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ele trata como textos), mas que também deseja abrir os textos
recebidos aos sofrimentos dele próprio, ou ao que chama de
sofrimentos da história. Este livro, enquanto um estudo da deslei-
tura criativa ou da tardividade da leitura poética, também é um
prolegômeno a estudos posteriores do revisionismo e às ambiva-
lências da formação do cânone que emergem do revisionismo.
O que é revisionismo? Como a origem da palavra indica, é um
redirecionamento ou uma se nda vi -o, ue leva a uma reestima-
tiva ou uma reavaliação. Podemos arriscar a fórmu a: o revisiomsta
se esforça por ver outra vez, de modo a estimar e avaliar diferente-
mente, de modo a então direcionar "corretivamente". Nos termos
dÍaléticos que empregarei para interpretar poemas neste livro,
rever é uma limitação, reestimar é uma substituição e redirecionar é
uma representação. Desloco estes termos do contexto da Cabala
postenor ou lunânica, que considero o modelo máximo do revi-
sionismo ocidental, do Renascimento até o presente, e que preten-
do estudar em outro livro [Cabala e Crítica].
A~, que s!gnifica "aquilo que é dado", é uma tradição
especial de ima ens, arábolas e semiconceitos relacionados a
Deus. eu pnncipal estudioso do século XX, Gershom Scholem,
considera-a uma variedade de "misticismo", e certamente ela se
misturou com e fomentou uma miríade que experimentou extraor-
dinários estados de consciência. Mas a descrição que Scholem faz
da Cabala acentua seu trabalho de interpretação, de substituições
revisionárias do si nificado das Escrituras or meio de técnicas de
a erturll. odos os textos cabalísticos são interpretatlvos, ainda qu!Z
Íntensamente especulativos, e o que interpretam é um texto central
que pOSsUIautoridade, prioridade e torça perpétuas ou que, com
eleIto, pode ser chamado de texto em Sl. O 2ohar, o mais influente
dos livros cabalísticos, é o verdadeiro precursor da poesia forte
pós-iluminista, não em seu conteúdo grotesco ou em sua forma
amorfa, mas em sua postura em relação ao texto precursor, seu gênio
revisionário e domínio das necessidades perversas da desapropria-
ção. A psicologia da tardividade, que Freud em parte desenvolveu
mas em parte camuflou ou evitou, é invenção da Cabala, e a Cabala
permanece sendo a maior fonte isolada de material capaz de nos
ajudar a estudar o impulso revisionário e a formular técnicas para
a prática de uma crítica antitética.
Isaac Luria, mestre da, especulação teosófica do século XVI,
Introdução - Uma Reflexão Sobre a Desleitura 17