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(de mentira)
com o PRÍNCIPE
KATE PALACE
Copyright © 2020 by Kate Palace
Tradução e Revisão: Hugo Teixeira
Edição: Hashtags
Arte de Capa: Hashtags
ISBN nº 978-65-00-06232-8
Reservados todos os direitos desta produção
Observações para o(a) leitor(a):
* Não é aconselhável para leitores menores de 18 anos.
* Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos
ou situações da vida real é mera coincidência.
Sinopse
Quando Alex abre a porta e sai do escritório, ouço sons vindo de fora,
indicando que os escritórios já estão enchendo. Sei que ele e Mathias têm
razão: meu jeito de vestir é formal demais, mesmo para uma diretora de
biblioteca.
Se, por um lado, quero mudar o visual, sem deixar o profissionalismo
de lado, por outro, não acho correto Alex pagar por esses gastos.
— Vou chamar o Alex. Não quero que ele gaste dinheiro comigo e...
— Shhh! — Mathias me puxa de volta para o escritório. — É sua
oportunidade de mudar seu visual, sua boba! Vai conseguir a imagem nova
que queria! E com a ajuda de um profissional!
Por outro lado, tem isso... O stylist de Alex e seus irmãos é conhecido
por seu gosto impecável e por conseguir pensar em visuais para eles que
reflitam suas personalidades.
Se tem alguém que conseguirá me deixar do jeito que preciso, sem
que eu fique vulgar ou que eu tenha que vestir roupas que não têm NADA ver
com a minha personalidade, esse alguém é o Fabio.
— Será que ele também consegue me ajudar com a casa nova?
Eu preciso de tanta ajuda com decoração quanto eu preciso para me
vestir.
— Casa nova? — Mathias me empurra em uma poltrona que fica na
pequena “sala de estar” do escritório, onde geralmente faço reuniões mais
informais, e se acomoda em uma poltrona combinando de frente para a
minha. — Vai deixar a casa da sua tia?
Claro que ele não sabe dos meus planos, afinal de contas, eu tomei a
decisão esta manhã. Contar para Matt torna a minha decisão ainda mais real,
de certa forma, porque eu sei que, daqui por diante, ele não vai me deixar
desistir desta ideia.
— Sim... Quero mudar de vida de verdade, Matt. E preciso de você
para me mudar o quanto antes.
Calculo rapidamente na minha cabeça o que tenho a fazer: arrumar
minhas coisas na casa da tia Marie, que são basicamente aquelas do meu
quarto e do escritório, comprar os móveis e eletrodomésticos que ainda não
tenho, pintar a casa da mamãe, e arrumar tudo.
Vou me dar um prazo de um mês. Acho que quatro finais de semana
são suficientes, não? Se eu começar a me organizar hoje mesmo, no início do
mês que vem já posso estar lá. Até antes, se Mathias me ajudar. Ele é
excelente com esse tipo de coisa.
— Vai pra onde, Ellie? — ele questiona, animado.
— Para a antiga casa da minha mãe.
Ela e meu pai compraram uma casa juntos, mas foi na época em que
moramos na França. Apesar de ser muito jovem, eu ainda tenho muitas
lembranças felizes daquela época e, felizmente, não tenho qualquer
recordação do acidente.
Só sei os detalhes porque, quando cresci, minha curiosidade levou o
melhor de mim, e acabei pesquisando o que houve.
Tia Marie conseguiu vender a casa da França por um preço
exorbitante (antes de se aposentar, no ano retrasado, ela tinha uma grande
empresa imobiliária em Rodin). Ainda hoje, ele trabalha esporadicamente
para alguns de seus clientes mais leais.
O dinheiro da venda da casa dos meus pais, assim como sua poupança
e o valor do seguro de vida, foi colocado na minha conta.
Mesmo depois de pagar minha graduação na Universidade de
Bolonha, meu mestrado em Oxford, e ter ajudado com meus custos quando
passei dois anos estagiando na Biblioteca do Senado americano, que tem o
maior acervo do mundo, ainda sobrou muito e eu venho poupando ao longo
dos anos, já que divido as despesas com tia Marie.
A antiga casa de mamãe foi herdada por ela de uma tia distante, que a
adorava. Ela é pequena, mas linda e muito confortável: tem dois quartos,
sendo que uma suíte, um ambiente mais amplo que junta cozinha, sala de
estar e de jantar, e o melhor: uma varanda que rodeia a casa inteira.
Além disso, na parte traseira da casa há um pequeno quintal cercado
com árvores frutíferas. Já penso no quanto Bruce vai se divertir no quintal
com os brinquedos que pretendo comprar para ele.
— Amiga, que orgulho! — Matt diz e me abraça forte. — O que
Dona Marie achou?
— Ainda não contei... Mas vou contar hoje sem falta.
— E como está o namorado novo dela?
Mathias sabe da minha odisseia pornográfica. Talvez, Jean Pierre
tenha sido a principal razão para eu FINALMENTE tomar vergonha na cara e
me mudar para a minha própria casa. Então, vou evitar falar (muito) mal
deles dois.
— Jean Pierre está sonoro. Bem sonoro.
Viu? Não foi tão ruim assim, não é?
— Acho que escolheu uma ótima hora, Ellie — Matt continua. — Sua
tia está namorando, está muito feliz, e vai ficar contente por você também.
Assim espero. Apesar dos shows pornôs auditivos, a única coisa que
não quero nessa minha mudança é magoar minha tia. Respiro fundo e começo
meu dia, já temendo a hora que terei que voltar para casa.
***
Nem preciso dizer que estou uma pilha de nervos quando abro a porta
da casa de tia Marie no final do dia. Sinto o coração acelerar, sinto a testa
suar frio, sinto minhas mãos trêmulas. Tenho que agir como Mathias sugeriu:
dar a notícia de forma rápida e indolor, como tirar um band-aid.
Prefiro nem pensar como acho doloroso tirar band-aid.
— Parabéns, minha querida! — Tia Marie vem me receber na entrada
da casa, e me dá um dos seus abraços de urso.
Apesar de ser quinze centímetros mais baixa que eu, e ter ao menos
uns dez quilos a menos, os abraços da tia Marie são bem fortes.
— Tia, precisamos conversar. — Assim que digo isso, considero que
o ideal é conversarmos a sós. — O Jean Pierre está aí?
— Não, ele teve cardiologista hoje.
— Que bom — comento, aliviada, aí me dou conta do que acabei de
dizer e tento consertar —, não queremos que ele tenha um ataque cardíaco no
seu quarto, né?
Nossa, tentei consertar e só piorei. Ouço uma gargalhada vindo da
sala de estar, uma gargalhada bastante familiar. Corro até a sala e confirmo
que o dono da gargalhada é o príncipe mais pentelho de Rodin.
Sim, eu gosto de Alex. Quando eu não o detesto. Hoje, eu o detesto.
— Boa noite, Ellie — ele diz, todo sorridente, daquele jeito sexy que
geralmente faz as mulheres soltarem fogos de artifício.
Felizmente, o charme dele não tem qualquer efeito sobre mim.
— Já não te vi o suficiente hoje, Alex? — coloco as mãos na cintura.
— Isso lá é jeito de receber o príncipe, Eleanor? — minha tia reclama.
— Eu vim te dar os parabéns, Eleanor — ele repete meu nome
lentamente, sabendo que vai me irritar ainda mais. — Você não me disse que
era o seu aniversário.
— Não achei que precisasse, afinal de contas, nós nos conhecemos há
três séculos — comento secamente. Minha tia me dirige um olhar assassino,
praticamente me obrigando a dizer: — Obrigada pela lembrança, de qualquer
maneira.
Sei que estou me comportando como uma garota mimada, mas, além
de todo o estresse com a história da mudança, e o fato dele ter me visto hoje
seminua, ainda tem a questão dele ser o novo patrono da biblioteca.
Eu tenho certeza de que o Alex fez isso só para me irritar. Há diversas
pessoas da família real que têm muito mais perfil para serem patronos reais
da biblioteca. Ele fez para se vingar de todas as vezes que eu consegui levar a
melhor quando éramos mais novos.
Ele se levanta do sofá, e, ao caminhar até mim, sua expressão suaviza.
Será que ele veio para tentar se redimir de toda a história do patrono? Se for,
ele precisa fazer muito mais.
— Trinta e um anos — ele sorri. — Seus pais ficariam tão orgulhosos,
Ellie. Quem diria que você já teria mestrado por Oxford e seria diretora da
Biblioteca Nacional de Rodin?
— E morando com a minha tia, e solteira, e com roupas de vovó e
sem filhos ou marido... — comento baixinho, mas acho que alto o suficiente
para Alex ouvir, porque ele me dirige um olhar de compaixão.
Esse é o lado dele de que eu mais gosto: apesar de me dar muito bem
com Max, e ser muito amiga de Charlotte, às vezes sinto que nenhum deles
me entende como Alex.
— O que disse, querida? — minha tia pergunta.
Ah, céus. Chegou a hora. Não queria fazer isso na frente de Alex, mas
preciso falar isso agora senão perderei a coragem. Quem sabe, a presença de
Alex será boa? Ele sempre foi ótimo ao lidar com tia Marie.
E, cá entre nós, ela tem uma quedinha engraçada por ele desde que
Alex se tornou um adolescente de quase dois metros e um bad boy à la James
Dean.
— Tenho algo a contar, tia — eles me encaram com expectativa. —
Eu... Decidi me mudar para a casa antiga de mamãe — Ah, céus, eu vou
vomitar e Alex vai tirar outra foto vergonhosa minha. — E... Vou mudar a
forma de me vestir... E... Vou começar a sair mais.
Ela não diz nada. Ele não diz nada. Eu engulo o vômito. Noto Alex
mexendo no bolso e sei que está deixando o celular a postos para o caso de
ter a oportunidade de me fotografar pagando mais um mico.
— FINALMENTE, Eleanor! — tia Marie grita, do nada, e me dá
outro abraço de urso. — Estava aqui tentando convencer o príncipe safado
aqui a tirar sua virgindade!
— QUÊ?!?!
De onde ela tirou essa ideia de que eu sou virgem?! Eu já fiz sexo! Fiz
sim, parem de negar com a cabeça! Fiz sexo dezoito vezes com um namorado
que tive na faculdade durante uns meses. E fiz ainda mais sexo (vinte e
quatro vezes, no total!) com meu segundo namorado, na época em que
trabalhei nos Estados Unidos.
Tudo bem, posso não ser MUUUUITO experiente. Mas tampouco sou
virgem!
— Eu disse que ela teria essa reação — Alex diz, sorrindo.
Será que ele acha que eu sou virgem? Será que a tia também acha?
— Eu não sou... Ele não é...
— Você pode não ser virgem, mas está quase lá, do jeito que está
deixando crescer teia de aranha aí embaixo — tia Marie despeja, e eu me
jogo no sofá.
O que poderia ser mais humilhante do que escutar isso da sua tia de
sessenta e sete anos? Ah, claro: saber que o príncipe de Rodin, o patrono real
do lugar onde sou DIRETORA, está ouvindo tudo.
Ele está segurando a gargalhada? Eu vou matá-lo!
— Tia! — digo no meu tom de PARE-DE-FALAR-DISSO-AGORA.
— Além disso, Alex é gato, experiente e príncipe de Rodin!
Alguém por favor me mate agora.
— Por sinal, vou levar sua sobrinha a um jantar este final de semana
— Alex, o traíra desgraçado, coloca ainda mais lenha na fogueira.
— Ah, seu safado! — ela dá um tapa “amigável” no ombro dele, e
aproveita para apertar o bíceps. Sim, minha tia está se aproveitando do
PRÍNCIPE! — Você foi ainda mais rápido do que eu! Mal chegou e já está
saindo com a minha Eleanor?
— Nós não estamos...
— Acha que eu perderia uma chance dessas, tia Marie?
Ah, mas eu vou MATAR esse desgraçado! Ele sabe MUITO BEM
que o sonho da minha tia sempre foi que eu me casasse com um príncipe.
Quando eu era mais nova, ela nutria esperanças de que eu me
envolveria romanticamente com Max. Entretanto, quando ele a assegurou que
só me via como uma irmã, ela passou a focar seus esforços em Alex.
Felizmente, ele se mudou de Rodin e tia Marie aquietou a piriquita
casamenteira dela. Pelo visto, a piriquita voltou a cantar com o retorno de
Alex.
— Você nunca me decepciona, querido — ela aperta o bíceps dele
(DE NOVO), dá um beijo em sua bochecha, e avisa que vai verificar o bolo.
Agora que tia Marie não está aqui para me dar um sermão, posso
olhar abertamente para Alex com cara de serial killer.
— Vou embora antes que você me mate — ele se levanta e me
entrega uma sacola. — Aqui está seu presente.
Curiosa, porque a embalagem dentro da sacola tem formato de um
livro, eu abro o presente, já imaginando que se trate de algum livro sobre
sexo tântrico, por causa do comentário que fiz sobre ele ler apenas revistas
pornôs.
Mas não é um livro sobre sexo tântrico. Ou um best-seller de
autoajuda que eu doaria na primeira chance que tivesse. Alex me deu uma
edição raríssima de Norte e Sul, um dos meus livros favoritos, de Elizabeth
Gaskell.
Eu nem sabia que ele conhecia Gaskell.
— É lindo, Alex — tento não chorar na frente dele, porque esse foi
um dos presentes mais legais que já recebi. E é exatamente por isso que não
posso aceitá-lo: ele é muito caro. — Mas é demais.
— Não é. Você merece, Ellie.
Ele me dá um beijo na bochecha e me abraça. Quando estou nos seus
braços, eu me dou conta de quem NÃO veio me receber na porta, como
sempre faz.
— Estranho... Onde está Bruce?
— Quem é Bruce?
— Meu gato — explico. — O nome dele é Bruce Lee.
— O ator de artes marciais? Por que você deu a ele o nome de Bruce
LeeAHHHHHH!
Alex grita, ao mesmo tempo que Bruce, que surgiu DO NADA, salta
no pescoço dele e gruda na sua cabeça.
— MIAAAAUUUUUUU!
Traduzindo: o que Bruce Lee quis dizer foi, “fique longe da minha
Ellie, desgraçado!”.
— Bruce, sai de cima dele! — eu tento pegá-lo, mas Bruce o agarra
com ainda mais força.
— Ahhhhhhhhh!
Alex começa a pular, e, incomodado, Bruce sai e se esfrega nas
minhas pernas, como se não tivesse acabado de ATACAR a minha visita!
— Desculpa, ele é meio ciumento...
— Acabei de entender o nome Bruce Lee — ele diz, verificando se a
cabeça está sangrando.
— Pois é...
— E eu achando que suas roupas de vovó eram seu maior problema
para arranjar um namorado — ele comenta sarcasticamente.
Claro que ele não resistiu.
— Cala a boca, Alex.
— Feliz Aniversário, Ellie — ele vai me dar outro beijo, mas olha
para o Bruce, que nos observa com atenção, e foge de casa.
4
Alex
Nos últimos dois dias, Fabio virou o Santo Fabio. Entre quinta e
sexta, ele conseguiu mudar completamente meu visual. Sabem meus cabelos
sem corte? Pois eles agora estão batendo nos ombros, super estilosos,
parecendo os da Jennifer Lawrence.
Sabem minhas roupas de vovó? Pois, ontem, antes de começarmos
nossa odisseia no shopping, Fabio foi até minha casa, esvaziou meu armário,
e doou tudo para um asilo. Ele disse que apenas mulheres maiores de setenta
anos gostariam delas.
Por fim, ele preencheu meu armário de novo com roupas que são
estilosas, elegantes e profissionais ao mesmo tempo. E tem até algumas
roupas divertidas (imaginem, eu, uma mulher divertida!), e outras para sair à
noite.
Hoje, sexta-feira, vou encontrar com Mathias para um jantar. Tia
Marie quase teve um ataque cardíaco quando me viu hoje, depois que eu
voltei do salão de beleza. Até Bruce levou alguns segundos para me
reconhecer.
Quando eu me vi no espelho, com o novo corte, novas roupas, unhas
feitas, e uma leve maquiagem que Fabio me ensinou a fazer, pela primeira
vez na vida, eu me achei GATA. Tipo, MUITO gata.
Eu tinha razão, quando me dei uma mega bronca no meu aniversário:
eu estou solteira pela minha própria culpa. Eu venho me escondendo nos
últimos anos.
Agora, ninguém segura Ellie Beck! Mal posso esperar para ver a cara
de Mathias, especialmente quando ele souber que Fabio está bem interessado
nele, me fez mil e uma perguntas sobre o Matt nos últimos dois dias.
Para meu jantar chique com o Matt, seleciono meu vestido novo
preto, que é bem justo no corpo, bate nos joelhos, e tem um decote sexy nas
costas.
Faço babyliss nos cabelos (sim, a cabeleireira DIVA a quem Fabio me
apresentou me ensinou a fazer babylisssssss), faço uma maquiagem que
valoriza meus olhos, coloco lentes de grau, e estou pronta para arrasar.
Peço uma carona para a tia Marie até meu ponto de encontro com
Matt, que fica a poucos quarteirões da casa de Jean Pierre, onde ela dormirá.
Nem preciso dizer que, além da animação com meu novo visual, estou ainda
mais animada porque esta noite eu conseguirei dormir sem show pornô
auditivo!
Tia Marie consegue estacionar o carro em frente ao meu ponto de
encontro com Matt. Eu lhe dou um beijo na bochecha e saio do carro, ao
mesmo tempo em que Matt passa bem ao meu lado. E me ignora.
— Matt? — eu o chamo.
Talvez ele não tenha me visto porque estamos em um ponto um pouco
menos iluminado. Ele vira o rosto, e me olha com curiosidade.
— Oi?
Ele não me reconheceu? Céus, ele não me reconheceu! Minha
mudança foi ainda melhor do que eu imaginava.
— Sou eu, Ellie!
— Não, não é — ele coloca as mãos na cintura. — Minha amiga Ellie
é uma nerd com cara de virgem que anda com roupas de vovó e teve um
ataque de pânico ao ler Cinquenta Tons de Cinza.
Ah, ele estava me sacaneando.
— Engraçadinho.
— E ainda vamos jantar em um dos lugares mais badalados de Rodin!
— ele me abraça e rodopia comigo em seus braços, me fazendo gargalhar.
— Sim, foi a Sra. Seraphine quem conseguiu a reserva.
Com certeza, ela usou o nome de Alex, porque de jeito nenhum ela
conseguiria uma reserva tão em cima da hora. Há uma fila de um mês para
conseguir reservar nesse restaurante.
— Aposto que foi a única ligação que ela conseguiu fazer hoje —
Matt comenta, e provavelmente está certo. — Mas estou MUITO agradecido
por esta ligação!
— Agora só falta eu ir para a casa de mamãe, e a minha mudança
estará completa!
— Na verdade, tem outra coisa que você poderia fazer — ele me
segura pela mão, me guiando para a direção oposta àquela do restaurante.
Para onde ele está me levando? — Sabe a farmácia da Sra. Burnell?
Ele aponta para a propriedade, que deve ter mais de duzentos anos. A
farmácia é daquelas em estilo antigo, tanto por fora quanto por dentro. A
família Burnell costumava morar ali, até que, nos anos 1950, os Burnell, um
casal de farmacêuticos, decidiu converter a residência em farmácia.
Desde então, muitos membros da família tornaram-se farmacêuticos
para cuidarem do negócio. Atualmente, quem está à frente da farmácia é
Nadia Burnell, que é administradora, e seu marido, Fred Burnell, que é
farmacêutico.
Apesar do casal ser muito respeitado em Rodin por sua competência,
a Sra. Burnell tem uma fama um pouco negativa por desconhecer por
completo o sentido de uma coisinha chamada PRIVACIDADE, algo bem
grave para quem lida com questões de saúde.
— Claro que sei! A Sra. Burnell é a maior fofoqueira de Rodin! Não
sei como alguém ainda compra aqui!
Claro que sei: porque é a única farmácia do bairro mais requintado de
Rodin e os Burnell têm vários clientes importantes, inclusive da realeza, já
que o filho do Sr. Burnell é o médico do palácio.
— Ah, mas VOCÊ vai comprar lá — Matt diz.
— O que eu compraria na farmácia da Sra. Burnell?
— Camisinhas.
Meu amigo está ficando louco ou o quê?
— Mas eu não compraria camisinhas com a Sra. Burnell nem se
minha tia decidisse terminar com Jean Pierre!
— Pense bem, Ellie: os homens solteiros da cidade não vão chegar
perto de você porque acham que é uma virgem frígida!
— Ah, obrigada.
— Mas, se comprar camisinhas com a Sra. Burnell, todos eles saberão
que é uma mulher moderna!
A ideia dele tem mérito. Em parte. Só há um pequeno – GRANDE –
problema.
— Não quero sair por aí transando com homens solteiros de Rodin
para arranjar marido!
Quero algo romântico, uma história fofa que seja muito mais do que
sexo. Quero alguém que me faça gargalhar sempre, mesmo que me irrite às
vezes, alguém que entenda meu humor ácido e que goste de livros, gatos,
crianças, tias safadas, e séries da Netflix.
É pedir muito, por acaso?
— Quem disse que você vai precisar usar as camisinhas? Só precisam
achar que você está disposta a usá-las.
Meu amigo não é louco: é um gênio. Agora entendo qual é o plano
dele, e pode dar muito certo.
— Aí os homens solteiros de Rodin vão saber que estou disponível,
vão me chamar para sair e vou poder ter a oportunidade de conhecê-los.
— E, se quiser, pode usar as camisinhas: mas com seu futuro marido.
— Mathias, você é um GÊNIO! — eu pulo no colo dele, e o encho de
beijos. Ele faz cara de nojo, me fazendo gargalhar. — Vamos logo!
— Vamos o quê? — ele questiona, perdido.
Como assim, vamos o quê? Nem morta vou encarar a Sra. Burnell
sozinha! Ela geralmente fica no caixa, exatamente para saber o que TODOS
os clientes compram e contar para seus amigos depois, que são, basicamente,
Rodin inteira.
— Não vou comprar camisinhas sozinha!
— Querida, se eu for contigo ela terá certeza de que EU estou
comprando!
— Mas sou EU quem vai pagar, Matt! — tento argumentar, mesmo
sabendo que ele tem razão.
Mathias tem fama de gostar de paquerar. Eu, por outro lado, tenho
fama de... Gostar de livros.
— Todos acham que você é uma virgem frígida, lembra? — Sim,
Matt, eu me lembro MUITO BEM, obrigada. Por isso estou mudando o
MALDITO visual. — Ninguém acreditaria que VOCÊ usaria as camisinhas
se entrarmos juntos, Ellie!
— Não consigo fazer isso — estou suando frio, meu coração está
palpitando, minha visão está meio nublada.
Vou ter um ataque cardíaco.
— Claro que consegue. Você está maquiada, usando lentes de contato
e vestindo uma roupa sexy, amiga! Você pode TUDO!
Sim, ele tem razão. Você chegou até aqui, Ellie. Você conseguiu até
mesmo superar seu incômodo com sua barriguinha. Não, não consegui, mas
consegui me sentir GATA apesar da barriguinha.
— Eu posso tudo. Eu posso tudo. Eu posso tudo — repito para mim
mesma, enquanto entro na farmácia.
Sozinha.
Abandonada.
Vou até a seção de camisinhas, e há um casal de adolescentes lá, se
pegando. Eles me olham, dão uma risadinha, e voltam a se beijar. Será que
eles me conhecem? Será que vão à biblioteca com frequência para se
pegarem nas estantes? Será que vão tirar minha foto comprando camisinha e
vão transformar em meme?
Pare, Ellie! Compre logo o diabo da camisinha!
Pego a primeira caixa que vejo e me dirijo até o caixa cabisbaixa, sem
conseguir encarar nenhum dos outros clientes, temendo conhecer alguém.
— Ellie? Oh, está tão linda! Mal a reconheci! Como posso ajudá-la,
querida? — A Sra. Burnell me recebe com um sorriso, provavelmente
pensando que vou comprar um Advil ou um chocolate.
Mal sabe ela.
— Só vou levar isso, obrigada — coloco a caixa de camisinhas em
cima do balcão e, sem conseguir encará-la, e pego dinheiro da bolsa em
miniatura que Fabio escolheu para mim.
— Eleanor Beck! — A Sra. Burnell diz em tom de desaprovação. —
Sua tia sabe o que está aprontando?
QUEM DIABOS ELA É PARA FALAR ASSIM COMIGO? Além do
mais, se a tia Marie estivesse aqui, ela não só estaria me incentivando, como
estaria comprando o dobro de camisinhas para ela é o Jean Pierre!
— Sou uma mulher de trinta e um anos, Sra. Burnell — digo
secamente, e coloco a nota na mão dela. — Quero troco para cinquenta, por
favor.
Nem acredito! Esta é a primeira vez que sou verdadeiramente grossa
com alguém que não seja Alex! Uhuuuu! Sou uma mulher nova! Matt nem
vai acreditar o que fui capaz de fazer SOZINHA!
Esmago a culpa que quer me arrebatar, e mantenho o queixo erguido.
Sim, fui ensinada a SEMPRE respeitar os mais velhos, mas a Sra. Burnell
ultrapassou todos os limites da educação!
— Mas... Mas...
— Vamos logo, estou com pressa — uma voz masculina diz atrás de
mim, em um tom impaciente.
Não só uma voz masculina. Uma voz que pertence ao príncipe mais
inconveniente de Rodin. Nem preciso dizer quem é, não é mesmo?
— Vossa Alteza vai levar alguma coisa? — A Sra. Burnell pergunta,
toda sorrisos de novo.
Duvido que ela perguntaria a Alex se a mãe dele sabia que ele estava
comprando camisinha.
— Não vou levar nada, preciso dela — ele comenta, e me segura pelo
pulso.
Pego a sacola de papel da farmácia com minhas camisinhas dentro e
puxo minha mão de volta.
— Vossa Alteza vai levar alguma coisa SIM! — digo em tom de
ameaça.
O que a Sra. Burnell vai pensar se eu e Alex sairmos daqui juntos
depois de eu ter comprado camisinhas? E o IDIOTA ainda disse que está com
pressa! Só falta ele dizer que tem compromisso no motel mais próximo.
A Sra. Burnell nem consegue respirar enquanto aguarda a resposta de
Alex.
— Não vou comprar nada, só estou esperando você terminar logo a
sua compra.
8
Alex
Como não nasci ontem, decido fazer alguns desvios no caminho, para
ter mais tempo de conversar com Ellie. Ela vai relaxando ao meu lado, vai se
acostumando com minha mão cobrindo a sua, não reclama quando alguns
dedos sortudos tocam suas coxas.
Acaba que dou tantas voltas que perco a entrada para nosso bairro;
Ellie me abandona sozinho no carro e adormece. No fim, seu sono trabalha a
meu favor, e eu decido levá-la para a minha casa.
Pelo menos, no palácio, não teremos tia Marie reclamando do Jean
Pierre Jr., o que poderia quebrar o clima. Além disso, consigo entrar e sair do
palácio sem que ninguém nos veja.
Minha suíte fica na parte de trás da ala da família, com acesso direto
para os jardins e o estacionamento da família real. Sei que Ellie não ia querer
ser pega no flagra pela minha mãe enquanto sai do meu quarto de manhã.
Já passa da meia-noite quando enfim chegamos ao palácio. Abro as
janelas da frente do carro para que os seguranças vejam que sou eu. Anos
atrás, um “fã” da família real roubou um dos veículos reais para tentar entrar
no palácio sem ser notado. Desde então, a segurança redobrou.
Estaciono a minha SUV, que Welly tanto desprezou, em sua vaga de
costume na ala da família. Ellie ainda está dormindo profundamente; minha
vontade é carregá-la no colo até minha cama, mas não quero fazer nada sem
sua autorização. Digo, daqui em diante.
Saio do carro, dou a volta no carro, abro a porta dela e acaricio seus
cabelos, despertando-a.
— Onde estamos? — ela questiona, os olhos azuis ficando alertas.
— Na minha casa, Bela Adormecida — inclino-me sobre ela e inspiro
profundamente seu pescoço.
Ei, eu disse que iria esperar sua autorização para levá-la para a cama,
mas não sou perfeito! Nossa, como Ellie é cheirosa. Felizmente, Fabio não
sugeriu que ela mudasse de perfume. Nunca curti mulheres que usam aqueles
perfumes fortes e adocicados, porque eles abafam o cheiro natural das
mulheres.
E o cheiro natural de Ellie é delicioso. Tão feminino, doce e
convidativo. Como aquelas geleias de pimenta. Nossa, que vontade me deu
de espalhar geleia de pimenta pelo corpo dela e lamber tudinho.
— Alex — ela me empurra, mas sua reclamação sai com um leve
gemido no final —, eu disse que não dá! Eu quero um marido, você quer um
caso quente!
— E se eu fizer uma contraproposta? — questiono, minha voz saindo
rouca.
— Contraproposta? — viram como as pupilas dela dilataram?
Ellie está louca para ter uma desculpa para me experimentar. Assim
como eu, ela não está mais satisfeita com nossa relação platônica. Se
depender de mim, ela nunca mais será platônica de novo.
Mas Ellie não pode saber disso ainda.
— Sim, Ellie. Uma contraproposta — digo, sorrindo. — Nós temos
um caso quente até você arranjar um candidato a marido.
— Eu... Eu...
— Diga sim, Ellie. Ninguém precisa saber.
— Eu... Eu...
— Deixa eu fazer uma coisa para te ajudar a decidir.
Sem lhe dizer nenhuma outra palavra, seguro-a pela parte de trás das
coxas, e ela automaticamente agarra meus ombros, para não se desequilibrar.
Puxo-a na minha direção, até ela estar sentada na beira do assento de
couro do carro. Sem arrancar meus olhos dos dela, notando que a safadinha já
respira pela boca, eu abro seus joelhos com minhas mãos, e me posiciono
entre eles.
Ellie está com dúvidas a respeito da gente? Pois eu vou arrancar essas
dúvidas agora mesmo. Eu me aproximo dela até nossos torsos estarem
colados, até minha ereção estar contra a virilha dela.
Como eu já imaginava, Ellie arregala os olhos, sua respiração acelera
e ela solta um gemido muito safado e feminino quando me sente entre suas
longas pernas, suas mãos ainda segurando meus ombros.
Apesar dos seus trinta e um anos de idade, Ellie não é muito
experiente, e vou usar isso a meu favor. Do jeito que ela é formal e certinha,
aposto que nem está acostumada a gozar com um homem. Mas eu vou
mostrar a ela que o sexo masculino serve para muito mais do que ser pai dos
filhos dela.
Tiro as mãos dela dos meus ombros e as coloco em cada lado da
minha cintura. Afasto os cabelos dela de seu pescoço e os prendo em uma das
minhas mãos, puxando sua cabeça para trás, para dar mais acesso. Meus
lábios atacam seu pescoço e a reação dela não é nenhum pouco discreta.
Puxo sua pele entre meus dentes, provando-a, e quase gozo com o
gosto dela; é doce e apimentado ao mesmo tempo, delicioso, assim como seu
cheiro.
As longas pernas dela arreganham-se ainda mais, e ela as coloca em
volta da minha cintura, me puxando contra ela, como se pudéssemos ir contra
as leis da física para fazermos parte de um mesmo espaço.
Estamos tão próximos agora que seus seios ficam achatados contra
meu peito.
— Puta que pariu, Ellie, você tem gosto de pecado — eu digo, a voz
rouca de tesão, e minha mão livre entra no jogo.
Afasto meu estômago do dela só um pouco, apenas para ter espaço
suficiente para colocar minha mão entre nós. Pela segunda vez na noite,
desamarro seu vestido, abro o tecido, e começo a passar os dedos pelo
elástico de sua calcinha.
Ao mesmo tempo, começo a dar leves mordidas na sua mandíbula,
nos seus ombros, embaixo de sua orelha. Ellie sussurra palavras
incompreensíveis, diz meu nome entre gemidos, e suas pernas continuam me
pressionando para junto dela.
Minha outra mão solta seus cabelos, baixa seu sutiã e encontra seu
mamilo direito, que está duro, sensível. Sinto os pelos do pescoço de Ellie
eriçarem sob meus lábios quando começo a massagear seu mamilo com meu
polegar.
Minha outra mão, agindo quase que por vontade própria (foco no
quase), desce um pouco mais, por dentro da calcinha, até atingir sua entrada.
Ela está encharcada, pronta para mim.
Brinco com seu clitóris, usando meus dedos para fazer círculos à sua
volta, chegando bem perto de sua abertura, mas sem invadi-la.
— Por favor, Alex! Enfia! — Ela implora, e eu quase explodo ao
ouvir a paixão em sua voz.
Eu não disse que Ellie pode ser uma bibliotecária muito safadinha?
Felizmente, sou o sortudo que conseguiu ver o potencial de safadeza embaixo
de todas as roupas de vovó, do jeito formal e de toda a nerdice.
Continuo focado em seu pescoço, lambendo-o e chupando-o de um
lado ao outro, enquanto minha mão esquerda massageia seu mamilo.
A sortuda da mão direita, entretanto, tem o papel mais importante,
que é fazer Ellie Beck gozar em volta dos meus dedos. Mas ainda não.
— Vou enfiar nessa sua bocetinha se você aceitar minha proposta,
Ellie. — Eu sussurro contra seu pescoço. — Diga que aceita. Ninguém
precisa saber.
Repito minhas condições, para deixá-la com mais vontade de aceitar.
Ela agarra meus cabelos, puxando meu rosto para longe do pescoço dela, até
que eu possa encarar seus olhos felinos, cujo azul praticamente desapareceu,
porque suas pupilas estão muito dilatadas.
— Enfia logo seus dedos na minha boceta, Alex. — Ellie ordena.
Ellie Beck acabou de dizer a palavra “boceta”? Quase chego ao ápice
ao ouvir sua voz delicada dizer a palavra, ao ver sua boquinha de veludo
formar a palavra. Perfeito demais. Nada melhor do que enlouquecer a
bibliotecária mais gostosa da Europa.
Enfio dois dedos de uma vez, fazendo a cabeça dela voar para trás e
sua garganta libertar um som gutural.
Meus lábios retornam ao seu pescoço, enquanto eu tiro um pouquinho
os dedos, para enfiá-los novamente. Cada vez que eu tiro os dedos e os
penetro de novo dentro dela, eu faço o movimento mais rápido, e Ellie torna
tudo mais intenso ao movimentar seus quadris.
— Alex, Alex! — Ela repete meu apelido cada vez que eu enfio os
dedos dentro da bocetinha apertada dela.
Uso o polegar para acariciar seu clitóris, e enfio um terceiro dedo. É
quando ela chega ao ápice, e goza com meus dedos enfiados nela, apertando-
os com força.
Mal posso esperar para estar com meu pau dentro dela quando ela
gozar a próxima vez.
— E então, Ellie? — pergunto, colando minha testa à dela.
Nem preciso explicar a que estou me referindo: Ellie sabe muito bem
que me deve uma resposta. Ela abre os olhos azuis, que estão brilhando com
um misto de satisfação e divertimento.
— Aceito sua contraproposta, Alex.
***
Ellie
Depois de quase uma MALDITA hora, Alex ainda não retornou. Pelo
visto, ele não consegue se safar de tudo. Já tomei banho, já coloquei minha
roupa de ontem de novo, já me escondi de um funcionário da limpeza atrás
das cortinas, e agora CHEGA.
Estou indo embora. Não quero pedir taxi aqui no palácio, prefiro
manter a discrição, então decido sair pelos fundos, especificamente pela
garagem da família onde Alex estacionou seu carro, andar um ou dois
quarteirões (o que conseguir nesses saltos) aí eu peço um táxi ou um Uber.
Consigo chegar até a garagem sem pagar nenhum mico ou ser vista
por nenhum funcionário do palácio. O problema é que não tenho ideia de
como abrir as portas da garagem. Se, por um lado, as luzes se acenderam
automaticamente, não sei se há algum interruptor ou controle remoto para
abrir as portas.
Perco minutos preciosos procurando alguma pista, até finalmente
encontrar um pequeno controle na parede. Pego o controle e começo a testar
os botões, até encontrar o certo! Uhuuuuu, consegui abrir as portas!
Na verdade, não é tão Uhuuuu assim, porque eu me distraio e uma das
quinas das portas automáticas agarram-se ao meu vestido na subida, e eu
acabo fazendo um semi stri tease involuntário.
Levo outros preciosos minutos para conseguir desvencilhar a barra da
saia do vestido do MALDITO portão, rezando, nesse meio tempo, que
ninguém esteja passando por perto.
Por sorte, a porta da garagem dá para jardins que também fazem parte
da propriedade do palácio, então não há pedestres ou fãs loucos da realeza.
Há, infelizmente, seguranças, e um deles está correndo na minha direção.
Quando está próximo o bastante noto, para meu alívio, que não se
trata de segurança, mas sim do Mick, o motorista de Alex, que me observa
com preocupação.
— Ellie, está tudo bem? — ele questiona, acenando para um dos
seguranças que ele me conhece.
— Não — resmungo, ainda envergonhada pelo mico —, fui assediada
sexualmente por este portão!
Mick, cavalheiro que é, segura a gargalhada, e me guia para dentro da
garagem de novo.
— Quer uma carona?
Estou prestes a gritar “ALELUIA, IRMÃO”, porque os saltos já estão
matando meus pés por conta de toda a luta com o portão da garagem
assediador, quando noto dois pontos pretos do lado de fora dos jardins, atrás
das grades que protegem a parte dos fundos do palácio, movendo-se
rapidamente entre os arbustos.
— Oh, céus. O que é aquilo? — aponto para os dois pontos suspeitos.
— São jornalistas, Ellie — ele responde prontamente.
Mick nem precisa olhar para onde estou apontando para saber a que
me refiro, o que significa que (a) eles já estão aí há um tempo e os seguranças
já estão de olho neles e (b) eles COM CERTEZA viram meu mico, porque o
ângulo é perfeitamente enquadrado na garagem.
Ainda assim, mantenho alguma esperança. Talvez, eles tenham
chegado nos últimos trinta segundos, não?
— Eles estão aqui desde quando? — questiono.
— Um dos seguranças me disse que eles estão aqui desde a noite
passada.
Sério? Isso é estranho. Sei que jornalistas têm grande interesse na
realeza rodiniana, mas, que eu saiba, eles só ficam mais “focados” no palácio
quando há algum evento. Até onde eu lembro, não há nenhum, a não ser que
estejam interessados no café-da-manhã da família com o Secretário da
Cultura.
— É normal eles fazerem isso?
— Apenas quando acham que há fofoca — Ah, não. AH, NÃO! Será
que eles sabem? Será que alguém nos flagrou aos beijos no Parque das Rosas
e avisou aos jornalistas? — Acha que eles têm motivos para estarem aqui,
Ellie?
Mas com certeza eles têm, eu só não imaginava que eles iam
descobrir tão rápido. De repente, dou-me conta de que eles podem ter
acreditado no falatório incessante da Sra. Burnell sobre as camisinhas, e
decidiram ficar de olho no príncipe.
Se for o caso, nosso plano de manter a nossa relação quente em
segredo pode ir água abaixo se eles perceberem que a mulher seminua no
portão da garagem é a diretora da Biblioteca Nacional.
— Preciso ir embora daqui AGORA, Mick.
— Vamos — ele abre a porta do carro de Alex para mim. — Vou
levá-la.
Quase meia hora depois, porque Mick fez questão de usar caminhos
diferentes para garantir que não estávamos sendo seguidos, ele me deixa à
porta da casa de minha tia Marie.
Sinto-me esgotada quando entro em casa, e sou recebida por um
Bruce animado. Ah, que bom. Não apenas tia Marie deve ter dado o café-da-
manhã dele, como também deve tê-lo deixado dormir na cama dela.
Bruce fica com um péssimo humor quando não o deixo dormir na
cama comigo. Pior ainda se passo a noite fora. Faço carinho nele, que só falta
causar um terremoto na casa de tanto ronronar, e sigo o som da televisão na
sala de estar.
Lá, dou de cara com a tia Marie encarando a TV atônita.
— Querida, como você não me contou? — ela me pergunta, em tom
de acusação.
Claro que eu teria que receber reclamação de alguém. Bruce está
satisfeito, mas tia Marie deve ter ficado preocupada por eu ter passado a noite
fora e não ter dito nada a ela. Sei que sou uma mulher de trinta e um anos,
mas nunca vivi como tal.
— Tia, eu sinto muito por não ter avisado onde estava — digo,
sentando-me ao seu lado no sofá.
— Eu sei muito bem onde estava! — ela vira minha cabeça na direção
da televisão. — Descobri junto com todos de Rodin!
— Quê?
A TV está no canal de notícias, e o rosto familiar da Sra. Burnell está
bem no centro da tela. Ela está falando do episódio da camisinha. Em
DETALHES. Mostra a marca da camisinha que eu comprei em sua farmácia,
e chega a abrir algumas e mostrar os desenhos.
Chega ao ponto de pedir ao jornalista para experimentar o gosto. O
mundo está acabando mesmo, se um jornalista está lambendo uma camisinha
com um desenho de caubói e gosto de tequila em plena manhã de domingo.
EU. QUERO. MORRER. AGORA.
Mas claro que a reportagem não para por aí. A Sra. Burnell usa o
episódio da camisinha para fazer propaganda da sua farmácia. Meu plano de
atrair homens solteiros de Rodin não poderia ter sido PIOR.
Depois de me matar, eu vou voltar como poltergeist e matar o
Mathias.
— Não que eu seja uma pessoa indiscreta, mas eles não têm muito
bom gosto para a escolha de preservativos. Uma opção muito mais elegante,
que combinaria perfeitamente com a situação deles, se é que me entendem,
seria a marca Proteção Real, produzida localmente.
Ela pega então uma caixa, que diz conter duas dúzias de camisinhas, e
a mostra para a câmera. A estampa é de coroas douradas com um fundo
vinho, cor oficial da realeza rodiniana, e com os dizeres no centro: “Proteção
Real: Divirta-se como um membro da realeza”.
Acham que isso é ruim o bastante? Pois ainda piora. Ela tira algumas
camisinhas e começa a mostrá-la. As camisinhas têm desenhos de coroa em
sua ponta, e uma delas é uma tiara de princesa, segundo a Sra. Burnell,
“porque não somos preconceituosos e aceitamos todos os tipos de amor”.
Parece que a Sra. Burnell, além de achar que é stylist de camisinhas,
também decidiu ser ativista LGBT. Boa sorte para ela com isso, também
apoio a causa, mas por que DIABOS o jornal está dando tanta atenção à Sra.
Burnell?
Ela é conhecida em Rodin por ser exagerada em seus relatos. Uma
coisa é ter boatos entre os cidadãos rodinianos, mas daí a ter jornalistas
falando disso, SEM qualquer comprovação?
A menos que... Será que eles têm relatos mais consistentes do que o
da Sra. Burnell? Será que eles nos viram juntos ontem à noite?
— Por que estão dando tanta atenção à Sra. Burnell? — pergunto à
minha tia.
— Ah, essa já é a terceira vez que mostram a entrevista dela esta
manhã — ela comenta, sem tirar os olhos da tela. — Estão falando do seu
caso com o príncipe desde cedo.
— Como assim? Meu caso com o príncipe?
Nem virou um caso ainda, MALDIÇÃO! Eu só tive uma noite com
ele e já estão chamando de caso? Sim, eu pretendia que se tornasse um caso,
mas os jornalistas não têm como saber disso!
Aí, meu PIOR pesadelo se torna a realidade. Os jornalistas anunciam
que testemunhas alegam que nos viram aos beijos no Parque das Rosas e
mostram a cena da minha briga com o portão da garagem do palácio.
O principado inteiro acabou de ver minhas pernas e minha calcinha
preta de renda.
— Ohhhh! Que pernas lindas, querida! — minha tia diz, animada.
Só a tia Marie para achar lindo a minha completa desgraça.
— Eu. Quero. Morrer — digo lentamente.
— Sobre esse assunto, o Palácio acaba de nos avisar que o Príncipe
Alexander fará um breve anúncio sobre a Srta. Eleanor Beck. Lembramos
que a Srta. Beck é a diretora da Biblioteca Nacional de Rodin, e o príncipe
acabou de se tornar seu patrono real.
— Oh, que excitante! — tia Marie bate palminhas, apesar de sua
sobrinha estar à beira de um ataque de pânico. — Tem ideia do que ele vai
dizer, querida?
Claro que não! Evito responder em voz alta, com medo de vomitar no
sofá da tia Marie, e a cena muda para a frente do palácio, onde Alex está
rodeados por diversos microfones, de jornais de todas as partes da Europa.
— Bom dia a todos — ele diz com um dos seus sorrisos famosos.
— Ele é tão lindo — tia Marie diz, suspirando, — queria tanto ter sua
idade, querida.
O que diabos Alex está aprontando? O que ele vai dizer agora? Não
tem como justificar a cena horrenda na garagem do palácio.
— Farei um breve pronunciamento hoje — Alex diz, ainda sorrindo.
— Estou muito feliz em anunciar que eu e Ellie Beck estamos noivos.
QUÊ?!?!?!
***
Parte 2
“Do that to me one more time
Once is never enough with a man like you
Do that to me one more time
I can never get enough of a man like you
Whoa-oh-oh, kiss me like you just did
Oh, baby, do that to me once again”
Tia Marie passou as duas horas desde o anúncio do meu falso noivado
grudada ao telefone, falando com todas as pessoas que ela conhece, que o
Jean Pierre conhece e, no fim, louca para continuar fofocando, pegou o MEU
caderno de telefones e começou a ligar para os meus conhecidos também.
Ela ligou até mesmo para meus conhecidos da Biblioteca do Senado,
inclusive um senador que nem se lembrava mais da minha existência. Eu
deveria tê-la interrompido quando ela ligou para o Palácio de Buckingham, e
tentou (sem sucesso) falar com a rainha da Inglaterra, mas eu estava ansiosa
demais.
Pelo menos, não precisei falar com a imprensa. Alguns minutos
depois do anúncio de Alex, alguns carros de seguranças da família real de
Rodin apareceram à minha porta, impedindo que os jornalistas nos
incomodassem.
A mídia tampouco conseguiu ligar, felizmente, porque tia Marie não
saiu do telefone. Eu desliguei o celular dela e, depois da minha
conversa/briga/safadezas do Alex, desliguei o meu celular também.
Já era perto das onze da manhã quando a campainha toca. Temendo
que algum jornalista tenha conseguido ultrapassar a barreira dos seguranças,
eu verifico o olho mágico. Do outro lado, vejo toda a família real rodiniana.
Oh, céus.
— Bom dia — tento não vomitar na cara do príncipe e da princesa
reinantes ao abrir a porta.
Os pais de Alex estão aqui, achando que estamos noivos. Os irmãos
de Alex estão aqui, achando que estamos noivos. Alex está aqui, sorrindo
para mim como se fosse o meu MALDITO noivo!
O que diabos ele está aprontando agora?
— Ellie, parabéns! — o tio Peter, pai do meu “noivo” e príncipe
reinante de Rodin, me abraça com força. — Mal posso esperar que você faça
parte da nossa família oficialmente! — ele olha em volta, e começa a farejar
algo. — Sua tia fez bolo?
— Hã... Acho que tem ainda do meu aniversário e... — ele caminha
na direção da cozinha antes que eu possa terminar.
Tudo tem um lado bom: a presença de tio Peter na cozinha
definitivamente vai tirar tia Marie do telefone.
— Querida, estou tão feliz! — desta vez, é tia Brigitte quem me
abraça com força. A princesa reinante de Rodin pode ser magra, mas ela é tão
forte quanto tia Marie — Finalmente Alex tomou vergonha na cara e decidiu
se casar com uma mulher tão maravilhosa quanto você!
Ela me olha com tamanha adoração e amor que eu quero revelar que é
tudo é uma mentira ali mesmo.
Alex me dirige um olhar ameaçador. Ele pode ter errado em muita
coisa, mas ele está certo em um ponto: se nós não participarmos dessa farsa,
minha reputação pode ser destruída, tanto com a população de Rodin, quanto
perante a família real.
Além disso, eu definitivamente não quero incluir a família real inteira
nesta farsa. A única coisa pior do que mentir para eles é pedir que eles
mintam por mim. Por isso, e por eles, eu forço um sorriso no rosto e abraço
tia Brigitte de volta. Em seguida, é a vez de Max me abraçar e plantar um
beijo na minha bochecha.
— Admito que, apesar de torcer muito, nunca imaginaria vocês juntos
— apesar das palavras brincalhonas, o sorriso de Max é encantador, e posso
ver que ele está verdadeiramente feliz.
— Eu nunca imaginaria é que você aceitaria logo o Alex! —
Charlotte me agarra e praticamente me tira do chão com seu abraço. — Max
até vai, mas Alex?
— Eu também jamais imaginaria. — Digo, rindo da animação dela.
— Agradeço novamente pela confiança, Charlotte. — Alex reclama
com a irmã, com cara de que já ouviu comentários semelhantes mais cedo.
Eu imagino qual não foi a reação deles quando Alex fez o anúncio. E,
do jeito que o Alex é, aposto que ele não avisou nada à família antes de dizer
a toda Rodin que nós estávamos noivos.
— Hã... Obrigada a todos pelos parabéns.... — Digo, sentindo-me
uma peça no museu, sendo observada por quase todos os membros da família
real.
O tio Peter deve estar comendo o que sobrou do meu bolo de
aniversário. Eu sempre levava para ele meus bolos de aniversário. Escondida
da tia Brigitte, claro.
— Imagina, querida! — tia Brigitte me segura pelos ombros. — Mas
nós também estamos aqui para ajudar com a mudança e para combinarmos os
preparativos do noivado e do casamento.
Sinto a bile subindo para a garganta, mas me controlo. Há tantos
problemas nesta frase que nem sei por onde começar. Em primeiro lugar:
como assim, a família real vai me ajudar com a minha mudança? Em segundo
lugar, o noivado foi anunciado hoje e tia Brigitte já quer falar do casamento?
Decido, no fim, fazer a terceira pergunta, porque parece mais segura.
— O noivado também tem preparativos?
Para mim, o único preparativo do noivado seria o pedido de
casamento, que Alex, por sinal, NUNCA fez. Vocês provavelmente estão
achando que sou uma tonta, mas a verdade é que nunca me preocupei muito
com esses detalhes.
Sou ótima com detalhes nos estudos, péssimas em detalhes
românticos. Por que acham que o meu primeiro noivado é uma absoluta e
completa FARSA? Ainda por cima, é com a pessoa que mais me irrita no
mundo! Eu realmente sou um desastre em questões amorosas...
— Claro, querida — tia Brigitte responde, rindo. — Primeiro, temos a
cerimônia para mostrarmos seu anel de noivado, depois teremos as fotos
oficiais do noivado e o jantar, claro.
Tem uma cerimônia só para mostrar o anel de noivado? Anel este que
eu nem tenho, já que o Alex, conforme já mencionei, sequer fez o MALDITO
pedido? Mas nada disso é culpa da tia Brigitte, ela só quer ajudar.
Respiro fundo, continuo com o sorriso no rosto, e respondo
docemente:
— Claro, tia Brigitte. Eu estou meio ansiosa, só isso.
Ansiosa para matar o filho dela, isso sim.
— Ah, tenho mais uma novidade! — Céus, o que mais tia Brigitte
quer, uma festa só para celebrar o vestido da noiva também? Outro para
comemorar o véu? — Emmanuel, nosso designer de interiores, já está na casa
da sua mãe vendo os reparos que precisarão ser feitos.
QUÊ?! Além de mentir para eles, a família real ainda vai gastar
dinheiro comigo? Já basta Alex ter pago meu guarda-roupa novo inteirinho!
— Não precisa, tia! Imagina, eu mesma vou fazer...
— Sei que é uma mulher independente, mas a família real precisa
contribuir de alguma forma, afinal de contas, Alex vai morar lá também.
QUÊ?!
COMO?!
ONDE?!
QUEM?!
— Alex vai morar aonde? — pergunto, porque SEI que escutei
errado.
Ele não vai morar na casa da minha mãe.
Ele não quer morar na casa da minha mãe.
Ele não vai conviver comigo vinte e quatro horas por dia na casa da
minha mãe.
— Na casa da sua mãe — tia Brigitte diz como se fosse a coisa mais
natural do mundo.
— QUÊ?! — o grito sai antes que eu possa segurá-lo na garganta.
— Eu fiz a MESMA cara quando soube — Max está às gargalhadas
com a minha desgraça.
— E eu apostei com o Max que vocês vão se matar antes mesmo de se
casarem — Charlotte também parece estar se divertindo bastante com a
situação.
Alex, por outro lado, me encara com a maior cara de pau, me
observando como uma sobremesa a ser devorada. Qual é, Alex? Agora não é
hora de me deixar molhada! Temos assuntos sérios a tratar!
— Claro que não vamos nos matar, Charlotte — Alex diz, sem tirar os
olhos de mim. E dos meus peitos. E de outras partes mais a sul do meu corpo.
— Eu e Ellie já acertamos as nossas diferenças.
Ele está falando da nossa noite de sexo. Se ele acha que me deixar
excitada vai liberá-lo de uma mega BRONCA por mais essa enrascada, ele
está muito enganado.
Claro que vai ter sexo, mas só DEPOIS dele me explicar muito bem
essa história de morar comigo.
— Duvido muito — Max e Charlotte dizem em uníssono.
— Comportem-se! — tia Brigitte reclama. — Onde está seu pai?
Acabando com os doces da casa, com certeza.
— Estou na cozinha resolvendo questões do casamento, querida —
ele se defende, com sua voz abafada de alguém que está com a boca cheia.
Eu entendo o tio Peter. Os doces da tia Marie são DELICIOSOS, o
motivo pelo qual nunca consegui perder minha barriguinha.
— Que questões do casamento? — tia Brigitte questiona, desconfiada.
— Bem, é uma questão. O bolo.
— Peter Auguste, está comendo açúcar e saindo da sua dieta?
Mas com certeza ele está saindo da dieta. Para falar a verdade, eu
apostaria que o tio Peter NUNCA esteve dentro da dieta. Tia Brigitte sai
batendo os saltos atrás do marido.
— Já pensaram na lua de mel? — Charlotte pergunta.
Já somos adultos, mas continuamos evitando determinados assuntos
na frente dos pais deles e da tia Marie.
— Claro que já — Alex diz todo confiante —, mas vou fazer surpresa
para a minha noiva.
Até parece. Ele quer é evitar ser pressionado para acertar a viagem.
— Gente, não é que o Alex sabe ser romântico? — Charlotte ri.
— A não ser que esteja planejando levá-la a Las Vegas — Max
comenta sarcasticamente.
— Não, juro que será um lugar romântico — Alex me abraça e me
olha com tamanha admiração que até eu, que sei que o noivado é de mentira,
fico na dúvida se ele não está realmente planejando nossa lua de mel.
— Alex, que fofo! — Charlotte nos abraça.
A campainha toca, e Charlotte vai saltitando e cantarolando até a
porta atender. Ela está verdadeiramente animada com o noivado.
— Ah, eles chegaram! — Max diz, igualmente animado. Só não está
saltitando e cantarolando como a irmã, felizmente.
— Alguém mais está vindo? — sussurro no ouvido de Alex.
— O Duque de Weliment será nosso padrinho de casamento.
Surpresa!
Discretamente, dou-lhe um beliscão na coxa.
— Se isso for verdade, jogo você no banheiro onde o Bruce está
dormindo — ameaço.
— Brincadeirinha?
Charlotte abre a porta e um grupo de homens com macacões azuis nos
cumprimenta com educação e entram na casa. Mais especificamente,
Charlotte os leva até meu quarto.
— Quem são esses? — pergunto a Alex, quando Charlotte retorna.
— O pessoal da mudança — eles me informam como se fosse tão
natural quanto o pai deles acabar com os doces da casa.
— Como assim, o pessoal da mudança?
— Eles vão levar suas coisas para a casa da sua mãe — é Alex quem
responde. — As minhas já estão lá.
As coisas de Alex estão na casa da minha mãe? Na casa que eu
herdei? Na casa onde eu planejava viver sozinha e em paz?
Eu. Vou. Matar. Esse. Homem.
Neste instante, tia Brigitte retorna da cozinha e evita que eu mate seu
filho.
— Eu insisti que vocês ficassem alguns dias no palácio — tia Brigitte
diz —, pelo menos enquanto a obra estava acontecendo, mas Alex recusou.
— Disse que queria você só para ele — Charlotte comenta com um
sorriso cheio de más intenções.
Bem, eu quero MATAR o Alex por essa história de morar comigo,
mas tem outra coisa que tia Brigitte falou e precisa explicar melhor.
— Que obras?
— Querida, a casa da sua mãe é adorável, Emmanuel me mandou as
fotos. Mas precisa de alguns retoques e alguns confortos, não é mesmo?
Que retoques? Que confortos?
Devo ter ficado verde de repente, porque Alex me segura pela cintura
e me arrasta para o quintal da casa.
— Onde estão indo, querido? — ouço tia Brigitte perguntar.
— Acho que eu e Ellie vamos até o quintal para tomarmos ar fresco
— ele diz por cima do ombro.
Que bom que ele ainda está funcionando, porque acho que meu
cérebro entrou em curto-circuito.
— Eu disse que ela está grávida, mãe! — são as últimas palavras que
ouço antes de sairmos para o quintal.
18
Alex