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OS IMORTAIS

(PARTE 1 - POR DIMAS CAMARGO)

Um barquinho de papel na correnteza forte daquele dia chuvoso. Não sei o motivo mas
que lembrança era aquela? De onde ou qual o motivo de imagens desconexas atingirem
meus celebro.
- Pedal da esquerda Dominique!! Quantas vezes tenho que falar!!
- Pai eu pisei mas o carro morreu assim mesmo!!
- Falta de atenção!!
Era a rudeza de sempre afinal, Lupércio, formado na Academia das Agulhas Negras e
agora General 4 estrelas estava acostumado aos rigores da caserna. Homem de poucas
palavras e muita ação e estava muito claro que Dominique teria grande dificuldade para
aprender a dirigir aquele veículo.
Passados alguns minutos e após a identificação de praxe na entrada do Condomínio da
Lagoa, desembarcam entrando pela porta de serviço.
Dona Margarida, faxineira, cozinheira, e baba saúda o Gal e abraça com carinho
Dominique.
- Como se saiu?
- Bem..... muito bem!!
- Mal muito mal (responde o general) !!
Ao chegar na sala saca sua pistola .40 e guarda naquela gaveta que apelidou de
“maldita”.
Do outro dado da bela Baía de Guanabara, algo acontecia que iria tirar o General da
rotina...

(PARTE 2 - POR ALLAN CAMARGO)

 
Acordei com uma sapatada no vidro do meu quarto, abri a janela e vi meu amigo John
Fender lá embaixo sentado em sua bicicleta e com aqueles fones de ouvidos gigantescos
na cabeça.
 
- Puta que o pariu cara, já estou te chamando já tem uns dez minutos, o que você está
fazendo? estava dormindo?
 
- Sobe ai brother , minha mãe não está em casa.
 
O John sempre foi como meu irmão para mim, estudamos juntos na Universidade de
Michigan.  Quando mudei para Portland convenceu seus pais a se mudarem também com
a desculpa que a cidade possui uma das menores taxas de desemprego dos Estados
Unidos, alem disso ele falava que eu era Nerd demais, e que  e que um dia eu ganharia o
Prêmio Nobel de Física e dividiria a grana com ele.
 
- Porra  Einstein, estou te chamando lá embaixo já faz mó cara, o que você está
fazendo?
 
- Eu estou lendo um livro, tenho que entregar o trabalho de literatura amanhã, e eu já to
com o saco cheio de ler essa merda!
 
- E você já está terminando?
 
- Que nada, to na primeira página ainda.
 
- Pelo menos a história é Legal? Como chama esse livro?
 
- Chama-se "Dirigindo a vida", conta a história de um velho militar que ensina sua filha a
dirigir.
 
- Parece legal... Mais o que acontece depois?
 
- Sei lá, mais eu não estou nem um pouco a fim de continuar lendo essa droga, faz o
seguinte, leva ele para a sua mãe, ela gosta de decorar a estante com esses livros
velhos.
 
- Você ficou sabendo da festa de Halloween hoje a noite na casa do Jeremias? Vai estar
chapado de mulher... E ai? Vamos nessa? Eu vou levar um litrão de Vodca.
 
- Eu já falei pra você parar de beber essa porra que isso faz mal para o cérebro, mata
todos os neurônios.
 
- Falando em neurônios você já terminou aquele experimento de física quântica.
 
- Velho, se tem que ver a parafernália que eu coloquei no sótão da casa, agora sim está
parecendo uma máquina do tempo!
 
Desde os tempos do colégio que eu tentava dividir o átomo, não era possível que uma
porcariazinha daquela não poderia ser dividida, afinal de contas, seu o Michael Jane Fox
viajou no tempo com o Delorean, porque eu não podia viajar para o passado, conhecer
grandes momentos da humanidade como o nascimento de Cristo, a Queda da Bastilha, a
invenção do Iphone.
 
Subimos até o sótão e lá estava minha velha máquina do tempo, um complexo de tubos e
fios que só eu entendia. Ao centro uma antiga cadeira de barbeiro com um marcador
digital indicando o ano (zero). Tinha decidido voltar alguns dias antes da crucificação de
Jesus, sei lá... Acho que queria dar um toque pro cara, falar que estavam armando pra
cima dele.
 
Estava cansado de subir e descer todos os dias daquela escada do sótão por isso sentei
na cadeira do tempo para descansar por alguns instantes.
 
- Cara que bagulho loco, não sabia que a sua máquina do tempo já estava quase pronta,
qual a chance de alguém sair vivo desse experimento?
 
- A mesma de eu terminar de ler aquele livro chato (risos).
 
- E onde eu ligo essa engenhoca que você criou?
 
- Nessa alavanca ai do seu lado que você esta encostado.
 
- Qual essa aqui!
 
- Não puxa isso ai..... Não foi testado ainda....Nãooooooooo!
 
Nesse momento senti a eletricidade molecular quântica atômica passando pelo meu
corpo, as lâmpadas que iluminavam o sótão começaram a estourar e as faíscas saíram
por todos os lados até que uma enorme explosão fez com que eu não lembra-se de mais
nada.
 
Acordei a beira de um lago, com um sol queimando minha cabeça. Pensava comigo
mesmo:
 
Puta que o pariu, o filha da puta do John me fudeu... Eu vou matar aquele desgraçado.
Mais como eu vou matar aquele desgraçado se eu estou morto?
 
Nesse momento uma pessoa se aproximou pelas minhas costas e colocou a mão no meu
ombro.
 
- O queridão, já tem gente demais me seguindo, pra falar a verdade eu não estou
aceitando mais ambulante e pescador, o que eu estou precisando mesmo é de um bom
advogado, por acaso você é advogado meu filho?
 
- Levantei e olhei para trás não acreditando no que meus olhos estavam presenciando. Lá
estava ele, maravilhoso, lindo, assim como o imaginava. Trazia nas mãos um enorme
cajado, calçava sandálias e estava com a cabeça coberta com um lenço.
 
- Meu Deus!
 
- Não meu filho, pelo jeito você não prestou atenção em nada que eu estava explicando,
eu já falei e não vou explicar de novo, Deus é o outro, ou sou o filho!
 
- Jesus?
 
- Jesus de Nazaré, seu criado.
 
- O Senhor só pode estar brincando, o prazer é todo meu, é uma honra te conhecer.
 
Eu sempre imaginei que a figura de Jesus na forma de um homem com barba longa, pele
clara e corpo franzino pintada por Leonardo da Vinci ficava longe das características dos
homens palestinos daquela época. Só que eu estava totalmente errado, o cara era
realmente igualzinho, só uma coisa não fazia sentido, e eu não demorei em perguntar:
 
- Mais senhor, porque o senhor está segurando esse cajado? Quem segurava o cajado
não era o Noé?
 
- Fica andado pra lá e pra cá nesse deserto debaixo desse sol quente e pisando nessas
pedras soltas pra você ver o que é bom.
 
Fiquei feliz de estar na frente daquele homem tão simpático e mais feliz ainda de ter
encontrado ele com vida, isso significava que eu ainda tinha tempo de contar pra ele a
respeito da trairagem do Judas e aquela armação toda pra cima dele. Mais infelizmente,
antes de eu poder falar qualquer palavra ele pegou na minha mão e disse:
 
- Você deve ter tomado muito sol nas idéias, vem comigo meu filho, vou te apresentar
para a galera..
Caminhamos pela margem do lago e pude ver de longe um grupo de pessoas que se
abrigavam do sol embaixo de um coqueiro. Nesse momento um dos homens aproximou-
se e disse:
 
- Poxa patrão, está acabando a água e aqueles peixinhos que o Pedro e o Thiago
pegaram não vão dar nem pro cheiro.
 
- Tomé meu querido, já falei pra você não se preocupar com essas coisas, pode ficar
tranqüilo que eu faço esses peixes durarem até o final de semana.
 
- Bom, o Senhor é que sabe, depois não vai falar que eu não avisei.
 
Enquanto aquele homem se afastava Jesus olhou para mim e disse:
 
- Esse ai não bota fé em nada do que eu falo.
 
Continuamos caminhando as margens daquele belo lago, o sol começava a se esconder
entre as montanhas. Paramos próximo a um rochedo, sentamos e esperamos o sol se por
completamente.
 
- Filho, essa noite cearemos fora, você é meu convidado para sentar ao meu lado na
mesa.
 
- Mais senhor, não seriam doze os apóstrofos a sentarem a mesa com o senhor nessa
noite?
 
- Pois é, o problema é Judas já furou com a gente de novo, falou que tem um encontro
importante essas noite e não pode faltar de jeito nenhum. Mais não se preocupe meu
filho, eu coloco seu nome na lista e você entra sem problemas, mesmo porque para o
meu jantar sair de graça eu combinei que levaria mais dozes pessoas comigo, se eu
aparecer com menos eles vão me cobrar, e como você pode perceber eu sou um homem
de poucos recursos financeiros.
 
- É a respeito disso mesmo que eu queria falar com o senhor.
 
Novamente fui interrompido e não consegui avisa-lo a respeito da armação para cima
dele, eu sabia qual era o compromisso inadiável de Judas naquela noite mais não
consegui falar uma palavra.
 
- Que lindo por do sol... Você não acha filho?

Chegamos por volta das vinte horas, o estabelecimento não era aquelas maravilhas.
Tinha uma vista bonita para as montanhas então sentamos em uma mesa próximo a
janela.
 
Enquanto Jesus arrumava suas coisas para começar a palestra, não demorei em fazer o
meu pedido.
 
- Senhora, gostaria de uma Cola Light com limão por favor.
 
-  Infelizmente não temos senhor.
 
- Então me traz uma tônica bem gelada por favor.
 
 - Infelizmente também não temos senhor.
 
- Tudo bem, tudo bem... Já sei .... Me traz o vinho então, pelo menos eu tentei.
 
Jesus começou a discursar, e como falava bonito aquele homem, meus olhos encheram-
se de lágrimas na mesma hora. Não queria me distrair com aquelas palavras tão belas
pois estava preocupado em não tirar os olhos do Santo Graal, queria saber afinal de
contas quem tinha ficado com aquele objeto.
 
Nesse momento o garçom passou recolhendo os copos colocando-os em uma bandeja.
Eu já não sabia qual era qual, tinha tanto copo ali que era difícil saber qual era o do
homem.
 
Fiquei pensando comigo enquanto o garçom levava aquela bandeja para a cozinha que
apesar de Jesus ter realmente bebido naquele cálice, ele nunca ficou guardado como a
história foi contada, era realmente impossível. Percebendo isso, desviei meu olhar para
pequena comanda que estava nas mão do Senhor, dessa ninguém nunca tinha
comentado, e era essa que eu queria saber onde foi tinha ido parar. Já pensou conseguir
voltar no tempo com a comanda da última ceia!

(PARTE 3 - POR GERSON CAMARGO)

Sorrateiramente, peguei a comanda e na primeira oportunidade me dirigi ao Caixa para


pagar a conta, onde se achava uma linda morena jambuda, meio estavarenga e com areia
nos cabelos negros encaracolados, que lhe caiam sobre os ombros.

- Moça, seria tão bom se vocês aceitassem cartão vale-refeição, cheque, cartão de
crédito?

- O que é isso?
- Vou explicar não, mas diga lá....você tem aí uma cadernetinha de fiado?

- O que é isso?

- Nada, nada...já vi que aqui só no dinheiro vivo. Moça, tenho este par de tênis
novinho....podemos barganhar?

- O que é barganhar?

- Caracá.....você não sabe o que é barganhar? Deixa quieto. Einsten tirou seu tênis, bateu
um solado contra o outro e disse sorrindo para aquela jovem:

- É seu.....e essa conta anote num papelzinho que o Judas vai pagar em futuro breve
com as trinta e três moedinhas que vai receber, e se ele não pagar, eu volto aqui e pago.

Einstem voltou para a mesa, parou atrás do Mestre e avisou a todos:

- Olha aí pessoal....conta paga, menos daquele baixinho ali – disse apontando para
Judas,

- Você ta falando comigo, replicou Judas?

- É com você mesmo, ..safado

- O quê?

- Safado...traíra...rato de esgoto!!!

- Vê lá como você fala comigo, garoto! Nem te conheço.

- Mas eu te conheço, trairão....tu é safado mesmo e o Mestre sabe do que estou falando,
não é, Mestre?

Jesus ingressou na discussão.

- Barbaridade. Tchê!! Pensei que só eu sabia o caráter desse filho de uma égua, mas
olha aqui, minha gente, meus queridos, meu povo. Um de vós haverá de me trair, e é
você, Judas....safado ...nojento... pulguento.

- Eu, mestre! ...disse Judas com cara de espanto.

- Tu mesmo, troncho, safado, Tô vendo pelo meu terceiro olho que você participou de um
plano secreto armado com o apoio dessa imprensa marrom-areia suja. Tu vai me trair.

- Jamais faria isso, chefe.

- Cala a boca safado...Cai fora...Xispa daqui.

Mal Judas abandou o recinto, o Mestre levantou-se, abraçou Einsten e se dirigiram para o
fundo do restaurante.
- Garoto....precisamos conversar a sós.

Sentaram-se numa mesa.

- Como é que tu sabia do Judas?

- Pô, Mestre. Eu sei de tanta coisa, mas não vou falar nada para não mudar a história.

- Essa roupa tua estranha, esse seu cabelo preto e amarelo desbotado, esse desenho
pintado no teu braço.....tu é espião romano? Quem te mandou aqui foi o ....

- Nada a ver, Mestre. Nada a ver.

- Tu é anjo?

- Nada a ver.

- Então tu é o Demo me testando novamente?

- Pô, mestre, aí o senhor já está ofendendo. Sou estudante de física quântica com
especialização em bombardeio de partículas atômicas,com um projeto de máquina do
tempo em fase de testes. Me admiro o senhor não saber disso e de onde venho, mas
saiba o senhor que nós temos uma coisa em comum, uma não, duas coisas em comum.
Eu também nasci em Belém – Belém do Pará, e eu sei de algumas coisas que irão
acontecer no futuro.

- Já sei...tu é enviado do Pai para ser meu advogado no Sinedrio.

- Que nada Mestre! Sou um bosta, ora vítima de um grande amigo filho da puta que
mexeu onde não poderia mexer.

- Então me diga o que vai acontecer no futuro?

- Posso não! Não vou mudar a história nem morto, até porque se eu fizer isso quem irá
me salvar quando eu voltar para a minha caminha Não vou dizer nadinha. Só vou te dar
uns conselhinhos básicos: se cuida, porque vai ser foda o que está por vir, Mestre.
Pegue a Magdalene e curta a vida o mais que puderes, porque......ai...nem quero pensar.
Mestre, tem uma pomada a base de xilocaína....passe nas mãos e nos pés após unge-los.

- Bom....já que você não quer me dizer nada, então à noitinha vou conversar com o meu
Pai.Ele haverá de esclarecer o que vc está fazendo aqui.

- Pô...falando nisso, cadê Maria e José?

- Você ta falando de José, homem de Maria, meu pai?

- Xiii, Mestre, eu não posso deixar o Senhor ser enganado. José não é seu pai. O Senhor
é filho por ele adotado.. Seu verdadeiro pai é um anjo que caiu pelo telhado no colo de
sua mãe e....e....ah nada, esquece o que eu falei, Mestre.
- Você insinuou o que? Que José não é meu pai? Diga moleque, tu ta achando que minha
mãe é o que?

Jesus segurou Einstem pelos braços sacudindo-o violentamente.

- Diga moleque, o que tu quis dizer....diga, diga, diga

Einstem começou a gritar.

- Perdão Jesus...perdão Jesus...Perdão Jesus

Foi nessa hora que Einstem abriu os olhos e encarou seu amigo John, que o segurava
pelos braços e que foi logo gritando:

- Putz meu....você pirou.....que loucura!!!!

- Como assim? Cadê Jesus?

- Putz meu.....Sei de Jesus não! Só sei que quando eu botei a mão nessa alavanca você
deu um sobressalto e bateu com a cabeça na quina da porta do guarda-roupa e caiu no
chão durinho....achei que você tinha morrido, cara, pois faz mais de dez minutos que
estou aqui passando vodka no seu pulso e nada de você retomar a consciência.

- Caraca, meu!!!!..Achei que eu tinha voltado para o passado e batido o maior papo com
Jesus.
Ainda bem que era sonho, John, porque eu iria tomar um pau lascado.

Bom...é o seguinte. O que a gente vai aprontar na festa ou não? A Dominique xuxuzinha
vai estar lá porque seu pai, o General Bigode Grosso, foi chamado para Brasília para
cuidar do projeto aeroespacial maranhense.

(PARTE 4 - POR DIEGO CAMARGO)

- Mas que hora seria a festa “Einsten” ?

- John, ninguém quer a gente lá mesmo, podemos nos penetrar a hora que quisermos,
afinal, somos só dois nerds imperceptíveis.

- Então me leve pra casa brother, pois hoje a noite vou descobrir que a vida é boa !

No caminho para a casa de John, foi quando Einsten se lembrou...

- John, nós desligamos a máquina?

- Xiii rapaiz, não me lembro direito, a única coisa que pensei foi em rir, vendo você
estrebuchado daquele jeito.

- Vá se foder John! Continue com essas brincadeiras que te jogo do carro aqui mesmo!
- Relaxa brôw, hoje a noite tem festinha, e você vai ver a Dominique esnobando você,
como sempre faz.

Einsten e John, seguiram o restante do caminho calados, até que John começa a rir
silenciosamente.

- John ? JOHN? JOOHHN ! Mas por que diabos esta rindo ?!

- Cara, você me chamou de Jesus, foi isso mesmo? Somente agora me toquei, pelo jeito
bateu forte com a cabeça mesmo.

- Se eu contasse o que eu vi você não iria acreditar.

- Não iria mesmo, mas conte-me, sou seu único amigo mesmo.

- John, eu conheci Jesus.

John começou a gargalhar como uma criança ao ver um palhaço em sua frente.

- É sério John ! sabia que não iria acreditar.

- Cara você precisa se tratar, sua cabeça não esta legal, vire a próxima direita.

- Porque a direita?

- Vou passar no Alemão pra levar um bagulho do bom pra festinha, talvez assim nós
tenhamos chance.

Einstein estaciona seu carro elétrico japonês, com uma facilidade só, enquanto John
assobiava ao chamar atenção do Alemão.

Nesse momento, abriu-se uma portinhola de madeira, com um som macabro de assustar
criancinhas, Einstein nunca tinha visto o Alemão pessoalmente, estava com o c* nas
calças, e de repente aparece o Alemão, um rapaz de aproximadamente 1,65m de altura,
magrinho, corcunda, usando um ray-ban falso, estilo vagalume.

Cochichou Einstein

- Isso que é o Alemão?

- Fale baixo Einstein, ele pode ouvir e ficar furioso, você não vai querer ver ele furioso,
não mesmo !

O Alemão se aproxima do carro, e diz:

- E ae rapaziada, vão querer o de sempre?

- Fala alemão, hoje é um dia especial, manda aquele especial double plus quantum
máster.

- Tem certeza?
- Mas é claro mano!

Os garotos pegaram seu especial e saíram de lá, fritando os pneus daquela coisa elétrica.

Chegando a noite, um pouco antes das 19hras, John e Einstein estavam prontos para se
infiltrarem na festa de Jeremias, amigo de Dominique, mas como? Essa era a pergunta
que não saíra da cabeça deles.

- Vamos Einstein, Pense igual um Einstein de verdade seu fajuto!

- Não me apresse John, bom, sabemos que todos que estarão na festa, são nossos
colegas da faculdade, porém, ninguém sabe que existimos, talvez o mais óbvio seja o
mais fácil, que tal entrarmos pela porta da frente?

- Acredita mesmo que deixariam nós entrarmos Einstein?

- Poderíamos tentar, ou se não, pularíamos o muro e entraríamos pelo terraço.

- Cara isso é muita loucura! Não se esqueça que isso não é um filme de ação, não
precisamos de uma missão impossível, tenho cara de Tom Cruise?

- John, vamos pra lá, e decidiremos o que fazer lá em frente, mas antes, vamos desligar a
máquina se não aquela porra vai explodir de tanto tempo ligada.

Quando subiram pro sótão, se depararam com uma figura inacreditável, que fez John
rever seus pensamentos, foi quando ele disse.

- Caralho Einstein!, essa porra de engenhoca funciona! Não acredito no que estou vendo.

(PARTE 5 – POR ALINE CAMARGO)

O sol se punha na Baía de Guanabara, lançando lentamente seus raios dourados


no horizonte, apaziguando o verde-azul do Atlântico. A brisa marinha acariciava o rosto de
Dominique. “É o hálito de Talassa”, pensava ela sempre que se punha a admirar o mar
pela janela de seu apartamento ao cair da tarde. Dominique era estudante de História –
para a ira e desgosto de seu pai – e grande admiradora da mitologia grega.

Já fazia muito tempo que não via o general, desde as fatídicas aulas de volante,
das quais se recordava com angústia – ora por lembrar-se da pressão que sofria do velho
ao manusear o volante, ora por conta da saudade que invadia seu peito. O velho general
era, com toda sua rispidez, seu único e amado pai, afinal. Não o via desde que ele fôra
transferido para Brasília em missão oficial, e raramente ouvia sua voz grave ao telefone a
lhe cobrar boas notas “já que não se dera ao trabalho de escolher um curso decente,
ainda mais na PUC – faculdade de transgressores da moral cívica”. Nos idos anos do AI-
5, não havia vergonha maior para um militar.

Perdida em seus pensamentos, Dominique caiu em si abruptamente ao se


recordar da festa de despedida de Jeremias, seu colega de curso. Seus pais o queriam na
Sorbonne antes que fosse dado como “perdido” ou jogado em uma vala comum. Eles
sabiam muito bem no que seu filho andava metido. Líder de grêmio estudantil, metido
com gente de partido Comunista, seu destino só poderia ser trágico se permanecesse no
Brasil. Sem titubear, Dominique despediu-se apressadamente de Margarida, pegou a
chave do fusca que seu pai escondia no fundo falso de uma escultura de cerâmica na
estante da sala e pôs-se a dirigir apressadamente rumo à casa de Jeremias, no outro lado
da Baía. Dirigia nervosa. Uma jovem moça sozinha ao volante era algo raro à sua época,
e tudo o que ela não queria era chamar atenção.

Estacionou. Abriu a porta. Ouviu a algazarra vinda da casa de Jeremias. Adentrou


a residência afoita por encontrar seu querido amigo. Dominique não sabia, mas Jeremias
nutria por ela uma paixão desde o primeiro semestre da faculdade. Uma paixão que
sobreviveu calada, sufocada por sua covardia de se declarar, e que agora ele teria que
engolir a seco com sua partida para a França.

Em meio à fumaça dos cigarros e da embriaguez coletiva, ambos se avistaram e


se abraçaram. Jeremias, mais uma vez em um esforço colossal disfarçou todos os seus
sentimentos – um misto de ternura, desejo, tristeza e revolta. Segurou uma lágrima.
Puxou Dominique pela mão e a guiou até seu quarto. “Tem que ser hoje”, pensou ele.

─ Vem cá, preciso te falar uma coisa.

─ O que foi?

─ Vamos entrar, quero falar com você a sós.

Jeremias abriu a porta e se chocou com o que seus olhos avistaram. Duas figuras
estranhas, dois jovens rapazes vestidos estranhamente. Os rapazes se entreolharam
surpresos e pronunciaram algo ininteligível para Jeremias. Dominique, que já dominava o
francês e o inglês logo estabeleceu comunicação.

─ Quem são vocês? Por um acaso são alunos de intercâmbio?

Einstein e John mais uma vez se entreolharam confusos. Em uma situação normal
teriam feito troça. Mas aquela não era, de longe, uma situação normal. Eles conseguiam o
que queriam, entraram pela porta da frente na festa de Jeremias. Ou melhor, pela porta
de dentro! Porém alguma coisa parecia errada. Claramente Dominique e Jeremias não os
reconheciam. Mal falavam sua língua, se vestiam estranhamente, e o quarto no qual
estavam parecia ter parado no tempo.

─ Porra, Einstein! Foi a maconha que eu fumei ou nós estamos na casa errada?

─ Não, John. Parece que estamos onde queríamos, mas em uma dimensão do
passado. Dominique, não nos reconhece?

Dominique ficou apreensiva e nada respondeu.


Einstein ficou preocupado. O que teria acontecido com a máquina? Por que
Dominique não os reconhecia? Foi quando argutamente se deu conta: “Esta máquina
viajou no tempo muitas outras vezes, e provavelmente estes dois ficaram presos no
passado ou no futuro. Mas e agora, como saber a qual realidade eles pertencem?
(PARTE 6 – POR RICARDO CAMARGO)

Einstein, atordoado com a situação, não conseguia enxergar hipótese para o casal
viajar no tempo. Assim pensou:

- Apenas aqueles que utilizam da máquina do tempo podem ir ao passado ou


futuro. Será que alguém inventou uma máquina do tempo secreta?

- Não. Acho melhor reconstituir os fatos desde o começo do dia, sobretudo, no


momento em que me sentei na cadeira de barbeiro e senti a eletricidade molecular
quântica atômica passando pelo meu corpo, pois foi a primeira vez que a cadeira
funcionou.

Porém, Einstein lembrava-se apenas de Jesus indagando-lhe com imenso rigor


enquanto sentia-se alguns sopapos em sua face e um cheiro de vodka barata.

- Eu não acredito, será que John tem razão, será que essa porra funciona mesmo,
pensou Einstein em voz baixa. Lembro suavemente de ouvir o John falar que
precisávamos voltar para casa para desligar a máquina, mas, ao subir ao sótão, do outro
lado da porta, deparo com Jeremias e Dominique num quarto totalmente envelhecido. O
quê aconteceu?

- Ai, Santo Luis Inácio Lula da SIlva, protetor dos bêbados e exterminador dos
nerds, já sei, a cadeira ligada por muito tempo provocou a invasão do presente no
passado , ou seja, transformou o sótão num quarto envelhecido que serve de passagem
para o tempo.

- Ei, John, o que você acha?

- HA HA HA, eu te falei que o bagulho é bom Einstein.

- Estou falando sério JOhn!

- Não sei responder, só sei que foi você quem inventou a máquina; Aliás, como
desliga essa porra?

- Não sei, está tudo diferente.

Dominique interessada de saber o que Jeremias queria lhe contar, logo indicou
onde ficavam as bebidas para que as duas figuras a ela estranhas saíssem do quarto.

Enquanto John foi ao banheiro, Einstein, perplexo, correu pela casa, trombou nas
pessoas, derrubou copos no chão, começou a reparar no modo que as pessoas falavam,
os sotaques, as gírias, os retratos pregados na parede alguns de certa forma levemente
gravados no fundo de sua memória, a música que se ouvia era a única fonte de
conhecimento pois, conhecida nacionalmente, por décadas e décadas, marcada por ser
cantada por uma presidenta em praça pública, em tom de ironia, para comemorar sua
reeleição, chamada Candidato Caô Caô, de Bezerra da Silva.
Aos poucos Einstein foi tomando a consciência e o domínio da inteligência a ponto
de concluir que acabara de voltar ao passado. Sentia a felicidade pulsar pelas suas veias,
cogitava seu prêmio nobel de física, até que então resolveu conversar com as poucas
pessoas sóbrias da festa, a fim de fazer um pesquisa empírica relacionada com a sua
invenção, mas ninguém entendia a liíngua que falava e isso aguçava a sua curiosidade.

Após umas e outras brahma chopp, não se aguentando de felicidade, sentiu a


necessidade de contar para alguém.

- Como a maioria das pessoas não está sóbria, isso não será problema, pensou
Einstein.

Ele - Ei, gracinha?

Ela - você me chamou?

Ele - SIm. Eu tenho umas cervejas no carro, são tantas que não consigo trazer
sozinho, você pode me ajudar?

Ela - Sim, claro.

Ele Hiper hilário, então vamos lá. Mas, como é o seu nome?

A moça não conseguindo entender o que o rapaz lhe dizia, perguntou:

- O que significa hiper hilário? Ah. meu nome é Sezebel.

Einstein riu muito e respondeu:

- Isso significa legal, maneiro, supimpa, entendeu? E muito prazer, o meu nome é
Einstein.

- Eu acho que consegui entender, mas e as bebidas, vamos lá?

O casal se afastou das pessoas e foi em direção da porta de entrada. Einster não
se aguentando de tamanha felicidade, antes mesmo de sair da casa perguntou para
Sezebel se ela pode guardar um segredo. A moça que não está no seu estado perfeito e
não entendendo o que ouvia, apenas balançou a cabeça de forma afirmativa.

Einstein se aproximou de Sezebel, colou a boca em seu ouvido e cochichou por


alguns minutos, até que um alto barulho lhe interrompeu.

BUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

Alguém abaixou o som da festa, permaneceram segundos em silêncio, logo


Dominique apareceu descendo a escada, chorando, demonstrando-se inconformada.

Em seguida, Jeremias também desceu a escada, com expressão de insatisfação,


gritando o nome de Dominique.
Em seguida, escutaram outro barulho vindo do banheiro.
BUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

John, sob o efeito de fumo e vodka, quando vomitava deslizou o braço úmido que
estava apoiado sobre a privada e bateu a cabeça no chão. Inconsciente, o peso do seu
corpo fez a pia curvar paulatinamente em direção da porta de modo que causou o
segundo barulho.

Silêncio absoluto!

Algumas pessoas forçam a porta do banheiro e conseguem abrir a porta,


assustados, visualizam um moço jogado no chão.

Alguém pouco inteligente levanta o tom da voz:

- É somente mais um bêbado que queimou a largada. (risos ao fundo)

- Vamos carregá-lo ao quarto, lá poderá descansar e logo acordará.

Chegando ao quarto, o moço pouco inteligente levanta o tom da voz novamente:

- Vamos pessoal, o último que sair e não fechar a porta do quarto é a mulher do
pai de Dominique.

John, sentado em uma cadeira muito confortável não emite qualquer suspirou.

Minutos despois acorda, com os olhos ainda entreabertos visualiza um senhor de


barba longa, vestimenta até os pés parecida com um vestido e um cajado na mão e
pergunta:

- Jesus, é você meu Senhor?

- Que Jesus o que moloque. Eu sou Moises!

(PARTE 7 – POR DAIANE ROBERTA)

As cenas seguintes discorrem tão rapidamente que assustam o pobre John.


-Moisés ? Tipo o Moisés que abriu o Mar Vermelho cara ?
- Não o Moisés que abriu o mar azul, moleque idiota –
- Noooossa cara sou seu fã, conta ai qual era o truque pra abrir o Mar. –
- Não sei moleque estava exatamente nesse momento abrindo o Mar quando fui sugado
por um vórtice molecular quântico que me trouxe até aqui. –
- E o pessoal lá sabe nadar ? – Perguntou John que não sabia se ria ou se chorava, por
algum motivo Moisés era especial pra ele.
- Sei não cara, na verdade estava testando aquele truque pra impressionar uma gatinha.
Precisa ver... maior filé. –
Distraido pela conversa entretida sobre gatinhas e o Mar Vermelho Moisés e John nem
viram quando magica e atomicamente um cara foi se materializando ali, com a arma do
pai da Dominique. Uma vez materializado o cara acendeu um cigarro e encostou na
parede. O barulho que ele fez ao sacar a arma fez com que os dois o notassem.
- E aquele ? É quem ? – Perguntou John apontando o sujeito fumando um cigarro
encostado no canto da parede.
Jogando o cigarro de lado o cara estranho saca a .40 do pai de Dominique e aponta para
Moisés.
- Prazer, sou o assassino dos Kennedy –
Pow ! Pow! Lá se vai Moisés e já deu pra perceber que o povo que estava atravessando o
Mar naquele exato momento morreu afogado.
Estupefato John grita horrorizado com o cara:
- Meu Deus você matou Moisés você tinha ideia que a galera tava atravessando o Mar
agora, cara a gatinha dele morreu. –
O cara voltou a encostar e fumar seu cigarro como se nada tivesse acontecido, apenas
observando o desespero daquela rapaz bêbado que chorava copiosamente como se
fosse uma criancinha.
- Cara aquele não era o ‘ Moisés’ você é idiota ? – Finalmente o assassino resolve falar..
- Como não ? Ele me contou da gatinha lá e tudo mais. –
- Na verdade ele era o Moisés, porteiro do prédio, matei ele porque toda vez que eu
descia pra fumar um cigarro ele nunca me oferecia seu isqueiro, tem ideia de quanto isso
magoa ? –
- Não cara eu sei que era Moisés e você é um lunático, vou chamar o pai da Dominique
pra resolver isso. –
Quando John pensou em sair dali algo o atingiu na nuca e ele desmaiou caindo
violentamente no chão.
Naquele instante o alguém pouco inteligente abre a porta e encontra o cara dos Kennedy
fumando, Moisés morto e John caído e por ser pouco inteligente ele fecha a porta e volta
para a festa como se nada tivesse acontecido.

(PARTE 8 – POR HIGOR CAMARGO)

Poucos minutos antes, em alguma travessa próxima ao local da festa...

Lá estava o Alemão, baixo e corcunda, equipado com seu kit ostentação.


Alemão todo metido e encapuzado resolve invadir uma loja de conveniência em
um posto as “moscas” para garantir alguns trocados (naquela noite ele tinha faturado
pouco com a venda de dois especial double plus quantum máster)

Ao invadir o pequeno estabelecimento ele foi direto ao ponto.

- Eai jow, firmeza? Qual seu nome chará?

Neste momento um pobre atendente sem saber como agir responde com a voz
tremula:

- Bo.. bo... boa noite senhor, me chamo Chico.

- Legal.. chico, isso aqui é um assalto tá ligado, mas eu só quero grana alta, não
vem com merreca não.

- Pode levar tudo senhor, inclusive se quiser um cafezinho eu passo um agorinha


pro senhor.

- Rapaz, não é que seria uma boa idéia... manda um cafezinho ai!

Alemão não havia percebido, mas tinha uma pessoa a mais naquele ambiente, e
ele estava sendo observado.

O café ficou pronto e ele abaixou a guarda para tomar seu café, enquanto Chico
terminava de separar as notas mais altas do caixa.

No mesmo instante, dona Margarida aparece com uma espingarda calibre doze
(ela tem acesso a gaveta secreta “Maldita” do General bigode grosso), e sai dando tiro
para todo lado, a fim de assustar Alemão.

Sem pestanejar, ele saiu correndo largando tudo para trás, mas como nada nessa
vida acontece a tôa, do outro lado da rua estava Dominique correndo em direção ao nada,
foi ai que um dos tiros de calibre doze de dona Margaria acertou a pequena e frágil
Dominique.

Alemão neste exato instante parou de correr e olhou para trás, viu a face de dona
Margarida estonteada, ele aproveitou a situação voltou lá para dentro, pegou a grana, o
cafezinho e arrancou a doze da mão de dona Margarida na saída e disse.

- Belo tiro véia! Valeu!

Dona Margarida não sabia o que fazer, cogitou ir embora, cogitou telefonar para o
General, mas ela não teve muito tempo para pensar. Já que na esquina se encontrava
Jeremias, parado sem nenhuma expressão.

E a única coisa que passava na sua cabeça era que a máquina do tempo de
Einstein poderia voltar no tempo e salvar a Dominique.
(PARTE 9 – POR DIMASCAMARGO)

Em uma sala muito iluminada o silencio é interrompido pela pergunta!!

- Paulo meu mago brasileiro !!!

- Diga Jorge meu amado

- Enquanto aguardava meu avião na sala principal do aeroporto achei um livro


abandonado em uma cadeira, comecei a ler durante meu trajeto e não quero continuar!!

- Jorge, meu rei, todo livro carrega em seu bojo impressões, ensinamentos....

Paulo foi interrompido pelo amigo.

- Não Coelhão, você não está entendendo é um livro que de cara tem seus
personagens tomando vida real; dois jovens perturbados e drogados que hora estão nos
EUA ora na Cidade Maravilhosa, vagam pelo tempo em uma cadeira de barbeiro, um
deles falou com Jesus dando conselhos para curtir sua namorada e ainda por cima
escrachou Judas Iscariotes o outro, tentou salvar Moises que estava vestido a caráter
(porem era porteiro do prédio), de um tiro dado por uma entidade que veio do nada,
viciada em cigarros , magoada por que não lhe emprestaram o isqueiro!!

Ainda tem uma jovenzinha patricinha que morre com uma calibre doze disparada
pela faxineira de um General.... Pode uma coisa dessa Coelhão!!!

- Meu amado Jorge baiano, assim tá complicado!! Qual o título desse livro?

- O Segredo do General. E sinceramente não estou nem ai com o segredo dele,


toma o livro, é um presente!!!

Faz o seguinte Jorge, recebi de um admirador um livro para análise e possível


publicação, poderia avaliá-lo ?

- Claro!!

Jorge recebe então um calhamaço de papel sulfite e a primeira folha apontava o


título:
(PARTE 10 - POR ALLAN CAMARGO)

"Viva e deixe viver"

Plaft! Plaft! Plaft!

- Acorda Einstein! Você está bem?

- Abri os olhos e dei de cara com o John Fender me encarando com aqueles fones de
ouvido gigantescos e jogando vodka no seu pescoço.

- Puta merda amigo! Você está bem? Se machucou?

Comecei a levantar a cabeça dolorida e percebi que estávamos sentados no banco do


meu carro em uma viela escura, bem próximo a "boca do alemão". No rádio uma estranha
entrevista com dois escritores, ao meu lado John segurando sua inseparável garrafa de
vodka.

- O que aconteceu John?

- Não está vendo o que aconteceu seu tonto! Você estava com tanto cagaço quando
deixamos a "boca do alemão" que saiu cantando pneu nessa droga, virou na primeira
esquina e meteu essa merda no poste. Agora quero ver como vamos fazer para chegar
na festa de Halloween do Jeremias.

Perá lá John? Cadê todo mundo? Cadê Noé? Cadê o Jorge? Cadê o Coelho?

- Tú tá doidão mesmo em Einstein? Seguinte.... Se você não agüentar a pegada eu vou


deixar de sair com contigo irmão, eu é que bebo e você é que fica loco!

- Onde nós estamos John? Qual é o ano?

- Estamos a cinco quadras da sua casa, na cidade de Portland, vai dar oito horas da noite,
e graças a você vamos perder a festa do Jeremias.

- De que ano John? De que ano?

- 2014 brother...Xiiiiii, tô vendo que a pancada foi forte mesmo!

Depois de tantas idas e vindas que transformou a minha mente em desconexo túnel do
tempo, finalmente tinha me recolocado no espaço e tempo atual e passei a desconsiderar
todas as lembranças que vinham em minha mente. Um carro batido com o capô aberto,
em uma viela escura com o John me enchendo o saco era tudo que eu precisava para
botar em ordem a minha mente.

- Então quer dizer que nunca saímos daqui Jonh?


- Olha, eu vou te explicar pela última vez... Eu passei na sua casa hoje pela manhã, você
me mostrou uma porcaria de uma cadeira cheia de fios, tomou um choque danado
naquela porra, deu um pulo, bateu com a cabeça na quina da porta e apagou. Depois de
quinze minutos acordou falando um monte de groselha. Dai eu te convidei para a festa do
Jeremias e você só topou ir porque a Dominique estaria lá e você paga pau pra ela desde
o tempo do colégio. Pegamos o seu carro e seguimos para a festa, mais antes decidimos
pegar um baseado na "boca do alemão". E aqui estamos, com essa porra batida ai no
poste e sem carona para a festa.

- John! John! Precisamos correr o mais rápido possível pra casa e dar um fim de vez
naquela maquina do tempo.

- Tá brincado? Destruir a engenhoca que você inventou? De jeito nenhum cara... E o


nosso Nobel de Física? Como Fica?

- Beleza John, já que você não quer ir comigo eu vou sozinho.

- Vai com calma ai! A gente não sai daqui antes de você explicar como você conseguiu
cantar pneus com um carrinho elétrico japonês.

- Isso é fácil John, é só utilizar os princípios da E.M.Q.A

- Mais que diabo que é isso Einstein?

- Eletricidade Molecular Quântica Atômica

Nesse momento um veiculo preto com três indivíduos escutando um reggae no último
volume dobrou a esquina. Olhei para o John e percebi seu nervosismo enquanto um dos
sujeitos abria a porta e vinha em nossa direção. Tinha pele escura, cabelo rastafari, vestia
uma camisa do Bob Marley e segurava um baseado tamanho família nas mãos.

Nesse momento vi a expressão do John mudar completamente de um sujeito levemente


desesperado a um sujeito com sorriso de orelha a orelha.

- E ai irmão (toque de mãos rastafari), o que tá pegando ai?

- Nós estávamos indo para uma festinha mais o mané do meu amigo enfiou o carro no
poste, agora estamos pensando como vamos fazer para chegar lá.

Nesse momento o cara olhou para os amigos que ficaram no carro e gritou:

- Ai turma, pelo jeito os carinhas aqui estão indo para a festa do mano Jeremy, vamos dar
uma carona para eles?

Novamente pude perceber o sorriso de alegria no rosto do John e antes de entrar no carro
e sumir na fumaça agradeci a gentileza.

- Valeu cara. A propósito, qual é o seu nome?

- Big Joe.
Em poucos minutos cruzamos a ponte Burside e lá estávamos nós, eu o John e a turma
do Big Joe, na festa de Halloween do Jeremias. Enquanto tentava encontrar Dominique
entre os convidados acabei esbarrando em um cara que segurava nas mãos um copo de
vinho. A essa altura do campeonato, depois do banho de vodka que o John tinha me
dado, terminar a noite com a roupa cheia de vinho já não fazia tanta diferença.

Então lá estava ela, linda como sempre, em um deslumbrante vestido longo e negro cheio
de sangue e coberto com dedos e orelhas dilacerados. Meu coração pulou do peito, tomei
um último gole, me enchi de coragem, e fui em sua direção.

- Oi Domy? Tudo bem?


- Oi Einstein... Que surpresa.

Nós sentamos a beira da piscina e ficamos ali, recordando da ultima vez que havíamos
nos encontrado. Perguntei como estavam as coisas? Como andava o projeto aeroespacial
maranhense, projeto aliás, que eu tive o privilégio de participar, e que o seu pai dirigia
com todo o empenho e dedicação. Ela me disse que o projeto estava a todo vapor, e que
até o final do ano eles lançariam o primeiro foguete tripulado brasileiro, disse ainda que
seu pai estava muito feliz porque tinha conhecido o Sargento Jordão Bigode Manhoso e
os dois haviam se casado escondido em Las Vegas.

Fiquei feliz que o velho Coronel Lupércio finalmente havia encontrado um companheiro, e
mais feliz ainda por saber que Dominique tinha se separado do idiota do Billy Jonson, eu
só não contava que ela encontraria um outro namorado tão rápido.

- Tire as mãos da minha garota - Gritou Jeremias, segurando Dominique violentamente


pelos braços.

- Com quem você pensa que está falando (respondi imediatamente) Não é porque você é
rico, bonito, tem uma casa maravilhosa, uma Ferrari GTO na garagem e é dono de
metade dos imóveis da costa leste dos Estados Unidos que ela ficaria com você.

Nesse momento escutei um grito bem distante que veio de um dos quiosques de cerveja
montados no jardim da casa, e que me pareceu ser a voz do John Fender.

- EU FICARIAAAA !!!!

Não pensei duas vezes e apesar do Jeremias ser muito mais alto e forte me agarrei com o
safado e trocamos socos e chutes enquanto a galera gritava a plenos pulmões:

- HU VAI MORRER !!!


- HU VAI MORRER !!!

Em um momento de descuido acabei sendo jogado contra as mesas e cai no chão, foi
então que o Jeremias covardemente atirou uma cadeira em minhas costas. Com muita
dificuldade levantei lentamente olhando em seus olhos eu disse:

- Jeremias eu sou homem coisa que você não é não atiro cadeira pelas costas não! Olha
pra cá filha da puta sem vergonha, dá uma olhada no meu sangue, vem sentir o teu
perdão.
Nesse momento novamente escutei um grito, só que dessa vez tive a certeza que era do
John.

- RELAXA BROW....NÃO É SANGUE...É VINHOOOO!!!!

Quando me preparava pra partir pra cima do Jeremias o Big Joe me segurou pelos braços
e me arrastou para a saída. Acabei dando por vencido, e já sem esperanças de voltar a
ver Dominique, segui em direção ao carro que estava estacionado em frente a casa.

- O que é isso no seu braço - Disse Jóe levantando a manga de minha camisa e
apontando para o meu braço.

Respondi que era uma antiga tatuagem do rosto de Albert Einstein que tinha feito quando
estudava física quântica na universidade de Michigan a alguns anos atrás.

Sem qualquer explicação Big Joe arrancou meu boné da cabeça apontando para o meu
cabelo perguntou:

- E esse cabelo vermelho ai garoto?


- Qual é Jóe, o que tem o meu cabelo?

Joe abriu a porta do carro me colocando sentado no banco de trás. Olhei para a cara do
John e ele espantado também parecia não entender nada o que estava acontecendo.

- Entra ai garoto - Disse Joe - Temos que dar uma volta.

Depois de uma hora e meia dirigindo acabamos chegando em uma velha mesquita que se
localizava no subúrbio da cidade. Não havia mais música, um clima tenso tomou conta do
ar. Durante o trajeto várias ligações foram feitas, ora por Big Joe, ora por seus amigos,
mais infelizmente não conseguia entender qual língua eles estavam falando. Seguimos
por uma porta paralela e descemos uma escada chegando a uma sala escura.

- Aguardem aqui - Disse Joe aos seus amigos.


- Daqui pra frente ele levo os garotos sozinhos

Joe puxou uma pequena alavanca escondida em um dos cantos da parede revelando
uma passagem secreta. Seguimos por um úmido e frio corredor até chegarmos a uma
sala de pedra com tochas nas paredes onde um homem estava nos aguardando sentado
atrás de uma mesa. Aparentava ter uns quarenta e cinco anos, pele negra e longos
cabelos encaracolados cheios de areia que vinham até os ombros. De pé ao seu lado
estavam dois homens de terno escuro segurando armas automáticas e ao centro da mesa
uma bela e ornamentada caixa de madeira.

- Você que é o Nike? (perguntou aquele homem em tom ameaçador)


- Quem? (respondi sem ter a menor idéia do que estava acontecendo)

Fomos convidados a se sentar à mesa e pude ver o desespero estampado no rosto de


John, no entanto logo o mistério seria revelado.
- Meu nome é Abd-al-Karim, sou presidente da rede de restaurantes Estrela do Oriente e
a dois mil anos guardo um segredo em quem sido passado de geração em geração por
minha família.
O homem puxou do bolso uma pequena chave, abriu a antiga caixa de madeira e revelou
seu misterioso conteúdo, um velho par de tênis Nike com solado de borracha vermelho e
listras brancas nas laterais.

- Esse item foi deixado em minha família como garantia de uma dívida que seria paga
com trinta e três moedas de ouro por um dos convidados que estava presente naquela
noite. Infelizmente esse cidadão nunca apareceu para quitar sua dívida. Dizem que o
sujeito foi encontrado enforcado alguns dias depois mais o dinheiro nunca apareceu.

Nesse momento Big Joe saca de sua cintura uma arma deixando a situação ainda mais
tensa enquanto aquele misterioso homem fazia algumas contas em uma calculadora.

- Muito bem garoto, esse valor se fosse colocado em um fundo de investimento estaria
beirando hoje uns três milhões de dólares, então como você pode ver meu querido,
parece que você tem uma dívida a ser paga.

- Como pode? Olhei para o John que estava apavorado com os olhos arregalados
parecendo não acreditar no que estava acontecendo.

- Foi tudo um sonho, eu nunca viajei no tempo.

- Com relação a isso meu querido, eu não sei se te contaram mais o planeta tem sofrido
mudanças catastróficas nos último dois mil anos, enfrentamos sete grandes guerras
mundiais, a China e o Oriente Médio deixaram de existir, toda a costa norte dos Estados
Unidos ainda se recupera do ataque nuclear que sofremos. A humanidade mergulhou em
violência, desgraça e intolerância.

- Só mais uma coisa, eu tenho mais presentinho pra você.

Foi então que aquele homem retirou de dentro do tênis um pequeno papiro enrolado que
trazia uma mensagem escrita em aramaico. Como eu não tinha a menor idéia do que
estava escrito saquei do bolso meu smartphone e fiz a tradução no Google Translate.

"Caro conterrâneo viajante do tempo, aproveitei que as coisas estavam ficando feias pro
meu lado e decidi aceitar seu conselho, peguei Madalena e embarquei no primeiro vôo
para o Egito. Também tomei a liberdade de deixar um recado na sua caixa postal, espero
que não se importe. Grande abraço. Jesus"

P.S - Levei o Tomé junto comigo.................

PARTE 11 POR GERSON CAMARGO

O dia amanheceu em Caraguatatuba, cidade litorânea do Estado de São Paulo. Estamos


em setembro de 2.014, e por uma rua movimentada de um bairro de classe média uma
jovem aparentando 29 anos caminha tranquilamente com o olhar voltado para o chão e
pensativa. Parece uma sonâmbula vagando inconsciente entre carros e transeuntes.
Em fração de hora alcança uma pequena praça daquele município, onde se achava
sediada a ESCOLA DE ENSINO MÉDIO “DOM FACUNDO”. A linda jovem trabalhava há
três anos naquele conceituado estabelecimento de ensino como professora. Lecionava
literatura para as últimas turmas do ensino médio.

Tinha um olhar estampadamente frio e seco. Estava triste, pois teria que levar naquele dia
uma notícia para um grupo de alunos. Seus lábios estavam petrificados de um receio
contido. Alma manifestamente exausta e dominada por acerbos pensamentos ingressou
na escola indo diretamente para a sala de professores. Tirou da pequena bolsa que
carregava alguns papéis com anotações efetuadas na noite anterior, que pôs-se a lê-las
por alguns minutos, leitura interrompida somente por bons-dias dados de uma ou outra
colega de profissão.

Vivia momentos de ansiedade, de profunda e tormentosa angústia. Iria ter uma conversa
com um grupo de alunos, que poderia trazer conseqüências, decepções, frustrações. Ao
cabo de alguns minutos lá estava ele numa sala ampla, de paredes brancas, com umas
cinqüenta cadeiras com apoio para escritas. Acomodou seu corpo numa cadeira – a sua
velha cadeira de professora”, tendo atrás de si um quadro negro que ocupava toda a
parede. Entrou cabisbaixa, a passos lentos, sem fixar o olhar em qualquer dos seus
alunos, que imediatamente fizeram silêncio ao vê-la.

- Bom dia meus queridos – cumprimento que mereceu reciprocidade de todos os


alunos. A minha tarefa como professora ou educadora não é a de instruir, mas a de
educar vocês como pessoas humanas, como pessoas que vão trabalhar num mundo mais
tecnológico, povoado de corações, de dores, de incertezas e inquietações; e de trabalhar
num mundo extremamente competitivo, inclusive na seara das letras. Temos mais de
cinco milhões e oitocentos mil escritores, e quem se predispor a escrever, deve escrever
bem; deve se diferenciar dos demais. Quando eu pedi para vocês escreverem a várias
mãos um livro, dei várias dicas e fui bem clara que a inobservância de uma só delas
inviabilizaria o trabalho literário, e infelizmente sou obrigada a comunicar a vocês que a
história perdeu lógica e significado. Eu os avisei, meus queridos, que escrever uma
história qualquer, de amor ou de ficção, seria fácil, mas escrever uma boa história seria
extremamente difícil. Quero dizer que meus parâmetros foram inobservados, e o que eu
percebi é que não houve planejamento prévio de dar-se uma lógica no texto do colega
escritor antecedente. Nenhuma história surge do nada. Toda continuação de história, eu
avisei, deveria ser sentida e imaginada antes de ir para o papel, como também aconselhei
que vocês não tentassem fugir das histórias reais. Bom livros, regra geral, são aqueles
onde a história tem um pé na realidade, e o que eu verifico é uma baita confusão, que me
faz crer no insucesso da empreitada literária. Então eu resolvi interromper a escrita para
alguns comentários e reflexões...

Allan, sentado na última cadeira da sala, cochichou no ouvido de seu coleguinha


Dimas:
- Bem que eu falei que você tinha fodido a história com aquele papo do Paulo
Coelho e do Jorge Amado.

- Quem fodeu foi você com sua máquina do tempo. Eu começo uma história na
Baia da Guanabara e você leva ela para os Estados Unidos....Tenha a santa paciência!!!
Tem mais....você viu a sua incorência...ora você deu a entender que o Einstem garanhia
um prêmio Nobel de física, e logo depois você falou que ele tinha que entrega um trabalho
de literatura “amanhã”. Eu percebi que você quis matar logo os meus personagens e
simplesmente relegou aos ventos a Dona Margarida, o General Lupércio.

Replicou o Allan, elevando um pouco a voz:

- Tu veio com aquele historinha besta de barquinho de papel e queria que eu


escrevesse o quê?

- Então tu não entendeu mesmo nada, guguzinho chorão, pois a minha deixa
para você foi a seguinte: “...algo iria acontecer que iria tirar o general da rotina..”. Agora
tenho certeza que você não se ateve aos detalhes....e olhe que dei muitos detalhes, seu
Brucuzão!

Nesse momento a professora aparteou os dois alunos.

- Allanzinho, Diminhas.....vocês estão prestando atenção no que eu estou falando?

Allan com ar de contrariado respondeu prontamente:

- Eu já sei onde a senhora quer chegar, professora. Quem ferrou tudo foi este
garotinho aqui metido a besta, professora.

- Eu!!! – disse Dimas - a gente tinha combinado que não seria uma obra de ficção
e você vem falando de máquina do tempo....cadeira de barbeiro....Jesus. Olha só o que tu
escreveu para a fala do Einsten: “....tinha decidido voltar alguns dias antes da crucificação
de Jesus....”.

Gerson levantou-se e intercedeu a favor do amigo de futebol.

- Eu concordo com o Diminhas, professora. Eu tentei dar um destino melhor para o


enredo fazendo transparecer que o Einsten havia sonhado, mas...

- Cala a tua boca Azedinho, pois tu também pisou feio na bola – aparteou Allan
levantando-se de sua cadeira e demonstrando profunda contrariedade. Eu fui bem claro
ao dizer que o Judas não estaria no encontro noturno com Jesus e tu botou o Judas na
Ceia. Ah...vá tomar banho também!!!

- Meninos, meninos!!! Acalmen-se. Ninguém aqui é perfeito e todos cometemos


erros e equívocos. Eu acho que vocês não se ateram para alguns detalhes construídos
por colegas antecessores, preferindo criar e dar uma importância e valoração maior para
os seus personagens, tirando o brilho dos demais.

- Aí eu concordo, disse Allan sorrindo. Até a CDF da Aline também pisou na bola.

- Epâ...não me envolva na briga de vocês. Eu fiz a minha parte, e acho até que,
modéstia parte, com certa coerência e lógica, ou será que não, professora?

- Modéstia parte...modéstia parte.....toda engomadinha prá falar e prá escrever.


Não é atoa que é a filha da Dona Gertrudez Facundo. Olha aqui, engomadinha– rebateu
Allan – tu voou prá longe quando disse que a Dominique e o Jeremias mal falavam a
língua do Einstem. Foi você mesma quem disse que a Dominique falava inglês, Frances
e português, e assim como ela não entenderia a língua do John e do Einsten se eles
eram brasileiros e se estudaram nos Estados Unidos???

- Sabe, professora – ingressou na discussão a aluna mais alta da sala, Daiane,


que com seus 1m90cm de altura alcançada em duas décadas de vida acusou firmemente
um colega:

– quem desandou a maionese foi o Presidente, que voltou a falar da absurda


máquina do tempo do Allan e da volta de Moisés. Na hora em que li o que ele escreveu
pensei: mais um pouco e o nosso trabalho vai se tornar uma segunda versão liberal
anarquista da bíblica.

- Ô taquara verde!!! Agora você está cometendo uma baita injustiça falando assim
de mim – retrucou Ricardo, apelidado por muitos, e inclusive por seus familiares, de
“Presidente”, já que nunca se cansou de dizer que um dia chegará em que ele irá assumir
a Presidência do País e promover grandes reformas.

Ricardo, já aos 12 anos, demonstrou possuir uma consciência política e social que
ia muito além de sua idade, e já naquela época dizia que iria assumir a Presidência de
nosso país. Certa vez, quando perguntado por uma repórter de televisão porque ele
queria ser político, respondeu sem pestanejar: “Eu vim ao mundo e estou aqui para
impedir que o Brasil se torne uma commodity pertencente a um grupinho de pessoas
corruptas, encoberto por algumas letrinhas agrupadas a quem chamam de partido
político’. O último ato político praticado por Ricardo foi mobilizar grande parte dos alunos
da escola e professores para convencer a direção da Escola a realizar um FESTIVAL DE
MÚSIVA. Conseguiu seu intento.

- Taquara verde não! Eu tenho nome, sabia? – disse Daiana


- Vem cá.... “sabia”.......olha o que tu escreveu: “(...) Moisés e John nem viram
quando mágica e atomicamente um cara foi se materializando. Aqui tu evoluiu para uma
espécie de abstração cientifica, para um certo gênero de clericalismo macumbeiro. Eu só
queria saber quem foi o mágico que materializou o carinha.

Risos tomaram conta da sala de aula.

- Eu não tenho que te dar satisfações, e a Professora foi bem clara que não era
para nós nos preocuparmos com erros gramaticais e ...

- Erro gramatical é uma coisa.......bomba atômica materializante é outra.

Mais risos.

- Õ taquara verde......senta aí e fique quietinha....você ta envergando e se você


quebrar vai sobrar espetinho de churrasco prá todo lado – provocou Allan.

Energicamente a Professora Cenira estancou a bagunça que se iniciava, e vendo


que Diego permanecia alheio a tudo o que ocorria, lhe perguntou:

- Diego, porque você não dá a sua opinião sobre o trabalho de seus colegas?
A indagação não foi ouvida por Diego.

- Diego...eu estou falando com você. O que está fazendo?

Diego levantou a cabeça, encarou a professora e devolveu uma pergunta.

- A senhora está falando comigo?

- Sim, com você. O que está fazendo?

- Ah..sabe teatcher...ontem eu me inscrevi no Festival de Música e quando a troca


de acusações começou eu resolvi jogar alguns pensamentos no papel e ajustar algumas
rimas da letra de minha música.

Diego Sardinha Branca adorava música. A mãe morreu de tuberculose ainda


moça, deixando órgão aos dois meses e o pai Dildo Sardinha Branca, não podendo cuidar
do menino porque era repentista e viajava muito entregou-o aos padrinhos, Philomena e
Xavier, violeiro pantaneiro, criaram o menino. As primeiras letras Diego Sardinha Branca
aprendeu numa escola de música, mas as verdadeiras lições de vida recebeu pelas
ladeiras do morro da Casa Verde, bairro de São Paulo. Quando garoto, para conseguir
dinheiro carregava sacolas na feira e engraxava sapatos. As doze anos começou a
escrever poesias. Sua primeira composição foi “Lembranças do meu peixinho Piauçu”,
que ainda hoje guarda dentro de um cofrinho cor de abóbora. Foi também quando
começou a gostar de Rock. Era fã de Black Sabbath, AC/DC, Ozzi e Deep Purple, Nirvana
e Iron Maiden e detestava Guns and Roses e The Doors.

- Então você deixa seus pensamentos musicais para outra ocasião. Agora eu
gostaria apenas de ouvir a sua opinião sobre o trabalho de seus colegas?

- Minha opinião?

- É....diga o que você está achando do desenvolvimento do trabalho?

- Posso ser sincero professora?

- Diga.

- Uma merda.

- O que tu escreveu também é uma merda – retrucou Allan.

- Também acho. A melhorzinha aqui é a Aline, que também pisou na bola.


- Eu? – espantou-se Aline, que nutria um carinho especial por Diego.

- Claro. Quando eu achei que você fosse narrar em detalhes, com muitos detalhes,
a transa do Jeremias com a Dominique você passou a bola prá frente. O outro que
arrebentou a história foi o Higor que matou com um tiro calibre 12 a pequena e frágil
Dominique, como disse. Aí vem o Allan e ressuscita a Dominique“. Enquanto tentava
encontrar Dominique”. A conclusão a que eu chego, teatcher, é que essa máquina do
tempo ta dando um nó desgraçado na cabeça de todos.
Bom já ouvi o suficiente.

- Então, Professora, a senhora não vai querer saber a minha opinião? – disse
Higor.
- Não...acho que já ouvi o suficiente.

- Mas eu queria falar do Diminhas que ficou botando palavras na minha boca para
eu escrever o que ele queria que fosse escrevinhado.
- Não é escrevinhado, Higor. É escrito – elucidou Aline sentada ao lado da cadeira
de Higor.

Meus queridos – continuou a Professora. Eu vou colocar em votação quem quer


continuar o trabalho e quem não.

PARTE 12 POR DIEGO CAMARGO

Então, levante a mão quem quer passar de ano.

Foi então que todos levantaram suas mãos, com medo de uma possível DP, a única
despreocupada era a queridinha da professora. Aline, que só levantou sua mão para não
se deslocar do pequeno grupo.

Cenira, excelentíssima professora que era, teve uma brilhante ideia, e decidiu expor para
seus alunos, uma maneira de continuar com o texto, e talvez, corrigir seus erros e
individualismo.

- Queridos alunos, de acordo com tal maneira que aconteceram estes fatos, proponho a
vocês reescreverem os textos uns dos outros, mudando de forma coerente, tudo que for
necessário nos seus pontos de vista. O que mudaria no texto do seu colega, por que ele
acabou com o livro? Siga o raciocínio que lhe foi deixado, observe atentamente aos
detalhes de seu colega, e tente dar coerência.

Guguzinho foi o primeiro a se destacar gritando lá do fundo:


- Sacanagem em fessora, vão matar meu Jesus, Máquina do tempo e minha brilhante
ideia do Nike.

Higor imediatamente completou:


- Já vi que não vou poder matar ninguém nessa bosta.

Ricardo levantou de sua cadeira, e formidavelmente elevou seu tom de voz.


- Poderíamos candidatar o Bigode Grosso a Presidência, excelentíssima professora.

Logo que ouviram, novamente o presidente, falando de presidência, todos caíram na


gargalhada. Enquanto Diminhas continuava calado, já que foi ele que deu a ideia do livro
para a professora, não imaginava o rumo que tudo isso iria a tornar.

Foi a vez de Aline retrucar.


- Se vamos mudar o enredo coloquemos a paixão de Jeremias e Dominique como clímax
da história.
Guguzinho, o garoto mais bagunceiro da turma sem perceber acabou falando alto e claro
o que pensara.

- Puta que pariu, lá vem essa história de amorzinho pra lá, amorzinho pra cá.

O que gerou uma baita confusão e todos começaram a discutir. Diminhas continuou
parado pensando atentamente a uma nova ideia.

Cenira, A professora mais jovem e bonita de seu colégio, acaba passando por uns de
seus poucos momentos de fúria.

- Chega ! Chega ! Chega !


- Diminhas, levante-se por favor.

O menino quase se estrebuchou de tanto medo, do que estaria por vir, mal ele sabe que
poderia ser a chance de se redimir de uma ideia tão louca quanto um livro, que sua parte
de iniciação foi tão minúscula que o próximo alterou, e o próximo alterou, talvez lá no
fundo, ele pensara que poderia ser culpa dele disso tudo não ter dado tão certo.

- Diga prof.
- Diminhas, já que você deu a ideia de juntar seus amigos para escrever um livro. E todos
querem suas notas, me diga; Como podemos organizar essa história? Por que mesmo eu
que sou professora não estou entendendo bulhufas, e nem ao mesmo sei como posso
ajuda-los.

Guguzinho, também apelidado carinhosamente pelos seus colegas de fantasminha e


gizminho novamente volta com suas palhaçadas.

- Derruba o filho da puta de novo, manda ele bater a cabeça em algum lugar que tudo se
resolve.

Todos riram, e logo voltou a baderna novamente, só que dessa vez quem interrompe os
colegas foi o Diego sardinha branca.

- People, Easy, easy, teacher deixe que o próximo decida, vamos ver se agora, depois
dessa bronca que tomamos, a história não se desenhe melhor de certa forma, se caso
você não aprovar novamente. Nós repetimos baby.

Cenira, então decidiu dar seu voto de confiança aos seus queridos alunos.
- Bom, então vou lhes dar a última chance, quem é o próximo mesmo?

- Eu Querida professora Cenira. – disse Aline.

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