e
completa FARSA? Ainda por cima, é com a pessoa que mais me irrita no
mundo! Eu realmente sou um desastre em questões amorosas...
— Claro, querida — tia Brigitte responde, rindo. — Primeiro, temos a
cerimônia para mostrarmos seu anel de noivado, depois teremos as fotos
oficiais do noivado e o jantar, claro.
Tem uma cerimônia só para mostrar o anel de noivado? Anel este que
eu nem tenho, já que o Alex, conforme já mencionei, sequer fez o MALDITO
pedido? Mas nada disso é culpa da tia Brigitte, ela só quer ajudar.
Respiro fundo, continuo com o sorriso no rosto, e respondo
docemente:
— Claro, tia Brigitte. Eu estou meio ansiosa, só isso.
Ansiosa para matar o filho dela, isso sim.
— Ah, tenho mais uma novidade! — Céus, o que mais tia Brigitte
quer, uma festa só para celebrar o vestido da noiva também? Outro para
comemorar o véu? — Emmanuel, nosso designer de interiores, já está na casa
da sua mãe vendo os reparos que precisarão ser feitos.
QUÊ?! Além de mentir para eles, a família real ainda vai gastar
dinheiro comigo? Já basta Alex ter pago meu guarda-roupa novo inteirinho!
— Não precisa, tia! Imagina, eu mesma vou fazer...
— Sei que é uma mulher independente, mas a família real precisa
contribuir de alguma forma, afinal de contas, Alex vai morar lá também.
QUÊ?!
COMO?!
ONDE?!
QUEM?!
— Alex vai morar aonde? — pergunto, porque SEI que escutei
errado.
Ele não vai morar na casa da minha mãe.
Ele não quer morar na casa da minha mãe.
Ele não vai conviver comigo vinte e quatro horas por dia na casa da
minha mãe.
— Na casa da sua mãe — tia Brigitte diz como se fosse a coisa mais
natural do mundo.
— QUÊ?! — o grito sai antes que eu possa segurá-lo na garganta.
— Eu fiz a MESMA cara quando soube — Max está às gargalhadas
com a minha desgraça.
— E eu apostei com o Max que vocês vão se matar antes mesmo de se
casarem — Charlotte também parece estar se divertindo bastante com a
situação.
Alex, por outro lado, me encara com a maior cara de pau, me
observando como uma sobremesa a ser devorada. Qual é, Alex? Agora não é
hora de me deixar molhada! Temos assuntos sérios a tratar!
— Claro que não vamos nos matar, Charlotte — Alex diz, sem tirar os
olhos de mim. E dos meus peitos. E de outras partes mais a sul do meu corpo.
— Eu e Ellie já acertamos as nossas diferenças.
Ele está falando da nossa noite de sexo. Se ele acha que me deixar
excitada vai liberá-lo de uma mega BRONCA por mais essa enrascada, ele
está muito enganado.
Claro que vai ter sexo, mas só DEPOIS dele me explicar muito bem
essa história de morar comigo.
— Duvido muito — Max e Charlotte dizem em uníssono.
— Comportem-se! — tia Brigitte reclama. — Onde está seu pai?
Acabando com os doces da casa, com certeza.
— Estou na cozinha resolvendo questões do casamento, querida —
ele se defende, com sua voz abafada de alguém que está com a boca cheia.
Eu entendo o tio Peter. Os doces da tia Marie são DELICIOSOS, o
motivo pelo qual nunca consegui perder minha barriguinha.
— Que questões do casamento? — tia Brigitte questiona, desconfiada.
— Bem, é uma questão. O bolo.
— Peter Auguste, está comendo açúcar e saindo da sua dieta?
Mas com certeza ele está saindo da dieta. Para falar a verdade, eu
apostaria que o tio Peter NUNCA esteve dentro da dieta. Tia Brigitte sai
batendo os saltos atrás do marido.
— Já pensaram na lua de mel? — Charlotte pergunta.
Já somos adultos, mas continuamos evitando determinados assuntos
na frente dos pais deles e da tia Marie.
— Claro que já — Alex diz todo confiante —, mas vou fazer surpresa
para a minha noiva.
Até parece. Ele quer é evitar ser pressionado para acertar a viagem.
— Gente, não é que o Alex sabe ser romântico? — Charlotte ri.
— A não ser que esteja planejando levá-la a Las Vegas — Max
comenta sarcasticamente.
— Não, juro que será um lugar romântico — Alex me abraça e me
olha com tamanha admiração que até eu, que sei que o noivado é de mentira,
fico na dúvida se ele não está realmente planejando nossa lua de mel.
— Alex, que fofo! — Charlotte nos abraça.
A campainha toca, e Charlotte vai saltitando e cantarolando até a
porta atender. Ela está verdadeiramente animada com o noivado.
— Ah, eles chegaram! — Max diz, igualmente animado. Só não está
saltitando e cantarolando como a irmã, felizmente.
— Alguém mais está vindo? — sussurro no ouvido de Alex.
— O Duque de Weliment será nosso padrinho de casamento.
Surpresa!
Discretamente, dou-lhe um beliscão na coxa.
— Se isso for verdade, jogo você no banheiro onde o Bruce está
dormindo — ameaço.
— Brincadeirinha?
Charlotte abre a porta e um grupo de homens com macacões azuis nos
cumprimenta com educação e entram na casa. Mais especificamente,
Charlotte os leva até meu quarto.
— Quem são esses? — pergunto a Alex, quando Charlotte retorna.
— O pessoal da mudança — eles me informam como se fosse tão
natural quanto o pai deles acabar com os doces da casa.
— Como assim, o pessoal da mudança?
— Eles vão levar suas coisas para a casa da sua mãe — é Alex quem
responde. — As minhas já estão lá.
As coisas de Alex estão na casa da minha mãe? Na casa que eu
herdei? Na casa onde eu planejava viver sozinha e em paz?
Eu. Vou. Matar. Esse. Homem.
Neste instante, tia Brigitte retorna da cozinha e evita que eu mate seu
filho.
— Eu insisti que vocês ficassem alguns dias no palácio — tia Brigitte
diz —, pelo menos enquanto a obra estava acontecendo, mas Alex recusou.
— Disse que queria você só para ele — Charlotte comenta com um
sorriso cheio de más intenções.
Bem, eu quero MATAR o Alex por essa história de morar comigo,
mas tem outra coisa que tia Brigitte falou e precisa explicar melhor.
— Que obras?
— Querida, a casa da sua mãe é adorável, Emmanuel me mandou as
fotos. Mas precisa de alguns retoques e alguns confortos, não é mesmo?
Que retoques? Que confortos?
Devo ter ficado verde de repente, porque Alex me segura pela cintura
e me arrasta para o quintal da casa.
— Onde estão indo, querido? — ouço tia Brigitte perguntar.
— Acho que eu e Ellie vamos até o quintal para tomarmos ar fresco
— ele diz por cima do ombro.
Que bom que ele ainda está funcionando, porque acho que meu
cérebro entrou em curto-circuito.
— Eu disse que ela está grávida, mãe! — são as últimas palavras que
ouço antes de sairmos para o quintal.
18
Alex

Fogos sempre explodiram quando eu e Ellie brigávamos, mas, agora


que eu passei a noite com ela, parece que tudo ficou ainda mais intenso e
sexual que antes. Só de ver sua expressão zangada e agitada, fico semiereto.
Não tenho ideia como posso estar excitado de novo depois de tantas
vezes que eu estive dentro dela à noite. E nesta gloriosa manhã também. Ellie
é claramente inexperiente, senão saberia que não é comum nenhum homem
fazer amor com uma mulher tantas vezes seguidas.
Sempre adorei sexo, mas jamais foi desse jeito, tão intenso, tão
provocante e sexy, e, ao invés de me sentir completamente satisfeito, eu a
desejo ainda mais, com um tesão ainda mais intenso.
Sabendo que ela está prestes a explodir (e não do jeito bom), e sem
querer que ela acabe desembuchando algo que não deveria na frente da minha
família, eu praticamente a arrasto até o quintal de tia Marie, e fecho a porta
atrás de nós, para que ela possa reclamar à vontade.
— Explique-se! — ela exige, colocando as mãos na cintura.
Do que exatamente ela está falando? Será que é sobre o anúncio do
noivado falso? Pode ser também sobre a mudança. Talvez seja o fato de que
eu vou morar com ela. Ou seriam as obras que Emmanuel já começou a
planejar?
Estou no meio de uma guerra, e é uma travada com uma das pessoas
mais inteligentes e afiadas que já conheci. Terei que ser meu próprio
advogado. O que um advogado me aconselharia a dizer neste momento?
Provavelmente, algo que não me comprometa ainda mais.
— A culpa não foi minha — respondo genericamente.
Pronto, é isso. Quando você é acusado de um crime (ou, no meu caso,
múltiplos crimes), o melhor a fazer é declarar inocência.
— A culpa SEMPRE é sua, Alex! — Ellie me acusa.
Nossa, como ela é dramática. Nem sempre a culpa é minha.
— Você preferiria morar no palácio, Ellie?
— Claro que não! — ela responde entredentes, as mãos fechando-se
em punhos. — Preferiria morar SOZINHA!
Pois eu preferiria que ela morasse na minha cama, eternamente nua e
molhada. Infelizmente, nem sempre temos o que desejamos.
— A mídia nunca acreditaria que estamos noivos se não morássemos
juntos, Ellie!
— Não precisariam acreditar em nada se não tivesse inventado esse
noivado de MENTIRA, Alex!
— Não precisaria ter inventado o noivado de mentira se você tivesse
me esperado, como EU pedi, e não tivesse sido vista brigando seminua com o
portão da minha garagem!
Sim, eu a silenciei com essa. Eu funciono bem no papel de meu
próprio advogado. Ellie abre a boca algumas vezes, tentando responder, mas
nada sai.
A verdade é que a mídia não teria muita credibilidade apenas com a
versão da Sra. Burnell. Foi a cena dela saindo da ala familiar do palácio esta
manhã que ajudou a suportar a narrativa da farmacêutica mais indiscreta de
Rodin.
Por outro lado, mesmo que não houvesse todas as fofocas e
suposições, ainda assim eu daria um jeito de passar ao menos cinco noites por
semana na casa de Ellie, e seria muito complicado fazê-lo às escondidas, não
é mesmo?
Nada melhor do que poder ter meu caso tórrido com Ellie às claras.
Além de gostar da sua companhia na cama, me divirto muito com ela fora da
cama também. Sem contar que, enquanto ela me tiver por perto, posso ficar
de olho e garantir que ela não vá se apaixonar pelo primeiro idiota que diga
ser fã de Tolkien ou Jane Austen.
Se eu já sentia uma certa possessividade sobre Ellie antes, agora estou
preparado para jogar sujo caso ela encontre um homem que seja seu “tipo”.
Não farei nada que a machuque, claro, mas um pouco de jogo da sedução
nunca fez mal a ninguém, não é mesmo?
Sei o que vocês estão pensando: nossa, como você e um babaca!
Disse que esse caso só duraria enquanto Ellie não encontrasse a pessoa certa.
Pois eu lhes respondo o seguinte: e se a pessoa certa para ela (neste
caso, EU) estiver debaixo do nariz dela, e ela não se der conta por causa de
sua fixação por um homem que ela ACHA que seja seu tipo?
Ellie continua buscando algo para responder, sem sucesso. Depois de
minutos em silêncio, ela finalmente resmunga:
— Eu te detesto neste momento.
Eu a puxo pelos quadris e aproximo nossos corpos, erguendo-a um
pouco para que ela sinta como eu não a detesto nem um pouquinho sequer.
— E eu estou louco para te comer gostoso neste momento, Ellie —
sussurro contra seus lábios, passando a língua por sua boca deliciosa.
— Alex! — ela tenta reclamar, mas a palavra sai como um gemido.
— Podemos fugir daqui sem ninguém perceber — digo, mordiscando
a pele de seu pescoço, acariciando seus seios, apertando sua bunda gostosa.
— Eles estão tão ocupados com a mudança e tudo.
— Com a MINHA mudança, você quer dizer — ela resmunga de
novo, mas deixa a cabeça cair para trás, me oferecendo mais acesso ao seu
pescoço.
— Que virou minha mudança também, Ellie — eu a recordo, e ela
solta um resmungo, que acaba virando um gemido quando eu belisco um
mamilo de leve.
— Não quero seus pais gastando dinheiro comigo — ela arfa,
enquanto eu tento abrir o zíper de suas calças para verificar se ela já está
molhada.
Aposto comigo mesmo que ela já está encharcada.
— O custo com as obras sairá da minha conta pessoal — explico,
ciente de que Ellie detesta que paguem coisas para ela. Já que eu vou morar lá
também, por tempo indefinido, achei que o mínimo a fazer seria contribuir
com as reformas e móveis, já que a casa pertence a ela — Considere um
presente de aniversário.
— Você já me deu aquele livro caríssimo! — ela reclama, e morde os
lábios quando minha mão chega no elástico de sua calcinha.
— Considere então um presente de noivado — digo, chupando o seu
lábio inferior entre meus dentes, ao mesmo tempo que minha mão alcança
seu brotinho e começa a massageá-lo com o polegar.
Desta vez, ela leva longos minutos até conseguir forma a frase:
— Nosso noivado é de mentira, Alex.
— Considere um presente pelo início do nosso caso tórrido, então —
sussurro contra seus lábios, mas aí ela se dá conta de que não está
conseguindo pensar direito com minha mão em seu brotinho e se afasta de
mim.
Com a respiração entrecortada, os lábios inchados e as bochechas
rosadas, ela fecha as calças de novo, sem tirar os olhos dos meus quadris,
onde muita movimentação está acontecendo.
— Não sou uma qualquer para ganhar ESSE tipo de presente, Alex!
— ela diz em tom acusatório.
Claro que ela não é uma qualquer. Como ela pode achar isso? Eu
nunca nem assumi um namoro. Por Ellie, não só estou disposto a assumir que
estamos juntos como também eu anunciei que vou me casar com ela.
Será que vou me casar mesmo? Provavelmente não agora, talvez em
alguns anos, mas, de qualquer forma, nunca nem tive vontade de morar com
uma mulher antes, e mal posso esperar para me mudar com Ellie.
Sem conseguir ficar separado dela, eu a puxo de novo pelos pulsos,
pressionando seu corpo contra o meu, segurando seus braços para trás,
impedindo que ela me empurre de novo.
— Deixe de ser uma INGRATA e simplesmente me agradeça, Ellie.
Você vai amar as mudanças, eu juro.
Ela me encara e vejo em seus olhos quando ela aceita meus termos.
— Tudo bem, mas deixa que eu compro os móveis e decoração.
Claro que ela não aceitaria tudo tão fácil.
— Não se preocupe com os móveis: Emmanuel vai usar móveis
antigos do palácio que estão empoeirando no depósito de qualquer maneira
— enquanto falo, sua cabeça balança enfaticamente.
— Não, não posso aceitar tantos presentes!
— Não são presentes. Você vai salvar esses móveis de uma prisão
perpétua no depósito do palácio. Você está nos fazendo um favor.
Seus lábios viram uma linha, sua expressão de pura indignação e
desconfiança. Ela abre a boca para me responder, quando somos
interrompidos.
***
— Querrrridossss! — Emmanuel diz animadamente com seu forte
sotaque francês, nos separa e nos abraça, como se fôssemos velhos amigos.
Eu mal o conheço, porque ele foi contratado quando eu vivia no
Reino Unido, e Ellie nunca o viu antes. Emmanuel é uma figura singular,
devo admitir: toda vez que os vejo, seus cabelos estão de uma cor diferente,
que sempre parece combinar com suas roupas.
Hoje, as longas madeixas encaracoladas estão com uma coloração
azulada, combinando com seu terno azul marinho. Ele deve ter por volta dos
cinquenta anos, mas não há qualquer ruga em seu rosto.
— Bom dia, Emmanuel — digo, quando ele me solta de seu abraço.
— Ellie, este é o Emmanuel, Emmanuel esta é...
— Clarrro que sei quem é! A noiva com as mais belas pernas da
Eurrropa!
Tusso para disfarçar a gargalhada, porque Emmanuel, por mais que
tenha boas intenções, acabou de fazer o elogio que Ellie menos queria ouvir
neste momento. Eu não poderia concordar mais com ele: as pernas de Ellie
são lindas, especialmente quando ela está lutando contra um portão de
garagem.
— Hã... Obrigada?
— Querrrrida, a casa da sua mãe está em ótimo estado, só vai
prrrecisar de alguns retoques de tintas — Emmanuel explica, ignorando o
tom de vermelho-pimentão que tomou conta do rosto de Ellie. — Não há
problemas elétricos ou hidrrrráulicos.
— Sim, tia Marie e eu fizemos algumas obras de fiação uns cinco
anos atrás.
— Agorrra, a situação do quintal é terrrrível — ele anuncia, com uma
expressão preocupada.
— Em que sentido?
— No sentido que precisarrrremos fazer uma obra geral.
— Mas eu não... — eu a interrompo com uma ideia que sei que nem
mesmo Ellie vai resistir.
— Ellie adora o Parque das Rosas. Poderia se inspirar nele para
reformar o jardim, Emmanuel.
— Eu não... Digo, adoro o Parque das Rosas, mas eu não...
— Perrrfeito! — Emmanuel bate palminhas. — Vou começar amanhã
mesmo! Agorrra, vou até o palácio selecionar os móveis para a nova casa dos
pombinhos!
Antes que Ellie possa reclamar do novo presente (um jardim inspirado
em seu parque favorito), Emmanuel nos deixa, praticamente saltitando até a
casa. Esse aí realmente gosta de reformas.
— Aposto que você me detesta agora, não é? — pergunto a minha
falsa-quem-sabe-verdadeira-no-futuro noiva.
— MUITO! — Ellie reclama, e bate o pezinho.
Felizmente, eu sei exatamente como arrancar essa cara de pura fúria
do rosto dela.
— E se eu pedir para o Emmanuel colocar uma fonte no meio do
jardim?
Ellie ama fontes. Quando era pequena e nos visitava no palácio,
entrava nas fontes como se fossem piscinas, e acabava me convencendo e
Max também a entrarmos nas brincadeiras dela. Sempre acabávamos
encharcados dos pés à cabeça.
— Eu...
Viram como ela está com dúvida? Viram como começou a ficar
interessada?
— E se colocarmos bancos de madeira em volta da fonte, para você
poder ler enquanto relaxa em seu jardim de rosas? — comento, porque sei
como ela ama passar tardes de domingo lendo em parques.
Vejo seus olhos brilharem, e um pequeno sorriso surge em seus
lábios. Ellie está MUITO interessada na minha proposta. Segundos depois,
ela volta a ficar séria.
— Ainda assim...
— E se nós incluirmos um gazebo daquele estilo antigo, para você
poder curtir o jardim mesmo na época de chuva? Até no inverno rodiniano?
— eu a interrompo de novo e, desta vez, apostaria todos os meus bens que ela
não vai mais reclamar.
— Oh! Um gazebo só meu? Eu AMO gazebos! — ela sorri como uma
criança, e começa a caminhar pelo quintal de tia Marie, provavelmente já se
imaginando em seu novo jardim.
— Eu sei, Ellie.
A verdade é que eu sei quase tudo sobre ela. Não é apenas o fato de
nos conhecermos desde pequenos: sempre fui interessado em todos os
detalhes sobre Ellie, em todos os seus interesses e desinteresses. Agora, posso
usar essa minha obsessão a meu favor.
Desde que tenho uns doze anos de idade, lembro-me dos piqueniques
mensais que Ellie marcava, como desculpa para usarmos os antigos gazebos
dos muitos parques de Rodin.
— O gazebo poderia ficar perto de onde há as árvores frutíferas! — a
expressão dela é de puro deleite, e eu me sinto muito foda por saber que fui
EU o responsável por colocar essa expressão em seu rosto.
— Acho uma ótima ideia, Ellie. E não se preocupe, falarei com o
Emmanuel para mantermos todas as árvores frutíferas.
— Mas como vai caber tudo isso lá? O quintal não é muito grande...
— Claro que é. Sua mãe também tem direito à propriedade dos
fundos.
A mãe de Ellie herdou uma propriedade considerável, mas a dividiu
em dois terrenos menores, para poder alugar o dos fundos, onde há uma
construção de uma quitinete de quarenta metros quadrados, que eu pretendo
transformar em um amplo escritório e biblioteca.
— Sim, mas a propriedade dos fundos está alugada para a Sra. Lutty
— Ellie comenta, desanimada, achando que perdeu seu quintal dos sonhos.
Sabe de nada, inocente.
— Não se preocupe, Ellie. Quando Emmanuel chegou na propriedade
da sua mãe esta manhã, a Sra. Lutty ficou sabendo que a casa seria preparada
para a nossa mudança e ela graciosamente decidiu nos dar total privacidade!
Isso e a promessa de que a Sra. Lutty receberia convites para o Baile
Dourado anualmente, pelo resto de sua vida.
— A Sra. Lutty aceitou sair? — ela questiona, incrédula.
— Sim, ela disse que vai morar com a filha dela, na Itália. Ela está
bem debilitada, pelo que Emmanuel me disse.
— Eu e Becca, a filha da Sra. Lutty, estamos tentando convencê-la a
se mudar para a Itália há quase dois anos, para que a filha e os netos cuidem
dela!
— Viu como nosso noivado de mentira foi uma ótima ideia? Até a
Sra. Lutty está torcendo por nós.
Ellie revira os olhos teatralmente, e eu a puxo pela nuca lhe dou um
beijo profundo. Quando separo nossos lábios, os olhos dela estão repletos de
prazer.
— Já disse que te detesto hoje, Alex? — ela me provoca.
— Já disse que é uma ingrata hoje, Ellie? — provoco de volta.
— Obrigada, Alex.
19
Ellie

Apesar de todas as enrascadas nas quais Alex me meteu, admito que o


restante do nosso domingo foi incrível. Sempre adorei a família dele, e
sempre fui tratada como parte dela, mas agora, que estamos “noivos”, minha
relação com eles ficou ainda mais próxima.
Não quero mentir para eles de jeito nenhum, estou me sentindo muito
culpada, porém, ao mesmo tempo, nunca me senti tão amada antes. Não me
levem a mal, sempre recebi muito carinho da tia Marie, mas sempre senti
falta de figuras paterna e materna, e nunca pude ter irmãos.
No fim do dia de ontem, eu estava tão feliz e à vontade que até tinha
esquecido a história do noivado de mentira. Isto é, até chegar no escritório
nesta manhã. Pela primeira vez desde que me tornei diretora, os funcionários
chegaram antes das oito e meia, até mesmo antes de mim.
Todo mundo está aqui. Todo mundo mesmo, até os funcionários do
segundo turno. Mathias é o primeiro a me dar parabéns, ao mesmo tempo que
belisca meu braço por ter descoberto do meu “noivado” juntamente com
todos de Rodin. Entra na fila, Matt, porque EU também descobri do meu
noivado junto com todo mundo.
Ontem, quando a família real estava se despedindo, eu perguntei a
Alex se deveríamos contar a alguém sobre a parte do noivado ser uma farsa, e
ele deixou que eu decidisse. Sei que posso confiar em Matt, mas não tenho
certeza de que ele vai gostar muito de ter que guardar um segredo desses.
Ainda preciso pensar direito no assunto, então só sussurro em seu
ouvido que vamos conversar melhor depois, quando estivermos a sós. É uma
promessa segura, porque duvido muito que eu vá conseguir ficar sozinha nos
próximos dias, então terei tempo para decidir o que fazer.
Assim que Matt me solta, os funcionários fazem uma grande fila para
me cumprimentar. Depois de meia dúzia deles, nem presto mais atenção no
que estão dizendo.
— Parabéns, Ellie! — uma das recepcionistas deseja.
— Desejo-lhe o melhor, minha querida! — A Sra. Seraphine está com
lágrimas nos olhos, de tão emocionada.
Gente, como ela é uma fofa!
— Ellie, posso levar meu primo Ozzie para o seu casamento? —
Quem fez esta pergunta é Anne, a nova estagiária da Sra. Seraphine.
O que a Sra. Seraphine tem de fofa, Anne tem de cara de pau. Gente,
mesmo que esse noivado fosse de verdade, ele foi anunciado ONTEM, e a
mulher já quer estar na lista de convidados?
Além disso, desde que ela começou a trabalhar com a Sra. Seraphine,
acho que mal trocamos duas frases. Agora, Anne me abraça como se
fôssemos irmãs siamesas.
— Você será uma noiva linda, Ellie! — um dos seguranças diz.
Ele acabou de ganhar um aumento.
— Com certeza vai colocar a Meghan e a Kate no chinelo, amiga!
Mais um funcionário que garantiu o aumento.
Depois de tantos abraços, e desejos de parabéns, e pessoas se
autoconvidando para o meu FALSO casamento, eu não aguento mais sorrir,
agradecer, fazer promessas vazias de convite.
Tudo o que quero é entrar no meu escritório, fechar a porta, e
trabalhar em silêncio pelo resto do dia. Com o aumento do orçamento, vem
também mais trabalho para garantir que o dinheiro extra terá o melhor uso
possível, o que envolve muita pesquisa, decisões difíceis e várias
negociações.
Olho para o relógio enquanto estou no elevador e fico chocada com o
horário: cheguei hoje às oito e dez em ponto. Já são quase nove! Não acredito
que perdi quase uma hora de trabalho agradecendo por um noivado DE
MENTIRA!
Por sinal, onde diabos está Alex? Ele se convidou ontem para dormir
na casa da tia Marie, e eu, óbvio, o expulsei. No fundo, estou bem animada
para passar outras noites quentes com Alex, mas preciso fazê-lo pagar por
tudo que ele aprontou sem combinar antes comigo.
Sim, eu gostei do plano dele de noivado. Ao mesmo tempo em que ele
salvaguardou minha reputação, ainda garantiu que vamos poder nos ver sem
fofocas, até eu encontrar meu futuro marido.
Sim, depois de passado o choque inicial, também curti a ideia de
morar com ele. Alex pode ser irritante, mas ele também é uma companhia
divertida, e admito que a noite que passei em seus braços provavelmente foi a
melhor da minha vida.
Além disso, apesar de achar que queria morar sozinha, provavelmente
eu me sentiria solitária. Bruce é uma ótima companhia, quando ele não está
me ignorando ou correndo atrás de pássaros e gatas no cio.
Por outro lado, Alex não sabia que eu aprovaria essas ideias, e
arranjou tudo sem a minha expressa autorização. Por isso, vai pagar com uma
noite sem sexo. Ele ficou com a cara arrasada quando eu disse que não queria
dormir com ele, e ainda ficou pior quando eu neguei uma carona hoje de
manhã.
Alex sabe fazer cara de cachorro abandonado melhor do que ninguém.
Quando cheguei à biblioteca, eu já havia decidido perdoá-lo e que o
castigo era suficiente, mas isso foi antes de perder quase uma maldita hora
falando de um noivado que não existe.
E onde diabos Alex está, enquanto eu perco quase uma hora de
trabalho? Em seu novo escritório, como se nada tivesse acontecido, lendo
calmamente seu jornal.
É quando eu me dou conta: Alex chega SEMPRE às oito e meia. O
que significa que ele chegou enquanto eu falava com uma fila de funcionários
e, ao invés de ser um bom noivo de mentira e me apoiar, ele entrou
sorrateiramente para não precisar falar com ninguém.
— Eu. Vou. Te. Matar — ele olha para cima ao ouvir minha voz e
abre um de seus sorrisos arranca-calcinha.
Estou tão irritada que seu sorriso quase não me atingiu. Foco no
QUASE.
— Bom dia, amor da minha vida, princesa da minha masmorra, cereja
do meu bolo, lenha da minha fogueira, descarga do meu vaso sanitário — ele,
como sempre, me provoca.
— Deixa de ser ridículo — pego o café dele e dou um gole. Hum...
Alex traz café do palácio, que é o melhor de Rodin. Este vai ficar comigo,
como pagamento por ter me largado sozinha no saguão da biblioteca. — Não
acredito que você nem me ajudou lá embaixo.
— Achei que seria um bom treinamento com seus futuros súditos —
ele comenta sarcasticamente.
— Já te disse hoje o quanto eu o detesto?
— Já te disse hoje o quanto você é ingrata?
Mando língua para ele, que ainda tem a audácia de rir da minha cara.
Se eu não estivesse louca para dormir nos braços dele de novo, o deixaria de
castigo mais uma noite. O problema é que o castigo acabaria me atingindo
também...
Como posso fazê-lo pagar por mais esta? Como se alguém lá em cima
tivesse ouvido minha prece, o telefone toca. Vejo que o telefone é
desconhecido e atendo antes que Alex ou outra pessoa possa fazê-lo.
Quando Alex se levanta, eu já me tranquei no meu escritório.
— Alô? — uso minha voz simpática.
— Bom dia, gostaria de confirmar se o príncipe realmente se casará
com aquelazinha sem graça?
Aquelazinha sem graça?
AQUELAZINHA SEM GRAÇA?
Ouço um som de clique, e sei que Alex também está ouvindo. Melhor
assim: é bom ele saber o que acontece quando ele me abandona sozinha com
meus “súditos”.
— Não, senhora — mantenho o tom neutro, apesar de querer mandá-
la para algum lugar onde o sol não bate. — Não posso confirmar se haverá
casamento.
— Oh? — o tom daquelazinha que me chamou de aquelazinha sem
graça fica animado.
Ah, mas não vai durar muito tempo.
— Tudo dependerá se o príncipe estará bem o suficiente.
Ouço um som de grunhido, e sei que é de Alex. Ele sabe muito bem o
que estou prestes a fazer. Senhoras e senhores, mais uma fofoca será criada
sobre o príncipe mais bad boy da Europa.
— O príncipe está doente?
— Não sabia, queridinha? Ele está com peste bubônica.
Alex arqueja baixinho; felizmente, a garota do “aquelazinha sem
graça” grita no mesmo instante, abafando os xingamentos dele.
— Peste bubônica? É por isso que ele não tem ido ao Club?
O Club é uma boate VIP de Rodin, onde os frequentadores precisam
ser convidados pelo dono para conseguirem acesso. É considerado um dos
locais mais requisitados da Europa, e muitas celebridades (e um príncipe bad
boy) já passaram noites regadas a música eletrônica lá.
— Sim, o príncipe está de quarentena — uso uma voz penosa, de
extrema (e falsa) preocupação). — Talvez, ele e a Srta. Beck tenham
inventado essa história de casamento para justificar o sumiço dele do palácio.
— Quando acha que ele sai de quarentena?
Ela está falando sério? Eu acabei de dizer que o homem está com
PESTE BUBÔNICA e ela ainda quer saber quando ele sai da quarentena?
Gente, se Alex de fato pegasse peste bubônica nem enrolada em plástico
celofane eu aceitava chegar perto dele.
Preciso assustar ainda mais essa mulher.
— Acho que ainda deve demorar. Vai ter que esperar passar os
vômitos, a confusão mental e, claro, o pus.
— Pus?
FINALMENTE, ela parece preocupada com o estado de saúde (e de
nojeira) dele.
— Sim, precisamos esperar que sarem os linfonodos, que mais
parecem espinhas gigantes vermelhas escuras espalhadas por todo o corpo.
Ele tem três assistentes que passam o dia drenando o pus de todas as suas
espinhas gigantes e... Alô?
Ela desconectou a linha. Com meu sorriso vitorioso, abro a porta e
dou de cara com Alex. Ele invade meu escritório e fecha a porta atrás de si.
— Vai pagar por esta, Beck.
— Como vai me fazer pagar por essa, Vossa Alteza?
Ele me puxa pela nuca, até nossos lábios estarem se tocando e nossos
bafos se misturarem.
— Na cama, esta noite.
Uhuuuu! Se ele sempre me fizer pagar assim, vou criar doenças para
ele todos os dias!
— Quem disse que eu vou continuar saindo com você depois do que
aprontou? — digo, só para me fazer de difícil
Ele merece! Bem, merecendo ou não, ele sabe que não vou resisti-lo,
especialmente quando a língua dele passa pelos contornos dos meus lábios.
— Deixa de fingir que não me quer, Beck — ele sussurra com seu
tom de vou-acabar-com-você-na-cama. — Nós dois sabemos que, a esta
altura, você já está molhada.
Estou encharcada. Deve ter uma poça na minha calcinha e tudo. Mas
isso não quer dizer que vou admitir derrota.
— Humph — resmungo.
— Você me detesta agora? — ele me pergunta, enfiando o nariz no
meu pescoço e mordiscando meu lóbulo do jeito que me deixa arrepiada dos
pés à cabeça.
— Humph — meu resmungo sai mais como um gemido.
— Eu preparo um jantar hoje para nós dois, para comemorarmos a
nossa casa nova.
Estou mais interessada na sobremesa, mas aceito que ele prepare o
jantar, especialmente se estiver usando apenas o avental. Nossa, preciso me
lembrar de comprar um novo avental, e um BEM pequeno.
— Você quer dizer, a MINHA casa nova que VOCÊ invadiu —
provoco.
— Você vai gostar da minha companhia à noite, vá por mim.
Com certeza vou.
— Acho que Bruce é quem não vai gostar.
— Ah, mas eu tenho outra surpresa.
— Ah, não! O que você vai fazer com Bruce?
— Nada, juro! Mas garanto que ele vai gostar da minha surpresa —
ele me dá um beijo e sai do escritório.
20
Ellie

Alex acabou tendo que resolver assuntos fora da biblioteca hoje,


então, às seis, eu saio sozinha do edifício. O sol ainda não se pôs, e a
temperatura está agradável, por isso decido ir caminhando até a casa de
mamãe. Digo, até minha nova casa. Digo, até minha nova casa e do meu
noivo de mentira.
Vejo que alguns jornalistas me aguardam do lado de fora da
biblioteca; pelo menos, eles não tentaram invadir durante o dia, apesar de
terem ligado diversas vezes para o número geral pedindo uma entrevista.
Instruí as recepcionistas a dizerem aos jornalistas para falarem com a
assessoria de imprensa do palácio, e, aos poucos, as ligações foram
diminuindo, até cessarem por completo.
Porém, se eu sair agora pela porta da frente, sei que vão me segurar
pelo menos uma hora, e não quero perder Alex fazendo nosso jantar com o
avental que comprei hoje na hora do almoço para ele. É minúsculo, rosa, não
vai esconder seus músculos, e vai deixar sua bunda durinha de fora. Ou seja,
é perfeito.
Quando chego à porta dos fundos, que dá acesso ao estacionamento
privativo dos funcionários, recebo uma ligação do Alex.
— Onde está, Ellie?
— Saindo da biblioteca — digo. — E comprei um presente para você.
— Pelo seu tom, é um presente sexy. Vou passar aí para buscá-la.
— Não precisa, posso ir a pé.
Passei os últimos anos indo e voltando da biblioteca sem carro,
apenas com meus pés ou minha bicicleta elétrica. É uma das formas mais
agradáveis de garantir que farei ao menos meia hora de exercício físico por
dia.
— Vai caminhar oito quarteirões com esses saltos? Além da ladeira.
Hum, não tinha pensado por esta perspectiva. O condomínio onde fica
a casa que herdei da minha mãe é bem mais distante que a casa da tia Marie,
e a ladeira a que Alex se refere é bem acentuada, do tipo de ladeira que vai
me fazer torcer o pé, ou pior: ficar tão cansada que nem terei energia para
Alex hoje.
— Pode vir me pegar no estacionamento.
O carro de Alex aparece no estacionamento assim que termino a frase,
como se ele tivesse sido teletransportado pelo Harry Potter. Ele sai do carro e
abre a porta para mim.
— Vamos logo, Ellie — ele me dá um tapa na bunda quando passo
por ele.
Eu devolvo passando a mão pela sua virilha. Ele solta um gemido, me
lança um olhar ameaçador, mas não faz mais nada. Me ajuda a subir no carro,
e passa as mãos pelas minhas coxas quando a saia sobe. Ele coloca a saia no
lugar, fecha a porta e dá a volta no carro.
Ouço um som vindo da parte de trás e, quando olho, vejo uma caixa
para transportar animais.
— O que é isso? — pergunto, virando a abertura da caixa na minha
direção.
— A surpresa de Bruce — ele diz, e acende a luz interna do carro
para eu conseguir ver o que há dentro.
É uma gata. E muito fofa. Ela é laranja, com listras que a fazem
parecer uma pequena tigresa. Bruce parece um pequeno panda, com as costas
pretas e a barriga e o rosto brancos. Eles serão perfeitos juntos.
— Ainnnnnnnn! Ela é tão linda!
Eu abro a pequena porta da caixa e ela vem para os meus braços,
ronronando. Alex liga o carro e dirige devagar, para não assustá-la. Ela dá
meia dúzia de voltas no meu colo e se deita, enrolando como uma bolinha.
Gente, não aguento tanta fofura! Quando paramos em um sinal, Alex
estica o braço e afaga atrás das orelhas dela.
— Ela estava andando nos jardins do palácio há semanas, e até o
veterinário do Luke gostou dela, e lhe deu vacinas — ele explica, se referindo
ao cachorro de tia Brigitte. — Sempre que me via, ela se enroscava na minha
perna, muito carinhosa. Decidi que nós poderíamos adotá-la.
— Tadinha! Quem tem coragem de abandonar um bichinho desse
jeito? — ela está ronronando tanto que meu corpo inteiro vibra. — E ela é tão
carinhosa.
— Por isso mesmo podemos dar uma nova casa a ela — ele diz, e
segura minha mão.
— E um namorado também — eu recordo, sem imaginar o que vai
acontecer nesse encontro histórico.
Do jeito que o Bruce adora TODAS as mulheres que visitavam a casa
da tia Marie, eu aposto que ele vai adorá-la. Mas, como ela vai se comportar,
ninguém sabe. Fêmeas são bem mais difíceis de conquistar que machos. Nós
somos divas, né? Com licença.
— Minha expectativa é que ela seja também uma distração para
Bruce.
A gatinha olha para cima, os seus grandes olhos verdes me
observando com um olhar de gratidão que me deixa com o peito apertado.
Ela é muito linda mesmo. Para o Bruce, será amor à primeira vista com
certeza.
— Duvido que Bruce vá querer dormir comigo agora.
— Ah, mas não se preocupe que outro felino vai manter sua cama
aquecida — Alex aperta minha mão de novo.
— Convencido.... — digo, mas óbvio que já estou encharcada de
novo. — Qual é o nome dela?
— Katniss — ele diminui a velocidade para fazer uma curva e
aproveita para fazer mais carinho em Katniss. De onde conheço esse nome?
— Mas eu a chamo de Kat.
— Katniss, de Jogos Vorazes?
Tipo, uma das heroínas mais badass de todos os tempos literários?
— Sim. Ela pode ser fofa, mas também sabe meter o pau quando
precisa.
Gente, eu AMEI essa gata!
— Como você sabe?
— Um funcionário tentou dar uma bronca nela quando a viu atrás de
um passarinho. Ela só faltou arrancar o nariz dele — ele gargalha.
— Ela será perfeita para Bruce — digo, coçando o pescoço dela.
— Exatamente o que pensei.
Nós paramos na portaria neste momento, onde três seguranças
(armados, por sinal), verificam o carro e os ocupantes.
— Estranho — comento com Alex, depois que os seguranças nos
liberam e entramos no condomínio. — Não me lembrava de haver seguranças
armados na portaria.
Geralmente, à noite, quem trabalhava era o Sr. Clark, um idoso de
quase oitenta anos que trabalha como porteiro do condomínio desde que
minha mãe era criança. Hoje, entretanto, não vejo o Sr. Clark em lugar
algum.
— Minha mãe e Max decidiram fazer um upgrade no sistema de
segurança, mas, até não ficar pronto, haverá mais seguranças por aqui....
Alex pega um pequeno controle remoto e o usa para abrir a porta da
garagem da casa de mamãe. Da minha nova casa. Do meu novo lar.
— Hum... Pelo visto, não foi só isso que vocês mudaram na casa.
Eu me lembro claramente que, na última vez em que estive aqui, a
porta da garagem não só não era automática como também estava
enferrujada, e eu e tia Marie levamos quase dez minutos tentando abri-la até
desistirmos e estacionarmos na rua mesmo.
Alex me dirige um sorriso e sai do carro. Mais uma vez, abre a porta
para mim, me ajuda a sair com Katniss no colo, e pega a minha bolsa.
Quando chegamos à porta da casa, ele segura Kat para que eu possa pegar as
chaves.
— Chegou o momento da verdade — ele sussurra, quando encaixo a
chave na fechadura.
Tia Marie me ligou avisando que traria o Bruce na hora do almoço.
Sei que ela fez isso para arranjar uma desculpa para checar como a casa ficou
depois que Emmanuel trouxe os móveis do palácio. Não tenho ideia de como
está, mas tia Marie aprovou.
Quando entramos, eu fico paralisada. Não, eu não gostei. Eu
simplesmente amei. É como se Emmanuel tivesse entrado na minha cabeça e
tivesse selecionado tudo que eu mais gosto, tivesse arranjado a casa
EXATAMENTE como eu queria, mesmo sem me conhecer direito ou ter
perguntado sobre meu gosto.
A parte da frente da casa é um espaço aberto com cozinha, sala de
jantar e sala de estar. Emmanuel escolheu móveis que combinassem
perfeitamente em termos de estilo, antiguidades elegantes e confortáveis, sem
deixar o espaço cheio de coisas e bugigangas.
— Alex... Eu amei — digo, admirando todos os móveis, do sofá com
dois lugares cheio de almofadas coloridas à linda cristaleira antiga repleta de
porcelana pintada à mão.
— Eu também, Ellie — ele concorda comigo. — Mamãe e Emmanuel
fizeram um ótimo trabalho, não?
— Nossa, tudo está exatamente como eu gostaria.
— Mamãe te conhece desde sempre, Ellie — ele coloca o braço em
volta da minha cintura. — Eu também. Fiz algumas sugestões.
— Obrigada — aproximo-me para dar um beijo nele, mas acabamos
esmagando a pobre Kat, que solta um miado irritado.
A gente ri, mas eu não a solto. Ainda não. Preciso ver qual será a
reação dela ao ver Bruce, quem, milagrosamente, ainda não apareceu. Deve
estar fofocando cada canto da casa.
— As obras do quintal e da casa dos fundos devem demorar algumas
semanas, mas aqui está tudo bom, não acha? — Alex comenta, apontando
para as portas duplas dos fundos, que estão cobertas com plástico preto.
— Sim, estou chocada como fizeram tudo tão rápido.
Só a realeza rodiniana para conseguir resolver tudo em menos de
quarenta e oito horas.
— Também fiquei surpreso — Alex admite. — Eles passaram o dia
inteiro de domingo pintando, e a noite também. Emmanuel só conseguiu
trazer os móveis agora à tarde, e avisou que alguns móveis dos quartos virão
depois de serem reformados.
— Ficou ótimo e... — um movimento me faz olhar para a cozinha.
Bruce está paralisado, com os olhos verdes esbugalhados, encarando o
pacotinho laranja nos meus braços. — Oh! Bruce viu Kat!
Eu a coloco no chão e, lentamente, eles se aproximam um do outro.
— Veja, eles estão se cheirando.
Sim, está melhor do que eu imaginava. Fiquei com medo do Bruce
dar uma de macho alfa e ser agressivo demais com a Kat, mas ele está se
comportando como um perfeito cavalheiro, então ela também está paciente
com todo o cheira-cheira dele.
— Acho que eles vão se dar bem e... Oh!
Bruce esquece seus MALDITOS modos, tenta lamber a bunda da Kat,
e claro que ela dá um safanão nele. Mais do que bem feito! Ela dá um miado-
bronca em Bruce, vira-se, e sai andando como uma rainha. Claro que ele
corre atrás dela.
— Bruce já está apaixonado.
— Kat já tem o Bruce na palma da mão. Ou melhor, da pata — digo,
rindo.
— Eu o entendo — Alex me puxa contra o seu corpo. — Também
gosto de mulheres que dizem que me detestam metade do tempo.
— E na outra metade?
— Eu vou te mostrar agora, Ellie.
21
Alex

Minha missão do dia foi cumprida: a casa foi pintada, os móveis e


nossas coisas estão aqui, e Bruce Lee está devidamente distraído. Agora,
poderei focar minhas atenções em Ellie.
Por mais estranho que pareça, eu passei apenas uma noite com ela, e
já senti sua falta na noite passada. Procurei por ela na minha cama a noite
inteira, me revirei sem parar, tentando me acostumar com a cama vazia.
Já passei a noite com inúmeras mulheres, mas nunca havia sentido
falta delas na noite seguinte. Por outro lado, nunca havia sentido nada tão
intenso quanto sinto por Ellie. Sempre adorei transar, mas, com Ellie, foi
diferente, foi mais gostoso, mais poderoso, muito mais íntimo. Não foi só
sexo, definitivamente.
Pego Ellie no colo e a levo até nosso quarto. A casa não é grande, mas
a suíte master é bastante espaçosa, e coube até mesmo a minha cama king
size. Deixei a cama dela de casal (tamanho normal, na qual eu jamais caberia)
no quarto de visitas.
Selecionei pessoalmente uma penteadeira antiga que estava quase
abandonada em um quarto de visitas e um armário no mesmo estilo francês
do século XVIII. Emmanuel perguntou se eu não queria incluir uma televisão
no nosso quarto, como tenho na minha suíte do palácio.
Porém, sabendo que Ellie apenas assiste televisão ocasionalmente,
achei melhor deixar a minha televisão plasma de última geração na sala. Se
ela já está receosa com a ideia de morarmos juntos, ela definitivamente me
expulsaria do quarto se eu ousasse assistir jogo de futebol de campeonato
europeu enquanto ela tenta ler.
Em frente à cama, deixei duas poltronas confortáveis, com um
pequeno móvel no meio, que serve tanto de mesa de centro, onde Emmanuel
colocou a luminária de Ellie, como também para guardar meia dúzia de
livros. Ellie vai adorar ter um cantinho confortável para ler em nosso quarto.
Quando entramos no quarto, Ellie fica boquiaberta.
— Gostou? — pergunto, soltando-a gentilmente no chão, sem deixar
de segurá-la pelos quadris.
Agora que tenho minhas mãos nela, não foi soltá-la nem ferrando.
— Se gostei? Alex, amei ainda mais que a sala. — ela caminha até a
penteadeira, do lado oposto do quarto. — Eu amo penteadeiras. Sempre quis
ter uma desse estilo francês.
— Eu sei. Lembro como você adorava ficar se penteando na
penteadeira de mamãe.
Ela olha para mim por cima do ombro, e noto que seus olhos estão
cheios d’água. Por que ela está chorando?
— Há algo de errado?
— Nadinha sequer — ela abre um sorriso que me convence que as
lágrimas não têm nada a ver com tristeza. — E vou te provar que não sou
mal-agradecida como você me acusa.
Ela caminha até mim e me beija profundamente, fazendo meu coração
bater mais forte, fazendo minha virilha acordar, fazendo meu corpo inteiro
pulsar de desejo por ela. Ellie me segura pelos ombros e me empurra na
direção da cama, até que eu me sente nela.
Sem arrancar os olhos dos meus, Ellie se ajoelha em frente a mim, em
uma das minhas posições favoritas do universo. Ela vai mesmo fazer isso?
Espero que eu não tenha um ataque cardíaco no meio do caminho.
Na nossa primeira noite, eu chupei a bocetinha perfeita dela diversas
vezes, porque sabia que ela precisava estar encharcada e relaxada. Ellie, por
ter pouca experiência, é muito apertada então, se eu não tivesse muito
cuidado, poderia machucá-la.
Pelo visto, ela decidiu que hoje é a minha vez. Seu olhar está
determinado, e seu sorriso é de uma pantera experiente, não de uma
bibliotecária que mal sabia o que era sexo alguns dias atrás.
Essa mulher me enlouquece. Com apenas um olhar e um sorriso, ela
me excita, e me deixa completamente fora de controle. O experiente da
relação sou eu, mas é ela quem tem o controle.
Com as mãos levemente trêmulas – mas de tesão, e não de medo – ela
desabotoa minha calça e abre o zíper. Eu estou paralisado, como se fosse um
virgem de trinta e dois anos. Ela puxa minhas calças para baixo, junto com a
cueca, e minha ereção aparece firme e forte, pulsando tão intensamente
quanto meu coração.
Apenas a luz da luminária está acesa; até isso eu preparei para nossa
chegada. Felizmente, ainda há luz suficiente para eu ver seus olhos dilatando
ao observar meu pau. Ela solta uma risadinha safada, e passa a língua pelos
lábios enquanto o observa. Toma-o nas mãos e aperta levemente.
Ellie lambe a cabeça do meu pau e me encara, um olhar cheio de
tesão, mas misturado com insegurança e timidez. Ela chupa a cabeça do meu
pau, e eu solto um grunhido animalesco.
— Alex! — ela se afasta de mim. — Fiz algo de errado? Desculpa, eu
nunca fiz isso antes e...
Eu a puxo contra mim e mostro, com um beijo profundo, o quando ela
não fez NADA de errado.
— Essa foi uma das coisas mais eróticas que já vi, Ellie.
— J-jura? — ela pergunta, ainda insegura.
Como uma mulher como ela pode ser insegura? Isso que dá passar
mais tempo convivendo com livros do que com seres humanos: ela não tem
ideia do poder dela sobre um homem.
— A bibliotecária mais nerd e gostosa que já conheci me chupando?
— eu chupo seu lábio inferior. — Com certeza é a coisa mais erótica da
minha vida. E você ganha de longe.
Ela sorri de novo, se aproxima da minha virilha, e me abocanha de
uma vez. Queria continuar olhando para ela, mas meu controle se desfaz por
completo, então viro a cabeça para trás, fecho os olhos e, apesar de tentar
manter o mínimo de compostura, solto outro grunhido, ainda mais alto.
Ouço sua risada safada e abafada, e olho de volta para ela. Seus olhos
azuis estão quase negros agora, e, quando mais eu perco controle, com mais
força ela me chupa. Solto outros grunhidos, cada vez mais perto do ápice.
Planejava gozar dentro dela na nossa primeira vez na casa nova, mas
estou tão fora de controle que não consigo pronunciar palavras, só sons
incompreensíveis. Quando ela afasta um pouco a boca para respirar, eu
aproveito p