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CÂMARA DOS DEPUTADOS

LIDERANÇA DO PSOL

Representação ao Ministério Público Federal

Ao Excelentíssimo Senhor Doutor Procurador-Geral da República – Exmo. Sr. Dr.


Antônio Augusto Brandão de Aras

Ao Excelentíssimo Senhor Doutor Subprocurador-Geral da República - Procurador


Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), Exmo. Sr. Dr. Carlos Augusto Vilhena

Ao Excelentíssimo Senhor Doutor Procurador da República no Distrito Federal –


Exmo. Sr. Dr. Cláudio Drewes

SÂMIA DE SOUZA BOMFIM, brasileira, Deputada Federal e


Líder do PSOL na Câmara dos Deputados, titular da cédula de identidade RG nº
30577301-X, e do CPF n° 10827786, domiciliada em Brasília-DF, com endereço no

gabinete 623 - Anexo IV – da Câmara dos Deputados e contatável pelo e-mail


dep.samiabomfim@camara.leg.br;

FERNANDA MELCHIONNA E SILVA, brasileira, Deputada


Federal e Vice-líder do PSOL na Câmara dos Deputados, portadora do RG nº

6074311736 expedido pela SSP/RS e CPF nº 002.134.610-05, com endereço


profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 621, Esplanada dos

Ministérios, Brasília – DF, CEP 70160-900, contatável por meio do telefone 61


32153621 e pelo e-mail dep.fernandamelchionna@camara.leg.br;
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IVAN VALENTE, brasileiro, Deputado Federal e Vice-Líder do

PSOL na Câmara dos Deputados, portador da identidade parlamentar nº 56359 e


inscrito no CPF/MF sob o nº 376.555.828-15; com endereço na Câmara dos

Deputados, gabinete 716, anexo IV, CEP 70160-900 e contatável pelo e-mail
dep.ivanvalente@camara.leg.br;

VIVIANE DA COSTA REIS, brasileira, solteira, Deputada Federal


e Vice-líder do PSOL na Câmara dos Deputados, portadora do RG n° 5.128.505

SSP/PA e inscrita no CPF n° 011.418.712-62, com endereço no gabinete 471 - Anexo


III - Câmara dos Deputados, Brasília – DF – CEP 70160-900,

dep.vivireis@camara.leg.br,
ÁUREA CAROLINA DE FREITAS E SILVA, brasileira, Deputada

Federal, portadora da Carteira de Identidade nº 12132364/SSPMG e inscrita no CPF


nº 014.128.956-26, título de eleitor no 139029990213- Zona 037 e Seção 0355, e-

mail dep.aureacarolina@camara.leg.-br; com endereço funcional no Gabinete 619 -


Anexo IV - Câmara dos Deputados, CEP 70160- 900;

LUIZA ERUNDINA DE SOUSA, brasileira, Deputada Federal,


portadora do RG nº 6.020.647-0 expedido pela SSP/SP e CPF nº 004.805.844-00,

com endereço profissional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 620,
Esplanada dos Ministérios, Brasília – DF, CEP 70160-900, contatável por meio do

telefone 61 32155620 e pelo e-mail dep.luizaerundina@camara.leg.br;


GLAUBER DE MEDEIROS BRAGA, brasileiro, Deputado Federal,

brasileiro, portador da carteira de Identidade nº 13.354.941-0/Detran RJ e inscrito


no do CPF nº 097.407.567-19, título de eleitor nº 108161890370, 26ª Zona eleitoral,

Nova Friburgo/RJ, e-mail dep.-glauberbraga@camara.leg.br, com endereço


funcional no Gabinete 362 - Anexo IV - Câmara dos Deputados, Brasília – DF, CEP
70160-900;
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TALÍRIA PETRONE SOARES, brasileira, Deputada Federal,

portadora da carteira de Identidade nº 12.608.655-2, inscrita no CPF com o número


111.382.957-52, e-mail dep.taliriapetrone@camara.leg.br, com endereço funcional

no Gabinete 617 – Anexo IV – Câmara dos Deputados, Brasília – DF, CEP 70160-900;

Vêm, diante de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 127, caput, art. 129,

II e II e art. 85, II, todos da Constituição Federal, e no art. 46, III, da Lei Complementar
nº 75, de 1993, ofertar a presente

REPRESENTAÇÃO

em face do Presidente da República, Sr. Jair Messias Bolsonaro, do Ministro da

Educação, Sr. Milton Ribeiro, e dos Srs. GILMAR SANTOS E ARILTON MOURA, entre outros
eventuais envolvidos, com vistas à apuração de responsabilidades cíveis e penais,

conforme fatos e fundamentos a seguir expostos.

I – DOS FATOS

1. Em conversa gravada obtida pelo jornal Folha de São Paulo, o Ministro da

Educação, Milton Ribeiro, afirma que o governo federal prioriza prefeituras cujos
pedidos de liberação de verba foram negociados por dois pastores que não têm

cargo e atuam em um esquema informal de obtenção de verbas do MEC (Ministério


da Educação). 1

1
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/03/ministro-da-educacao-diz-priorizar-
amigos-de-pastor-a-pedido-de-bolsonaro-ouca-
audio.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa
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2. O Ministro Ribeiro diz que isso atende a uma solicitação do Presidente Jair
Bolsonaro. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim

sobre a questão do [pastor] Gilmar", afirma o Ministro na conversa em que


participaram prefeitos e os dois religiosos. Os pastores Gilmar Santos e Arilton

Moura, teriam, ao menos desde janeiro de 2021, negociado com prefeituras a


liberação de recursos federais para obras de creches, escolas, quadras ou para

compra de equipamentos de tecnologia.

3. Os recursos são geridos pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação), vinculado ao MEC. Na reunião em seu gabinete, Ribeiro falava sobre o


orçamento da pasta, cortes de recursos da educação e a liberação de recursos para

obras, na presença de prefeitos, lideranças do FNDE e dos pastores Gilmar e Arilton:


"Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e,

em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar", diz o Ministro
na conversa.

4. Milton Ribeiro também indica haver uma contrapartida à liberação de


recursos da pasta. A proximidade do Ministro e do Presidente com os dois pastores

não é recente: ambos têm proximidade com Bolsonaro desde o primeiro ano do
governo. Em 18 de outubro de 2019, participaram de evento no Palácio do Planalto

com o Presidente e Ministros. Em 10 de fevereiro do ano passado, por exemplo,


estiveram ao lado de Ribeiro e também do Presidente Bolsonaro em evento no MEC

com 23 prefeitos — os nomes dos pastores, no entanto, não aparecem na agenda


oficial.

5. Segundo relatos de gestores e assessores feitos sob anonimato, os pastores


negociam pedidos para liberação de recursos a prefeituras em hotéis e restaurantes
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de Brasília. Depois, entram em contato com o Ministro Milton Ribeiro, que

determina ao FNDE a oficialização do empenho — o primeiro passo da execução


orçamentária, que reserva o recurso para determinada ação. De um orçamento de

R$ 45 bilhões do MEC em 2022, R$ 945 milhões são destinados ao FNDE. 2

6. Enquanto ambos tocam a agenda do ministro da Educação, Milton Ribeiro, e

buscam intermediar as verbas da pasta, as lideranças do Centrão dominam o Fundo


Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O órgão que concentra o

dinheiro do ministério tornou-se um feudo do partido Progressistas e passou a


priorizar redutos de duas lideranças do partido, o presidente da Câmara, Arthur Lira

(AL), e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PI).

7. A engrenagem do maior fundo controlado pelo MEC – com orçamento de

R$ 45,6 bilhões em 2022, sendo R$ 5 bilhões em despesas discricionárias e emendas


parlamentares – é movida por Marcelo Ponte, que era chefe de gabinete de Ciro

Nogueira no Senado antes de assumir o cargo de presidente do órgão. Ele faz


reuniões com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que também atuam na

intermediação entre o ministério e prefeituras do Progressistas, numa espécie de


gabinete paralelo.

8. A influência do Centrão - e do seu Presidente, Arthur Lira - pode ser


observada na soma empenhada para cada estado. Há uma clara desproporção na

distribuição dos fundos: Alagoas lidera com folga o ranking de valores recebidos,
com 60 milhões – valor maior que o investido no Rio Grande do Sul, Maranhão, Santa

Catarina, Rio de Janeiro, Tocantins, Pará, Ceará e Sergipe somados. O aporte vem do
orçamento secreto gerido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

2
Disponível em: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,pastores-controlam-agenda-e-
liberacao-de-dinheiro-no-ministerio-da-educacao,70004012011 (acesso em 22/03/2022)
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(FNDE) em dezembro de 2021, e pode ser visto no gráfico abaixo: 3

9. Voltando ao gabinete paralelo dos pastores Arilton e Gilmar. Voltando ao


gabinete paralelo dos pastores Arilton e Gilmar, a influência e poder da dupla no

FNDE e o MEC pode ser exemplificado nesse caso: o prefeito de Anajatuba-MA,


Helder Aragão (MDB), esteve no MEC no último 15 de abril e se encontrou com o

pastor Arilton no hotel Grand Bittar, local usado recorrentemente pelos pastores:
"Esse pastor Arilton eu conheci em Brasília. Não tenho amizade com ele, fui até um

hotel em Brasília onde tinha vários prefeitos e ele falava que conseguia obra para o
FNDE", disse Aragão. As intermediações dos pastores também ocorreram em

eventos pelo interior do país, sobretudo na região Norte. Ambos acompanharam o


Ministro e o Presidente do FNDE, Marcelo Lopes da Ponte, em viagens a municípios.

3
Disponível em: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,liderancas-do-centrao-controlam-
verbas-de-fundo-nacional-da-educacao,70004013948
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Em maio passado, estiveram em Centro Novo/MA, município de 22 mil habitantes.

Ambos integraram oficialmente a mesa da solenidade e fizeram uso da palavra,


como se fossem integrantes do governo. O Presidente do FNDE agradeceu aos

pastores pela organização do evento, o que evidencia o protagonismo de ambos


na definição da agenda da pasta.

10. No mesmo mês, Arilton viajou com o Ministro em aeronave da FAB (Força
Aérea Brasileira) a Alcântara/MA, segundo informações oficiais. Em ao menos seis

solenidades oficiais, ambos se sentaram na mesa reservada às autoridades. Em suma:


faz-se evidente que o Governo Bolsonaro agora tem um gabinete paralelo dentro do

Ministério da Educação.

11. No caso em tela, observa-se nova fraude à Constituição e ao ordenamento

jurídico pátrio com o mesmo modus operandi dos outros casos citados: a utilização
do orçamento público como barganha para apoio ao Governo de Jair Bolsonaro – já

observada no episódio do “orçamento secreto”, entre outros. 4

12. Diante de tão severa crise econômica pela qual passa o país, é ainda mais

indispensável que os recursos públicos sejam utilizados estritamente dentro de


critérios técnicos e legais, e não em troca de apoio político para o Presidente da

República. Em respeito aos milhões de brasileiras e brasileiros que se encontram


num Brasil de grave crise social e econômica, é fundamental que os poderes

constituídos tomem as providencias cabíveis para punir os responsáveis por tais


negociatas, que violam princípios sensíveis da Constituição Federal de 1988.

4
Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2021/05/12/tratoraco-entenda-o-
suposto-orcamento-secreto-de-bolsonaro-que-devera-ser-investigado-pelo-tcu.htm
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II. DO DIREITO

13. A Constituição Federal determina que a administração pública direta e


indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,


publicidade e eficiência (art. 37, § 4º). Destaque-se, conforme doutrina e

jurisprudência consolidada, que os princípios da moralidade e eficiência têm força


normativa e devem ser seguidos em todos os âmbitos da administração pública.

14. No mesmo sentido, a Lei 14.230/2021, lei de improbidade administrativa, em


consonância com o disposto no caput e §4º do art. 37 da CF, exige a observância

da moralidade administrativa:

§ 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta Lei os


princípios constitucionais do direito administrativo sancionador.

15. No tocante ao princípio da moralidade – um dos “princípios constitucionais


do direito administrativo sancionador” temos que a ideia de moralidade

administrativa introduz um conceito de boa administração. Nesse sentido, voto do

Ministro Celso de Mello:

(...) O princípio constitucional da moralidade administrativa, ao impor


limitações ao exercício do poder estatal, legitima o controle jurisdicional
de todos os atos do Poder Público que transgridam os valores éticos que
devem pautar o comportamento dos agentes e órgãos governamentais.
(Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº. 24458 - DF,
Relator: Ministro Celso de Mello. Julgamento: 18.2.2003. Diário da Justiça
da União, 21.2.2003). (grifo nosso)

16. É inquestionável que a conduta dos representados também configura clara


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situação de desvio de finalidade. Conforme aponta Edmir Netto de Araújo, a

violação da finalidade se constata quando o agente público persegue um fim


proibido em lei ou que não seja de interesse geral. A atuação do Ministro Ribeiro,

seguindo as diretrizes de Bolsonaro e seus apoiadores mais influentes, longe do que


preconiza a boa atuação do servidor público, atende a interesses particulares e

pessoais, e não ao interesse público.

17. Deve-se averiguar se a atuação dos Representados configura tráfico de


influência diante da sua atuação para beneficiar os pastores Gilmar Santos e Arilton

Moura:

Tráfico de influência

Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem,


vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato
praticado por funcionário público no exercício da função.

Pena - Reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

18. Nesse cenário, se as denúncias forem confirmadas, deve-se perquirir se os


representados praticaram, para além do crime de tráfico de influência supracitado,

os fatos tipificados previstos no art. 319 e no artigo 321 do Código Penal:

Prevaricação

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício,


ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal.

Pena: Detenção, de três meses a 1 anos, e multa


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Advocacia administrativa

Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado


perante a administração pública, valendo-se da qualidade de
funcionário:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa (...)

19. No Estado Democrático de Direito, o Presidente da República e os Ministros


de Estado e demais cargos de chefia se submetem à Constituição Federal e às leis
vigentes, devendo respeitar e o livre exercício dos Poderes e as liberdades

democráticas dos cidadãos.

III. DOS PEDIDOS

De acordo com o artigo 127 da Constituição Federal, o Ministério Público

é função essencial à justiça, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica e do Estado


Democrático de Direito, entre outros. É papel do Ministério Público investigar e

representar tais interesses solicitando ao Judiciário a adoção das medidas


necessárias à sua preservação. Assim, requeremos o que segue:

a) O acolhimento da presente Representação, com os devidos trâmites no


âmbito do Ministério Público Federal, incluindo o eventual

encaminhamento para as instâncias cabíveis;

b) Que, verificadas as ilegalidades no descumprimento dos ditames


legais/constitucionais, sejam tomadas as providências administrativas,
civis ou penais cabíveis, visando ao cumprimento da lei e resguardo dos
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direitos constitucionais atinentes, do Presidente da República, Sr. JAIR

MESSIAS BOLSONARO, do Ministro da Educação, Sr. Milton Ribeiro, e dos Srs.


GILMAR SANTOS E ARILTON MOURA, entre outros eventuais envolvidos, entre

outros eventuais envolvidos

c) Que o Ministério Público Federal acompanhe e monitore a aplicação dos


recursos públicos por parte do Governo Federal, garantindo a ampla

divulgação, com transparência e em canais oficiais, da divisão dos


recursos e dos critérios utilizados.

d) Que, verificados indícios de ilegalidades na distribuição de recursos

públicos, o MPF também recomende ao Tribunal de Contas da União e


à Controladoria Geral da União a instauração de procedimento especifico

para apuração dos fatos;

Nestes termos, pede o deferimento.


Brasília, 22 de março de 2022.

Sâmia Bomfim
Líder do PSOL

Vivi Reis Fernanda Melchionna


PSOL/PA PSOL/RS

Ivan Valente Áurea Carolina


PSOL/SP PSOL/MG
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Glauber Braga Luiza Erundina


PSOL/RJ PSOL/SP

Talíria Petrone
PSOL/RJ

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