Angolano
O Sistema Financeiro
Angolano
2020
pré-impressão
EDIÇÕES ALMEDINA, S.A.
impressão e acabamento
, 2020
depósito legal
....
____________________________________________________
SIGLAS E ABREVIATURAS
5
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
6
APRESENTAÇÃO
Paulo Câmara
7
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
público – o que vale também para o direito dos valores mobiliários e para o
direito dos seguros. Subsequentemente, Sofia Vale e Leonildo Manuel ofere-
cem a sua análise das instituições financeiras (Capítulo 3), facultando uma
digressão pelo catálogo de tipos de instituições e um exame às atividades
respetivamente permitidas. À autoridade de supervisão bancária – o Banco
Nacional de Angola – é dedicado o estudo de Rosa Mangovo (Capítulo 4), que
desenvolve e atualiza a sua dissertação de Mestrado, com claro enfoque na
supervisão comportamental. No sistema financeiro angolano, desempenha
uma função central o regime cambial, aqui examinado através do olhar aten-
to de Rute Santos (Capítulo 5): destaca-se nomeadamente a reconstituição
aturada de fontes e a organização metódica de indicações destas resultan-
tes. Por seu turno, a Joana Pinto Monteiro compete uma apresentação dos
deveres fundamentais das instituições financeiras bancárias, no Capítulo 6.
Segue-se um par de artigos centrados na governação de bancos, um deles
assinado por João Fonseca, tendo por objeto o regime atual (Capítulo 7) e
o outro por Leonildo Manuel, que se foca nas perspetivas de evolução do
quadro regulamentar vigente (Capítulo 8): ambos documentam o papel cen-
tral que a governação societária tem desempenhado na evolução do sistema
bancário. O Capítulo 9 é preenchido com o artigo sobre contratos bancários,
a cargo de Irina Delgado, com um recenseamento das características fun-
damentais de cada tipo contratual bancário. Por fim, João Pedro Tavares e
Martim Bóia ocupam o Capítulo 10 com uma análise completa e muito docu-
mentada sobre a interrelação entre o sistema bancário e o desenvolvimento
económico.
A Parte III recolhe as reflexões sobre o mercado de valores mobiliários. De-
pois de um capítulo introdutório sobre Fontes (Capítulo 11), de Paulo Câmara
e Ana Regina Vitor (a incluir uma recolha histórica importante, a cargo desta
co-autora), segue-se uma intervenção do Presidente da Comissão do Mercado
de Capitais, Dr Mário Gavião, sobre regulação (Capítulo 12): aqui se oferece
um mapa analítico sobre as competências da CMC e um levantamento da du-
pla face da regulação mobiliária, a institucional e a material, cuja delimitação
se revela importante para, segundo o Presidente da autoridade de supervisão,
“a necessária objectividade na função regulatória do organismo regulador”. Os tipos
de valores mobiliários são examinados por Ana Regina Vitor, no Capítulo 13,
através de um ensaio que atualiza e desenvolve a sua dissertação académica
8
APRESENTAÇÃO
de mestrado. Por seu turno, Herlander Diogo faculta uma análise sistema-
tizada dos deveres das instituições financeiras não bancárias (Capítulo 14).
A Parte IV encerra o volume, tratando de temas ligados ao sector segura-
dor. Uma apresentação sobre as instituições seguradoras é-nos confiada por
Joana Pinto Monteiro (Capítulo 15), a que se segue com um artigo de José
Cesaltino Victoriano Manuel sobre seguros obrigatórios (Capítulo 16), percor-
rendo sucessivamente a sua evolução histórica, o seu regime e as perspetivas
de evolução próxima.
9
Parte I
Aspectos comuns
11
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO: O DIREITO DO SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Paulo Câmara
13
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
2
Com maiores desenvolvimentos, reenvia-se para os capítulos 2, 4, 6 e 11 deste volume.
3
Sofia Vale, As Empresas no Direito Angolano. Lições de Direito Comercial, Luanda (2015),
112-ss e 989-ss.
4
Sofia Vale/ Fernanda Mualeia, Guia Prático de Direito Comercial, Luanda, (2016).
14
INTRODUÇÃO: O DIREITO DO SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
5
Corresponde a um desenvolvimento da tese de mestrado apresentada em 2016 à Faculdade
de Direito da Universidade Agostinho Neto. Outras publicações relevantes do autor sãoo
seguintes: Os títulos de participação: tentativa de reforçar a posição do Estado empresário
ou ofuscar as privatizações? (em co-autoria com Wilson Agostinho) In Revista de Direito
das Sociedades e dos Valores Mobiliários N.º 11: Rio de Janeiro: Almedina, 2020; Os títulos
do tesouro do mercado financeiro angolano (co-autoria com Sofia Vale) in Direito dos Va-
lores Mobiliários e dos Mercados de Capitais – Angola, Brasil e Portugal, (Coordenação de
A.Barreto Menezes Cordeiro e Francisco Satiro), Coimbra: Almedina, 2019; A importância
da informação no mercado de valores mobiliários no direito angolano, in Revista dos Tri-
bunais. São Paulo, n.º 997, nov. 2018; Nótulas sobre a Responsabilidade do Emitente pelo
Conteúdo do Prospecto. In Revista de Direito das Sociedades e dos Valores Mobiliários N.º
7: Rio de Janeiro: Almedina, 2018; O Exercício do Poder de Regulação no Mercado de Valores
Mobiliários como Mecanismos de Protecção dos Investidores, In: AB INSTANTIA – Revista
do Instituto do Conhecimento AB, Ano V., n.º 7, Almedina, Ricardo Costa (Coord.), 2017:
73-111; A Privatização de empresas via mercado de acções: que desafios. In: Revista de Direito
Comercial, 2018:762-788 e Escritos sobre FinTech e Corporate Finance – Experiências e desafios no
contexto angolano (2019), este último em co-autoria com Jacinto Domingos Manuel e Daniela
de Almeida Simão.
6
Uma versão atualizada deste texto encontra-se no Capítulo 13 deste volume.
15
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
7
Uma versão atualizada deste texto encontra-se no Capítulo 4 deste volume.
8
Com relevo para o sistema financeiro, reenvia-se nomeadamente para Leonildo João
Lourenço Manuel, Revisitando a Lei n.º 05/2005, de 29 de Julho – Lei do Sistema de Pagamentos
Angolano no âmbito da Inovação financeira, RALJ n.º 1 (2020); e Hélder Felisberto dos San-
tos Daniel, O Combate à Corrupção: Uma Forma de Prevenção do Branqueamento de Capitais e do
Financiamento ao Terrorismo, RALJ n.º 2 (2020)
16
INTRODUÇÃO: O DIREITO DO SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
2. Os vectores da reforma
– Gradualismo;
– Diversificação de produtos financeiros;
– Alinhamento com boas práticas internacionais.
9
Em referência está o Decreto Legislativo Presidencial n.º 7/13, de 11 de Outubro, que aprova
o Regime Jurídico dos Organismos de Investimento Colectivo
10
Aviso BNA nº 05/2020 de 28 de Fevereiro.
11
Decreto Legislativo Presidencial n.º 4/15, de 16 de Setembro, que aprova o Regime Jurídico
dos Organismos de Investimento Colectivo de Capital de Risco.
12
Decreto Legislativo Presidencial n.º 6-A/15, de 16 de Novembro, que aprova o Regime
Jurídico dos Organismos de Investimento Colectivo de Titularização de Ativos.
13
Decreto Legislativo Presidencial n.º 6/13, de 10 de Outubro, que aprova o Regime Jurídi-
co das Sociedades Gestoras de Mercados Regulamentados e de Serviços Financeiros sobre
Valores Mobiliários.
14
Decreto Legislativo Presidencial n.º 5/13, de 9 de Outubro, que aprova o Regime Jurídico
das Sociedades Corretoras e Distribuidoras de Valores Mobiliários.
15
Aviso BNA n.º 05/2017 de 10 de Julho.
16
Directiva BNA nº 03/DRO/2018.
17
Aviso BNA nº 08/2020 de 2 de Abril.
17
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
IV – Por fim, é importante anotar que a evolução regulatória tem sido pon-
derada e estudada pelas autoridades nacionais com uma atenção às singulari-
dades angolanas, mas sem descurar o acompanhamento particular conferido
às tendências regulatórias internacionais e às boas práticas transfronteiriças
em matéria de supervisão. Trata-se de um ponto muito importante, dado
que os riscos mais significativos do sistema financeiro apresentam natureza
internacional – tais como o risco sistémico, o risco de branqueamento de
capitais e financiamento de terrorismo e o risco de pandemias, que – como
os tempos recentes o demonstram – atravessam geografias e inevitavelmente
também afetam de modo significativo o sistema financeiro.
As autoridades de supervisão angolanas têm-se mostrado muito empenha-
das na cooperação internacional com organizações internacionais relativas ao
sistema financeiro e com autoridades congéneres. Destaca-se a circunstância
de a CMC ser membro da IOSCO (International Organisation of Securities
Commissions) desde 2014, tendo em 2020 incrementado o seu envolvimento
nesta organização ao ser admitida ao Comité dos Investidores de Retalho da
IOSCO.
Por seu turno, é conhecida a ligação próxima da ARSEG com a Associação
Internacional dos Supervisores de Seguros (IAIS) e o Comité de Seguros,
Valores Mobiliários e Instituições Financeiras Não-Bancárias da África-Aus-
tral (CISNA). O BNA tem igualmente mantido uma cooperação internacional
18
INTRODUÇÃO: O DIREITO DO SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
18
Paulo Câmara (coord.), A governação de sociedades anónimas nos sistemas jurídicos lusófonos,
Coimbra, (2013); Paulo Câmara (coord.), A Designação dos Administradores, (2015); Paulo
Câmara, Diversidade de Género e Governo das Sociedades, Inside 01 (2016), 5-8; Paulo Câmara,
Diversidade Etária e Corporate Governance, Inside 02 (2017), 5-7; Paulo Câmara , Remunerações
e Governo das Sociedades: uma nova agenda, em Instituto Português de Corporate Governance,
Volume Comemorativo do XV Aniversário, (2018), 267-284; Paulo Câmara, Coronavirus e Cor-
porate Governance, Ver (20-mar.-2020); Paulo Câmara (coord.), Administração e governação
das sociedades, (2020).
19
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
19
Artigo 2.º, n.º 24 do Regulamento (EU) 2019/2088, de 27 de novembro de 2020.
20
Paulo Câmara (coord.), Administração e governação das sociedades, (2020), 15-32.
21
Paulo Câmara, Códigos de Governo das Sociedades, Cadernos do Mercado de Valores Mobiliários
n.º 15 (Dezembro de 2002), 65-90.
22
Cfr. a propósito o relato de Sofia Vale, A governação de sociedades em Angola em A Governação
de Sociedades Anónimas nos Sistemas Jurídicos Lusófonos, (2014), 33-79.
20
INTRODUÇÃO: O DIREITO DO SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
4. Síntese final
disponível em www.ccga.co.ao.
24
V. em geral Paulo Câmara, O Governo de Bancos: uma introdução, em A Governação de Bancos
nos Sistemas Jurídicos Lusófonos (2016), 13-61.
25
Cfr. os capítulos 7 e 8, da autoria de João Fonseca e de Leonildo Manuel.
21
PARTE II
SISTEMA BANCÁRIO
23
CAPÍTULO 2
FONTES DO DIREITO BANCÁRIO ANGOLANO
Nota Introdutória
25
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
1
Há quem considere que se trata de ramo de Direito, há quem entenda que apenas se trata
de disciplina autónoma.
2
Como já defendi noutro lugar: “O direito bancário como todo o direito profissional não é um
ramo de direito autónomo, sendo, no entanto, uma disciplina jurídica, candidata a um estatuto
autónomo. Ele aparece sob um quadro comum de regras de origem e natureza diversa, que se
situam quer ao nível do direito privado, na sua parte essencial, quer ao nível do direito público,
do qual releva o direito económico.” Colectânea de Temas Bancários, Luanda, Janeiro/2004.
26
FONTES DO DIREITO BANCÁRIO ANGOLANO
27
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
3
Cfr. José Simões Patrício, Direito Privado Bancário, Quid Juris-Sociedade Editora, 2004,
pp. 85 e ss.
28
FONTES DO DIREITO BANCÁRIO ANGOLANO
29
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
referência faz o artigo 405.º do Código Civil. O n.º1 deste artigo do texto
constitucional começa por estabelecer que “o sistema financeiro é organizado
de forma a garantir a formação, a captação, a capitalização e a segurança das
poupanças, assim como a mobilização e a aplicação dos recursos financei-
ros necessários ao desenvolvimento económico e social, em conformidade
com a Constituição e a lei”. Como pode observar-se o legislador constituinte
preocupou-se em estabelecer o modo como deve aparecer estruturada a via
de obtenção de poupanças junto dos agentes económicos e o manuseamento
e a aplicação contabilisticamente rentável dessas poupanças, pelos opera-
dores financeiros, visando objectivos de fomento para o desenvolvimento
económico e social. A prossecução de tais objectivos e, ainda de um ponto
de vista institucional, segundo este artigo, manifesta-se alcançável se tais
operadores financeiros gozarem de um estatuto que permita concretizar o
desiderato para o qual se constituíram e se achem vocacionadas, competindo
à lei definir o seu formato.
O artigo 100.º, não fugindo ao aspecto institucional da matéria, coloca o
Banco Nacional de Angola como uma entidade de pendor de extrema impor-
tância, já que lhe atribui, em foro constitucional, o papel de banco responsável
pela emissão da moeda, que como se sabe é um dos instrumentos de demons-
tração da soberania de um país, de banco de todos os bancos, cometendo-lhe
a responsabilidade de participar nas políticas monetária, financeira e cambial
e como não poderia deixar de ser atribuindo à lei a competência para definir
os moldes em que esta entidade se deverá estruturar e conduzir os objectivos
que justificam a sua criação.
Mas a Constituição não se fica por aqui, não somente dispõe sobre matérias
que relevam ao nível do interesse público, como vimos ser o caso dos artigos
acabados de comentar, que programaticamente aludem ao exercício da ac-
tividade bancária, mas no domínio da prestação de um serviço de interesse
público, antes dispõe igualmente sobre a livre iniciativa económica (art.º38.º),
que confere a liberdade de contratar no âmbito da autonomia privada, o direito
à intimidade (art.º32.º), que está subjacente ao dever de segredo bancário, o
direito de acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva (art.º29.º).
Imediatamente a seguir e na hierarquia das disposições normativas, surge
o Código Comercial de 1888, cujos artigos 362.º, 363.º, 364.º, 365, 402.º, 407.º
se referem à actividade bancária e seus operadores. Não é demais mencionar
30
FONTES DO DIREITO BANCÁRIO ANGOLANO
o tratamento que é dado por este código aos títulos de crédito, no seu
título VI, artigos 278.º a 343.º4
Como as operações que se inserem no âmbito do Direito bancário, nem
sempre fazem parte do direito legislado, antes se regendo por disposição livre
das partes, com fundamento no princípio da autonomia privada previsto no
artigo 405.º do Código Civil, haverá de afirmar-se que este é uma sua fonte
importante. Porém, esta liberdade de contratar, parece, por vezes ser posta
em causa quando se esteja em presença de contratos celebrados em massa, e
designadamente os denominados por contratos por adesão.
De especial relevância, nesta matéria, é a Lei das cláusulas gerais dos
contratos – Lei n.º 4/02, de 18 de Fevereiro, que deve ser observada, pelas
instituições financeiras, por ocasião da elaboração das condições gerais dos
contratos bancários. Esta lei, à semelhança do que se dispõe na lei das cláusulas
contratuais gerais portuguesa, visa evitar que a parte economicamente mais
forte ao elaborar os contratos standard típicos de actividades de prestação de
serviço em massa, como é a bancária e a seguradora, só para citar dois exem-
plos, crie para si uma situação mais favorável pondo em causa os interesses da
parte que vai aderir a esse tipo de contratos, uma vez que como se sabe uma
característica inerente a estes contratos é terem a participação exclusiva, na
sua elaboração, da parte que o propõe, conhecedora de toda a economia do
contrato e como tal formula-o de modo unilateral, limitando-se o aderente
a fazer isso mesmo, a aceitá-lo sem discutir o seu conteúdo. Por essa razão
e perseguindo aquele objectivo, a lei das cláusulas gerais dos contratos veio
estabelecer limitações ao que já constituía uma limitação também à liberdade
de contratar, sendo certo que esta implica que os contraentes se encontrem em
condições de igualdade que lhes permita chegarem a um acordo de vontades.
Não sendo possível nos contratos standard discutir o clausulado dos contratos
com cada aderente, o legislador entendeu dever de algum modo protegê-lo
impondo regras para reconduzir os princípios em que assenta a liberdade de
contratar, prevista no artigo 405.º do Código Civil.
Ao nível da legislação extravagante do foro especificamente bancário,
podemos encontrar normas antigas que ainda se encontram em vigor e que
4
Autores como o Professor António Menezes Cordeiro não consideram que os títulos de
crédito devam ser tratados em sede de Direito bancário, mas de Direito Comercial.
31
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
32
FONTES DO DIREITO BANCÁRIO ANGOLANO
5
Como afirma Fernando Conceição Nunes, Direito Bancário, Vol I, AAFDL, 1994, p. 78,
referindo-se aos comandos com origem no Banco de Portugal e na Comissão dos Valores
Mobiliários, classifica-os como leis, “nos termos e para o efeito do amplíssimos conceito de
lei (…)”. E acrescenta que “Estamos, assim, perante uma verdadeira fonte de direito, a qual
pela frequência cada vez maior com que é utilizada, merece um especial destaque no âmbito
do estudo das fontes do Direito bancário”.
6
Aviso n.º3/12, de 28 de Março e Aviso n.º7/12, de 30 de Março.
7
Aviso n.º4/12, de 28 de Março e Aviso n.º9/12, de 2 de Abril.
8
Avisos n.ºs15/12 e 16/12, de 3 de Abril.
9
Avisos n.ºs17/12 e 18/12, de 3 de Abril.
10
Aviso n.º8/12, de 30 de Março.
11
Aviso n.º10/12, de 2 de Abril.
12
Aviso n.º6/13, de 1 de Abril.
13
Aviso n.º12/16, de 5 de Setembro.
14
Aviso n.º11/12, de 2 de Abril.
33
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
15
Aviso n.º13/12, de 2 de Abril.
16
Aviso n.º12/12, de 2 de Abril.
17
Aviso n.º19/12, de 25 de Abril, Avisos n.ºs3/14 e 4/14, de 12 de Agosto.
18
Aviso n.º20/12, de 25 de Abril, Avisos n.ºs10/16 e 13/16, de 5 de Setembro.
19
Avisos n.ºs21/12 e 22/12, de 25 de Abril.
20
Avisos n.ºs 2/16, de 15 de Junho, 3/16, de 16 de Junho, 5, 7, 8, 9/16 de 22 de Junho.
21
Cfr. Fernando Conceição Nunes, Direito Bancário, cit., p. 75.
22
Cfr. José Simões Patrício, Direito Bancário…, cit., p. 90.
34
FONTES DO DIREITO BANCÁRIO ANGOLANO
23
Cfr. Armindo Saraiva Matias, Códigos e Regras de Conduta, in Direito Bancário, Actas do
Congresso Comemorativo do 150.º Aniversário do Banco de Portugal, Revista da Faculdade
de Direito da Universidade de Lisboa, 1997, pp. 147-149.
35
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
24
Relativamente à adesão a este código, tratando-se de norma imperativa, seria dispensá-
vel a referência ao termo adesão, até porque no artigo que a ela se alude, determina-se que
as instituições que queiram participar nos mercados monetário e cambial devem aderir ao
código, logo está-se perante uma norma imperativa, pois o funcionamento das instituições
financeiras não é viável sem que participem nos mencionados mercados. A adesão é um acto
de autonomia de vontade e a norma que se contém no código tem carácter obrigatório.
36
FONTES DO DIREITO BANCÁRIO ANGOLANO
25
Cfr. Augusto de Athayde e outros, Curso de Direito Bancário, cit., p. 47.
37
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
38
FONTES DO DIREITO BANCÁRIO ANGOLANO
26
Cfr. Manuel Magalhães, A Evolução do Direito Bancário no Pós Crise: Basileia III e CRD IV,
in O Novo Direito Bancário, coord. Paulo Câmara e Manuel Magalhães, Almedina, 2012,
p. 308.
27
Cfr. Manuel Magalhães, A Evolução do Direito Bancário..., cit., p. 315.
39
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
28
Cfr. Manuel Magalhães, A Evolução do Direito Bancário..., cit., p. 320.
40
FONTES DO DIREITO BANCÁRIO ANGOLANO
Há que dizer, no entanto, que com estes objectivos o Basileia III começou
a ser implementado em 2015 com extensão até 2019.
O seu objectivo fundamental é evitar e travar a sangria que se tem feito aos
capitais públicos em caso de perdas de bancos internacionalmente fortes e que
podem minar todos os sistemas financeiros. Tem-se dito que provavelmente
o custo de uma insolvência pode sair mais caro à estabilidade do sistema
financeiro do que o recurso a fundos públicos para o salvar.
Conclusões
41
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Referências Bibliográficas
António Menezes Cordeiro – Manual de Direito Bancário, 3.ª edição, Almedina, 2006.
António Pedro A. Ferreira – Direito Bancário, Quid Juris, Sociedade Editora, 2005.
Armindo Saraiva Matias – Códigos e Normas de Conduta, in Direito Bancário, Actas do Con-
gresso Comemorativo do 150.º aniversário do Banco de Portugal, Suplemento da Revista
da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Coimbra Editora, 1997.
Augusto de Athayde, Augusto Albuquerque de Athayde e Duarte de Athayde – Curso de
Direito Bancário, Vol. I, Coimbra Editora, 1999.
Benton E. Gup – Banking and Financial Institutions, a Guide for Directors, Investors and Coun-
terparties, Wiley Finance, 2011.
Elisa Rangel Nunes – Colectânea de Temas Bancários, Luanda, 2004.
Fernando Conceição Nunes – Dieito Bancário, Vol I, AAFDL, 1994.
Jean-Louis Rives-Lange e Monique Contamine-Raynaud – Droit Bancaire, 6.e édition,
Dalloz, 1995.
José Maria Pires – Direito Bancário, 2.º Volume, As Operações Bancárias, Editora Rei dos
Livros, 1995.
José Simões Patrício – Direito Bancário Privado, Quid Juris, Sociedade Editora, 2004.
Manuel Magalhães, A Evolução do Direito Prudencial Bancário no Pós-Crise: Basileia III e CRD
IV, in O Novo Direito Bancário, coord. Paulo Câmara e Manuel Magalhães, Almedina,
2012.
Thierry Bonneau – Droit Bancaire, 5.e édition, Montchrestien, 2003.
42
CAPÍTULO 3
INSTITUIÇÕES
1
Leonildo Manuel, O Dever de Informação e a Responsabilidade do Emitente pelo Conteúdo do Pros-
pecto – Aproximações à luz do Direito Angolano, Dissertação de Mestrado, policopiado, disponível
na Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, 2016, p. 7.
2
Cfr. Carlos Costa Pina, Instituições e Mercados Financeiros, Almedina, Coimbra, 2005,
p. 20. NELSON EIZIRIK, ARÍADNA GAAl, FLÁVIA PARENTE e MARCUS HENRIQUES,
Mercado de Capitais: Regime Jurídico, 3.ª edição, Renovar, Rio de Janeiro, 2011, p. 2.
43
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
3
FRANCISCO CAVALCANTE, JORGE MISUMI, Mercado de Capitais, 6ª edição, Editorial
Campus/CNB, Rio de Janeiro, 2003, p. 25. No mesmo sentido vide JULIANO LIMA PINHEI-
RO, Mercado de Capitais, 6ª edição, Atlas Editora, São Paulo, 2012, p. 36.
4
CARLOS COSTA PINA, Instituições e Mercados…, op. cit., p. 21. No mesmo sentido vide AN-
TÓNIO MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito Bancário, 4ª edição, Almedina, Coimbra
2010, p. 83. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa
Anotada, 3.ª edição, Coimbra Editora, Coimbra, 1993, p. 454, JOÃO CALVÃO DA SILVA, Banca,
Bolsa e Seguros, 4.ª edição, Almedina, 2014, p. 14; AMADEU JOSÉ FERREIRA, Direito dos Va-
lores Mobiliários, Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 1997, p. 16.
5
PAULO CÂMARA, Manual de Direito dos Valores Mobiliários, 2ª edição, Almedina, Lisboa,
2011, p. 806.
6
JULIANO LIMA PINHEIRO, Mercado de Capitais …, op. cit., p. 36.
7
NELSON EIZIRIRIK, ARIÁDNA GAAl, FLÁVIA PARENTE, MARCUS HENRIQUES,
Mercado…, op. cit., p. 2.
44
INSTITUIÇÕES
8
No mesmo sentido, EDUARDO PAZ FERREIRA, Direito da Economia, 1.ª edição, Associação
Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 2001, p. 416.
9
MARGARIDA ABREU, (et al), Economia Monetária e Financeira, 2ª edição, Escolar Editora,
Lisboa, 2012, pp. 3 e 4.
45
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
10
JORGE LEÃO PERES, “Caracterização do Sistema Financeiro Angolano” in Inforbanca,
Ano XXI, n.º 80, Abril – Junho de 2009, disponível em www.ifb.pt/documents/11202/21966/
inforbanca_80.pdf (consultado em 01.12.2017); NÁDIA CARDOSO DE ALMEIDA, O Siste-
ma Financeiro Angolano: Uma Análise ao Desenvolvimento dos Seguros, policopiado, Biblioteca do
Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2011,
pp. 11 a 16. Cfr. VALTER FILIPE, O Banco Nacional de Angola e a Crise Financeira, 1.ª edição,
Mayamba Editora, Luanda, 2012, p. 19; MANUEL CAMATI, Os Títulos do Banco Central de
Angola, 1.ª Edição, Mayamba Editora, Luanda, 2012, pp. 67 – 70, e LEONILDO MANUEL,
O Dever de Informação…, op. cit., p. 20.
11
Cfr. VALTER FILIPE, O Banco Nacional de Angola..., op. cit., p. 20.
46
INSTITUIÇÕES
12
Sobre a desconformidade do pacote legislativo SEF com as normas constitucionais vigen-
tes à época, veja-se FERREIRA, Helena Prata Garrido, Lições de Direito Económico, 2ª edição,
Luanda: Casa da Ideias Editora, 2010, p. 45. No mesmo sentido LEONILDO MANUEL,
O Dever de Informação… op. cit., p. 8.
13
Cfr. LEONILDO MANUEL, O Dever de Informação…, op. cit., p. 21.
47
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
48
INSTITUIÇÕES
15
Cfr. LEONILDO MANUEL, O Dever de Informação…, op. cit., p. 24.
16
Para uma boa panorâmica dos princípios fundamentais da Constituição da República de
Angola, aprovada em 2010, veja-se FEIJÓ, CARLOS, “Os fundamentos da Constituição ango-
lana: princípios e direitos fundamentais”, in Constituição da República de Angola: Enquadramento
Dogmático – A Nossa Visão, Almedina, Coimbra, 2015, pp. 51-88.
17
Referindo-te também à constituição financeira, veja-se CARLOS TEIXEIRA, “Consti-
tuição económica de Angola e as oportunidades de negócios e investimento”, in Revista da
Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, n.º 10, Luanda, 2011, pp. 29-45, e ainda RAUL
ARAÚJO E ELISA RANGEL NUNES, Constituição da República de Angola Anotada, Tomo I,
edição de autor, Luanda, 2014, p. 300 e ss.
18
Tem o seu regime jurídico definido na LBIF e no seu Estatuto Orgânico, aprovado através
do Decreto Presidencial n.º 141/13, de 27 de Setembro. De acordo com o n.º 2 do artigo 7.º da
LBIF, estão sob sua jurisdição as instituições financeiras não bancárias ligadas à actividade
seguradora e à previdência social, nomeadamente, as sociedades seguradoras e resseguradoras,
49
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
os fundos de pensões e suas sociedades gestoras, bem como outras sociedades que sejam
como tal qualificadas por lei.
19
Criada pelo Decreto nº 9/05, de 18 de Março, entretanto revogado pelo Decreto Presidencial
n.º 54/13, de 6 de Junho, publicado no Diário da República, I Série, n.º 106, que aprovou o
novo Estatuto Orgânico da Comissão de Mercado de Capitais.
20
Estas especificidades da boa governação dos bancos são postas em causa por CRISTO-
PH VAN DER ELST, “Corporate governance and banks: how justified is the match?”, 2015,
50
INSTITUIÇÕES
protecção singulares em relação aos interesses dos seus clientes. Sendo cons-
tituídos como sociedade anónima, a sua regulamentação é, em segunda linha
(art. 5º, n.º 1, 2ª parte, da LBIF), disciplinada pela Lei das Sociedades Comer-
ciais21, que regula a estrutura orgânica deste tipo de sociedade, a articulação
entre os respectivos órgãos sociais, contendo algumas regras sobre remu-
neração e sobre incompatibilidades e impedimentos quanto ao exercício de
funções no âmbito dos órgãos sociais. Seguidamente, consoante o tipo de
sociedade anónima22 que revistam, aplica-se-lhes a respectiva regulamenta-
ção sectorial: se forem empresas pertencentes ao sector empresarial público,
há ainda que ter em conta a LBSEP e, se se vierem a classificar como sociedades
cotadas, haverá que ter em conta o CVM e a regulamentação emanada pela
Comissão de Mercado de Capitais.
Na medida em que são sociedades anónimas, os bancos têm uma estrutura
orgânica tripartida, que compreende uma assembleia geral, um conselho de
administração e um conselho fiscal. Note-se que a LBIF (artigo 17.º, n.º 2)
determinou que os bancos deveriam diferenciar as actividades de gestão,
separando a componente de gestão estratégica (atribuída ao conselho de ad-
ministração) da componente de gestão corrente (atribuída a uma comissão
executiva ou, pelo menos, a dois administradores delegados). Sem prejuízo
desta delegação de poderes, as instituições financeiras bancárias ainda não
dispõem de um modelo de administração bipartido, que assegure uma efectiva
separação orgânica destas funções23.
As preocupações com o bom governo das instituições financeiras bancárias
têm estado, cada vez mais, na ordem do dia24. O Banco Nacional de Angola foi
51
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
25
Aviso n.º 1/13, de 19 de Abril, que Regula as Obrigações das Instituições Financeiras no
que toca à Governação Corporativa.
26
Aviso n.º 2/13, de 19 de Abril, que Regula a Obrigação de Estabelecimento de um Sistema
de Controlo Interno.
27
Aviso n.º 3/13, de 22 de Abril, que Estabelece o âmbito de Supervisão Em Base Consolidada,
para Efeitos Prudenciais.
28
Aviso n.º 4/13, de 22 de Abril, que Regula a Actividade de Auditoria Externa.
29
Vide Artigo 1.º do Aviso n.º 14/2013, de 15 de Novembro, sobre o ajustamento do capital
social mínimo e fundos próprios regulamentares das instituições financeiras bancárias.
52
INSTITUIÇÕES
53
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
54
INSTITUIÇÕES
30
Dentre estes apenas um ainda está sem actividade.
31
JORGE LEÃO PERES, “Caracterização do sistema financeiro angolano”, op. cit. p. 6.
32
A Lei n.º 11/13 – Lei de Bases do Sector Empresarial Público, de 13 de Setembro revelou-
-se inovadora em matéria de organização e funcionamento do órgão de administração das
empresas colocadas sob a sua égide. Se bem que apenas se aplique a entidades pertencentes
ao sector empresarial público, ela é relevante para efeitos deste trabalho, na medida em que
se aplica aos bancos de capitais públicos.
55
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
33
Resultou da liquidação do Banco Espírito Santo Angola (BESA), que iniciou actividade
em Janeiro de 2002.
34
Resultou da fusão por incorporação do Banco Millenium, que funcionou desde Outubro de
1997 e do Banco Privado Atlântico, que entrou em actividade em Novembro de 2006. Sobre
o processo de fusão à luz do direito angolano, veja-se SOFIA VALE, As Empresas no Direito
Angolano – Lições de Direito Comercial, edição de autor, Luanda, 2015, p. 887 e ss.
35
A listagem dos bancos a operar em Angola encontra-se disponível em http://www.bna.ao/Con-
teudos/Artigos/lista_artigos_medias.aspx?idc=142&idsc=834&idl=1 (consultado em 01.12.2017).
36
Como se pode constatar em http://www.bna.ao/Conteudos/Artigos/lista_artigos_medias.
aspx?idc=142&idsc=834&idl=1 (consultado em 01.12.2017).
56
INSTITUIÇÕES
Sobre o regime cambial, remete-se para o artigo de RUTE SANTOS, neste volume.
37
57
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
38
MARGARIDA ABREU, Economia Monetária e Financeira…, op. cit., p. 233; CESALTINA
PIRES, Mercado de Investimento Financeiro…, op. cit., p. 11; FRANCISCO CAVALCANTE e
outros, Mercado…, op. cit., p. 313.
39
Esta informação encontra-se disponível em http://www.bna.ao/Conteudos/Artigos/
lista_artigos_medias.aspx?idc=142&idsc=834&idl=1 (consultado em 01.12.2017).
40
ELISA RANGEL NUNES, Reflexões sobre o Conceito de Micro Crédito, edição do autor, Luan-
da, p. 32.
58
INSTITUIÇÕES
41
Esta informação foi-nos disponibilizada pelo Banco Nacional de Angola.
42
Sobre o regime jurídico das cooperativas em geral, veja-se SOFIA VALE, “A nova Lei
das Cooperativas”, in REJE, Revista Electrónica da Faculdade de Direito da Universidade Agosti-
nho Neto, coord. Elisa Rangel Nunes, 2016, disponível em https://issuu.com/rejefduan/docs/
reje_1 (consultado em 01.12.2017), pp. 75-88, e TOMÁS MBENGUI e outros, “As Empresas
do Direito Angolano: o que há de novo em 2017?” (coord. Sofia Vale), in Revista de Direi-
to Comercial (coord. Pedro Pais de Vasconcelos), Lisboa, 2017, pp. 543 e ss, disponível em
https://www.revistadedireitocomercial.com/as-empresas-no-direito-comercial-angolano
(consultado em 01.12.2017). Em especial, sobre as cooperativas de crédito, SOFIA VALE,
As Empresas…, op. cit, p. 268 e ss.
59
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
43
Sobre o direito de voto nas sociedades comerciais, veja-se SOFIA VALE, As Empresas…,
op. cit., p. 546 e ss.
44
Informação que nos foi disponibilizada pelo Banco Nacional de Angola.
60
INSTITUIÇÕES
actividade de cessão financeira, que consiste num acordo mediante a qual uma
das partes (cessionário ou factor) adquire à outra parte (aderente) créditos
de curto prazo, resultantes da venda de produtos ou da prestação de servi-
ços a uma terceira pessoal (devedor). Na verdade, as sociedades de factoring
encarregam-se da cobrança de dívidas, posicionando-se como intermediária
entre o credor e o devedor45.
A consagração das sociedades de cessão financeira como instituições fi-
nanceiras sob supervisão do Banco Nacional de Angola tem respaldo legal
no n.º 26 do artigo 2.º e no artigo 7.º, ambos da LBIF. A regulamentação das
sociedades de cessão financeira está vertida no Regulamento sobre a Activi-
dade das Sociedades de Cessão Financeira, aprovado pelo Decreto Presiden-
cial n.º 95/11, de 28 de Abril. De acordo com este diploma, a constituição e o
funcionamento destas sociedades depende de prévia autorização do Banco
Nacional de Angola.
Note-se que as sociedades de cessão financeiras são constituídas como
empresas de fim específico, devendo ter por objecto exclusivo o exercício da
actividade de cessão financeira. No que tange à sua constituição, devem adop-
tar a forma de sociedade anónima, incluindo na sua firma a expressão “cessão
financeira”, a par da expressão “sociedade anónima” ou da abreviatura “S.A.”46.
O seu capital social mínimo deve ser integralmente realizado, na data da sua
constituição, em moeda nacional, no montante de AOA 50.000.000,00 (cin-
quenta milhões de kwanzas), não devendo os fundos próprios regulamentares
deste tipo de sociedade ser inferiores a este mesmo valor. Nos casos em que o
capital social inicial seja superior ao mínimo legalmente previsto, é exigida a
realização de, pelo menos, cinquenta por cento (50%) do montante que exceda
aquele valor mínimo, devendo o remanescente ser integralmente realizado no
prazo de seis (6) meses a contar da data de constituição da sociedade.
45
JOSÉ LEOPOLDINO NDJAMBA, “O Incumprimento do Contrato de Factoring no Sistema
Financeiro Angolano – Resolução do Conflito por Meio da Arbitragem Voluntária”, in Revista
da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, Número Especial Comemorativo do XXXV
aniversário da sua Fundação (Elisa Rangel, Cord.), 2015, p. 556, e SOFIA VALE, As Empresas…,
op. cit., p. 119.
46
Sobre a constituição das firmas, designadamente da firma das sociedades anónimas, veja-se
SOFIA VALE, As Empresas…, op. cit., p. 152 e ss.
61
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Cfr. SOFIA VALE, As Empresas…, op. cit., p. 113 e ss, e SOFIA VALE e FERNANDA
47
MUALEIA, Guia Prático de Direito Comercial, edição de autor, Luanda, 2016, p. 127 e ss..
62
INSTITUIÇÕES
48
Esta informação encontra-se disponível em http://www.abanc.ao/sistema-financeiro/
sistema-de-pagamentos-de-angola/ (consultado dia 01.12.2017).
63
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
64
INSTITUIÇÕES
65
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
52
Esta informação encontra-se vertida em http://www.consumidorbancario.bna.ao/Con-
teudos_PC/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=14238&idsc=12312&idl=1 (consultado em
01.12.2017).
66
CAPÍTULO 4
O BANCO NACIONAL DE ANGOLA
Rosa Mangovo
1. Introdução
67
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
2. Enquadramento
3
Lei n.º 16/10, de 15 de Julho.
4
Lei n.º 11/13, de 3 de Setembro.
5
Diferentemente, no Banco de Espanha, o Vice-Governador é um dos órgãos que compõe a
estrutura orgânica do Banco Central (art. 17º da Ley 13/1994, de 1 de Junho).
6
Compete ao titular do Poder Executivo superintender a administração indirecta (do art.
120º da CRA, DP n.º 7/10, de 5 de Março, no seu art. 3º, n.º 2). A superintendência, consiste
no poder de definir a orientação da actividade a desenvolver pelas pessoas colectivas públicas
que exerçam formas de administração indirecta», vide DIOGO FREITAS DO AMARAL,
Curso de direito administrativo, vol. I, 4.ª Reimpressão da 2.ª edição, Almedina, (2000), p. 719.
68
O BANCO NACIONAL DE ANGOLA
69
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
13
Vide art. 19º, al. d), do DP n.º 8/10, de 5 de Março.
14
Vide art. 57º da LBNA.
15
Nas empresas publicas de interesse estratégico, os membros do Conselho de Administraçao
são nomeados e exonerados pelo Titular do Poder Executivo (art. 46./2 da LBSEP)
16
Vide art. 58º da LBNA.
17
Vide art. 59º da LBNA de referir que as competências dos órgãos sociais das empresas com
domínio público estão fixadas na Lei das Sociedades Comerciais.
70
O BANCO NACIONAL DE ANGOLA
18
Vide art. 61º da LBNA.
19
Vide art. 74º da LBNA.
20
Cfr. o ponto 2.2, a propósito da natureza jurídica do BNA.
21
O Banco Central angolano foi criado após independência da República de Angola, atra-
vés da Lei n.º 69/76, de 11 de Novembro, publicado no Diário da República n. 266 – 1ª Série.
É importante referir que a Lei 69/76, de 11 de Novembro, alterou consideravelmente o sistema
bancário angolano, houve uma separação institucional das funções do Banco Central das do
banco comercial, o BNA foi instituído como o Banco dos bancos, foi colocado na condição de
71
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
orientador e supervisor de todo o sistema, uma vez que, funcionava igualmente como banco
comercial, o que permitiu um maior reforço e autonomia do Banco Central, na definição e
execução dos seus objectivos e conferiu uma maior competitividade aos bancos comerciais.
22
Revoga a Lei n.º 6/97, de 11 de Julho, que revogou a Lei n.º 4/97, de 20 de Abril, que por
sua vez revogara a Lei n.º 69/76, de 11 de Novembro.
23
Anterior LBNA.
24
Lei de Bases do Sector Empresarial Publico (LBSEP).
25
Lei da s Empresas Públicas revogada pela Lei n.º 11/13, de 3 de Setembro
26
Vide art. 1º.
27
São aquelas que, por diploma legal, assim são expressamente qualificadas (art. 3.º LBSEP).
28
São as sociedades comerciais criadas ao abrigo da Lei das Sociedades Comerciais, em que
o Estado directamente, ou através de entidades públicas, exerce isolada ou conjuntamente
uma influência dominante (cfr. art. 4.º da LBSEP).
29
Vide art. 2.º, alíneas b) e c).
72
O BANCO NACIONAL DE ANGOLA
30
Art. 3.º, n.º 1 da LBSEP
31
Lei n.º 16/10, de 15 de Julho.
32
Vide art. 94.º, n.º 1 e 2, da LBNA.
33
Vide art. 80.º da LBNA.
34
Vide art. 34.º da LBSEP
35
Alteração introduzida pela LBSEP.
36
Cfr. são consideradas como sendo de interesse estratégico as seguintes actividades: inserção
em sectores de actividade de reserva relativa ou absoluta do Estado; titularidade de infra-
-estruturas de domínio exclusivo do Estado; importância para o cumprimento dos objectivos
fundamentais do programa de desenvolvimento do Pais; prestação de serviços e a produção
de bens de utilidade publica; e volume de investimentos efectuados ou previstos pelo estado
(cfr. art. 13.º LBSEP)
37
Vide art. 12.º da LBSEP.
73
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
comercial nos termos gerais (artigo 55. da LBSEP). O o BNA também está
sujeito a registo (art. 101.º da LBNA).
38
O art. 108.º, n.º 1, da CRA, define que o Presidente da República é o titular do Poder Exe-
cutivo, o que significa que as competências em matéria administrativa que estavam a cargo do
Governo passam para o Presidente da República trazendo consigo consequências funcionais.
Não existindo Governo, nem Conselho de Ministros, com competências decisórias compete
ao Presidente da República assumir as mesmas ao abrigo da nova lei fundamental.
39
Vide art. 57º da LBNA.
40
Arts. 45º e 46. da LBSEP.
41
Vide art. 101.º da LBNA.
42
Vide VÁTER FILIPE, O BNA no novo sistema do governo em Angola, disponível em http://
jornaldeangola.sapo.ao/19/0/o_bna_no_novo_sistema_de_governo_em_angola
74
O BANCO NACIONAL DE ANGOLA
43
Daí afastarmos a possibilidade do Banco Central ser qualificado com natureza de empresa
com domínio público (cfr. arts. 4.º e 16.º da LBSEP)
44
DIOGO FREITAS DO AMARAL, ob. cit, pp.332-338.
45
Vide JORGE MIRANDA / RUI MEDEIROS, CRP Anotada, Tomo II, Coimbra Editora,
(2006), p. 211.
75
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
2.3. Atribuições
46
O BNA detém o direito exclusivo de emissão de notas e moedas metálicas, as quais têm
curso legal e poder liberatório. O poder liberatório das notas é ilimitado. Detém ainda o direito
exclusivo da emissão de moedas comemorativas, (art. 6.º da LBNA). O Banco de Portugal, ao
contrário do BNA, não detém o direito exclusivo de emissão de notas com curso legal no país.
A revisão constitucional portuguesa de 1992 veio afastar a referência às funções de emissão,
tendo em conta a criação da moeda única europeia, prevista no Tratado de Maastricht (União
Europeia) de 1992, da competência do Banco Central Europeu (BCE), nos termos do seu
art. 105.º-A. O direito exclusivo de autorizar a emissão de notas de banco na comunidade é do
BCE, podendo as notas ser emitidas por esse Banco Central e pelos Bancos Centrais nacio-
nais. Estes continuarão a emitir moeda metálica, mas sob a aprovação do BCE quanto ao seu
montante, nos termos dos art. 102.º da CRP, 6.º da LOBP e 106.º do Tratado da Comunidade
Europeia. Para mais desenvolvimento, vide J.J. GOMES CANOTILHO / VITAL MOREIRA,
CRP Anotada, 3.ª edição, Coimbra, (1993), p. 455.
47
Vide arts. 100.º/ 1, da CRA e 3.º da LBNA.
48
De frisar, igualmente, o poder fiscalizador e sancionatório, através de avisos, directivas,
instruções e circulares (art. 93.º da LBNA).
76
O BANCO NACIONAL DE ANGOLA
49
Art.16.º da LBNA.
50
São instituições financeiras bancárias os bancos, as empresas cuja actividade principal
consiste em receber do público depósitos ou outros fundos reembolsáveis, a fim de os apli-
car por conta própria, mediante a concessão de crédito e as Instituições de Microfinanças
(art. 2.º, n.ºs 13 e 15 e art. 6.º da LBIF). Para mais desenvolvimento sobre a actividade principal
dos bancos, vide FERNANDO CONCEIÇÃO NUNES, Recepção de Depósitos e outros Fundos
Reembolsáveis, In Direito Bancário: Atas do Congresso Comemorativo do 150.º Aniversário
do Banco de Portugal de 22-25 de Outubro de 1996.
77
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
51
Vide arts. 20.º e 21.º da LBNA.
52
Vide art. 64.º da LBIF.
53
Art. 91.º do RGICSF.
54
Vide art. 37.º, n.º 1 da LBNA.
78
O BANCO NACIONAL DE ANGOLA
55
Vide art. 3.º, n.º 1, da LDC.
56
ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Da Natureza Civil do Direito do Consumo, In Revista o
Direito, IV ano 136.º, Almedina, (2004), p. 605.
57
Vide art. 78.º e 89.º, n.º 1, alínea h), da CRA.
58
J. J. GOMES CANOTILHO / VITAL MOREIRA, ob. cit., (2007), p. 781.
59
JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, ob. cit., pp. 46-47.
79
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
60
Além dos normativos publicados em 2011 e 2012, recentemente foram publicados mais
legislação com vista a acautelar o interesse do consumidor dos serviços e produtos financei-
ros, nomeadamente o Aviso n.º 12/16, de 5 de Setembro, Aviso n.º 13/16, de 5 de Setembro, e
o Aviso n.º 14/16, de 7 de Setembro.
61
PEDRO DE ALBUQUERQUE / MARIA DE LURDES PEREIRA, A Responsabilidade Civil
das Autoridades Reguladoras e de Supervisão por Danos Causados aos Agentes Económicos e Investidores
no Exercício de Actividades de Fiscalização ou Investigação, In Revista o Direito, Lisboa, (2004),
pp. 206-207.
62
ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, A Tutela do Consumidor dos Produtos Financeiros e a
Crise Mundial de 2007/2010, In Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Sérvulo Correia,
vol III Coimbra Editora, (2010) p. 578.
80
O BANCO NACIONAL DE ANGOLA
63
Vide art. 73.º da LBIF.
64
Art. 19.º, n.º1 da LDC (contratos de adesão) e a Lei n.º 04/03, de 18 de Fevereiro – Lei sobre
as Cláusulas Gerais dos Contratos.
65
JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, ob. cit., p.308.
81
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
66
Fonte: www.consumidorbancario.bna.ao.
67
Vide os art. 71.º da LBIF.
68
Vide o Relatório do BdP, disponível em www.bportugal.pt.
69
Vide o Relatório do BdP, disponível em www.bportugal.pt.
70
Vide art. 78.º, n.º 3, da CRA, art. 21.º da LDC e art. 18.º do Aviso n.º 05/2012, de 29 de Março).
A publicidade tem uma grande relevância constitucional porque abrange os direitos que não
são senão manifestações de direitos fundamentais, nomeadamente o direito à informação.
Vide JORGE MIRANDA / RUI MEDEIROS, CRP Anotada, tomo I, Coimbra Editora, (2005),
pp. 617-618.
71
As publicidades estão sujeitas ao princípio da veracidade, sendo proibida a publicidade
enganosa (que induza ou possa induzir em erro os seus destinatários). vide J. J. GOMES CANO-
TILHO / VITAL MOREIRA, CRP Anotada, Vol. I, 4.ª edição, Coimbra Editora, (2007), p. 783.
72
Vide art. 86.º da LBIF. De reforçar ainda, que a sanção em caso de violação das normas
sobre a publicidade esta consagrada no art. 150.º al. h) da LBIF.
82
O BANCO NACIONAL DE ANGOLA
73
CARLOS DA SILVA CAMPOS, Contratos de Adesão e Defesa do Consumidor, Instituto Nacional
da Defesa do Consumidor, (1990), p. 3.
74
MARIA EDUARDA GONÇALVES, Direito da Informação, Almedina, Coimbra, (1994), p. 22.
75
J. J. GOMES CANOTILHO / VITAL MOREIRA, ob. cit., (2007), p. 184.
76
AUGUSTO DE ATHAYDE, AUGUSTO ALBUQUERQUE DE ATHAYDE e DUARTE
DE ATHAYDE, Curso de Direito Bancário, vol I, 2.ª edição, Coimbra Editora, (2009), p. 493.
77
ARMINDO SARAIVA MATIAS, Direito…., (1998) p. 84.
78
Art. 76.º e ss da LBIF e os art. 9..º e 10º do Aviso n.º 2/2011, de 1 de Junho.
83
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
79
Cfr. o art. 3.º do Aviso n.º 05/2012, de 29 de Março, (normas de conduta).
80
Vide Aviso n.º 2/14, de 28 de Março, art. 5.º da Aviso 14/16, de 7 de Setembro.
81
O extracto mensal deve permitir ao cliente bancário acompanhar a evolução do seu em-
préstimo e conhecer antecipadamente todas as alterações que possam ocorrer no valor da
prestação e de outros encargos associados. Disponível em www.consumidorbancario.bna.ao.
84
O BANCO NACIONAL DE ANGOLA
82
Fonte: www.consumidorbancario.bna.ao.
83
Fonte: www.consumidorbancario.bna.ao.
84
Art. 17.º da LDC.
85
Vide artigo 74.º da LBIF.
86
Além das regras gerais civis sobre incumprimento contratual (art. 798.º CC e seguintes),
vide arts. 10.º, n.º 2 e 26.º da LDC e o art. 19º do Aviso n.º 05/2012, de 29 de Março.
85
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
4. Conclusão
Cfr. PAULO CÂMARA / GRETCHEN LOWERY, The Internal Governance Struture of Fi-
87
nancial Regulatory Authorities: Main Models and Current Trends, Executive Summary pp. 151-152.
86
CAPÍTULO 5
O REGIME CAMBIAL
Rute Santos
I. Introdução
1
Mais informação sobre a evolução da economia angolana em geral e as exportações em
particular pode ser encontrada no relatório “Angola : Second Review of the Extended Arrangement
Under the Extended Fund Facility” elaborado pelo FMI, disponível em https://www.imf.org/en/
Publications/CR/Issues/2019/12/18/Angola-Second-Review-of-the-Extended-Arrangement-
-Under-the-Extended-Fund-Facility-Requests-48887.
Também poderá consultar informação de síntese no documento elaborado pelo AICEP Por-
tugal “Angola – Síntese País”, disponível em http://www.portugalglobal.pt/PT/Biblioteca/
LivrariaDigital/AngolaSP.pdf
87
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
como das despesas de capital e da prestação de serviços e ainda das transferências uni-
laterais” tendo presente “o desafio da acumulação de reservas, visando preservar a
estabilidade cambial e a sustentabilidade da solvabilidade do país” 2.
Em geral o regime de controlo cambial destina-se a prevenir a perda de
recursos em moeda estrangeira através de transferências para o exterior des-
ses activos e muitos países implementam regimes de controlo dos fluxos com
destino e/ou origem nos seus territórios, mas que não interfiram com o melhor
nível de eficiência das transacções comerciais e industriais, bem como com o
regular funcionamento do sistema financeiro.
De uma perspectiva pragmática, para um país com um grande nível de
importações é necessário assegurar que o país tem os recursos suficientes
em moeda estrangeira para liquidar as transacções de importações por um
período de tempo razoável, para assegurar a continuidade de fornecimento3.
O quadro geral de regulação das operações cambiais em Angola é esta-
belecido pela Lei n.º 5/97, de 27 de Junho (adiante designada de forma abre-
viada “Lei Cambial”)4. A Lei Cambial estabelece os conceitos, os princípios
2
Citação do discurso do Sr. Vice-Governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Dr. André
Lopes, proferido no seminário sobre operações cambiais, realizado em 10 de Julho de 2012.
O discurso encontra-se publicado no website do Banco Nacional de Angola: www.bna.ao.
3
De acordo com o Relatório e Contas do Banco Nacional de Angola, em 2013 o Angola
possuía reservas internacionais líquidas no valor de USD 30.945,30 milhões. Nessa época o
país estava a viver uma fase de crescimento da economia. No mesmo relatório podia ler-se
que em 2012 as reservas líquidas internacionais eram de USD 30.632,33, tendo aumentado
em 1,02% em 2013. (O Relatório e Contas do BNA relativo a 2013 está disponível no site do
BNA e pode ser consultado pelo link http://www.bna.ao/uploads/%7B7a36c1e5-435d-4b59-
8b3a-bd2d17134bad%7D.pdf).
O Boletim Estatístico do BNA, de Setembro de 2017 indica que em 2016 as reservas líquidas
internacionais eram de USD 20.807 milhões e que no terceiro trimestre de 2017 eram de
15.294 milhões. De acordo com o Boletim Estatístico de Setembro de 2019, publicado pelo
BNA, as reservas líquidas internacionais têm vindo a seguir uma tendência decrescente e
neste momento situam-se próximo do 10.000 milhões de USD. (Documento disponível no
site do BNA, através do link https://www.bna.ao/uploads/%7B6de70a1c-41ce-44d9-9214-
c24729bd6ed3%7D.pdf.
4
A Lei n.º 5/97, de 27 de Junho, revogou a Lei n.º 9/88, de 2 de Julho, que anteriormente
regulava as matérias relativas às operações cambiais. A anterior Lei Cambial conferia compe-
tência ao Governo para a regulamentar e definir os princípios gerais a que deviam obedecer
as operações de importação, exportação ou reexportação de mercadorias, as operações de
capitais e as operações de invisíveis correntes (art. 22.º da Lei n.º 9/88). Ao abrigo da referida
norma habilitadora o Governo aprovou os seguintes diplomas: Decreto n.º 13/92, de 15 de
88
O REGIME CAMBIAL
Por sua vez, estes diplomas ainda foram objecto de regulamentação deta-
lhada mediante normativos do Banco Nacional de Angola6.
Maio, sobre a liberalização de operações cambiais de sujeitos individuais; Decreto n.º 13/89,
de 29 de Abril, que regulamentou as operações de invisíveis correntes; Decreto n.º 11/89, de
29 de Abril, que regulamentou as operações de capitais.
Como nota histórica, refira-se que a Lei 9/88, de 2 de Julho, foi o primeiro diploma a esta-
belecer o quadro geral regulatório cambial pós-independência. Anterior à entrada em vigor
desta lei, a matéria das operações cambiais era regulada por diplomas anteriores à indepen-
dência de Angola, ou seja, legislação de origem portuguesa da época colonial, que regulava
a realização de operações cambiais e de pagamentos “interterritoriais” (entre as diferentes
províncias ultramarinas), nomeadamente: Decreto-Lei n.º 44698, de 17 de Novembro 1962;
Decreto-Lei n.º 44700, de 17 de Novembro de 1962; Decreto-Lei n.º 47919, de 8 de Setembro
de 1967; Decreto-Lei 478/71, de 6 de Novembro; Decreto-Lei n.º 544/73, de 24 de Outubro;
Decreto-Lei n.º 181/74, de 2 de Maio.
5
O Decreto Presidencial 265/10, de 26 de Novembro, revogou o Decreto n.º 55/00, de 10 de
Novembro, que anteriormente regulava as matérias respeitantes às importações, exportações
e reexportações de mercadorias e operou uma reformulação profunda nos procedimento.
A nova regulamentação introduzida pelo Decreto Presidencial 265/10 visou harmonizar
o quadro normativo nacional com o disposto no Acordo que cria a Organização Mundial
do Comércio e no Acordo sobre Procedimento para o Licenciamento de Importações, bem
como tornar mais eficientes os procedimentos administrativos aplicados por Angola como
interveniente no comércio internacional.
6
Destacamos os Avisos do BNA com maior relevância para a compreensão do quadro regu-
latório das operações cambiais:
89
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Aviso do BNA n.º 3/09, de 5 de Junho (Define as condições em que as entidades residentes
e não residentes cambiais podem ser titulares de contas bancárias em moeda estrangeira e
moeda nacional);
Aviso do BNA n.º 1/16, de 12 de Abril (regulamenta os termos e condições a que deve obedecer
a entrada e saída de moeda nacional e de moeda estrangeira);
Aviso do BNA n.º 2/17, de 3 de Fevereiro (sobre a abertura e movimentação de contas de
depósito tituladas por não-residentes cambiais e contas equiparadas);
Aviso do BNA n.º 5/18, 17 de Julho, alterado pelo Aviso do BNA n.º 1/20, de 9 de Janeiro
(Regras e procedimentos para operações cambiais destinadas à liquidação de importações
e exportações de mercadorias);
Aviso do BNA n.º 9/19, de 6 de Novembro (Regras operacionais do serviço de remessas de
valores);
Aviso do BNA n.º 11/19, de 26 de Novembro (Limites das Comissões e Despesas Cobradas
nas Transacções em Moeda Estrangeira);
Aviso do BNA n.º 12/19, de 2 de Dezembro (Regras e procedimentos a aplicar na realização
de operações cambiais por pessoas singulares);
Aviso do BNA n.º 13/19, de 2 de Dezembro (Procedimentos a aplicar na realização de opera-
ções de venda de moeda estrangeira realizadas pela concessionária nacional e pelas empresas
investidoras no sector petrolífero);
Aviso do BNA n.º 14/19, de 2 de Dezembro (Estabelece a posição cambial dos bancos
comerciais);
Aviso do BNA n.º 15/19, de 30 de Dezembro (estabelece os procedimentos para a realização
de operações cambiais por não residentes cambiais relacionadas com investimento directo
externo, investimento externo em valores mobiliários, desinvestimento de activos resultantes
de investimento externo, rendimentos proveniente de operações de investimento externo);
Aviso do BNA n.º 2/20, de 9 de Janeiro (estabelece as regras e procedimentos que devem
ser observados na realização de Operações Cambiais de Invisíveis Correntes por pessoas
colectivas).
90
O REGIME CAMBIAL
7
Os Avisos, Instrutivos e Directivas emitidos pelo BNA, constituem regulamentos adminis-
trativos emitidos ao abrigo do poder que lhe é conferido pela sua lei orgânica (Lei n.º 16/10,
de 15 de Julho) de estabelecer normas para a actuação das instituições. Sobre esta autoridade de
supervisão, em geral, reenvia-se para Rosa Mangovo, O Banco Nacional de Angola, neste volume.
8
Aviso do BNA n.º 5/18, de 17 de Julho.
9
Instrutivo do BNA n.º 16/19, de 24 de Outubro.
91
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
10
Citação do artigo jornalístico “BNA elimina limites e liberaliza o câmbio”, publicado pelo
Jornal de Angola, em 24 de Outubro de 2019, no seu website, consultado em 15 de Fevereiro
de 2020: http://jornaldeangola.sapo.ao/economia/bna-elimina-limites-e-liberaliza-o-cambio.
11
Aviso do BNA n.º 10/19, de 6 de Novembro; revoga o Aviso do BNA n.º 13/13, de 6 de Agosto,
e outros instrumentos de regulamentação secundária.
92
O REGIME CAMBIAL
12
Alguns exemplos de operações cambiais de invisíveis correntes realizadas por pessoas sin-
gulares são: pagamento de despesas realizadas no exterior com saúde, educação, alojamento,
investimento em bens imóveis e valores mobiliários, contratação e liquidação de financiamen-
tos no exterior, transferência de fundos acumulados por estrangeiros não residentes cambiais
durante a sua estadia em Angola, recebimento de fundos do estrangeiro.
13
Exemplos de operações cambiais de invisíveis correntes realizadas por pessoas colectivas:
pagamentos realizados no estrangeiro pela prestação de serviços de educacionais, científicos,
culturais, deslocações e alojamento, contribuições para organizações internacionais, serviços
de assistência técnica.
93
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
14
Cfr. art. 100.º da Constituição da República de Angola.
15
Sobre o enquadramento do Banco Nacional de Angola na chamada “Constituição Econó-
mica” vide Carlos Maria Feijó, “A Constituição Económica da República de Angola”, in Cons-
tituição da República de Angola: Enquadramento Dogmático – A Nossa Visão”, Almedina, Coimbra,
2015, pp.119-126.
16
Observamos que diferentes jurisdições implementaram modelos distintos quanto à au-
toridade e poderes da autoridade cambial, mas o banco central tem sempre um papel muito
relevante na implementação dos controlos e na autorização das instituições intermediárias
das operações cambiais. A título de exemplo, no Brasil é o Banco Central do Brasil (Bacen)
que autoriza os estabelecimentos legalmente autorizados a intermediar operações cambiais;
a entrada e saída de moeda estrangeira implica a celebração e liquidação de contrato de
câmbio com um banco autorizado, cujos dados são registados no Sistema de Informações
do Banco Central do Brasil (Sisbacen). Seguindo um modelo relativamente diferente, na o
South Africa Reserve Bank é a autoridade responsável pela aplicação das regras aplicáveis às
operações cambiais, actuando por delegação do Ministério das Finanças. O ministro das
finanças delegou grande parte dos poderes que lhe foram atribuídos quano às operações
cambiais (Exchange Control Regulations) no Governador e no Vice-Governador do South África
Reserve Bank, no Director e outros responsáveis do Financial Surveillance Department (and to
other officials in the department.
17
A Lei do Banco Nacional de Angola (Lei n.º 16/10, de 15 de Julho).
18
Cfr. art. 40.º da Lei do Banco Nacional de Angola e art. 3.º da Lei Cambial.
94
O REGIME CAMBIAL
95
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
III. Conceitos
Residente cambial
20
Cfr. art. 4.º da Lei Cambial.
96
O REGIME CAMBIAL
Determina o art. 4.º, n.º 1 da Lei Cambial que são considerados residentes
em território nacional:
O legislador optou por fixar uma lista de factores que determinam a resi-
dência cambial. A lista de critérios relevantes é taxativa, mas aberta à interpre-
tação da autoridade cambial (o BNA), na medida em que este é incumbido de
21
No contexto da regulamentação das medidas de prevenção e combate ao branqueamento
de capitais e ao financiamento do terrorismo o BNA, no Aviso 1/2016, de 12 de Abril, que
estabelece os termos e condições a que está sujeita a entrada e saída de moeda nacional e
estrangeira, em complemento da definição de pessoa singular residente cambial acrescentou um
elemento de compreensão sobre o que se deve entender por residente habitual em Angola,
esclarecendo que integram essa categoria, todos os cidadãos angolanos que vivam em Angola e todos
os cidadãos estrangeiros possuidores de cartão de residência nos termos da legislação aplicável. Embora,
nos termos do aviso em referência, esta densificação do que se entende por residente habitual
em Angola apenas tenha efeitos no âmbito na matéria regulada pelo próprio Aviso, não po-
deremos ignorar que se trata de um elemento relevante que poderá servir de referência na
interpretação do conceito de residente cambial em Angola no contexto das operações cambiais
de que sejam parte pessoas singulares. De notar que quanto aos cidadãos estrangeiros apenas
é reconhecida a situação de residência habitual aos titulares de cartão de residência, o que
exclui aqueles que estão no país com visto de trabalho, ainda que essa situação se mantenha
por longo tempo.
22
A título comparativo notamos, quanto ao conceito de residente cambial, que Moçambique
reconhece que os cidadãos estrangeiros, que vivam em Moçambique há mais de um ano,
excepto os diplomatas, representantes consulares ou equiparados, pessoal militar, e famílias
são considerados residentes – Lei n.º 11/2009, de 11 de Março.
97
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
23
Conforme estabelecido no art. 159.º do Código Civil e no art. 14.º da Lei das Sociedades
Comerciais, aprovada pela Lei n.º 1/04, de 13 de Fevereiro.
24
Nos termos do art. 82.º do Código Civil, se uma pessoa residir alternadamente em diversos
lugares, tem-se por domiciliada em qualquer deles.
98
O REGIME CAMBIAL
99
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
25
Quer o conceito de imigrante, quer de emigrante, partem de um conceito comum que
é o conceito de “migração”, que pode ser definido como «processo de atravessamento de
uma fronteira internacional ou de um Estado. Seguindo Direito Internacional da Migração
– Glossário sobre Migração, n.º 22, da Organização Internacional para as Migrações, o termo
migrante compreende, geralmente, todos os casos em que a decisão de migrar é livremente tomada pelo
indivíduo em questão, por razões de “conveniência pessoal” e sem a intervenção de factores externos que o
forcem a tal. Em consequência, este termo aplica-se, às pessoas e membros da família que se deslocam para
outro país ou região a fim de melhorar as suas condições materiais, sociais e possibilidades e as das suas
famílias.
100
O REGIME CAMBIAL
Operação cambial
26
Cfr. art. 5.º da Lei Cambial.
27
Entende-se por divisa ou moeda estrangeira as notas e moedas emitidas por país estrangei-
ro e com curso legal nesse território, bem como os meios de pagamento sobre o estrangeiro
expressos em moeda não nacional e utilizados para pagamentos internacionais.
101
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
cambial que possa resultar em pagamento sobre ou recebimento do exterior, ou que sim-
plesmente seja qualificada por lei como tal28.
Como elemento comum, identificamos que as operações cambiais se con-
cretizam por um ou mais actos aptos a originar um fluxo financeiro entre resi-
dentes e não residentes cambiais ou entre Angola e o exterior. Trata-se de um
conceito jurídico-operacional que visa determinar em que situações se aplica
o quadro normativo específico destinado a salvaguardar a moeda nacional e
o equilíbrio das reservas nacionais.
Operação de capitais
28
Esta mesma definição já era usada no Aviso do BNA n.º 19/12 de 25 de Abril (ponto 14 do
art. 3.º).
29
Em anexo ao Decreto n.º 23/98 são identificadas as seguintes operações de capitais:
Classe 1 – Operações correntes de capitais a curto prazo
1. A emissão e reembolso, total ou parcial, de título de dívida pública, de obrigações emitidas
por entidades privadas e de outros títulos de natureza semelhante por um prazo não superior
a um ano.
2. A subscrição e compra ou venda de títulos de dívida pública, de obrigações emitidas por
entidades privadas e de outros títulos de natureza semelhante por um prazo não inferior a
um ano.
3. A concessão e reembolso, total ou parcial, de empréstimos, qualquer que seja a forma,
a natureza ou o título destes, quando por prazo não superior a um ano, com excepção dos
empréstimos de natureza exclusivamente civil.
4. A constituição de caução ou execução de garantias quando realizadas por períodos não
superiores a um ano.
5. O pagamento de indemnizações nos termos de contratos de seguro de créditos, quando o
prazo destes contratos não exceder um ano.
6. Outras operações de natureza semelhante à das anteriores, desde que o respectivo prazo
de vencimento não exceda um ano.
Classe 2 – Operações correntes de capitas a médio e longo prazos
1. A criação de novas empresas ou de quaisquer sucursais das já existentes;
102
O REGIME CAMBIAL
103
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Operação de mercadorias
30
Cfr. art. 3.º do Aviso do BNA n.º 5/18, de 17 de Julho.
104
O REGIME CAMBIAL
Intermediação obrigatória
Estipula o art. 7.º da Lei Cambial que as operações cambiais só podem ser rea-
lizadas por intermédio de uma instituição financeira autorizada a exercer o comércio
de câmbios.
A liquidação de operações de invisíveis correntes31 e de operações de capi-
tais32, bem como de operações de exportação e reexportação de mercadorias33
só poderá efectuar-se por intermédio de instituições autorizadas a exercer
o comércio de câmbios34. Tal significa que qualquer pessoa ou entidade que
tenha interesse na realização de uma operação cambial deve escolher uma
31
Cfr. art. 8.º do Decreto n.º 21/98, de 24 de Julho.
32
Cfr. art. 10.º do Decreto n.º 23/98, de 24 de Julho.
33
Cfr. art. 36.º do Decreto Presidencial n.º 75/17, de 7 de Abril, e art. 4.º do Aviso do BNA
n.º 5/18, de 17 de Julho. De referir que não é permitida o recurso a mais do que uma instituição
bancaria para a liquidação de uma mesma operação de importação, exportação ou reexporta-
ção, ou seja em relação a uma mesma operação apenas pode intervir uma instituição bancária
e não poderá o interessado na operação iniciar a mesma junto de um banco e posteriormente
finalizar a mesma através de outro banco.
34
A título de nota comparatística é de referir que o princípio da intermediação é também adop-
tado por outras jurisdições com regimes de controlo cambial. É o caso Brasil, no qual a entrada
e saída de moeda estrangeira no estrangeiro implica a celebração e liquidação de contrato
de câmbio com um banco autorizado, cujos dados são registados no Sistema de Informações do
Banco Central do Brasil (Sisbacen). É o caso de Moçambique, cuja legislação também impõe
que as operações cambiais sejam realizadas por intermédio de instituições autorizadas, as
quais mantêm obrigações de reporte ao Banco de Moçambique.
105
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Autorização prévia
Em geral a realização de operações cambiais está sujeita a autorização pré-
via pela autoridade competente, i.e., o BNA, ou por entidade a quem tenham
sido atribuídos poderes de autorização para o efeito36. Veremos adiante que
35
Cfr. art. 5.º da Lei n.º 2/12, de 13 de Janeiro.
36
Notamos que outras jurisdições com controlos cambiais implementados adotam o prin-
cípio da autorização prévia das operações, admitindo excepções para determinados tipos de
operações. Observamos este modelo também em Moçambique.
106
O REGIME CAMBIAL
o BNA, através dos seus Avisos concede autorizações genéricas a certos tipos
de operações ou dispensa a obrigações de obtenção de autorização prévia em
certos casos.
Também a abertura e movimentação de contas junto de instituições fi-
nanceiras (contas bancárias em geral) com sede em Angola, na medida em
que tal constitua uma operação cambial (a abertura e a movimentação em
Angola de contas em moeda estrangeira, por residentes ou por não residentes;
a abertura e a movimentação em Angola de contas em moeda nacional, por
residentes ou por não residentes), estão sujeitas a autorização genérica legal,
estatuída no art. 9.º da Lei Cambial.
Nos termos da autorização legal, é permitido aos residentes cambiais abrir
o movimentar contas em moedas estrangeiras junto de instituições finan-
ceiras domiciliadas em Angola e os não residentes cambiais podem abrir o
movimentar contas, em moeda nacional ou estrangeira, junto de instituições
financeiras em Angola.37
A abertura e movimentação de contas bancárias é objecto de regulamenta-
ção pelo BNA, nos termos de Aviso do BNA n.º 3/09, de 5 de Junho, e do Aviso
do BNA n.º 2/17, de 3 de Fevereiro, que definem de forma estrita os termos
de movimentação das contas bancárias em moeda estrangeira e nacional e
autoriza as instituições bancárias a abrir contas à ordem e a prazo em moe-
da nacional e moeda estrangeira, em nome de residentes e não residentes38.
37
A título de referência histórica, notamos que ao abrigo da Lei n.º 9/88, de 2 de Julho, que
foi revogada pela Lei n.º 5/97, de 27 de Julho, a actual Lei Cambial, a abertura e movimentação
de contas em moeda estrangeira, tanto por residentes em instituições bancarias nacionais
ou internacionais, como por não residentes em instituições bancárias nacionais dependia de
autorização do BNA. Também a abertura e movimentação de contas em instituições bancárias
nacionais, em moeda nacional, por não residentes dependia de autorização do BNA.
38
Sobre a abertura e movimentação de contas bancárias em Angola, fazemos referência ao
Aviso do BNA n.º 3/09, de 5 de Junho e ao Aviso do BNA n.º 2/17, de 3 de Fevereiro.
Nos termos do Aviso do BNA n.º 2/17, são admitidas as seguintes movimentações às contas
bancarias tituladas por não residentes cambiais:
Conta em moeda nacional:
a) Movimentação a crédito:
i. Conversão de moeda estrangeira proveniente do exterior ou de contas tituladas por não residentes
cambiais em moeda estrangeira;
ii. Receitas provenientes da actividade económica legalmente exercida no País;
iii. Remuneração proveniente de aplicações efectuadas junto da Instituição Financeira Bancária.
107
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
b) Movimentação a débito:
i. Transferências domésticas;
ii. Pagamento de cheques emitidos sobre a conta;
iii. Utilização de cartões de débito em território nacional;
iv. Pagamento de quaisquer encargos associados à manutenção de conta ou movimentação de fundos.
Contas em estrangeira:
a) Movimentação a crédito:
i. Fundos provenientes do exterior do país;
ii. Remuneração proveniente de aplicações efectuadas junto da Instituição Financeira Bancária.
b) Movimentação a débito:
i. Operações cambiais para efeitos de pagamento a residentes cambiais em moeda nacional;
ii. Emissão de ordens de pagamento ou transferência para o exterior;
iii. Transferências interbancárias em moeda estrangeira para contas tituladas por entidades residentes
cambiais colectivas com as quais se mantenha relação de grupo;
iv. Utilização de cartões electrónicos de pagamento internacional ou quaisquer outros instrumentos de
pagamento aceites no mercado internacional no limite dos saldos disponíveis;
v. Pagamento de quaisquer encargos associados à manutenção de conta ou movimentação de fundos.
39
Cfr. art. 3.º do Decreto 21/98, de 24 de Julho.
40
Aviso do BNA n.º 12/19, de 2 de Dezembro.
41
Aviso no BNA n.º 2/20, de 9 de Janeiro.
42
Cfr. Instrutivo 1/2003, de 7 de Fevereiro. Embora as operações referidas não careçam de
autorização prévia e possam ser livremente realizadas pelas instituições bancarias, deve ser
dado conhecimento ao BNA sobre a sua realização.
108
O REGIME CAMBIAL
43
O Aviso do BNA n.º 1/20, de 9 de Janeiro, eliminou a regra que impunha que apenas as
operações com liquidação em prazo inferior a 360 dias da data dos documentos de desem-
barque/embarque beneficiavam da dispensa de autorização prévia do BNA.
44
Nos termos do Aviso do BNA n.º 5/18, de 17 de Julho, são admitidas as seguintes modalida-
des de pagamentos: crédito documentário, pagamento antecipado, pagamento postecipado
mediante remessas documentárias. O regulador incumbe os bancos de aconselhar os seus clientes
importadores a evitar, sempre que possível, a realização de pagamentos antecipados e a informar os
mesmos sobre a possibilidade de utilizarem outras modalidades de pagamento igualmente
utilizados no comércio internacional.
45
De notar que também no Brasil as operações de importação de mercadorias devem ser
processado em consonância com os dados constantes na Declaração de Importação registada
109
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Registo e reporte
110
O REGIME CAMBIAL
natureza que lhes seja solicitada pela autoridade cambial47. Esta regra genérica
foi regulamentada pelo BNA no sentido de impor às instituições a obrigação
de constituir e manter em arquivo o registo das operações cambiais que efec-
tuam. O arquivo deve ser mantido pelo prazo mínimo de 10 anos48.
No que respeita às operações cambiais associadas às actividades petrolíferas
o Lei n.º 2/12, de 13 de Janeiro, estabelece um regime específico de registo de
todos os contratos celebrados com não residentes, para o fornecimento de bens
e serviços, junto do BNA; bem como estabelece a obrigação de registo das ope-
rações cambiais49. Esta obrigação de registo é detalhada no art. 7.º do Aviso do
BNA 20/12, de 12 de Abril, que estabelece os prazos e o formato de comunicação
de informação ao BNA para efeito de registo das operações, determinando que
para além da apresentação da informação em ficheiro Excel, também é neces-
sário o registo no Sistema Integrado de Operações Cambiais do BNA (SINOC).
A informação registada pelas instituições e reportada ao BNA permite a
esta autoridade ter uma visão agregada da actividade cambial do país e pu-
blicar informação sobre a mesma50, bem como possibilita o desenvolvimento
de ferramentas de acompanhamento e de avaliação do impacto da política e
medidas cambiais.
47
Cfr. art. 12.º da Lei Cambial.
48
Cfr. Art. 175.º da Lei de Bases das Instituições Financeiras.
49
Cfr. art. 9.º e 17.º da Lei n.º 2/2012, de 13 de Janeiro.
50
Vide Relatório e Contas do BNA relativo a 2012, publicado em www.bna.ao.
111
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Classe 1
Operações correntes de capitais a curto prazo
1. Emissão e reembolso, total ou parcial, de título de dívida pública, de obrigações
emitidas por entidades privadas e de outros títulos de natureza semelhante a
prazo não superior a um ano.
2. Subscrição e compra ou venda de títulos de dívida pública, de obrigações
emitidas por entidades privadas e de outros títulos de natureza semelhante a
prazo não inferior a um ano.
3. Concessão e reembolso, total ou parcial, de empréstimos, qualquer que seja a
forma, a natureza ou o título destes, quando por prazo não superior a um ano,
com excepção dos empréstimos de natureza exclusivamente civil.
4. Constituição de cauções ou execução de garantias quando realizadas por
períodos não superiores a um ano.
5. Pagamento de indemnizações nos termos de contratos de seguro de créditos,
quando o prazo destes contratos não exceder um ano.
6. Outras operações de natureza semelhante à das anteriores, desde que o res-
pectivo prazo de vencimento não exceda um ano.
Classe 2
Operações correntes de capitais a médio e longo prazos
1. Criação de novas empresas ou de quaisquer sucursais das já existentes.
2. Participação de capital de empresas ou de sociedades civis ou comerciais,
qualquer que seja a forma de que se revista.
3. Constituição de contas em participação ou associações de terceiros a partes
ou quotas de capital social.
4. Aquisição total ou parcial de estabelecimentos.
5. Aquisição de imóveis.
6. Transferência de valores resultantes da venda ou liquidação de posições ad-
quiridas de conformidade com os n.ºs 1 a 5 anteriores.
112
O REGIME CAMBIAL
Classe 3
Movimento de capitais de carácter pessoal
1. Doações, constituições de dote e concessão ou pagamento de empréstimos de
natureza exclusivamente civil.
2. Pagamento de prestações devidas por seguradores resultantes de contratos de
seguro de vida, com excepção do pagamento de pensões e rendas.
3. Transferências de importâncias adquiridas por herança ou legado ou do pro-
duto da liquidação de bens adquiridos por igual título.
4. Transferência de capitais relacionados com a migração de pessoas nacionais
ou estrangeiras, quando da entrada ou da saída.
5. Transferência de fundos bloqueados em contas abertas em nome de residentes
no estrangeiro.
6. Outras transferências de natureza semelhante à das anteriores.
113
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
51
Vide supra Princípios Gerais – Autorização prévia.
114
O REGIME CAMBIAL
52
Aviso do BNA n.º 15/19, de 30 de Dezembro.
53
O Decreto Presidencial n.º 273/11, de 27 de Outubro, aprova o Regulamento sobre a Con-
tratação de Prestação de Serviço de Assistência Técnica Estrangeira ou de Gestão.
54
Cfr. art. 1.º do Decreto Presidencial n.º 273/11, de 27 de Outubro, com o parágrafo 3 do
Instrutivo n.º 1/06, de 6 Janeiro.
55
De notar os contratos de tecnologias e a contratação individual de especialistas não estão
sujeitos ao Regulamento sobre a Contratação de Prestação de Serviço de Assistência Técnica
Estrangeira ou de Gestão e, nessa medida, não estão sujeitos a registo junto do Ministério
da Economia.
115
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
116
O REGIME CAMBIAL
56
O Documento Único é o formulário de despacho aduaneiro utilizado para o desembaraço
alfandegário das mercadorias.
57
Lei n.º 5/20, de 27 de Janeiro.
117
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
58
Cfr. Art. 19.º do Aviso do BNA n.º 5/18, de 17 de Julho.
59
Cfr. art. 4.º da Lei das Actividades Petrolíferas.
60
A concessionária nacional é a Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola, Empresa
Pública (Sonangol, E.P.).
61
Cfr. art. 5.º da Lei das Actividades Petrolíferas.
118
O REGIME CAMBIAL
62
Cfr. art. 13.º da Lei das Actividades Petrolíferas.
63
Sobre este assunto e referência à evolução histórica do enquadramento normativo das
atividades petrolíferas vide Carlos Maria Feijó, “O Poder Concedente no Sector Petrolífero em
Angola”, in Direito dos Petróleos – Uma Perspectiva Lusófona, Almedina, Coimbra, 2013, pp.75-100.
64
Entende-se por atividade de prospecção o conjunto de operações a executar na terra e no mar,
mediante a utilização de métodos geológicos, geoquímicos ou geofísicos, com vista à localização dos jazigos de
petróleo, com exclusão de perfuração de poços, processamento, análise e interpretação de dados adquiridos
nos respectivos levantamentos ou da informação disponível nos arquivos do Ministério da tutela ou da
Concessionária Nacional, assim como estudos e mapeamento regionais conducentes a uma avaliação e
melhor conhecimento do potencial petrolífero da área – art. 2.º da Lei das Actividades Petrolíferas.
65
Entende-se por atividade de pesquisa as atividades de prospecção, perfuração e testes de poços
conducentes à descoberta de jazigos de petróleo – art. 2.º da Lei das Actividades Petrolíferas
66
Entende-se por atividade de desenvolvimento as atividades realizadas após a descoberta co-
mercial, incluindo: estudos e levantamentos geológicos, geofísicos e de reservatórios; perfuração de poços
de produção e injecção; projecto, construção, instalação, ligação e verificação inicial do equipamento,
condutas, sistemas, instalações, maquinaria e as atividades necessárias para produzir e operar os referidos
poços, para tomar recolher, tratar, manipular, armazenar, reinjectar, transportar e entregar petróleo e
para empreender a repressurização, reciclagem e outros projectos re recuperação secundária ou terciária –
art. 2.º da Lei das Actividades Petrolíferas.
67
Entende-se por atividade de produção o conjunto de atividades que visam extracção do petróleo,
nomeadamente o funcionamento, assistência, manutenção e reparação de poços completados, bem como do
equipamento, condutas, sistemas, instalações e estaleiros concluídos durante o desenvolvimento, incluindo
todas as atividades relacionadas com a planificação, programação, controlo, medição, ensaios e escoamen-
to, recolha tratamento, armazenagem e expedição de petróleo, a partir dos reservatórios subterrâneos de
petróleo, para os locais designados de exportação ou de levantamento e ainda as operações de abandono das
instalações e dos jazigos petrolíferos e atividades conexas. – art. 2.º da Lei das Actividades Petrolíferas.
68
As atividades petrolíferas são reguladas pela Lei n.º 10/2004, de 12 de Novembro. Nos ter-
mos da referida lei os jazigos petrolíferos existentes à superfície e ou submersos no território
nacional, nas águas interiores, no mar territorial, na zona económica exclusiva e na plataforma
continental integram o domínio público do Estado (art. 3.º). A qualificação destes recursos
como domínio público decorre diretamente da Constituição da República, que estabelece
quais os bens que integram o domínio público e define o quadro mínimo de proteção deste
património. O regime jurídico do património que integra o domínio público do Estado é
estabelecido pela Lei n.º 18/10, de 6 de Agosto.
119
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
69
Cfr. art. 5.º da Lei n.º 1/12, de 13 de Janeiro.
120
O REGIME CAMBIAL
70
Aviso do BNA n.º 20/2012, de 12 de Abril.
121
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
71
Aviso do BNA n.º 13/19, de 2 de Dezembro.
72
Aviso do n.º 1/16, de 12 de Abril (estabelece os termos e condições a que deve obedecer a
entrada e saída de moeda nacional e estrangeira, na posse de pessoas singulares residentes
e não residentes cambiais).
122
O REGIME CAMBIAL
73
É permitida a entrada de moeda estrangeira em Angola sem necessidade de declaração
especial:
– residentes cambiais: até USD 10.000,00 ou equivalente;
– não residentes cambiais: até USD 5.000,00 ou equivalente.
74
É permitido a saída de moeda de Angola dentro dos seguintes limites:
Em moeda nacional: residentes e não residentes cambiais, até AKZ 50.000,00
Em moeda estrangeira:
– residentes cambiais maiores de 18 anos: até USD 10.000,00 ou equivalente;
– residentes cambias menores de 18 anos: até USD 3.500,00 ou equivalente;
– não residentes cambiais maiores de 18 anos: até USD 5.000,00 ou equivalente;
– residentes cambiais menores de 18 anos: até USD 1.500,00 ou equivalente
123
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
75
UCF (Unidade de Correcção Fiscal) foi criada pela Lei n.º 12/96, de 24 de Maio, como
instrumento de actualização do valor de impostos, taxas, multas e outras receitas de natureza
tributária do Estado. O valor actual da UCF é de Kz 88,00, o qual foi fixado pelo Despacho
n.º 174/11, de 11 de Março.
76
Cfr. Art. 25.º da Lei Cambial. De referir que a Lei 16/10, de 15 de Julho (Lei do BNA), no
seu art. 51.º, sobre a competência do Governador, prevê expressamente uma norma de com-
petência em branco, que permite que outras leis possam atribuir competência ao Governador
para a prática de determinados actos.
124
O REGIME CAMBIAL
XI. Em conclusão
125
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
126
O REGIME CAMBIAL
APÊNDICE
127
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
128
CAPÍTULO 6
DEVERES FUNDAMENTAIS DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS
1. Introdução
1
De 2005 para 2020 houve um aumento de 11 para 26 instituições financeiras bancárias
autorizadas.
2
Contudo, conforme refere Rosa Mangovo, no capítulo 4 do presente livro, dedicado ao
Banco Nacional de Angola, ainda existe uma relevante massa monetária fora do circuito
bancário: apenas 11% da população tem conta bancária e o volume de moeda nacional fora
do sistema financeiro estima-se que seja cerca de 200 mil milhões de Kwanzas (para mais
informação, reenvia-se para www.bna.ao).
129
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
2. Enquadramento
3
Quanto aos deveres relacionados com a prevenção de branqueamento de capitais e finan-
ciamento de terrorismo no sistema financeiro, cfr. a Lei n.º 05/2020 de 27 de Janeiro e o Aviso
do BNA nº 14/2020, de 22 de Junho.
4
Este diploma procedeu à revogação da Lei n.º 12/05, de 23 de Setembro.
130
DEVERES FUNDAMENTAIS DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS
A LBIF prevê, no seu artigo 9.º, n.º 1, que as instituições financeiras se clas-
sificam em instituições financeiras bancárias5 e instituições financeiras não
bancárias. No n.º 2 do referido artigo dispõe-se que são instituições financeiras
bancárias os bancos em geral e são instituições financeiras não bancárias as
previstas nos termos do artigo 11.º da LBIF6.
Nos termos do Capítulo VIII, sobre Regras de Conduta, prevê-se um com-
plexo de normas relativas à actuação das instituições financeiras bancárias.
Este capítulo encontra-se dividido em quatro distintas secções: (i) deveres
gerais; (ii) segredo profissional; (iii) conflitos de interesses e (iv) da concor-
rência e publicidade.
No âmbito do Capítulo IX, dedicado às Normas Prudenciais e Supervi-
são, estabelecem-se os deveres que recaem sobre as instituições financeiras
bancárias a nível prudencial.
Além das disposições previstas no âmbito da LBIF, dever-se-á igualmente
ter em conta os deveres previstos no âmbito dos diversos avisos e directivas
publicados pelo Banco Nacional de Angola (BNA), abaixo indicados.
3. Deveres
5
As instituições financeiras bancárias encontram-se sujeitas a pedido de autorização para
a sua constituição, pedido o qual se encontra regulado nos termos do Aviso nº 09/2020 de
3 de Abril.
6
Ao nível das instituições financeiras não bancárias temos as instituições financeiras não
bancárias ligadas à moeda e crédito, sujeitas à jurisdição do BNA e as instituições não bancárias
ligadas à actividade seguradora e previdência social, sujeitas à jurisdição da Agência Angolana
de Regulação e Supervisão de Seguros e as instituições não bancárias ligadas ao mercado de
capitais e ao investimento, sujeitas à jurisdição da Comissão do Mercado de Capitais.
131
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
7
Podem ser estabelecidos critérios gerais ou específicos, de constituição e aplicação para
as reservas legais e especiais.
8
O Aviso n.º 04/2013, de 22 de Abril, regula a actividade de auditoria externa nas instituições
financeiras autorizadas pelo BNA.
132
DEVERES FUNDAMENTAIS DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS
3.2.1. Gerais
a) Competência Técnica
9
Artigo 69.º da LBIF.
10
O dever de competência técnica encontra-se igualmente previsto nos termos do Aviso n.º
05/2012, de 29 de Março do BNA, numa referência genérica ao mesmo.
11
Artigo 70.º da LBIF.
12
Sobre o dever de informação ver igualmente Rosa Mangovo, artigo citado.
133
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
13
A LBIF no seu artigo 71.º, n.º 5 já antecipa que “Os contratos celebrados entre as institui-
ções bancárias e os seus clientes devem conter toda a informação necessária e ser redigida
de forma clara e concisa”.
134
DEVERES FUNDAMENTAIS DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS
14
Tal deve incluir a taxa anual de encargos efectiva global.
15
Sobre a evolução histórica do segredo bancário, Menezes Cordeiro, Manual de Direito
Bancário, 5ª Edição, Almedina (2016), páginas 356 e seguintes.
16
Sobre o segredo bancário, cfr. nomeadamente, Rabindranath Capelo de Sousa (O Segre-
do Bancário. Em especial, face às alterações fiscais da Lei n.º30-G/2000, de 29 de Dezembro”,
publicado nos Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Inocêncio Galvão Telles, Volume III,
Direito Bancário, Coimbra, (2002),páginas 176 a 178), Maria Célia Ramos (O Sigilo bancário
em Portugal – Origens, evolução e fundamentos”, em O Sigilo Bancário, Instituto de Direito
Bancário, Edições Cosmos, (1997), página 136 e 137), José Maria Pires (O Dever de Segredo na
Actividade Bancária, Rei dos Livros, 1998, página 23), Noel Gomes (Segredo Bancário e Direito
Fiscal, Almedina, 2006, página 73 e 74), bem como a nossa jurisprudência, designadamente,
no Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 278/95, de 31.05.1995, Acórdão do STJ de 27 de Janeiro
de 2005, Processo 04B4700 e Procuradoria-Geral da República no Parecer do Conselho
Consultivo n.º P000252009. Face ao disposto na Constituição da República Angolana, artigo
32.º, n.º1, onde se consagra o direito a reserva da intimidade da vida privada e familiar e o
artigo 99.º, n.º 1, onde se dispõe que “O sistema financeiro é organizado de forma a garantir a
formação, a captação, a capitalização e a segurança das poupanças, assim como a mobilização
e a aplicação dos recursos financeiros necessários ao desenvolvimento económico e social, em
conformidade com a Constituição e a lei” entende-se que a protecção do segredo bancário
no direito angolano deverá igualmente proteger os direitos à reserva da intimidade da vida
privada e familiar, bem como a tutela jurídica do mercado financeiro.
135
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
dos seus serviços, como seja, o nome dos clientes, as suas contas de depósito,
respectivos movimentos e demais operações bancárias.
O segredo profissional abrange igualmente a vida da instituição. Assinala-
-se que o dever de segredo profissional não cessa com o termo das funções
ou serviços. Contudo, o dever de segredo profissional comporta excepções:
a primeira, como facilmente, se compreende é a de a haver autorização do
cliente por escrito para o efeito, as outras justificam-se por questões de su-
pervisão e controlo da legalidade17.
Por último, acrescente-se que este dever de segredo profissional recai
igualmente sobre as entidades de supervisão, isto é, as pessoas que exerçam
ou tenham exercido funções no BNA, bem como as que lhe prestem ou tenham
prestado serviços a título permanente ou ocasional, ficam sujeitas ao dever
de segredo sobre factos cujo conhecimento lhes advenha exclusivamente do
exercício dessas funções ou da prestação desses serviços e não podem divul-
gar nem utilizar as informações obtidas. Contudo, o dever de segredo que
recai sobre as entidades de supervisão não as impede de trocarem entre si
informações relevantes.
e) Conflito de interesses
17
Neste sentido, os factos e elementos cobertos pelo dever de segredo só podem ser revelados:
(i) ao BNA; (ii) Organismo de Supervisão do Mercado de Valores Mobiliários, no âmbito das
suas atribuições; (iii) Instituto de Supervisão de Seguros, no âmbito das suas atribuições;
(iv) para instrução de processos mediante despacho do Juiz do Direito ou do Magistrado do
Ministério Público e (v) quando exista outra disposição legal que expressamente limite o
dever de segredo.
136
DEVERES FUNDAMENTAIS DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS
f) Atendimento ao Público
g) Publicidade
18
Em conformidade com o disposto no artigo 23.º, n.º 2 da Constituição da República de
Angola, onde se consagra o princípio da igualdade “Ninguém pode ser prejudicado, privile-
giado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão da sua ascendência,
sexo, raça, etnia, cor, deficiência, língua, local de nascimento, religião, convicções políticas,
ideológicas ou filosóficas, grau de instrução, condição económica ou social ou profissão.”
19
Sobre a reclamação junto das instituições financeiras bancárias, veja-se também neste
livro, Rosa Mangovo, artigo citado.
20
Nos termos do artigo 3.º, n.º 1 da LGP, considera-se actividade publicitária, o conjunto
de operações relacionadas com a difusão de uma mensagem promocional junto dos seus
destinatários.
137
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
138
DEVERES FUNDAMENTAIS DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BANCÁRIAS
4. Conclusões
139
CAPÍTULO 7
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
João Fonseca
141
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Por outro lado, uma definição muito mais ampla descreve a GC como
abrangendo as normas para o processo de tomada de decisões dentro de uma
empresa, os deveres dos membros do conselho de administração e directo-
res, a estrutura interna da empresa e o relacionamento entre esta e os seus
accionistas, e outras partes interessadas2.
Este conceito de GC vai além da definição da OCDE em dois aspectos:
primeiro por sugerir que a GC também lida com questões substantivas de
gestão e o pertinente processo de tomada de decisões pelo conselho de ad-
ministração e pela alta gestão, por exemplo, exigindo o estabelecimento de
uma função independente de compliance e de um sistema de gestão do risco;
e segundo, por lidar com a estrutura interna da empresa, ou seja, com es-
truturas internas abaixo do nível do conselho de administração e do senior
management (alta gestão).
Esse conceito muito mais amplo está muito alinhado com o entendimen-
to dos supervisores bancários sobre a GC, conforme consubstanciado nas
orientações do Comité de Basileia de Supervisão Bancária (BIS, na sigla em
inglês). Estas orientações referem que, do ponto de vista do sector, a gover-
nação corporativa envolve a forma como os negócios dos bancos são gover-
nados pelo conselho de administração e senior management que, entre outros,
afecta como:
2
MÜLBERT, PETER O., Corporate Governance of Banks after the Financial Crisis – Theory,
Evidence, Reforms, Law Working Paper nº 151/2010, University of Mainz and ECGI, Mainz,
Germany (2010)
142
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
3
Até então as regras existentes estavam limitadas ao definido na Lei das Sociedades Comer-
ciais, na Lei das Instituições Financeiras (em vigor até à publicação da LBIF) e em alguma
regulamentação do BNA, nomeadamente o Aviso n.º 2/06, de 20 de Março, sobre o Sistema de
controlo interno e auditoria interna, e o Instrutivo nº 1/98, de 9 de Janeiro, sobre as Normas
de controlo interno e auditoria externa, que antecedeu o referido Aviso.
143
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
4
O Aviso nº 6/16, de 22 de Junho, estabelece os princípios gerais a serem observados no
âmbito da adopção plena das IAS/IFRS, definindo um modelo de adopção obrigatória no
exercício de 2016 para as instituições que cumpram determinados critérios, devendo a adopção
pelas restantes ocorrer até exercício de 2017.
5
BNA, Conferência sobre a Governação Corporativa no Sector Bancário, Luanda, 31 de
Outubro de 2019. Sobre as projectadas alterações, v. o artigo de Leonildo Manuel, Governance
e Sistema de Controlo Interno de Bancos: O que há de novo?, neste volume.
144
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
3. Governação corporativa
6
Segundo o qual os membros do órgão de administração das instituições bancárias, bem
como as pessoas que nelas exerçam cargos de direcção, gerência, chefia ou similares de-
vem proceder, no cumprimento das suas funções, com a diligência de um gestor criterioso e
145
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
146
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
a. Conselho de administração
O conselho de administração (CA)8 deve ser constituído por um número
ímpar de membros fixados pelos estatutos da sociedade. O número de mem-
bros deve ser suficiente, atendendo à dimensão, natureza e situação econó-
mica da instituição, com disponibilidade para o exercício da função, deven-
do os membros possuir os seguintes requisitos: (i) experiência profissional
ou empresarial relevante, preferencialmente obtida no sistema financeiro,
(ii) elevados padrões éticos e de idoneidade; (iii) compreensão das responsa-
bilidades globais do órgão a que pertencem e das cometidas a cada um dos
seus membros; (iv) conhecimento profundo da actividade desenvolvida e
dos riscos assumidos pela instituição onde exercem funções; (v) capacidade
de leitura e de análise da informação que lhes é disponibilizada, a qual pode
ter origem interna ou externa e possuir natureza contabilística ou de gestão.
As instituições podem escolher o modelo de governação que conside-
rarem adequado, conforme permitido pela LSC para sociedades anónimas,
devendo este ser adequado à dimensão, complexidade e situação financeira
da instituição.
No caso de a instituição optar por ter administradores executivos e não
executivos, deve instituir uma comissão executiva (CE) nos termos da LSC.
Nesses casos, o BNA estabelece a:
8
Designação do Aviso n.º 1/13, de 19 de Abril. Uma vez que o BIS refere que o órgão de
administração deve ser interpretado de acordo com a legislação de cada jurisdição e a LBIF
impõe que as instituições financeiras bancárias têm que adoptar a forma de sociedade anó-
nima (alínea b) do art. 13º), o órgão de administração passa doravante a ser designado por
conselho de administração.
9
Os requisitos de independência encontram-se definidos no art. 3º do Aviso n.º 1/13, de
19 de Abril.
147
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Para além das responsabilidades acima descritas, que não podem ser de-
legadas para a CE, o CA tem as seguintes:
10
Designadamente, (i) gestão do risco e de compliance, (ii) remuneração dos colaborado-
res, (iii) ética, integridade e profissionalismo, (iv) transacções com partes relacionadas, (v)
prevenção de conflitos de interesses, e (vi) prevenção e detecção de operações suspeitas de
actividades criminosas ou situações de fraude.
148
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
11
Exceptua-se o requisito da experiência profissional ou empresarial relevante, preferencial-
mente obtida no sistema financeiro.
12
Os princípios são apresentados no ponto 4 sobre a auditoria externa.
149
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
c. Órgãos especializados do CA
O Aviso refere também que o CA deve delegar competências num ou mais
dos seus membros, visando aumentar a eficiência do seu funcionamento e fa-
cilitar a focalização em áreas e matérias específicas. Entretanto, o CA mantém
a responsabilidade pelas funções delegadas e deve instituir processos de pres-
tação de informação para acompanhamento da delegação, designadamente
das agendas das reuniões e as actas das decisões tomadas.
Todavia, mais uma vez, o BNA aplica o princípio da proporcionalidade
ao estabelecer que a determinação do número, modalidade e natureza das
entidades ou órgãos com competências delegadas depende da dimensão e
do perfil de risco das instituições, devendo o conteúdo da delegação estar
perfeitamente delimitado.
O Aviso especifica três órgãos especializados13 tendo por âmbito, nomea-
damente, (i) o SCI, (ii) a gestão do risco e (iii) a nomeação, avaliação e remu-
neração dos colaboradores, sendo os dois primeiros de carácter obrigatório
e o último opcional.
Por sua vez, os órgãos que emanem da comissão executiva são designados por comités.
150
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
151
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
14
BIS, Corporate governance principles for banks, July 2015.
15
O BIS utiliza a terminologia “committee”, tendo o BNA decidido por designar de “entidade
ou órgão com competências delegadas”. O BIS considera ainda a possibilidade de poderem
ser constituídas outras orgãos especializados, remetendo para o órgão de administração a
responsabilidade de assegurar a necessária objectividade de cada uma, tal como ser apenas
composta por administradores não executivos ou um número suficiente de administradores
independentes.
16
O Aviso n.º 2/13, de 19 de Abril, encontra-se de acordo com as orientações do BIS, de que
devem ser bem definidas as responsabilidades pelo sistema de gestão do risco, tipicamente
designadas pelas três linhas defesa:
1ª – a linha de negócio, composta pelas unidades de negócio, que são responsáveis pela tomada
dos riscos e pela gestão contínua destes riscos;
2ª – a função de gestão do risco e a função de compliance, que devem ser independentes da
primeira linha de defesa e são responsáveis pela monitorização e reporte dos riscos e;
3ª – a função de auditoria interna, deve ser independente da primeira e segunda linha de
defesa e responsável pela avaliação da efectividade do SCI.
152
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
3.3.4. Remuneração
a. Princípios
As instituições devem formalmente instituir uma política de remuneração
considerando os seguintes princípios:
b. Órgãos sociais
A política de remuneração dos membros dos órgãos sociais deve ser defini-
da pelos accionistas, podendo ser delegada num ou mais accionistas. No caso
de ser delegada, deve ser dado conhecimento nas assembleias gerais anuais
de aprovação de contas dos critérios, parâmetros e métodos de cálculo da
política de remuneração e da avaliação do desempenho dos administradores
executivos, considerando o seguinte:
153
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
c. Colaboradores
A responsabilidade pela definição e implementação e revisão da política de
remuneração para os colaboradores pertence ao CA, mesmo que este delegue
competências num ou mais dos seus membros. A remuneração dos colabo-
radores associados a funções de controlo, designadamente os pertencentes
às funções chave do sistema de controlo interno, de auditoria interna, de
compliance e de gestão do risco, não pode comprometer a sua independência,
não devendo estar directamente associada aos resultados das áreas tomadoras
de risco. A política deve ser divulgada a todos os colaboradores.
a. Código de conduta
O CA deve definir e formalmente instituir um código de conduta, aplicável
à sua actuação e à dos restantes colaboradores. O código deve (i) estabelecer
elevados padrões de actuação de acordo com princípios éticos e deontológicos,
promovendo a transparência das relações, envolvendo os órgãos sociais e os
colaboradores, (ii) inibir a participação em actividades ilegais e a tomada ex-
cessiva de risco, (iii) contribuir para a transparência das relações contratuais
entre a instituição e as suas contrapartes e (v) estipular que os membros dos
órgãos sociais e os colaboradores não podem receber ofertas de valor não
simbólico que comprometam o exercício independente das suas funções.
b. Conflito de interesses
O conflito de interesses pode decorrer das várias actividades desenvolvidas
pelas instituições envolvendo os accionistas, os clientes, os órgãos sociais e
os colaboradores e as relações, serviços, actividades e transacções. O conflito
154
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
17
A definição de conflito de interesses devia ser actualizada em função da evolução das
orientações da EBA sobre esta matéria. Por exemplo, não é considerado suficiente obter um
benefício ou evitar uma perda, se tal não resultar numa possível perda para um cliente. Este
princípio já foi adoptado pelo Regulamento n.º 1/15, de 15 de Maio, da Comissão de Mercado
de Capitais.
18
Cfr. art. 83º e 84º da LBIF.
19
Esta obrigação não se aplica no caso de operações de crédito a membros dos órgãos so-
ciais e colaboradores que revistam carácter social, designadamente crédito para compra de
155
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
156
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
21
Cfr.n.º 5 do art. 6º do Aviso n.º 5/19, de 30 de Setembro, sobre o Processo de Normalização
e Harmonização Contabilística do Sector Bancário Angolano. Para apoio na preparação do
relatório de gestão relativo às demonstrações financeiras preparadas de acordo com as IFRS
ver a IFRS Practice Statement 1: Management Commentary (2010).
22
Cfr. alínea nº 3 do art. 21º do Aviso n.º 1/13, de 19 de Abril.
23
O Aviso n.º 5/19, de 30 de Setembro passou a exigir a publicação das contas semestrais a
partir do exercício de 2020.
24
Designação actualizada de acordo com o.n.º 5 do art. 6º do Aviso n.º 5/19, de 30 de Setembro.
157
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
• Relatório de Gestão
• D e m o n s t r a ç õ e s
No Diário da Repú-
• Individual financeiras
Até 30 blica e em jornal de
Anual • Consolida- • Parecer do Auditor
de Abril grande circulação ou
do Externo
sítio da internet
• Parecer do Conselho
Fiscal
• Relatório de Gestão
• D e m o n s t r a ç õ e s
• Individual financeiras Em jornal de grande
Até 30
Semestral26 • Consolida- • Parecer do Auditor circulação ou sítio da
de Setembro
do Externo internet
• Parecer do Conselho
Fiscal
Em jornal de grande
Até 45 dias
• Individual circulação ou sítio da
após o fim do
Trimestral • Consolida- • Balancete internet ou boletim de
trimestre a
do informação de enti-
que se refere
dade de classe
25
Aviso n.º 5/19, de 30 de Setembro. A informação anual deve ser publicada no Diário da
República e num
26
Aplicável às instituições que apresentem uma activo total em base individual, apurado no
final do exercício precedente, superior a 400 mil milhões de Kwanzas (cfr. o n.º 2 do art. 6.º
do Aviso n.º 5/19, de 30 de Agosto).
158
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
4. Auditoria externa
A LBIF, tal como a Lei das Instituições Financeiras em vigor à data da pu-
blicação do Aviso, estabelece a obrigatoriedade de rotação do auditor externo
ao fim de quatro anos findos os quais, só pode vir a ser novamente seleccionável
decorrido igual período.
O BNA procedeu à revisão dos requisitos para a contratação e definição
das responsabilidades do auditor externo com a publicação do Aviso n.º 4/13,
de 22 de Abril27, de forma a reforçar a exigência sobre a qualidade e a inde-
pendência do auditor externo e a atribuir poderes ao BNA para determinar a
substituição do auditor no caso do auditor de não cumprir aqueles requisitos.
A independência é suportada (i) nos limites inibição de serviços, não po-
dendo o auditor prestar, ou ter prestado no últimos 12 meses, serviços não
estritamente relacionados com a sua função e que impliquem perda da inde-
pendência, na instituição auditada ou em entidade que com ela se encontre
em relação de domínio ou grupo, (ii) nas regras de relacionamento da insti-
tuição com o auditor externo, que inclui entre outras, a exigência da rotação,
159
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
5. Relatório de avaliação da GC
28
A estrutura e o conteúdo mínimo dos relatórios encontram-se definidos no Instrutivo n.º
1/13, de 22 de Março.
29
De acordo com as definições do Aviso n.º 1/13, de 19 de Abril, o perímetro do grupo fi-
nanceiro para efeitos de elaboração dos relatórios exclui as instituições financeiras ligadas à
actividade seguradora e previdência social, em que existe uma relação de domínio por parte
de uma empresa-mãe supervisionada pelo BNA face às outras sociedades integrantes.
160
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
30
BNA, Nota de abertura do “Fórum de Economia e Finanças” da ABANC pelo Vice Gover-
nador, 26 de Novembro de 2014.
31
Governo de Angola, Programa de Estabilização Macroeconómica 2017 – 2018, Dezembro
de 2017.
32
BNA, Relatório e Contas de 2019.
33
De acordo com as informações disponibilizadas nos relatório e contas, podemos considerar
a existência de dois tipos de grupos financeiros em Angola, com participações (i) directas
(Banco Angolano de Investimentos, Banco de Fomento Angola, Banco Keve, Banco de Ne-
gócios Internacional e Banco Económico) e (ii) indirectas, por via do controlo e influência
de accionistas comuns (Atlântico e Banco BIC). A composição destes grupos varia entre
161
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
162
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
mas sem a separação entre o PCA e PCE (isto é, em que ambas as funções são
desempenhadas pela mesma pessoa)34.
Gráfico 2 – Composição do CA
Fonte: Dados de 2019: consulta a sites dos bancos efectuada em 1 de Novembro de 2019. Dados de 2012:
consulta a relatórios e contas, BNA e ABANC. Não inclui as sucursais e bancos sem actividade. Elabo-
ração do autor.
7. Conclusão
34
Esta situação aplicava-se ao Banco BIC em Julho de 2012, tendo sido resolvida em Abril
de 2019, e aplica-se ao Banco de Desenvolvimento de Angola em Outubro de 2019.
163
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Fonte: ABANC
Bibliografia
164
GOVERNAÇÃO DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
165
CAPÍTULO 8
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS:
O QUE HAVERÁ DE NOVO?
Leonildo Manuel
1. Introdução: enquadramento
167
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
de 2015, por isso se tem concluído que se tem um sector concentrado. O Es-
tado é proprietário de três bancos, em que um deles integra a lista dos cinco
maiores e através da Sonangol E.P. (perolífera angolana) possui participações
significativas em sete bancos.
Depois de em 2013 se ter aprovado as primeiras regulamentações sobre
governance e sistema de controlo interno dos bancos, com as quais o Banco
Nacional de Angola (doravante BNA) envidou esforços significativos para o
fortalecimento da supervisão bancária, nos anos seguintes registaram-se um
conjunto de eventos que revelaram a existência de deficiência do governance e
do sistema de controlo interno dos bancos angolanos – estamos, por exemplo,
a nos referir aos casos do Banco Espirito Santo Angola (em 2014), a falência
do Banco Mais e do Banco Postal, bem como do Banco Angolano de Negócio e
Comércio (em 2019). Ao lado destes, temos ainda o exemplo do caso Banco
de Poupança e Crédito onde registou-se, mais uma vez, no dia 17 de Abril de
2020, um roubo interno de mais de 400 milhões de kwanzas, facilitado pela
deficiência do sistema de controlo interno.
Estes eventos, para além de perigarem a estabilidade do sistema finan-
ceiro angolano e a protecção dos seus depositantes, revelaram também que a
legislação actualmente em vigor carece de adequação, no sentido de reforçar
os instrumentos de governance e, sobretudo, de controlo intrassocietário, com
enfase para o sistema de controlo interno. E é neste contexto que legisla-
dor angolano, com impulso do BNA, do Conselho Nacional de Estabilidade
Financeira (CNEF)3 e do Fundo Monetário Internacional no âmbito do pro-
grama de financiamento a ser concedido, discutiu em Novembro 2017 a sua
“Estratégia de Desenvolvimento do Sistema Financeiro 2018 – 2022” que contou
parado dos cinco maiores bancos e 72% do total do crédito mal parado do sistema. Quando são
acrescentados os créditos mal parado dos outros dois bancos estatais ao crédito mal parado
do BE e do BPC, estes representam cerca de 75% do crédito mal parado do sistema. Adicio-
nalmente, a provisão do sistema é relativamente alta, situando-se em 96%, e, exceptuando o
BE e o BPC, os restantes três maiores bancos têm mais de 100% de provisão para o seu crédito
mal parado. Isso proporciona alguma resiliência, embora, ao mesmo tempo, o crédito mal
parado do sistema possa continuar a aumentar por causa dos recentes desenvolvimentos ao
nível macro”. Cfr. CONSELHO NACIONAL DE ESTABILIDADE FINANCEIRA – CNEF.
“Estratégia de Desenvolvimento do Sistema Financeiro 2018 – 2022”, Novembro de 2017, p. 13.
3
CONSELHO NACIONAL DE ESTABILIDADE FINANCEIRA – CNEF. “Estratégia de
Desenvolvimento do Sistema Financeiro 2018 – 2022”, Novembro de 2017.
168
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
4
KRAAKMAN, Reinier; ARMOUR, John & HANSMANN, Henry, “Agency Problems,
Legal Strategies, and Enforcement” in The Anatomy of Corporate Law: A Comparative and
Functional Approach” Second Edition, Oxford – University Press, 26 January 2017, p. 21.
Cfr. HOPT, Klaus J. “El Gobieno corporativo: Estudio de Derecho Privado comparado en
Derecho de Sociedades y Del Mercado de Valores” in Estudios de Derecho de Sociedades
y Del Mercado de Valores, Madrid: Marcial Pons, 2010, pp. 52 a 53. Vide HOPT, Klaus J.
“Desenvolvimento recentes da Corporate Governance na Europa. Perspectivas para o Futuro”
in Miscelânea| n.º 5, Instituto de Direito das Empresas e do Trabalho (IDET), Coimbra:
Almedina, p. 11.Cfr. VAZ, João Cunha. A OPA e o Controlo Societário – a regra da não frus-
tração, Coimbra: Almedina, 2013, p. 48. Vide. MINTZ, Steven M., A Comparison of Corporate
Governance Systems in The U.S., UK and Germany in Corporate Ownership & Control – Volume 3,
Issue 4, Summer 2006, pp 25 e 26. Cfr. RODRIGUES, Jorge, Corporate Governance – Retomar
a confiança perdida, Lisboa: 1.ª Ed., Escolar Editora, 2009, p. 31. Cfr. ALVES, Carlos Francisco,
Os Investidoreas Institucionais e o governo das sociedades: disponibilidade, condicionantes e implicações,
Coimbra: Almedina, 2005, p. 23. JENSEN, M. C. e MECKLING, W, H., Theory of the Firm:
Managerial Behavior, Agency Costs and Ownership Structure. In: Journal of Financial Economics,
October, 1976, V. 3, No. 4, pp. 305-360. Vide MARTINS, Alexandre de Soveral, Administradores
Delegados e Comissões Executivos – Algumas Considerações, Coimbra: 2.ª Ed., IDET, Caderno n.º 7,
Almedina, 2011, p. 7.Cfr. FERREIRA, António Pedro, O governo das sociedades e a supervisão ban-
cária, Lisboa: Quid Juris, 2009, p. 15. Cfr. MARTINS, Alexandre de Soveral. Administração de
sociedade anónima e responsabilidade dos administradores, Coimbra: Almedina, 2020, p. 27
169
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
5
DUARTE, Diogo Pereira/PASSARADAS, Francisco. “Gestão de risco, Compliance e Audi-
toria interna” in Estudos de Direito Bancário I, (Coordenação de António Menezes Cordeiro,
170
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
Januário da Costa Gomes, Miguel Brito Basto e Ana Alves Leal) Coimbra: Almedina, 2018,
p. 195. No mesmo sentido, a alínea r) do artigo 3.º do Anteprojecto de Aviso sobre Sistema
de Controlo Interno define “conjunto integrado de políticas e processos, com carácter permanente e
transversal a toda instituição, realizados pelo órgão de administração e demais colaboradores, no sentido
de se alcançarem os objectivos de eficiência na execução das operações, controlo dos riscos, fiabilidade da
informação contabilística e de suporte à gestão e cumprimento dos normativos legais e das directrizes
internas”.
6
MARTINS, Alexandre de Soveral. Sobre a fiscalização das sociedades anónimas, Coimbra:
Almedina, 2020, p. 49.
171
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
7
Para análise vide VALE, Sofia. “O Governo dos Bancos em Angola” in A Governação de
Bancos nos Sistemas Jurídicos Lusófonos (Coordenação de Paulo Câmara), Coimbra: Almedina,
2016, p. 333.
8
O whistleblowing é referente à pessoa que tem a responsabilidade de denunciar os delitos.
Na verdade, trata-se de uma pessoa associada a uma organização empresarial (integrante do
seu quadro de pessoal) ou fornecedor ou cliente que tem como tarefa observar os compor-
tamentos ou acções da administração e de outras pessoas da organização a que pertence e
denunciar para os supervisores públicos todas as condutas que constituam ilícitos ou irre-
gularidades. Depois da crise do subprime (2007/2008), em que se levantou com mais ênfase a
necessidade de combater os problemas de fraudes e corrupção no seio das principais empre-
sas que operavam no sector bancário, os whistleblowing se tornaram ainda mais necessários,
como uma linha importante de defesa do mercado e de protecção da própria empresa e seus
stakeholders. Vide CÂMARA, Paulo. “O Governo dos Bancos: uma introdução”, in A Go-
vernação de Bancos nos Sistemas Jurídicos Lusófonos (Coordenação de Paulo Câmara), Coimbra:
Almedina, 2016, p. 49.
172
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
9
DUARTE, Diogo Pereira/PASSARADAS, Francisco. “Gestão de risco, Compliance e Audi-
toria interna”, Op. Cit., p. 220. Cfr. OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Manual de Governação
das Sociedades, Op. Cit., p. 318. Cfr. CÂMARA, Paulo. “O Governo dos Bancos” in III Con-
gresso de Direito Bancário, (Coordenação de L. Miguel Pestana de Vasconcelos), Coimbra:
Almedina, 2018, pp. 474 – 475.
10
COSTA, Vasco Freitas da. “Aspeto relativos à supervisão do governo dos bancos” in
A Governação de Bancos nos Sistemas Jurídicos Lusófonos (Coordenação de Paulo Câmara),
Coimbra: Almedina, 2016, p. 293. CÂMARA, Paulo. “O Governo dos Bancos”, Op. Cit., p. 474.
11
DUARTE, Diogo Pereira/PASSARADAS, Francisco. “Gestão de risco, Compliance e Au-
ditoria interna”, Op. Cit., p. 196.
12
COSTA, Vasco Freitas da. “Aspeto relativos à supervisão do governo dos bancos”,
Op. Cit., p. 293.
173
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
13
IRIS H-Y Chiu, Apub COSTA, Vasco Freitas da. “Aspeto relativos à supervisão do governo
dos bancos”, Op. Cit., p. 293.
14
DUARTE, Diogo Pereira/PASSARADAS, Francisco. “Gestão de risco, Compliance e Au-
ditoria interna”, Op. Cit., p. 220
174
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
15
MARTINS, Alexandre de Soveral. Sobre a fiscalização das sociedades anónimas, Op. Cit.,
p. 48. Cfr. OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Manual de Governação das Sociedades, Coimbra:
Almedina, 2017, p. 306.
16
GOMES, José Ferreira. Da administração a fiscalização das sociedades. A obrigação de
vigilância dos órgãos da sociedade anónima, Coimbra: Almedina, 2015, p. 321.
17
Lei n.º 11/13, de 3 de Setembro, publicada no Diário da República, I Série, n.º 169
175
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
18
Cfr. VALE, Sofia, As Empresas no Direito Angolano, Op. Cit., p. 768.
19
Por exemplo, registou-se o “desaparecimento” de 5,5 mil milhões de dólares, em 2014,
do então Banco Espírito Santo Angola (BESA), provocando a degradação da qualidade dos
seus activos, bem como a progressiva perda de liquidez e de solvabilidade, aumentando com
o passar do tempo o risco de descontinuidade da sua actividade.
176
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
20
Vide. Nováfrica – notícias globais – Roubo no BPC: Direito de respos-
ta. Ver no fim notícia relacionada, https://www.novafrica.co.ao/economia/roubo
-no-bpc-direito-de-resposta-ver-no-fim-noticia-relacionada/
VALOR ECONÓMICO, BPC admite ter sistema informático frágil e vulnerável in https://
valoreconomico.co.ao/artigo/bna-orienta-bpc-a-proteger-activos
https://angola-online.net/noticias/funcionarios-do-bpc-presos-por-roubo-de-mais-de-70-
-milhoes-de-kzs
21
“Os factores que determinaram a retirada da Correspondência Bancária em Angola são
múltiplos e estão interligados. Estes incluem as percepções gerais de risco jurisdicional, lacu-
nas no quadro jurídico angolano de combate ao branqueamento de capitais e de combate ao
financiamento do terrorismo (AML/CFT) (incluindo um nível de fraco cumprimento da Lei
de AML/CFT pelo sector privado, debilidades no controlo e ausência da supervisão baseada no
risco), e a redução do apetite pelo risco por parte dos bancos globais. As questões relacionadas
com a percepção de que Angola é um país com mecanismos débeis de governação e de combate
177
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
à corrupção acentuaram o perfil do país como uma jurisdição de alto risco. A contínua e, em
alguns casos, crescente concentração da participação accionária nos principais bancos de
Pessoas Politicamente Expostas (PPE) do país também poderá contribuir para a percepção
de risco acentuado por parte dos bancos globais em relação a Angola. Isso, conjugado com a
reavaliação comercial das linhas de negócios pelos bancos globais e as preocupações especí-
ficas em torno do fraco crescimento e vulnerabilidades do sistema financeiro, pode também
explicar a hesitação dos bancos globais em lidarem directamente com os bancos angolanos”.
Vide Cfr. CONSELHO NACIONAL DE ESTABILIDADE FINANCEIRA – CNEF. “Estratégia
de Desenvolvimento do Sistema Financeiro 2018 – 2022”, Novembro de 2017, p. 14.
178
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
22
Na alínea c) do artigo 3.º do Anteprojecto introduz o conceito de administrador não exe-
cutivo como “membro do órgão de administração, que deve participar no processo de tomada
de decisões estratégicas, aconselhar, fiscalizar e avaliar a actividade dos administradores
executivos, sem prejuízo das atribuições globais inerentes ao seu cargo”.
23
As adopção de uma comissão executiva torna-se obrigatória para as instituições bancá-
rias que: (a) tenham activos superiores kz 300 000 000 000, 00 (trezentos mil milhões) de
kwanzas; (b) cotação em bolsa; (c) instituições sedeadas em Angola com subsidiárias noutras
jurisdições; e d) subsidiárias de entidades sedeadas no estrangeiro.
179
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
24
Um documento que engloba todos os tipos de métodos e procedimentos relacionados com
o sistema de controlo interno a observar e avaliar, preventivamente, por todas as unidades de
estrutura de uma instituição, bem como as normas e procedimentos referentes à formalização
e ao reporte destes processos e, se aplicável, as respectivas medidas correctivas.
25
Um documento que engloba todos os tipos de métodos e procedimentos relacionados com
o sistema de controlo interno a observar e avaliar, preventivamente, por todas as unidades de
estrutura de uma instituição, bem como as normas e procedimentos referentes à formalização
e ao reporte destes processos e, se aplicável, as respectivas medidas correctivas.
26
Que deve ser acessível a todos os colaboradores, cujo principal objectivo deve ser a pre-
venção, identificação e combate a fraudes, irregularidades, práticas antiéticas e condutas
inadequadas por parte de qualquer colaborador ou parte interessada da instituição de uma
forma adequada e atempada (vide artigo 23.º do Anteprojecto de Aviso sobre Governação
Corporativa).
27
Terá por função aprovar, através de assembleia geral, uma política interna para a selec-
ção, avaliação, nomeação e ainda renovação de funções dos propostos membros ou gestores,
contendo, pelo menos, procedimentos para a identificação, avaliação adequação de acordo
com os requisitos legais exigidos, as regras sobre prevenção, comunicação e sanação de con-
flitos de interesses e os meios de formação profissional disponibilizados (vide artigo 15.º do
Anteprojecto).
180
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
181
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
182
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
28
Por exemplo: (a) Criação de empregos junto das comunidades em que se inserem bem
como formação do pessoal, igualdade de oportunidades e segurança dos recursos humanos;
b) Contribuição para o desenvolvimento das comunidades locais, nomeadamente em matéria
de condições sociais; c) Garantia de salubridade, estabilidade e prosperidade do meio físico
em que estão envolvidas; d) Protecção do meio ambiente e adequada gestão do impacto am-
biental das actividades e Anteprojectos em que estão envolvidas, adoptando acções contra
a poluição, nomeadamente em matéria de ruído, luz, águas, emissão de gases nocivos para a
atmosfera, contaminação do solo e transporte e eliminação de resíduos; e) Utilização econó-
mica e sustentável dos recursos naturais; f) Incentivo de fornecedores para a implantação de
concorrência positiva entre empresas; g) Respeito e protecção dos direitos dos consumidores.
29
A protecção dos accionistas minoritários é importante em relação ao papel dos accionistas
no governo das sociedades, por uma série de razões. A participação dos accionistas minoritá-
rios é difícil em sociedades com accionistas que detêm participações de controlo, continuando
a ser este o modelo de governo predominante das sociedades europeias. Coloca-se, assim, a
183
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
184
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
30
a) Nomear e destituir os administradores, se o contrato de sociedade não atribuir tal
competência à assembleia geral; b) Designar o administrador que servirá de presidente do
Conselho de Administração executivo; c) Representar a sociedade nas relações com os admi-
nistradores; d) Fiscalizar as actividades do Conselho de Administração executivo, a eficácia do
sistema de gestão de riscos, do sistema de controlo interno e do sistema de auditoria interna,
se existentes; e) Receber as comunicações de irregularidades apresentadas por accionistas,
colaboradores da sociedade ou outros; e f) Zelar pela observância da lei e do contrato de
sociedade. A fiscalização da informação financeira, para além de consistir em dar parecer
sobre o relatório de gestão e as contas do exercício, deverá, no essencial, verificar o seguinte:
i) A regularidade dos livros, registos contabilísticos e documentos que lhes servem de suporte,
assim como a situação de quaisquer bens ou valores detidos pela sociedade a qualquer título;
ii) Se as políticas contabilísticas e os critérios valorimétricos adoptados pela sociedade condu-
zem a uma correcta avaliação do património e dos resultados; iii) O processo de preparação
e de divulgação de informação financeira e propor à assembleia geral a nomeação do auditor
externo; iv) A revisão de contas e os documentos de prestação de contas; v) A independência
do auditor externo, designadamente no tocante à prestação de serviços adicionais.
185
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Outra crítica que pode ser apontada para a norma do artigo 472.º do An-
teprojecto de Código Comercial é referente ao critério de “ser titular ou actuar
em nome ou por conta de titulares de participação qualificada igual ou superior a 2% do
capital da sociedade”, pois tem-se entendido que não é razoável que um admi-
nistrador independente perca a independência se detiver uma participação
de 2% ou represente um accionista com essa percentagem do capital social,
isto é, que nestas circunstâncias o administrador possa ter alguma capacidade
para influenciar os destinos da sociedade, nomeadamente ao nível do processo
de tomada de decisão dos órgãos sociais. Diferente do que é defendido por
alguma doutrina31, para nós, a norma do Anteprojecto que estabelece que o
administrador independente não deve deter (por si ou por representação)
2% do capital social da sociedade foi bem conseguida, pois o administrador,
enquanto accionista ou representante deste, não prossegue exclusivamente
os interesses da sociedade, mas também interesses próprios e, neste sentido,
a rácio da sua independência é afectada.
Relativamente à proibição da reeleição do administrador independente
por mais de dois mandatos, entendemos ser outra nota bem conseguida, pois,
se não se estabelecesse esta premissa, permitir-se-ia “um consulado prolongado
num cargo com toda a convivência e proximidade relativamente aos accionistas e demais
membros dos órgãos sociais”, o que afectaria substancialmente a objectivida-
de, a transparência e a imparcialidade que se requer para um administrador
independente que tem funções de fiscalização e prossecução do interesse
exclusivo da sociedade.
Por outro lado, chama a nossa atenção, o facto de o Anteprojecto restringir a
qualificação dos administradores independentes às pessoas com formação supe-
rior em economia ou gestão. Entendemos que a presente limitação se demonstra
irrealista, porquanto a prática tem demonstrado que existem profissionais que,
não sendo economistas ou gestores assumem funções de administrador inde-
pendente, como juristas ou engenheiros, variando em função de core business
institucional. Assim, entendemos que deve ser exigida não necessariamen-
te uma formação superior nas áreas de gestão ou economia, mas comprovada
186
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
32
HOPT, Klaus & VOIGHT, Hans-Christoph, Responsabilidad civil de los folletos de missión y de
la información del mercado de capitales: Derecho y reforma en la unión europea..., p. 463.
187
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
O sistema de controlo interno a ser instituído pelo BNA traz como pri-
meiro ponto de mudança a obrigação das regras sobre o controlo interno
serem “acessíveis a todos os funcionários da instituição, de forma a garantir
o reconhecimento de determinada função no processo, bem como as respon-
sabilidades atribuídas aos diversos níveis da organização”. Com esta alteração
(positiva) mais facilmente se pode assegurar a continuidade do negócio e a
sobrevivência dos bancos.
No âmbito dos mecanismos que asseguram a continuidade do negócio
e, consequentemente, a sobrevivência dos bancos, o BNA acrescentou no
Anteprojecto de Aviso do BNA obrigatoriedade de (i) “definição e segregação
de responsabilidades” e “segregação de funções”, esta última traduzidas no con-
junto de regras e directrizes de controlo interno que visam descentralizar a
gestão, estabelecendo independência entre as funções de controlo, negócio
e suporte (alínea p) do artigo 3.º); (ii) adopção de meios que permitam a
(iii) “mitigação de conflitos de interesses”; (iv) a existência de uma política, processo
ou outra medida preventiva para cada risco; (v) o controlo e acompanhamen-
to sistemático para assegurar que a sua aplicação e funcionamento esteja
conforme ao estabelecido regulamentarmente, tentando, assim, rectificar
prontamente todos e quaisquer desvios; (vi) garantir a integridade, a concor-
dância e a eficácia do processo, fornecendo assim uma garantia razoável de
que as informações financeiras e administrativas são confiáveis, oportunas e
completas e que a instituição financeira está em conformidade com políticas
e directrizes, internas e externas, bem como as leis e regulamentos aplicáveis
ao seu funcionamento, quer internos quer externos.
Relativamente aos princípios gerais, para além de estabelecer que deve
ser periodicamente revisto e actualizado para que as medidas relacionadas
com riscos não identificados previamente sejam fácil e atempadamente in-
corporadas no processo a decorrer, o Anteprojecto do Aviso do BNA sobre
SCI acrescenta que o sistema de controlo interno deve não só ser adaptado
à dimensão, natureza, complexidade, estrutura e estratégia da actividade,
188
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
4. Gestão de risco
33
“Representação da exposição real ao risco de uma instituição. O perfil de risco está intrin-
secamente ligado à estratégia de negócio, e depende do tipo de actividades realizadas pela
instituição, bem como ao risco inerente às mesmas”.
34
“Quantidade” máxima de risco que uma instituição é capaz de assumir, dada a sua base de
capital, gestão do risco e capacidades de controlo, bem como as suas restrições regulatórias”
35
“O nível agregado e os tipos de risco que uma instituição está disposta a assumir, definida
antecipadamente e dentro da capacidade de risco de cada instituição de forma a alcançar os
seus objectivos estratégicos e o seu plano de negócios”
36
RODRIGUES, Jorge, Corporate Governance, Op. Cit, p. 156.
189
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
37
Vide COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. O Livro Verde sobre “o quadro da
União Europeia do governo das sociedades”, Bruxelas, 5.4.2011.
ht t p://w w w.eu ropa rl.eu ropa .eu/meetdoc s/2009_ 2014/doc u ment s/com/com _
com(2011)0164_/com_com(2011)0164_pt.pdf (acessado em 12/09/2017).
38
Ibidem.
190
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
5. Compliance
39
Estabeleceu as medidas de natureza preventiva e repressiva de combate ao branqueamento
de capitais e ao financiamento do terrorismo em Angola.
191
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
BNA n.º 22/12, o BNA exigiu que as instituições bancárias integrassem na sua
estrutura um departamento designado por “Compliance Officer”, responsável
pela implementação do sistema de prevenção de branqueamento de capitais
e do financiamento do terrorismo, incluindo os respectivos procedimentos
de controlo interno, sendo igualmente responsável pela centralização da in-
formação e comunicação de operações susceptíveis de branqueamento de
capitais e financiamento do terrorismo à Unidade de Informação Financeira
e outras autoridades competentes.
Para a protecção dos depositantes, o BNA consagrou (nos 12.º do Aviso do
BNA n.º 2/13) para os bancos a obrigatoriedade de implementação da função
compliance baseada na adopção de políticas e procedimentos adequados para
detectar qualquer risco de incumprimento dos deveres a que estejam adstri-
tos, ou seja, assegurar que o cumprimento das obrigações legais e directrizes
internas são observadas. O Anteprojecto de Aviso sobre sistema de controlo
interno, nas alíneas d) e e) do n.º 4 do seu artigo 12.º, acrescenta que cabe
à função compliance (i) acompanhar e avaliar os procedimentos de controlo
interno em matéria de prevenção do branqueamento de capitais, financia-
mento do terrorismo e da proliferação de armas de destruição em massa, bem
como centralizar a informação e comunicá-la às autoridades competentes; e
(ii) monitorizar o cumprimento das políticas de governação corporativa da
instituição, nomeadamente, conflito de interesses e código de conduta.
A função compliance deve ser independente de modo a garantir, por um
lado, o acompanhamento e a avaliação regular da adequação e da eficácia das
medidas e procedimentos para detenção de incumprimentos das normas e,
por outro, a manutenção de um registo e apresentação de um relatório anual
sobre o sistema de controlo de cumprimento ou incumprimento.
À semelhança da gestão de risco, a função compliance deve ser um depar-
tamento autónomo (n.º 1 do artigo 12.º do Aviso n.º 2/13) e liderado por um
Director (Compliance Officer) que deverá responder pelas matérias de prevenção
e detenção de irregularidades40 directamente ao Conselho de Administra-
ção41 ou a administradores independentes42. Ao responder para o Conselho
40
(controlo do cumprimento das obrigações legais e regulamentares, dos deveres e das
políticas e directrizes internas dos bancos).
41
(que é integrado por administradores executivos, não executivos e independentes)
42
VALE, Sofia. “O Governo dos Bancos em Angola”, Op. Cit., p. 335.
192
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
43
GERALDO, Tiago, “A responsabilidade penal do Compliance Officer: fundamento e limites do
dever de auto-vigilância empresarial” in Estudos sobre Law Enforcement, Compliance e Direito
Penal, Coimbra: Almedina, 2018, p. 272.
44
Ibidem, p. 269.
193
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
6. Auditoria interna
45
Ibidem, p. 269.
46
GEADA, Fátima Castanheira. “Governação Corporativa e auditoria interna” in A Emer-
gência e o futuro do Corporate Governance em Portugal, Volume II, (coordenação de José
Costa Pinto), Coimbra: Almedina, 2018, p. 116.
47
ALMEIDA, Bruno José Machado de, Manual de Auditoria Financeira – Uma análise integrada
baseada no risco, op. Cit., pp. 19 a 20.
194
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
7. Considerações finais
195
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
8. Bibliografia
196
GOVERNANCE E SISTEMA DE CONTROLO INTERNO DE BANCOS: O QUE HAVERÁ DE NOVO?
197
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
198
CAPÍTULO 9
TIPOS CONTRATUAIS SUBJACENTES AO CRÉDITO BANCÁRIO
Irina Delgado
1. Introdução
2. Empréstimo bancário
José Engrácia Antunes, Direito dos Contratos Comerciais, Almedina, (2009), p. 497.
1
199
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
2
Em 2011, essencialmente o Estado financiou-se através da emissão de bilhetes do tesouro.
De referir a contínua descida das taxas médias de colocação de BT, expressa na variação em
cerca de 8% entre o 1.º trimestre de 2011 e o 1.º trimestre de 2012. Esta acentuada descida é
um dos factores que contribui positivamente para o controle da inflação e para a promoção
do crédito à economia, vide Deloitte, Banca em análise, 2012, p. 63.
3
Sobre a Luibor, vide Aviso do BNA n.º 12/2011 de 20 de Outubro.
4
Aviso n.º 03/2012 de 28 de Março, regula a concessão e a classificação das operações de
créditos pelas instituições financeiras.
5
Concessão de crédito ao consumidor para aquisição de bens de consumo. Esta tipologia
de crédito tem crescido bastante no mercado angolano, contribuindo para um maior finan-
ciamento de economia nacional e desenvolvimento económico do país.
200
TIPOS CONTRATUAIS SUBJACENTES AO CRÉDITO BANCÁRIO
3. Abertura de crédito
6
Sobre o tema, reenvia-se para o artigo de Rute Martins dos Santos, neste volume. No sentido
de repor a confiança na moeda nacional e de garantir a estabilidade cambia, no final de 2009
foi apontado como objectivo do BNA a necessidade de reduzir, de forma inequívoca, a depen-
dência da economia nacional face ao dólar norte-americano. Nesta base foram desenvolvidas
pelo Executivo medidas com este propósito, limitando a utilização da moeda estrangeira na
economia, como exemplo, o limite máximo imposto às casas de câmbio para venda de moeda
estrangeira, a fiscalização do cumprimento da Lei Cambial, o incentivo aos pagamentos no
mercado interno com Kwanzas e a definição de legislação que penalize a recusa do Kwanza
como meio de pagamento em território nacional. Este objectivo, apesar de ainda não estar
próximo da sua conclusão, já permitiu reduzir o diferencial entre as duas moedas, vide KPMG,
Análise ao sector bancário Angolano, 2012, p. 8
7
Carência de juros que consiste no período dentro de um empréstimo, durante o qual não
se pagam juros. A carência pode, também incidir sobre o capital e ser cumulativa a capital e
juros. Situação em que o reembolso do capital e pagamento dos juros se dá no final.
201
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
8
No sentido da definição do artigo 1842 do C.Civil Italiano, que refere a abertura de crédito
bancário como “…il contrato col quale la banca si obbliga a tenere a disposizione dell`altra parte una
somma di denaro per um dato período di tempo o a tempo indeterminato”; António Pedro Ferreira,
Direito Bancário, Quid Juris, 2005, Lisboa, p. 628.
9
José Engrácia Antunes, Direito dos Contratos Comerciais, cit., p. 501.
10
Pereira, Sofia Gouveia, O Contrato de abertura de crédito bancário, regime e natureza
jurídica, cit., p. 8.
11
Continua a ser discutida a sua natureza jurídica, havendo quem o qualifique como um mú-
tuo, um contrato-promessa, um contrato “sui generis”: vide Sofia Gouveia Pereira, O Contrato
de abertura de crédito bancário, Principia, Lisboa, (2000), p. 81-ss.
202
TIPOS CONTRATUAIS SUBJACENTES AO CRÉDITO BANCÁRIO
4. Descoberto Bancário
12
Levantamentos, emissão de cheques.
13
Em Portugal a prática é semelhante, sendo admitido o recurso às normas do mútuo bancá-
rio: na doutrina vide Soares, A. Quirino, Contratos Bancários, 115,in: LII SI (2003), 109-128; na
jurisprudência, os Acórdãos do STJ de 15-XI-1995 (Sá Couto), in: 451 BMJ (1995), 400-444,
e de 16-III-2000 (Miranda Gusmão), in: 495 BMJ (2000), 329-333.
14
Considerando o descoberto uma operação de empréstimo, à qual é aplicável o princípio
da liberdade de forma do art. 396.º do C.Com.
203
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
5. A prestação de garantias
15
ANTUNES, José A. Engrácia, Direito dos Contratos Comerciais, Almedina, cit., p. 536 e
vide Jardim, Mónica, A Garantia Autónoma, Almedina, Coimbra, 2002.
16
Pelo Juiz Britânico John Kerr, na decisão “R.D. Harbottle v. Westminster Ltd.” Citado
por Moens, Gabriel/Gillies, Peter, Internacional Trade and Business: Law, Policy and Ethic, 388,
Routledge Cavendish, New York, 1998.
17
Além destas vantagens comparativas relativamente à fiança (caracterizada pela sua natureza
acessória a obrigação principal), a garantia autónoma sobrepuja ainda em face aos outros
mecanismos alternativos, tais como as cartas de conforto (em virtude do carácter inequívoco
da sua vinculatividade jurídica), o aval (restrito a dívidas cambiais), ou o próprio deposito
em dinheiro (que implica uma imobilização de capital). Sobre as diferenças entre garantia
bancária e autónoma e fiança bancária, vide o Acórdão do STJ de 23-III-1995 (Miranda Gus-
mão), in: III CJ/STJ (1995), I, 137-141.
204
TIPOS CONTRATUAIS SUBJACENTES AO CRÉDITO BANCÁRIO
18
Em Portugal, embora se afigure atípica, está nominada (v. g., art. 106.º,n.º 1 do Decreto-Lei
n.º 405/93, de 10 de Dezembro, art. 4.º, n.º 1,c) do Decreto-Lei n.º69/2004, de 25 de Março) e
objecto de regulação internacional através da “Uniform Rules for Contract Guarantees and
Standby Letters of Credit” de 1995 (eleborada pela CNUDCI). Em sentido oposto, todavia,
reputando-a de contrato inominado, vide o Acórdão da RP de 13-X-2000 (Emérico Soares),
in: XXV CJ (2000), IV, 214-217.
19
Cf. Acórdão da RP de 2-XI-2000 (Leonel Serôdio), in: XXV CJ (2000), V, 177-180.
20
Vide Epifânio, M. Rosário, Garantias Bancárias Autónomas, p. 329 e segs.
205
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
21
Sobre garantias autónomas, vide Gomes, M. Fátima, Garantia Bancária à primeira Solicita-
ção, in: VIII DJ (1995), 119-210; Ribeiro, A. Sequeira, Garantia Bancária autónoma à primeira
Solicitação, in: “Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor I. Galvão Telles”, vol.II, 289-426,
Almedina, Coimbra, 2002.
22
ANTUNES, José A. Engrácia, Direito dos Contratos Comerciais, Almedina, cit., p. 513.
23
Regras editadas pela primeira vez em 1933, sendo correntemente designadas, na sua última
versão em vigor desde 1 de julho de 2007, por “UCP600”, que substituíram as “UCP500” de
1993.
206
TIPOS CONTRATUAIS SUBJACENTES AO CRÉDITO BANCÁRIO
24
O crédito documentário pode surgir associado a garantias bancárias, como sucede com as
clamadas cartas de crédito “standby”, que funcionam como garantia da execução do pagamento
por parte do ordenador, ao passo que o crédito documentário é um instrumento de pagamento,
a carta de crédito é um instrumento de garantia.
25
Prevista no art. 30.º da Lei Uniforme Relativa à Letras e Livranças
207
CAPÍTULO 10
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO BANCÁRIO
E DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
Introdução
1
Este capítulo tem por base análises e estudos efetuados por várias entidades que têm es-
tudado o mercado (Accenture, Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros,
Associação Angola de Bancos, Banco Nacional de Angola, Banco Mundial, Comissão de Mer-
cado de Capitais, Deloitte, Financial IT, Goldman & Company, KPMG, Mckinsey, Trading
Economics), relativamente à evolução da economia/sociedade angolana e à evolução futura dos
serviços financeiros em África e em Angola e considera igualmente as opiniões pessoais dos
autores sobre o tema e outros estudos relativos à Banca em África e em particular em Angola
209
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO BANCÁRIO E DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
1. Desenvolvimento económico
Para iniciar este capítulo importa centrar no que se entende por desen-
volvimento económico devendo, antes de mais, distinguir entre crescimento
económico e desenvolvimento económico.
A forma tradicional de medir o crescimento económico é efetuada através
da medição do crescimento do PIB ou do PIB per Capita. No entanto para que
este crescimento seja sustentável é importante analisar também medidas de
desenvolvimento económico.
Estas medidas têm subjacente um conjunto importante de características
que permitem às gerações atuais acautelar a continuação de crescimento
económico às gerações futuras:
211
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO BANCÁRIO E DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
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no entanto, que a relação do total de créditos face ao PIB bem como o rácio
de transformação bancária, mantiveram-se relativamente estáveis em tornos
de 10% e dos 50%, respetivamente, o que traduz um acesso ao financiamento,
apesar de tudo constante e moderado, por parte das entidades nacionais,
grandes empresas, mas também dos particulares. O crédito vencido tem es-
tado em níveis admissíveis apesar da subida nos últimos anos para valores que
merecem cautela, entre 12-13%.
De um modo geral pode-se dizer que existe uma moderada concentração
no sector, com os 5 maiores bancos comerciais (BPC, BFA, BAI, BIC e BMA
– que resulta da fusão do Banco Privado Atlântico com o Banco Millennium
Angola) a representarem cerca de 70% do mercado. Assiste-se naturalmente a
um aumento da intensidade competitiva, com os grandes bancos a perderem
paulatinamente a sua posição. Por outro lado, tem sido significativa a coopera-
ção do sistema promovida com a constituição do processador de pagamentos,
a EMIS, para o qual o regulador tem tido um papel muito relevante no seu
desenvolvimento e que tem permitido potenciar sinergias relevantes entre
as instituições.
Tem-se assistido a um aumento expressivo do número de balcões que atin-
gem cerca de 2000 em 2016, dos quais cerca de metade se encontram em
Luanda, com mais de 75% dos municípios com cobertura de rede de agências,
bem como a um aumento da bancarização que cresceu de cerca de 11% em
2000 para cerca de 30%, fruto de várias iniciativas lideradas pelo BNA e pelos
bancos comerciais com diversos programas de inclusão financeira, de onde
destacamos a abertura de contas bankita, pelos bancos que subscreverem o
respetivo acordo de adesão com o BNA e que permitem ao BNA pretender
atingir objetivos de bancarização ainda mais expressivos em torno dos 60%
da população adulta.
O número de trabalhadores também tem vindo a aumentar de forma ex-
pressiva nestes últimos 15 anos, empregando o sector atualmente cerca de
21 mil pessoas. Os meios eletrónicos de pagamento também têm aumentado
muitíssimo, tendo crescido entre 2004 e 2015, no caso dos ATM’s cerca de 40%
em média por ano, com crescimentos mais expressivos até 2012, perfazendo
2.777 ATM’s espalhados pelo país em 2015, e no caso dos POS’s crescimentos
anuais superiores a 50% em média por ano, perfazendo mais de 61 mil POS’s
espalhados pelo país em 2015.
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Funções específicas:
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das soluções que tem apresentado. Os bancos têm tido um papel ati-
vo no desenvolvimento de serviços de pagamentos inovadores, com
base numa entidade central de processamento, o que tem permitido
vantagens de escala significativas a todo o sistema bancário. Refira-se
ainda que no âmbito da evolução do sistema financeiro de Angola foi
instituído na última década o sistema de pagamento de Angola (SPA),
com o intuito de supervisionar e regular o sistema de pagamentos
interbancário, o que tem acontecido de forma eficaz. A introdução de
soluções móveis, com o desenvolvimento dos serviços da Banca Postal,
veio facilitar ainda mais a transaccionalidade eletrónica, contribuindo
para a crescente bancarização de todo o sistema. No entanto, não se
avançou para uma solução regulada e interoperável de cariz nacional,
que poderia permitir a integração de diferentes soluções móveis, numa
infraestrutura comum e iniciativa nacional agregadora de inovação e
desenvolvimento tecnológico e que permitiria alavancar ainda mais o
desenvolvimento expressivo deste tipo de soluções, numa ótica de in-
clusão financeira, mas também de desenvolvimento de uma estratégia
de mobilidade para o País com efeitos em áreas tão distintas como a
relação dos cidadãos com o estado, em aspetos como a fiscalidade e o
pagamentos de impostos, o acesso a serviços básicos, proteção social,
saúde, entre muitos outros.
228
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Funções transversais:
233
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
– Desenvolvimento regional
Da mesma forma o sistema bancário desenvolvido ajuda ao progresso
regional, na medida em que os bancos acompanham a atividade dos
seus clientes, e vão-se instalando na sua área de influência, dinami-
zando assim as diferentes regiões onde têm atividade e o comércio
entre estas mesmas regiões.
Deste modo, a banca comercial tem um papel fundamental ao possi-
bilitar o desenvolvimento mais balanceado de diferentes regiões do
país, ajudando à transferência de excesso de capital das áreas mais
desenvolvidas para as áreas menos desenvolvidas.
Assim promovem o desenvolvimento da indústria e de negócios nas
áreas menos favorecidas, fornecendo acesso a capital, mas muitas vezes
também a informação sobre o comércio e necessidades existentes, co-
nhecimento e possibilidades de escoamento de produtos, quer dentro
do país, quer para exportação, promovendo parcerias e contactos de
negócio entre os seus clientes e consequentemente um maior nível de
integração económica a nível das regiões do país.
Avaliação qualitativa: 4/5 – Os bancos comerciais têm feito um esfor-
ço para aumentar a sua cobertura geográfica, em linha com preocupa-
ções do governo no aumento consistente da bancarização. O número
de balcões no interior do País continua a crescer e a acessibilidade
tem sido crescente, não só através de soluções móveis bem como atra-
vés de uma crescente rede de agentes bancários. Na verdade, existe
também um grande interesse por parte dos investidores no desen-
volvimento das zonas mais interiores de Angola, uma vez que Angola
é um País potencialmente muito rico, com uma enorme capacidade
hidroelétrica com base em grandes reservas de água doce, e como base
uma imensa extensão de terra arável, grande parte ainda não culti-
vada, em resultado do enorme período de guerra que assolou o país.
234
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Assim no decorrer dos últimos anos, e mesmo nos anos de crise interna-
cional, Angola tem feito os ajustes necessários que lhe permitam continuar a
aceder às linhas de crédito por parte dos seus principais parceiros comerciais,
sobretudo China e Brasil.
Assim de forma a sistematizar o que tem sido o contributo mais recente
do sistema bancário para o desenvolvimento económico pelas diferentes fun-
ções específicas e transversais, poderíamos qualificar, em termos relativos, o
contributo de cada uma das funções da seguinte forma.
239
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Assim sendo, enfoca-se primeiro nas forças com impacto no sistema ban-
cário, quer as forças mais relacionadas com o ambiente externo (mais macro),
quer as forças mais relacionadas com o ambiente interno ao sistema bancário
(mais sectoriais).
Ao nível do ambiente externo ao sistema bancário destacam-se aspetos
como a estabilidade política, o crescimento perspetivado para a economia, a
maior integração das diferentes regiões de Angola, o aumento da população,
ainda jovem, mais escolarizada e com melhores condições de vida e índices
de saúde.
A nível do ambiente interno ao sistema bancário evidenciam-se a evolução
das necessidades dos clientes e da acessibilidade financeira, o aumento da
regulação e dos níveis de exigência de governo das sociedades, o desenvol-
vimento do mercado de capitais e do mercado de seguros, assim como uma
maior intensidade competitiva no sistema bancário (entre atuais intervenien-
tes e futuros).
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Modelos Low-cost:
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económicas com quem Angola interage (seja por uma presença de ins-
tituições estrangeira, seja pela presença de instituições angolanas no
estrangeiro), acentuando-se ou diluindo-se essa presença em função
do desenvolvimento económico, do acesso a capital e investimento ou
da interação com esses países ou regiões, destacando-se, Brasil, China,
Europa (em particular Portugal) ou Países Africanos (em particular
África do Sul).
É também crescente o envolvimento das instituições financeiras e o
investimento Angolano noutras economias com as quais existe maior
relação, nomeadamente em Portugal, mas também noutros países vizi-
nhos, para onde esta canalização do investimento possa fazer sentido,
nomeadamente Namíbia e África do Sul ou Moçambique.
Todas estas tendências terão impacto no desenvolvimento económico,
sendo que nos quadros seguintes se faz uma análise da forma como
estas tendências podem individualmente contribuir genericamente
para o desenvolvimento económico, de forma a que o contributo do
sector bancário angolano seja cada vez mais progressivo ou muito re-
levante para o desenvolvimento económico angolano.
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que actuem com coragem e sempre busca da criação de valor para todos, em
prol do desenvolvimento económico e humano conforme aqui enquadrámos
ao longo deste capítulo, fornecendo a visão, o alento e o conhecimento estra-
tégico ao desenvolvimento da economia e dos seus atores principais (empresas
e cidadãos), favorecendo a adopção de iniciativas promissoras e de futuro nos
mais diversos sectores económicos, com consciência dos riscos inerentes à
mudança, com respeito pela instabilidade financeira, pela volatilidade (regio-
nal ou mundial) ou pelo mercado externo, de forma a que o sistema bancário
Angolano seja cada vez mais forte, promissor e sustentável.
280
Parte III
Mercado de valores mobiliários
281
CAPÍTULO 11
FONTES
1. Antecedentes históricos
1
Aprovado pela Carta de Lei de 28 de Junho de 1888.
2
FERREIRA, Amadeu J., Valores Mobiliários Escriturais, (1997), p. 25.
283
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
3
Capítulo IX Das instituições de auxiliares de crédito Art. 105.º Serão criadas bolsas de fundos em Luan-
da e Lourenço Marques, nos termos do artigo 15.º do Decreto-Lei n.º 44 652, bem como noutras cidades
das províncias ultramarinas, quando o desenvolvimento dos mercados financeiros regionais o justifique. §
1.º A criação das bolsas de fundos nas províncias ultramarinas será determinada por decreto dos Ministros
das Finanças e do Ultramar, ouvido o Conselho Nacional de Crédito, não podendo, todavia, existir mais
de uma bolsa nas províncias de governo simples e de duas bolsas nas províncias de governo-geral. § 2.º As
operações de fundos de cada uma das bolsas serão presididas e fiscalizadas por um delegado do governo da
província. § 3.º No decreto referido no 1.º será estabelecido o número de corretores de fundos.
284
FONTES
4
TORRES, Adelino, Pacto colonial e industrialização de Angola (anos 60-70), in “Análise Social”,
Vol. XIX (77-78-79), 1983. Disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/122346
5985W6dOR5rt8Jv59IF7.pdf.
5
Dados retirados do Curso de Educação Política 78/79. Documentos do 1º Congresso, elabo-
rado pelo Departamento de Educação Política e Ideológica do Comité Central do MPLA-PT.
Pág. 25, 115, Luanda, 1979.
6
O Banco Nacional de Angola e o Banco Popular de Angola, foram criados através da Lei nº
69/76, de 5 de Novembro canalizando os activos e passivos oriundos do Banco de Angola e
do Banco Comercial de Angola, que foram nacionalizados.
285
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
7
É assim que são feitas as primeiras negociações para integração em instituições e organismos
financeiros internacionais. Em 1987, teve lugar o primeiro reescalonamento da dívida externa
de Angola no Clube de Paris e em 1989, Angola aderiu ao Fundo Monetário Internacional
(FMI) e ao Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). Fonte: “Evo-
lução Histórica do Sistema Financeiro Angolano” http://www.abanc.ao/sistema-financeiro/
evolucao-historica/evolucao-historica-do-sistema-financeiro-angolano
286
FONTES
287
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
8
Dados retirados do Memorando sobre a Institucionalização do Mercado de Capitais, ela-
borado aos 8 de Julho de 2004 pelo Núcleo do Mercado de Capitais em Angola, coordenado
pelo Dr. António da Cruz Lima.
288
FONTES
9
Criada pelo Decreto n.º 9/05 do Conselho de Ministros e publicado a 18 de Março de 2005
no Diário da República de Angola, que aprova o seu Estatuto Orgânico. Nos termos do referido
Estatuto, constituem atribuições da Comissão do Mercado de Capitais, a regulação, super-
visão, fiscalização e promoção do mercado de capitais e das actividades que envolvam todos
os agentes que nele intervenham, directa ou indirectamente, tendo em vista a realização dos
seguintes objectivos: Estimular a formação da poupança e a sua aplicação em valores mobi-
liários; Promover a organização e funcionamento regular e eficiente do mercado de capitais;
Assegurar a transparência do mercado de capitais e das transacções que nele se efectuam;
Assegurar aos investidores e intermediários financeiros em geral uma informação suficiente,
verídica, objectiva, clara, acessível e atempada sobre os valores mobiliários, as entidades que
os emitem e as transacções que são efectuadas.
10
Dados retirados do Memorando sobre a Institucionalização do Mercado de Capitais, ela-
borado aos 8 de Julho de 2004 pelo Núcleo do Mercado de Capitais em Angola coordenado
pelo Dr. António da Cruz Lima.
289
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Neste sentido foram traçadas algumas acções essenciais, das quais desta-
camos a elaboração de um Código do Mercado de Capitais, a harmonização
da legislação sobre o mercado de capitais com o Código Civil e Comercial e
a Lei das Sociedades Comerciais; a compatibilização a legislação dispersa e
avulsa sobre valores mobiliários com o Código do Mercado de Capitais; a com-
patibilização do Código do Mercado de Capitais com a Lei de Investimento
Estrangeiro e a Lei de Privatizações e a produção de legislação complementar
para o funcionamento do mercado de capitais, como a Lei de Falências.
Para esse efeito, era fundamental a criação de instrumentos que permi-
tissem às empresas contar com outras opções de investimentos e promover
as mesmas para um mercado alternativo de financiamento. Na altura, era
evidente a crescente internacionalização da economia angolana. Assim sen-
do, e no intuito de reforçar o princípio da transparência da informação e das
operações empresariais que se realizavam no país, sempre na defesa do inte-
resse de todos os investidores, foi aprovada não um Código do Mercado de
Capitais, como preconizado no Programa do Governo de Modernização das
Finanças Públicas, mas a Lei dos Valores Mobiliários, cujo objectivo principal
prendia-se com a regulação dos actos e operações com valores mobiliários,
promover o desenvolvimento ordenado e a transparência do mercado de ca-
pitais, bem como, a adequada protecção aos investidores e ainda estabelecer
competências, relativamente à supervisão e regulação dos valores mobiliários11.
De 2005 a 2015 foram implementadas uma série de medidas de reestrutu-
ração do sistema financeiro angolano que passaram pela introdução, regulação
e desenvolvimento do mercado de capitais, tendo sido aprovada a aprovação
da Lei 12/05 de 23 de Setembro – Lei dos Valores Mobiliários (“LVM”) que
foi fundamental para a implementação do mercado de valores mobiliários an-
golano, uma vez que vem promover a regularização de todo regime referente
aos valores mobiliários e o estabelecimento de competências, relativamente a
supervisão e regulação destes instrumentos, bem como possibilitou a criação
de novos instrumentos financeiros que possibilitariam as empresas contar
com outras opções de financiamento.
borado aos 8 de Julho de 2004 pelo Núcleo do Mercado de Capitais em Angola coordenado
pelo Dr. António Joaquim da Cruz Lima.
290
FONTES
291
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
2.3. Fontes não específicas, mas com influência no direito dos valores
mobiliários
292
FONTES
12
António Francisco de Sousa, Constituição da República de Angola Anotada e Comentada
(2014).
293
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
13
Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, 4ª Edi-
ção, (ano), p. 490; Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, 2ª Edição, pp.
454 e 455; Jorge Coutinho de Abreu, “Limites constitucionais à iniciativa económica privada”,
in Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Estudos em Homenagem
ao Professor Ferrer-Correia, Tomo III, (ano), pp. 413 e 414.
294
FONTES
O mesmo sucede em Portugal: cfr. a propósito Paulo Câmara, Manual de Direito dos Valores
14
295
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
15
Teve activa participação e influência na aprovação da referida lei, o Dr. António da Cruz
Lima, tendo coordenado o processo.
16
O Ministro das Finanças criou, em 5 de Outubro de 2012, uma Comissão interdisciplinar,
composta por membros da CMC. BNA e da ARSEG que tinha como missão proceder a elabo-
ração de propostas de revisão da Lei das Instituições Financeiras e Lei dos Valores Mobiliários.
Esta comissão coordenada pela CMC, na pessoa do Dr. Archer Mangueira, foi responsável por
proceder a revisão destes dois diplomas, tendo o Código de Valores Mobiliários sido aprovado
graças a sua activa intervenção, pelo que se pode denominá-lo, a semelhança do que ocorre
em outras realidades, de “Código Mangueira”. Já a LBIF teve uma activa participação do BNA.
296
FONTES
297
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
298
FONTES
mobiliários referidos nas alíneas (i) a (iii), desde que o destaque abranja toda a
emissão ou série ou esteja previsto no acto de emissão; (v) outros documentos
representativos de situações jurídicas homogéneas, desde que sejam suscep-
tíveis de transmissão em mercado. (al q) do n.º 2 do artigo 2.º do CódVM).
A Lei n.º 1/04, de 13 de Fevereiro – Lei das Sociedades Comerciais (“LSC”)
continha, até à aprovação do CódVM, o regime essencial relativo às acções,
obrigações, e das sociedades comerciais. Com a aprovação do código, foram
também revogados alguns aspectos previstos nesta lei, passando a estar reu-
nido no Código o regime geral aplicável a todos valores mobiliários (acções
e obrigações) 20.
O CódVM atribiu, igualmente, especial tratamento a todos intervinientes
nos mercados regulamentados, tais como, os emitentes de valores mobiliários,
estabelecendo no Título IV um conjunto de obrigações de transparência e
alinhamento com as melhores práticas internacionais no que respeita ao go-
verno das sociedades.
No Título V é desenvolvido o regime geral das ofertas de valores mobiliá-
rios, onde a posição nuclear é reservada a oferta pública sem, contudo, coartar
a possibilidade dos casos das ofertas particulares. É no Título VI que vem
previsto o regime dos mercados regulamentados, onde o mercado de bolsa e
o mercado de balcão organizado aparecem como figuras centrais.
O Título VII cuida dos prospectos, prevendo-se um regime comum aos
prospectos de oferta pública e de admissão à negociação em mercado regula-
mentado, equilibrando deste modo a assimetria informativa entre emitentes
e investidores e tornando a informação mais acessível para investidores.
O Título VIII é reservado para os serviços e actividades de investimento
e para o exercício dos referidos serviços, pelos agentes de intermediação.
São impostos a estes deveres especiais quanto a sua actuação nos mercados
20
A Lei que aprova o CódVM procedeu a alteração dos artigos 112.º, 113.º, 177.º, 241.º, 304.º
350.º, 369.º, 374,º, 375.º, 377.º, 449.º da LSC. Importa, também, destacar que o CódVM proce-
deu a revogação do Regime Jurídico do Mercado Regulamentado de Dívida Pública Titulada,
aprovado pelo Decreto Legislativo Presidencial n.º/13, de 09 de Outubro, integrando a dívida
pública no CódVM (com diversas excepções) com vista a criar uma maior uniformização e
evitar dúvidas sobre extensão das remissões para o CódVM, que era notório no regime re-
vogado. Procedeu-se, também, a substituição das referências a “sociedades com subscrição
pública” pela expressão “sociedade com o capital aberto ao investimento do público”, com
consagração terminológica no actual Código.
299
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
5. Legislação Autónoma
A CRA estatui, nos artigos 99.º e alínea e) do artigo 165.°, que “o sistema
financeiro é organizado de forma a garantir a formação, a captação, a capitalização e
a segurança das poupanças, assim como a mobilização e a aplicação dos nossos recursos
financeiros necessários ao desenvolvimento económico e social, em conformidade com a
Constituição e a lei”, tendo a Assembleia Nacional a reserva relativa de compe-
tência legislativa para proceder a definição das bases do sistema financeiro
e bancário.
A Lei de Bases das Instituições Financeiras, aprovada pela Lei n.º 12/15,
de 17 de Junho (“LBIF”), regula o processo de estabelecimento, o exercício
de actividade, a supervisão, o processo de intervenção e os regimes sanciona-
tório e de liquidação das instituições financeiras. A semelhança do sucedeu
com a aprovação do CódVM, a LBIF vem, deste modo, capacitar o sistema de
regulação e supervisão financeira de ferramentas avançadas, assegurando a
estabilidade e robustez do sistema financeiro21.
Sendo que procede a regulação de parte relevante do enquadramento
institucional das instituições financeiras que operam nos mercados regula-
mentados, está alinhada com todo o ajustamento legal e conceptual estabe-
lecido pelo CódVM.
21
Sobre os deveres fundamentais das instituições financeiras bancárias plasmados neste
diploma, ver Joana Pinto Monteiro, no capítulo 6 neste volume.
300
FONTES
22
Importa salientar que procedeu a eliminação da do leque das IFNB, sujeitas à supervisão da
CMC, as sociedades gestoras de participações sociais uma vez que entendeu que a a sujeição
das mesmas aos requisitos prudenciais e comportamentais mais pesados e complexos, das
instituições financeiras perde pertinência, colocando este tipo de sociedades numa situação
de desvantagem competitiva, sem qualquer utilidade discernível para os mercados financeiros.
23
Cuja actividade vem regulada pelo Decreto Legislativo Presidencial n.º 5/13, de 9 de Ou-
tubro, que aprova o Regime Jurídico das Sociedades Corretoras e Distribuidoras de Valores
Mobiliários.
301
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
302
FONTES
24
Diana Pinto Rodrigues/ Maria Elisabete da Costa Pereira, A titularização de activos
enquanto instrumento de financiamento, disponível em http://www.ordemeconomistas.pt/xpor-
talv3/file/XEOCM_Documento/99037/file/Eventostema_financas.pdf
303
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
304
FONTES
305
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
(i) imposto de SISA quanto aos imóveis adquiridos; (ii) Imposto Predial Ur-
bano quanto aos imóveis detidos e não arrendados (apenas no caso dos OIC
de subscrição pública) e (iii) Imposto do Selo quanto aos imóveis adquiridos
(artigo 15.º do RFOIC).
Quanto aos participantes dos OIC, determina o RFOIC que os mes-
mos estão, igualmente, isentos de imposto sobre a Aplicação de Capitais e
Imposto Industrial sobre os rendimentos recebidos ou postos à sua disposição,
nomeadamente, resultantes de resgates, distribuições de rendimentos, sobre
mais-valias ou menos valias apuradas na alienação das unidades de participa-
ção (artigo 16.º do RFOIC).
306
FONTES
307
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
26
Disponíveis no site: https://www.cmc.gv.ao/sites/main/pt/Paginas/genericFileList.aspx?
mid=143&smid=178&FilterField1=TipoConteudo_x003A_Code&FilterValue1=REG
27
Revoga o Regulamento n.º 3/14, de 30 de Outubro.
308
FONTES
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FONTES
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
322
FONTES
– Instrução BODIVA n.º 3/15, dos Efeitos dos Eventos: visa instruir sobre o
regime aplicável aos eventos societários, nomeadamente, as obrigações
do Emitente, relativas ao resgate de juros, dividendos, resultantes dos
activos por ele emitidos.
– Instrução BODIVA n.º 6/15, do Manual de Utilizador de Membro de
Liquidação: define os procedimentos de utilização do SIMER Custódia pelos
Técnicos de Processamento de Operações dos Membros de Liquidação BODIVA.
8. Doutrina
323
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
324
FONTES
325
CAPÍTULO 12
NOTAS SOBRE A REGULAÇÃO DO MERCADO
DE VALORES MOBILIÁRIOS EM ANGOLA
Mário Gavião
1
Quer por meio de Leis de competência da Assembleia Nacional (Lei de Bases das Institui-
ções Financeiras e o Código dos Valores Mobiliários) quer por meio de Decretos Legislativos
Presidenciais (Entre outros, o Regime Jurídico das Sociedades Corretoras e Distribuidoras
de Valores Mobiliários e o Regime Jurídico dos Organismos de Investimento Colectivo).
327
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
2
Nos termos da alínea l) do artigo 120.º da Constituição da República de Angola, compete
ao Presidente da República, enquanto titular do Poder Executivo, elaborar regulamentos
necessários à boa execução das leis.
3
Carlos Costa Pina, Instituições e Mercados Financeiros, cit., pág.110 e ss, Almedina 2005.
4
Paulo Câmara, Manual de Direito dos Valores Mobiliários, cit., pág. 252, Almedina 2009.
328
NOTAS SOBRE A REGULAÇÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS EM ANGOLA
329
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Pela nossa parte, aliando a questão jurídica à ordem social, não podía-
mos deixar de seguir o segundo entendimento. Aliás só assim seria coerente
com uma visão virada para o acompanhamento eficiente, independente e
transparente do mercado de valores mobiliários. Consideramos, pois, que os
regulamentos da CMC são complementares, constituindo um conjunto de
regras técnicas, destinadas ao bom funcionamento do mercado de valores
mobiliários (sublinhe-se aqui, exclusivamente, do mercado de valores mobi-
liários, uma vez que será este o fim específico que norteia a descentralização
institucional, por via do Estatuto Orgânico da CMC, da LBIF e do CdVM).
A este propósito, seguimos o entendimento de Luís S. Cabral de Moncada,
(Cfr. Lei e Regulamento, Coimbra Editora, pág. 1086 e ss.), quando refere que “a
questão dos regulamentos dos entes públicos menores … é mais complexa do que parece.”.
“É líquido que a competência regulamentar daquelas entidades, quando exista, não sendo
criada (ou reconhecida) pela Constituição, deve ser criada pelo legislador. Não é, neste
sentido, originária. Daí decorre que o regulamento emitido nestas circunstâncias não
é, em rigor, independente, pois sempre manterá uma ligação, ténue embora, à lei, que,
no mínimo, definirá a competência objectiva e subjectiva para a respectiva emissão.”.
É justamente a situação jurídica regulatória actual da CMC, uma vez não
instituído o regime jurídico das entidades administrativas independentes6.
Apesar de a Constituição de 2010 não reconhecer expressamente compe-
tência regulamentar à CMC, a lei tratou de o fazer. Daí considerarmos que os
regulamentos emitidos pela CMC não são, em rigor, independentes7, uma vez
que a sua aprovação tem na génese uma devolução de poderes efectivada pelo
Titular do Poder Executivo, por Decreto Presidencial, e pela Assembleia Na-
cional, por meio de uma lei habilitante (que decorrem de propostas de Lei do
Titular do Poder Executivo), que define a competência objectiva e subjectiva.
Conforme vimos, por força da alínea l) do artigo 120.º da CRA, o Titu-
lar do Poder Executivo é competente para a elaboração dos regulamentos
6
Nos termos do n.º 3 do artigo 199.º da CRA.
7
Segundo Diogo Freitas do Amaral, os regulamentos independentes ou autónomos “são, dife-
rentemente, aqueles regulamentos que os órgãos administrativos elaboram no exercício da sua competência,
para assegurar a realização das suas atribuições específicas, sem cuidar de desenvolver ou complementar
nenhuma lei em especial”, acrescentando ainda que “exige-se para a validade de qualquer regulamento
independente, que eles indiquem expressamente a lei ou leis que atribuam competência (subjectiva e objec-
tiva) para a emissão do regulamento, ou seja as leis de habilitação” (Cfr. Diogo Freitas do Amaral,
Direito Administrativo Volume III, Lisboa 1989, págs. 20 e 22).
330
NOTAS SOBRE A REGULAÇÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS EM ANGOLA
necessários à boa execução das leis, sendo que ope legis (designadamente por
força da LBIF8 e o CódVM) dá-se uma transferência do poder regulatório, por
um lado, e, por outro, por força do Estatuto Orgânico da CMC, efectiva-se
uma “devolução de poderes” à CMC.
Nesta senda, o n.º 1 do artigo 4.º do Estatuto Orgânico da CMC, aprovado
pelo Decreto Presidencial n.º 54/13, de 6 de Junho, confere genericamente
à CMC as atribuições de “… regular … o mercado de capitais e das actividades que
envolvam todos os agentes que nele intervenham …”, concretizando-a na alínea c)
do artigo 19.º, firmando que ao Conselho de Administração da CMC caberá
aprovar os regulamentos disciplinadores do mercado de valores mobiliários. Por certo,
será pacífico o entendimento segundo o qual, não será em sede de Estatuto
Orgânico que se daria tratamento, em concreto, do âmbito e extensão objecti-
va e subjectiva das matérias objecto de desenvolvimento regulatório, restando
este enquadramento à lei.
Coerente com a sistematização seguida pelo Estatuto Orgânico da CMC, o
n.º 3 do artigo 8.º da LBIF, vem determinar, em termos genéricos, que “compete
ao Organismo de Supervisão do Mercado de Valores Mobiliários9 regular o exercício das
actividades das instituições financeiras não bancárias enunciadas no n.º 3 do artigo 7.º,
bem como os produtos e os serviços e actividades de investimento em valores mobiliários e
derivados por quaisquer outras instituições financeiras”. A determinação em concre-
to das matérias a serem tratadas em sede regulatória pela CMC, em coerência
com o que vimos defendendo, vão sendo fixadas ao longo do diploma10.
Por fim, o CdVM segue o mesmo paradigma, reconhecendo, primeiro,
genericamente, e, de seguida, em inúmeras disposições legais a competência
regulatória específica à CMC.
Vejamos em primeiro lugar a competência genérica.
O Título II, dedicado à supervisão e regulação, estabelece, logo no arti-
go 17.º, alíneas a) e b), duas atribuições fundamentais: a primeira relativa à
8
Tendo em conta o sistema de governo vigente em Angola, é discutível que esta transferência
de poderes possa ser operada por lei. Não caberá aqui tratar deste tema, que nos parece de
certa forma controvertido.
9
10
A título de exemplo, o artigo 105.º, sobre a definição do capital social mínimo, o artigo 120.º,
sobre supervisão, e todas as outras disposições remissivas que, por força da técnica legislati-
va utilizada neste diploma, mandam aplicar, com as necessárias adaptações, às instituições
financeiras não bancárias o previsto para as instituições financeiras bancárias.
331
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
11
O Organismo de Supervisão do Mercado de Valores Mobiliários em Angola é a Comissão
do Mercado de Capitais (CMC).
12
Não se quer com isso dizer que o Código dos Valores Mobiliários não observa, também
ele, laivos desta dimensão subjectiva, uma vez que há um conjunto de instituições que con-
tribuem para a dinâmica do mercado de valores mobiliários e que se encontram sob tutela do
Código. Todavia, muito menos marcante do que está patente na Lei de Bases das Instituições
Financeiras. Na verdade, é na Lei de Bases das Instituições Financeiras que encontramos o
elenco de instituições financeiras que operam com agentes de intermediação, bem como o
seu processo de licenciamento.
332
NOTAS SOBRE A REGULAÇÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS EM ANGOLA
13
Em termos especiais, em respeito às limitações vertidas na LBIF. Na verdade, por desenvol-
verem serviços e actividades de investimento em valores mobiliários, tal como as instituições
financeiras não bancárias, ligadas ao mercado de valores mobiliários, são consideradas pelo
CdVM como agentes de intermediação.
14
Sendo que, cremos que por lapso legislativo, as sociedades gestoras de organismos de
investimento colectivo se encontram de fora do leque de instituições financeiras definidas
no n.º 3 do artigo 7.º da LBIF.
333
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
334
NOTAS SOBRE A REGULAÇÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS EM ANGOLA
16
Cfr. alínea e) do n.º 1 do artigo 6.º da LBIF.
17
Cfr. as alíneas a) a e) do n.º 3 do artigo 7.º da LBIF.
335
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
18
Há um conjunto de outras matérias previstas no artigo 353.º, bem como outras previstas
em diplomas avulso.
19
Cfr. n.º 1 do artigo 8.º do CdVM.
336
NOTAS SOBRE A REGULAÇÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS EM ANGOLA
337
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
22
Cfr. alíneas a) a d), f) e h) do n.º 1 e alínea b) do n.º 2 do artigo 235.º do CdVM.
23
Cfr. o n.º 1 do artigo 36.º do CdVM.
24
Cfr. os n.ºs 3 e 4 do artigo 38.º do CdVM.
25
Cfr. artigo 50.º do CdVM.
26
Não será objecto de estudo os critérios de qualificação, uma vez que no propusemos tratar
apenas do conteúdo e alcance do poder regulatório da CMC.
338
NOTAS SOBRE A REGULAÇÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS EM ANGOLA
27
O artigo 115.º do CdVM, na sua parte final, permite-nos concluir que existirão outros
elementos a ter em conta, para que a CMC exerça esse poder, que não só a dispersão.
28
Sobre a imputação dos direitos de voto vide artigo 122.º do CdVM.
339
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
29
Cfr. o n.º 5 do artigo 140.º do CdVM.
30
Haverá seguramente outras realidades tratadas no CdVM, como seja a auditoria, a gestão
de mercados regulamentados etc. Todavia, não serão tratadas neste pequeno ensaio que se
pretende mais objectivo.
340
NOTAS SOBRE A REGULAÇÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS EM ANGOLA
32
Preferimos designar por licenciamento por ser mais amplo, podendo aí incluir tanto a
autorização como o registo.
341
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
33
No sentido mais amplo que a definição constante da alínea a) do artigo 2.º do CdVM
pretende alcançar.
34
Não caberá aqui fazer uma análise crítica a cada um dos serviços, mas tão-somente pro-
curar um traço distintivo, que nos permita isolar a regulação da instituição e a regulação dos
serviços e actividades de investimento.
35
Contratos ligados a recepção e a transmissão de ordens por conta de outrem; execução de
ordens por conta de outrem; gestão de carteiras por conta de outrem, etc.
36
Cfr. artigos 356.º e 357.º do CdVM.
342
NOTAS SOBRE A REGULAÇÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS EM ANGOLA
activos por si detidos37, nos termos previstos nos n.ºs 2, 3 4 do artigo 386.º
do CdVM.
Caberá ainda na perspectiva regulatória material, a regulação dos valores
mobiliários. Aqui, sem pretender aprofundar o tema, iremos apenas fazer
uma incursão superficial sobre os valores mobiliários previstos no CdVM,
designadamente sobre o conceito e tipos aí consagrados, dispensando algum
tempo às competências regulatórias da CMC.
O CdVM começa por fazer uma enumeração exemplificativa, dos valores
mobiliários, ao estabelecer na alínea q) do artigo 2.º que são valores mobi-
liários as i. acções; ii. as obrigações; iii. as unidades de participação em organismos de
investimento colectivo; iv. os direitos destacados das acções, obrigações e das unidades
de participação, desde que o direito destacável abranja toda a emissão ou série ou esteja
previsto no acto de emissão. Concretiza a definição, no ponto v., considerando
ainda como valores mobiliários, outros documentos representativos de situações
jurídicas homogéneas, desde que sejam suseptíveis de transacção em mercado38.
Desde logo, por força do n.º 2 do artigo 46.º do CdVM, pode a CMC es-
tabelecer, por regulamento, as regras relativas à capacidade para a emissão
de valores mobiliários. Trata-se de uma faculdade atribuída ao Organismo
de Supervisão do Mercado de Valores Mobiliários de, fazendo um juízo de
necessidade, poder lançar mão daquela faculdade.
Cabe ainda à CMC, nos termos previstos no n.º 2 do artigo 63.º do CdVM,
regular o registo dos valores mobiliários escriturais, quando não integrados
em sistema centralizado e sejam ao portador, os valores mobiliários emitidos
conjuntamente por mais de uma entidade e as unidades de participação em
organismos de investimento colectivo.39 Já a competência para regular o re-
gisto no emitente e em agente de intermediação, está sob responsabilidade
do Ministro das Finanças, por Decreto Executivo40, ouvida a CMC, conforme
o previsto no n.º 1 do artigo 63.º do CdVM.
37
Cfr. o artigo385.º do CdVM.
38
Não iremos problematizar a definição perfilhada pelo CdVM, apenas pretendemos fazer
uma breve incursão sore o poder regulatório da CMC sobre os valores mobiliários previstos
no CdVM.
39
Cfr. n.º 1 do artigo 67.º do CdVM.
40
Trata-se de uma norma bastante controversa, a luz do sistema de governo angolano, uma
vez que, nos termos da alínea l) do artigo 120.º da CRA, compete ao Presidente da República.
343
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
41
Cfr. alínea j) do artigo 2.º do CdVM.
42
Cfr. artigo 159.º do CdVM.
43
Cfr. n.º 2 do artigo 155.º do CdVM.
344
NOTAS SOBRE A REGULAÇÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS EM ANGOLA
4. Conclusões
44
Apesar de existirem normas sobre as entidades gestoras de mercados regulamentados,
ligadas à dimensão institucional. A título de exemplo, como vimos anteriormente, as alíneas
a) a d), f) e h) do n.º 1 e alínea b) do n.º 2 do artigo 235.º do CdVM.
45
Cfr. alínea e) do n.º 1 e alíneas a), c), d), e) e f) do n.º 2 do artigo 235.º do CdVM.
345
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
346
CAPÍTULO 13
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
1. Introdução
O mercado de valores mobiliários é um segmento do mercado financeiro
onde é efectuado o encontro entre a procura e a oferta de valores mobiliários,
representando, deste modo, uma fonte de financiamento alternativa de médio
e longo prazo. Em Angola, a implementação do mercado de valores mobi-
liários é relativamente recente. Em 2005, como consequência do Programa
de Modernização das Finanças Públicas 2002-2004, que criava as premissas
para a necessidade de regulação e desenvolvimento do mercado de capitais,
ainda exíguo, na altura, foi aprovada em 2005 a Lei dos Valores Mobiliários
que representou um passo importante, na implementação e regulação do
mercado de valores mobiliários, tendo em conta o estádio de desenvolvimento
da economia nacional.
Diante do cenário muito dominado pelo financiamento bancário, esta lei
possibilitou a criação de novos instrumentos financeiros que possibilitariam
as empresas contar com outras opções de financiamento. Dez anos após a
aprovação da LVM, o Executivo angolano reformulou o quadro regulamentar
347
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
2. Origem e evolução
1
No âmbito dos Objectivos e Princípios para a regulação de valores mobiliários estabelecidos pela
IOSCO, a regulação do mercado de valores mobiliários e instrumentos derivados deve as-
sumir como objectivos centrais a protecção dos investidores, o assegurar da eficiência, do
funcionamento regular e da transparência do mercado de valores mobiliários e instrumentos
derivados, a prevenção do risco sistémico e a promoção do desenvolvimento do mercado de
valores mobiliários e instrumentos derivados.
2
A doutrina italiana dividia os títulos de crédito em títulos de crédito propriamen-
te ditos, títulos de crédito que servem para a aquisição de direito real, títulos de crédito
348
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
atributivos da qualidade de sócio e títulos de crédito que dão direito à prestação de serviço. Ary
Oswaldo Mattos Filho, “O conceito de valor mobiliário”. Rev. adm.empres. vol.25. São Paulo Apr./
June 1985. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75901985000200003. O direito francês subdi-
vidiu a categoria italiana dos títulos de crédito em dois grandes subgrupos – a saber, a dos
effets de commerce e a dos valeurs mobilières, ambas pertencentes ao grupo maior dos titres négo-
ciables. O direito norte americano desconhece a teorização geral de títulos de crédito. Nos
EUA, a complexidade do conceito de valor mobiliário evoluiu de acordo com a sofisticação
do mercado. Sobre o tema, vide mais em CÂMARA, Paulo, Manual de Direito dos Valores
Mobiliários, 2ª Edição, págs. 109-117. Almedina, 2009. Ary Oswaldo Mattos Filho, “O conceito
de valor mobiliário”. Rev. adm. empres. vol.25 no.2 São Paulo Apr./June 1985. http://dx.doi.
org/10.1590/S0034-75901985000200003.
3
Tanto os valores mobiliários como os títulos de crédito são documentos vocacionados para
representação de posições jurídicas, com um regime circulatório fluído, são juridicamente
considerados como coisas, na acepção do artigo 202.º do CC, contudo não são figuras idên-
ticas, uma vez que apresentam traços distintivos tais como a fungibilidade e a possibilidade
de emissão em massa dos valores mobiliários. Vide mais em CÂMARA, Paulo, “Manual de
Direito dos Valores Mobiliários”, 92, Almedina, 2009.
4
Falar da introdução dos valores mobiliários na ordem jurídica nacional, implica fazer uma
pequena incursão ao surgimento desta figura no orgenamento jurídico português. A aprovação
do Código Commercial Portuguez, de Ferreira Borges em 1833, foi um marco neste processo,
na medida em que o referido diploma fez o enquadramento jurídico da actividade comercial
em geral, e das figuras “praça de commercio” ou “bolça” bem como estabeleceu as regras de
funcionamento das bolsas. Seguiu-se a aprovação do Código Comercial Português de Veiga
Beirão, aprovado em 1888, e o Regulamento das Bolsas de 1889, que deram um impulso
decisivo na criação das Bolsas de Valores, construindo o enquadramento regulamentar que
previa a existência de segmentos nas bolsas para se negociarem valores mobiliários. O Código
Comercial Português de Veiga Beirão, actualmente em vigor em Angola continha “uma grande
diversidade terminológica com significados jurídicos distintos, todos reconduzíveis à categoria de títulos
de crédito”. Em 1901 é aprovado o Regimento do Ofício do Corretor, que prevê a existência
de uma categoria de Corretores dedicados em exclusivo à intermediação dos negócios com
valores e o Regulamento de Bolsa, que admite, pela primeira vez, a especificidade jurídica
do mercado de valores mobiliários.
5
Na fase que vai de 1976 à 1994 foram implementadas um conjunto de medidas que tinham
como objectivo principal redimensionar o sector empresarial do Estado, facto que levou a
no sentido de tornar mais eficiente a organização e gestão económica do país. Nesta fase
349
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
350
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
351
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
a determinação do seu conteúdo, representa uma questão que deve ser solu-
cionada, atendendo aos dados que cada sistema jurídico oferece7. No cenário
actual, grande parte das ordens jurídicas optam por perfilhar conceitos de-
masiado alargados, no sentido de evitar a definições que venham a ser ultra-
passadas pelas práticas dos mercados8.
7
“…não auxiliam na depuração do conceito, por razões substancialmente diferentes. A um tempo quer o
direito inglês quer o direito federal norte americano, para escapar a abordagens definitórias que venham
a ser ultrapassadas pelas práticas dos mercados, perfilham um conceito deliberadamente muito amplo,
que tem sido considerado excessivamente alargado, do que designam respectivamente como investiments
(ou investiment securities) e securities. Por arrastamento disso ressentem os textos de Direito internacional
mobiliário à data existente. (…). Por outro lado, cometendo vicio diferente, o direito comunitário mostra
muitas hesitações ao longo das múltiplas directivas que se referem aos valores mobiliários, não sendo estável
quanto a fixação de um conceito de valor mobiliário”. Vide mais em CÂMARA, Paulo, “Manual de
Direito dos Valores Mobiliários”, 92, Almedina, 2009.
8
Em termos de direito comparado, podemos verificar que o legislador norte-americano
não dá uma definição de valor mobiliário, elencando apenas os instrumentos que podem ser
enquadrados como tal. A definição oficial de 1933 é de que o termo securities “…means any note,
stock, treasury stock, security future, bond, debenture, certificate of interest or participation in any profit-
-sharing agreement or in any oil, gas, or other mineral royalty or lease, any collateral-trust certificate,
preorganization certificate or subscription, transferable share, investment contract, voting-trust certificate,
certificate of deposit for a security, any put, call, straddle, option, or privilege on any security, certificate
of deposit, or group or index of securities (including any interest therein or based on the value thereof),
or any put, call, straddle, option, or privilege entered into on a national securities exchange relating to
foreign currency, or in general, any instrument commonly known as a “security”; or any certificate of
interest or participation in, temporary or interim certificate for, receipt for, or warrant or right to subscribe
to or purchase, any of the foregoing; but shall not include currency or any note, draft, bill of exchange, or
banker’s acceptance which has a maturity at the time of issuance of not exceeding nine months, exclusive
of days of grace, or any renewal thereof the maturity of which is likewise limited”. Section 3-Definitions
and Application. Securities Exchange Act of 1934. Segundo VERA HELENA DE MELLO
FRANCO e RACHEL SZTAJN são elementos da definição de securtities, tendo em conta um
pronunciamento exarado pela Suprema Corte norte-americana sobre a matéria: 1) qualquer
negócio jurídico que implique a transferência, por parte do investidor, de dinheiro ou bem
para um investimento comum; 2) os recursos (bens. dinheiro ou trabalho) investidos devem
ser obtidos junto ao público; 3) a promessa de benefícios futuros (não necessariamente lucros)
como resultado de um empreendimento comum; 4) a possibilidade de perder o investimento
inicialmente feito (risk test). A ideia de security implica sempre a colocação de um capital que
corre risco; 5) a não participação do investidor na gestão do empreendimento reduzindo-o a
uma posição passiva, como simples prestador de capital, sendo esta passividade o que justifica
a protecção legal e 6) a ideia de um empreendimento em comum, ligando a pluralidade dos
investidores ao lançador. MELLO FRANCO, Vera H., e SZTAJN, Rachel, Manual de Direito
Comercial, Vol. 2, cit. p. 93. Revista dos Tribunais, 2005.
352
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
4. Elementos gerais
9
Há uma forte influência do modelo português, visto ter sido este o modelo inspirador para
a elaboração do próprio Cód.VM. O legislador português, de acordo com o disposto no art.
1.º do Cód.VM, define como valores mobiliários, além de outros que a lei como tal qualifique:
a) as acções; b) as obrigações; c) os títulos de participação; d) as unidades de participação em instituições
de investimento colectivo; e) os warrants autónomos; f) os direitos destacados dos valores mobiliários
referidos nas alíneas a) a d), desde que o destaque abranja toda a emissão ou série ou esteja previsto no
acto de emissão; g) outros documentos representativos de situações jurídicas homogéneas, desde que sejam
susceptíveis de transmissão em mercado.
10
O Código acolheu o princípio de atipicidade (numerus apertus) de valores mobiliários
(artigo 2.º n.º 2 q) Cód.VM) admitindo, como válida, a emissão de valores mobiliários que
não encontrem, ainda, consagração legislativa.
11
Definidos nos termos do artigo 362.º do Código Civil como “…qualquer objecto elaborado pelo
homem com o fim de reproduzir ou representar uma pessoa, coisa ou facto. Convém destacar que com a
evolução dos meios informáticos, o documento pode consistir num documento em papel ou num documento
elaborado mediante processamento electrónico de dados.
353
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
que pode ser forma de escritural (registos em conta – valores mobiliários es-
criturais) ou titulada (documentos em papel – títulos)12 (art. 50.º Cód.VM).
Importa realçar que não releva para definição de valores mobiliários a
simples representação de pessoas ou factos. O valor mobiliário é antes uma
representação de direitos13, ou seja, de situações jurídicas, sejam elas activas,
passivas, ou de outra natureza14. Estas situações jurídicas vêm previstas no
art. 59.º, n.º 2 Cód.VM, ao determinar que “são direitos inerentes aos valores
mobiliários, além de outros que resultem do regime jurídico de cada tipo:
a) os dividendos, os juros e outros rendimentos; b) os direitos de voto; e c) os direitos à
subscrição ou aquisição de valores mobiliários do mesmo ou de diferente tipo”.
Estes documentos que incorporam quaisquer situações jurídicas devem
ser emitidos de forma massificada e apresentar um conjunto de características
comuns que conferem aos seus titulares direitos idênticos. Nisto consiste
a homogeneidade: “os valores mobiliários que sejam emitidos pela mesma entidade e
12
Segundo ANTUNES, José “a forma representativa constitui pressuposto da própria existência
de um valor mobiliário, de tal modo que não se pode falar em valor mobiliário a respeito de direitos ou
outras posições jurídicas que não se hajam (ainda) consubstanciado em títulos ou registos em conta e,
por outro, ela permite distinguir o valor mobiliário de outros tipos de instrumentos financeiros que não
estão dependentes de forma representativa, como é o caso dos instrumentos derivados”. Vide mais em
ANTUNES, José E., “Os Instrumentos Financeiros”, 57, Almedina, 2009. Esta característica
da representatividade já vinha prevista na LVM ao prever no art. 4.º, n.º 2 da LVM, que os
valores mobiliários podem ser escriturais, representados por anotações em conta ou titulados,
representados por meio de papel.
13
Quanto a questão da representação de direitos, coloca-se a questão de saber se os valores
mobiliários são direitos ou se são a representação de direitos. Oliveira Ascensão defende que
se tratam de direitos representados. A lei ao qualificar como documento, toma partido pela
segunda opção, ou seja, valores mobiliários é a representação do direito. Para Oliveira As-
censão esta qualificação está errada, primeiro porque não compete ao legislador determinar
a essência do valor mobiliário e porque as vicissitudes do direito representado podem não
coincidir com as do direito representativo, uma vez que o direito subsiste para além da sua
base de representação. Vide mais em “O actual conceito de valor mobiliário”. Oliveira Ascensão,
J. Direito dos Valores Mobiliários Vol. III, Pág. 51. Coimbra Editora, 2011.
14
“…o seu conteúdo pode ser constituído por uma panóplia de posições juridicamente relevantes: assim,
eles podem incorporar posições jurídicas activas (direitos), passivas (deveres), e/ou outras (v.g, ónus, su-
jeições, meras expectativas); e mesmo dentro de um único tipo de posição jurídica (por exemplo, posição
jurídico-activa), ele poderá abranger indistintamente toda uma gama de direitos sociais (v.g., acções), de
direitos de crédito (v.g., obrigações), direitos reais (v.g., certos “warrants” autónomos com liquidação física),
ou outros direitos híbridos (v.g., os títulos de participação, a meio caminho entre acções e obrigações, ou
as unidades de participação, que combinam direitos obrigacionais e outros.” Vide ANTUNES, José E.,
“Os Instrumentos Financeiros”, 57, Almedina, 2009.
354
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
apresentem o mesmo conteúdo constituem uma categoria, ainda que pertençam a emis-
sões ou séries diferentes” (art 49.º, n.º 2 Cód.VM).
Nos termos do art. 226.º do Cód.VM podem ser admitidos a negociação os
valores mobiliários fungíveis, ou seja, os valores mobiliários que pertençam à
mesma categoria, obedeçam à mesma forma de representação, estejam objec-
tivamente sujeitos ao mesmo regime fiscal15 e dos quais não tenham sido des-
tacados direitos diferenciados16. Verifica-se que esta identidade de conteúdo é
condição necessária para admissão destes títulos a negociação em merca-
dos regulamentados. Assim, os valores mobiliários são fungíveis na medi-
da em que o tráfico jurídico os reconhece pelo seu mero número ou quan-
tidade, dispensado a identificação e individualização de cada valor em
concreto17.
Por último, os valores mobiliários são susceptíveis de negociabilidade em
mercado18: “… outros documentos representativos de situações jurídicas homogéneas,
desde que sejam susceptíveis de transmissão em mercado” (art. 2.º, alínea q) Cód.
VM). Convém realçar que esta susceptibilidade não se pode confundir
com a efectiva negociação em mercado, uma vez que, basta apenas a po-
tencialidade para essa negociação, ainda que existam obstáculos concretos
a negociação.
15
Se o regime fiscal for diferente, podemos estar diante de valores infungíveis.
16
Nos termos do artigo 207.º do CC, são fungíveis as coisas que se determinam pelo seu
género, qualidade e quantidade, quando constituíam objecto de relações jurídicas.
17
Ver mais em CASTRO, Carlos O., Valores Mobiliários: Conceito e Espécies. 2.ª Ed., p. 13,
UCP [Universidade Católica Portuguesa] Editora, 1998 e TELES, Miguel G. Fungibilidade
dos valores mobiliários e situações jurídicas meramente categoriais, in Estudos em Homenagem ao
Professor Doutor Galvão Teles, Almedina, 2002.
18
Sobre o tema vide mais em GONÇALVES, Renato, Nótolas comparatísticas sobre os concei-
tos de valor mobiliário, instrumento do mercado monetário e instrumento financeiro na DMIF
e no Código dos Valores Mobiliários, in Cadernos do Mercado de Valores Mobiliários, n.º 19,
p. 95. CMVM, 2004. Apesar do legislador não determinar que tipo de mercado estes valores
mobiliários podem ser negociados, supomos tratarem-se apenas de mercados regulamentados,
definidos como “qualquer espaço ou sistema multilateral situado ou a funcionar em Angola em que
se possibilite de forma organizada o encontro de interesses relativos a valores mobiliários e instrumentos
derivados com vista à celebração de negócios sobre os mesmos” (al. i) do art. 2.º do Cód.VM). Importa
notar a faculdade que é conferida às entidades gestoras para elaborar e divulgar as regras
necessárias ao bom funcionamento desse mercado, que passam pela definição dos requisitos
de admissão à negociação dos valores mobiliários aí negociáveis. (art. 222.º do Cód.VM).
355
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
5. Os tipos legais
6. Acções
19
1ENGRÁCIA ANTUNES, Valores Mobiliários: Conceito, Espécies e Regime Jurídico,
2008, p. 111.
20
Cfr. artigos 22.º a 26.º, al. a) do artigo 302.º, n.º 1 do 305.º e n.º 1 do artigo 333.º da LSC.
21
Surge um quarto e importante significado: acção como produto financeiro. ANTUNES,
José E., Os Instrumentos Financeiros, p. 76. Almedina, 2009.
22
Que pode caber a qualquer pessoa singular ou colectiva, de direito privado ou público,
nacional ou estrangeiro. A titularidade pode ser simples (onde se verifica um único titular das
acções), ou revestir a forma de contitularidade (consoante as acções tenham vários contitula-
res). Verificam-se situações de titularidade originária (resulta da subscrição no momento da
356
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
357
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
29
Estas acções podem ser convertidas em acções de capital, por dupla deliberação da Assem-
bleia geral e da Assembleia Especial dos seus titulares, e sempre por maioria exigida para a
alteração do contrato de sociedade. Mas neste caso, é mister que volte a entrar no activo da
sociedade o valor nominal das acções que foi reembolsado aos accionistas em causa (artigos
369.º e 370.º da LSC).
30
Importa realçar que o surgimento das acções escriturais está profundamente ligado ao
fenómeno da desmaterialização dos títulos de crédito, conhecendo no domínio dos valores
mobiliários, maiores desenvolvimentos. Teve papel relevante neste desenvolvimento, a com-
binação da evolução da tecnologia informática e das telecomunicações, que permitiram a
transmissão de dados à distancia e a grandes velocidades, factor catalisador do fenómeno
da desmaterialização, tal como hoje o conhecemos. Vide mais em FERREIRA, Amadeu J.,
“Valores Mobiliários Escriturais”, 71, Almedina, 1997. No regime jurídico angolano, é susten-
tável a ideia de que, o art. 337.º LSC, que se refere a forma de registo das acções, tenha sido o
primeiro a mencionar a possibilidade de existência desta forma de representação (art. 335.º,
336.º LSC), ao determinar no seu n.º 4 que «…o livro de registo de acções pode ser substituído por
registo informático», contendo este registo, os mesmos elementos exigidos para o registo no
livro de acções da sociedade. Posteriormente, a LVM, veio estipular no seu art. 4.º, n.º 2, que os
valores podem ser escriturais ou titulados, na medida em que os primeiros são representados
por anotações em conta e os segundos, por meio de papel, forma adoptada e consagrada com
a aprovação do Cód.VM. (art. 50.º Cód.VM)
358
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
de Maio que visa regular o registo das emissões de valores mobiliários junto
do emitente31, que determina que o registo da emissão de valores mobiliários
pode ser efectuado em suporte de papel, mediante preenchimento do modelo
legalmente previsto ou por suporte electrónico.
Caso o emitente opte pelo registo em suporte electrónico, deve assegurar
o cumprimento de um conjunto de requisitos de segurança, tais como a exis-
tência de uma cópia de segurança do registo, guardada em local distinto da
sede da sociedade; a submissão do suporte electrónico à utilização de chave
de acesso, reservado a pessoas determinadas, que vinculem estatutariamente
a sociedade; a existência de planos de contingência que garantam a protecção
do registo em casos de força maior; e a definição de níveis de inteligibilidade,
de durabilidade e de autenticidade equivalentes aos verificados no registo em
suporte de papel.32
A abertura e encerramento do registo devem ser consignados em termos,
assinados por quem vincule estatutariamente a entidade emitente e por um
membro do órgão de fiscalização. O termo de abertura inclui a denominação
comercial do emitente, com o número do registo comercial e o respectivo
número de identificação fiscal; a identificação das pessoas que vinculam a
sociedade e do membro do órgão de fiscalização, bem como as datas das as-
sinaturas. Já o termo de encerramento do registo faz menção do número de
páginas que compõem o registo e a data das assinaturas.
Apesar do registo da emissão ser obrigatoriamente feito no emitente
(art. 47.º e 48.º Cód.VM), existem diversas modalidades de registo da titulari-
dade, podendo o emitente optar por uma das três vias (artigo 65.º Cód.VM):
31
Importa realçar que o Código de Valores Mobiliários, veio revogar a obrigatoriedade de
existência de um livro de registo de acções na sociedade tal como previsto no artigo 337.º
da LSC. Neste sentido, o regime previsto no Decreto Executivo n.º 273/17, veio aprovar um
novo modelo de registo dos valores mobiliários, sendo agora exigido, o registo da emissão
para todos os valores mobiliários que não tenham sido integrados em sistema centralizado
nem aqueles em que a emissão seja representada por um só título. O referido regime mantém
a função de registo dos valores mobiliários titulados nominativos, anteriormente acautelada
pelo Livro de Registo das Acções.
32
Cfr. artigo 2.º do Decreto n.º 273.º/17, de 03 de Maio.
359
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
360
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
7. Obrigações
34
A declaração de transmissão e o registo junto ao emitente, levantam uma série de pro-
blemas específicos, nomeadamente: determinar a legitimidade para os praticar, determinar
a legitimidade para requerer o registo e saber a partir de que momento produz efeitos a
transmissão. Estes problemas são tratados autonomamente por Alexandre Brandão da Veiga
na obra supracitada, págs. 45-62.
35
Vide mais em MARTINS, Alexandre S., Valores Mobiliários – Acções, p. 34.
361
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
36
Estes valores mobiliários constituem um veículo de financiamento empresarial alternativo
às acções, na medida em que as acções são títulos representativos do capital social de uma
sociedade por acções (anónima ou em comandita por acções) e correspondem à entrada ou
contribuição do accionista para a sociedade, constituindo, deste modo um capital próprio
da mesma. Isto é, de um lado temos o titular de uma participação social e do outro, o titular
de um direito de crédito. A partir daqui geram-se as demais distinções: como sócios, os ac-
cionistas têm um conjunto de direitos em que se incluem direitos de natureza patrimonial
e direitos extrapatrimoniais, assumindo, assim, o risco da actividade empresarial. Por seu
lado, os obrigacionistas têm direito a um juro e ao reembolso do capital investido, a quem não
cabem direitos verdadeiramente sociais; por outro lado, os sócios terem direito ao dividendo
que depende da existência de lucros, contrariamente aos obrigacionistas, que como credores
têm que ser pagos, ainda que não se registem lucros na sociedade emitente ou mesmo que
esta incorra em perdas. Mais desenvolvimentos em DIAS, A.S., Financiamento das Sociedades
por Emissão das Obrigações, p. 56. Quid Iuris.
37
“Incorporação, literalildade, autonomia, legitimação e circulabilidade”. Vide mais em PUPO COR-
REIA, M., Direito Comercial. Direito da Empresa, p. 441. 10ª Edição. Ediforum, 2007. Para
doutrina brasileira as debêntures são autênticos títulos de crédito. Vide mais em JÚNIOR,
Waldo F., Manual de Direito Comercial, 12ª Edição, p. 293, Editora Altas. 2011 e PAES DE
ALMEIDA, A., Manual das Sociedades Comerciais. Direito da Empresa. 19ª Edição, p. 263.
Editora Saraiva, 2011.
38
Neste sentido, é importante destacar que existe, na doutrina, algumas dúvidas no sentido de
isolar o núcleo essencial das obrigações. É um facto que a emissão de obrigações visa permitir
um financiamento necessário ao desenvolvimento da sociedade, contudo, esta questão não
é tão pacífica quando se trata de qualificar a natureza jurídica do contrato existente entre a
sociedade emitente e os obrigacionistas, de onde emergem os direitos de crédito incorporados
nos títulos. Parte da doutrina aponta para uma operação de mútuo, como causa típica para a
emissão de obrigações Mais desenvolvimentos em VASCONCELOS, Pedro P, “As obrigações
no financiamento da empresa”, in Problemas do Direito das Sociedades, p. 321 e segs.
39
Segundo a doutrina o contrato de mútuo aparece como causa típica das obrigações,
visto que “é ele se encontra sempre presente no momento da deliberação da emissão das
362
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
obrigações”. DIAS, A.S., Financiamento das Sociedades por Emissão das Obrigações, cit.
p. 33. Quid Iuris, 2002.
40
Questiona-se o facto de considerar-se o reembolso como elemento essencial do conceito
de obrigações. ANTÓNIO SILVA DIAS entende que sim, argumentando que sempre que
uma sociedade pretenda cartularizar créditos, que não impliquem o direito a um reembolso
de capital, não estava em causa o conceito de obrigações, uma vez que faltava a essa operação
um dos elementos característicos das obrigações. Posição diferente defende AMADEU JOSÉ
FERREIRA. Sobre o tema vide DIAS, A.S., Financiamento das Sociedades por Emissão das
Obrigações, p. 34 [nota de rodapé]. Quid Iuris, 2002.
41
As instituições financeiras e as empresas do sector empresarial público, podem emitir
obrigações como forma de se financiarem. Contudo, está, ainda, condicionado às empresas
públicas a emissão de obrigações convertíveis em acções, pois tal facto levaria a um cenário
de privatização oculta.
363
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
8. Unidades de participação
42
Sobre a temática da qualificação destes instrumentos como valores mobiliários, TOMÉ,
Maria João Romão Carreiro Vaz, na sua obra Fundos de Investimento Mobiliário Abertos,
Almedina, Coimbra, 1997, p. 133 e segs analisa as unidades de participação como valores
mobiliários, numa estreita ligação com a teoria de títulos de crédito, perspectiva que não
procede, na visão de VEIGA, Alexandre Brandão da, uma vez que para este autor, este não é o
critério mais correcto. Vide mais em VEIGA, Alexandre Brandão da, Fundos de Investimento
Mobiliário e Imobiliário. Regime Jurídico. Almedina 1999, p. 310.
364
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
9. Direitos destacáveis
43
AMADEU FERREIRA, citado por VASCONCELOS, Pedro P., Direitos destacáveis – O
problema da unidade e pluralidade do direito social como direito subjectivo, in Direito dos Valores
Mobiliários, Vol. I, cit. p. 167. Coimbra Editora, 1999.
44
Segundo ALEXANDRE BRANDÃO DA VEIGA o termo posições destacáveis é mais abran-
gente, “na medida em que podem estar em causa não apenas direitos, mas igualmente outras espécies de
365
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
posições jurídicas, mesmo que desfavoráveis”. VEIGA, Alexandre B., Direitos destacáveis e warrants
autónomos in Direito dos Valores Mobiliários, Vol. III, cit. p. 90. Coimbra Editora, 2001.
366
TIPOS DE VALORES MOBILIÁRIOS
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45
Vide mais em ANTUNES, José E., “Os Instrumentos Financeiros”, 112, Almedina, 2009.
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368
CAPÍTULO 14
DEVERES DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO BANCÁRIAS
Herlânder Diogo
369
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
1. Introdução
370
DEVERES DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO BANCÁRIAS
3
Em português chama-se “cobertura financeira” ao instrumento que visa proteger operações
financeiras contra o risco de grandes variações de preço de determinado activo. Hedge é uma
operação que tem por finalidade proteger o valor de um activo contra uma possível redução
de seu valor numa data futura ou, ainda, assegurar o preço de uma dívida a ser paga no futuro.
Esse activo poderá ser o dólar, uma commodity, um título de dívida pública ou uma acção.
4
Instrumentos derivados são instrumentos financeiros que têm os seus preços derivados
(daí o nome) do preço de mercado de um activo ou de outro instrumento financeiro que lhes
é geneticamente associado. Por exemplo, um futuro sobre petróleo é uma modalidade de
derivado cujo preço é referenciado dos negócios realizados no mercado à vista de petróleo, o
seu activo de referência. No caso de um contrato futuro de dólar, ele deriva do dólar à vista;
o futuro de café, do café à vista, e assim por diante.
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
5
Antecedida de 4 quatro outras Directivas, nomeadamente, sobre o Abuso de Mercado,
Prospectos, OPA’s e Transparência, posteriormente completada pela Directiva n.º 2004/109/
CE, de 15 de Dezembro e pelo Regulamento n.º 1287/2006, de 10 de Agosto. Actualmente
conta com alterações substanciais ocorridas em diversas ocasiões, sendo que as últimas foram
introduzidas pela Directiva n.º 2014/65/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de
Maio de 2014.
6
Publicado na I Série do Diário do Governo n.º 236.
7
A título de exemplo vide artigos 53.º; 54.º; 71.º e 76.º do Decreto-Lei n.º 45296/63.
8
Publicada na I Série do Diário da República n.º 72.
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DEVERES DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO BANCÁRIAS
9
Publicada na I Série do Diário da República n.º 35.
10
Publicada na I Série do Diário da República n.º 27.
11
Revogada pela Lei n.º 13/94, de 16 de Setembro e esta última pela Lei n.º 5/02, de 16 de Abril.
12
Publicada na I Série do Diário da República n.º 16.
373
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Conferir os artigos 16.º; 17.º 20.º; 27.º, etc. da Lei n.º 5/91, de 20 de Abril.
13
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DEVERES DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO BANCÁRIAS
15
Enquanto Instituições Financeiras Não Bancárias.
16
Publicada na I Série do Diário da República n.º 117.
17
Extracto do discurso do então Ministro das Finanças, Sr. José Pedro de Morais Júnior, ao
presidir o lançamento do Relatório Económico referente ao ano 2005 aquando da Conferência
Anual do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola,
em Luanda, no dia 16 de Agosto de 2006.
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
18
Publicada na I Série do Diário da República n.º 114.
19
O dever de informação podia ser percepcionado em duas perspectivas. Uma primeira em
relação aos clientes, que é o que está consagrado no artigo 57.º e outra que é em relação à enti-
dade de supervisão, consagrados nos artigos 83.º e 109.º da LIF e nos artigos 21.º e 81.º da LVM.
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DEVERES DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO BANCÁRIAS
20
Em 17 de Fevereiro de 2012.
21
Lei n.º 12/05, de 23 de Setembro.
22
Lei n.º 13/05, de 30 de Setembro.
23
O que criava dúvidas quanto à regulação e à supervisão da negociação desses títulos em
mercado.
377
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
Pelas situações acima descritas e outras, concluiu-se que era de todo pre-
mente a revisão das leis macros do sistema financeiro nacional, conformá-las
à realidade actual do sistema financeiro nacional e internacional27 e ainda,
assegurar a eliminação das insuficiências e imprecisões existentes nos refe-
ridos textos.
24
A LVM admitia apenas a criação de 2 tipos de mercados regulamentados – de bolsa e de
balcão (Vide n.º 3 do artigo 5.º).
25
Com uma breve leitura à alínea a) do n.º 1 do artigo 68.º facilmente nos aperceberíamos
que o legislador se referia em especial à banca de retalho e à banca comercial, quando, sendo
a LIF uma lei extensiva ao sistema financeiro como um todo, deveria estender a sua referên-
cia ao mercado de valores mobiliários e instrumentos derivados e ao mercado segurador e
previdência social.
26
Vide alíneas j) e m) do n.º 1 do artigo 4.º. Vide igualmente o artigo 93.º da LVM, […] as
instituições financeiras bancárias […], ou outras pessoas nacionais ou estrangeiras que a CMC
determine, podem fazer parte das instituições de compensação e liquidação de valores.
27
Umas das principais referências foi a Directiva dos Mercados de Instrumentos Financeiros
(DMIF) da União Europeia.
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DEVERES DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO BANCÁRIAS
2. Enquadramento
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
28
Regula o processo de estabelecimento, o exercício de actividade, a supervisão e o sanea-
mento das instituições financeiras.
29
Estabelece o regime jurídico basilar do mercado de valores mobiliários e instrumentos
derivados, regulando o regime de supervisão e regulação, os valores mobiliários, os emitentes,
as ofertas públicas de valores mobiliários, os mercados regulamentados e respectivas infra-
-estruturas, os prospectos, os serviços e actividades de investimento em valores mobiliários
e instrumentos derivados, bem como o respectivo regime sancionatório.
30
A título de exemplo, destacamos os princípios da OCDE – Organização para a Coopera-
ção e Desenvolvimento Económicos, criada a 30 de Setembro de 1961, tem como objectivo
a promoção de políticas que visam alcançar o mais elevado nível de crescimento económico
e de emprego sustentável e uma crescente qualidade do nível de vida nos países membros,
mantendo a estabilidade financeira e contribuindo assim para o desenvolvimento da economia
mundial; contribuir para a expansão económica dos países membros e dos países não membros
em vias de desenvolvimento económico; contribuir para a expansão do comércio mundial,
numa base multilateral e não discriminatória, de acordo com as obrigações internacionais.
380
DEVERES DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO BANCÁRIAS
31
As instituições financeiras que estejam autorizadas a exercer um ou mais serviços e activi-
dades de investimento em valores mobiliários e instrumentos derivados em Angola e que se
encontrem registadas junto da CMC. Inclui as instituições financeiras bancárias (bancos) que
exerçam actividade no mercado de valores mobiliários e instrumentos derivados nos mesmos
termos que as sociedades distribuidoras de valores mobiliários, por força das disposições
combinadas da alínea e) do n.º 1 do artigo 6.º da LBIF e do n.º 2 do artigo 3.º do Decreto Le-
gislativo Presidencial n.º 5/13, de 9 de Outubro, das Sociedades Corretoras e Distribuidoras
de Valores Mobiliários.
32
Não difere muito da LIF n.º 13/05;
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
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O dever de informação pode ser visto em duas perspectivas. Na perspectiva da relação com
os clientes e com o mercado, conforme consagrada no artigo 73.º e na perspectiva da relação
com a entidade de supervisão, consagrada nos artigos 96.º e 122.º da LBIF.
34
Este artigo deve ser conjugado com o artigo 36.º do Regulamento da CMC n.º 1/15,
de 15 de Maio, sobre os Agentes de Intermediação e Serviços de Investimento.
35
Este artigo deve ser conjugado com o artigo 10.º do Regulamento da CMC n.º 1/15,
de 15 de Maio, sobre os Agentes de Intermediação e Serviços de Investimento.
36
Este artigo deve ser conjugado com o artigo 11.º do Regulamento da CMC n.º 1/15,
de 15 de Maio, sobre os Agentes de Intermediação e Serviços de Investimento.
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