Ele diz que é possível “simplificar” o entendimento e estudo das coisas complexas
usando da organização de ideias. Não necessariamente simplificar, porém tornar
mais compreensível.
PARTE I
LÉVI-STRAUSS “PENSAMENTO SELVAGEM”:
observa que a explicação científica não consiste, como fomos levados a imaginar, na
redução do complexo ao simples.
❖ Ela consiste, diz ele, na substituição de uma complexidade menos inteligível por
outra mais inteligível.
No que concerne ao estudo do homem, no argumento de que a explicação consiste, muitas
vezes, em substituir quadros simples por outros complexos, enquanto se luta, de alguma
forma, para conservar a clareza persuasiva que acompanha os quadros simples.
O avanço científico pode transformar algo que antes foi lindamente simples em algo
insuportavelmente simplista.
→ É após ocorrer essa espécie de desencanto que a inteligibilidade e, dessa forma,
o poder explanatório, chega à possibilidade de substituir o enredado, mas
incompreensível, pelo enredado, mas compreensível, ao qual Lévi-Strauss se refere.
WHITEHEAD
ciências naturais a máxima “Procure a simplicidade, mas desconfie dela”;
as ciências sociais ele poderia ter oferecido “Procure a complexidade e ordene-a”.
→ O estudo da cultura segue, se tem desenvolvido sobre, essa máxima das ciências
sociais.
PERSPECTIVA ILUMINISTA DO HOMEM: ele constituía uma só peça com a natureza e
partilhava da uniformidade geral de composição que a ciência natural havia descoberto sob
o incitamento de Bacon e a orientação de Newton. Resumindo, há uma natureza humana
tão regularmente organizada, tão perfeitamente invariante e tão maravilhosamente
simples como o universo de Newton. Algumas de suas leis talvez sejam diferentes, mas
existem leis; parte da sua imutabilidade talvez seja obscurecida pelas armadilhas da
moda local, mas ela é imutável.
- MASCOU (transcrito por lovejoy)
“O cenário (em períodos e locais diferentes) é alterado, de fato, os atores mudam sua
indumentária e aparência; mas seus movimentos internos surgem dos mesmos desejos e
paixões dos homens e produzem seus efeitos nas vicissitudes dos reinos e dos povos.”
PARTE II
As tentativas de localizar o homem no conjunto dos seus costumes assumiram diversas
direções, adotaram táticas diversas; mas todas elas, ou virtualmente todas, agiram em
termos de uma única estratégia intelectual ampla:
>Concepção “estratigráfica” (estudar por camadas) das relações entre os fatores
biológico psicológico, social e cultural na vida humana
→De acordo com essa concepção, o homem é um composto de “níveis”, cada um
deles superposto aos inferiores e reforçando os que estão acima deles.
Ao analisar o homem retirasse camada após camada, cada uma delas sendo completa e
irredutível em si mesma, revelando uma diferente da outra.
Retiram-se as variegadas formas de cultura → encontram as regularidades estruturais e
funcionais da organização social → destacam-se essas encontram os fatores
psicológicos (“as necessidades básicas” ou o-que-tem-você) que as suportam e as tornam
possíveis → retiram-se o anterior e surgem os fundamentos biológicos (anatômicos,
fisiológicos, neurológicos) de todo o edifício da vida humana.*
* Aqui temos o esquema: cultural → social → psicológico → biológico.
>> Atrativos desta conceptualização
1. ter garantido independência e soberania das disciplinas acadêmicas estabelecidas.
2. Os fatos culturais podiam ser interpretados contra o pano de fundo dos fatos não
culturais sem dissolvê-los nesse pano de fundo ou neles dissolver o pano de fundo.
Ou seja, os fatos culturais não são os únicos fatores determinantes que constroem
define constrangem o que é ser homem
Antes o homem era estratificado hierarquicamente e as definições de cada nível (orgânico,
psicológico, social e cultural) eram possuintes de seu lugar designado e incontestável.
Todas essas definições acabavam por formar uma espécie de padrão moiré, dado o método
de análise que exigia que quando fossemos descobrir a real essência do homem era
necessário sobrepor-se os níveis de análise.
→ nível cultural é o único que é distinto ao homem
Para a imagem do homem do século XVIII, como o racional nu que surgiu quando ele se
despiu dos seus costumes culturais, a antropologia do final do século XIX e início do século
XX substitui a imagem do homem como do animal transfigurado que surgia quando ele
novamente se vestia com esses costumes.
> Ao nível da pesquisa concreta e da análise específica
Essa estratégia grandiosa desceu de duas formas:
- Primeiro: uma caçada por universais na cultura
- uniformidades empíricas
- Segundo: um esforço para relacionar tais universais, uma vez encontrados, com as
constantes estabelecidas de biologia, psicologia e organização social humanas.
Se alguns costumes pudessem ser destacados no meio do abarrotado catálogo da cultura
mundial como comuns a todas as variantes locais.
se eles pudessem ser ligados, de maneira determinada, a certos pontos invariantes de
referência nos níveis subculturais.
Então pelo menos algum progresso poderia ser feito para especificar quais os traços
culturais que são essenciais à existência humana e quais aqueles que são apenas
adventícios, periféricos ou ornamentais.
Dessa forma, a antropologia podia determinar as dimensões culturais de um conceito do
homem coincidente com as dimensões fornecidas, de maneira semelhante, pela biologia,
pela psicologia ou pela sociologia.
PELA ESSÊNCIA, ESSA NÃO É UMA IDEIA NOVA
A noção de um consensus gentium (um consenso de toda a humanidade)
→ a noção de que há algumas coisas sobre as quais todos os homens concordam como
corretas, reais, justas ou atrativas, e que de fato essas coisas são, portanto, corretas, reais,
justas ou atrativas
→ estava presente no iluminismo e esteve presente também em todas as eras e climas
- ela uma dessas ideias que ocorrem a quase todos, mais cedo ou mais tarde
→Todavia, seu desenvolvimento na antropologia moderna acrescentou algo de novo
● Clyde Kluckhohn (teórico persuasivo do consensus gentium)
→ “alguns aspectos da cultura assumem suas forças específicas como resultado de
acidentes históricos; outros são modelados por forças que podem ser designadas
corretamente como universais”
vida cultural dividida em duas:
1- a indumentária dos atores de Mascou, é independente dos “movimentos interiores”
newtonianos dos homens
2- uma emanação desses mesmos movimentos
Será que esse edifício a meio do caminho entre os séculos XVIII e XX pode manter-se
de pé?
Se pode ou não, depende de se o dualismo entre os aspectos da cultura empiricamente
universais enraizados em realidades subculturais e os aspectos empiricamente variáveis,
não tão enraizados, pode ser estabelecido e sustentado.
exige que:
1 - os universais propostos sejam substanciais e não categorias vazias
2 - eles sejam especificamente fundamentados em processos particulares biológicos,
psicológicos ou sociológicos, e não vagamente associados a “realidades subjacentes”
3 - eles possam ser convincentemente defendidos como elementos essenciais numa
definição da humanidade em comparação com a qual as muito mais numerosas
particularidades culturais são de importância secundária.
PARA GEERTZ: “Parece-me que a abordagem consensus gentium falha em todos esses
três itens; em vez de mover-se em direção aos elementos essenciais da situação humana,
ela se move para longe deles.”
Quanto ao primeiro :os universais propostos sejam substanciais e não categorias vazias
O fato de que em todos os lugares as pessoas se juntam e procriam filhos têm algum
sentido do que é meu e do que é teu, e se protegem, de alguma forma, contra a chuva e o
sol não é nem falso nem sem importância, sob alguns pontos de vista. Todavia, isso pouco
ajuda no traçar um retrato do homem que seja uma parecença verdadeira e honesta e não
uma espécie de caricatura de um “João Universal”, sem crenças e credos.
GEERTZ
Meu ponto de vista, que deve ser claro e, espero, logo se tornará ainda mais claro não é
que não existam generalizações que possam ser feitas sobre o homem como homem, além
da que ele é um animal muito variado, ou de que o estudo da cultura nada tem a contribuir
para a descoberta de tais generalizações.
Generalizações não podem ser descobertas através de uma pesquisa baconiana de
universais culturais, uma espécie de pesquisa de opinião pública dos povos do
mundo em busca de um consensus gentium que de fato não existe.
→ as tentativas de assim proceder conduzem precisamente à espécie de relativismo
que toda a abordagem se propunha expressamente evitar.
Uma vez que se abandona o uniformitarismo, mesmo que apenas parcial e incertamente,
como os teóricos do consensus gentium, o relativismo passa a ser um perigo genuíno.
→Todavia, ele pode ser afastado, enfrentando direta e totalmente as diversidades da
cultura humana, não deslizando por sobre elas com vagas tautologias e frágeis
banalidades
Quanto ao segundo: eles sejam especificamente fundamentados em processos particulares
biológicos, psicológicos ou sociológicos, e não vagamente associados a “realidades
subjacentes”
A conceptualização “estratigráfica” das relações entre fatores culturais e não culturais
embaraça ainda mais efetivamente tal fundamento. Uma vez que a cultura, a psique, a
sociedade, o organismo são convertidos em “níveis” científicos separados, completos e
autônomos em si mesmo, é muito difícil reuni-los novamente.
A forma mais comum de tentar fazê-lo é através da utilização dos assim chamados “pontos
invariantes de referência” (“Toward a Common Language for the Areas of the Social
Sciences”)
“na natureza dos sistemas sociais, na natureza biológica e psicológica dos
indivíduos componentes, nas situações externas nas quais eles vivem e atuam, na
necessidade de coordenação dos sistemas sociais. Na (cultura)... esses “foci” de
estrutura jamais são ignorados. Eles devem, de alguma forma, ser “adaptados a” ou
“levados em consideração”.”
Os universais culturais são concebidos como respostas cristalizadas a essas realidades
inevitáveis, formas institucionalizadas de chegar a termos com elas.
PARTE III
A principal razão pela qual os antropólogos fogem das particularidades culturais quando
chegam à questão de definir o homem, procurando o refúgio em universais sem sangue, é
que, confrontados como o são pela enorme diversidade do comportamento humano, eles
são perseguidos pelo medo do historicismo, de se perderem num torvelinho de relativismo
cultural tão convulsivo que poderá privá-los de qualquer apoio fixo.
Precisamos procurar relações sistemáticas entre fenômenos diversos, não
identidades substantivas entre fenômenos similares.
Na tentativa de lançar tal integração do lado antropológico e alcançar, assim, uma imagem
mais exata do homem, quero propor duas ideias.
A primeira delas é que a cultura é vista melhor não como complexos de padrões concretos
de comportamento — costumes, usos, tradições, feixes de hábitos —, como tem sido o
caso até agora, mas como um conjunto de mecanismos de controle — planos, receitas,
regras, instruções (o que os engenheiros de computação chamam “programas”) — para
governar o comportamento.
A segunda ideia é que o homem é precisamente o animal mais desesperadamente
dependente de tais mecanismos de controle, extragenéticos, fora da pele, de tais
programas culturais, para ordenar seu comportamento.
A perspectiva da cultura como “mecanismo de controle” inicia-se com o pressuposto de que
o pensamento humano é basicamente tanto social como público — que seu ambiente
natural é o pátio familiar, o mercado e a praça da cidade.
O homem precisa tanto de tais fontes simbólicas de iluminação para encontrar seus apoios
no mundo porque a qualidade não simbólica constitucionalmente gravada em seu corpo
lança uma luz muito difusa.
Na antropologia, algumas das evidências mais reveladoras que apoiam tal posição provêm
de avanços recentes em nossa compreensão daquilo que costumava ser chamado a
descendência do homem: a emergência do Homo sapiens do seu ambiente geral primata.
Três desses avanços são de importância relevante:
(1) o descartar de uma perspectiva sequencial das relações entre a evolução física e o
desenvolvimento cultural do homem em favor de uma superposição ou uma perspectiva
interativa;
(2) a descoberta de que a maior parte das mudanças biológicas que produziram o homem
moderno, a partir de seus progenitores mais imediatos, ocorreu no sistema nervoso central,
e especialmente no cérebro;
(3) a compreensão de que o homem é, em termos físicos, um animal incompleto,
inacabado; o que o distingue mais graficamente dos não homens é menos sua simples
habilidade de aprender (não importa quão grande seja ele) do que quanto e que espécie
particular de coisas ele tem de aprender antes de poder funcionar.