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Thamires Ribeiro 3°H - Sociologia

Marginalização de culturas: a moda nas periferias

Cultura é uma forma de expressão popular, que pode ser notada nas artes e nos costumes de
um povo. Entretanto, a existência do capital econômico transforma a cultura em uma fonte de
dominação, pois, a partir dos padrões estéticos, alguns bens culturais são considerados mais
raros e melhores que outros, tornando estes elementos, objetos de valor para a troca,
enquanto outras formas de expressão que não se encaixam neste padrão são desvalorizadas.
Diante disso, Bourdieu afirma que a cultura garante status social e poder, onde a classe
dominante utiliza o alto valor monetário de seus bens culturais para justificar a superioridade
de sua cultura sobre a outra, associando o que não tem valor às classes dominadas,
marginalizando suas artes e costumes.

Sendo assim, é possível citar como exemplo a indústria da moda. Escolhi esta forma de
expressão cultural, porque é notada visualmente, ficando mais fácil de fazer comparações.
Existem aclamadas marcas de grife que são famosas por diferentes tipos de produção têxtil,
atendendo vários estilos. Estas roupas possuem um
valor que excede a qualidade dos tecidos utilizados,
pois, são roupas que caracterizam um status quo e
possuí-las exprime poder. Numa sociedade em que
a condição inicial de existência é o consumo, vestir
roupas de grife associa o indivíduo a um grupo
dominante, do qual todos almejam ser. Dessa
forma, diferentes marcas, atenderão diferentes
grupos sociais, estes, desejam exibir seus devidos
status sociais e os grupos aos quais pertencem.
Existem também marcas conhecidas por seu estilo
casual e atendem um grupo maior por seu valor
não ser exorbitante, porém, não são consideradas
marcas facilmente acessíveis. Devido a esta
característica, as produções destas marcas terão
valor para um grupo que não se considera parte da
classe dominada e está em busca de exibir um
status mais elevado do que realmente é, negando
por muitas vezes, a inserção no proletariado e
ignorando suas necessidades reais.
Figura 1 - Modelo da Versace em um desfile
Dito isso, afirma-se que toda marca possui um
público que exprime por meio da moda o seu status quo. No caso dos grupos periféricos, os
objetos de valor são os itens esportivos de marcas como Nike, Adidas, Oakley, entre outras.
Estas marcas são diretamente associadas ao funk e ao rap, estilos musicais extremamente
populares nestas regiões, o que conferiu a construção da identidade visual local. Segundo a
jornalista Fernanda Souza (@correrua_), São Paulo foi o estado que mais concentrou vendas
do tênis Nike Shox no mundo e artistas populares do funk nas favelas foram responsáveis pelo
sucesso da marca, tornando roupas esportivas o desejo de consumo do cidadão periférico.
No entanto, ao serem associadas as classes baixas da
sociedade, existe rejeição por parte de algumas
marcas em relação ao público, que mesmo sendo
responsáveis pelo alto número de vendas, não são
reconhecidos, fazendo com que exista elitização nas
campanhas publicitárias, descartando artistas
influentes pela propagação da marca, optando como
rostos de seus comerciais e patrocínios,
personalidades fora do cenário histórico da
popularização da marca.

Cultura é um contexto social e a ação de ignorar essa


identidade, revela uma grande discriminação.
Portanto, assumir um estilo próprio é reafirmar a
existência deste público, já que o padrão estético
colocado em torno da moda é negado, e mesmo que
de forma inconsciente, indicam resistência: o desejo
não é ser como os modelos das grifes e representar
uma ideia que os excluem. É representar o próprio
estilo em diferentes espaços, não só o da moda, mas
em outros espaços culturais, existindo como uma
Figura 2- Ensaio feito pela Fernanda Souza, com
a finalidade de representar o "verdadeiro"
contracultura ao denunciar a elitização da cultura
público da Oakley, no contexto que denuncia a como um todo e ignorar o padrão estético.
rejeição da marca pelo público.
A moda faz parte
da cultura do funk, por isso a identidade sofre com uma
constante tentativa de apagamento pela burguesia, que
tenta afastar o funk da realidade das favelas ou o
criminalizando – vide como exemplo a música Baile de
Favela, sucesso nas periferias em 2015, mas foi alvo de
diversas críticas na época de lançamento. Foi socialmente
apenas em 2021 com sua interpretação por Rebeca
Andrade nas Olimpíadas-. A moda das periferias ainda é
rejeitada pelo público que vive fora dessas regiões, visto
que o debate apresentado ainda não alcançou os centros
da moda e não existe inclusão de artistas neste meio para
que o estilo chegue íntegro nos ambientes, não apenas
como acessórios de uso, mas como símbolos sociais, que
mostrariam a aceitação da cultura periférica como um
todo, e romperia com os padrões estéticos. Figura 3- Mesmo ensaio da figura 2

A marginalização de culturas é marca de uma sociedade


que prioriza mais o bem monetário, para o qual existe alto valor de troca, do que os valores
sociais. Além disso, desconsiderar a diversidade cultural, dificulta o desenvolvimento da
mesma nas comunidades, já que o contato é diferente daquilo que é considerado nobre pela
sociedade e seus costumes, músicas e vestimentas não serão dignos de aclamação por críticos
das artes. O funk, por exemplo, é uma manifestação que carrega histórias de pessoas que
enfrentam a desigualdade social, possuem aceitação nas favelas, mas procuram espaço no
meio artístico, tentando superar as críticas de uma realidade exclusiva, a fim de transformar a
vida de jovens através desse fator cultural.
https://youtu.be/y8vs5FrpMww  um pouco mais sobre cultura do funk

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