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Excelentíssimo (a) Senhor (a) Doutor (a) Desembargador (a) Presidente

do Egrégio Tribunal de Justiça do Tocantins – TJ/TO

DIEGO HENRIQUE SILVÉRIO COSTA, brasileiro, solteiro, advogado, com


endereço situado no rodapé, onde recebe avisos e intimações em geral, vem, com
o mais elevado respeito e acatamento, perante esse Egrégio Tribunal, com lastro
nas disposições constitucionais vigentes, em especial o contido no artigo 5º,
incisos LXVI e LXVIII da Constituição da República, Convenção Americana sobre
Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica (Decreto nº 678/92) e Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos (Decreto nº 592/92), e na conformidade
do artigo 647 e seguintes do Código de Processo Penal Brasileiro, impetrar a
presente ação de

HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR

Em favor de MARIA DAS DORES (QUALIFICAÇÃO) mantida, indevidamente,


no cárcere cautelar, em vista encontrar-se a paciente presa na Unidade Prisional
Tal, na cidade de Tal, estado do Tal, por ordem do respeitável Juízo de Direito da
Segunda Vara Criminal da Comarca de Tal, nos autos do processo de nº 0000000-
00.0000.0.00.0000, sofrendo constrangimento ilegal da sua liberdade, a partir dos
fatos e fundamentos jurídicos a seguir delineados.

I – DOS FATOS

1 - A paciente foi acusada do cometimento do crime previsto no artigo 124, caput,


do Código Penal, por fato ocorrido em xx.xx.20xx, conforme Boletim de Ocorrência
e Peça Acusatória em anexo.

2 – Realizada audiência de custódia no dia seguinte (xx.Xx.20xx), fora decretada a


prisão preventiva da paciente, conforme transcrição abaixo, verbis:

(transcrição da decisão)

3 – Ato contínuo, o Ministério Público ofertou Denúncia contra a custodiada (fls.xx).


Recebida a acusação pelo juízo processante (fl. xx) e estando a paciente
devidamente citado (fl. xx), este ofertou resposta à acusação c/c pedido de
revogação de prisão, sob o argumento de inexistência dos requisitos do artigo 312,
do CPP para justificar a segregação provisória.

4 – O Ministério Público, por meio de sua representante legal, manifestou-se pela


manutenção da prisão preventiva da paciente, conforme se extrai das fls. xx.

5 – O juízo singelo, em decisão às fls. xx, indeferiu o pedido de revogação de prisão


preventiva formulado pela paciente, fazendo-o sob a seguinte fundamentação:

(...)
Quanto ao pedido de revogação de prisão do acusado denoto que
a necessidade de manutenção de sua segregação cautelar já foi
apreciada anteriormente, não sobrevindo qualquer mudança no
quadro fático que enseje alteração daquela decisão.
Calcado nesses fundamentos, INDEFIRO o pedido de revogação de
prisão preventiva de NOME DO PACIENTE, mantendo-se o
requerente onde se encontra, até ulterior decisão.
(...) – fl. xx, dos autos.
6 – Assim, diante do quadro fático brevemente desenhado acima, não resta outra
saída senão a impetração da presente ordem de habeas corpus em favor da
paciente, a fim de que esta sapiente Câmara Criminal faça cessar, de imediato, o
constrangimento ilegal cometido pela autoridade coatora contra a paciente,
mormente diante das assertivas jurídicas a seguir. Vejamos.

II – DO DIREITO

a) Da violação ao princípio da Homogeneidade, da proporcionalidade e


razoabilidade

7 – A título de complemento, verifica-se que a manutenção do cárcere provisório


em desfavor do paciente viola algumas premissas básicas informadoras do direito
penal e processual penal, como por exemplo:

a) Trata-se de prisão em flagrante pela prática de delito de aborto, previsto


no artigo 124, do Código Penal, que prevê pena de DETENÇÃO, razão
porque a pena imposta ao paciente, jamais poderia ser em regime
inicialmente fechado – violação ao artigo 33, caput, CP;

b) A pena imposta ao delito em comento varia entre 01 (um) a 03 (três)


anos, razão porque também não se pode impor regime fechado de forma
inicial ao paciente - violação ao artigo 33, § 2º, alínea c, CP;
c) O paciente está preso desde o dia xx.xx.xxxx, perfazendo até a data
presente mais de 03 (três) meses, o que, em caso de condenação em regime
semiaberto, na pior das hipóteses, já teria cumprido o tempo necessário
para progressão de regime, a fim de ser colocado em regime aberto –
violação ao artigo 112, da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal) e;

d) Em uma eventual condenação, certamente, não ficará privado de sua


liberdade, pois se submeterá as penas alternativas. Ora, se ao final do
processo, com possível condenação, o paciente não ficará preso, não existe
razão para antes de uma condenação ficar privado de sua liberdade –
violação ao artigo 44, do CP.

8 – As quatro violações acima demonstradas, são suficientes para, por si só, resultar
na soltura da paciente, tendo em vista que violam o Princípio da Homogeneidade,
consectário lógico do princípio da razoabilidade/proporcionalidade, que tem por
definição a máxima de que o réu não pode sofrer reprimenda provisória pior
daquela que sofreria ao final do processo.

9 – Em outras palavras, o presente princípio, construção jurisprudencial, consiste na


ilegalidade da prisão preventiva quando a medida cautelar for mais severa do que
eventual pena aplicada ao final do processo.

10 – Sobre o tema, vide posicionamento da Sexta Turma do Superior Tribunal de


Justiça:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. ILEGALIDADE DE PRISÃO


PROVISÓRIA QUANDO REPRESENTAR MEDIDA MAIS SEVERA DO
QUE A POSSÍVEL PENA A SER APLICADA. É ilegal a manutenção da
prisão provisória na hipótese em que seja plausível antever que o
início do cumprimento da reprimenda, em caso de eventual
condenação, dar-se-á em regime menos rigoroso que o fechado.
De fato, a prisão provisória é providência excepcional no Estado
Democrático de Direito, só sendo justificável quando atendidos os
critérios de adequação, necessidade e proporcionalidade. Dessa
forma, para a imposição da medida, é necessário demonstrar
concretamente a presença dos requisitos autorizadores da
preventiva (art. 312 do CPP)— representados pelo fumus comissi
delicti pelo periculum libertatis — e, além disso, não pode a referida
medida ser mais grave que a própria sanção a ser possivelmente
aplicada na hipótese de condenação do acusado. É o que se
defende com a aplicação do princípio da homogeneidade,
corolário do princípio da proporcionalidade, não sendo razoável
manter o acusado preso em regime mais rigoroso do que aquele
que eventualmente lhe será imposto quando da
condenação. Precedente citado: HC 64.379-SP, Sexta Turma, DJe
3/11/2008. HC182.750-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
14/5/2013.
30 - Veja-se, a título de enriquecimento, outros julgados:
TJ-PE - Habeas Corpus HC 4069610 PE (TJ-PE)
Data de publicação: 22/01/2016
Ementa: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. PRISÃO EM
FLAGRANTE DESDE 09.09.2015. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO
NA FORMAÇÃO DA CULPA. DENÚNCIA OFERECIDA DENTRO DO
PRAZO LEGAL. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. INEXISTÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. DESCABIMENTO. PRISÃO
PREVENTIVA POR EXIGÊNCIA DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL E
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. CRIME DE TRÁFICO. PRINCIPIO DA
HOMOGENEIDADE. CUSTÓDIA CAUTELAR DESPROPORCIONAL.
INVIABILIDADE DA PRISÃO. TODA MEDIDA CAUTELAR -
ESPECIALMENTE A PRISÃO PREVENTIVA - TEM QUE SER
PROPORCIONAL COM A PROVÁVEL SOLUÇÃO DE MÉRITO DA
AÇÃO PENAL. O RÉU É PRIMÁRIO E SEM ANTECEDENTES, MENOR
DE VINTE E UM ANOS À ÉPOCA DOS FATOS, CONFESSOU A
PRÁTICA DO DELIDO ESPONTÂNEAMENTE E NÃO HÁ INDÍCIOS
QUE INTEGRE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. EVENTUAL
CONDENAÇÃO SERÁ CUMPRIDA EM REGIME MENOS GRAVOSO
DO QUE O ATUALMENTE IMPOSTO. APLICAÇÃO DO CHAMADO
PRINCÍPIO DA HOMOGENEIDADE. SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS
CAUTELARES PREVISTAS NO ART. 319 DO CPP. ORDEM
PARCIALMENTE CONCEDIDA.
TJ-DF - RSE RSE 43345120048070007 DF 0004334-
51.2004.807.0007 (TJ-DF)
Data de publicação: 20/05/2009
Ementa: PROCESSUAL PENAL. PRISÃO PREVENTIVA POR EXIGÊNCIA
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL. CRIME DE AUTO-ABORTO. REVELIA.
PRINCIPIO DA HOMOGENEIDADE. INVIABILIDADE DA PRISÃO.
RECURSO DESPROVIDO. 1 TODA MEDIDA CAUTELAR -
ESPECIALMENTE A PRISÃO PREVENTIVA - TEM QUE SER
PROPORCIONAL COM A PROVÁVEL SOLUÇÃO DE MÉRITO DA
AÇÃO PENAL. A RÉ É PRIMÁRIA E SEM ANTECEDENTES E FOI
ACUSADA DE AUTO-ABORTO, CUJA PENA É DE DETENÇÃO DE UM
A TRÊS ANOS. EVENTUAL CONDENAÇÃO SERÁ CUMPRIDA NO
REGIME ABERTO, COM AMPLA POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO
POR PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO. ASSIM, NADA EXIGE QUE
SEJA PRESA EM RAZÃO DA PROVÁVEL CONDENAÇÃO, NÃO
SENDO RAZOÁVEL QUE LHE SEJA DECRETADA A PRISÃO
PREVENTIVA DURANTE O PROCESSO, MESMO QUE TENHA SE
TORNADO REVEL. APLICAÇÃO DO CHAMADO PRINCÍPIO DA
HOMOGENEIDADE. 2 RECURSO DESPROVIDO
11 – Eis aí mais um argumento que inviabiliza a manutenção da prisão preventiva
do paciente. Além de violar o dever de fundamentação previsto na CF/88 (art. 93,
IX), finda também por violar o princípio da homogeneidade, nos termos da
argumentação tecida acima.

12 – Assim, ante o exposto, a ordem de habeas corpus é medida que se impõe,


ainda mais em razão de que sabemos que a prisão sem condenação é medida
excepcional, partindo-se do pressuposto que se estaria adiantando uma pena que
só existe in abstrato e poderá vir a inexistir.

13 – O paciente não vai fugir a aplicação da lei penal, pois não possui motivos para
se furtar, haja vista que possui família no distrito da culpa, bem como não impedirá
a produção de provas, pois não há nenhuma informação de que tenha ameaçado
ou possa vir a ameaçar testemunhas.

14 – Assim, ausentes estão os requisitos da prisão preventiva, razão pela qual se


mostra descabida e ilegal a manutenção da custódia cautelar do paciente.
A Constituição Federal é muito clara ao disciplinar a matéria, rezando em seu art. 5º,
inciso LXVI, que

Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir liberdade
provisória, com ou sem fiança.

15 – O direito à liberdade é um dos maiores valores da pessoa humana. Além disso,


reza o artigo 316, do CPP, que “O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no
correr do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de
novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.”

16 – Para o presente caso, deve-se considerar o entendimento do STF OU STJ em


processos similares, bem como o art. 5º da CF, LXVI e art. 1º, III, bem como a
Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH - art. 7º, nº 5 e 6).

III – DA ORDEM LIMINAR

17 – No presente caso os requisitos são cumpridos com louvor:


a) Quanto ao fumus boni iuris – in casu é a previsão constitucional da
presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF), a orientação segundo a qual a
segregação cautelar somente pode ser efetivada se presentes os requisitos
legais, a ausência de adequação fundamentação da decisão emanada do
juízo coator, o visível constrangimento ao qual o paciente vem sendo
submetido, sendo desrespeitado o teor do pacto de São José da Costa Rica,
a Constituição da Republica Federativa do Brasil o Código de Processo Penal,
o Código Penal e a Lei de Execucoes Penais.

b) Quanto ao periculum in mora – consiste no fato de eventual tardar na


resposta do poder dos juízes, contristando a liberdade sem a devida
formação de culpa e posicionamento definitivo, muito menos sem restar
cabalmente demonstrada sua necessidade, impingir ao paciente
desnecessário prolongamento no seu suplício consistente em permanecer
segregado durante a instrução do feito apesar de, como já alhures
mencionado, fazer jus a responder o processo em liberdade, discutindo no
foro civilizado dos homens de bem, meritum causae, exercendo a ampla
defesa e, ao final provando sua inocência.

18 – Isto posto, encontra-se o paciente sob induvidoso constrangimento ilegal,


circunstância "contra a lei” que deverá ser remediada - urgentemente - por esse
Egrégio Tribunal.

19 - Apontada a ofensa à liberdade de locomoção do paciente, encontra-se


presente no caso o fumus boni iuris.

20 – No mesmo sentido, verifica-se a ocorrência do periculum in mora. Pois, a


liberdade do paciente, somente ao final, importará em inaceitável e injusta
manutenção de violação ao seu status libertatis.

21 – Presentes os requisitos autorizadores da medida liminar, aguarda-se sua


concessão.

IV – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer, em favor do paciente MARIA DAS DORES, a concessão


da presente ordem de habeas corpus para que, preliminarmente, seja deferido o
pleito liminar em seu favor, colocando-o imediatamente em liberdade, bem
como, no mérito, seja confirmada dita liminar, em definitivo, para conceder ao
paciente o direito de aguardar o julgamento em liberdade, tudo com fundamento
nos artigos já citados no presente writ, sugerindo também, no ponto, caso esta
Câmara Criminal entenda necessário, a imposição de medidas cautelares diversas
da prisão, previstas no artigo 319, do Código de Processo Penal.

Nestes termos.

Espera deferimento.

XXXXX, XX de XXXXXX de 20XX.

Diego Henrique Silvério Costa

OAB/TO 9834

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