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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000354403

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2068803-69.2021.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que são agravantes
ELECTRONIC ARTS NEDERLAND BV e ELECTRONIC ARTS LIMITED, é
agravado MARCOS AURELIO GALEANO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 1ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores FRANCISCO


LOUREIRO (Presidente) E RUI CASCALDI.

São Paulo, 11 de maio de 2021.

LUIZ ANTONIO DE GODOY


Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 53967
AGRAVO Nº 2068803-69.2021.8.26.0000 São Paulo
AGRAVANTES Electronic Arts Nederland B.V. e Electronic Arts
Limited
AGRAVADO Marcos Aurelio Galeano
JUÍZA Adriana Genin Fiore Basso

RESPONSABILIDADE CIVIL - Danos morais - Uso


indevido de imagem e de nome do autor em jogos
eletrônicos produzidos pelas rés - Prescrição
Inocorrência - Hipótese de violação continuada - Jogos
eletrônicos que continuam em circulação, ainda que as
rés não mais os comercializem Pretensão que se
renova seguidamente, afastando a alegação de prescrição
- Decisão mantida Recurso desprovido.

Trata-se de agravo de instrumento tirado de autos de "ação de


indenização por uso indevido de imagem c/c pedido exibitório incidental pelo
procedimento comum” (fls. 1- autos de origem) ajuizada por Marcos Aurelio
Galeano em face de Electronic Arts Nederland B.V. e Electronic Arts Limited, não se
conformando estas com a decisão de fls. 1978/1982 (autos de origem), objeto de
embargos de declaração rejeitados a fls. 2019/2020, na parte em que a Juíza de
Direito rejeitou a alegação de prescrição. Sustentam as agravantes, primeiramente, a
nulidade da decisão agravada por ausência de fundamentação. No mérito, afirmam,
em suma, que a pretensão estaria prescrita, porquanto versa sobre os jogos FIFA
Soccer, edições de 2001 e 2003 e FIFA Manager edições de 2006 e 2008, lançados
há muitos anos. Aduzem que “A colenda Quarta Turma do Superior Tribunal de
Justiça, ao julgar os Recursos Especiais nº 1.861.295-SP6 e nº 1.861.289-SP7, acatou
a tese da EA de que o termo a quo do prazo prescricional se dá com o lançamento ou
edição dos jogos, pouco importando que edições anteriores dos videogames
continuem sendo eventualmente comercializadas por terceiros” (fls. 14).

Agravo de Instrumento nº 2068803-69.2021.8.26.0000 2


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Argumentam que “Se o direito nasce com a ofensa, na forma do art. 189 do CC9
(teoria da actio nata), então a pretensão indenizatória, que é o objeto da demanda,
teve como marco inicial o lançamento/publicação da edição tida por ilícita.” (fls. 16).
Ressaltam que inexistiriam elementos nos autos a confirmar que os jogos ainda
estariam disponíveis para venda. Requerem, assim, a concessão de efeito suspensivo
e o final provimento do recurso para que seja reconhecida a prescrição. Foi
indeferido o pedido de concessão de efeito suspensivo ao recurso (fls. 471/472).
Contraminuta a fls. 475/484. Não houve tempestiva oposição ao julgamento virtual.
É o relatório.
De início, anota-se que a decisão combatida não padece de nulidade
alguma, mostrando-se suficientemente fundamentada, totalmente clara e
compreensível, tanto que as agravantes não tiveram maior dificuldade para criticá-la,
apresentando as razões de seu inconformismo. Em verdade, “o que a Constituição
exige, no inc. IX do art. 93, é que o juiz ou o tribunal dê as razões de seu
convencimento. A Constituição não exige que a decisão seja extensamente
fundamentada, mesmo porque a decisão com motivação sucinta é decisão motivada
(RTJ 73/220)” (Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº 327.143 PE, 2ª
Turma do Supremo Tribunal Federal, v. un., Rel. Min. Carlos Velloso, em 25/6/02,
DJ de 23/8/02, pág. 112).
O recurso não comporta provimento.
Busca o autor, jogador de futebol profissional, a condenação das rés
no pagamento de indenização por danos morais em razão de utilização indevida de
sua imagem e de seu nome nos jogos eletrônicos fabricados e comercializados pelas
rés, denominados “FIFA SOCCER” - edições de 2001 e 2003 - e “FIFA
MANAGER” - edições de 2006 e 2008.
Ao contrário do alegado pelas rés, não restou verificada a prescrição
da pretensão indenizatória do autor, prevista no art. 206, §3º, V, do Código Civil.
Não se duvida da ocorrência de violação continuada da imagem e do
nome do autor, sendo descabido considerar como termo inicial de fluência do prazo
prescricional o lançamento de cada uma das edições dos jogos acima mencionados, já
que os jogos eletrônicos continuam em circulação, ainda que as rés não mais os
comercializem.

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Com efeito, “Diante das características intrínsecas do produto


eletrônico, forçoso concluir que a persistência do seu trânsito no mercado
consumidor acaba por sempre marcar novo início da contagem do lapso temporal,
daí porque não há que se falar em ocorrência de prescrição” (Apelação Cível nº
1004920-93.2020.8.26.0100 São Paulo, 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal
de Justiça de São Paulo, Rel. Des. Francisco Loureiro, em 09/03/21).
Sobre o assunto, é certo que “Para que haja violação do direito de
imagem é irrelevante a produção dos jogos e ações de marketing por parte da ré,
ora agravante, vez que a imagem continua a ser utilizada ao longo do tempo por
meio da comercialização de versões de anos anteriores, ainda que por terceiros-
parceiros.
Realmente, responde a ré pelos produtos que coloca em circulação no mercado. Ou
seja, a violação do direito de imagem do autor não se dá somente no ano de
lançamento do jogo, mas, também, periodicamente e a continuação do ilícito obsta a
prescrição. (...) Nesse contexto, a disponibilização contínua dos jogos no mercado
implica reiterada violação do direito de imagem do autor, de modo que forçoso
reconhecer que a pretensão renova-se seguidamente, afastando a alegação de
prescrição. Concluindo, nega-se provimento ao presente agravo de instrumento,
mantendo-se o quanto decidido pela respeitável decisão ora agravada.
Desse modo, por se tratar de violação continuada, verifica-se que a Corte local
decidiu em conformidade com o entendimento jurisprudencial do STJ, o qual se
firmou no sentido de que, "para fins prescricionais, o termo 'a quo', envolvendo
violação continuada ao direito de imagem, conta-se a partir do último ato
praticado" (REsp 1.014.624/RJ, Rel. Ministro Vasco Della Giustina, Desembargador
Convocado do TJ/RS, Terceira Turma, julgado em 10/3/2009, DJe
20/3/2009).” (AREsp nº 1707682, decisão monocrática, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, em 20/10/20).
Vale ressaltar que os precedentes do Superior Tribunal de Justiça
citados pelas agravantes não são vinculantes, havendo, por outro lado, consolidado
entendimento jurisprudencial nesta Corte acerca da matéria.
Assim, não se vislumbra a ocorrência de prescrição, devendo ser
mantida a decisão agravada.

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Nessas circunstâncias, nega-se provimento ao recurso.

LUIZ ANTONIO DE GODOY


Relator

Agravo de Instrumento nº 2068803-69.2021.8.26.0000 5

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