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FICHAMENTO – “Cultura ilhada: imprensa e Revolução Cubana (1959-1961), de

Sílvia César Miskulin


Disciplina de História da América Independente II
Vinicius Ellero Kimati Dias – Nº USP 10340242

O texto analisado, “Lunes e a Revolução Cubana”, se inicia traçando um breve


panorama do processo revolucionário em Cuba, exercício de grande importância para a
compreensão do desenvolvimento do periódico Lunes de Revolución. Citando como
base a leitura de Florestan Fernandes sobre a Revolução, o texto aponta as raízes do
processo revolucionário nos ideais de José Martí, grande expoente da luta pela
independência do país. De acordo com Fernandes, o processo de independência da
Espanha, que foi sucedido por uma política neocolonial dos EUA, expôs de forma
latente a contradição entre imperialismo e os interesses cubanos.
A partir desta contradição que é gestada a Revolução de 1959. O grupo
revolucionário, aponta Miskulin, era formado por amplos setores da sociedade e
diversos grupos e ideologias políticas: parte da burguesia interna de Cuba, intelectuais,
estudantes, camponeses e diversos grupos insatisfeitos com a ditadura de Fulgencio
Batista e a ingerência dos EUA na sociedade cubana. Apesar de conter quadros e grupos
de orientação socialista, no momento anterior à tomada do poder o Movimento 26 de
Julho, grupo protagonista do processo revolucionário, não se caracteriza como marxista
ou comunista, nem defende que a Revolução tenha estes traços.
Com a conquista do poder pelos revolucionários em 1959, amplos setores
compõem o novo governo – o PSP (Partido Socialista Popular, alinhado à União
Soviética), o movimento estudantil revolucionário, o próprio Movimento 26 de Julho e
seus grupos internos ligados à guerrilha rural ou à luta urbana - com programa
essencialmente baseado na libertação nacional e sua oposição ao imperialismo. Com o
desenvolvimento deste programa, através da expropriação de terras de empresas
multinacionais para a reforma agrária, a nacionalização de bancos e da indústria e uma
política externa de diálogo com o bloco socialista, ampliam-se as contradições com o
imperialismo estadunidense – polarização que em Cuba cada vez mais significa se
aproximar do sistema socialista.
Em 1961, com a grande radicalidade do programa de reformas e a tentativa de
derrubada do governo de Fidel Castro a partir da invasão estadunidense junto de
cubanos opositores a Playa Girón, os grupos dirigentes do processo revolucionário
passam a se comprometer integralmente com o socialismo, a partir de um momento que
Florestan Fernandes indica como a “revolução na revolução”.
Dentro deste contexto, surge o Lunes de Revolución. Servindo de suplemento ao
periódico do Movimento 26 de Julho, o Revolución, a revista continha comentários a
respeito de artes e cultura. Surge em 1959, após a tomada do poder, com uma linha
editorial que simbolizava de forma clara o alinhamento com as forças revolucionárias
naquela conjuntura: a publicação se declarava como partidária da construção de uma
cultura cubana autêntica, mas não se posicionava acerca da oposição entre socialismo e
capitalismo.
Suas publicações durante os dois anos de sua existência foram controversas à
medida que setores mais radicalizados das forças revolucionárias viam o Lunes como
uma publicação com traços de estrangeirismo e defesa do imperialismo. A revista
continha diversas obras e exposições sobre artistas estrangeiros, além de fazer elogios a
vanguardas europeias e criticar o realismo socialista tido como arte oficial
revolucionária na União Soviética, defendendo maior liberdade artística e inovações na
forma de expressão cultural. Tais posicionamentos levaram, em grande medida, ao
fechamento do Lunes em 1961, no momento de radicalização do processo
revolucionário e seu caráter socialista.

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