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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

1. Definição formal do Direito Penal

Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que atribuem uma pena ou uma
medida de segurança à certos comportamentos humanos de natureza criminosa.

É importante dizer que o Direito penal não só se preocupa na aplicação da


pena, como também, em aplicar as medidas de segurança em casos dos actos dos
inimputáveis (pessoas incapazes como é o caso de malucos, em casos de cometimento
de crime, não se aplica pena que é a prisão mas sim medidas de segurança, internar o
maluco por exemplo).

A fundamentação da aplicação da pena é a culpa e a fundamentação da medida


de segurança é a sua perigosidade, ou seja, para que se aplique uma pena à um
individuo é necessário que se prove a sua culpa ao passo que, para que se tome uma
medida de segurança basta o individuo ser considerado perigoso para a sociedade.

2. Terminologia

Uma das grandes abordagens feitas neste ramo de Direito é a questão de


terminologia, se é chamado de Direito Penal ou Direito Criminal?

Na verdade as matérias abordadas são as mesmas, tanto no Direito Penal, bem


como no Direito Criminal, razão pela qual podemos chamar a cadeira como preferir
(Direito Penal ou Direito Criminal). No entanto, por questões formais a UCM prefere
chamar por Direito Penal porque:

-A lei que regula a cadeira é designada por Código Penal;

-Em termos oficiais a instituição prefere assim chamar.

3. Direito Penal em sentido Objectivo e em sentido subjectivo


Em sentido Objectivo – Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que atribuem
uma pena ou uma medida de segurança à certos comportamentos humanos que são
os crimes, o que os latinos chamam de ius puenale.

Em sentido Subjectivo - Direito Penal consiste na competência exclusiva de


aplicar as penas e as medidas de segurança, conferida ao Estado, que também se
designa por ius puniendi.

4. O âmbito do Direito Penal

Falar de âmbito de Direito Penal, é falar da sua abrangência, que pode ser:

 Restrito – que corresponde ao Direito Penal geral, que são conjunto de normas
que atribuem penas ou medidas de segurança à certos comportamentos
humanos, ou seja, coincide com a definição formal do Direito Penal e no seu
sentido Objectivo.
 Amplo – este âmbito engloba, ou seja, se inclui o Direito Penal geral, Direito
Processual Penal, Direito Penitenciário e outras legislações extravagantes.

5. Definição formal e material de crime

 Em sentido Formal, crime será toda acção típica, ilícita, culposa e punível. Em
palavras miúdas, crime é toda acção que pode ser (fazer ou não fazer), típica
que significa (corresponder a uma base legal), ilícita que se traduz na (violação
do Direito Penal), culposa que é (a censurabilidade do agente), punível que
(será existência de meios para se efectivar a condenação).
 Em sentido material, crime, é toda conduta descrita na parte especial do
código penal.

6. Sentido formal e material da pena

 Pena em sentido formal, é a sanção ou consequência de qualquer acção


praticada que é considerada crime;
 Pena em sentido material, corresponde as penas previstas no artigo (61) do
código penal.

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Importa referir que as penas com moldura penal de 2-24 anos de prisão, são
chamadas de penas de prisão maior;

As penas de 3 dias a 2 anos são chamadas das penas de prisão.

Importa também frisar que em Moçambique não existe pena de morte ou


perpétua, a pena máxima do nosso código penal é de 24 anos, no entanto, há casos
em que o indivíduo pratica várias infracções, facto que pode agravar a pena até 30
anos.

7. Destrinça entre penas principais e penas acessórias

 As penas principais são aquelas que são autónomas, ou seja, põe si só podem
ser aplicáveis. Caso de Moçambique são as penas previstas nos artigos 61-63 do
C.P (Prisão e multa);
 As penas acessórias são aquelas que acompanham a pena principal e no caso
de Moçambique são as penas previstas no artigo 80 do C.P EX: (proibição da
condução);

E essas penas podem ser conjugadas por exemplo (prisão e expulsão no aparelho do
Estado) e quando assim acontece, diz-se penas mistas.

8. Diferença entre efeitos das penas e as penas acessórias

A diferença crucial destas duas realidades é que enquanto os efeitos das penas são
autos aplicáveis uma vez que são uma consequência imediata da condenação
(exemplo logo que uma pessoa é presa perde a sua liberdade de circulação), ao passo
que as penas acessórias não são de aplicação automática, ou seja, é necessário que o
juiz declare na sentença, o que necessário nas penas acessórias.

9. Diferença entre medidas alternativas à pena de prisão e as penas alternativas da


prisão

 Medidas alternativas à pena de prisão são negociações que ocorrem antes da


sentença se transitar em julgado;

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 As penas alternativas da prisão, consiste na substituição da pena de prisão por
outro tipo de pena. Exemplo substituir a pena de prisão por uma pena de
multa.

As regras usadas para esta substituição estão patentes no artigo 113 do código penal.
E existem fundamentações da existência das penas e medidas alternativas da prisão e
uma das mais abordadas é a questão da super lotação de reclusos nas penitenciárias, o
que como desvantagens esgota recursos do Estado, cria uma aparência de impunidade
aos criminosos e como vantagem evita que um recluso não marginalizado evite ser
preso o que poderia lhe fazer com que se socializasse com os marginais na prisão e
acabe se tornando um.

10. Fins das penas e fins do Direito Penal

Os fins das penas são restritos em relação aos fins do Direito Penal, bastará
aplicar uma pena já terás alcançado os fins de uma pena ao passo que os fins do
Direito penal são amplos não precisando necessariamente aplicar uma pena para
alcança-los, podendo-se por exemplo aplicar uma medida de segurança numa
determinada situação de perigosidade e não uma pena de prisão. Todavia, no nosso
caso, quando falamos dos fins das penas devemos se entender como sinónimo dos fins
do Direito Penal.

Os fins do Direito penal podem ser:

Mediatas: que são os fins últimos do Direito Penal, e esses coincidem com os
fins do Estado que são (Justiça, segurança e bem estar comum), o que de certa forma
pode gerar uma confusão;

Imediatas: que são os meios usados para alcançar os fins mediatos do Estado.

Nestes meios usados para alcançar fins longínquos dos Estado surgem duas
finalidades que são:

A finalidade de retribuição a que é chamada de teoria absoluta; e a finalidade


de prevenção que é chamada da teoria relativa.

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1. A finalidade de retribuição a que é chamada de teoria absoluta, segundo esta
teoria, é aplicado o mal que é a pena para fazer sentir o mal também, em
função do crime cometido.
2. A finalidade de prevenção que é a teoria relativa segundo esta teoria, a
aplicação de uma pena visa evitar futuras violações, ou seja, um individuo lhe é
aplicado uma pena para que não volte a praticar mesmo crime futuramente.
Esta teoria relativa divide-se em:
 Teoria relativa geral: que segundo a qual, ao aplicar uma pena à uma
determinada pessoa será para que as pessoas no geral olhem como um
exemplo e não cometam o mesmo crime. Esta por sua vez subdivide-se em:
 Teoria relativa geral positiva: que segundo esta, não há uma punição severa,
apenas são criadas algumas politicas para ameaçar as pessoas e estes não
cometerem os tais actos.
 Teoria relativa geral negativa: aqui há uma punição severa em público para
fazer com que todos assistam e desencoraja-los a praticar actos criminosos.
Como acontecia nos EUA, onde a pessoa era condenado a uma pena de morte
e era colocada na cadeira eléctrica e de seguida electrocutada em público.
 - Teoria relativa/prevenção especial: segundo esta teoria, ao aplicar uma pena
será para que este indivíduo não volte a cometer o crime e não as pessoas no
geral. Esta também subdivide-se em:
 Teoria relativa/prevenção especial positiva, segundo esta, o indivíduo é
punido com a finalidade de dessacraliza-lo, ou seja, dar uma lição e depois
voltar a inserir o mesmo na sociedade.
 Teoria relativa/prevenção especial negativa, segundo esta, o indivíduo é
punido severamente para que nunca mais pense em cometer o crime
novamente.

11. Direito Penal e ciências afins

Existem outros ramos do Direito, diferentes do Direito Penal como (Direito


Processual Penal, Direito penitenciário, a criminologia, a criminalística entre outras)
que buscam estudar assuntos criminais, havendo um risco de se fazer confusão entre
elas, torna-se necessário estabelecer a diferenças existente entre elas.

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Direito Penal, Dto. Processual Penal, Dto. Penitenciário, Criminologia, Criminalística

A diferença existente entre Direito Penal e Direito Processual Penal é que o


Direito Penal é um direito substantivo, ou seja, se preocupo em qualificar certos actos
como crime e estabelecer a sua pena.

Ao passo que o Direito Processual Penal é um direito adjectivo, este busca


indicar quais são as melhores formas de aplicar as penas, no entanto, estes são
complementares e interdependentes.

É também diferente do Direito penitenciário que são conjunto de normas que


vão indicar a melhor forma de executar a pena, outra característica que o difere do
Direito Penal, é pelo facto deste ser executado pelo poder executivo ao passo que o
Direito Penal é executado pelo poder judicial.

O Direito Penal não pode também ser confundido com a Criminologia, ramo
este que estuda as origens e as verdadeiras causas de crimes numa determinada
sociedade. Este ramo do Direito é usado de forma subsidiária ao Direito Penal
podendo-se a partir deste se agravar ou se atenuar uma pena.

O Direito Penal tão pouco deve ser confundido com a Criminalística que é a
ciência de investigação criminal, ou seja, procura entender quem foi o autor de um
determinado crime.

Este também não pode ser confundido com outros ramos como o Direito civil, o
ilícito disciplinar, ilícito administrativo entre outros.

12. Aplicação da lei penal no tempo e no espaço

Como qualquer norma tem uma aplicabilidade limitada, o que quer dizer que
existem factos em que não são aplicáveis e esta não aplicabilidade vai em função do
tempo e espaço, podem também sofrer limitações em razão de imunidade, podem
também concorrer na sua aplicação sobre um objecto, dando lugar ao concurso de
normas.

Aplicação da lei penal no tempo

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O Direito Penal não é aplicável de forma retroactiva a luz do artigo 3 do C.P, ou seja, a
lei penal como qualquer outra lei vigora para o futuro porque constitucionalmente
está consagrado, no entanto, esta pode ser aplicada retroactivamente em benefício do
arguido, é o caso de se condenar alguém e surgir uma lei nova regulando mesma
matéria com a pena mais leve.

Aplicação da lei penal no espaço

A função de punir cabe no âmbito da soberania, que dela não pode por isso abdicar,
nos limites do território nacional. A aplicação da lei penal no espaço é regida por
conjunto de princípios onde o princípio basilar é o de territorialidade, que segundo o
qual, a lei penal é aplicada à todas infracções cometidas no território nacional com
relevância penal independentemente por quem ou contra quem foram cometidos
conforme o artigo 4 do Código Penal. Este que envolve navios e aeronaves de do
Estado.

Outros princípios reguladores da aplicação da lei penal no espaço são:

P. Nacionalidade: este preconiza que o Estado aplica a sua lei penal contra seus
nacionais sem olhar quem cometeu e onde cometeu, conforme o nr.1 do artigo 5 do
Código penal..

P. No bis in idem: Ninguém deve ser feito sofrer duas vezes pelo mesmo crime
conforme o nr.1 do artigo 5 do Código penal.

P. da Universalidade: o Estado pode punir factos criminosos que não tenham ligação
com o seu território, nem através da nacionalidade, isso torna-se possível através de
tratados que ele tenha se comprometido a combater certos comportamentos
conforme o nr.3 do artigo 5 do Código Penal.

P. da defesa dos interesses nacionais: segundo este princípio, o Estado pune todos
factos praticados contra interesses nacionais. Como a falsificação da moeda como
impõe o nr.1 do artigo 5 do Código Penal.

Como podemos ver, o artigo 56 do código penal é a base destes princípios o que difere
são os números deste artigo.

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Princípios gerais do Direito Penal

Falar de princípios de um ramo de direito, é falar de regras que são usadas


como guia na aplicação das leis desse ramo de direito, e o Direito Penal como qualquer
outros ramos do Direito possui princípios que devem ser seguidas na sua aplicação que
são:

 Princípio da tipicidade: este pressupõe que para a aplicar o Direito penal é


necessário que a conduta verificada esteja prevista na parte especial do Código
Penal, se não é típica a prática então não é crime. Conforme o nr.1 do artigo 1º
do C.P.
 Princípio da intervenção mínima do Estado: este principio preconiza que o
Estado só deve punir quando necessário e eficaz, em palavras miúdas
queremos dizer que o Direito Penal é último recurso, última instância de pois
de esgotarem todos os mecanismos. Por isso, se as instâncias anteriores
resolverem o caso, não é necessário e nem eficaz a intervenção do Direito
Penal.
 Princípio da Humanização das penas: este princípio proíbe o uso da violência
na aplicação das penas, tortura, crueldade, pena de morte e prisão
perpétua.art.40 da CRM;
 Princípio da intransmissibilidade das penas: as penas não podem ser
transferidas de um titular para o outro, por outra, no Direito Penal cada um
responde pelos seus actos de forma particular, diferente do que se verifica no
Direito Civil onde pode se transferir uma divida por exemplo. No Direito Penal
ninguém responde por crime do outro conforme o artigo 29 do Código Penal
conjugado com artigo 61 da Constituição da República.
 Princípio da inimputabilidade: segundo este princípio, algumas pessoas não
podem ser condenadas devido a sua incapacidade conforme al.a) do art.47 do
C.P; A inimputabilidade pode ser relativa conforme o artigo 49 do Código
Penal, pode também ser absoluta como é o caso de menor de 16 anos de idade
e outro caso previsto no artigo 48 do Código Penal.
 Princípio da proporcionalidade das penas: as penas devem ser aplicadas de
acordo com a infracção cometida. (por exemplo um que cometeu o crime de

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roubo não pode ser aplicado uma pena quem cometeu um crime de Homicídio
voluntario) seria desproporcional.
 Princípio da jurisdicionalização do processo penal: segundo este princípio, os
processos criminais devem ser encaminhados nas autoridades judiciais para
tomarem as decisões finais, ou seja, ninguém deve fazer justiça com as próprias
mãos.
 Princípio da imparcialidade: este preconiza que num determinado processo o
juiz não pode tomar partido, ou seja, não pode tomar decisões favorecendo um
em relação ao outro.
 Princípio da Justiça Universal: segundo este principio se alguém comete um
crime no estrangeiro e se refugia no seu país, este pode lhe julgar sendo
possível através de tratados.
 Princípio da insignificância: segundo este, o Direito Penal não vai intervir casos
sobre bens sem muita importância. Se rouba doce e rouba carro o Direito Penal
vai se preocupar com o roubo do carro.
 Principio no bis in idem: ninguém pode ser julgado ou condenado duas vezes
pelo mesmo crime.

Importa referir que fora dos princípios acima citados, existem princípios específicos
da aplicação da lei penal no espaço.

13. Aplicação da lei penal nas pessoas

Em princípio a lei vigora de modo igual para todos em função do princípio da igualdade
que se encontra patente no artigo 35 da constituição da Republica no entanto existe,
uma limitação da competência jurisdicional dos tribunais, ou seja, existem certas
pessoas que pelas funções que exercem no Estado os tribunais sofrem impedimento
temporário ou definitivo de exercício da sua jurisdição nessas pessoas.

Temos como exemplo o chefe do Estado (PR), os crimes que comete no exercício das
suas funções inerentes a sua função, ele responde perante o tribunal supremo e não
no tribunal comum e cabe a Assembleia da República deliberar para a prossecução do
tal processo. E aos crimes comuns ele responde após o seu mandato. Isso se verifica
por força duma figura designada por imunidade que é uma prerrogativa por força da

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qual, as pessoas que gozam dela, não podem ser condenadas ou responder processos
criminais durante o exercício das suas funções no órgão estatal.

A não visa garantir a impunidade mas sim garantir o exercício das funções dessas
pessoas que gozam dela e estabelecer uma certa independência nos órgãos soberanos.

14. Fontes do Direito Penal

Falar de fontes de Direito num sentido técnico jurídico, é falar de modos de criação e
revelação do Direito.

Em Direito penal as fontes podem ser:

Materiais que por sinal é a fonte principal, trata-se do principio da legalidade que
segundo o qual tudo que regulamentar o Direito Penal devera girar em torno deste
principio e destes nascerão as fontes formais.

Fonte formal, onde a lei em sentido restrito (aprovada pela Assembleia da Republica) é
a fonte principal, decretos não podem conter penalizações uma vez que lei em sentido
amplo.

Os decretos-lei podem conter penalizações com a autorização legislativa

O costume afasta-se a possibilidade de ser considerado fonte do Direito Penal por


força do artigo 1 do código penal, isto porque este diz só é crime o que a lei prevê
como crime, contudo, costume não é fonte do Direito Penal apenas pode abrir essa
possibilidade quando coincide entre o que a lei e o costume condenam.

A jurisprudência quando são assentos obrigatórios criados pelo conselho


constitucional ou pelo tribunal supremo.

Os tratados quando ratificados pela Assembleia da República tem força de lei em


sentido restrito e podem ser fonte do Direito Penal.

15. A interpretação da lei penal

Interpretar uma lei consiste em buscar o verdadeiro sentido e o alcance dela, as regras
gerais da interpretação de qualquer lei estão patentes no artigo 9 do código civil, no

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entanto, a interpretação do Direito Penal sofre restrições, nela não se admite a
interpretação extensiva e uso da analogia por força do artigo 7 do Código Penal.

Importa referir que as normas que não são susceptíveis da interpretação extensiva e
uso da analogia são as normas incriminadoras, (as que descrevem um crime atribuem
uma pena) estas partem do artigo 159 do código penal e seguintes, os artigos 158 e
anteriores podem ser interpretadas extensivamente e uso de analogia.

16. Concurso de normas

Há um problema específico ligado a interpretação e aplicação da lei penal (concurso de


normas), é quase impossível encontrar leis/códigos sem o problema de concurso de
norma.

Agora o que será concurso de normas?

O concurso de normas se verifica quando existem várias normas concorrendo para


regular um comportamento, os requisitos necessários para existência de concurso de
normas são:

 Unidade do gente e da conduta (um só infractor e uma só infracção);


 Pluralidade de normas que vão concorrer entre si para a condenação de um
único facto.

O concurso de normas é também chamado de concurso aparente de infracções, isso


porque quando um indivíduo comete um crime e há varias normas que concorrem
para regular o caso, faz parecer muitos crimes cometidos. No entanto existe uma
diferença entre concurso de normas e concurso real de infracções, concurso de
normas é uma pessoa e uma conduta enquanto o concurso real de infracções consiste
em um único individuo cometer vários crimes.

Exemplo: Horária levar uma arma e matar Samira, Maleny e Anita.

Para resolver o problema de concurso de normas são avançadas três teorias que
também são chamadas de relações que são:

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 Relação de especialidade: esta verifica-se quando elementos constitutivos de
uma norma fazem parte de uma outra norma todavia esta outra traz algum
elemento especial e quando isso acontece aplica-se a lei especial uma vez que
esta revoga a lei geral.

Exemplo: Homicídio voluntária previsto no art. 159 C.P quando alguém mata outrem e
se descobre que o morto é seu ascendente isto agrava o Homicídio a luz da al.b) do
art.160 C.P, é este segundo que será aplicado ao caso.

 Relação de subsidiariedade: é quando uma das normas só vai ter a


possibilidade de ser aplicada se não for possível aplicar uma outra norma.

A subsidiariedade por sua vez pode ser:

 Expressa: quando a lei diz alguma coisa;


 Implícita: quando a lei nada diz mas através do raciocínio interpretativo se
chega a conclusão que a norma é subsidiária. Se comete crime nos punimos
por dolo e só quando não for possível, vamos punir por negligência.
 Relação de consumpção: Quando um tipo legal de crime faz parte de um outro
crime mas de forma típica, ou seja, para cometer um crime é necessário
cometer um outro crime mas só naquelas circunstâncias.
Exemplo: se alguém quer roubar televisor e para tal tem que se introduzir na
casa alheia, nestas circunstancias o crime de roubo consome o crime de se
introduzir na casa alheia.

14. Locus et Tempus deliti

Uns dos aspectos importantes abordados em Direito penal são o local e o tempo do
crime.

E em relação ao tempo em que o crime ocorreu chama-se tempus deliti, dois são os
momentos que podem ser considerados os tempos do crime:

 Diz-se o tempo do crime, o momento do último acto da execução;

Exemplo: se Clara leva arma e dá três tiros à Elizete, diz-se o tempo do crime, o
momento que disparou o terceiro tiro.
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 Pode-se considerar o tempo do crime, o momento da execução do crime e o
momento que os resultados se fazem sentir.

No caso de Moçambique diz-se momento do crime, o momento que o agente


actuou ou deixou de fazer o que a lei lhe obriga a fazer, a luz do art.2 do C.P.

Locus deliti ou local de crime

Refere-se a lugar onde ocorreu um determinado crime, existem duas principais teorias
senão únicas falam do assunto, nomeadamente:

 Teorias unilaterais: segundo estas Teoria o Estado ao julgar se baseia, ou no


lugar da execução do crime, ou no local onde se fez sentir o resultado do crime.

Possui como consequência a limitação criando assim uma impunidade. O que se


verifica é que se uma pessoa comete um crime e se refugia num pais que adopta teoria
unilateral do local da execução do crime, no país onde se encontra não será punido,
uma vez que não cometeu nele o tal crime.

E se um individuo comete um crime num pais onde se adoptou teoria unilateral de


resultado, (balear alguém e ir morrer num outro pais), onde se adoptou teoria
unilateral do execução, o Estado fica limitado uma vez que não se executou ali apenas
se verificou o resultado.

 Teorias plurilaterais: o Estado julga consoante as duas vertentes, tanto no


lugar da execução do crime assim como onde se verificam os resultados.

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DIREITO PENAL II
(TEORIA GERAL DE INFRACÇÃO CRIMINAL)

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Neste módulo de Direito penal, vamos abordar aspectos relacionados a teoria geral de
crime, ou seja, vamos de forma mais aprofundada perceber aspectos abordados no
Direito Penal I (acção, tipicidade, ilicitude, culpa).

1.Acção - Entende-se por acção, todo comportamento humano dominado, ou


dominável pelo agente, ou seja há acção quando o agente toma um comportamento
no qual tem o total controle ou quando o agente pode fazer alguma coisa para evitar e
não faz.

Ex1: Agredir alguém porque quer agredir.

Ex2: Ferir alguém porque lançou uma pedra fora sem olhar primeiro.

Daí que, há que não confundir acção com uma situação típica de não acção que ocorre
quando aparentemente há um comportamento humano, todavia, a conduta verificada
não é dominada e nem dominável.

Ex: Ser empurrado e quebrar automóvel alheio.

Há que também não se confundir com acção livre na causa que se verifica
quando o agente de forma voluntária se coloca numa situação de incapacidade para
usar como alegação depois de cometer um crime.

Ex: Beber para agredir sua esposa e culpar na bebida.

Importa referir que existem teorias/escolas (clássica, neo-clássica e finalista)


que fazem um estudo dos aspectos acima referidos nomeadamente (acção, tipicidade,
ilicitude, culpa), nos só vamos abordar como era definido o primeiro elemento (acção)
nestas escolas.

 ESCOLA CLÁSSICA (Acção) – É um movimento corporal que determina uma


modificação no mundo exterior, ligado causalmente à vontade do agente, ou
seja acção vai ser uma força física que crie resultado/modificação ao mundo
exterior.

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 ESCOLA NEO-CLÁSSICA (Acção) – Continua com a mesma definição que
consiste num comportamento humano modificador do mundo exterior, ligado
à vontade do agente.
 ESCOLA FINALISTA (Acção) – Define acção como sendo um comportamento
humano dominado ou dominável pelo agente. E essa definição adoptada até
aos dias actuais.

2. Tipicidade: O segundo elemento da teoria geral do crime é a tipicidade que consiste


na correspondência entre uma conduta e um tipo legal de crime, por outra, descrição
da conduta na parte especial do Código Penal ou outra lei penal.

A tipicidade deve ser encarada como indícios porque só se alcança a certeza


depois de se recorrer à elementos ilicitude e culpa.

A tipicidade se encontra dividida em:

 Tipicidade objectiva: que se limita no estudo do nexo de imputação que é a


ligação entre a conduta e o resultado.

Que tem como elementos:

Agente/autor – pessoas que praticam o crime e os cúmplices ; (art.24 do C.P);

Conduta – violação de uma proibição. Não matar (art.159 do C.P);

Objecto de conduta – coisa/pessoa na qual vai recair a conduta do agente;

Bem Jurídico – o interesse que o Direito pretende tutelar; Ex: (Vida,


Propriedade);

Nexo de imputação objectiva da conduta ao resultado;

O resultado – que é verificação final da conduta;

 Tipicidade subjectiva: onde se estuda a situação psicológica do agente, que


por sua vez se desdobra em:

Dolo – conhecimento e intenção do agente de praticar a conduta;

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Negligência - não tomar medidas de cuidado enquanto a lei obriga.

3. Classificação dos crimes

Em princípio importa nos recordar as duas definições do crime, seja em sentido


formal que se consubstancia em toda acção ilícita, típica, culposa e punível; assim
como em sentido material que vai ser toda conduta descrita na parte especial do
Código Penal.

Os crimes podem se classificar de acordo com o agente, da conduta, quanto ao


resultado.

Quanto ao agente os crimes pode ser:

Comuns: Que são aqueles crimes que podem ser cometidos por qualquer
indivíduo, como é o caso do Homicídio Voluntário Simples que se encontra descrito no
artigo 159 do C.P.

Específicos: que são aqueles crimes que exigem da parte do agente uma
qualidade ou situação jurídica específica, isso quer dizer que o autor não pode ser
qualquer pessoa mas sim alguém com um cargo, uma relação específica com a vítima,
como são os casos de homicídio agravado al.b) art.160 C.P; Bigamia, art.259 do C.P;
Peculato, art.434 do C.P.

Quanto a conduta os crimes podem ser:

Activos/ de acção: são os crimes que são cometidos por uma conduta activa que vai se
consubstanciar na violação de um bem jurídico, ou seja, consiste em fazer o que esta
proibido de fazer pela lei. Exemplo o artigo 159 que proíbe matar;

Omissivos/ por omissão: são aqueles crimes em que o agente deixa de fazer algo que
a lei lhe obriga a fazer. Como é o exemplo do art.266, que obriga apresentar às
autoridades um menor exposto, com isso queremos dizer que se a pessoa vê um
menor exposto e não apresenta às autoridades, comete com isso, um crime por
omissão.

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Há que salientar que esta omissão pode ser pura que também pode se designar
por omissão própria que se verifica quando existe um comando directo na lei dizendo
que com esta conduta a pessoa comete um crime por omissão, como são os casos dos
artigos 266 que foi mencionado acima, como também o artigo 266 do C.P, que obriga o
profissional da saúde a atender um paciente;

E omissão impura que também recebe o nome de omissão imprópria quando a


parte especial nada descreve sobre a conduta omissiva todavia, o agente deixa de
fazer alguma coisa e em função disto se verifica um resultado como se tivesse ocorrido
uma acção propriamente dita.

Podemos dar um exemplo de um pai passeando na rua com um filho seu, vem
alguém agride o filho, ele nada faz para cessar a agressão e em função deste não fazer
nada o filho perde a vida devido aos ferimentos graves que teve na agressão. Neste
exemplo podemos ver que o pai não teve nenhuma conduta activa em relação a
agressão do seu filho, no entanto, deixou de fazer algo que seria proteger ele, e por
causa desta falta de protecção o filho foi morto que é o resultado do artigo 159 do C.P.

Quanto ao resultado os crimes podem ser:

Formais: Que são aqueles crimes de mera conduta, ou seja, não nos interessa o
resultado, basta a pessoa praticar, já se preenche o tipo legal de crime como é o caso
de envenenamento previsto no artigo 162 do CP.

Materiais: são aqueles que para se consumar é necessário um resultado, por


exemplo para que ocorra o crime de Homicídio deve ocorrer resultado morte.

4. Imputação objectiva da conduta ao resultado

Um dos aspectos que mencionamos acima como elemento da tipicidade


objectiva é a imputação objectiva da conduta ao resultado. Este aspecto se discute
porque diante dos crimes materiais ou de resultado como queira chamar, há situações
passíveis de difícil imputação. Portanto, na perspectiva de resolver esse problema
surgem algumas teorias nomeadamente:

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-Conditio Sine Qua Non: Segundo esta teoria, vai ser causa de um determinado
resultado, qualquer condição que sem o qual o resultado não teria se verificado. E
estas condições tem mesma relevância.

Ex: Se Liquino luta com Lequea e acaba o ferindo, Lequea indo ao Hospital
acaba sendo atropelado e morre, a luta que causou o ferimento para ele pensar ir ao
Hospital é a causa do resultado morte;

-Teoria da causa última: Esta vai descartar todos acontecimentos anteriores a


última, dando importância o ultimo evento, que para esta teoria sem dúvidas é a causa
do resultado;

Ex: Se Liquino luta com Lequea e acaba o ferindo, Lequea indo ao Hospital
acaba sendo atropelado e morre, o atropelamento que é o último evento é o que vai
ser a causa da sua morte;

-Teoria da causalidade adequada (usada em Moçambique): Esta teoria é a mais


abordada, a ideia central desta teoria é procurar saber se há uma certa adequação
entre uma actividade e um determinado resultado, havendo esta adequação é que se
pode afirmar que a actuação foi a causa do resultado. E em Direito Penal diz-se que um
evento é consequência de um resultado, quando o resutado verificado é tipico, normal
e previsível.

Ex: É normal e previsível que com um baleamento alguém morra mas não é normal e
previsivel em Direito Penal que alguém venha de peneira anoite e te mate, por isso,
pode ser causa do resultado morte baleamento e não feitiço.

-Teoria de risco Segundo esta teoria haverá imputação quando se verificarem


cumulativamente os seguintes factores:

*O agente com sua acção tenha criado um risco não permitido ou tenha aumentado
um risco já existente;

*O risco tenha conduzido à produção de um resultado concreto;

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Ou seja, para existir uma imputação e necessário que ocorra acção/omissão e
necessário que seja esta conduta a causa efectiva do resultado.

Importa referir que em funçao da teoria de risco nascem tres situacoes que são:

Risco Juridicamente permitido: consiste na existencia de condutas e praticas de risco


mas que o Direito permite como é o caso de futebol;

Diminuição de risco: quando a agente da imputação vai modificar o pocesso causal


diminuindo assim a gravidade da consequência.

Ex: Ver alguém que está prestes a ser atropelado e empurrar causando com isso
ferimentos mas em contrapartida evitando a sua morte;

Comportamento lícito alternativo: se verifica quando o agente toma uma conduta e


em função desta conduta ocorre um resultado que de qualquer jeito iria se verificar, é
o caso do médico recusar te atender por saber que de qualquer jeito o paciente
acabará morrendo.

5. Tipificaçao Subjectiva

Conforme tínhamos dito anteriormente, na tipificação subjectiva procura-se entender


a situação psicológica do agente.

Quando o autor tem a intenção de cometer o crime diz-se crime doloso; Estes crimes
são os que ocupam a maior parte do C.P. em principio toda conduta é dolosa e a sua
negligencia deve ser dita expressamente pela lei nos termos do art.

Quando não há intenção na parte do agente diz-se crimes negligentes

Dolo – Sobre este aspecto, importa referir que se compõe por dois elementos que são:

Elemento intelectual: que consiste no conhecimento do agente da conduta criminosa;

Elemento volitivo: que é a intenção do agente cometer o crime, portanto, esta


vontade de se manifestar pode ser verificada de formas diferentes onde surgem:

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Dolo directo: quando a consequência da acção é a vontade inicial do agente, isto é, o
resultado verificado é exactamente o que o agente tinha idealizado, é o caso de balear
alguém para matar e a pessoa morrer

Dolo necessário: quando a intenção do agente não pretende atingir um dado bem
jurídico, no entanto, para o alcance do seu fim deve atingir o bem jurídico, é o caso de
querer matar alguém que esteja num machibombo mas ter que colocar bomba que vai
matar outras pessoas que tornando-se necessário para matar quem o agente quer
matar.

Dolo eventual: Se verifica quando o agente tem intenção de atingir um dado bem
jurídico, abrindo a possibilidade de atingir um outro bem jurídico não almejado no
entanto o agente se conforma, é o caso de ter intenção de incendiar casa de João nas
horas que ele está no serviço, no dia do acto saber que é possível que naquela hora ele
esteja lá dentro da casa mas mesmo assim incendeia a casa.

Importa também referir que nesta vontade de manifestar do agente, é passível de


cometer erros na representação do objecto, dai surgem os diversos erros
nomeadamente:

Erro sobre as proibições: consiste na falta do conhecimento por parte do agente de


que a conduta tomada é ilícita, ou em situações que o agente acha que a lei lhe atribui
uma causa de justificação enquanto não. Este erro não exclui dolo, ou seja mesmo não
conhecer que o que faz é crime será punido. al. a) do nr1. art.35 C.P

Erro de identidade: consiste na representação errada da vítima, querer matar António


e acabar matando a Júlio devido as semelhanças físicas que apresentam.

Este erro não exclui dolo conforme al.c) do nr1. Do art.35 do C.P, uma vez que o bem
atingido possui o mesmo valor jurídico daquele que se errou;

Erro sobre o objecto: Quando o agente de forma livre e consciente quer cometer um
delito todavia se engana em relação ao objecto, é o caso de querer matar um animal e
acabar atingindo uma pessoa, este tipo de erro exclui dolo uma vez que os bens têm
um valor jurídico diferente e a pessoa será punida a título de negligência;

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Erro na execução: quando o agente atinge um alvo diverso do pretendido devido a um
incidente ou falha no uso de meios de execução, aqui não há erro na representação
mas sim falha na execução por isso não afasta dolo também;

Há casos em que o agente tem intenção de cometer um crime, todavia, acaba gerando
um resultado grave que o pretendido, quando isso ocorre estamos numa situação de
crimes preteritencionais, neste tipo de crime há uma fusão entre elementos dolo e
negligência onde o agente na verdade quer fazer uma coisa mas acaba se verificando
um resultado não previsto é o caso de ter intenção de bater alguém para ferir e acabar
morrendo em função dos ferimentos causados como esta patente no artigo 174 do
C.P. E três são as características principais deste tipo de crime:

1º Deve existir um crime doloso (principal) através do qual o agente pretende criar um
certo resultado;

2º Em função da conduta dolosa do agente, deve se verificar um resultado não


previsto, que geralmente é grave que o previsto;

3º Vai existir uma agravação da pena em função do resultado que se verificou mas não
era o previsto, razão pela qual pode também se chamar por crimes agravados pelo
resultado.

6. Ilicitude

Um dos aspectos relevantes por abordar no estudo da teoria geral da infracção


criminal é a ilicitude. A ilicitude pode ser definida em sentido formal ou material.

Em sentido formal, a ilicitude vai ser a contrariedade entre uma conduta e o


ordenamento jurídico, ou seja um contraste entre um comportamento e as normas
jurídicas;

Em sentido material, será considerada como uma ilicitude, toda conduta contraria à
ordem jurídica, que cause lesão à um bem jurídico ou que crie risco para o mesmo;

Podemos usar como exemplo matar alguém ou tentar matar;

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Porem, há casos em que esta conduta contraria à lei é excluída, ou seja, existem
determinadas situações que quando verificadas, a ilicitude da conduta do agente fica
justificada, nomeadamente:

 Estado de necessidade objectivo (al.a) do nr.1 do art.51 – 52 do C.P). É o caso


de alguém viola um bem jurídico para salvaguardar um outro bem jurídico com
valor jurídico maior;
 Legítima defesa do ofendido ou duma terceira pessoa (al.b) do nr.1 do art.51 –
53 do C.P). É o caso de ser agredido, não ter ninguém por perto para te
socorrer na tentativa de cessar a agressão acabar matando o agressor;
 Conflito de deveres (al.c) do nr.1 do art.51 – 54 do C.P). É o caso de um
profissional da saúde recusar atender um paciente porque tem que atender
um outro paciente;
 Obediência devida aos superiores legítimos (al.d) do nr.1 do art.51 – 55 do
C.P). É o caso de um funcionário ser mandado depositar um dinheiro numa
conta do seu superior, inconsciente de que se trata de um desvio de fundo
estatal;

Fora das causas de exclusão de ilicitudes abordadas por nós, existem outras
enumeradas no artigo 51 do C.P.

7. Culpa

Entende-se por culpa, o juízo de censura feito pela lei, portanto a culpa é último
elemento do crime onde o juízo do agente é censurado por agir dum jeito que não
deveria.

Assim como vimos que a ilicitude podia ser excluída por alguns factores, a culpa
também pode se excluir por situações como:

Estado de Necessidade subjectivo (nr2, art.51) - ocorre quando o agente pratica o


facto dominado pelo medo. É o caso de um guarda ser ameaçado à morte caso não
abra uma casa para os ladrões roubarem, nestas circunstâncias se ele abre a porta a
ilicitude da sua conduta é justificado pelo medo indominável que sentia no momento;

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Excesso de legitima defesa conforme o nr.2 do artigo 53 do C.P;

A inimputabilidade - que pode ser em razão de idade ou doença mental conforme


alíneas a) e b) do art.48 do C.P.

8. Caminho do crime

Um dos aspectos importantes a serem abordados em Direito Penal é o famoso (iter


crimin) que podemos dizer que é o trajecto de um crime, que tem uma determinada
estrutura sendo:

1º Cogitação/ Pensamento criminoso – esta conforme a enumeração é a primeira fase


do crime que consiste num mero pensamento de cometer um determinado crime, este
não é punível todavia quando exteriorizado, pode preencher um tipo legal de crime e
dar uma punição, é o caso de crime de ameaça patente no art.195 do C.P;

2º Actos preparatórios – consiste na prática de certos actos que vão permitir/facilitar


o cometimento crime, estas não são puníveis em função do nr.2 do artigo 22 do C.P,
todavia, por força deste artigo em triangulação com o artigo 19 do C.P quando de
forma autónoma esses actos preparatório preenchem um tipo legal de crime, serão
punidos. É o caso de falsificação de chaves (nr.3 do art.283 do C.P), para
posteriormente cometer o crime de roubo (art.279 C.P), como pode se ver, só o facto
de falsificar a chave já é crime, nestas circunstâncias o acto preparatório pode se punir;

3º Execução - são actos praticados pelo agente sendo estes adequados para provocar
um determinado resultado e o agente tem uma decisão segura do que vai fazer, nesta
execução nascem figuras como (consumação, tentativa) que são formas de
aparecimento de crime.

 Consumação - quando o agente pratica todos actos por ele planejados,


verificando-se o resultado por ele desejado e é punível de acordo com o crime
cometido;

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 Tentativa (art.17 do C.P) – se verifica quando a execução da actividade
criminosa é interrompida por algum facto não que não seja da vontade do
agente;

Requisitos:

 Dolo do agente (intenção de cometer o crime);


 Iniciar uma execução todavia não terminada;
 Suspensão da execução por vontade independente do agente;
 Se tratar de um crime que quando consumado se pune com pena maior (+2-24
anos);

É o caso de um criminoso planejar em atirar duas balas à vítima no peito e na cabeça,


dá uma no peito e acabam balas na arma e em função disso não termina a execução.

Há casos em que o agente começa a executar os factos criminosos, todavia, não se


verificará o resultado porque usaram meios que não são capazes de causar o resultado
almejado ou porque o objecto do crime não existe, quando isto ocorre, estaremos
perante a tentativa impossível

Desistência Voluntária (art.20 do C.P) – ocorre quando o agente suspende a execução


do crime por vontade própria. Este acto por si só não é punível, só vai se punir pelo o
acto praticado antes da suspensão se o mesmo preencher um tipo legal de crime.
Como exemplo podemos usar um criminoso que pretende bater B até a morte, dá dois
golpes e suspende execução por vontade própria mas com os golpes contrai
ferimentos, o agente será punido em função dos ferimentos (ofensas à integridade
física);

9. Agentes de Crime

Os agentes de crime são: autores e cúmplices nos termos do art.23 do C.P;

Importa referir que a autoria pode ser:

Imediata quando o agente executa de forma directa o crime conforme a primeira


parte da alínea a) do art.24 do C.P;

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Mediata quando se pratica o crime por intermédio de alguém conforme a segunda
parte da alínea a) do art.24 do C.P;

Co-autoria quando duas ou mais pessoas fazem parte da execução se dividindo tarefas
conforme alínea b) do art.24 do C.P;

Cúmplices (art.25 do C.P): são aqueles que aconselham o agente a cometer o crime
todavia não determinam a execução, ou seja, mesmo se esses não o aconselhassem,
este cometeria o crime.

Cumplicidade pode ser moral quando apenas se auxilia o crime através de conselhos;
pode ser material quando se facilita a execução do crime dando objecto (arma branca
por exemplo).

Instigador É a pessoa que convence o outro a praticar um crime, diferentemente do


que ocorre na cumplicidade, na instigação o conselho do instigador determina a
execução do crime, ou seja, sem este conselho o agente nunca teria praticado aquele
crime conforme alínea c) do art.24 do C.P;

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