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Vou falar um pouco do conceito de Democracia a partir de 2 obras

clássicas Rousseau, Discurso sobre a origem da desigualdade entre os


homens e o Contrato Social.
No “Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens”
Rousseau estabeleceu as bases de sua doutrina política e social a partir da
compreensão que todos os problemas sociais que criam as desigualdades
entre os homens se conformam com o advento da propriedade.
Antes disso é necessário compreender o conceito de estado de
natureza na perspectiva de Rousseau. Em linhas gerais, o Estado de Natureza
é a forma que o homem se encontrava antes da organização da sociedade
moderna. Os filósofos tem uma interpretação distinta do Estado de Natureza.
Rousseau é contrário da interpretação do filósofo Thomas Hobbes, que
entende que o homem seja mau por natureza; pelo contrário, é dotado de bons
sentimentos, a sociedade é que o corrompe.
Para Rousseau, os homens seriam iguais até o surgimento da
propriedade. Tem uma frase dele que é muito conhecida:

O primeiro que, tendo cercado um terreno, disse: 'este é meu' e


achou outras pessoas ingênuas o suficiente para acreditar, esse foi o
verdadeiro fundador da sociedade civil.

Tal evento não ocorreu repentinamente, decorreu de um processo. O


homem começou a sentir necessidade de proteção e estabilidade, formaram-se
famílias, as moradias, vilarejos, a agricultura, e finalmente as indústrias, onde
reside justamente o germe da propriedade.
Da propriedade nasceram as demandas, as necessidades, os luxos; e
então os homens foram lançados em uma corrida selvagem por riquezas,
desenvolvendo lógicas e estratégias para lucrar às custas dos outros.
Dessa forma, a sociedade civil foi criada, as leis foram promulgadas e a
liberdade natural do homem foi definitivamente destruída.
No Contrato Social Rousseau discorre sobre o Estado e a soberania
popular e é aqui que o povo aparece como a origem legítima do poder
soberano e não mais a figura do monarca como soberano absoluto, porque
agora ele está limitado pela instituição da constituição.
O povo passa a ser o soberano e o governante restringe-se à função
de agente do soberano. A soberania do Contrato não reside no administrador
executivo, mas nos próprios indivíduos, tomados coletivamente como povo,
que lhe autorizam como governar.
A gente pode dizer que uma das preocupações de Rousseau era
demonstrar em sua obra que a monarquia não era a única forma de governo
capaz de fundar a soberania do Estado, como o pensavam Jacques Bossuet e
Jean Bodin, filósofos que defendiam “direito divino dos reis”.
Nesse sentido Rousseau concebe o povo como portador da vontade
geral que constitui o fundamento do Estado.
Ao contrário do regime monárquico onde os homens abdicam da sua
liberdade sem ter contrapartida, o filósofo considera uma democracia onde os
homens abdicam sua liberdade ao conjunto do povo que eles compõem.
A vontade geral é constituída do que há de melhor para cada um, onde
cada um abdica sua liberdade sob a condição de que todos façam o mesmo.
sendo a condição igual para todos, pois a vontade particular tende para
interesses particulares, mas a vontade geral tende para a igualdade.
Desse jeito, os indivíduos cedem de sua liberdade não para um outro
indivíduo ou um conjunto de indivíduos, mas para o coletivo, sob a condição de
que todos façam o mesmo. Isso porque, de acordo com o filósofo, em uma
legislação perfeita, a vontade particular ou individual deve ser nula enquanto
que a vontade geral é a única regra para todas as outras.
Rousseau vê num rei e seu povo, a mesma relação entre senhor e
escravo, pois o interesse de um só homem será sempre o interesse privado.
Por outro lado, quando a soberania é dada ao povo é possível pensar que,
trabalhando para os outros, trabalha-se para si mesmo.
Os indivíduos têm suas vontades particulares, mas a soberania deve
ser da vontade geral. Cada homem é legislador e sujeito, obedecendo a leis
que lhe são favoráveis. Desta forma, o tratado social tem por finalidade
conservar os contratantes.
Por isso, Rousseau pode ser considerado um dos maiores defensores
da ideia de que o Povo deve ser o detentor de uma soberania que, além de
absoluta, é infalível, inalienável e indivisível.
O ponto de partida da defesa de Rousseau da democracia é a ideia de
que todos os homens são iguais e livres. Essa também é a razão pela qual
critica toda forma de subordinação de uma pessoa a outra como a gente viu
anteriormente.
Em sua época, vários filósofos argumentavam em defesa de algum tipo
de desigualdade entre os homens. De modo geral, diziam que algumas
pessoas nasceram para governar e outras para serem governados.
Rousseau discordava da afirmação de que há uma desigualdade
natural entre os homens. Para o autor, a desigualdade era criada pela
sociedade que posteriormente usava esse fato como justificativa para a
desigualdade

A democracia como única forma de governo legítimo


Para Rousseau, a única maneira de conciliar liberdade e igualdade
com um governo é através da democracia.

Democracia direta e representativa


Então, para Rousseau, a forma de governo mais legítima é a
democracia.
Rosseau não concordava com a democracia representativa pelo fato
de que ainda que o povo possa votar, não poderia participar das decisões
políticas diretamente.
Para Rousseau, o poder de legislar é a essência da soberania e deve
ser exercido diretamente pelo soberano.
Então considerando que seu princípio é a soberania popular, a opinião
de Rousseau em relação à democracia representativa era categórica.
Comentando sobre o governo Inglês, que na época era representativo, afirma o
seguinte:
“O povo Inglês pensa ser livre, mas está completamente iludido;
apenas o é durante a eleição dos membros do Parlamento; tão logo estejam
estes eleitos, é de novo escravo, não é nada.”
A única forma de governo compatível com a ideia de liberdade e
igualdade, portanto, é uma democracia na qual o povo tenha poder constante
de decidir sobre questões políticas.
E eis que o rico, para salvar os seus, concebe o projeto de usar a seu favor as
forças que o estavam lutando; e não foi difícil para ele convencer os pobres de
que era do interesse deles unir todas as suas forças para a tutela comum.
a forma de governo depende da delegação ou não de "direitos
subordinados"

Para Rousseau, de tanto as pessoas serem obrigadas e ensinadas a


obedecer, acabam sabendo só obedecer. Mas se pudéssemos criar os homens
livres das convenções sociais, de todas essas vozes que dizem que uns são
superiores e outros inferiores, veríamos que são todos iguais, com mais ou
menos as mesmas capacidades, de modo que não é possível justificar a
desigualdade.
Então, o ponto de partida de Rousseau é o fato de sermos todos livres
e iguais. Ou seja, ninguém é obrigado, por natureza, a obedecer a ninguém.
Todos são livres para fazerem o que desejam.
Porém, nota Rousseau no início do livro chamado Contrato Social, “o
homem nasceu livre, e em toda parte se encontra a ferros”. Aqui o autor está
comparando um direito natural de todos os seres humanos à dura realidade da
Europa do século XVIII, com seus governos absolutistas. Os homens se
encontram a ferros, para Rousseau, porque são obrigados a obedecer a um rei.
Não gozam de sua liberdade natural.
O grande objetivo de Rousseau foi pensar uma alternativa ao governo
absolutista que garantisse aos homens viver em sociedade, com um governo, e
ao mesmo tempo livres. Para o autor, uma condição indispensável para que o
governo seja legítimo é garantir a liberdade e a igualdade. Do contrário, o
governo não é legítimo e ninguém tem qualquer obrigação de obedecer às leis.
Porém conciliar igualdade e liberdade com um governo é um grande
problema. Por que se há governo, há alguém que manda e alguém que
obedece. Então essa pessoa que obedece não será livre. Ela tem que
obedecer. Ao mesmo tempo, se há governo, também há desigualdade, já que
quem manda e quem obedece são desiguais: um tem poder outro, não; um
pode mandar, outro, não.
Então, como Rousseau resolve esse aparente paradoxo? Pois governo
parece ser sinônimo de desigualdade e algum tipo de perda de liberdade.
A razão para isso é a seguinte. Um governo em que todas as pessoas
governam há igualdade. Uma cabeça, um voto é uma fórmula que expressa
isso. Quer dizer, ao contrário de uma monarquia, em que apenas uma pessoa
governa e todas as demais devem obedecer, numa democracia todas as
pessoas governam, todas têm o mesmo poder político.
Rousseau também pensava que numa democracia existe liberdade.
Numa monarquia já vimos que não. Um manda, outros obedecem. Numa
democracia, pelo contrário, mandamos em nós mesmos e por isso somos
livres. Quando alguém nos obriga a fazer algo, não estamos gozando de nossa
liberdade. Mas quando mandamos em nós mesmo, sim. Então, se participo da
criação de uma lei que obriga a todos os motoristas a não dirigirem
alcoolizados, sou livre ao obedecer essa lei, já que fui em mesmo quem a
criou. Por outro lado, se uma pessoa apenas cria essa lei (um rei) e obriga
todos a obedecerem, se trata de uma condição de escravidão, já que estamos
obedecendo não à nossa vontade, mas a vontade de outra pessoa.
Ele afirma que as pessoas não são boas nem más, mas que nascem como
uma folha em branco e então a sociedade e o meio ambiente influenciam em
que direção nos apoiamos. No estado de natureza de Rousseau, as pessoas
não se conheciam bem o suficiente para entrar em conflito e tinham valores
morais
Como o direito à liberdade, por ser da mesma natureza, não pode ser atribuído,
segue-se que os poderes políticos com base nessa atribuição são por definição
arbitrários
A desigualdade política traz consigo a desigualdade civil, até que
atravessa um ciclo trágico cuja fase culminante consagra uma desigualdade
comum, oposta à natural: o despotismo, em que todos são igualmente
escravos ", já que não têm outra lei senão a vontade do senhor ".
O Discurso marca um momento fundamental na história das doutrinas
políticas, pois contém as premissas da doutrina que Rousseau desenvolverá
em O Contrato Social. O pacto entre os fracos e os poderosos que o Discurso
aponta é o resultado empírico de um processo histórico que consagra
legalmente um estado injusto, enquanto o do Contrato Social é o novo pacto
que substituirá o primeiro: um pacto feito pela razão e pela lei, destinado,
segundo o idealismo de Rousseau, a garantir o primado da justiça e da
felicidade.
O primeiro era um bispo e teólogo francês do século XVII, defensor da
teoria do absolutismo político que criou o argumento de que o governo era
divino e que os reis recebiam seu poder de Deus, defendendo esta teoria para
fundamentar o absolutismo de Luís XIV na França. O segundo foi um jurista e
professor de Direito em Toulouse-França, do século XVI, defensor da teoria do
“direito divino dos reis”, ou seja, a teoria de que os príncipes/reis soberanos
eram estabelecidos por Deus para governarem os outros homens, justificando
assim a autoridade e legitimidade do monarca. Ao contrário de Bossuet e
Bodin,
O poder pode ser dividido (como acontece a divisão dos poderes em
Executivo e Legislativo) e, nesse caso, constitui uma emanação da autoridade
soberana, desde que não seja uma divisão da soberania (da vontade geral).
Infalível, porque a vontade geral não pode errar, sendo a vontade
qualitativa de todos os particulares ela deseja sempre o próprio bem.
Inalienável, pois o povo deve exercê-la diretamente, não podendo ser
suscetível de transmissão ou representação; o poder pode ser transferido, mas
não a soberania, pois a vontade soberana só pode ser exercida pelo soberano.
. Um grupo de pessoas é escravizado. Através do uso da violência, é
obrigado a obedecer e não tem acesso a qualquer tipo de formação ou
educação. Depois de um tempo, seus senhores olham para essas pessoas,
observam que não fazem nada que não seja obedecer (como poderiam fazer?)
e concluem que elas nasceram para ocupar essa condição.

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