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Declaro por minha honra que o presente trabalho de fim de curso de Licenciatura em
trabalho é originário e nunca foi usado antes por outro indivíduo ou por qualquer
outra instituição para obtenção de qualquer grau. Toda a bibliografia usada foi
Deolinda Amimo
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
I
DEDICATÓRIA
….Aos meus pais Amimo Paulo e Filomena Nipuanha, aos meus Filhos Donaciano
Matua, Belarmino da Cruz e Maria Deolinda e ao meu Esposo Cruz Mário, que, ajudaram-me
no decurso dos meus estudos.
Nunca vou esquecer de vocês por tudo que tem feito por mim e do que vocês representam para
mim...!
II
SIGLAS/ABREVIATURAS
III
1.1 LISTAS DE MAPAS
definido.
IV
AGRADECIMENTO
A Deus pela saúde dada ao longo da formação até a realização do trabalho final.
À meu supervisor, pela paciência e apoio dado desde o primeiro dia que lhe foi incumbida a missão de
A todos que directa ou indirectamente, contribuíram para a minha formação, o meu muito obrigado!
V
RESUMO
Esta pesquisa teve como foco o Papel do Estado na Salvaguarda dos Direitos das
Pessoas Deslocadas na Província de Cabo Delgado.
Na área de estudo, constatou-se que em termos de apoio, o governo presta todo tipo de
serviços sociais básicos para manutenção da dignidade humana aos deslocados, mas os
mesmos serviços prestados são deficitários (alimentação, saúde, Higiene das populações
etc) facto que leva alguns deslocados a abandonarem colocando em causa o
cumprimento dos Direitos Humano que o Estado ratificou em algumas convenções,
pactos e a legislação interna.
Os resultados das entrevistas e avaliação dos serviços prestados aos deslocados, indicam
que as Organizações não-governamentais prestam mais apoio em do que o Governo.
VI
ABSTRACT
The study of displaced people in the province allows us to understand the socio-
economic relationships and transformations and their effects on the displaced
population as a consequence of the war derived from terrorism.
This investigation focused on the role of the State in safeguarding the rights of
displaced persons in the province of Cabo Delgado.
The study was based on the analysis of the results obtained in the visit to the
neighborhoods of the city of Pemba and some reception centers for displaced people
from the districts affected by terrorism, in addition to interviews with the pre-selected
target group due to the resulting characteristics of the war in the cause.
Of a total of 157 people interviewed in the city of Pemba, they are between 18 and 67
years old, of which 114 are women and 43 belong to the male population respectively.
In the study area, it was found that in terms of support, the government provides all
kinds of basic social services for the maintenance of human dignity to the displaced, but
the same services provided are deficient (food, health, hygiene of the population , etc.).
It leads to the departure of some displaced persons, questioning the fulfillment of
Human Rights that the State has ratified in some conventions, pacts and internal
legislation.
The results of the interviews and the evaluation of the services provided to internally
displaced persons indicate that Non-Governmental Organizations provide more support
than the Government.
I
1.3 CAPITULO 1- INTRODUÇÃO
Contexto do Estudo
A dignidade da pessoa humana assume, a cada dia, papel mais importante no contexto
do Estado Democrático de Direito. No passado, a humanidade sofreu com as
malvadezas provocadas pelo Estado. Superada aquela infeliz fase da história mundial,
com o advento da Declaração Universal da ONU, de 1948, foram impostos limites aos
poderes estatais, que permitiram aos indivíduos conviver em um cenário de maior
segurança, paz e dignidade em suas vidas, (Moraes, 2003).
Contudo, não se pode olvidar que o princípio da dignidade da pessoa humana possui
conexões com os direitos fundamentais e que os operadores do direito tentam ou
tentarão fazer uso, cada vez mais, dessas pretensões constitucionais. Todavia, a
utilização incorrecta desses institutos poderá causar banalização e descrédito dos
mesmos, (Sarmento, 2004).
1
Ao mesmo tempo, observa-se que vários fenómenos podem ser igualmente expressão e
consequência do conflito e, portanto, afectar diversas vítimas e alterar tanto sua
qualidade de vida como as distintas dimensões físicas, afectivas e psicossociais da
saúde.
Colocação do Problematização
Isto por que o Direito Humano por ser é um meio de mitigar as desigualdades para o
encontro de soluções justas e que a lei é um instrumento para garantir a igualdade de
todos.
2
Assim, Castilho (2011), faz repensar que a expressão direitos humanos representa o
conjunto das actividades realizadas de maneira consciente, com o objectivo de assegurar
ao homem à dignidade e evitar que passe por sofrimentos. (…) Que todas as pessoas
nascem livres e iguais em dignidade e direitos, são dotadas de razão e consciência e
devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Tratando a todos com respeito e consideração, ao mesmo tempo em que preservará suas
prerrogativas e o direito de receber igual tratamento das pessoas com as quais se
relacionam, garantido a todos que seja concedido tratamento condizente com a
dignidade da pessoa humana, civilizar o tratamento a todos com respeito e
consideração, ao tempo em que preservará seus direitos e prerrogativas, devendo exigir
igual tratamento de todos com quem se relaciona (Abebe, 2011).
As normativas referentes aos direitos humanos, que são aplicáveis tanto em período de
guerra como em situações de conflito armado, também fornecem uma importante
protecção aos deslocados internos. Tem como objectivo evitar o deslocamento de
pessoas e garantir os direitos básicos, caso ele venha a ocorrer (Abebe, 2009).
3
Este processo de acolhimento deveria é meramente do Estado de construir centro de
acolhimento aos deslocados, de modo a não transferir as responsabilidades para os
familiares, que de certa forma encontram-se em condições de extrema pobreza e
vulnerabilidade.
Esses e outros direitos humanos devem ser assegurados para qualquer pessoa sem
discriminação, incluindo a discriminação fruto do deslocamento. O Direito
Internacional Humano é aplicável em situações de conflito armado, seja ele de âmbito
internacional ou nacional.
Nesse sentido, o presente projecto, pretende analisar de que forma as autoridades locais
lidam com os deslocados provenientes de vários distritos, sobretudo as questões
relacionados aos Direitos Humanos e Dignidade preceitos fundamentais para protecção,
segurança e bem-estar dos deslocados.
O projecto aqui apresentado, procura dar uma resposta válida a seguinte pergunta:
4
Justificativa
Desprovidos de seus lares e muitos de seus bens, obrigados a viver na miséria quase
absoluta, separados de familiares e amigos e em geral discriminados, nalgumas vezes as
mulheres optam prostituírem-se para alimentar, em geral de natureza interna, a
deslocação de pessoas aumentou e passou a ser vista como problema social e ambiental.
Como tal reflecte descompassos sociais graves e, em grande parte dos casos, não
encontra solução durável apenas por meio de políticas estatais internas não eficazes em
termos de protecção e apoio.
Mesmo elevado ao topo das discussões humanitárias das Nações Unidas, tendo sido
inclusive tema de debates e resoluções do Conselho de Segurança, muito pouco se fala,
no país, sobre questões relativas a pessoas deslocadas internas sobretudo a dignidade
dessas pessoas.
5
O pais, apesar de fazer parte de um continente que convive diariamente com a crise
humanitária mundial que percebemos na actualidade, ainda é pouco desenvolvido no
assunto, mas demonstra estar buscando um maior desenvolvimento para lidar com a
questão.
Entretanto, não basta que Moçambique tenha leis nacionais ou seja parte de
instrumentos internacionais para que efectivamente lide com os direitos e deveres dos
deslocados. É mais do que necessário que procedimentos internos sejam adoptados para
uma maior satisfação da protecção dos deslocados, visando garantir sua segurança e
bem-estar.
Por sua vez, devo ressaltar que não é somente do Estado a total responsabilidade pela
protecção dos deslocados, o Alto Comissariado das Nações Unidas e outras instituições
internacionais que lidam com refugiados ou deslocados, por não terem território
próprio, actuam nos territórios dos Estados, visando a efectivação da protecção da
população obviamente com a permissão do próprio Estado.
No entanto, cabe dar destaque ao facto de que a protecção dos deslocados não tem por
fim o momento da aceitação das províncias em receber esses indivíduos em seu
território, vai além, muito além.
Por que motivo é que durante o presente trabalho, dedicar-se-á um momento para
demonstrar a real efectividade da protecção, demonstrando o mais detalhadamente
possível a presença de acções que viabilizem a maior satisfação dos direitos e a
reposição da dignidade dos deslocados e uma efectiva protecção.
Por ser uma questão actual e por presenciarmos a maior crise humanitária que acontece
desde 2017 na província de Cabo Delgado, a atenção volta-se com maior força para o
tema. Não basta que somente o governo lide com tal questão, é necessário maior
empenho da sociedade civil, buscando inserção desses indivíduos na sociedade, tendo
em vista a dificuldade em buscar um novo lugar em uma cultura geralmente diferente.
6
À primeira vista, muitos podem se perguntar sobre o interesse que a temática possa
suscitar em Moçambique, ao argumento de que, em razão das geográficas da província e
do país, provavelmente a população mais afectada não seriam forçados a se deslocar
para outros distritos ou mesmo províncias do país por causas da guerra, ainda que
agravadas pelo terrorismo.
Ambiguamente, muitos consideram que o tema diga somente respeito dos outros países
africanos que vivem em guerra em todos anos, e que, por isso, não mereça a atenção de
uma tese em direitos humanos em Moçambique, sobretudo na província de Cabo
Delgado.
Por exemplo, muitas pessoas têm buscado melhores condições de vida em alguns
distritos da província de Cabo Delgado, sendo que esta província é uma das do país, que
mais sofre com a escassez de água, falta de serviços básicos sociais e infra-estruturas
que podem alavancar o desenvolvimento da população residente.
Do ponto de vista do discurso de protecção dos direitos humanos, que inclui a protecção
da existência humana digna, afrontada pelos efeitos do agir humano sobre a ganância, o
tema também é central.
7
Cabo Delgado, que almeja maior centralidade na geopolítica internacional, e aspira até
mesmo a um dos maiores investimentos feito pela TOTAL, deverá, sem dúvidas,
posicionar-se sobre os instrumentos jurídicos a serem utilizados para o enfrentamento
dos desafios apresentados pela temática.
OBJECTIVO
Objectivo Geral
O objectivo geral do presente estudo consiste em analisar o papel do Estado na garantia
dos direitos dos deslocados na Província de Cabo Delgado.
Objectivos específicos
Em termos específicos, o estudo visa:
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HIPÓTESES
Segundo Silva e Menezes (2001), citado por Mauvilo (2011), a hipótese é a directriz de
todo o processo de investigação, isto é, orienta o planeamento dos procedimentos
metodológicos necessários à execução da pesquisa. Richarddson (1999), consideram
que o pesquisador assume a hipótese como sendo a resposta provisória para a solução
do problema do estudo.
ESTRUTURA DO TRABALHO
Capítulo 5: faz-se a apresentação e análise dos resultados, com base nos dados obtidos
do nas entrevistas aos deslocados, para além de interpretação das convenções e pactos
9
internacionais sobre direitos internacionais dos deslocados/refugiados.
10
2. METODOGIA
Metodologia/técnicas de pesquisa
Num trabalho científico de modo geral, inicia-se com a colecta de dados sejam eles
bibliográficos ou de pesquisa de campo, supostamente importantes para um referido
problema (Marconi, 2001).
Nesta óptica de ideia, o presente trabalho tem uma forma de abordagem que é
qualitativa que, prende-se em analisar descrevendo e interpretando o fenómeno de
deslocamentos populacionais devido a guerra em Cabo Delgado.
11
Para Gil (2008), são desenvolvidas com objectivo de proporcionar visão geral, é
realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e enquanto a
descritiva, visa observar, registar, analisar, clarificar e interpretar os dados na
perspectiva de De Assis (s/d) e para Gil (2008), tem como objectivo primordial a
descrição das características de determinada população ou fenómeno ou
estabelecimento de relações entre as variáveis.
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Entrevista
Amostra
ε (Erro amostral)=1.5% 2
Z ∗σ ∗N
2
n= 2 2 2
Variância(σ )=10 ε ( N −1 ) + Z ∗σ
2 2
N (Número da população da cidade de Pemba, 4 ∗10 ∗201,846
n=
Censo 2017) = 201,846 1. 5 ∗(201,846−1 ) +4 2∗10 2
2
13
3. REVISÃO TEÓRICA
Este capítulo faz referência de diversos autores que, de alguma forma, abordam o
assunto em estudo, mas, sobretudo, os conceitos, com alguma limitação que se deve à
dificuldade encontrada na disponibilidade de trabalhos já feitos sobre o assunto.
Como defendem Lakatos e Marconi (2003), a revisão bibliográfica visa a citação das
principais conclusões e ideias a que outros autores chegaram e permite salientar a
contribuição das pesquisas já realizadas e demonstrar contradições ou reafirmar
comportamentos e atitudes.
Conceito de guerra
CLAUSEWITZ (1832), considera a guerra como “um acto de violência para levar o
inimigo a fazer a nossa vontade”. Assim, diz o autor, “a violência, ou seja, a força física
(...) é, pois, o meio; a submissão compulsória do inimigo à nossa vontade é o objectivo
último”. O autor explica ainda que, para que o objectivo se atinja plenamente, o inimigo
tem que ser desarmado, sendo este o verdadeiro objectivo das hostilidades na teoria, já
que assume o lugar do objectivo final, colocando-o como algo que não pertence bem à
guerra.
Neste caso, Boniface (1997), afirma que Clausewitz via a guerra como um elemento
instrumental e intencional, e explica que foi dessa concepção política ou racional da
guerra que resultou a famosa fórmula de CLAUSEWITZ (1832): “a guerra é uma
simples continuação da política por outros meios”.
A guerra pode ser também entendida de outras formas. Segundo SANTOS (2000), a
concepção cataclísmica vê a guerra como uma catástrofe inevitável. A concepção
escatológica considera a guerra a forma de alcançar um estádio superior da vivência do
Homem na Terra, sendo essa uma situação de pureza exigida pela religião.
Deslocados internos
14
indivíduos permanecem dentro do território do seu país, designando-se de “deslocados
internos”. Não tendo atravessado uma fronteira, não beneficiam de nenhuma lei
internacional específica, nem de uma organização mandatada para responder
exclusivamente às suas necessidades.
15
internacional específica, nem de uma organização mandatada para responder exclusivamente às
suas necessidades.
Os deslocados internos surgem nos trilhos dos conflitos internos ou regionais que têm
grassado em quase todos os continentes, desde o final da Guerra-Fria. O armamento que
os Estados Unidos e a União Soviética haviam distribuído aos seus aliados de ocasião,
vem sendo utilizado nas guerras entre clãs e grupos étnicos que despontaram nessa
altura. (Cohen e Deng, 1998).
Os actores presentes neste tipo de conflito, muitas das vezes, usam como estratégia a
expulsão de diferentes tribos ou grupos étnicos, sem distinção entre combatentes e não
combatentes (Hashimoto, 2003).
16
segurança humana, imbuído de preocupações com as ameaças à dignidade humana, e
que se centra na protecção dos indivíduos, por contraste à protecção exclusiva do
Estado (CERNEA,2000).
Estado esse, que muitas das vezes não tem tido condições para responsabilizar-se dos
deslocados internos, o agravante é de que não permite a ajuda externa para combater os
terroristas evocando questões de soberania (Idem).
Os governos não gostam que entidades externas venham interferir nos seus assuntos
internos, sobretudo no caso de guerras, pois temem que a assistência possa quebrar a
sua autoridade, ao legitimar seus oponentes, afugentando, por isso, a ajuda humanitária
(Inês, 2009).
Corre-se, assim, o risco de gerar situações dúbias, nas quais se aguarda que um Estado,
num cenário de emergência, julgue e decida o momento a partir do qual a comunidade
internacional pode entrar no território e começar a trabalhar com os terroristas
(Hashimoto, 2003).
Dimoulis e Martins (2007) entendem que, para se falar em direitos fundamentais, há que
se estar presentes três elementos: Estado, indivíduo e texto normativo regulador da
relação entre Estado e indivíduos. Assim, “essas condições apresentaram-se reunidas
somente na segunda metade do século XVIII”. Ainda sustentam que, sem a existência
do Estado, esses direitos não poderiam ser garantidos e cumpridos.
17
2007).
18
Posteriormente, nas constituições modernas, o indivíduo passou a ser considerado um
ser moral, independente e autónomo, o que possibilitou o reconhecimento de direitos
individuais, tais como a liberdade, a igualdade e a propriedade.
Por sua vez, o terceiro requisito é o texto normativo regulador da relação entre Estado e
indivíduos que, conforme o aludido autor Silva (2007), é exercido pela Constituição,
que declara e, ao mesmo tempo, garante determinados direitos fundamentais.
Na perspectiva de Silva (2007) enfatiza que “as teorias dos direitos fundamentais foram
formuladas de acordo com a organização do Estado em cada época histórica, em função
da relação entre o Estado e os súbditos, uma vez que nessa relação se estabelecem os
direitos, as garantias e as liberdades dos cidadãos”.
É bastante utilizada a expressão gerações dos direitos fundamentais, o que gera uma
ideia de gradação. As pretensões essenciais de primeira geração referem-se aos direitos
individuais e políticos, cuja finalidade era limitar o poder opressor do Estado a favor
dos indivíduos. Nessa época, vivia-se sob as batutas do Estado liberal, que se
posicionava distante das relações privadas (Pasqualini, 1999).
Esses direitos tiveram origem nas doutrinas iluminista e jus naturalista, dos séculos
XVII e XVIII, englobando a vida, liberdade, propriedade, igualdade formal, as
liberdades de expressão colectiva, os direitos de participação política e, ainda, algumas
garantias processuais individuais (Idem).
Com o declínio do Estado Liberal, surge o chamado Estado Social), cujo objectivo
primordial era minimizar a injustiça e permitir aos cidadãos uma melhoria na qualidade
de vida. Tem-se, nesse momento, um Estado intervencionista e assistencial, que
adoptava práticas no campo social. Daí serem de segunda geração tais direitos,
chamados de sociais (Nobre,2000).
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representam a quebra das fronteiras estatais. Seus defensores sustentem a ideia de que
as pretensões constitucionais têm que acompanhar a globalização e, portanto, há que se
pôr um fim às fronteiras geográficas entre os países (Coelho, 2009).
Dimoulis e Martins (2007) criticam a utilização do termo geração que, para eles, não é
cronologicamente exacto, pois, ao se considerar os aspectos históricos, “(…) pode-se
indicar que já havia direitos sociais garantidos nas primeiras Constituições e
Declarações do século XVIII e de inícios do século XIX”. Por essa razão, de acordo
com aqueles autores (2007), uma parte da doutrina prefere se referir às categorias dos
direitos fundamentais utilizando o termo “dimensões”.
Martínez (1995), afirma que “os direitos fundamentais são representantes de um sistema
de valores concreto, de um sistema cultural que deve orientar o sentido de uma vida
estatal contida em uma Constituição (…)”.
A conceituação acima não é a melhor para ser adoptada nos dias actuais. Considera-se
que o Estado e a sociedade evoluíram e, como consequência, houve o desenvolvimento
20
dos direitos e das garantias fundamentais. Actualmente, o campo de abrangência dessas
pretensões públicas subjectivas cresceu, já que, além de defender a pessoa contra os
entes estatais, também constitui instrumento de defesa contra outros particulares
(Steinmetz, 2004).
Nesse mesmo diapasão encontra-se o conceito abaixo de Sarmento (2004): “Os direitos
fundamentais são concebidos como princípios supremos do ordenamento jurídico, não
só na relação do indivíduo com o poder público, actuando em forma imperativa.
Afectam, também, a relação recíproca dos atores jurídicos particulares e limitam sua
autonomia privada, regendo-se, então, como normas de defesa da liberdade e, ao mesmo
tempo, como mandados de actualização e deveres de protecção para o Estado”.
21
juízo analítico revelado a priori pelo conhecimento. O predicado (dignidade) que
atribuo ao sujeito (pessoa humana) integra a natureza do sujeito e um processo de
análise o extrai do próprio sujeito. Sendo a pessoa um fim em si jamais um meio para se
alcançar outros desideratos, devemos ser conduzidos pelo valor supremo da dignidade”.
Rosenvald (2005), cita Flórez Valdés (1990), para lembrar que “a dignidade da pessoa
humana é a razão de ser do direito e fundamento da ordem política e paz social. Todo
direito é constituído para servir ao homem (…). A dignidade situa o ser humano no
epicentro de todo o ordenamento jurídico (…)”.
Silva (2007), expõe que “se é fundamento é porque se constitui num valor supremo,
num valor fundante da república, da federação, do país, da democracia e do direito”.
Consoante Moraes (2003), saber em que consiste a dignidade humana: “é uma questão
que, ao longo da história, tem atormentado filósofos, teólogos, sociólogos de todos os
matizes, das mais diversas perspectivas, ideológicas e metodológicas. A temática
tornou-se, a partir de sua inserção nas longas Constituições, merecedora da atenção
privilegiada do jurista que tem, também ele, grande dificuldade em dar substância a um
conceito que, por sua polissemia e o actual uso indiscriminado, tem um conteúdo ainda
mais controvertido do que no passado”.
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Benda (1996) entende que a dignidade da pessoa humana possui: “como parâmetro
valorativo (…), o condão de impedir a degradação do homem, em decorrência de sua
conversão em mero objecto de acção estatal. Mas não é só. Igualmente, esgrime a
afirmativa, de aceitação geral, de competir ao Estado a procura em propiciar ao
indivíduo a garantia de sua existência material mínima”.
Com relação ao conceito de dignidade da pessoa humana, Sarlet (2009) entende que “a
busca de uma definição necessariamente aberta mas minimamente objectiva impõe-se
justamente em face da exigência de um certo grau de segurança maior e estabilidade
jurídica.
23
implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que
assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano,
como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável,
além de propiciar e promover sua participação activa e co-responsável nos destinos da
própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos”.
Para Sarlet (2004), uma vez que os direitos e garantias fundamentais encontram seu
fundamento directo e imediato: “na dignidade da pessoa humana, do qual seriam
concretizações, constata-se que os direitos e garantias fundamentais podem ser
reconduzidos de alguma forma à noção de dignidade da pessoa humana, já que todos
remontam à ideia de protecção e desenvolvimento das pessoas”.
Andrade (2006), sustenta que o princípio da dignidade da pessoa humana radica na base
de todas as pretensões essenciais. O grau de vinculação dos diversos direitos àquele
princípio poderá ser diferenciado, de tal sorte que existem direitos que constituem
explicitações em primeiro grau da ideia de dignidade e outros que dele são decorrentes.
24
Portanto, os direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana apresentam, como
traço comum, o facto de que ambos “actuam no centro do discurso jurídico-
constitucional de forma indissociável”.
Conforme Biagi (2005), tais direitos “são os pressupostos elementares de uma vida
humana livre e digna, tanto para o indivíduo como para a comunidade: o indivíduo só é
livre e digno numa comunidade livre; a comunidade só é livre se for composta por
homens livre e dignos”.
25
status de combatente e de prisioneiro de guerra, a protecção do emblema da cruz
vermelha e do crescente vermelho (BOCKENFORDE, 1993).
Por sua vez, o DIDH é um conjunto de normas da mesma natureza que o DIH, mas que
estipula o comportamento e os benefícios que as pessoas ou grupos de pessoas podem
esperar ou exigir do Governo.
Neste contexto, os direitos humanos são aqueles inerentes a todas as pessoas, em razão
de sua condição enquanto seres humanos, sendo que muitos princípios e directrizes de
índole não convencional (direito programático) integram também o conjunto de normas
internacionais de direitos humanos.
26
4. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Este Distrito faz fronteira à Norte com à Baia de Pemba, à Sul faz fronteira com o
distrito de Mecúfi, à Este é banhado pelo Oceano Índico e à Oeste limita-se com o
distrito de Pemba-Metuge e a Baia de Pemba, (SITCD,2003),
População
De acordo com Censo de 2017, a província de Cabo Delgado tem 2 333 278 habitantes
em uma área de 82 625km² dos quais 201,846 pertence a cidade de Pemba, e, portanto,
uma densidade populacional de 28,2 habitantes por km². Quando ao género, 51,5% da
população era do sexo feminino e 48,5% do sexo masculino (INE, 2017).
27
O valor de 2017 representa um aumento de 699 116 habitantes ou 42,8% em relação aos
1 634 162 residentes registados no censo de 2007 (INE, 2007).
Neste capítulo, faz-se a apresentação e análise dos resultados, com base nos dados
obtidos através do inquérito e entrevistas realizados no centro de acolhimento e nos
bairros da cidade de Pemba
Demografia
Em termos demográfico, a maioria dos deslocados entrevistados para este estudo (83%),
é constituída por população jovem e 17 % representa a população velha. Quanto à
idade, a maioria dos inquiridos (29%) é da faixa etária de 32-40 anos, seguido por um
grupo constituído por (21%) na faixa etária de 18-30 anos e por último existe um grupo
menos constituído com (11%) que são da faixa etária entre 41-45 (gráfico 1).
26-30 anos
21%
21-25 anos
15%
32-40 anos
29%
População
velha 17-20 anos
11%
41-45 anos
7%
46-67 anos
17%
28
este estudo, 114 são do sexo feminino, o que demonstra muita vulnerabilidade de
mulheres em momentos de guerra, vide a tabela 1.
120
100
80
60
40
20
0
População Deslocada Inquirida Feminina Masculina
Escolaridade
Quanto ao nível de escolaridade dos entrevistados, verifica-se que a maioria (50%) tem
o Ensino Geral. Mas também existe uma proporção significativa (10%) com Ensino
Superior, para além dos que frequentam Ensino Técnico (5) e outros indivíduos de
diversos níveis de escolaridade com uma percentagem (35%).
Ocupação
De um total de 152 da população inquirida para este estudo, 63% da população é
desemprega e 37% é constituída por empregados; é importante realçar que dentre os
desempregados, 76% dessa população pratica actividade comercial por conta própria e
existe um outro grupo correspondente a 24% dos desempregados que não aderem a
nenhum tipo de actividade de rendimento, estando em dependência total aos
encarregados.
29
6. DIREITOS DOS DESLOCADOS
SAÚDE
Saúde é conceitualmente entendida a partir de um amplo rol de saberes, que não se
limitam à medicina, que vão além do conjunto das ciências médicas e que alcançam a
sociologia, a antropologia, a filosofia, a geografia e, inclusive, o direito. Embora muitas
vezes seja abordada por oposição à noção de doença, saúde significa mais do que a
mera ausência de enfermidade ou do que o acesso a medicamentos ou a expedientes
terapêuticos. A definição adoptada pela Carta da OMS:
A saúde está entre os direitos humanos, pois é decorrência do próprio direito à vida.
Na Declaração de 1948 seu reconhecimento como direito humano era indirecto,
especialmente no art. 25:
§ 1° Toda pessoa tem direito a um padrão de vida
capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-
estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis,
o direito à segurança, em caso de desemprego, doença,
invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos
meios de subsistência em circunstâncias fora de seu
30
controlo.
A percepção da saúde na Declaração é ampla e condiz com a concepção que a este
respeito tem a OMS. Perceba-se que os cuidados médicos são apenas um dos elementos
da saúde. O dispositivo citado é de carácter exemplificativo nas especificações, ou
aproximações, que faz acerca da saúde.
Indirectamente, não apenas o citado artigo 25, mas também outros dispositivos da
Declaração pressupõem a existência de um direito à saúde. Assim é com o direito à vida
(art. 3º) e com a proibição da tortura (art. 5º). Da mesma forma, quando no art. 2º, § 1º,
afirma que:
Por tratar-se assunto relacionado com a saúde, durante a visita de campo, observou-se
que por falta de abrigo adequado e cuidados médicos, há casos em que na mesma casa
são acomodados indivíduos com doença contagiosa sem tratamento médico.
Este tipo de cenário contradiz aquilo que está plasmado na Constituição da República de
Moçambique Art. 89:
31
que exige o agir estatal, de maneira que a simples abstenção do Estado, na forma de
liberdades individuais, não é suficiente para propiciar a sua efetivação. No que se refere
ao PIDESC, interessam especialmente os artigos 11 e 12.
O artigo 12, por sua vez, diz respeito ao direito à saúde em sentido estrito e, neste
sentido, especifica a protecção das crianças e dos trabalhadores. De modo geral, postula
tanto pela prevenção de doenças, como pela assistência quando da sua ocorrência:
32
EDUCAÇÃO
A educação para a cidadania visa contribuir para a formação de pessoas responsáveis,
autónomas, solidárias, que conhecem e exercem os seus direitos e deveres no respeito
pelos outros, com espírito democrático, pluralista, crítico e criativo, tendo como
referência os valores dos direitos humanos (RUTKOSKI, 2006; BARCELOS, 2009).
A educação como essencial, tanto para que se possa usar da liberdade expressa como
direito civil mediante uma consciência crítica que permita lutar por direitos na prática
para que todos possam se desenvolver adequadamente. É necessário um entendimento
do seu papel social como sujeito para que possamos transformar a sociedade e
alcançarmos um padrão razoável de civilidade. (Barcelos, 2009).
Entende-se que estamos inseridos numa sociedade democrática que tem por definição a
pluralidade, o convívio e a interlocução na diversidade, o direito de participar nos
espaços e processos comuns de ensino e aprendizagem realizados pela escola está
previsto na legislação, e as políticas educacionais devem estar compatíveis com esses
pressupostos que orientam para o acesso pleno e condições de equidade no sistema de
ensino.
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conhecimento como um valor. Porém, a inexistência da possibilidade de realização do
direito à educação, ou a insuficiência de condições para o seu exercício, implica que a
igualdade de direitos e deveres de cidadania está anulada ou prejudicada (Santos, 2001).
Isso por que homens e mulheres não nascem com o conhecimento das leis, dos direitos
e dos deveres da cidadania, o que pressupõe um longo processo de socialização e de
escolarização, se esse processo não se efectiva, automaticamente, está sendo negado um
dos direitos essenciais da cidadania. Portanto, a educação pública é um dever básico do
Estado com os seus cidadãos. (ROSSI, 1978; SANTOS, 2001).
Com base nas entrevistas efectuadas aos deslocados na cidade de Pemba, identificou-se
pessoas que nas suas comunidades estudavam mas devido aos ataques, chegados a
cidade de Pemba na condição de refugiado também há pessoas que são integrados,
como explica um dos nossos entrevistados:
Outros devido a burocracia, ainda não conseguiram a ser integrados nas escolas para
exercerem seu direito cívico:
Em suma, quanto ao direito à educação para os deslocados, e um serviço que esta a ser
administrado de forma positiva embora de forma lenta no processo de integração dos
deslocados devido ao sistema organizacional da instituição que tutela este serviço.
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HABITAÇÃO
Já Sarlet (2008) ressalta a visão de independência desse direito, trata-o como direito
autónomo que possui esfera de cobertura e fins próprios, o que não impossibilita a sua
possível conexão com outros bens tidos fundamentais.
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Prevê ainda a declaração em seu art. 12 que ninguém sofrerá intervenção na sua vida
particular, na sua família, no seu lar ou em sua correspondência, nem ataques em
relação à sua honra e reputação. E tendo tais intromissões ou ataques, toda pessoa tem
direito à protecção da lei.
O termo moradia, até então não mencionado propriamente, fora utilizado pela primeira
vez no Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e Culturais que com o
intuito de protecção internacional dos direitos humanos abarcou o direito à moradia
como tal.
Traçou-se, por consequência, uma nova ordem económica, social e cultural, abarcada, a
partir de então, pelo próprio art. 2º do citado pacto, segundo o qual:
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República de Moçambique, em seu artigo 91º, ao estabelecer o direito à moradia de
seguinte maneira:
Nesse diapasão, a moradia embora ainda não enunciada com um direito social universal,
já era vista como preocupação e buscada como status constitucional. No artigo referido
anteriormente vê-se a, já, consideração da moradia como necessidade essencial primaria
do indivíduo. E desse pensamento, dá-se sua importantíssima característica não só de
direito social, como também de direito personalíssimo, humano e fundamental diante da
evidente precisão desta para a sobrevivência do ser humano.
Assim, com o desenrolar dos ataques em massa nos distritos da província de Cabo
Delgado, contribuíram para o rápido crescimento do número da população de
deslocados em Pemba, nos dois últimos anos¸ designadamente 2019 e 2020; Até no
início de 2021 o número triplicou.
Para este estudo, num universo de 157 deslocados entrevistado, 96 % vivem com os
familiares ou em casas arrendadas e 6% vivem nos centros de acolhimento, vide o
gráfico a seguir.
4%
96%
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O estudo revela que ainda há deslocado que saem dos centros de acolhimento para
devido a falta de condições de vida: dificuldades de acesso a água e a alimentação,
alojamento exíguo e sem equipamentos, acesso limitado aos cuidados de saúde,
exposição a riscos acrescidos de propagação de doenças. Essa situação contrapõe os
princípios constitucionais (direito à vida, à saúde e habitação)
Direito à alimentação
O direito de estar ao abrigo da fome, intimamente ligado ao direito à vida, é considerado
uma norma absoluta, o nível mínimo que deve ser garantido a todas as pessoas,
independentemente do grau de desenvolvimento alcançado pelo Estado.
O seu carácter universal significa que são aplicáveis a todas as pessoas sem que se
possam estabelecer quaisquer condições ou limitações por motivos de raça, cor, sexo,
língua, religião, nascimento ou qualquer outra condição social.
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Não obstante, os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e estão
relacionados entre si sem que nenhum deles tenha prioridade sobre o outro.
a) O direito à água, pois esta faz parte da dieta alimentar e é necessária para
produzir e cozinhar os alimentos;
b) O direito de propriedade, em particular à propriedade da terra e a outros recursos
produtivos necessários para produzir os alimentos‟;
c) O direito à saúde, já que a adequada utilização biológica dos alimentos é
condicionada pelo estado de saúde da pessoa e pela possibilidade de acesso a
cuidados básicos de saúde; e
d) O direito ao trabalho e a uma remuneração justa que permita à pessoa satisfazer
as suas necessidades básicas, entre as quais a alimentação.
Assim, pois de ter feito as visitas na área de estudo, sobretudo nos bairros da cidade de
Pemba previamente seleccionados, fez-se entrevista com vários deslocados que se
encontram acomodados em casas de familiares e em casas arrendadas. Para um número
considerável, ter uma refeição diária é quase impossível. Dado que as famílias
acolhedoras são, na sua maioria, pobre, com a chegada dos deslocados, as dificuldades
de acesso aos bens mais básicos para subsistência aumentam significativamente.
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„‟Desde que estamos aqui em Pemba tenho tido apoio dos
meus familiares, mas pela quantidade de pessoas que
somos não chega para alimentar todos os membros da
família…‟‟.
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que tenha sido registado pelas autoridades locais recebe mensal certa quantidade de
alimentos que pode variar em função da organização que fornece a ajuda.
O deslocamento forçado para além dos limites do Estado de origem pode significar
sofrimento ainda maior, decorrente da perda da sua própria identidade, da sua
capacidade de expressão e de manifestação dos sentimentos em sua língua materna.
Ademais, considera-se que a degradação da vida das populações atenta contra o direito
humano das presentes e futuras gerações de existência digna em um desenvolvimento
da província que comporte seu amplo desenvolvimento como pessoas.
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Isso vai ferindo directamente o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, o
Pacto Internacional sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais, a Convenção sobre
os Direitos da Criança, entre outros documentos internacionais que declaram e
protegem direitos humanos.
O assunto em discussão nesta monografia, com o patético que pode comportar, impõe,
em síntese, a reflexão sobre como proteger tais pessoas, combatendo as causas que
forçam o deslocamento e possibilitando-o, quando estratégia última para a
sobrevivência e adaptação, sempre tendo em vista a máxima protecção do ser humano.
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As esferas internacionais de protecção da pessoa humana
Para o enfrentamento de situações de ameaça à pessoa humana, o direito internacional
prevê três grandes vertentes de protecção internacional: o direito humanitário, o direito
dos refugiados e os direitos humanos. Essas três vertentes de protecção apresentam-se
interrelacionadas e convergentes.
Com vistas a evitar que certos Estados aproveitassem de seu direito de supervisionar a
protecção de minorias para intervir em assuntos internos de outros países, preferiu-se,
após a Primeira Guerra Mundial, o estabelecimento de um sistema internacional de
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responsabilidade de colectivização para o controlo da protecção de minorias, que ficou a
cargo da Liga das Nações.
O Acordo de 1928, quanto ao estatuto jurídico dos imigrantes russos e arménios, abriu
caminho para o afastamento desse modelo. Não era mais possível o enfrentamento da
questão dos deslocados com base na generosidade em relação a “Estados mais
favorecidos”, pois a questão dos deslocados parecia persistir e até mesmo aqueles
provenientes de países favorecidos eram recusados.
O contexto era tão grave que em 1933 a Comissão Intergovernamental da Liga das
Nações, responsável pela protecção dos deslocados, afirmou “a conveniência de uma
convenção destinada a garantir um estatuto jurídico mais estável para os refugiados” e
que “a estabilização do estatuto jurídico dos refugiados, só pode, devido à própria
natureza das medidas a serem tomadas, ser provocada por um acordo formal, celebrado
por um certo número de Estados em causa‟‟.
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A Convenção de 1933 sobre o Estatuto internacional dos refugiados foi um dos
primeiros instrumentos internacionais de codificação de direitos humanos. Ela abriu
espaço para o reconhecimento, pelo direito internacional, demonstrando a aceitação
progressiva de que a positivação de direitos humanos estaria dissociada da
nacionalidade, a considerar o género humano.
Por outro lado, a protecção pelo sistema de nações mais favorecidas não garantia o
enfrentamento adequado à situação, principalmente em momento de crise económica,
como na década de 1930, em que os países evitavam a entrada de estrangeiros ou o
acesso por eles ao trabalho e benefícios sociais.
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de nacionalidade e assim inverteram a equação, direccionando a atenção internacional
para a protecção de minorias dentro de Estados soberanos, muito embora houvesse
interesse mediato em impedir-se a eclosão de situações que pudessem ameaçar a paz
internacional.
A União Africana buscou reforçar a protecção dos direitos das pessoas mais vulneráveis
no continente. Quer o deslocamento seja causado por conflitos armados, catástrofes
naturais ou projectos de desenvolvimento, o seu impacto é invariavelmente grave, pois
afecta todos os aspectos da vida das pessoas, desde o acesso à alimentação, à água, ao
abrigo e a serviços básicos, tais como de saúde e educação.
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O art. 4, prevê a obrigação de os Estado-Partes implementarem sistemas de alerta
rápidos nas áreas susceptíveis ao deslocamento, elaborar e implementar estratégias de
redução de risco de calamidades, adoptar medidas de gestão e de resposta a catástrofes e
emergências, e fornecer, caso necessário, protecção e assistência imediatas às pessoas
deslocadas internamente.
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assistência de organizações internacionais, agências humanitárias, organizações da
sociedade civil e outros agentes de relevo. As referidas organizações podem oferecer os
seus serviços a todos os indivíduos necessitados.
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imediatas às pessoas deslocadas internamente” Convenção de Kampala, Artigo 3(1)(a) e
4.
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“ [Os Estados Parte comprometem-se a] providenciar às pessoas deslocadas
internamente, da melhor forma possível e sem demora, assistência humanitária
adequada, nomeadamente alimentação, água, abrigo, cuidados médicos e outros
serviços de saúde, saneamento básico, educação e todos os outros serviços sociais
necessários. Esta assistência pode ser estendida, caso seja necessário, às comunidades
locais e de acolhimento.” Convenção de Kampala, Artigo 9(2)(b)
Nos últimos dias, algumas pessoas estão abandonar os centros de acomodação devido à
falta de comida e de condições básicas de saneamento de meio. Além dos deslocados
que estão em zonas relativamente seguras, há dezenas de milhares de pessoas que
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continuam nas aldeias afectadas por ataques e que também precisam de assistência
humanitária urgente.
Para estes casos, a Convenção de Kampala obriga o Estado a tomar todas “as medidas
necessárias para organizar as operações de socorro de carácter humanitário imparcial e
garantir condições de segurança efectivas”, conforme o nº 7 do artigo 5.
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10. CONCLUSÕES
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durante o deslocamento e no reassentamento.
A Convenção de Kampala indica direitos humanos que devem ser resguardados e
promovidos em situações envolvendo o deslocamento interno de pessoas. Tal
documento tem por fim a estabilidade do movimento interno forçado, com a actuação
pelo próprio Estado.
A previsão de cooperação de outros países, por meio desse mecanismo, é apenas
complementar e não vinculante. Contudo, tendo em vista que Moçambique é
denominado o um dos países mais pobre do mundo, instituições políticas são
frágeis, onde carecem de infra-estrutura de protecção para situações de crise, a mera
enunciação de direitos humanos pouco garante em termos de protecção efectiva.
O problema dos deslocados internos na província de Cabo Delgado impõe, para o seu
enfrentamento de racionalidade organizada, voltada para restabelecer a dignidade das
populações afectadas.
As condições de sobrevivência dos deslocados requerem que se volte também aos
efeitos combinados e cumulativos de direitos dos deslocados, oriundos de várias fontes
de apoio, capazes de produzir efeitos estabilizador duma vida digna e duradoura para
os que estão nos centros de acomodação e os que estão nas casas de arrendamento ou
familiar.
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11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
54
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dignidade da pessoa humana aplicados às relações privadas. Revista de Direito
Constitucional e Internacional, São Paulo, 2009.
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International Migration, State of World Population, 2006.
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Privado; Editoriales de Derecho Reunidas, 1978.
55
NOBRE , Edilson Pereira. O direito brasileiro e o princípio da dignidade da pessoa
humana. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Paris: Assembleia Geral das
Nações Uni•das, 1948.
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SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 8. ed. Porto Alegre:
Editora Livraria do Advogado, 2007a.
56
Wolfgang (Org.). Dimensões da dignidade: ensaios de filosofia do direito e direito
constitucional, 2. ed. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2009.
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à constituição. 4. ed. São Paulo:
Malheiros, 2007.
SILVA, Sandoval Alves da. Direitos sociais: leis orçamentárias como instrumento de
implementação. Curitiba: Juruá, 2007.
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