Resumo
Este artigo discute a problemática do ensino de literatura nas aulas de língua portuguesa, focalizando a
responsabilidade que o professor tem para conciliar a literatura e a língua nas aulas. A pesquisa objectiva
desenvolver estratégias que possam ajudar os professores de língua portuguesa no ensino da literatura e da
língua. Os reflexos desse problema são actualmente evidentes na falta do gosto pela leitura, o que acelera
a fraca qualidade de ensino no país. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica coadjuvada com a experiência
docente nas práticas pedagógicas do português em muitas escolas integradas. O estudo conclui que o foco
pelo ensino da gramática tradicional nas aulas de português aumenta o medo de errar, tornando os alunos
cada vez mais passivos. Para tal, o professor de língua portuguesa deve ser, antes de tudo, o primeiro leitor,
pois, desta forma poderá levar os alunos a desenvolverem habilidades de leitura através de actividades
concretas tais como resumos, resenhas e debates de maneiras a estimular a aprendizagem da língua e das
letras.
Palavras-chave: Ensino de literatura, Língua portuguesa, Desafio, Moçambique.
Abstract
This paper puts in doubt the teaching of literature during portuguese classes, focusing the responsibility of
the teachers to conciliate literature and language teaching. The research objectify to develop strategies to
help portuguese teachers on language and literature teaching. Actually, this problem is reflected on lack of
reading that affects the education quality in the country. It’s about a bibliographical research helped with
the personal experiences as a lecture, during the students’ traineeship. The research concluded that teaching
a language focused on traditional grammar method, increases on students mind the fear of committing a
foul, making them more passive. To avoid it, teachers must be the first readers and develop activities such
as summaries, descriptions, debates to stimulate the language and letters learning.
1. Introdução
“Ensino da Literatura – um desafio para os professores de Língua Portuguesa em
Moçambique” é um artigo que discute a problemática do ensino da literatura nas aulas de língua
portuguesa, com o objectivo de desenvolver estratégias que possam ajudar os professores no
ensino da literatura e da língua de forma integrada. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica
coadjuvada com as experiências pessoais na área docente, no processo de acompanhamento de
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Docente de Literatura na Universidade Pedagógica de Tete – Moçambique, Mestre em Literaturas Africanas de
Língua Portuguesa.
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2. Contextualização
Moçambique é um país que se viu obrigado a adoptar a língua portuguesa como a língua
oficial, com a Independência em 1975. Primeiro, porque era a única língua grafada que o país
dispunha naquela época, ainda que lembrasse as mágoas do sistema colonial. Segundo, porque o
país precisava, com urgência, encontrar uma língua que servisse de elo de ligação entre os
Moçambicanos, tendo em conta a diversidade étnica e linguística de que o país é rico. Assim, a
língua portuguesa ganhava o seu protagonismo de língua oficial, num território em que menos de
25% da população falava a língua portuguesa. Volvidas duas décadas, tendo em conta os dados do
censo de 1997, 39,6% de moçambicanos falam a língua portuguesa como L2. Segundo Feliciano
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Em uma entrevista à LUSA, Feliciano Chimbutane, docente da UEM, frisou que “em 40 anos de Independência o
país fez mais pela expansão da língua portuguesa do que o Estado português em todo período de colonização,
assinalando uma gradual “apropriação” pelos moçambicanos.” Informação disponível em
http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/recreio-e-divulgacao/37812-academico-feliciano-chimbutane-
mocambique-fez-mais-pela-lingua-portuguesa, consultada em 10/09/2015, às 4:35h da manhã.
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Parafraseando Gonçalves & Diniz (2004:2), o não domínio da língua portuguesa faz com
que o aluno tenha dificuldades na compreensão de diferentes conteúdos das outras disciplinas [e
da vida]. Só para elucidarmos a gravidade do problema da língua portuguesa nas escolas, pesquisas
de Buendia (2010) revelam que há dificuldades na aprendizagem do português em Moçambique
em todos aspectos não somente pelo fato do português ser língua segunda, mas também pela fraca
formação dos professores. Aliado ao problema do professor, grande parte das crianças
entrevistadas da 1ª a 5ª classe, “não percebiam quase nada do que era dito” e os da 6ª e 7ª classe,
“interpretam mal o que se lhes diz em português” (Buendia, 2010:264).
Cientes do problema da qualidade de ensino no país, acreditamos que se os professores de
português empreenderem esforços na melhoria das estratégias metodológicas, e olhar a literatura
como um instrumento para a formação da personalidade, poderá, no futuro, esperar-se por um
estudante curioso, questionador e “dono” das suas convicções.
Esta visão começa com os professores de português que vão exigindo dos alunos, o certo e
o errado de certas frases previamente elaboradas por alguns gramáticos, sem muitas vezes levar o
aluno a uma reflexão que parte de um fenómeno concreto existente (a língua), para depois entender
o porquê (a gramática). Esta tendência metodológica de ensino da língua baseado na rigidez da
norma, data do século XVIII e até hoje é tida como uma das formas mais comuns do ensino da
língua.
Num cenário em que o professor tem que ensinar conteúdos ligados com a literatura em sua
aula de língua portuguesa, precisa que este esteja munido de instrumentos que ultrapassem simples
normas linguísticas e rumar pela competência linguística, que se entende pela criatividade do aluno
em usar a língua, se quisermos convocar a visão da teoria gerativo-transformacional.
Ademais, o comum de muitos professores de português, a noção “frase”, ideal para ser
ensinada, é aquela que já aparece previamente analisada/ou classificada na gramática, facto que
limita penosamente a criação de competências linguísticas da língua e levantando alguns
questionamentos por parte dos professores sobre o nível de domínio da língua que ensinam.
Não basta mandar por mandar os alunos ler um texto. O professor deve, antes de nada, em
casa, ler individualmente a obra ou o texto escolhido de forma a perceber o que poderá criar
entusiasmo nos seus alunos.
Segundo Cosson (2006), o trabalho com o texto tem que ver com três momentos ou etapas:
Antecipação - corresponder ao momento em que o professor explica o que diz a obra; Decifração
– corresponde ao momento em que o professor ajuda os alunos a compreender o sentido das
palavras que vão permitir que eles entrem no texto; Interpretação - este é o momento mais
controverso que pouco tem merecido atenção por parte dos professores de português, talvez devido
a sua delicadeza. A interpretação depende do que o autor escreveu e do que o leitor leu e das
convenções que regulam uma determinada sociedade.
Para Cosson (2006:41), “interpretar é dialogar com o texto tendo como limites o contexto.
E contexto é simultaneamente aquilo que está no texto, que vem com ele, e aquilo que uma
comunidade de leitores julga como próprio da leitura”. Para esse autor, esses três momentos
quando obedecidos na leitura de um texto, proporcionam o que ele designa de letramento literário.
A interpretação de textos na escola tem como objectivo exteriorizar o que foi lido. Para tal,
é preciso que os alunos partilhem os sentimentos construídos dessas leituras, fazendo reflexões
orais e/ou escritas em forma de resenhas. Para depois, esses textos circularem entre os colegas de
forma que se perceba o ponto de vista sobre determinado tema. Esta metodologia pode ajudar o
aluno a criar o hábito pela leitura e escrita porque já verá o fruto das suas leituras valorizado tal
como assegura Cosson,
Na escola é preciso compartilhar a interpretação e ampliar os sentidos construídos
individualmente. A razão disso é que, por meio do compartilhamento de suas
interpretações, os leitores ganham consciência de que são membros de uma
colectividade e de que essa colectividade fortalece e amplia seus horizontes de leitura
(Cosson, 2006:65).
Desta forma, começaremos a encerrar a máxima secular de que os alunos não lêem, abrindo-
se, desta feita, uma nova máxima segundo a qual “os professores não sabem como ensinar a ler”.
3. Conclusão
É preciso que o professor não se limite apenas a Gramática Tradicional, mas também em
outros tipos de Gramática, bem como: a Descritiva e a Reflexiva, para assim desenvolver um
resultado satisfatório enfocando a variação e mudança, como forma de eliminar os mitos que tem
na língua.
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O professor de português deve olhar o ensino da língua integrado à literatura pois, a literatura
vai contribuir para o desenvolvimento do horizonte lexical e, com ele, a competência linguística.
O professor de português deve levar os alunos a desenvolverem habilidades de leitura por
meio de actividades concretas que possam criar motivação nos alunos tais como resenhas, debates
sobre determinado tema recomendado aos alunos.
O professor deve ser o primeiro leitor pois, a sua atitude para com as letras, a maneira como
vai apresentar uma obra previamente lida, ajudará os alunos a ultrapassarem barreiras para com as
letras.
Bibliografia
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http://www.webartigos.com/artigos/analise-entre-as-gramaticas-normativa-descritiva-e-
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didáctico, João Pessoa, 2013. Monografia (Graduação em Letras) – Universidade Federal
da Paraíba - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.
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TRAVAGLIA, Luís Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no
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