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CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA 1

DO ESTADO DE SÃO PAULO


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CONSULTA Nº 45.726/05
Assunto: Clube com academia de esportes estabelecer regras ou exigências para
aceitação de atestados médicos.

Relator: Conselheiro Renato Françoso Filho.

Ementa: O atestado médico é emitido tendo


em conta o exame efetivamente realizado por
médico que avalia as condições de saúde do
paciente que se apresenta naquele instante.

O consulente Dr. R.S.F.V., Presidente de


Associação Médica de cidade do interior de São Paulo, solicita parecer do CREMESP
sobre clube com academia de esportes estabelecer regras ou exigências para aceitação de
atestado médicos, tais como:

1) Que o atestado médico venha discriminando


os exercícios que o associado pode realizar na academia, como por exemplo:
alongamento, esteira, musculação, etc;
2) Que o atestado médico tenha período por 1
ano;

3) Que tenha firma reconhecida em cartório.

PARECER
O atestado médico é documento cuja emissão
está sujeita a normas previstas no Código de Ética Médica, Capítulo X.

Para os fins desta Consulta selecionamos os


artigos abaixo elencados:

É vedado ao médico:

Artigo 110 - Fornecer atestado sem praticar o ato


profissional que o justifique, ou que não
corresponda à verdade.

Artigo 111 - Utilizar-se do ato de atestar como


forma de angariar clientela.

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Artigo 112 - Deixar de atestar atos executados no


exercício profissional, quando solicitado pelo
paciente ou seu responsável legal.

Parágrafo Único - O atestado médico é parte


integrante do ato ou tratamento médico, sendo o
seu fornecimento direito inquestionável do
paciente, não importando em qualquer
majoração dos honorários.

Artigo 116 - Expedir boletim médico falso ou


tendencioso.

Cabe ainda ressaltar o que consta o Capítulo I,


que trata dos “princípios fundamentais” a serem seguidos pelos médicos, os quais
ressaltamos:

Artigo 1º - A Medicina é uma profissão a serviço


da saúde do ser humano e da coletividade e deve
ser exercida sem discriminação de qualquer
natureza.

Artigo 2º - O alvo de toda a atenção do médico é


a saúde do ser humano, em benefício da qual
deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de
sua capacidade profissional.

Artigo 11 - O médico deve manter sigilo quanto


às informações confidenciais de que tiver
conhecimento no desempenho de suas funções. O
mesmo se aplica ao trabalho em empresas, exceto
nos casos em que seu silêncio prejudique ao ou
ponha em risco a saúde do trabalhador ou da
comunidade.

A emissão de atestado médico fidedigno e real


expressão da verdade, está prevista no artigo 302 do nosso Código Penal, que rege:

Falsidade de atestado médico:

Artigo 302 – Dar o médico, no exercício da


sua profissão, atestado falso;
Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um)
ano.

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Parágrafo único – Se o crime é cometido com


o fim de lucro, aplica-se também multa.

Isto posto, passamos a análise das questões que


nos são propostas pelo consulente, quais sejam, a exigência da especificação da
atividade física a qual estaria apto o requerente do atestado, do reconhecimento de firma
do médico emitente e da inclusão do tempo de validade do atestado, isto tudo constante
de normatização emanada por academia de ginástica do clube de sua cidade.

O atestado médico é emitido tendo em conta o


exame efetivamente realizado por médico que avalia as condições de saúde do paciente
que se apresenta naquele instante. O médico não pode prever o que sucederá no
momento seguinte, ou seja, um dia ou um mês após a consulta, mesmo que utilizamos
exames subsidiários. Por exemplo, no dia seguinte o paciente sofre um trauma de tórax,
fratura um membro, tem lesão de determinado órgão, etc, certamente apresentará
restrições a práticas de determinados tipos de exercícios. Estas limitações não poderiam
ser previstas em exame clínico anterior. O atestado médico ao qual estamos nos
referindo, é emitido avaliando-se as condições clínicas gerais do paciente, sua higidez,
suas restrições, suas limitações baseadas na avaliação daquele momento e dados obtidos
da história pregressa e exame físico atual. Tem característica de generalidade. Se neste
momento o paciente apresenta restrições a determinado tipo de exercício, certamente
tais restrições deverão constar deste documento. Absurdo será a exigência de descrição
de aptidão para cada modalidade esportiva a ser praticada.

Com o mesmo raciocínio, não pode o médico


estabelecer prazo de validade para seu atestado por não deter capacidade de prever o
futuro. Por exemplo: uma semana após o exame o paciente é acometido de infecção por
fungo = dermatomicose – logo deverá ser afastado de uso de piscina coletiva. Isto não
poderia ser previsto no exame realizado dias antes. Assim, confirma-se que o atestado
médico tem sua validade quando afirma condições atuais.

Pelo enunciado exposto nos primeiros


parágrafos, fica clara a responsabilidade do médico quando se dispõe a emitir atestado
de saúde. Deve examinar o paciente, não pode assinar este documento para terceiros e
muito menos deve falsear o seu laudo sob pena de responder Processo Disciplinar e na
Justiça comum por falsidade ideológica, crime também que será responsável quem, não
médico, falsifique a assinatura do profissional. Logo, descabida a exigência burocrática
de “reconhecimento de firma”.

O que ensejou todas estas exigências


questionadas pelo consulente e propostas pelas academias, foi a promulgação da Lei
Estadual 10.848, de 6 de julho de 2001, que trata da “regulamentação das academias e

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demais estabelecimentos de ensino e prática de modalidades esportivas” e a


possibilidade de serem os clubes e academias responsabilizadas por possíveis mortes ou
doenças que possam ocorrer durante ou após práticas esportivas por usuários de seus
espaços.

Evidentemente que estão buscando se precaver


destes possíveis dissabores jurídicos com as exigências aqui propostas.

Os artigos 5º e 6º desta lei tratam do exame


médico e da obrigatoriedade de apresentação do atestado “recente e específico” para a
prática na qual pretende se inscrever.

O espírito da lei visa assegurar condições de


seriedade para um cem número de academias clandestinas que se disseminam pelo
Estado sem nenhuma condição de funcionamento, sem profissional responsável
habilitado, sem qualquer compromisso com a boa prática do desporto. Esta bem-vinda
legislação não pode vir a propiciar exageros como estes exigidos ao atestado médico,
numa clara tentativa de dividir com o médico a responsabilidade por eventuais acidentes
ou agravos a saúde de que possam ser vítimas os usuários destes espaços de lazer e
desportos. Professores de educação física bem formados, responsáveis por número
limitado de usuários, acompanhando de perto seu grupo, com avaliação dos limites de
atividade a que estão aptos individualmente, com confecção de prontuários com
anotações detalhadas da capacitação e limites adequados serão as melhores e mais
adequadas formas de se protegerem civil e criminalmente as instituições.

Portanto, reiteramos aos médicos que sejam


fiéis aos postulados do nosso Código de Ética Médica ao preencher atestados médicos,
sendo intransigentes quanto aos princípios éticos aqui aventados.

Este é o nosso parecer, s.m.j.

Conselheiro Renato Françoso Filho

APROVADO NA 3.291ª REUNIÃO PLENÁRIA, REALIZADA EM 03.05.2005.

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