Resumo
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Doutorando no Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática da ULBRA – Canoas
(Bolsista Fapergs/Capes), formado pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) em Ciências Biológicas,
Professor da rede pública estadual do Rio Grande do Sul, Pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Tecnologias
Digitais no Ensino de Ciências. E-mail: julio_mateus18_nascimento@hotmail.com
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Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática da ULBRA – Canoas
(Bolsista Fapergs/Capes). E-mail: r.dallagnese@gmail.com.
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Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática da ULBRA – Canoas
(Bolsista Fapergs/Capes). E-mail: bio_logia1@hotmail.com.
ISSN 2176-1396
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Introdução
Quando se pensa em Educação de Jovens e Adultos (EJA), o que mais se pesquisa diz
nesta modalidade de ensino é sobre a sua implementação e parte da sua história no Brasil e
funções (SANTOS; ROSA; MELO, 2012). Baseando-se nas experiências da Educação
Popular, a EJA assumiu o aspecto de trabalhar para a construção da identidade de sujeitos
capazes de agirem e falarem, de desenvolverem o pensamento político e crítico, essencial para
interferir nos processos históricos e modificar sua realidade de exclusão social (SILVA;
BURGOS, 2010).
Nesse sentido, a EJA assume o papel como direito individual do cidadão e dever do
Estado, podendo-se conceituá-la como um processo e experiências de ressocialização através
dos conhecimentos escolares orientados, com fins de obter o crescimento e a consolidação das
capacidades individuais e coletivas dos sujeitos populares perante a promoção e recriação de
valores, a produção, apropriação e aplicação de conhecimentos que permitam o
desenvolvimento de propostas mobilizadoras capazes de colaborarem para a transformação da
realidade natural e cultural dos sujeitos envolvidos (SOUZA, 2007, p. 176).
Esse papel, que deveria obrigatoriamente ser um dever do estado, nem sempre é
assumido por ele. Para Santos et al. (2012), somos levados a discutir e repensar o constante
abandono com a educação pública no Brasil, a sua manutenção e os seus fins. Dentro desse
quadro de abandono, foram priorizados recursos na escolarização elementar das crianças e dos
adolescentes, assumindo a EJA um papel secundário (Di PIERRO, 2008, p. 379), aumentando
seus problemas e diminuindo consideravelmente seu papel no contexto educacional. Na
sociedade contemporânea, denominada por Santos et al. (2012) sociedade da informação e da
comunicação, as novas tecnologias adentraram em todos os espaços e em um mercado de
trabalho que necessita obrigatoriamente delas; os sujeitos da EJA transformaram-se em
excluídos digitais.
Quando o assunto exclusão digital na modalidade EJA entra em debates acadêmicos, o
destaque recai sobre os problemas do analfabetismo elementar da leitura e escrita, pensando
sobre os processos do ensino de jovens e adultos que contribuem para a erradicação de
problema educacional nacional. Entretanto, pouco se ouve falar sobre a erradicação do
“analfabetismo digital” desse grupo específico (SANTOS et al. 2012).
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Observamos, no Brasil, que a EJA está longe de ter um lugar privilegiado nas pautas
políticas, e continuará desconsiderada enquanto modalidade de ensino aos programas
educacionais. Contudo, para Santos et al. (2012), ela não está sozinha nesse abandono
político, visto a realidade de muitas escolas públicas e do ensino do nosso País.
Nosso objetivo neste trabalho é realizar um sucinto levantamento bibliográfico com
um olhar diferente do foco da maioria dos artigos publicados sobre essa modalidade de ensino
e abordando a temática EJA e tecnologia no País, buscando uma reflexão sobre as políticas
educacionais para essa modalidade, lembrando que, em nossa sociedade, o processo de
inclusão social integra também a inclusão digital, que hoje é condição essencial para os
indivíduos exercerem plenamente a cidadania.
atrasados (CHAPLIN, 1999; LILLARD, 2001), principalmente entre os alunos mais pobres
(HECKMAN et al., 2012).
Quando abordamos a temática EJA, precisamos levar em consideração alguns fatores
como o público alvo que essa modalidade de ensino abrange, tendo como seus principais
usuários jovens e adultos, na sua maioria, de classe popular, que não tiveram a oportunidade
de continuar seus estudos no ensino regular em seu devido tempo ou que nem chegaram a
tanto. Isso, porque, devido às demandas de sua própria vida, muitos tiveram que escolher
entre o trabalho e a escola; entre a sobrevivência e o conhecimento (SANTOS et al., 2012).
São alunos que, depois de muito tempo, voltaram a estudar, pensando em adquirir o
conhecimento que não tiveram, ou, em certos casos, somente obter um diploma visando a
conseguir um emprego melhor – ou, simplesmente, um emprego.
A Educação de Jovens e Adultos vem crescendo a cada dia em nosso País. A busca é
por turmas presenciais ou à distância. Umas das características marcantes dessa modalidade é
a grande diversidade entre os estudantes, onde podemos ver o retrato de diferentes
dificuldades; o domínio da leitura e sua compreensão, o conhecimento de vocabulário para
expressar em linguagem escrita ou falada, seus conteúdos, valores, preocupações, angústias
ou analfabetismo digital.
O Parecer CEB/CNE nº 11/2000 reconhece a especificidade da EJA como modalidade
de educação escolar de nível fundamental e médio no qual também reconhece que a EJA
“representa uma dívida social não reparada para com os que não tiveram acesso a e nem
domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou fora dela, e tenham sido a força
de trabalho empregada na constituição de riquezas e na elevação de obras públicas”, indica
suas funções, a saber: reparadora, equalizadora, qualificadora.
A função reparadora parte do reconhecimento não “só o direito a uma escola de
qualidade, mas também da igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano”.
Eles depositam na educação, na escola, uma possível elevação do padrão de vida. Eles
acreditam que estão na situação em que se encontram por não terem continuado os seus
estudos; não analisam criticamente a sociedade em que vivem e nem contextualizam a
realidade de suas declarações (SANTOS et al., 2012). Entretanto, devemos destacar que as
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escolas públicas do nosso País, em sua grande maioria, enfrentam muitos problemas e
desafios ainda nos dias de hoje, sendo evidente a desigualdade social, que reflete também no
acesso e uso das tecnologias – principalmente das novas, problema que não é recente e que
ainda parece estar longe de obter uma solução.
No que concerne à Educação de Jovens e Adultos, cabe reforçar a relevância do uso
desses instrumentos tecnológicos enquanto prática pedagógica. Eles auxiliam o professor no
decorrer de suas aulas e possibilitam um estímulo a mais aos estudantes para que queiram
“buscar” o conhecimento. Sua função ainda tem um fator primordial na atualidade, que diz
respeito à formação política dos jovens e adultos que estão no processo de aprendizagem.
Tecnologias na Educação
Podemos observar que, mesmo tendo o acesso e a possibilidade de valer-se dos novos
instrumentos científico-tecnológicos que estão no campo da Educação, observa-se que a
grande maioria das práticas pedagógicas é resistente à inovação técnica.
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Também não se pode esperar que o professor esteja pronto para o desafio das novas
tecnologias, pois eles estão habituados aos livros didáticos, e, muitas vezes, à escassez de
apoio pedagógico. Esses aspectos reforçam a ideia de que “o professor sente dificuldades para
realizar um trabalho interativo com as diversas mídias” (BRITO, 2009).
Alguns motivos pelas dificuldades de trabalharem com as novas tecnologias e, em
específico na EJA, é a falta de preparo técnico dos docentes. Sem uma devida preparação para
ensinar com auxílio de ferramentas tecnológicas e sem uma metodologia adequada a essa
modalidade, os docentes acabam por tratá-los da mesma maneira que tratam os alunos do
turno regular de ensino, assim tornando-os cada vez mais excluídos digitalmente. Para
Oliveira (2007, p. 88), possivelmente esses são alguns dos principais problemas que estão
presentes no trabalho com a EJA.
Nesse contexto, não cabem mais práticas educativas autoritárias e hierárquicas, que
concentrem todo o conhecimento no professor. Nesse modelo, o professor transmite um saber
que o aluno deve receber passivamente (SILVA et al., 2010, p. 02). Agora, o professor, não
mais visto como detentor do conhecimento, mas como sistematizador e orientador das
aprendizagens, possibilita que “a formação educativa nessa realidade, precisa se voltar para o
desenvolvimento de sujeitos ativos em pesquisadores constantes e conscientes de terem um
papel fundamental na sua aprendizagem” (SILVA; BURGOS, 2010, p. 07).
As novas tecnologias, dessa forma, possibilitam à escola novas formas de
comunicação, trabalhando um universo diferente e colaborativo, ensinando os alunos em um
modelo de união entre sabedoria e prática (MIRANDA; MACHADO, 2010, p. 532).
Outro fator importante a ser lembrado refere-se ao fato de não cairmos em uma ideia
que virou moda no senso comum, a de que os recursos tecnológicos, por si sós, são capazes de
formar os estudantes e prepará-los devidamente para as atividades que deverão cumprir no
ambiente de trabalho e em outros.
A educação, na sociedade da informação, vem vivendo momentos difíceis devido à
diferença da evolução das novas tecnologias e dos métodos pedagógicos utilizados pelas
escolas. A juventude vem, quotidianamente, adquirindo muitos conhecimentos fora da escola,
devido à sua autointegração nessa sociedade e às tecnologias à sua disposição, contrastando
com a tediosa e atrasada escola. Diante desses aspectos, é fundamental que a escola repense a
sua forma de atuação e a qualificação dos profissionais envolvidos no processo de ensino
(LARA, 2010, p. 05).
Se a escola não possibilita a utilização das tecnologias digitais em sala de aula, não é
por isso que os alunos continuarão indiferentes a elas, pois, ao atravessar o portão da escola,
quase todos eles têm acesso a esses recursos, seja em sua própria casa ou no espaço de
trabalho.
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Podemos pensar, em vista desses aspectos, que a inclusão digital vai estar ligada ao
pensamento de Paulo Freire (1996) e trazer como um dos seus pilares o uso da internet para
resolver tarefas cotidianas, aproximando, na dimensão do ciberespaço 4, as pessoas
marginalizadas socioeconomicamente (maioria) das pessoas mais favorecidas (minorias). O
processo de inclusão vincula-se às condições de acesso à internet, ou seja, a exclusão digital
amplia ainda mais a exclusão social.
A entrada no ambiente virtual possibilita que o sujeito tenha voz ativa, seja autor e
tenha autonomia, embora condicionada, para pesquisar e escolher, nas suas leituras, o que
deseja aprender, indo além do espaço escolar, o que se constitui como uso social das TIC.
Para Silva e Burgos,
Nesse sentido, se a EJA tem como objetivo preparar esses alunos para a cidadania e
também de qualificá-los ao mercado de trabalho, é indispensável que tenham acesso às
tecnologias que compõem esse mercado de trabalho.
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Uma dimensão da sociedade em rede, onde os fluxos definem novas formas de relações sociais (BERGMANN,
2007, p. 04).
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Considerações Finais
um programa de ensino que contemple a educação e a tecnologia, para que ambas consigam
atuar como facilitadoras para esse momento, que nós, professores, tanto esperamos, aconteça
– que nossos alunos transformem a sociedade.
REFERÊNCIAS
CHAPLIN, D. GEDs for teenagers: are there unintended consequences? Urban Institute,
1999.
SILVA, W. A.; JUNIOR, T. A. S.; SILVA, R. M.; SILVA, E. M.; SEIXAS, K. C. F. L.;
SANTANA, L. L. S.; SILVA, S. P.; & TENORIO, A. C. EJA: A Inclusão Digital Traçando
Caminhos Para A Inclusão Social. X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSAO –
JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.