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Crimes contra a Administração da Justiça
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Assim, resta claro que no caso de investigação pela polícia, o tipo não exigia a instauração
do inquérito, mas se contentava com o início da investigação policial em virtude da falsa
imputação do crime a alguém. Atualmente, exige-se mais, pois é necessária a efetiva
instauração do inquérito ou do procedimento investigatório. Antes, bastava qualquer
diligência investigatória para a consumação do delito.
No caso de ação penal privada ou pública condicionada à representação, quem pode
denuncia o crime é a vítima, que apresenta queixa ou representação, ou seu representante
legal, conforme o caso.
Quanto ao sujeito ativo, o crime é comum, de modo que autoridades que atuam na área
criminal também podem praticar o delito, como delegados, promotores, procuradores e
até mesmo magistrados.
O crime é comum, por não exigir qualquer qualidade específica do sujeito ativo. É, ainda,
instantâneo, por se consumar em um dado instante do tempo. É doloso, sem previsão de
modalidade culposa. É crime de ação penal pública.
Por ser sua conduta fracionável, classifica-se com plurissubsistente e admite a tentativa.
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Denunciação caluniosa eleitoral
Antes da Lei 14.110/2020, a matéria de denunciação caluniosa já havia sido
alterada pela Lei 13.834/2019, que introduziu o artigo 326-A ao Código Eleitoral:
Art. 326-A. Dar causa à instauração de investigação policial, de
processo judicial, de investigação administrativa, de inquérito
civil ou ação de improbidade administrativa, atribuindo a alguém
a prática de crime ou ato infracional de que o sabe inocente, com
finalidade eleitoral:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve do
anonimato ou de nome suposto.
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática
de contravenção.
§ 3º Incorrerá nas mesmas penas deste artigo quem,
comprovadamente ciente da inocência do denunciado e com
finalidade eleitoral, divulga ou propala, por qualquer meio ou
forma, o ato ou fato que lhe foi falsamente atribuído.
Em que pese a conduta incriminada ser prevista no artigo 339 do CP, mesmo antes
da atual redação dada pela Lei 14.110/2020, antes não se previa a denunciação caluniosa
como crime na legislação eleitoral.
Com a inclusão de um tipo específico no Código Eleitoral, que exige a finalidade
eleitoral, o crime cometido nessas circunstâncias passa a conter os dois requisitos para a
configuração de crime da competência da Justiça Eleitoral:
1) previsão do tipo penal na legislação eleitoral;
2) finalidade eleitoral do agente (STJ, CC 127.101/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, Terceira Seção, julgamento: 11/02/2015).
Portanto, se antes o delito de denunciação caluniosa, mesmo com finalidade
eleitoral, era julgado pela Justiça Comum Federal, com a alteração legislativa passa a ser
da competência da Justiça Eleitoral.
Há, entretanto, mais uma novidade. Houve derrubada do veto do Presidente da
República ao parágrafo terceiro do novo artigo 326-A do Código Eleitoral. Trata-se da
figura conhecida como divulgação de “fake news” eleitoral, como diz o termo estrangeiro
para divulgação de mentiras com finalidade eleitoral.
Não se exige resultado naturalístico nessa modalidade, ou seja, o agente será
punido mesmo que ele não provoque a instauração de inquérito policial, mas apenas
divulgue a denunciação caluniosa praticada por um terceiro.
Se alguém fica sabendo de uma denunciação caluniosa por crime de estupro contra
o seu vizinho e, apesar de saber que ele é inocente, espalha no bairro por maldade, teremos
o crime de calúnia, pois a denunciação caluniosa do Código Penal exige a provocação da
atuação da autoridade (como com a instauração de inquérito). Entretanto, se um candidato
descobre que o seu adversário foi vítima de denunciação caluniosa por concussão e,
apesar de saber que ele é inocente, aproveita-se disso para espalhar a informação e ganhar
parcela do seu eleitorado (finalidade eleitoral), incorrerá no crime de denunciação
caluniosa eleitoral, já que o Código Eleitoral traz a conduta de divulgar ou propalar como
forma equiparada (art. 326-A, § 3º).
Mais uma questão: no caso do Código Eleitoral, a previsão de imputação falsa se
circunscreve ao crime ou contravenção penal, enquanto o Código Penal, alterado pela Lei
14.110/2020, dispõe sobre imputação falsa de crime, ato ímprobo ou infração ético-
disciplinar. Só há crime eleitoral no caso de imputação de crime ou ato infracional, nas
outras condutas resta a tipificação do Código Penal. Ato infracional é a conduta descrita
como crime ou contravenção penal, quando cometida por criança ou adolescente, nos
termos do artigo 103 da ECA.
Em suma: o Código Penal prevê imputação, a alguém sabidamente inocente, de
crime, ato ímprobo ou infração ético-disciplinar. O Código Eleitoral menciona a
imputação, a quem se sabe inocente, de crime ou ato infracional.
Deste modo, ainda que haja finalidade eleitoral, a imputação falsa de ato ímprobo
ou de infração ético-disciplinar não será considerada crime eleitoral, por ausência de
previsão na legislação eleitoral. Se atingida a Justiça Eleitoral, o crime será de
competência da Justiça Comum Federal. Se, por exemplo, houver a instauração de
processo administrativo na esfera estadual e não se considerar atingida a Justiça Eleitoral,
apesar de finalidade eleitoreira, a competência seria de Justiça Comum Estadual.