Nelson Afonso
Maputo,2022
RISCOS ASSOCIADOS À CIMENTAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO E GÁS
Por:
Nelson Afonso
O JÚRI
Assinatura
(Nelson Afonso)
i
Dedicatória
ii
Agradecimentos
No final deste trabalho, pretendo agradecer a todos aqueles que, direta ou
indiretamente, deram o seu contributo para realização deste trabalho. Primeiramente,
agradeço a Deus todo-poderoso, pelo dom da Vida. Ao Dr. Dombo, pela orientação
desta dissertação, pelo apoio e motivação ao longo deste último ano da minha vida
académica. Ao meu Tutor Doutor Estevão Stefane Mahanjane pela partilha de
conhecimentos, revisões e críticas fundamentais para a realização e enriquecimento
deste trabalho, mas também pela disponibilidade e empenho com que me orientaram.
Ao meu amado amigo Teo de Francisco, que sempre acreditou em mim e me deu força
e coragem para nunca desistir. Pela paciência e persistência nos momentos mais
difíceis, por ser tantas vezes a âncora e ao mesmo tempo me fazer sorrir. Aos meus
pais e irmãos, amor e carinho manifestados em todos os momentos e por terem
aceitado e compreendido sempre a necessidade de outros mais ausentes. Um especial
agradecimento ao meu irmão Cebola Afonso e irmã Amélia pela formação, pelo
suporte. Aos amigos e colegas que me apoiaram e incentivaram desde o início do meu
curso, especialmente ao Oasas, Chiandela, Radja, Samuel Tennyson, Pedro, Sulemane,
Abacar, Zeinabo, e Francisca, pela disponibilidade e apoio constante e por terem sido
ouvintes nas fases cruciais.
iii
Lista de símbolos, Unidades, Abreviaturas e Siglas
API- (Instituto Americano de Petróleo);
TJ-tool joints.
iv
Lista De Figuras
Figura 1- Consumo mundial de petróleo de 1965 a 2020. ........................................ 11
Figura 2 -Unidade de Sonda onshore ......................................................................... 13
Figura 3-Unidade de sonda offshore .......................................................................... 13
Figura 4-Método percussivo....................................................................................... 14
Figura 5-Método rotativo ........................................................................................... 15
Figura 6- Sonda ........................................................................................................ 16
Figura 7-Sistema de movimentação de cargas ........................................................... 18
Figura 8-Sistema rotativo ........................................................................................... 19
Figura 9-Sistema de circulação de fluídos ................................................................. 20
Figura 10-Sistema de monitoração (Painel de sondador)........................................... 22
Figura 11-Blowout Preventer ..................................................................................... 23
Figura 12-Drill Collars, Heavy-Weight Drill Pipes e Drill Pipes .............................. 25
Figura 13-Broca de Diamante Natural e Broca PDC ............................................... 27
Figura 14-Broca TCI .................................................................................................. 28
Figura 15. Fluido de perfuração e suas importâncias. ................................................ 29
Figura 16-Programa de revestimento ......................................................................... 33
Figura 17-Tipos de Revestimento .............................................................................. 35
Figura 18-Cimentação em poço de petróleo .............................................................. 36
Figura 19- Sequência da Cimentação Primária. ......................................................... 37
Figura 20-Técnica de cimentação squeeze ................................................................. 38
Figura 21-Sapata (a) guia, sapata (b) flutuante .......................................................... 43
Figura 22-Exemplo de má Cimentação ................................................................... 54
Figura 23-Esquema resumido de riscos associados a cimentação de poços de petróleo
e gás. ........................................................................................................................... 55
.Figura 24 – Blowout Ixtoc ........................................................................................ 59
Figura 25 - Área afetada pelo blowout do mocondo. ................................................ 60
Figura 26-Poço de Mocondo ...................................................................................... 60
Figura 27 -Poço do Mocondo ..................................................................................... 60
Figura 27 -Poço do Mocondo ..................................................................................... 61
Figura 28 - Cimento íntegro posicionado na circunferência do anular ...................... 62
Figura 29-Incêndio na Plataforma Deepwater horizon .............................................. 63
Figura 30-Esquema de falhas que resultaram em Blowout ........................................ 64
v
Lista de Tabelas
Tabela 1-Aditivos adicionados aos fluidos de perfuração ......................................... 30
Tabela 2 - Classificação do Cimento Portland ........................................................... 40
Tabela 3- Principais Aditivos ..................................................................................... 41
Tabela 4 – Programa de perfuração e revestimento de um poço onshore .................. 46
Tabela 5 – Tipos de fluídos de perfuração utilizados no poço onshore ..................... 48
Tabela 6 – Tipos de Pasta de cimento utilizado no Poço onshore ............................. 48
Tabela 7 – Tipo de cimento utilizado em poços Offshore ......................................... 49
vi
‘’. Porque dEle por Ele
Romanos 11:36
vii
RESUMO
A cimentação é uma das fases mais importantes do processo de construção de poços
de petróleo. Após a descida da coluna de revestimento, geralmente o espaço anular
entre a tubulação de revestimento e as paredes do poço é preenchido com cimento, de
modo a fixar a tubulação e evitar que haja migração de fluídos entre as zonas
permeáveis atravessadas pelo poço por detrás do revestimento. Ao revestir e cimentar
um poço, inúmeros critérios são utilizados a fim de manter a segurança do mesmo,
evitando assim prejuízos de ordem econômica, kicks, desmoronamentos ou perda de
fluído de perfuração para as formações. Há muito que os equipamentos, técnicas e
procedimentos operacionais são melhorados, no sentido de minimizar os riscos,
identificar potenciais acidentes, reduzir o impacto ambiental e até para a própria
reputação da indústria. Apesar disso, ainda existem muitos desastres relacionados com
a integridade dos poços, como por exemplo os acidentes ocorridos no Golfo do
México, Austrália e no Brasil. Estes são fortes indícios de que o investimento na
integridade e cimentação dos poços não deve ser menosprezado. Essa monografia
discute e mostra quais são os riscos associados a cimentação em poços de petróleo e
gás, e como estes devem ser evitados e minimizados a fim de garantir uma produção
segura. Todas as operações que envolvem a cimentação, desde a preparação do
cimento até nas operações no poço, devem ser consideradas críticas e devem estar de
acordo com a legislação local. Visto que as operações de correção geralmente
implicam custos bastante elevados, devem ser realizadas de forma segura, eficiente e
económica. Investir em monitoramento na maneira preventiva e não corretiva, esse
pode ser um dos caminhos mais corretos.
viii
ABSTRACT
Cementation is one of the most important phases of the oil well construction process.
After the casing column is lowered, generally the annular space between the casing
pipe and the well walls is filled with cement, in order to fix the pipe and prevent fluid
migration between permeable zones located behind the coating along the well. When
lining and cementing a well, numerous criteria are used in order to maintain its safety,
thus avoiding economic losses, kicks, landslides or loss of drilling fluid to the
formations. Equipment, techniques and operating procedures have been improved for
a long time, in order to minimize risks, identify potential accidents, reduce
environmental impact and even for the industry's own reputation. Despite that, there
are still many disasters related to the integrity of the wells, such as accidents that
occurred, for example, in the Gulf of Mexico, Australia and Brazil. These are strong
indications that the investment in cementing wells should not be overlooked. This
monograph discusses and shows the risks associated with cementing in oil and gas
wells, and how these should be avoided and minimized in order to ensure safe
production. All operations involving cementation, from cement preparation to well
operations must be considered critical and must comply with local legislation. Since
corrective operations generally involve very high costs, they must be carried out in a
safe, efficient and economical way. Invest in monitoring in a preventive and non-
corrective way.
ix
Índice Geral
Declaração de honra ...................................................................................................... i
Dedicatória ............................................................................................................... ii
Lista de Tabelas........................................................................................................... vi
x
3.2.5. Sistema de circulação de fluidos ............................................................... 20
3.4.Revestimento .................................................................................................... 32
3.4.3.3.Aditivos ...................................................................................................... 40
xi
3.4.3.5. Equipamentos de cimentação................................................................. 42
3.4.3.12. Colar..................................................................................................... 43
3.7 Análise Dos Riscos Associados A Cimentação De Poços De Petróleo E Gás .... 50
xii
3.8. A Segurança Operacional, O Impacto Ambiental E Os Acidentes ................. 56
5.1. Conclusões....................................................................................................... 67
xiii
CAPÍTULO I. INTRODUÇÃO
1. Contextualização
Muitos dos acidentes ocorridos por vezes ainda se agravam devido a falhas humanas
para este estudo (a cimentação) e, é por este motivo, que a formação e a prática devem
ser a base de todas as empresas no ramo do petróleo.
O sucesso da cimentação é ditado por muitos fatores, dentre eles pode-se citar a
eficiência no deslocamento da pasta de cimentação, que requer interações mútuas de
fluido de perfuração, espaçadores e da pasta de cimento no espaço anular.
2
1.1 Problematização
Todo poço perfurado tem a necessidade de ser revestido total ou parcialmente, com a
finalidade de proteger suas paredes. A perfuração é feita em fases ou secções, cujo
número depende das características das zonas a serem perfuradas e da sua
profundidade final prevista. No final de cada secção perfurada procede-se a descida de
uma coluna de revestimento, seguido por processo de cimentação que é feita ao espaço
anular exterior à coluna. O revestimento constitui uma das parcelas mais expressivas
do custo de perfuração de um poço de petróleo (15% a 20% no mar, podendo chegar
a 50% na terra). O número de fases e o comprimento das colunas de revestimento são
determinados em função das pressões de poros e de fratura previstas, que indicam o
risco de prisão da coluna por diferencia de pressão, ocorrência de kicks,
desmoronamento das paredes do poço ou perda do fluido de perfuração para as
formações.
4
1.2 Objectivos
1.2.1 Objectivo Geral
5
1.3. Justificativa
6
1.4. Delimitação do Estudo
O presente trabalho tem como objeto de estudo, analisar de forma exploratória riscos
associados a cimentação em poços de petróleo e gás, do relacionamento entre os
maiores acidentes da indústria do petróleo e as principais normas e convenções
internacionais. Em função de sua importância e ocorrência recente, é feita uma
apresentação do vazamento e explosão da plataforma Deepwater Horizon no Golfo do
México em 2010, que possui potencial significativo para influenciar o avanço dos
novos marcos regulatórios. Quanto a temática a pesquisa enquadra-se nas seguintes
cadeiras: Gestão de operações petrolíferas, Higiene e Segurança de Trabalho na
indústria de petróleo.
7
CAPITULO II. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Metodologia
Segundo Bruyne (1991), a metodologia é a lógica dos procedimentos científicos em
sua gênese e em seu desenvolvimento, não se reduz, portanto, a uma “metrologia” ou
tecnologia da medida dos fatos científicos.
Para a elaboração deste artigo foi feita uma pesquisa bibliográfica em bases de
periódicos e bancos de monografias, dissertações e teses sobre perfuração,
revestimento, cimentação em poços de petróleo, acidentes na indústria petrolífera,
marcos regulatórios e suas respetivas evoluções. Para atualização de dados, foram
utilizadas informações disponíveis em páginas de alta confiabilidade na web. Os
resultados foram sistematizados e serão apresentados no texto.
8
convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se
submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não-métricos e se valem de
diferentes abordagens. (Deslauriers, 1991)
A pesquisa terá como prioridade informação não relacionada a números, ou conteúdos
estatísticos. Apenas se focará nas informações baseadas na interpretação de fenómenos
e atribuição de significados.
2.2. Materiais
Para realização do presente trabalho, foi possível com o auxílio dos seguintes
materiais:
Um computador;
Um Smartphone;
Um Notebook,
Um Flash;
Moderm.
9
CAPÍTULO III. REVISÃO DE LITERATURA
A segunda revolução industrial que teve início entre 1850 e 1870, na Inglaterra, França
e Estados Unidos, culminou em novas descobertas e invenções, como o
desenvolvimento da produção de energia elétrica, invenção dos meios de
comunicação, novos processos de fabricação de aço e avanços na química com a
descoberta de novas substâncias entre elas o múltiplo aproveitamento do petróleo e de
seus derivados, como fontes de energia (motor a combustão) e lubrificantes.
O uso da gasolina passou a ter uma utilidade mais nobre (combustível) após a
invenção dos motores de combustão interna realizada em 1876 pelo alemão Nikolaus
August Otto e seu projeto apresentado em 1878. (Varella, 2009). Outro evento
histórico importante na indústria do petróleo foi a Primeira Guerra Mundial que durou
de 1914 a 1918 que pôs em evidência a importância estratégica do petróleo. Pela
primeira vez foi usado o submarino com motor diesel, e o avião surgiu como nova
arma militar. A transformação do petróleo em material que pode contribuir na guerra
e o uso generalizado de seus derivados – era a época em que a indústria automobilística
começava a ganhar corpo – fizeram com que o controle do suprimento se tornasse
questão de interesse nacional. (CEPA, 1999)
Com essa demanda mundial crescente pelos combustíveis fósseis ano a ano,
naturalmente houve a necessidade do aumento da produção de petróleo. Porém, ao
mesmo tempo em que se precisa produzir mais, é necessário que se invista na
10
exploração e descoberta de novas reservas para que se haja reposição do recurso, visto
que o petróleo é um recurso não renovável.
Porém, foi apenas no final da década de 1965 que o petróleo de fato passou a ser a
matriz energética mais usada no mundo, como mostra a Figura 1.
11
Com essa demanda mundial crescente pelos combustíveis fósseis ano a ano,
naturalmente houve a necessidade do aumento da produção de petróleo. Porém, ao
mesmo tempo em que se precisa produzir mais, é necessário que se invista na
exploração e descoberta de novas reservas para que se haja reposição do recurso, visto
que o petróleo é um recurso não renovável. E naturalmente, seguindo a ordem de
exploração, do mais simples para o mais complexo, primeiramente foram explorados
e exauridos os reservatórios com maior facilidade de produção, que demandam uma
tecnologia mais simples como, por exemplo, o uso do bombeio mecânico em poços
terrestres.
12
Comprovando-se a existência de hidrocarbonetos em quantidades comerciais, serão
perfurados novos poços, designados por poços de produção, com o objectivo de extrair
os hidrocarbonetos do reservatório.
13
3.2. PERFURAÇÃO DE UM POÇO DE PETRÓLEO
Desde o ano de 1900 até à atualidade, com exceção de alguns casos especiais, passou
a utilizar se o método rotativo (Figura 5). A perfuração é realizada através do
movimento de rotação e peso aplicados de uma broca, existente na extremidade de
14
uma coluna de perfuração. O peso aplicado sobre a broca resulta da própria
constituição da coluna de perfuração e a rotação pode ser transmitida diretamente à
broca ou através da rotação da coluna de perfuração. Os fragmentos de rocha são
retirados consecutivamente através de um fluido de perfuração ou lama, que é injetado
por bombagem para o interior da coluna de perfuração e volta à superfície pelo espaço
anular formado entre as paredes do poço e a coluna de perfuração. Após atingir uma
determinada profundidade a coluna de perfuração é retirada do poço e é colocada uma
coluna de revestimento em aço, com diâmetro inferior ao da broca. O espaço entre o
revestimento e as paredes do poço é cimentado, permitindo o avanço da perfuração em
segurança. O poço é perfurado novamente e depois em diversas fases, consoante os
diâmetros das brocas.
15
sistema de geração e transmissão de energia. O funcionamento destes sistemas em
conjunto permite realizar a perfuração de um poço (Thomas, 2001). Em suma, estes
sistemas devem possibilitar:
Segundo Thomas (2001), este sistema tem a função de suportar e transferir todas as
cargas durante a perfuração, sendo constituído pela torre ou mastro, subestrutura,
fundação e estaleiro. A carga correspondente ao peso da coluna de perfuração ou de
revestimento, que está no poço, é transferida para o mastro, e por sua vez é
descarregada para a subestrutura e desta para a fundação. A sonda (Figura 6) é uma
estrutura de aço especial, de forma piramidal, cujo espaço livre acima da plataforma
permite a execução de manobras. Não só sustenta o peso das colunas de perfuração e
de revestimento, como permite o manuseamento dos tubos, devido à sua altura.
16
o local onde se situa o poço, montada horizontalmente e só depois elevada
verticalmente. Apesar do elevado custo inicial e menor estabilidade, o mastro é
preferível em plataformas terrestres devido à facilidade e menor tempo de montagem.
A subestrutura é constituída por vigas de aço especiais apoiadas sobre a fundação da
sonda, de forma a criar um espaço suficiente, entre a superfície e a mesa rotativa, onde
são instalados os equipamentos de segurança do poço. É a estrutura sob a qual é assente
o mastro, e para além de suportar a sua carga, suporta também uma grande parte do
peso do equipamento da sonda. Os tubos da coluna de perfuração são conectados na
parte superior da subestrutura. A fundação é um local bem compactado no terreno no
qual vai ser instalada a estrutura da sonda onde dependendo do tipo de solo poderá ser
necessário fazer alicerces em betão ou instalar pranchões em madeira, de forma a poder
suportar todas as cargas em função da capacidade da sonda.
17
Figura 7-Sistema de movimentação de cargas [adaptado de Thomas, 2001]
O bloco de coroamento (crown block) está apoiado e fixo na parte superior do mastro,
sendo constituído por um conjunto de roldanas fixas, 3 a 6, cuja função é suportar as
cargas transmitidas pelo cabo de perfuração. A catarina (traveling block) é constituída
por 3 a 6 roldana móveis, por onde passa o cabo de perfuração vindo do bloco de
coroamento. O gancho é a peça onde é enganchado o conjunto swivel e kelly durante
a perfuração e os links com elevador durante as manobras, contém um piston cilíndrico
com molas que absorve os choques provocados pela movimentação das cargas, não
permitindo a sua propagação para a catarina.
18
alcançar essa rotação fazem parte deste sistema, contudo os principais são: o swivel, o
kelly e a mesa rotativa (Figura 8) O swivel é a peça responsável por fazer a conexão
entre os elementos sem rotação (da catarina para cima) e os elementos com rotação
(do kelly para baixo).
19
3.2.5. Sistema de circulação de fluidos
20
tratamento, passando através de peneiras, que separam os fragmentos de rocha
(cascalho ou cuttings) da lama. Segue-se a fase de tratamento, onde são eliminados os
sólidos finos ou gases que se associaram durante a perfuração e, se necessário, são
adicionados químicos que permitem recuperar as características iniciais do fluido de
perfuração. Por fim, o fluido retorna para o tanque de sucção, para ser novamente
bombeado para o poço.
21
vazão e SPM (Strokes per minute), quando perfeitamente combinados permitem
atingir eficiência e rentabilidade máximas na perfuração.
Os tubos de perfuração são conectados uns com os outros através de uma caixa (tool
joints) localizada numa das extremidades e um pino rosqueado na outra. Existem três
tipos de tubos de perfuração utilizados na coluna, nomeadamente, colares de
23
perfuração, tubos de perfuração pesados e tubos de perfuração (Figura 12), que
permitem o deslocamento dos fluidos de perfuração, sendo que cada um desempenha
uma dada função na coluna de perfuração.
Por fim são colocados os drill pipes (DP), especificamente calculados para resistir a
grandes esforços de tensão e torque, são mais leves e de menor rigidez e fornecem à
coluna de perfuração o comprimento desejado. Quando por alguma razão a perfuração
pára, os tubos de perfuração podem ficar presos às paredes das formações, sucedendo
assim a denominada prisão por pressão diferencial. Por este motivo é para facilitar a
deslocação da coluna, os DC e/ou os HWDP, podem apresentar ranhuras (spiral drill
collars), como se pode observar na figura 12.
24
(A) (B)
25
Percussores (drilling jars), utilizados para dar pancadas na tentativa de libertar
a coluna de perfuração, quando ocorrem prisões;
Alargadores (under-reamers), ferramentas que permitem aumentar o diâmetro
de um poço já perfurado.
26
2. Brocas de diamantes industriais, perfuram por efeito de polimento e são
utilizadas em rochas mais duras e para amostragem (Figura 13);
3. Brocas de diamantes artificiais (ou brocas PDC), perfuram por acção de corte,
são utilizadas em rochas mais moles e apresentam uma longa vida útil (Figura
14)
(a) ( b)
Nas brocas PDC, o elemento cortante consiste em uma pastilha composta por uma
camada fina de cristais de diamante (0.5mm) fixada a um substrato de carbureto de
tungstênio (3mm de espessura) a altas temperaturas. Essa pastilha é fixada a um
cilindro de carbureto de tungstênio de mesmo diâmetro, que compõe o elemento
cortante que será cravado na coroa da broca. As brocas com partes móveis podem
apresentar dois ou mais cones integrados com elementos cortantes, sendo que cada
cone gira em torno do seu próprio eixo à medida que a broca gira. As brocas mais
comuns têm três cones que giram em torno de um eixo próprio, sendo por isso
27
designadas por brocas tricónicas (brocas TCI) (Figura 14). Possuem dois componentes
principais, a estrutura de corte e os rolamentos.
28
da máxima informação possível sobre as formações atravessadas (Figura 15) (Drilling
Fluid Processing Handbook, 2005).
(A ) (B)
29
como sólidos coloidais e/ou líquidos emulsionados que proporcionem viscosidade,
tixotropia e reboco desejados), cuja complexidade depende da natureza dos produtos
dispersos, requisitos e funções necessárias; 3) Outros sólidos inertes dispersantes tais
como materiais de aumento de peso, areia e cuttings; 4) vários produtos químicos
necessários, para controlar as propriedades dentro dos limites desejados. Na tabela 1,
observam-se alguns dos aditivos adicionados aos fluídos de perfuração e as suas
respectivas funções.
Os fluidos à base de óleo são emulsões invertidas de água, ou soluções salinas em óleo,
estabilizadas através do uso de emulsificantes e caracterizados por uma fase contínua
oleosa, geralmente composta de hidrocarbonetos líquidos. Pequenas gotículas de água
30
ou de solução aquosa constituem a fase descontínua desses fluidos. Alguns sólidos
coloidais, de natureza inorgânica e/ou orgânica, podem compor a fase dispersa (Gatlin,
1960; Bourgoyne Jr., Millheim, Chenevert, & Young Jr., 1986).
31
Possuem densidades de circulação equivalente significativamente mais baixas
(ECDS);
Reduzem a perda de fluido durante a perfuração, colocação do revestimento e
cimentação.
3.4. REVESTIMENTO
A operação de revestimento do poço é uma das etapas mais importantes da explotação
do petróleo. Essa importância se deve ao fato da coluna de revestimento ser a principal
estrutura que deverá suportar as forças que são exercidas pelas formações rochosas e
pelos fluidos presentes neste ambiente. Após a fase de perfuração pode ocorrer o
fechamento do poço. Este fato ocorre devido às, por exemplo, alterações nas pressões
litostáticas que desencadeiam modificações nas dinâmicas das rochas. Por diferença
de pressão a rocha e o fluido tendem a invadir o poço, pois a pressão no poço torna-se
menor quando comparada com a pressão a qual as rochas e os fluidos estão submetidos
(Honório, Marcelo Campos, acesso em 20 setembro. 2014). O papel desempenhado
pela coluna de revestimento é o de funcionar com uma barreira mecânica para evitar
que esses elementos invadam o poço. A manufatura do tubo de revestimento inicia-se
com um tubo cilíndrico de aço compacto que é modificado após percorrer vários
processos até obter a forma e as especificações exigidas para cada caso de
revestimento. As especificações são resistência à tração, pressão interna, pressão de
colapso, efeito de cargas combina e efeito de flexão. A determinação de quais serão as
especificações do aço do revestimento torna-se mais complexa quando o revestimento
do poço atravessa uma camada de sal. Devido à plasticidade do sal, novos cálculos
devem ser realizados com o objetivo de determinar os valores das tensões que esta
rocha evaporítica exerce nas paredes do tubo que irá revestir o poço. As tensões e
trações exercidas na coluna de revestimento variam também conforme o tipo de poço.
32
3.4.1. COLUNA DE REVESTIMENTO
As principais funções da coluna de revestimento são prevenir o desmoronamento do
poço, evitar a contaminação da água potável dos lençóis freáticos, proteger as
formações de fluidos e pressões não compatíveis e sustentar os equipamentos de
segurança de cabeça de poço e as outras colunas de revestimento. A coluna de
revestimento é formada por tubos conectados. O número de fases e o comprimento da
coluna de revestimento são determinados em função das pressões de poros da
formação. Os tubos, durante a descida, são guiados pela sapata. A figura 16 é um
exemplo de coluna de revestimento de poço de petróleo.
33
3.4.1.1. TIPOS DE REVESTIMENTO
Tendo em conta a ordem de descida das colunas de revestimento e a sua função, podem
se diferenciar quatro tipos de revestimento (Figura 18), nomeadamente
(ConocoPhillips, 2013):
3.4.1.2.Revestimento condutor
3.4.1.3.Revestimento de superfície
3.4.1.4.Revestimento intermediário
34
forma segura. O seu comprimento e sustimento depende da profundidade da rocha
geradora. Este pode ainda ser ancorado entre 100 e 200 metros acima da sapata.
35
Figura 18-Cimentação em poço de petróleo [ http://www.drillingformulas.com/category/oil-well
cementing ]
Impedir o fluxo de fluidos da formação para o poço, ou seja, isolar o poço das
formações;
Promover separação das formações por detrás do revestimento impedindo ou
restringindo a intercomunicação de fluidos entre elas;
Formar rapidamente uma camada que impeça a perda de circulação;
Selar e fornecer suporte adicional à coluna de revestimento e as paredes do
poço, prevenindo o colapso da formação ao longo do processo de perfuração;
Proteger o revestimento e retardar a corrosão, minimizando o contacto entre
este e águas corrosivas da formação;
Impedir a contaminação de zonas de água doce.
37
3.4.2.1.2. Cimentação secundária
Figura 20-Técnica de cimentação squeeze [NELSON, E. e GUILLOT, D. 2006. Well cementing. S.1.:
Schlumberger, (2006)]
38
3.4.3. CIMENTO PORTLAND
39
3.4.3.2.Classificação do Cimento Portland segundo API
Classe C Até 6.000 pés Quando é requeri da alta resistência inicial. Apresenta alta resistência
aos sulfatos.
Classe D 6.000 á 10.000 Temperaturas moderadamente
pés elevadas e altas pressões. Alta resistência aos sulfatos
Classe E 6.000 a 14.000 Pressão e temperatura elevadas. Apresenta alta resistência aos sulfatos
pés
Classe F 10.000 a Sob condições extremamente altas de pressão e temperatura. Alta
16.000 pés resistência aos sulfatos.
Classes G e H 8000 pés Para utilização sem aditivos, como têm composição compatível com
aditivos aceleradores ou retardadores de pega, podem ser usados
praticamente em todas as condições previstas para os cimentos.
Classe G e H Mais utilizadas atualmente na indústria do petróleo.
Classe J 12.000 a Para uso como produzido, em profundidades de sob condições de
16.000 pés pressão e temperatura extremamente elevadas.
Fonte: Lake, 2006
3.4.3.3.Aditivos
40
propriedades da pasta de cimento consoante as necessidades, (Thomas, 2001; Lake,
2006)
Aditivo Função
Aceleradores Diminuir o tempo de espessamento e aumentar a resistência compressiva inicial da pasta
de pega (CaCl2 e NaCl).
Quando a temperatura e pressão estão muito altas para o uso de cimento sem aditivos,
Retardadores
permitindo o seu deslocamento (lignossulfonatos e derivados, ácidos orgânicos, derivados
de pega
de celulose e derivados de glicose);
Maior rendimento da pasta (mais leves) e maior altura (menor pressão hidrostática).
Estendedores Funcionam por absorção de água (argila, bentonita, silicatos) ou adição de agregados de
baixa densidade (pozolona, perlita, gilsonita).
Redutores de Afinamento da pasta e adoção de maiores vazões com menores perdas de carga, causando
fricção (ou melhor remoção do fluido de perfuração e um menor risco de fratura de formações;
dispersantes):
Evitar a desidratação prematura da pasta frente às zonas permeáveis, mantendo a
Controladores
bombeabilidade e impedindo que se cause danos à pay zone. Sempre usados
de filtrado
simultaneamente aos dispersantes.
Fonte: Lake, 2006
Para além destes aditivos existem outros aditivos que não se enquadram nas classes
acima. Alguns até são usados com frequência e outros são usados em casos especiais.
Este é o caso dos seguintes aditivos:
41
3.4.3.5. Equipamentos de cimentação
3.4.3.6. Silos de cimento
Para as operações de perfuração em terra em geral o cimento é estocado na base da
companhia de cimentação, em grandes silos, sendo enviado para a sonda por meio de
carretas apropriadas. Nas plataformas marítimas são disponíveis silos para
armazenamento de cimento e outros materiais a granel. Estes silos operam a baixa
pressão (cerca de 30 psi), quando da descarga do cimento.
42
3.4.3.10. Acessórios de cimentação
Diversos acessórios são conectados ou afixados à coluna de revestimento, visando
garantir o melhor resultado da cimentação.
3.4.3.11. Sapata
Colocada na extremidade da coluna, serve de guia para a introdução do revestimento
no poço, podendo dispor de um mecanismo de vedação para evitar que a pasta, por ser
mais pesada que o fluido de perfuração, retome ao interior do revestimento após seu
deslocamento.
3.4.3.12. Colar
Posicionado 2 a 3 tubos acima da sapata, o colar serve para reter os tampões de
cimentação, além de poder receber mecanismos de vedação (flutuante ou diferencial).
Normalmente é usado colar flutuante. Caso não tenha mecanismo de vedação, é
denominado colar retentor.
43
causando um aumento de pressão que indica o término do deslocamento, permitindo
a realização do teste de estanqueidade da coluna.
3.4.3.16. Centralizadores
São peças compostas de um jogo de lâminas curvas de aço, que são afixados
externamente à coluna de revestimento, visando centralizá-lo e causar um afastamento
mínimo da parede do poço, para garantir a distribuição do cimento no anular e evitar
a prisão da coluna por diferencial de pressão. Em poços direcionais pode-se usar
centralizadores rígidos, devido à possibilidade de “achatamento” total das lâminas do
centralizador comum.
3.4.3.17. Arranhadores
Tem a função de remover mecanicamente o reboco que se forma na parede do poço.
Tal remoção é feita através dos movimentos verticais (reciprocações) ou de rotação da
coluna, empregando-se para cada caso o tipo de arranhador apropriado. Obturador
externo de revestimento ou ECP (Eternal Casing Packer)
44
operação que se denomina por tripping. O próximo passo é correr o revestimento no
poço. Na parte inferior do revestimento instalam-se o guide shoe (sapata flutuantes) e
o float collar (colar flutuante). O guide shoe guia a primeira junta do revestimento ao
interior do poço, prevenindo a ocorrência de choques com as paredes do poço e possui
uma válvula de retenção que impede o retorno da pasta de cimento para dentro do
revestimento, uma vez que esta seja bombeada. O float collar permite a equipa fazer
flutuar o revestimento no poço para diminuir a carga sobre o sistema de elevação e
também possui uma válvula com um mecanismo de retenção, usada para o mesmo
efeito que a válvula do guide shoe. O uso das válvulas de retenção do guide shoe e do
float collar em simultâneo não é obrigatório e é feito apenas por segurança, caso a
primeira válvula não funcione.
45
3.6. CASOS PRÁTICOS
3.6.1. Programa de perfuração em Poços onshore (em terra)
Diâmetro
Profundidade Tipo de Revestimento Tipo de Dimensão do
do furo
(m) broca (polegadas) revestimento casing (m)
(polegadas)
46
cimentado, de modo a conter as formações não consolidadas e servir de suporte para
os restantes revestimentos. Nesta fase são expectáveis os seguintes problemas: perda
de circulação e vibrações excessivas. Assim, deve considerar-se a utilização de
equipamento auxiliar na perfuração. Segue-se a fase 3, onde será feita a perfuração
com uma broca de 16’’ até à profundidade de cerca de 1700 metros, e descido um
revestimento de 13 3/8’’ que depois será cimentado. Este revestimento classificado
como intermediário permitirá isolar possíveis fluxos de água e as zonas com provável
perda de circulação de fluidos. Há possibilidade de se causarem danos irreparáveis ao
equipamento devido à elevada dureza da formação, deste modo, a perfuração deve ser
feita com a máxima precaução. Na fase 4 a perfuração será feita com uma broca de 12
¼’’ até à profundidade aproximada de 2500 metros.
Esta fase tem como possíveis problemas: taxa de penetração muito baixa e influxo de
água salgada. O revestimento intermediário de 9 5/8’’ permitirá isolar e proteger o
poço dos fluxos de água. Depois de colocado o revestimento deverá ser cimentado.
Por último, a Fase 5 consistirá na perfuração com a broca de 8 ½’’ até à profundidade
de 2918 metros e permitirá atingir a zona do reservatório. No caso de se comprovar a
presença de hidrocarbonetos, em quantidades economicamente viáveis, deve perfurar-
se novamente e descer-se no poço o revestimento de produção de 7’’ até à
profundidade de ± cerca de 2915 metros.
47
Tabela 5 – Tipos de fluídos de perfuração utilizados no poço onshore
Revestimento Dimensão do
(polegadas) Revestimento (m) Pasta de Chumbo Tail Slurry
Cimento tipo G +
Fase 2 20’’ ± 297 Cimento tipo G + CaCl2
Bentonite
A pasta de cimento utilizada na operação de cimentação pode ser leve (lead), quando
apresenta uma densidade de 1.58, ou pesada (tail), quando apresenta uma densidade
de 1.90. Consoante o revestimento a cimentar, podem ser utilizados um ou dois tipos
48
de pasta de cimento, colocando-se sempre primeiro o mais leve e só depois o mais
pesado. Geralmente, a pasta de cimento mais pesada (tail) isola a zona produtiva. Na
Tabela 6 são apresentados os tipos de pasta de cimento utilizados para cada uma das
fases da operação de perfuração. O aditivo “retardador de presa” permitirá aumentar
o tempo de hidratação normal do cimento, retardando o tempo de presa.
A pasta de cimento utilizada na operação de cimentação pode ser leve (lead), quando
apresenta uma densidade de 1.58, ou pesada (tail), quando apresenta uma densidade
de 1.90. Consoante o revestimento a cimentar, podem ser utilizados um ou dois tipos
de pasta de cimento, colocando-se sempre primeiro o mais leve e só depois o mais
pesado. Geralmente, a pasta de cimento mais pesada (tail) isola a zona produtiva.
Revestimento Dimensão do
Lead Slurry Tail Slurry
(polegadas) Revestimento (m)
Cimento tipo G +
Fase 1 36‘’ 1002 à ± 1067 -
CaCl2
Cimento tipo G +
Fase 2 20’’ ± 1887 -
CaCl2
Cimento tipo G +
Fase 3 13 3/8‘’ ± 3193 Cimento tipo G + Aditivo acelerador
Barite
49
Fase 4 9 5/8’’ ± 4276 - Cimento tipo G + Cimento tipo S
Fase 5 - - - -
Em casos graves, um trabalho de cimento ruim que se comunica com uma zona de
água ou um aquífero mais profundo pode criar coning de água, reduzindo seriamente
a recuperação final do recurso. Muitos tipos de equipamento de elevação submetem
os fluidos produzidos a condições de cisalhamento relativamente alto. Se água for
introduzida no sistema, emulsões de água em óleo podem se formar, reduzindo
drasticamente a eficiência da bomba. Se a água introduzida for incompatível com a
água de formação, incrustações podem precipitar, da mesma forma, dependendo do
tipo de equipamento de elevação empregado, a comunicação em uma zona de gás cria
problemas. O gás livre diminui o desempenho de todas as bombas usadas para elevar
50
o fluido. O excesso de gás pode reduzir os tempos de operação, causar desligamentos
frequentes e, no pior dos casos, causar cavitação suficiente para destruir a bomba.
51
A migração de gás que ocorre neste período é talvez a mais complexa de se
compreender, difícil de prever ou prevenir. Por esta razão, muitos trabalhos na
indústria se concentram nela. A ocorrência de migração de gás neste estágio se deve
ao decaimento da pressão no anular, que pode ser atribuído a uma combinação de
diversos fatores, incluindo perda de filtrado da pasta para a formação,
desenvolvimento de força gel e retração química do cimento durante a hidratação.
Com a redução da altura da coluna de cimento acima da zona de gás, obtém-se uma
melhora no valor da força gel estática crítica. No entanto, esta altura não deve ser
inferior a 200 metros acima do topo da zona de gás, para não afetar o isolamento,
conforme recomendado pela norma API RP 65 parte 2.
52
quando é retirada a coluna de perfuração, deve ser colocado o equivalente volume em
lama, de forma a manter a pressão hidrostática efectiva no fundo do poço. Pode ainda
ocorrer se:
53
3.7.8. Falhas na Cimentação Primária
Depois de realizado o trabalho de cimentação primária e realizados os testes
hidráulicos, entende-se que o poço estaria pronto para funcionar. No entanto, há
potenciais problemas como, áreas que não estejam cimentadas, contaminação por
gases, óleos e sais, áreas em que a pasta de cimento tenha perdido água antes de
encerrado processo. Esses problemas podem ser mais frequentes quando é necessário
mudar a direção do poço para que a camada produtora seja atingida, visto que a
cimentação e regiões onde o revestimento metálico possui inclinação pode se tornar
mais difícil. Isso mostra a necessidade de se executarem cimentações que tenham
resistência mecânica e durabilidade adequada exatamente nessas áreas, pois
vazamentos provenientes de possíveis trincas podem inferir na produção do poço
(BEZERRA, 2006). Mesmo com todos os cuidados é comum a ocorrência de falhas
na cimentação primária (Figura 24). As falhas mais comuns são fissuras e presença de
vazios na pasta, que requerem procedimentos de correção (cimentação secundária) e
aumentam o custo do poço.
54
Figura 23-Esquema resumido de riscos associados a cimentação de poços de petróleo e gás.
(NELSON, E. e GUILLOT, D. 2006. Well cementing. S.1.: Schumberger, 2006)
55
Os efeitos da falha do cimento na viabilidade a longo prazo de um poço ou mesmo de
um campo podem ser drásticos. Um trabalho de cimento ruim em um poço de
manutenção de pressão ou recuperação aprimorada de óleo (água, fluido de injeção
miscível, polímero, vapor, etc.) permite que o fluido de injeção seja introduzido em
zonas nas quais não é necessário. Isso pode resultar em problemas ambientais graves
e onerosos, de perfuração e de produção de longo prazo. Quando isso ocorre, o fluido
de injeção normalmente migra para a região de maior permeabilidade, permitindo que
um "curto-circuito" se forme no sistema. Isso resulta em baixa eficiência de varredura,
desperdício de fluido de injeção e redução da vida útil do poço. Um curto-circuito para
poços adjacentes também pode resultar em uma violação da superfície.
3.8.1. Segurança
56
demonstraram-se melhores quando a companhia apenas estabelece os objectivos gerais
e são os técnicos que definem e implementam as melhores formas de atingir estes
objectivos, dentro de certos parâmetros. Em suma, as companhias devem estabelecer
um sistema de segurança que defina um conjunto de princípios e objectivos de
segurança, os métodos e procedimentos utilizados e as formas de avaliar os resultados
atingidos e a própria aplicação dos procedimentos.
3.8.2. Saúde
3.8.3. Ambiente
57
atenção das companhias petrolíferas, dos Governos e até do público em geral. Estes
estudos têm o objectivo de identificar os potenciais efeitos e riscos no ser humano, no
ambiente, na reputação, nas propriedades e nos aspectos económicos, e
consequentemente reduzi-los a níveis mínimos ou mesmo eliminá-los. Será também
fornecida a informação necessária para que os especialistas e gestores decidam sobre
a viabilidade do projecto petrolífero e quais as alternativas ou modificações que terão
de fazer ao mesmo. A sua importância deve-se ainda a outros aspectos, tais como, o
cumprimento dos regulamentos das agências governamentais de cada país e dos
sistemas de gestão de HSE, melhoria das práticas operacionais, definição de metas de
performance, ajustamento do orçamento operacional e divulgação da importância das
questões ambientais. Um estudo EIA pode demorar entre três a nove meses,
dependendo do tamanho e do tipo de projecto em estudo, bem como da existência de
outros estudos anteriores. As companhias petrolíferas têm todo o interesse em
contribuir decisivamente para o desenvolvimento sustentável, visto resultar numa
maior reputação no público geral e, consequentemente, em mais oportunidades de
negócio. O impacto de um acidente sério pode estender-se ao longo de anos, décadas
ou mesmo séculos. Tendo em conta os acidentes já ocorridos em plataformas, podem-
se agrupar em três principais categorias:
58
3.8.5. Acidentes
59
Figura 25 - Área afetada pelo blowout do mocondo. [adaptado por ANDREIA FILIPA Estabilização de
poços (2014)]
Figura 26-Poço de Mocondo [adaptado por Andreia Filipa Estabilização de poços (2014)] 60
O poço Macondo era do tipo HPHT (Alta pressão e alta temperatura), o que
representava riscos adicionais para a ocorrência de um kick, ou seja, não seria possível
elevar o peso do fluido de perfuração para se gerar uma condição de melhor segurança
sob pena de fracturar as rochas da formação (BP, 2010). Por outro lado, qualquer
pequena variação negativa do peso da lama, provocada por exemplo por contaminantes
(água, óleo, entre outros), ou uma diminuição do nível hidrostático do fluido no interior
do poço, poderia provocar um kick. Em suma, as margens de variação do peso da lama
(seja superior ou inferior) são muito pequenas para águas profundas, (Rocha, 2009). O
poço foi iniciado a 6 de outubro de 2009, com a plataforma Transocean Marianas,
mas fechado a 8 de novembro de 2009, devido à passagem do furacão Ida pela região.
Foi reiniciado em fevereiro de 2010, com a plataforma semi-submersível Deep water
Horizon da Transocean com algumas anormalidades em pressões nas rochas. No dia
16 de abril foi aprovado o abandono temporário do poço, visto os objetivos
exploratórios terem sido atingidos, e iniciado o processo de cimentação. Foi no dia 20
de abril de 2010 durante a operação de cimentação, a 5500 metros de profundidade,
que ocorreu o kick que não foi detectado a tempo de fechar o poço.
61
CAPÍTULO IV. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Antes da descida do revestimento no poço, é importante tratar e prevenir qualquer
perda de fluido de perfuração devido à fragilidade da formação. Do contrário, durante
a cimentação, haverá sérios riscos da pasta de cimento se perder na mesma região do
fluido, comprometendo o êxito da operação. O êxito da cimentação é alcançado
quando cimento íntegro é posicionado em toda a circunferência do anular, impedindo
qualquer comunicação entre as zonas que se deseja isolar. (Figura 30). Para evitar
falhas na cimentação, que podem dar origem à comunicação de fluidos entre zonas e
subsequente influxo para a superfície causando a explosão do poço.
Figura 32 - Cimento íntegro posicionado na circunferência do anular (adaotado por Wilson Iramina Santos, 2016)
A BP apresentou seis principais motivos (Figura 32) para a ocorrência deste acidente:
62
a pressão hidrostática do cimento, provocando a passagem do gás para o
espaço anular.
2) A locking sleeve (barreira que é instalada no topo do liner permitiu a passagem
do gás para o interior do poço, que por diferencial de densidade, se deslocou
em direcção à sonda. Pode ter havido uma falha na produção desta peça ou na
sua instalação pela equipa de perfuração.
3) O gás não foi identificado antes de chegar ao riser. O sondador não deveria
estar atento aos “avisos” dos vários equipamentos que controlam as condições
do poço, pois após detectar qualquer influxo, deveria imediatamente fechar o
poço. O kick foi descoberto 40 minutos depois do primeiro influxo, tornando
qualquer operação extremamente perigosa, pois o gás, em tese, já poderia deter
um enorme volume do poço e estando próximo da sonda poderia causar um
vazamento seguido de explosão.
4) Quando o sondador tentou fechar o poço já não era possível. O poço deve ser
fechado o quanto antes, pois o volume de gás é menor. O BOP falhou ao ser
accionado, assim como todos os equipamentos críticos para o controlo do
poço.
5) O sistema de detecção de gás e incêndio não disparou perante a presença de
gás em locais que não eram protegidos. Por algum motivo os alarmes estavam
desligados.
63
Pode-se concluir que este blowout foi resultado de diversos problemas operacionais,
técnicos e de regulamentação, causando uma explosão, dezassete feridos e onze
mortos. A Guarda Costeira conseguiu evacuar rapidamente 115 dos 126 trabalhadores
da plataforma (ITOPF, 2012). A plataforma afundou 36 horas após a primeira
explosão. Após 87 dias de produção descontrolada para o mar de um volume estimado
64
de 4,9 milhões de barris, foram realizados dois poços (relief wells) destinados a
interceptar o poço e bloquear o seu fluxo. A perda do poço e da plataforma foi apenas
uma parcela quando comparadas com os imensos prejuízos ambientais, financeiros,
sociais e com a perda de vidas. A fauna e a flora marinha, bem como as indústrias do
turismo e da pesca foram imediatamente afectadas. Apesar da área afectada ter sido
inferior à prevista inicialmente, muito deste petróleo chegou à costa e não é claro qual
o impacto no fundo marinho, onde pode ter havido acumulação do petróleo
degradado. Pode concluir-se a inexistência de um real plano de emergência pois nem
as empresas petrolíferas, nem os organismos de protecção ambiental estavam
preparados para reagir a um acidente desta dimensão. Foram aplicadas diversas
medidas de recolha de petróleo e de protecção costeira, que se revelaram insuficientes
face ao volume derramado.
Para uma cimentação bem-sucedida é necessário que se faça uma boa análise dos
parâmetros que a influenciam. Consoante estas análises devem-se definir as
necessidades do poço, e formular técnicas que sejam capazes de atendê-las,
(Economides, Watters, & Dunn-Norman, 1997). Para além das pressões instaladas nas
paredes do poço e das caracteríscas das formações, há a considerar os seguintes
parâmetros:
Profundidade
• Geometria do poço
• Temperatura
66
CAPÍULO V. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1. CONCLUSÕES
Um bom projeto de cimentação num poço petrolífero é essencial para manter a
integridade durante o seu ciclo de vida. Deste modo, é possível garantir que é seguro
para os trabalhadores e para a comunidade em redor, permite minimizar os riscos de
fugas e derrames, protege o subsolo e as águas superficiais, e é seguro de operar. De
modo a satisfazer os objectivos traçados no trabalho conclui-se que:
Um determinado trecho do poço ao ser perfurado deve ser isolado com material
isolante e impermeável (cimento) para não permitir a comunicação entre
diferentes fases do poço, ou entre formações permeáveis com diferentes fluidos
ou gradientes de pressões, sob o risco de haver problemas durante a perfuração
e a produção do poço.
A cimentação é seguida por riscos. Esses riscos podem ter origem desde o
preparo do cimento a ser usado no poço na medida em que são utilizados
aditivos não apropriados para certos poços, profundidade e temperatura, ou,
durante as operações da cimentação primária. O tipo de aditivo a ser utilizado
é de extrema importância para uma eficaz cimentação e deve ser
criteriosamente escolhido e estudado para que possa atender as necessidades
de cada poço.
Em relação a impactos negativos no processo de cimentação, inúmeros
problemas podem ser associados a má qualidade da cimentação, falhas na
avaliação do cimento. O impacto de um acidente sério pode estender-se ao
longo de anos, décadas ou mesmo séculos. Tendo em conta os acidentes já
ocorridos em plataformas, podem-se agrupar em três principais categorias:
derrames de petróleo em terra e no mar, emissões gasosas para a atmosfera
alterações na superfície terrestre.
Em relação a segurança operacional os acidentes podem ser minimizados, bem
como os impactos quando o acontecimento do acidente é detetado a tempo
mesmo assim ainda chegam a ser drástico ao meio ambiente e o homem. O
ambiente é afectado em diferentes esferas dependendo do tipo de acidende e
recurso em exploração e o efeito desses acidentes quer seja, explosão ou
67
derrame de óleo, o seu impacto sobre o meio ambiente faz-se sentir na emissão
de gases à atmosfera, hidrosfera e a superfície em si.
5.2. RECOMENDAÇÕES
Visto que os acidentes, principalmente os derrames de óleo por vazamento, afetam não
só as companhias perolíferas, mas também o país hospedeiro podendo colocar a
atividade pesqueira e turística em causa. Para o caso de Moçambique em particular,
pelo menos 35% da população sobrevive da pesca. Porque a escolha do tema se reflete
a realidade das descobertas e futura exploração na Bacia do Rovuma, visando mitigar
e evitar possíveis acidentes relacionados a falhas de cimentação recomendaria o
seguinte:
68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
69
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Desenvolvimento de Recursos Humanos Norte-Nordeste. Petrobras, 1997.
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