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3/21/22, 2:38 PM jurisprudência.

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Tribunal da
Relação de Lisboa
Processo

6272/2006-7
Relator

ORLANDO
NASCIMENTO
Sessão

17 Outubro 2006
Votação

MAIORIA COM * DEC


VOT E * VOT VENC
Meio Processual

APELAÇÃO
Decisão

CONCEDIDO
PROVIMENTO

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ADVOGADO TESTEMUNHA

SEGREDO PROFISSIONAL

Sumário
I- Um advogado pode depor como testemunha
ainda que, no exercício da sua actividade, uma das
partes tenha sido sua cliente, conquanto o
conhecimento dos factos não lhe tenha advindo
nos termos do artigo 81.º do Estatuto da Ordem dos
Advogados de 1984 (correspondente ao actual
artigo 87.º/1)

II- A invocação da nulidade dos depoimento, com

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fundamento em violação do segredo profissional,


não se basta sem a concretização dos factos que
devam considerar-se abrangidos pelo segredo
profissional do advogado.
(SC)

Texto Integral
Acordam os Juízes que constituem o
Tribunal da Relação de Lisboa.

1. RELATÓRIO

C.[…]  propôs contra W.[…] esta acção


declarativa de condenação, sob forma
ordinária, pedindo que este seja
condenado a entregar-lhe a quantia de
31.831.577$00, acrescida dos juros
legais desde 03/12/99, relativa ao preço
de serviços que lhe prestou.

Citado, contestou o R dizendo que


contratou os serviços do A com o
objectivo de levar a efeito a aquisição
da sua nacionalidade portuguesa, bem
como a da sua mulher e filhos, que lhe
pagou tudo a que se comprometeu e que
não contratou outros serviços, nada mais
lhe devendo.

O R. ofereceu como testemunha P.[…],


advogado, residente em Macau, para cuja
inquirição foi expedida carta rogatória.

Cumprida esta, o A. arguiu a nulidade do


depoimento da testemunha com fundamento
em que o mesmo foi prestado em violação
do disposto nos nºs 1, 2, 3 e 4 do art.º
81 do Estatuto da Ordem dos Advogados
(actual art.º 87.º, nºs 1, 2, 3 e 4 do
mesmo Estatuto) pois, a testemunha,
sendo advogado, não pediu dispensa do

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sigilo profissional.

O R opôs-se a tal pretensão.

Por despacho de 06/05/2005, o Tribunal


declarou a nulidade do depoimento da
testemunha com fundamento, em síntese,
em que a testemunha não separou o seu
conhecimento pessoal do conhecimento na
qualidade de advogado.

Inconformado com essa decisão, o R dela


interpôs recurso, recebido como agravo,
com subida diferida e com efeito
meramente devolutivo, pedindo a
revogação do despacho recorrido,
formulando as seguintes conclusões:

1.ª Vem o presente recurso de agravo


interposto do despacho que declarou a
nulidade da testemunha P.[…], não
tomando em consideração as respectivas
declarações, tendo o mesmo recurso por
objecto a reapreciação da prova gravada,
designadamente, a que se contém no CD
com o teor da inquirição da mesma
testemunha.

2.ª A pretensa nulidade consistente na


alegada violação do art.º 87º do
Estatuto da Ordem dos Advogados não é
nem pode considerar-se uma nulidade de
que o tribunal deva conhecer
oficiosamente, nos precisos termos em
que o estabelece o preceito do art.º
202º.

3.ª Como, de igual modo, não configura


nenhum caso especial em que lei especial
permita expressamente um tal
conhecimento.

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4.ª Sempre conjecturando a nulidade


invocada pelo A. como uma mera hipótese
de raciocínio, o prazo para a sua
arguição era de dez dias, a contar do
momento em que dela o A. devesse tomar
conhecimento, de harmonia com o disposto
no art.º 205º, nº 1, do CPC, ao caso
aplicável.

5.ª Ora, porque o A. arguiu a pretensa


nulidade em apreço, por requerimento
apresentado em 29 de Março de 2005,
muito tempo após o decurso do aludido
prazo, deverá a mesma ter-se por sanada.

6.ª Ao decidir de forma diversa, o


despacho agravado violou, por errónea
interpretação e errónea aplicação, o
disposto nos art.ºs 201º, 202º, 204º e
205º, todos do CPC.

7.ª O depoimento da testemunha P.[…],


advogado, não contém qualquer elemento
que permita concluir ter sido prestado
em violação de segredo profissional.

8.ª Com efeito, os factos atinentes ao


presente processo sobre os quais a mesma
testemunha se pronunciou e prestou
declarações restringem-se a factos que
lhe advieram de uma relação estritamente
pessoal com o R., então provocada pelo
próprio A.

9.ª Nenhum desses factos se integra na


previsão do art.º 87º, da Lei 15/2005,
de 26 de Janeiro, designadamente, no
corpo e alínea a) do seu nº 1, pelo que
não podia, com esse fundamento, ter sido
declarada a nulidade do depoimento da
mesma testemunha.

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10.ª Ao decidir como decidiu, o despacho


agravado violou, por errónea
interpretação e incorrecta aplicação, o
aludido preceito do art.º 87º da Lei
15/2005.

O A contra-alegou pugnando pela


confirmação da decisão recorrida.

O Tribunal a quo sustentou o despacho


recorrido.

Realizada a audiência de discussão e


julgamento foi proferida sentença
julgando a acção, procedente e
condenando o R a entregar ao A a quantia
mensal em Euros equivalente a 42.000 HKD
desde Março de 1995 a Dezembro de 1998,
inclusive, acrescida dos juros de mora
vencidos e vincendos.

Inconformado com essa decisão, o R dela


interpôs recurso, recebido como
apelação, pedindo a revogação da
sentença e a absolvição do pedido,
formulando as seguintes conclusões:

1.ª Vem o presente recurso interposto da


douta sentença que decidiu condenar o R.
no pagamento de uma quantia mensal
equivalente a 42.000 HKD (dólares de
Hong Kong) desde Março de 1995 a
Dezembro de 1998, acrescida de juros de
mora, deduzindo-se a essa importância
520.000 HDK, e absolvendo-o da parte
restante do pedido.

2.ª O Meritíssimo Juiz a quo, para além


de ter declarado ilegalmente a nulidade
do depoimento da testemunha do R. P.[…]
–  objecto de recurso de agravo a julgar
nesta instância –, desconsiderou também

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sem qualquer fundamento o depoimento das


restantes testemunhas, em particular da
testemunha P.S.

3.ª No julgamento da matéria de facto, o


respectivo Juiz, para justificar a não
credibilidade do depoimento daquela
testemunha, invocou, de forma
discriminatória, argumentos que,
contudo, já não usou em situações
idênticas registadas com as testemunhas
do apelado.

4.ª O apelante não pode ser prejudicado


pelo facto de os depoimentos das suas
testemunhas serem realizados em
audiência por precatória, nem a
credibilidade da testemunha pode ser
aferida pelo facto de, não sendo
contraditado – pela ausência do
mandatário da outra parte –, mostrar-se
muito conciso nas suas respostas.

5.ª Porque assim, o julgamento da


matéria de facto mostra-se completamente
inquinado em consequência de, sem
qualquer fundamento, não ter sido
considerado o depoimento de todas as
testemunhas do apelante.

6.ª Em consequência do que acabou de


alegar-se e compaginando todos os
depoimentos das testemunhas na parte em
que revelaram ter conhecimento directo
dos factos, impugnam-se, por
incorrectamente julgados, os seguintes
pontos de facto objecto da base
instrutória: 1º, 3º e 47º, 4º,5º, 20º,
21º, 25º, 33º, 34º, 51º, 52º e 53º, e
6º, 7º, 9º, 10º, 11º, 22º, 23º, 24º,
40º, 42º, 43º e 45º.

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7.ª A relação entre A. e R.


caracterizou-se, desde 1991, como uma
tentativa por parte do apelado, de
cativar o R. para a realização de
investimentos em Portugal, com vista a
vir ocupar um lugar cimeiro de
administração dos negócios futuros do
apelante, caso as propostas apresentadas
por iniciativa exclusiva do apelado
viessem a concretizar-se, tendo sido
desde sempre com esse objectivo que o
apelado elaborou dossiers sobre várias
oportunidades de negócios e os remeteu
ao apelante, pelo que, designadamente no
período de 1995 a 1998, teria de
decidir-se de forma diversa o facto
respeitante ao interesse/iniciativa do
apelante investir em Portugal,
recorrendo pretensamente ao apelado para
o efeito.

8.ª Os únicos serviços verdadeiramente


contratados e remunerados ao apelado
pelo apelante foram os que se
relacionaram com a aquisição da
nacionalidade portuguesa para o
recorrente, mulher e filhos, serviços
pelos quais o apelante lhe pagava a
importância mensal correspondente a
400.000$00 mensais – cfr. depoimentos
das testemunhas F.[…], cassete áudio nº
1, rotações 000 (lado A) a 2868 (lado
B): Fiquei com a impressão de que a
única coisa que o Sr. W.[…] queria era
que o Dr. C.L.[…] lhe tratasse do
passaporte. O objectivo principal dele
era esse. Queria o passaporte português;
C.[…], cassete áudio nºs 1 e 2, de
rotações 4778(lado B) na cassete 1 a
rotações 1492 (lado A), da cassete 2:
estava interessado na nacionalidade para
se deslocar a Portugal; T.[…], cassete

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áudio 2, de rotações 1961 (lado A): Os


chineses têm dificuldades de locomoção
dentro da comunidade europeia; P.S.[…],
CD, 2m25s, acta fls. 249): Da parte do
Sr. W.[…] só foi para pedir a
nacionalidade portuguesa.

9.ª Por este motivo, e ainda porque


ninguém depôs no sentido de o apelante
ter colocado a aquisição da
nacionalidade portuguesa como condição
do que quer que seja, designadamente a
concretização de investimentos que nunca
passaram dos dossiers do apelado, impõe-
se decisão diversa da recorrida aos
factos dos supra-mencionados quesitos 3º
e 47º.

10.ª A instâncias do Meritíssimo Juiz do


Julgamento, a testemunha Eng.º F.[…]
declarou que nessa estrutura (a criar
por proposta do apelado), o Dr. C.L.[…]
ia ser o número um, ia ter a maior
participação nesses negócios, e a
testemunha T.[…] afirmou que, caso se
concretizassem os negócios propostos
pelo A., o meu pai iria ser o
representante do Sr. W.[…] cá em
Portugal, iria ter um bom salário, o que
ilustra de forma elucidativa que, não só
o A., aqui apelado, não era (iria ser)
representante do apelante em negócios
inexistentes, como comprovam cabalmente
que os investimentos em Portugal eram
mais do interesse do Dr. C.L.[…] do que
do Sr. W.[…] (depoimento da testemunha
P.[…], CD, 48m45s).

11.ª Os negócios e propostas de


investimentos objecto de estudos e
dossiers organizados pelo A. foram
sempre da iniciativa do apelado, por

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sugestão muitas vezes de terceiros


(facto referido pela testemunha Eng.º
F.]…]) e nunca a pedido do apelante, o
qual apenas remunerava o A. para lhe
tratar do processo de aquisição da
nacionalidade portuguesa – testemunha T.
[…]: a ideia que tenho (é que) foi a
partir do momento em que ele ficou com o
processo da nacionalidade que terminou o
relacionamento (cassete nº 2, rotações
1961-lado A- a 4677-lado B), ou seja a
partir do momento, no fundo, em que se
esgotara o objecto do verdadeiro e único
acordo.

12.ª Não pode dar-se por provado que o


apelado prestasse serviços em
exclusividade ao apelante (quesito 21),
visto que a testemunha C.[…], declarou
que ele tinha outras actividades e que
não era um trabalho assim exaustivo que
ocupasse o tempo todo – cassete áudio nº
1, de rotações 4778 (lado B) a cassete
nº 2, rotações 1492 (lado A).

13.ª De igual modo, também não poderia


dar-se por não provada a inexistência de
uma representação permanente do apelante
em Portugal, quando pelo depoimento da
testemunha T.[…], o único escritório que
existia era… a residência do apelado.

14.ª Pelo exposto, impõe-se uma decisão


diversa do julgado sobre os factos
objecto dos quesitos mencionados na
precedente conclusão 6.

15.ª De harmonia com a decisão sobre o


facto constante do quesito 19, não ficou
provado que o pretenso acordo cuja
minuta foi elaborada pelo A. tenha sido
traduzido para o apelante.

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16.ª Por outro lado, ficou provado que o


R. não consegue ler um texto em
português (resposta ao quesito 8º) e, ao
contrário do que decidiu o Meritíssimo
juiz a quo, deve ter-se por provado que
o mesmo apelante não percebe nem domina
o inglês – cfr. depoimento da testemunha
P.S.[…], CD 2m25s.

17.ª Porque assim, a decisão que se


impunha sobre o facto do quesito 42 era
a de que teria de ficar provado que o
apelante desconhecia o aludido
documento.

18.ª Para corroborar esta conclusão, os


depoimentos de várias testemunhas são
explícitos em associar o único acordo
verbal existente A. e R. e o início da
remuneração do apelado pelo apelante em
1995 exclusivamente aos serviços do A.
para a obtenção da nacionalidade
portuguesa para o apelante e família – a
testemunha T.[…] alude que a remuneração
dos serviços do pai só se iniciou quando
ele começou a tratar da aquisição da
nacionalidade portuguesa.

19.ª O apelante se tivesse ou pudesse


ter lido e compreendido o documento
minutado pelo apelado nunca o teria
assinado, por isso não corresponder ao
que estava convencionado e em vigor
entre ambos, isto é, o pagamento pelo
apelante de 400.000$00 mensais para o
apelado se encarregar do processo de
aquisição da nacionalidade portuguesa
pelo R.

O Sr. W.[…] não percebe inglês. O C.[…]


sabe perfeitamente que o Sr. W.[…] não

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fala nem escreve a língua inglesa.

Muito provável que o S. W.[…] tenha


pensado que era sobre impressos para
adquirir nacionalidade portuguesa.

O Sr. W.[…] é uma pessoa muito


cauteloso. Nunca podia ter assinado
aquele papel se soubesse o que era.
(testemunha P.S.[…], CD, 2m25s).

20.ª Tendo em consideração o exposto,


impõe-se uma decisão inversa para os
factos objecto dos quesitos 6º, 7º, 9º,
10º, 11º, 22º, 23º, 24º, 40º, 42º, 43º,
45º.

21.ª Ao invés do que decidiu a douta


sentença recorrida, não podendo dar-se
por provado que o apelante tenha
concordado com a redacção de uma minuta
que nunca leu nem lha traduziram, também
não pode concluir-se, em consequência,
que o apelante tivesse ficado vinculado
a um contrato que nunca conheceu, que
nunca aceitou nem aceitaria.

22.ª O pretenso e pseudo-acordo, com


base no qual o A. peticiona na presente
acção, não pode produzir qualquer
efeito, por inexistência de uma
declaração negocial válida por parte do
apelante.

O A contra-alegou pugnando pela decisão


recorrida.

2. FUNDAMENTAÇÃO

A) OS FACTOS

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O Tribunal a quo considerou provados os


seguintes factos:

1) O A. deslocou-se a Macau em 1991,


tendo aí conhecido o R. (alínea A) da
Matéria de Facto Assente).

2) O R. pediu ao A. que o apoiasse na


tramitação do processo de aquisição de
nacionalidade (alínea B) da Matéria de
Facto Assente).

3) O A. recolheu as informações
jurídicas necessárias e preparou os
respectivos documentos para dar início
ao processo de aquisição de
nacionalidade portuguesa do R., mulher e
filhos (doc. 1, 2 e 3 juntos ao processo
de arresto) (alínea C) da Matéria de
Facto Assente).

4) O A. e o R. apuseram as suas
assinaturas no documento constante de
fls. 23 dos autos de arresto e cuja
tradução consta de fls. 24/24 desses
autos (alínea D) da Matéria de Facto
Assente).

5) O R. obteve a nacionalidade


portuguesa em 6 de Dezembro de 1995
(alínea E) da Matéria de Facto Assente).

6) O A. efectuou diligências no âmbito


do processo de aquisição da
nacionalidade portuguesa, conforme os
documentos nºs 6, 7, 8, 9 e 10 de fls.
28 a 35 dos autos de arresto (alínea F)
da Matéria de Facto Assente).

7) O R. entregou ao A. a quantia de
140.000 HKD (alínea G) da Matéria de
Facto Assente).

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8) Para além do referido em “G”, o R.


transferiu para a conta do A. em
Portugal a quantia de 380.000 HKD
(alínea H) da Matéria de Facto Assente).

9) O R. deu a conhecer ao A. na ocasião


referida em “A” que estava muito
interessado em investir em Portugal,
designadamente na área imobiliária e que
apreciaria muito se o A. lhe preparasse
alguns projectos com vista a futuro
investimento (resposta ao artigo 1º da
Base Instrutória).

10) Logo que regressou a Portugal, o A.


começou a fazer dossiers sobre projectos
de investimento, enviando, seguidamente,
ao R. informações detalhadas, estudos e
brochuras sobre os mesmos (resposta ao
artigo 2º da Base Instrutória).

11) No âmbito dos contactos, que


entretanto foram estabelecendo, o R.
referiu ao A., em 1994, que para poder
concretizar os grandes investimentos que
estava a pensar fazer em Portugal e para
poder transferir para cá os
financiamentos necessários, precisava de
adquirir a nacionalidade portuguesa
(resposta ao artigo 3º da Base
Instrutória).

12) A fim de ficar com uma visão global


do tecido económico português, o R.
solicitou ainda ao A. que o pusesse em
contacto com instituições empresariais
portuguesas, o que o A. fez, marcando
reuniões com a AIP (Associação
Industrial Portuguesa) e com a APATD
(Associação para a Promoção das Novas
Tecnologias às Industrias da Cultura, do

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Artesanato e Design (resposta ao artigo


4º da Base Instrutória).

13) O Réu informou, entretanto, o A. que


havia decidido criar uma estrutura
operacional em Lisboa que lhe permitisse
acompanhar os projectos de investimentos
e dar apoio ao processo de aquisição de
nacionalidade (resposta ao artigo 5º da
Base Instrutória).

14) Em Março de 1995, o R. veio a


Portugal e acordou com o A. os termos do
contrato de prestação de serviços
(resposta ao artigo 6º da Base
Instrutória).

15) O A. minutou o contrato em português


nos termos contratos (resposta ao artigo
7º da Base Instrutória).

16) O R. tem conhecimentos rudimentares


de português, não conseguindo manter uma
conversa ou ler um texto, mas sendo
capaz de trocar ou ler algumas palavras
(resposta ao artigo 8º da Base
Instrutória).

17) O R. concordou com a redacção da


minuta, mas... (resposta ao artigo 9º da
Base Instrutória).

18) .. solicitou que a mesma fosse


traduzida para inglês, para a poder
submeter à análise e apreciação do seu
advogado de Hong Kong (resposta ao
artigo 10º da Base Instrutória).

19) O A. redigiu o acordo em inglês,


conforme o solicitado pelo R. (resposta
ao artigo 11º da Base Instrutória).

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20) Quando o R. regressou a Hong Kong


levou consigo o dito acordo redigido em
inglês e já assinado pelo A. (resposta
ao artigo 12º da Base Instrutória).

21) Posteriormente, o R. reenviou o


acordo de Hong Kong para o A. já
assinado por si (resposta ao artigo 13º
da Base Instrutória).

22) O dito acordo assinado pelo A. e


pelo R. é o acordo referido em “D”
(resposta ao artigo 15º da Base
Instrutória).

23) A inúmera correspondência trocada


entre o A. e o R., designadamente,
faxes, foi quase sempre redigida em
inglês (resposta ao artigo 16º da Base
Instrutória).

24) O R. era secretariado e apoiado por


elementos que dominavam o inglês falado
e escrito (resposta ao artigo 17º da
Base Instrutória).

25) Os quais traduziam a correspondência


recebida em inglês, redigiam documentos
em inglês e, sempre que necessário,
traduziam as conversações em inglês
(resposta ao artigo 18º da Base
Instrutória).

26) Com o acordo referido em 15º, o A.


passou a prestar apoio e serviços
diversos para o R. […] em Portugal para
efeito de analisar e apresentar
oportunidades de investimento, dando
apoio a grupos chineses e no sentido de
tratar do processo para aquisição da
nacionalidade portuguesas para o Sr. […]
e para criar as condições de

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estabelecimento de uma nova sociedade


designada “T.P.[…] Portugal” (resposta
ao artigo 20º da Base Instrutória).

27) Para a consecução daqueles fins, o


A. passou a prestar serviços
exclusivamente para o R. W.[…], dando
apoio ao seu processo de aquisição de
nacionalidade portuguesa, desempenhando
as funções de seu representante em
Portugal e apoiando os projectos
seleccionados por aquele (resposta ao
artigo 21º da Base Instrutória).

28) Por tal acordo, o R. obrigou-se a


pagar ao A. uma quantia mensal de 20.000
HKD (dólares de Hong Kong) e ainda uma
quantia mensal a cobrir despesas com
automóvel, documentos e despesas de
representação no montante mensal de
12.000 dólares de Hong Kong, com início
em Março de 1995 (resposta ao artigo 22º
da Base Instrutória).

29) Outras despesas efectuadas pelo A.


no desempenho das suas funções seriam
pagas após aprovação das mesmas pelo R.
(resposta ao artigo 23º da Base
Instrutória).

30) Ainda em conformidade com o acordo,


aquele montante teria um aumento mensal
equivalente a 10.000 dólares de Hong
Kong e com efeitos retroactivos ao
início da vigência do acordo, logo que o
R. obtivesse a nacionalidade portuguesa
(resposta ao artigo 24º da Base
Instrutória).

31) O A. desenvolveu diligências e


efectuou estudos tendentes à
concretização pelo R. de investimentos

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em Portugal (resposta ao artigo 25º da


Base Instrutória).

32) E foi em conformidade com o acordo


referido em 15- que efectuou as
diligências referidas em “F” (resposta
ao artigo 26º da Base Instrutória).

33) O R. começou, entretanto, a atrasar-


se no pagamento das retribuições devidas
ao A. e das outras despesas de
representação (resposta ao artigo 27º da
Base Instrutória).

34) O A. obteve o certificado de


admissibilidade da denominação “T.D. […]
Lda.” e o número provisório de
identificação da sociedade, ficando a
aguardar directrizes do R. para a
constituição da sociedade (Docs 11 e 12
juntos ao processo de arresto) (resposta
ao artigo 29º da Base Instrutória).

35) Os pagamentos referidos em “G” e “H”


foram por conta dos montantes em atraso
pelo R. ao A. (resposta ao artigo 30º da
Base Instrutória).

36) Ao desenvolver a actividade acordada


o A. pagou as despesas e encargos
administrativos como sejam de
secretariado, telefones, faxes e
deslocações (resposta ao artigo 32º da
Base Instrutória).

37) O R. interessou-se, entretanto, pela


compra do Hotel […] em Lisboa, tendo o
A. enviado ao R., para Hong-Kong,
inúmeras informações, brochuras e
estudos sobre o Hotel e tendo tido
várias reuniões com os encarregados da
venda do mesmo (Doc. 15 junto ao

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processo de arresto) (resposta ao artigo


33º da Base Instrutória).

38) Tudo foi feito a pedido do R.


(resposta ao artigo 34º da Base
Instrutória).

39) A partir de certa altura o R.


interrompeu as negociações para a compra
do Hotel (resposta ao artigo 35º da Base
Instrutória).

40) Devido ao não pagamento pelo R. das


quantias devidas ao A. este não prestou
mais serviços ao R. a partir de Dezembro
de 1998 (resposta ao artigo 38º da Base
Instrutória).

41) Em Dezembro de 1998, o A. enviou ao


R. a nota de honorários pelos serviços
prestados até aquela data (resposta ao
artigo 39º da Base Instrutória).

42) A prestação de serviços cessou


quando o R. enviou ao A. uma carta nesse
sentido, em Maio de 1998 (resposta ao
artigo 46º da Base Instrutória).

43) Como o A. não logrou conseguir a


aquisição de nacionalidade da mulher do
R., este solicitou os serviços de um
advogado, o qual veio a resolver o
assunto (resposta ao artigo 49º da Base
Instrutória).

44) O A. não autorizou as despesas


mencionadas no art.º 32º da Base
Instrutória (resposta ao artigo 54º da
Base Instrutória).

B) O DIREITO APLICÁVEL

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O conhecimento deste Tribunal de 2.ª


instância, quanto à matéria dos autos e
quanto ao objecto do recurso, é
delimitado pelas conclusões das
alegações dos recorrentes como, aliás,
dispõem os art.ºs 684.º, n.º 3 e 690.º,
n.º 1 e 2 do C. P. Civil, sem prejuízo
do disposto no art.º 660.º, n.º 2 do C.
P. Civil (questões cujo conhecimento
fique prejudicado pela solução dada a
outras e questões de conhecimento
oficioso).

Como inequivocamente resulta das


alegações da apelação, o apelante mantém
interesse na apreciação do agravo, pelo
que abordaremos, primeiramente, as
questões nele suscitadas.

I. O agravo.

No seu recurso de agravo, como resulta


das respectivas conclusões, acima
descritas, o agravante suscita as
seguintes questões:

1.ª A violação do disposto no art.º 87.º


do actual Estatuto da Ordem dos
Advogados não é de conhecimento oficioso
(conclusões 1.ª a 3.ª).

2.ª A verificar-se nulidade por violação


desse preceito, quando foi invocada, já
a mesma se encontrava sanada pelo
decurso do respectivo prazo de arguição
(conclusões 4.ª a 8.ª).

3.ª O depoimento da testemunha P.[…] não


configura violação de segredo
profissional de advogado (conclusões 7.ª
a 10.ª).

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Por uma questão de lógica conceptual e


também de interesse processual (haja em
vista o disposto no art.º 660.º, n.º 2
do C. P. Civil), conheceremos das
questões suscitadas pelo agravante por
ordem inversa da indicada.  

Assim,

I.1. Quanto à primeira questão, a saber,


se o depoimento da testemunha P.[…]
configura (ou não) violação de segredo
profissional de advogado.

A testemunha P.[…] foi oferecida como


tal, com indicação da profissão de
advogado, na audiência de 08/11/2002
(fls. 92) e foi inquirida em 19/06/2003
(fls. 231).

Nessa data, dispunha o art.º 81.º do


Estatuto da Ordem dos Advogados, sob a
epígrafe, “Do segredo profissional”,
que:

“O advogado é obrigado a guardar segredo


profissional no que respeita;

 a) A factos referentes a assuntos


profissionais que lhe tenham sido
revelados pelo cliente ou por sua ordem
ou conhecimento no exercício da
profissão;

 b) A factos que, por virtude de cargo


desempenhado na Ordem dos Advogados,
qualquer colega, obrigado quanto aos
mesmos factos ao segredo profissional,
lhe tenha comunicado;

c) A factos comunicados por co-autor,


co-réu ou co-interessado do cliente ou
pelo respectivo representante;

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d) A factos de que a parte contrária do


cliente ou respectivos representantes
lhe tenham dado conhecimento durante
negociações para acordo amigável e que
sejam relativos à pendência”.  

Interpretando esta norma processual


especial face às normas processuais
gerais sobre prova testemunhal (art.º s
616.º a 645.º do C. P. Civil) aportamos
a um regime jurídico nos termos do qual,
um cidadão advogado tem a capacidade e o
dever cívico e processual de prestar
depoimento sobre os factos de que tem
conhecimento (regra geral), falecendo-
lhe essa capacidade e impendendo sobre
ele o dever de segredo profissional
quando, o seu conhecimento dos factos
lhe advenha do exercício da profissão
nos estritos termos previstos no
preceito citado (regra especial), neste
caso, excepto se autorizado pelas
estruturas dirigentes da Ordem, nos
termos do n.º 4 do preceito citado
(regra excepcional).

O escopo deste regime jurídico reside,


necessariamente, na protecção da
confiança, entre advogado e cidadão,
imprescindível ao exercício da profissão
de advogado e à defesa dos direitos
individuais e aos valores sociais que
lhe são cometidos.

A aplicação da regra relativa ao segredo


profissional do advogado depende, assim,
da integração da situação concreta em
qualquer das situações abstractas
descritas nas alíneas do n.º 1 do
preceito citado.

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No requerimento em que arguiu a


“nulidade do depoimento da testemunha”,
o agravado alegou que esse depoimento “…
foi prestado com violação do disposto
nos nºs 1, 2, 3 e 4 do art.º 81.ºdo
Estatuto…”, mas não concretizou em que é
que consistia essa violação aduzindo, a
propósito, simplesmente, que o agravante
constituiu a testemunha como seu
advogado no Procedimento Cautelar de
Arresto n.º […] apenso a esta acção
(art.º 5 do requerimento), que a
testemunha referiu não conhecer em Macau
outro advogado que se relacione com o
agravante, ter com ele um bom
relacionamento cliente/advogado e estar
convencido que, sendo advogado do
agravante, ele o teria procurado (art.º
13 do requerimento).

Ora, como se infere do disposto no


preceito citado, a simples qualidade de
advogado e de advogado de uma das partes
é insuficiente para determinar o
funcionamento do segredo profissional.

É necessário que os factos a provar se


encontrem em conexão com o exercício da
advocacia nos termos definidos em tal
preceito, quer relativamente ao cliente
(al. a)), quer relativamente a pessoas
com interesses próximos (al. c)), quer
mesmo relativamente à parte contrária
(al. d)).

O agravante, sendo “…a parte contrária…”


não concretiza quaisquer factos que
devam considerar-se ao abrigo do segredo
profissional imposto, nomeadamente, pela
al. d) do art.º citado não podendo, como
tal, considerar-se a alegação de
intervenção como advogado no Arresto n.º
[…] – o depoimento e o eventual segredo

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profissional não respeitará aos actos


processuais respectivos – e também não
podendo, como tal, considerar-se a
afirmação de que a testemunha referiu
não conhecer em Macau outro advogado que
se relacione com o agravante e ter com
ele um bom relacionamento
cliente/advogado.

E o despacho recorrido, ao pronunciar-se


sobre a invocada nulidade, também não
concretizou os factos sobre os quais
deva incidir o segredo profissional, por
terem chegado ao conhecimento da
testemunha nas situações previstas no
art.º 81.º do E. O. A., maxime na sua
alínea d).

A esse propósito, depois de fazer uma


valoração, abstracta, da substância do
depoimento – “…eivado de conclusões,
suposições, interpretações, convicções e
argumentos lógicos sem justificação de
premissas…” – considerou o Tribunal a
quo que: “…não logrou a testemunha
“separar as águas” entre o conhecimento
pessoal e o conhecimento por via
profissional…”) e declarou nulo o
depoimento.

Ora, o dever da testemunha, a partir do


momento em que foi indicada como tal,
não tendo reconduzido a situação, ela
própria, ao disposto no art.º 81.º, n.º
4 do E. O. A. (necessidade de
autorização prévia para depor), é
prestar depoimento sobre os factos em
causa.

Se a parte interessada (na declaração da


respectiva nulidade) entender que esse
depoimento incidiu sobre factos cujo

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conhecimento adveio à testemunha em


condições que lhe impõem o dever de
segredo profissional, deve fundamentar a
sua pretensão processual e deve
concretizá-la indicando os factos e as
partes do depoimento em causa.

Do mesmo modo, o Tribunal, sobre o qual


impende o dever de fundamentar as suas
decisões (art.º 158.º do C. P. Civil),
ao declarar a nulidade do depoimento
deve concretizar qual o conhecimento
demonstrado pela testemunha que não pode
ser aceite por se encontrar sujeito a
segredo profissional.

O simples facto de exercer a profissão


de advogado, de no exercício dessa
profissão ter (ou ter tido) uma das
partes como cliente, não tendo o seu
conhecimento sido adquirido nas
circunstâncias descritas no art.º 81.º
citado, não impede a testemunha de depor
em juízo.

O regime legal do segredo profissional


do advogado não se destina a impedir o
depoimento da testemunha por ser
advogado.

O advogado pode depor como testemunha,


pois, antes de ser advogado é um cidadão
de pleno direito.

A limitação ao seu depoimento é


excepcional só devendo manter-se na
medida do estritamente necessário a
salvaguardar o escopo que preside ao
estabelecimento de um segredo
profissional próprio.

A testemunha, sendo embora advogado e

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tendo, nessa qualidade, prestado os seus


serviços ao agravante, pode ter
adquirido conhecimento sobre os factos
dos autos por outra via que não o
exercício da profissão de advogado.

Aliás, também o agravado, que se


apresenta nos autos como “consultor”, no
seu relacionamento profissional com o
agravante, tomou a seu cargo serviços
que não se integram nessa designação
profissional, como sejam os relativos a
processo para aquisição da nacionalidade
portuguesa (nºs 2) e 3) da matéria de
facto).

À data da inquirição, em 19/06/2003,


encontrava-se em vigor, relativamente a
essa matéria, o art.º 81.º do E. O. A.
(Dec. Lei n.º 84/84, de 16/03, com as
alterações subsequentes, na redacção que
integral reproduzida pela Lei n.º
80/2001 de 20/07) e à data da arguição
da nulidade, 31/03/2005 e da decisão em
recurso, 6/05/2005, encontrava-se em
vigor o art.º 87.º do E. O. A. aprovado
pela Lei n.º 15/2005 de 26/01.

A decisão em recurso invoca o art.º 81.º


e o agravante invoca o actual art.º 87.º
do E. O. A.

Na parte que ora nos ocupa, não


vislumbramos diferenças de regime
jurídico, uma vez que o actual art.º
87.º, n.º 1 dispõe, também, como
princípio geral, que: “1 - O advogado é
obrigado a guardar segredo profissional
no que respeita a todos os factos cujo
conhecimento lhe advenha do exercício
das suas funções ou da prestação dos
seus serviços, designadamente:”.

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Não obstante, sempre diremos que, atento


o disposto no art.º 12.º do C. Civil
relativamente à aplicação da lei no
tempo, consideramos aplicável o art.º
81.º cit. por se tratar da norma em
vigor à data da prestação do depoimento.
 

Em face do exposto, não podemos deixar


de concluir que o depoimento da
testemunha não configura qualquer
violação do segredo profissional que
assiste ao exercício da profissão de
advogado, nos termos em que este é
definido pelo art.º 81.º do E. O. A. em
vigor à data do depoimento.

O depoimento devia, pois, ser


considerado para a decisão em matéria de
facto e não o foi.

Como acima referimos, o Tribunal a


quo referiu no despacho em apreciação, o
qual antecedeu as alegações e a prolação
da decisão em matéria de facto, que o
depoimento em causa se encontrava “…
eivado de conclusões, suposições,
interpretações, convicções e argumentos
lógicos sem justificação de premissas…”.

Essa valoração do depoimento poderia,


eventualmente, ter sido tomada em conta
na decisão proferida sobre a sua
admissibilidade no sentido de que,
apresentando o desvalor correspondente
às expressões usadas, nem seria
necessário declarar a sua nulidade nos
termos já referidos.

Neste momento processual, não sendo o


depoimento nulo, não poderá deixar de

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ser considerado para prolação da decisão


sobre a matéria de facto, valorando-se
nos seus concretos termos, em conjugação
com as restantes provas documental e
pessoal.

E, se acaso, padecer dos vícios que,


perfunctoriamente, lhe foram apontados,
não poderão os mesmos deixar de ser
concretizados na fundamentação da
decisão com referência aos concretos
factos e conhecimento a que respeita.  
 

II. O conhecimento das restantes


questões suscitadas no agravo e da
apelação encontram-se prejudicados nos
termos do disposto no art.º 660.º, n.º 2
do C. P. Civil.

3. DECISÃO

Pelo exposto, acordam os juízes deste


Tribunal da Relação em dar provimento ao
agravo, revogando o despacho recorrido e
o processado subsequente, devendo o
mesmo ser substituído por outro que,
admitindo o depoimento da testemunha,
Pedro Miguel da Rosa Leal, ordene os
termos processuais subsequentes.

Custas pelo agravado.

Lisboa, 17 de Outubro de 2006

(Orlando Nascimento)

(Dina Monteiro)

(Luís Espírito Santo com a seguinte


declaração de voto

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Discordo posição que fez vencimento.

A apreciação da validade do depoimento


da testemunha P.[…] obrigaria
necessariamente à consulta dos autos de
procedimento cautelar que, por motivos
que desconheço, não estão junto os
autos, nem foi requisitado conforme
informalmente sugeri.

A confirmarem-se, após consulta, os


elementos objectivos invocados pelo
agravado, não vejo como seria possível
obstar à nulidade do depoimento da
testemunha, por violação do disposto na
alínea a) do artigo 81.º do Estatuto da
Ordem dos Advogados, na redacção
anterior à Lei nº 15/2005, de 26 de
Janeiro).

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