Você está na página 1de 12

fls.

345

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

Apelação Cível n. 0717373-08.2019.8.02.0001


Planos de Saúde
2ª Câmara Cível
Relator: Des. Otávio Leão Praxedes
Apte/Apdo : Geap.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
Advogado : Gabriel Albanese Diniz de Araújo (OAB: 20334/DF).

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
Advogado : Silvio Guimaraes da Silva (OAB: 38442/DF).
Advogado : Santiago Paixao Gama (OAB: 4284/TO).
Advogado : Eduardo da Silva Cavalcante (OAB: 24923/DF).
Apte/Apdo : Ademilson da Rocha Nogueira.
Advogada : Amanda Rodrigues Ferreira (OAB: 52607/PE).
Advogado : Henrique Valença Albuquerque (OAB: 24903/PE).

ACÓRDÃO

DIREITO DO CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. APELAÇÕES CÍVEIS EM AÇÃO DE TUTELA


PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ANTECIPADA ANTECEDENTE. SENTENÇA PELA
PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS. DOIS APELOS. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE
RESPONSABILIDADE DA GEAP AUTOGESTÃO EM SAÚDE. REJEITADA. PLANO DE SAÚDE.
AUTOGESTÃO. NÃO INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - CDC.
SÚMULA 608 DO STJ. DEMANDA ANALISADA SOB A ÓTICA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
E DO CÓDIGO CIVIL. ALEGAÇÃO DE QUE O AUTOR NÃO POSSUI DIREITO À INTERNAÇÃO,
EM RAZÃO DE ESTAR CUMPRINDO PERÍODO DE CARÊNCIA CONTRATUAL. NÃO
ACOLHIMENTO. PACIENTE ACOMETIDO DE MAL SÚBITO, PALPITAÇÕES E FALTA DE AR,
TENDO SIDO INDICADA A NECESSIDADE DE INTERNAMENTO HOSPITALAR PELO MÉDICO
QUE O ATENDEU NA EMERGÊNCIA DO HOSPITAL. URGÊNCIA DA MEDIDA. APLICAÇÃO
DA LEI N.º 9.656/1998, QUE ESTABELECE O PRAZO MÁXIMO DE CARÊNCIA DE 24 (VINTE E
QUATRO) HORAS PARA O CASO DE ATENDIMENTO DE URGÊNCIA. NEGATIVA
INJUSTIFICADA. JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, SEGUNDO A
QUAL A CLÁUSULA DE CARÊNCIA ESTABELECIDA EM CONTRATOS DE PLANO DE SAÚDE
MERECE TEMPERAMENTO, NOTADAMENTE QUANDO DIANTE DE CIRCUNSTÂNCIA
EXCEPCIONAL QUE EXIJA TRATAMENTO DE URGÊNCIA DECORRENTE DE DOENÇA
GRAVE, UMA VEZ QUE, "SE NÃO COMBATIDA A TEMPO, TORNARÁ INÓCUO O FIM MAIOR
DO PACTO CELEBRADO, QUAL SEJA, O DE ASSEGURAR EFICIENTE AMPARO À SAÚDE E À
VIDA." (STJ, RESP 466.667). DANO MORAL CONFIGURADO. APELO DO AUTOR PARA
MAJORAÇÃO DO MONTANTE DE R$ 5.000,00 (CINCO MIL REAIS), FIXADO À TÍTULO DE
INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS. NÃO ACOLHIDO. QUANTUM MANTIDO. VALOR QUE SE
REVELA RAZOÁVEL E PROPORCIONAL. HONORÁRIOS RECURSAIS ESTABELECIDOS.
RECURSOS CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS. UNANIMIDADE.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível de nº


0717373-08.2019.8.02.0001 em que figuram, como partes recorrentes e recorridas,

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


1
fls. 346

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

Geap Autogestão em Saúde e Ademilson da Rocha Nogueira, ACORDAM os


componentes da 2ª Câmara Cível deste Tribunal de Justiça, à unanimidade e nos termos
do voto do relator, em CONHECER de ambos os recursos, para, no mérito, NEGAR-
LHES PROVIMENTO, retificando ex officio, os consectários legais dos danos morais,
por se tratar de responsabilidade contratual, conforme discutido no voto do Relator.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
Acordam, ainda, em fixar honorários recursais com fulcro no art. 85, §11, do CPC, em

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
2% (dois por cento), passando estes a totalizar 17% (dezesete por cento) sobre o valor
da condenação a cargo da operadora de plano de saúde demandada. Participaram do
julgamento os eminentes Desembargadores constantes na certidão.

Maceió, 02 de dezembro de 2021.

Desembargador OTÁVIO LEÃO PRAXEDES


Relator

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


2
fls. 347

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

RELATÓRIO

Trata-se de apelações cíveis interpostas pela Geap Autogestão em Saúde


(fls. 252/268) e Ademilson da Rocha Nogueira (fls.306/311), em face da sentença
proferida pelo Juízo de Direito da 6ª Cível da Capital, nos autos da ação Tutela

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
Provisória de Urgência Antecipada Antecedente tombada sob o nº

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
0717373-08.2019.8.02.0001, cuja parte dispositiva restou delineada nos seguintes
termos:

Ex positis, observada a argumentação acima perfilhada e, no mais que nos


autos constam, JULGO PROCEDENTE os pedidos deduzidos na inicial,
com fulcro no art. 487, I, do CPC, para:
A) CONFIRMAR a liminar concedida às fls. 16/19;
B) CONDENAR a Ré ao pagamento de indenização por danos morais,
no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com juros de 1% (um por cento)
ao mês, a partir do evento danoso, e correção monetária desde a data de
arbitramento, com base nas Súmulas 54 e 362 do Superior Tribunal de
Justiça.
Condeno, ainda, a parte Ré ao pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios, os quais fixo em 15% (quinze por cento) da condenação, nos
termos do §2º, do art. 85, do CPC/2015, a ser atualizado até o efetivo
adimplemento. [...]

Irresignada, nas razões de sua apelação, a Geap Autogestão em Saúde (fls.


252/268) afirma que cumpriu integralmente as obrigações previstas no instrumento
contratual, aduzindo que a negativa de internação da apelada ocorreu em razão do não
cumprimento da carência de 180 (cento e oitenta dias).

Nesse viés, assevera que para a utilização de determinados serviços de plano


de saúde, é imprescindível o cumprimento de prazos carências exigidos no art. 12,
inciso V da Lei de nº 9.656/98 e no contrato celebrado, o que não teria sido observado
pela autora quando da solicitação de internamento.

No mais, ressalta que inexistiu conduta ilícita de sua parte tendente a ensejar
reparação por danos morais. Nessa senda, pugna pela reforma da sentença.

Por sua vez, a parte autora interpôs recurso de apelação (fls. 306/311),
requerendo a majoração do valor determinado a título de dano moral para o montante de
R$ 10.000,00 (dez mil reais). Ao final, requereu o conhecimento e provimento do
presente apelo.

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


3
fls. 348

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

Ambas as partes contrarrazoaram (fls. 315/321) e (fls. 322/328), refutando


reciprocamente as teses recursais apresentadas.

É o relatório.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
FUNDAMENTAÇÃO/VOTO

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
O conhecimento de um recurso, como se sabe, exige o preenchimento dos
requisitos de admissibilidade intrínsecos cabimento, legitimação, interesse e
inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e extrínsecos
preparo, tempestividade e regularidade formal.

Deste modo, preenchidos os requisitos intrínsecos e extrínsecos de


admissibilidade, conheço dos recursos interpostos e passo à análise do mérito
recursal, de forma conjunta, ante a similitude dos argumentos trazidos à este
órgão fracionário.

Consoante relatado, o apelo da operadora do plano de saúde visa a


modificação da sentença proferida pelo Juízo da 6ª Vara Cível da Capital que julgou
procedente a pretensão exordial, confirmando a liminar concedida às fls. 16/19 e
condenando a parte ré ao pagamento de indenização por danos morais fixados em R$
5.000,00 (cinco mil reais), com incidência de juros e correção monetária.

Já a parte autora requer a majoração do quantum indenizatório a título de


danos morais para o montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Pois bem, da narrativa dos autos infere-se que o autor ajuizou a presente
ação, destacando que foi socorrido com urgência no Hospital Santa Casa de
Misericórdia de Maceió em decorrência do acometimento de um mal súbito, palpitações
e falta de ar, tendo sido indicada a necessidade de internamento hospitalar, o que foi
negado pela demandada sob a alegação do não cumprimento do prazo de carência.

De início, convém registrar a não incidência do Código de Defesa do


Consumidor ante a aplicabilidade do Enunciado da Súmula nº 608/STJ: "Aplica-se o
Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os
administrados por entidades de autogestão" (STJ, Súmula 608, Segunda Seção,
julgado em 11/04/2018, publicado em 17/04/2018).

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


4
fls. 349

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

Esclareça-se, de outro lado, que, embora não se aplique o Código de Defesa


do Consumidor às retrocitadas relações jurídicas, a elas incidem as disposições da Lei n.
9.656/98 e do Código Civil, máxime no que diz respeito ao regime jurídico dos
contratos, em especial no que concerne aos deveres de lealdade, boa-fé objetiva e
informação, bem como à função social contratual e aos deveres anexos dos contratantes.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
Noutro giro, os referidos contratos também hão de ser analisados à luz do princípio da

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
dignidade da pessoa humana, e do direito social à saúde, conferido pela Constituição
Federal em seus arts. 6º1e 1962.

Quanto ao mérito, a operadora do plano de saúde demandada destaca a


afronta ao pacta sunt servanda e a boa fé contratual, porquanto teria prestado os
serviços de acordo com os termos da contratação, alegando a inexistência de ato ilícito
passível de ser indenizado a título de danos morais.

No entanto, entendo que não merece prosperar a alegação de


inexistência de danos morais.

Digo isso porque, a teor do que dispõe o art. 12, V, "c", da Lei de n.º
9.656/98, ainda que seja cabível a fixação de período de carência nos contratos de plano
de saúde, nos casos de urgência e emergência, tal prazo será de no máximo vinte e
quatro horas. In verbis:

Art. 12. São facultadas a oferta, a contratação e a vigência dos produtos de


que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei, nas segmentações previstas
nos incisos I a IV deste artigo, respeitadas as respectivas amplitudes de
cobertura definidas no plano-referência de que trata o art. 10, segundo as
seguintes exigências mínimas:
V - quando fixar períodos de carência:
[...]
c) prazo máximo de vinte e quatro horas para a cobertura dos casos de
urgência e emergência;

Nesse viés, considerando a disposição contida no mencionado


dispositivo legal, que estabelece tão somente o prazo máximo de 24 (vinte e quatro)
horas de carência para a cobertura em casos de atendimento de urgência e
1
Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
2 Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e

econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


5
fls. 350

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

emergência, sem fazer nenhuma exceção às situações que progridam para a


necessidade de internação, não se mostra razoável que somente o atendimento de
urgência seja coberto, negando-se a internação que dele decorre, procedimento
este que coloca em risco a vida do usuário do plano de saúde, principalmente no
caso em deslinde onde a parte recorrida necessitou ficar internada por ser pessoa idosa e

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
ter passado por um mal súbito, palpitações e falta de ar.

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
Outrossim, é de ampla notoriedade que o fato de a lei fixar prazo carencial
diverso para os casos de atendimento de urgência e emergência de seus segurados visa
justamente atenuar ou evitar males à saúde dos pacientes, em casos graves, garantindo
um atendimento que resguarde a vida daqueles.

Para além disso, no mesmo sentido a Lei dos Planos de Saúde prevê
expressamente a obrigatoriedade de cobertura em casos de emergência/urgência, senão
vejamos:
Art.35-C. É obrigatória a cobertura do atendimento nos casos:
I-de emergência, como tal definidos os que implicarem risco imediato de
vida ou de lesões irreparáveis para o paciente, caracterizada em declaração
do médico assistente; (Original sem grifos).

Corroborando o entendimento perfilhado, trago à lume julgado do Superior


Tribunal de Justiça, o qual seguido pela Jurisprudência pátria:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO


DE SAÚDE. NEGATIVA DE AUTORIZAÇÃO PARA TRATAMENTO
DE EMERGÊNCIA DE DOENÇA GRAVE. PERÍODO DE CARÊNCIA.
CLÁUSULA ABUSIVA. DANO MORAL CONFIGURADO. AGRAVO
NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que o mero
descumprimento contratual não enseja indenização por dano moral. No
entanto, nas hipóteses em que há recusa de cobertura por parte da operadora
do plano de saúde para tratamento emergencial, como ocorrido no presente
caso, em que a autora buscava realizar procedimento para tratamento de
câncer, a orientação desta Corte é assente quanto à caracterização de dano
moral, não se tratando apenas de mero aborrecimento. 2. A cláusula
contratual que prevê prazo de carência para utilização dos serviços
prestados pelo plano de saúde não é considerada abusiva, desde que não
obste a cobertura do segurado em casos de emergência ou urgência. 3.
Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp 872.156/CE, Rel. Ministro
RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 07/03/2017, DJe
20/03/2017). (Grifos aditados)

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


6
fls. 351

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

EMENTA: AÇÃO DECLARATÓRIA - PLANO DE SAÚDE -


EMERGÊNCIA - LEI 9.656/98 - COBERTURA AMPLA E IRRESTRITA -
CONTRATO QUE LIMITA A EMERGÊNCIA AO PRAZO DE 12 HORAS
- LIMITAÇÃO INEXISTENTE EM LEI - MANUTENÇÃO DA
SENTENÇA. - A Lei 9.656/98 estabelece que, em situações de emergência,
o prazo máximo de carência será de 24 horas. - Se a lei não prevê outros

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
requisitos ou limitações para a cobertura na hipótese, não pode o contrato

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
fazê-lo, devendo ser ampla a cobertura.- Não tem aplicação a cláusula
contratual que limita a emergência ao período de 12 horas, para excluir
a cobertura, se houver necessidade de internação, em situações de
emergência ocorridas durante o prazo de carência previsto para
determinados tipos de tratamento. - Tratando-se de situação de
emergência e tendo restado cumprido o prazo de carência de 24 horas, a
parte faz à cobertura do tratamento médico. (TJMG - Apelação Cível
1.0024.12.198828-1/001, Relator(a): Des.(a) Pedro Bernardes , 9ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/03/2016, publicação da súmula em
5/4/2016)(Grifos aditados)

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. SEGURO SAÚDE. PLANO DE


SAÚDE. CARÊNCIA. SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA. TRATAMENTO
DE URGÊNCIA. COBERTURA DEVIDA. 1. Resta consolidado o
entendimento de que a atividade securitária objeto dos autos está abrangida
pelo Código de Defesa do Consumidor, consoante disposição do artigo 3º, §
2º, devendo suas cláusulas obedecer às regras dispostas na legislação
consumeirista, de modo a evitar eventuais desequilíbrios entre as partes,
especialmente em virtude da hipossuficiência do consumidor em relação ao
fornecedor. Inteligência do art. 35 da Lei n.º 9.656/98 e Súmula nº 469 do
STJ. 2. In casu, comprovado nos autos que o agravado necessitou de
atendimento de emergência. Gize-se que não há que se falar não
cumprimento do prazo de carência estipulado no contrato pactuado, em
razão da condição de saúde do demandante. Previsão da Lei 9.656/98, no
artigo 35-C, I, e no artigo 12, V, "c". 3. No que tange à concessão da tutela
de urgência pleiteada, gize-se que a discricionariedade do juiz em antecipar a
tutela jurisdicional deve preceder de análise criteriosa do pedido, conforme
dispõe a regra do art. 300 do CPC/2015. Da leitura do dispositivo, extrai-se
que a tutela poderá ser concedida mediante os seguintes requisitos, em
particular: a probabilidade do direito - em analogia ao fumus boni iuris, de
forma a convencer o juiz da das alegações; fundado perigo de dano
(periculum in mora) ou de resultado útil ao processo. Requisitos não
preenchidos, no caso concreto. NEGARAM PROVIMENTO AO
RECURSO. (Agravo de Instrumento Nº 70070845797, Quinta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Léo Romi Pilau Júnior, Julgado em
30/11/2016). (Grifos aditados)

Nesse mesmo sentido, vejamos jurisprudência recente de minha relatoria:

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


7
fls. 352

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

DIREITO DO CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. APELAÇÕES


CÍVEIS EM AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. SENTENÇA PELA
PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE
RESPONSABILIDADE DA ULTRASOM SERVIÇOS MÉDICOS LTDA –
HOSPITAL MACEIÓ. REJEITADA. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
AGENTES CAUSADORES DOS DANOS. NÃO CUMPRIMENTO DO

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
PRAZO DE CARÊNCIA. SITUAÇÃO DE URGÊNCIA E
EMERGÊNCIA CONFIGURADA. PRAZO DE CARÊNCIA
REDUZIDO. INAPLICABILIDADE DA CLÁUSULA CONTRATUAL
QUE LIMITA A EMERGÊNCIA AO PERÍODO DE 12 HORAS PARA
EXCLUIR A COBERTURA NOS CASOS EM QUE HÁ
NECESSIDADE DE INTERNAÇÃO, EM SITUAÇÕES DE
EMERGÊNCIA OCORRIDAS DURANTE O PRAZO DE CARÊNCIA
PREVISTO PARA DETERMINADOS TIPOS DE TRATAMENTO.
JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA,
SEGUNDO A QUAL A CLÁUSULA DE CARÊNCIA ESTABELECIDA
EM CONTRATOS DE PLANO DE SAÚDE MERECE
TEMPERAMENTO, NOTADAMENTE QUANDO DIANTE DE
CIRCUNSTÂNCIA EXCEPCIONAL QUE EXIJA TRATAMENTO DE
URGÊNCIA DECORRENTE DE DOENÇA GRAVE, UMA VEZ QUE,
"SE NÃO COMBATIDA A TEMPO, TORNARÁ INÓCUO O FIM
MAIOR DO PACTO CELEBRADO, QUAL SEJA, O DE ASSEGURAR
EFICIENTE AMPARO À SAÚDE E À VIDA." (STJ, RESP 466.667).
DEVER DE PRESTAR ATENDIMENTO CONTINUADO SOB PENA
DE LESÃO À INTEGRIDADE DO CONSUMIDOR. DANO MORAL
CONFIGURADO. QUANTUM MANTIDO. HONORÁRIOS RECURSAIS
ESTABELECIDOS. RECURSOS CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS.
UNANIMIDADE.
(TJ-AL - AC: 07166294720188020001 AL 0716629-47.2018.8.02.0001,
Relator: Des. Otávio Leão Praxedes, Data de Julgamento: 06/05/2021, 2ª
Câmara Cível, Data de Publicação: 07/05/2021). (Grifos aditados)

Assim, destaco a remansosa jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,


segundo a qual a cláusula de carência estabelecida em contratos de plano de saúde
merece temperamento, notadamente quando diante de circunstância excepcional que
exija tratamento de urgência decorrente de doença grave, uma vez que, "se não
combatida a tempo, tornará inócuo o fim maior do pacto celebrado, qual seja, o de
assegurar eficiente amparo à saúde e à vida." (STJ, REsp 466.667, Min. Rel. Aldir
Passarinho Júnior).

Por todo o exposto, devem ser afastadas as teses discutidas alhures, por
restar configurado nos autos o ato ilícito (recusa ilegítima) que justifica a fixação de
indenização por danos morais.

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


8
fls. 353

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

Especificamente acerca do dano moral, como é cediço, este constitui a lesão


à integridade psicofísica da vítima. A integridade psicofísica, por sua vez, é o direito a
não sofrer violações em seu corpo ou em aspectos de sua personalidade, aí incluídos a
proteção à intimidade, à honra, à vida privada, à liberdade.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
Muito se diz que o dano moral é a dor e o sofrimento. Todavia, tais
sentimentos não podem ser entendimentos como lesão, mas sim repercussão,
consequência a uma violação à personalidade ou a lesão corporal. Com efeito, a
violação à honra da pessoa, como, por exemplo, a anotação indevida do nome de
alguém no cadastro restritivo ao crédito, pode ou não gerar dor e sofrimento. Tais
sentimentos são irrelevantes à configuração do dano moral que ocorre com a simples
infração à integridade psicofísica.

Destarte, violada a integridade psicofísica (lesão ao corpo ou à


personalidade) resta configurado o dano moral, independentemente da existência de dor
ou sofrimento. Estes sentimentos, que nada mais são do que possível consequência do
dano moral, passam a ser analisados unicamente no instante da quantificação do valor
indenizatório.

No caso em tela, como dito, restou configurado o dano moral, visto que
houve uma quebra de expectativas em relação ao contrato celebrado, na medida em que
a parte recorrida, completamente vulnerável, e, ausente do amparo necessário à sua
convalescença, se submeteu a transtornos e angústias, especialmente se considerado o
estado de fragilidade física e emocional vivido.

Em relação à mensuração do valor reparatório, é sabido que, na


quantificação da indenização por dano moral, deve o julgador, valendo-se do seu bom
senso prático e adstrito ao caso concreto, arbitrar, pautado nos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade, um valor justo ao ressarcimento do dano
extrapatrimonial.

Seguindo esse norte, impõe-se que o juiz atente às condições do ofensor, do


ofendido e do bem jurídico lesado, assim como à intensidade e duração do sofrimento, e
à reprovação da conduta do agressor, não se olvidando, contudo, que o ressarcimento da
lesão ao patrimônio moral deve ser suficiente para recompor os prejuízos suportados,
sem importar em enriquecimento sem causa da vítima.

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


9
fls. 354

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

Analisadas as peculiaridades do caso concreto, a magistrado sentenciante


fixou a indenização por dano moral no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Contudo,
a parte autora pleiteia a majoração deste quantum indenizatório.

Pois bem. Observadas as peculiaridades do caso concreto; a

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
reprovabilidade da conduta praticada; o caráter coercitivo e pedagógico da

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
indenização; os princípios da proporcionalidade e razoabilidade; e, especialmente,
os parâmetros comumente adotados por esta Câmara e pelo STJ em situações
análogas, tenho como razoável a quantia fixada pelo Magistrado de primeiro grau
em seu ato sentencial, visto que não é capaz de causar enriquecimento ilícito para a
parte ré, nem um prejuízo de grande monta para as recorrentes, que suportarão de forma
solidária.

Neste sentido, vejamos o entendimento desta Corte de Justiça:

APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE.


SOLICITAÇÃO DE INTERNAÇÃO. NEGATIVA DE COBERTURA
EM RAZÃO DE CLÁUSULA DE CARÊNCIA. PRAZO DE 24 HORAS
PARA ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA/URGÊNCIA.
INTELIGÊNCIA DO ART. 12 DA LEI Nº 9.656/1998.
PROCEDIMENTO PRESCRITO PELO MÉDICO ASSISTENTE. ATO
ILÍCITO CONFIGURADO. DANO MORAL DEMONSTRADO.
INOBSERVÂNCIA DO DEVER CONTRATUAL DE PROTEÇÃO À
SAÚDE E À VIDA. QUANTUM MANTIDO NO PATAMAR DE R$
5.000,00 (CINCO MIL REAIS). CONSECTÁRIOS LEGAIS
REVISADOS. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJ-AL - AC:
07193948820188020001 AL 0719394-88.2018.8.02.0001, Relator: Des.
Alcides Gusmão da Silva, Data de Julgamento: 02/06/2021, 3ª Câmara Cível,
Data de Publicação: 09/06/2021)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REPARATÓRIA DE DANOS MORAIS.


DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR.
SEGURADORA DE SAÚDE. HOSPITAL CREDENCIADO. NEGATIVA
DE ATENDIMENTO INJUSTIFICADA. DIREITO DO CONSUMIDOR.
AUTOR QUE NECESSITAVA DE ATENDIMENTO EMERGENCIAL,
EM VIRTUDE DE DOENÇA COM SINTOMAS DA DENGUE.
INTELIGÊNCIA DO ART. 35-C, DA LEI 9.656/98. PRELIMINAR DE
ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. AFASTADA.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. DANO MORAL CONFIGURADO E
RECONHECIDO NA SENTENÇA ORIGINÁRIA O QUE SE MANTÉM.
INTELIGÊNCIA DOS ART. 6º, VI E VIII, DO CDC E ART. 5º, V E X DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRETENSÃO DE REDUÇÃO DO

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


10
fls. 355

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

QUANTUM FIXADO NA ORIGEM EM R$ 5.000,00 (CINCO MIL


REAIS). NÃO ACOLHIDA.VALOR QUE SE REVELA RAZOÁVEL E
PROPORCIONAL. RECURSO CONHECIDO E IMPRÓVIDO. (TJ-AL -
APL: 00006378620138020058 AL 0000637-86.2013.8.02.0058, Relator:
Des. Alcides Gusmão da Silva, Data de Julgamento: 21/06/2017, 3ª Câmara
Cível, Data de Publicação: 06/07/2017)

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
Por fim, cumpre-me reexaminar ainda a questão relativa aos juros de mora e
à correção monetária, aplicados pelo Magistrado de primeiro grau, haja vista tratar-se de
matéria cognoscível de ofício e que não incorre em reformatio in pejus, por se tratar de
pedido implícito.

Com efeito, a partir da entrada em vigor do CC/2002, a jurisprudência se


revela no sentido de ser aplicada a taxa Selic, a título de juros moratórios, a qual exclui,
por consequência, a aplicação cumulativa de correção monetária, uma vez que esta já se
encontra embutida no citado indexador.

Dessa feita, tratando-se o caso em espeque de condenação oriunda de


relação jurídica contratual, por obrigação líquida, tenho que deve ser mantida a sentença
no sentido de que os juros moratórios devem fluir a partir do evento danoso, no
percentual de 1% (um por cento) ao mês; e a correção monetária, desde o arbitramento,
consoante súmula de n.º 362 do Superior Tribunal de Justiça, momento em que deverá
passar a incidir unicamente a taxa Selic, dada a natureza híbrida do referido indexador.

Por fim, tendo em vista o não provimento do recurso da Geap Autogestão


em Saúde, nos termos do art. 85, §11, do CPC/2015, e na orientação do Superior
Tribunal de Justiça firmada no REsp n.º 1.573.573, entendo pela majoração dos
honorários em 2% (dois por cento), passando estes a totalizar 17% (dezessete por
cento) sobre o valor da condenação a cargo da operadora de plano de saúde.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, voto no sentido de CONHECER de ambos os recursos,


para, no mérito, NEGAR-LHES PROVIMENTO.

Por fim, retifico, ex officio, os consectários legais dos danos morais, por se
tratar de responsabilidade contratual, conforme discutido neste voto.

Voto por fixar honorários recursais com fulcro no art. 85, §11, do CPC, em

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


11
fls. 356

Tribunal de Justiça
Gabinete do Des. Otávio Leão Praxedes

2% (dois por cento), passando estes a totalizar 17% (dezessete por cento) sobre o valor
da condenação a cargo da operadora de plano de saúde demandada.

É como voto.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por OTAVIO LEAO PRAXEDES, liberado nos autos em 03/12/2021 às 12:00 .
Maceió, 02 de dezembro de 2021.

Para conferir o original, acesse o site https://www2.tjal.jus.br/esaj, informe o processo 0717373-08.2019.8.02.0001 e código 1361E8F.
Desembargador OTÁVIO LEÃO PRAXEDES
Relator

Proc. Nº 0717373-08.2019.8.02.0001 - Acórdão, Rel. e Voto TJ/AL - 2ª Câmara Cível - A2


12

Você também pode gostar