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Biomassa e atividade microbiana de solo sob consorcio de plantas de


cobertura.
Maicon Douglas Bispo de Souza (1); Anderson de Souza Gallo (1); Patrícia Rochefeler
Agostinho(1); Nathalia de França Guimarães (1); Daniel Passareli Rocha(2) e Rogério
Ferreira da Silva (3) .
(1)
Estudante, Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia; Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul; Glória de
Dourados, MS; maicon15_douglas@hotmail.com; andersondsgallo@yahoo.com.br; patyrochefeler@hotmail.com;
(2)
nathaliagui@yahoo.com.br; Professor, Escola Família Agrícola Rosalvo da Rocha Rodrigues; Nova Alvorada do Sul,
(3)
MS; danielpassareliagrotec@hotmail.com; Professor, Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia; Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul; Glória de Dourados, MS; rogerio@uems.br.

RESUMO: O trabalho teve como objetivo avaliar a fungos, actinomicetos, protozoários e algas. Ela tem
influência de diferentes arranjos de consórcios de um papel chave no equilíbrio e sustentabilidade dos
plantas de cobertura sobre a população microbiana solos, pois atuam nos ciclos biogeoquímicos de N, P
do solo e sua atividade. O estudo foi realizado na e S, influenciando diretamente a nutrição das
unidade produtiva da Escola Família Agrícola plantas, através da mineralização e/ou imobilização
Rosalvo da Rocha Rodrigues, Município de Nova dos nutrientes (Duxbury et al., 1989). Neste sentido,
Alvorada do Sul, MS, num solo classificado como a BMS é influenciada pelas variações sazonais de
Latossolo Vermelho Distrófico típico, textura média. umidade e temperatura, pelo manejo do solo, pelo
O experimento foi conduzido em blocos cultivo e, também, pelos resíduos vegetais (Perez et
casualizados, com quatro repetições. Os al., 2004).
tratamentos constaram de diferentes arranjos de Como parâmetro ecológico, a BMS pode ser
consórcios entre mucuna-preta e milheto: cultivo utilizada como um bioindicador de qualidade de solo
solteiro de mucuna-preta; cultivo solteiro de milheto; ou como índice de adequação de sustentabilidade
consorcio de 25% de milheto+75% de mucuna- de sistemas de produção (Anderson e Domsch,
preta; 50% de milheto + 50% de mucuna-preta; 75% 1993), pois permite obter informações rápidas sobre
de milheto + 25% de mucuna-preta e uma mudanças nas propriedades orgânicas do solo,
testemunha adicional cuja área não recebeu plantas possibilitando o seu uso como ferramenta na
de cobertura (P). Foi incluída na avaliação uma área definição de opções de manejo sustentáveis. Assim,
com fragmento de vegetação nativa (VN). A o trabalho teve como objetivo avaliar a influência de
atividade da BMS mostrou-se boa indicadora das diferentes arranjos de consórcios de plantas de
alterações microbianas ocorridas no solo. cobertura sobre a população microbiana do solo e
sua atividade.
Termos de indexação: Mucuna aterrima
Pennisetum glaucum, bioindicadores.
MATERIAL E MÉTODOS
INTRODUÇÃO
O trabalho foi realizado na unidade produtiva da
O consorcio de plantas de cobertura de solo é Escola Família Agrícola Rosalvo da Rocha
uma alternativa ecológica e econômica de conduzir Rodrigues, Município de Nova Alvorada do Sul, MS
o solo, possibilitando equilíbrio das propriedades (21°028' S e 54°023’ W ), num solo classificado
físicas, químicas e biológicas que giram em torno do como Latossolo Vermelho Distrófico típico, textura
sistema solo-planta (Souza et al., 2008). Do ponto média.
de vista de atributos biológicos do solo, o uso de O delineamento experimental adotado foi o de
consorcio entre plantas, principalmente entre blocos ao acaso, com quatro repetições. Os
gramíneas e leguminosas, afeta as diferentes tratamentos constaram de diferentes arranjos de
populações de organismos constituintes da biota do consórcios entre mucuna-preta (mucuna aterrima) e
solo, uma vez que cria microhabitats favoráveis e milheto (Pennisetum glaucum): cultivo solteiro de
sítios de refúgios, além do fato dos resíduos mucuna-preta (MP; cultivo solteiro demilheto (MI);
vegetais servirem como fonte de energia e 25% de milheto + 75% de mucuna-preta
nutrientes para os organismos do solo (Badejo et (25MI+75MP); 50% de milheto + 50% de mucuna-
al., 2002; Merlin et al., 2005). preta (50MI+50MP); 75% de milheto + 25% de
Dentre as características biológicas do solo, a mucuna-preta (75MI+25MP) e uma testemunha
biomassa microbiana (BMS) é a fração viva da adicional, cuja área não recebeu plantas de
matéria orgânica do solo composta por bactérias, cobertura (P). Foi incluída na avaliação uma área
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com fragmento de vegetação nativa (VN) como observado por Perin et al. (2010), os quais
referencial da condição original do solo da região. constataram que crotalária solteira destacou-se na
A semeadura dos adubos verdes se deu de produção de matéria seca em comparação a
forma manual com a utilização de uma matraca, vegetação espontânea, milheto solteiro e consórcio
sendo o espaçamento e densidade de semeadura crotalária + milheto.
de 0,5 m entrelinhas e 2 a 3 sementes/cova para a Os maiores valores de carbono da biomassa
mucuna-preta, enquanto para milheto foi realizada microbiana do solo (C-BMS) foram verificados nos
em sulcos espaçados de 0,5 m com a densidade de sistemas VN e MP em comparação aos sistemas P
20 sementes por metro linear. Aos 90 dias após a e MI, não diferindo estatisticamente dos demais
semeadura, a matéria seca da parte aérea (MSPA) sistemas avaliados (Tabela 1). Segundo Stenberg
dos adubos verdes foi determinada, aleatoriamente, (1999), maior quantidade de C-BMS reflete a
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por uma moldura de 0,5 m por parcela. O material presença de maior quantidade de matéria orgânica
coletado passou por processo de secagem numa ativa no solo, capaz de manter elevada taxa de
estufa, à 65ºC, e, quando atingiu massa constante, decomposição de restos vegetais. Trabalhos têm
foi pesado. demonstrado o aumento da biomassa microbiana e
As amostragens de solo foram efetuadas nas atividade biológica em solos sob cultivo de
entrelinhas de plantas em cada parcela, na camada leguminosas destinadas a adubação verde
de 0 a 0,10 m de profundidade, sendo que cada (D’andréa et al., 2002; Santos et al., 2004).
amostra foi composta de duas subamostras. Após Em relação à atividade microbiana (C-CO2), os
homogeneização, as amostras foram maiores valores foram verificados no consorcio
acondicionadas em sacos plásticos, devidamente 50MI+50MP em comparação ao P e MI, não
identificados, e armazenadas em câmara fria (4ºC). diferindo estatisticamente dos demais sistemas
O carbono da biomassa microbiana (C-BMS) foi avaliados (Tabela 1). Segundo Balota et al. (2003),
avaliado pelo método da fumigação-extração, de a redução da atividade microbiana no solo ocorre
acordo com Vance et al. (1987). Determinou-se, em função das perdas de C, na forma de CO2.
ainda, a respiração basal (C-CO2), obtida pela Quanto ao quociente metabólico (q-CO2), que
incubação das amostras com captura de CO 2 em representa a quantidade de C-CO2 liberada por
NaOH, durante sete dias, pela adaptação do unidade de biomassa microbiana em determinado
método da fumigação-incubação, proposto por tempo, não houve diferença significativa entre os
Jenkinson e Powlson (1976). Após a realização das sistemas avaliados (Tabela 1). De acordo com
análises de C-BMS e C-CO2 evoluído, foi Roscoe et al. (2006), quocientes metabólicos
determinado o quociente metabólico (qCO2), elevados são um indicativo de comunidades
conforme Anderson e Domsch (1990), sendo esse microbianas em estágios iniciais de
atributo obtido a partir da relação C-CO2/C-BMS, e o desenvolvimento com maior proporção de
quociente microbiano (qMIC), pela relação C-BMS/ microrganismos ativos em relação aos inativos, ou
C-orgânico total. O conteúdo de matéria orgânica ainda, um indicativo de populações microbianas sob
(MOS) foi determinado, conforme a metodologia algum tipo de estresse metabólico.
descrita em Claessen (1997). O quociente microbiano (qMIC), que expressa o
Os resultados obtidos foram submetidos à quanto do carbono orgânico do solo está
análise de variância e as médias comparadas pelo imobilizado na biomassa microbiana, apresentou
teste de Duncan, a 5% de probabilidade. Além diferença significativa entre os sistemas avaliados
disso, os indicadores microbiológicos foram (Tabela 1). O sistema MP apresentou maiores
submetidos análise de agrupamento (cluster valores de qMIC em comparação aos sistemas P e
analysis), adotando-se o método do vizinho mais MI, não diferindo estatisticamente dos demais
distante (complete linkage), a partir da Distância sistemas avaliados. Os índices expressos pelo
Euclidiana, para descrever a similaridade entre os qMIC, quando elevados, podem mostrar que valores
sistemas de manejo de solo. de carbono no solo são mais elevados, enquanto
valores mais reduzidos indicam perda de carbono
RESULTADOS E DISCUSSÃO no solo, ao longo do tempo (Mercante et al., 2004).
Em relação a MOS, verificou-se maiores teores na
Para rendimento de biomassa das plantas de VN em relação aos sistemas cultivados.
cobertura, consórcio e solteiros, não foram O agrupamento dos sistemas avaliados com
observadas diferenças significativas entre os base nos atributos microbiológicos observados está
-1
tratamentos avaliados, com médias entre 4,0 t/ha apresentado na Figura 1. Os sistemas P e MI
-1
(consórcio 75MI+25MP) e 7,8 t/ha (MP solteiro) apresentaram 90% de similaridade, no entanto não
(Tabela 1). Esse comportamento difere do apresentaram nenhuma similaridade aos demais
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sistemas avaliados. Já os consórcios mostraram-se


próximos entre si, com 80% de similaridade. Ao BADEJO, M.A.; ESPINDOLA, J.A.A.; GUERRA, J.G.M. et
contrário, o sistema MP apresentou maior al. Soil oribatid mite communities under three species of
similaridade com a vegetação nativa, isso ratifica legumes in an ultisol in Brasil. Experimental and Applied
Acarology, Amsterdam, 27:283-296, 2002.
que o uso plantas de coberturas, alicerçado em BALOTA, E. L. et al. Microbial biomass in soils under
práticas conservacionistas, contribui para a melhoria different tillage and crop rotation systems. Biology and
da qualidade do ambiente edáfico. Fertility of Soils, 38:15-20, 2003.

CLAESSEN, M.E.C. (Org.). Manual de métodos de


P
análise de solo. 2.ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Embrapa-
G1 CNPS, 1997. 212p. (Embrapa-CNPS. Documentos, 1).
MI

D’ANDRÉA, A. F.; SILVA, M. L. N.; CURI, N. et al.


MP Atributos biológicos indicadores da qualidade do solo em
Nív el 1
sistemas de manejo na região do Cerrado no sul do
VN
Estado de Goiás. Revista Brasileira de Ciência do Solo,
25MI+75MP
G2
26:913-923, 2002.

75MI+25MP Nív el 2 DUXBURY, J.M.; SMITH, M.S.; DORAN, J.W. et al. Soil
organic matter as a source and sink of plant nutrients. In:
50MI+50MP
COLEMAN, D.C.; OADES, J.M. & UEHARA, G. (Eds.).
Dynamics of soil organic matter in tropical ecosystems.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 Honolulu: University of Hawaii Press, 1989. p. 33-67.
Distância Euclediana (%)

Figura 1. Dendrograma de similaridade dos JENKINSON, D.S.; POWLSON, D.S. The effects of
indicadores microbiológicos verificados em biocidal treatments on metabolism in soil- V. A method for
diferentes sistemas: MP - mucuna-preta solteira; measuring soil biomass. Soil Biol. Biochem., 8:209- 213,
MI - milheto solteiro; 50MP+50MI5 - consórcio 1976.
50% de mucuna-preta + 50% de milheto;
MERCANTE, F. M.; FABRICIO, A. C.; MACHADO, L. A. Z.
75MP+25MI - consórcio 75% de mucuna-preta + et al. Parâmetros microbiológicos como indicadores de
25% de milheto ; 25MP+75MI - consórcio 25% qualidade do solo sob sistemas integrados de produção
de mucuna-preta + 75% de millheto, P: pousio e agropecuária. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste,
VN: vegetação nativa. 2004. 27 p. (Boletim de pesquisa e desenvolvimento).

CONCLUSÕES MERLIM, A.O.; GUERRA, J.G.M.; JUNQUEIRA, R.M. et


al. Soil macrofauna in cover crops of figs grown under
O cultivo de mucuna-preta solteira incrementa, organic management, Scientia Agricola, 62:57-61, 2005.
em relação ao pousio e milheto, o carbono da
PEREZ, K.S.; RAMOS, M.L.G.; McMANUS, C. Nitrogênio
biomassa microbiana do solo e o quociente da biomassa microbiana em solo cultivado com soja, sob
microbiano. diferentes sistemas de manejo, nos Cerrados. Pesquisa
O consorcio 50MI+50MP favorece a respiração Agropecuária Brasileira, 40:137-144, 2004.
basal do solo.
Conforme o manejo avaliado, a atividade da PERIN, A.; SANTOS, R.H.S.; CABALLERO, S.S.U.;
BMS mostrou-se boa indicadora das alterações GUERRA, J.G.M.; GUSMÃO, L.A. Acúmulo e liberação de
microbianas ocorridas no solo. P, K, Ca e Mg em crotalária e milheto solteiros e
consorciados. Revista Ceres, 57(2):274-281, 2010.

ROSCOE, R.; MERCANTE, F. M.; MENDES, I. C. et al.


REFERÊNCIAS Biomassa microbiana do solo: fração mais ativa da
matéria orgânica. In: ROSCOE, R. et al. Dinâmica da
ANDERSON, J.P. & DOMSCH, K.H. The metabolic matéria orgânica do solo em sistemas conservacionistas:
quotient for CO2 (qCO2) as a specific activity parameter to
modelagem matemática e métodos auxiliares. Dourados:
asses the effects of environmental conditions, such as pH, Embrapa Agropecuária Oeste, 2006. p. 163-198.
on the microbial biomass of forest soils. Soil Biology and
Biochemistry, 25:393-395, 1993. SANTOS, V.B.; CASTILHOS, D.D.; CASTILHOS. et al.
Biomassa, atividade microbiana e teores de carbono e
ANDERSON, T. H.; DOMSCH, K.H. Application of e co- nitrogênio totais de um planossolo sob diferentes sistemas
physiological quotients (qCO2 and qD) on microbial de manejo. Revista Brasileira de Agrociência, 10:333-338,
biomasses from soils of different cropping histories. Soil 2004.
Biol. Biochem., 22(2):251–255, 1990.
4

SOUZA, K.B.; PEDROTTI, A.; RESENDE, S.C. et al. STENBERG, B. Monitoring soil quality of arable land:
Importância de Novas Espécies de Plantas de Cobertura microbiological indicators. Soil and Plant Science, 49:1-24,
de Solo para os Tabuleiros Costeiros. Revista da Fapese, 1999.
4:131-140, 2008.
VANCE, E.D.; BROOKES, P.C.; JENKINSON, D.S. An
extraction method for measuring microbial biomass C. Soil
Biol. Biochem., 19:703-707, 1987.

Tabela 1. Matéria seca da parte aérea das plantas de cobertura (MSPA), carbono da biomassa microbiana
(C-BMS), respiração basal (C-CO2), quociente metabólico (qCO2), quociente microbiano (qMIC), e
matéria orgânica (MOS) de um Latossolo Vermelho Distrófico típico, textura média. Nova Alvorada do
Sul, MS.

Plantas de MSPA C-BMS C-CO2 qC-CO2 qMIC MOS


cobertura t ha-1
g C g solo seco
-1
g C-CO2 g solo dia
-1 -1
g C-CO2 g C-BMS h
-1 -1
% g kg-1

Pousio --- 84,2 b 9,7 b 52,1 a 0,7 b 19,1 b


Milheto 5,1 a 88,0 b 9,7 b 45,9 a 0,8 b 18,6 b
Mucuna-preta 7,8 a 162,8 a 12,4 ab 40,3 a 1,5 a 18,5 b
25MI+75MP 6,0 a 124,4 ab 14,9 ab 52,8 a 1,2 ab 17,3 b
50MI+50MP 5,8 a 140,5 ab 17,4 a 61,6 a 1,3 ab 18,6 b
75MI+25MP 4,0 a 135,3 ab 13,3 ab 48,9 a 1,3 ab 17,9 b
Vegetação nativa --- 168,8 a 15,1 ab 37,7 a 1,2 ab 22,9 a
As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo o teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade.

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