Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Posted by Lena Rodriguez on Saturday, December 25, 2010 Under: Florais On Line
O bambu, quando plantado por semente, tem uma maneira tão peculiar de brotar e
crescer que chamou a atenção dos chineses, e que se tornou uma grande lição de
sabedoria. A semente, depois de colocada no solo,demora muito tempo para
apresentar sinais externos de que vai vingar.No início, a semente se transforma
num bulbo e depois de algum tempo surge um pequeno broto. Este broto
permanece inalterado sob o solo por um longo período.Somente depois que as
raízes já atingiram dezenas de metros, ao longo de cinco anos de incessante
trabalho, é que o broto começa a se projetar para fora da superfície. Aí, em pouco
tempo, o bambu cresce vertiginosamente e atinge a altura de 25 metros! Ao
observar o comportamento do bambu, os chineses aprenderam a
importância da paciência e da determinação. Muitas vezes, queremos que
as coisas aconteçam rapidamente e ficamos impacientes diante da
demorados resultados. Se a preocupação for mostrar resultados
imediatos,corre-se o risco de sacrificar as bases, o alicerce, e, com
isso,coloca-se tudo a perder. Reconhecer o que o momento presente exige
e confiar: este é o segredo do bambu chinês. O bambu simplesmente faz o
que tem que ser feito, no momento que tem que ser feito. E faz tudo com
serenidade, segurança e coragem. Não pensa nos resultados nem sofre por
antecipação. O bambu,assim como o sábio, tem confiança plena no
processo, nos movimentos da Natureza e na perfeição do universo.
Quem assistiu aos filmes O Tigre e o Dragão, do diretor Ang Lee, e Clã das Adagas
Voadoras, do diretor Zhang Yimou, deve ter reparado nos bambuzais chineses. Um
detalhe que chama atenção é que cada pé do bambu chinês se desenvolve
isoladamente e não em touceiras como se vê no Brasil. Existe um espaço de cerca
de um metro entre um bambu e outro. O bambu chinês é humilde, precisa de
pouco espaço, não é "espaçoso",não toma espaço de ninguém. O bambu
cresce reto, "na dele".Para os taoístas, o espaço do outro é sagrado porque
considera sagrado o seu próprio espaço. O sábio quer crescer com retidão,
sem desvios,sem interferir na vida alheia, sem fazer intervenções no
processo natural da outra pessoa. Tanto o bambu quanto o sábio não
querem ocupar o espaço do outro, não fazem comparações, não competem,
estão satisfeitos com o que têm porque possuem uma qualidade
fundamental: o senso de suficiência. Os chineses têm uma frase sobre o suficiente
que é surpreendentemente simples e óbvia: "Quem se satisfaz com o suficiente,
sempre tem o suficiente". Para o bambu, o espaço que ele conta para crescer é
mais do que suficiente. O sábio também não quer nada além da sua necessidade. O
filósofo italiano Sêneca disse: "Só desejarás a justa medida das riquezas: primeiro,
o necessário; segundo, o suficiente". O bambu está satisfeito com tudo, por
isso não sofre com sua situação. O bambu é sereno, despojado, cresce reto e
satisfeito com seu espaço. É livre e feliz. O sábio que segue seu exemplo,
também.
O bambu chinês tem muita personalidade: é firme sem ser rígido,elegante sem ser
chamativo, altivo sem ser arrogante. Mas ele é, acima de tudo, uma planta simples.
Quem já viu pinturas de aguadas chinesas (shie-i) ou japonesas(sumi-ê), percebeu
que o bambu é um tema freqüente. As imagens que representam o bambu se
caracterizam pela simplicidade. Duas ou três pinceladas fazem o caule e um mesmo
tanto de pinceladas retratam as folhas. Estes poucos traços de pincel são cercados
por um grande espaço em branco, na folha de desenho. O resultado é de uma
beleza que impressiona. Sob o aspecto formal, a pintura chinesa retrata o mesmo
despojamento da planta, com economia de traços. O bambu é um modelo de
simplicidade e por isso ele é tão apreciado pelos orientais. S mplicidade é uma
qualidade estética universal. Grandes artistas e pensadores sabem disso. A
intenção deles é produzir obras cada vez mais simples, mais limpas e despojadas.
Para eles, a simplicidade é uma conquista, uma das principais qualidades
de um trabalho, e não uma deficiência. Pintores como Picasso, especialmente
na velhice, Piet Mondrian,Tikashi Fukushima, Juan Miró, Malevitch, Tomie Ohtake,
escritores como Manoel de Barros, Mário Quintana, cineastas como Akira
Kurosawa,dançarinos como o Kazuo Ohno, entre outros, seguiram este
caminho.Eles entendiam, assim como os taoístas, que o essencial é simples.Simples
como o bambu.
Talvez essa seja uma das características mais conhecidas do bambu. Os antigos
chineses aprenderam a importância da flexibilidade ao observar como essa planta
se comporta numa ventania. Perceberam que uma árvore rígida quebra-se com um
vento muito forte. O bambu não. Ele se curva e depois que o vendaval passa, volta
intacto à posição original. A flexibilidade é a capacidade de se adaptar às
circunstâncias da vida, significa não ter posturas rígidas em termos físicos
ou psíquicos. Uma pessoa de moral rígida demais também pode se "quebrar"como
um carvalho ao vento.Segundo os sábios orientais, a rigidez é sinal de morte. Uma
pessoa rígida não vive, está morta, é como o tronco de uma árvore seca.
Flexibilidade é sinal de vida. Uma planta viva é flexível, uma planta morta é rígida.
Um bebê é flexível e cheio de vida, o idoso é mais duro e sem a mesma vivacidade
da criança. Flexibilidade também envolve o conceito de não-resistência. No sentido
mais profundo, flexibilidade significa capacidade de não resistir às coisas naturais
que nos acontecem. Por exemplo, o bambu não resiste à força do vento. É a não-
resistência que evita danos. No taoísmo, existe a expressão Wu-wei que se refere à
não-resistência. Wu-wei significa deixar-se levar pelo movimento natural.
Tentar evitar alguma coisa natural é se opor aos impulsos da vida.
Se o bambu tivesse o talo maciço, ele seria pesado, rígido,inflexível. Com isso, os
taoístas perceberam que é o vazio que garante as qualidades do bambu. O vazio é
um dos conceitos fundamentais do pensamento oriental.Para a maior parte das
pessoas, o vazio tem um sentido negativo.Significa nulidade, inexistência, zero.
Para os orientais é o oposto. Se o bambu tem suas virtudes por causa do caule oco,
então o vazio tem um sentido positivo. O vazio é a origem de boas qualidades, é
algo que se valoriza e permite a existência das coisas. Basta pensarmos de modo
inverso. Se o elevador estiver lotado, não podemos entrar. Se nossa mente estiver
entulhada de preocupações, não podemos pensar direito.É dessa forma que os
sábios antigos viam o vazio. Não pela ausência,mas sim pelas possibilidades que
ele abre, pelos benefícios que ele traz. É uma visão positiva e não negativa. Um
antigo texto chinês, o Tao Te Ching, diz: "O vaso é feito de argila, mas é o
vazio que o torna útil. Abrem-se portas e janelas nas paredes de uma casa, mas
é o vazio que a torna habitável". O vazio é invisível. Apesar de óbvio, esse
detalhe é fundamental porque mostra que as coisas mais importantes são
invisíveis. Os sábios sabem que existem coisas mais profundas do que as
aparências. Para os mestres orientais, o vazio é universal, onipresente. Percebiam
que o Sol flutuava no céu, no vazio, que a lua flutuava no escuro da noite, no vazio.
Para os mestres orientais, "universo", "o todo" e"vazio" são conceitos
correspondentes. Tudo nasce no (e do) vazio e tudo volta para o vazio. O mesmo
vazio do bambu.