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e G. Barroso
1939Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa, de L. Freire
(1939-44)
1943 Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
1961Dicionário da Língua Portuguesa, de Antenor Nascentes, pela ABL
(1961-67)
1965 A Lingüísticaé introduzida no currículo dos cursos de Letras
1969Dicionário Melhoramentos da Língua Portuguesa, Editora Melho-
ramentos
1975Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio B. de Holanda
2001Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Instituto Antônio Houaiss
107
as³faltas´ e³omissões´, desencadeando-se assim a produção de dicionários brasileiros.
Quanto aos bilíngües, há uma tendência de inversão da ordem: de português-tupi (ordem
utilizada pelos jesuítas) para tupi-português, de modo a definir os termos do tupi que passam
a ser considerados do português bra- sileiro. Surgem, em seguida, primeiramente os
dicionários de complemento, de regionalismos e de brasileirismos durante o século XIX, e
em seguida os dicionários brasileiros de língua portuguesa no decorrer do século XX.
Que todo saber seja um produto histórico significa que ele resulta a cada instante de
uma interação das tradições e do contexto. Não há nenhuma razão para que saberes
situados diferentemente no espaço- tempo sejam organizados do mesmo modo,
selecionem os mesmos fe- nômenos.É o reconhecimento deste fato que constitui nossa
posição resolutamente historicista, ao mesmo tempo que fornece o interesse heurístico
de todo trabalho histórico (Baratin & Desbordes, apud Auroux, 1992: 14).
108
a) territorialidade
b) administração do território
Do fator (a) decorre um segundo, queé a administração do territó- rio, nas suas
diversas maneiras de realização: colonização, governo, Esta- do. Acompanha esse fator
um outro que lhe está relacionado, a saber, a institucionalização. Tais fatores colocam
em pauta a questão da unidade/ diversidade de línguas e a definição de políticas
lingüísticas, das quais resultam determinadas formas dicionarísticas. Parece bastante
plausível re- lacionar algumas formas dicionarísticas a formas de administração do ter-
ritório. Assim, nos governos coloniais, com a política lingüística da colo- nização,
temos os dicionários bilíngües, que serviram como instrumentos de catequese e
colonização. Com o Estado Monárquico, no século XIX, e o objetivo de atribuir uma
identidade e uma história aos habitantes do Brasil,
110
d) institucionalização
veram um papel importante na formação das elites brasileiras. Não parece fora de
propósito associar esse fatorà formação do dicionarista Moraes, que deixa o Brasil em
1774 rumo a Portugal. Lá faz um curso jurídico na Universidade de Coimbra. Em
seguida, elabora seu dicionário, publicado em 1789 em Lisboa. No Brasil Monárquico,
a Biblioteca Nacional (1808)
B. Mariani mostra que as academias que surgiram no Brasil no século XVIII tiveram
uma função reguladora que levou a combater a língua geral e defender o português:³Les
académies fonctionnent comme desµpré-institutions¶, dont la fonction régulatrice
majeure serait de mettre en oeuvre l´écriture d´une histoire officielle du Brésil, en
utilisant le portugais de la métropole comme instrument permettant d´éviter touteµ
échappée´ de sens.´ (Langages 130, Paris: Larousse, 1998, p. 84).
111
início do XX, atuaram alguns dicionaristas. Mencione-se, na primeira me- tade do XX,
Antenor Nascentes. A ampliação do ensino escolar nesse pe- ríodo levouà produção de
dicionários compactos e adaptados ao contexto brasileiro. Concorreu também para este
fato a consolidação de um merca- do de livros. O aparecimento de editoras nas décadas
de 30 e 40 abre cami- nho para as publicações independentes e para a série de
dicionários de nomes próprios. Segundo H. Pontes (1989: 364), com a Revolução de 30,
uma nova configuração³se expressou nos mais variados setores da vida cultural do país:
na instrução pública, nas reformas do ensino primário e secundário, na criação de novas
faculdades e das primeiras universidades brasileiras, na produção artística e literária,
nos meios de difusão cultural e, sobretudo, naênfase aos estudos e ao conhecimento da
realidade nacio- nal´. Nessa nova configuração, as editoras ocuparam um lugar
significati- vo, com a publicação de estudos sobre a realidade nacional. Dentre tais
editoras está a Civilização Brasileira. Fundada pelo acadêmico Gustavo Barroso, ela
publica o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portu-
definições breves e sem exemplos ou citações, teve grande sucesso edito- rial,
inaugurando a série de dicionários brasileiros de língua portuguesa. De 1939 a 1944, a
editora A Noite publica no Rio de Janeiro o Grande e
cionemos ainda, dentre outras, a editora Delta, do Rio de Janeiro, que pro- move edições
brasileiras do dicionário de C. Aulete (1958, 1970, 1980), a Melhoramentos, de São
Paulo, que publica seu dicionário desde 1969, atual-
112
mente denominadoMichaelis, e a editora Nova Fronteira, do Rio de Janei- ro, que desde
1975 publica oAuré lio. Ainda na série das instituições, te- mos também nas décadas de
30 e 40 o aparecimento das universidades, com a fundação das faculdades de Letras (em
1937, surge a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP). As conseqüências
desse fato come-
çam a aparecer nas últimas décadas. Podemos mencionar, com relação aos
dicionários gerais, a elaboração em curso do Dicionário de Usos do portu-
guês Contemporâneo (ver Borba, 1997), realizada com base em um corpus
eletrônico da língua escrita.
e) contatos lingüísticos
10
113
f) identidade nacional
foi encarregado de elaborar uma história das línguas indígenas e elegeu o tupi como
língua dos antepassados brasileiros. Ressalte-se dessa produção o aparecimento de
reflexões etimológicas que ligavam termos do tupi anti- go a termos do português
brasileiro. Desta maneira, os termos tupi vão sendo incorporados ao português. Outro
momento associadoà identidade nacional está na produção de dicionários de
brasileirismos, no final do século XIX, quando se buscava uma identidade para o povo
brasileiro, não apenas pela influência indígena, mas por diversas condições sociais. As
conseqüências disso são observáveis na constituição da nomenclatura des- ses
dicionários, com a inclusão de uma série de termos relativosà conjun- tura brasileira:
designativos de raça e grupo social, termos culturais, ter- mos do cotidiano das cidades.
Os movimentos nacionalistas na década de 20 também estão na base de construções de
identidade nacional. Podemos afirmar que isso levouà introdução, nos dicionários de
língua portuguesa feitos no Brasil, de elementos culturais próprios desse contexto.
g) influência de teorias
11
Ver J. H. Nunes (Dicionário e instrumentos lingüísticos no Brasil: dos relatos de
viajantes
aos primeiros dicionários, tese de doutorado, Unicamp, 1996).
114
trastivo entre a língua indígena e a língua portuguesa, tendo a Gramática Latina como
metalinguagem teórica. A marca mais flagrante desse saber está na reflexão sobre as
partes do discurso no interior dos verbetes do VLB. Com a virada que consistiu na
interrupção da produção jesuíta e no empréstimo do dicionário de Moraes, sai de cena a
Gramática Latina e entra a gramática geral ou filosófica. Tal influênciaé explicitada a
partir da segunda edição, quando se introduz nos preâmbulos desse dicionário uma
gramática com base na Gramática Geral. A relação pode ser observada na mudança
estrutural da obra, que elimina os comentários etimológicos que havia em Bluteau e
torna as definições menos extensas, além de deixar o dicionário mais compacto. Com
isso, segue o modelo iluminista da³clare- za´ e³concisão´, passando do dicionário de
grandes autores ao dicionário do³modo de pensar´. Em meados do século XIX, a
influência da lingüís- tica histórica se faz observar nos dicionários bilíngües tupi-
português e na relação que se estabelece entre o tupi antigo e o português, relação
apoiada pela corrente romântica. Note-se que os dicionários de G. Dias e F. França
foram publicados em Leipzig, onde vigorava o comparatismo alemão. No caso dos
dicionários tupi-português, ocorreu menos uma genealogia das línguas,12 mas uma
explicação histórica que incluiu a construção de um saber etimológico ligando o tupi
antigo ao português falado. No final do século XIX e entrando pelo XX, temos a
influência da gramática da língua nacional. A defesa da língua nacional tem como
conseqüência imediata a modificação da nomenclatura dos dicionários, com a inclusão
de brasilei- rismos nos dicionários portugueses e a elaboração de dicionários de brasi-
leirismos. A questão semântica tambémé colocada, ressaltando-se os ca- sos de
homonímia e polissemia. Estabelecem-se ainda marcações de domínio (brasileirismo,
regionalismo, popular, etc.). No século XX, os es- tudos sincrônicos tiveram uma
grande influência, cujas conseqüências ain- da estão em curso. Podemos apontar o
aparecimento dos dicionários monolíngües como reconhecimento de uma língua
brasileira, com uma fonética, uma morfologia, uma sintaxe, uma semântica, embora na
polê- mica sobre o nome oficial da língua tenha prevalecido por razões diversas o
nome³língua portuguesa´.13 Acompanha esse processo uma separação mais delineada
entre o dicionário de definição e o dicionário histórico ou
12
Uma reflexão sobre a genealogia das línguas encontra-se nos vocabulários
comparativos de
línguas indígenas elaborados por Martius.
13
A esse respeito ver L. F. Dias (Os sentidos do idioma nacional. Campinas: Pontes,
1996).
115
àindicação da origem.14
) domínios conexos
14
Note-se que o recém-lançado Dicionário Houaiss da língua portuguesa não segue esse
pro- cedimento, dedicando mais espaço aos comentários etimológicos, introduzidos no
interior dos verbetes.
15
No Dicionário da Língua Portuguesa, de Antenor Nascentes (1961), editado pela
Academia
Brasileira de Letras, apresenta-se uma transcrição fonética dos termos
Referências bibliográficas
118
das no território. Refletindo sobre questões deética e política lingüística, Orlandi coloca
que³ao invés de considerar uma oposição estrita entre uni- dade e diversidade,
consideramos essa relação como uma relação necessá- ria e dinâmica. As políticas
lingüísticas são o lugar material de realização dessa relação historicamente necessária
em uma sociedade como a nossa´ (Orlandi, 1998: 13). Uma das conseqüências desta
reflexão para a concep-
REFERÊNCIAS
119
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Quillobo. [...] A quarta era trazida pelos etíopes, daquela parte daÁfri-
seja explícita nesses textos uma intenção lingüística, as citações de termos vindos
daÁfrica constituem uma fonte importante para a história do regis- tro do contato
cultural e lingüístico ocorrido no Brasil: ao mesmo tempo em que consignam o
conhecimento e o uso dos termos, indicam os interes- ses e as apreciações dos falantes.
Ao lado desses documentos, encontram- se os registros lingüísticos intencionais,
representados por textos orienta- dos pela identificação e busca de traços africanos na
realidade nacional: listas lexicais, léxicos e dicionários especializados. A investigação
desse material permite identificar os interesses de seus autores, articulados ao contexto
daépoca em que foram produzidos e nos leva a questionar os resultados e a metodologia
utilizada na elaboração de tais registros. Este texto analisará, sem pretender a
exaustividade, trabalhos que registraram a presença de termos oriundos de línguas
africanas no léxico do português do Brasil (PB), situando-os no contexto histórico e
analisando a contribui-
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os diretamente ligados ao Estado. Na segunda metade desse século, quan- do tem início
a informatização, novas possibilidades técnicas aparecem, cujas implicações apenas
começam a se apresentar. Uma delasé a constru-
ção decorpora eletrônicos a partir dos quais se pode produzir uma série de
Considerar o dicionário como um objeto histórico nos leva a dizer que sua
constituiçãoé determinada por uma série de fatores causais, que se podem explicitar
analisando-se as condições de sua produção. Este seria um primeiro ponto a se
considerar nas práticaséticas e políticas ligadasà análise e produção de dicionários.É a
partir da analise dessas condições de produção e das periodizações e interpretações daí
resultantes, que pode- mos falar em uma³tradição lexicográfica´, ou antes, em uma
história da
Referências bibliográficas
118
das no território. Refletindo sobre questões deética e política lingüística, Orlandi coloca
que³ao invés de considerar uma oposição estrita entre uni- dade e diversidade,
consideramos essa relação como uma relação necessá- ria e dinâmica. As políticas
lingüísticas são o lugar material de realização dessa relação historicamente necessária
em uma sociedade como a nossa´ (Orlandi, 1998: 13). Uma das conseqüências desta
reflexão para a concep-
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de 30, 40 e 50. In: História das ciências sociais no Brasil, S. Miceli (Org.), São Paulo:
Vértice, Editora Revista dos Tribunais: IDESP, 1989.
117
os diretamente ligados ao Estado. Na segunda metade desse século, quan- do tem início
a informatização, novas possibilidades técnicas aparecem, cujas implicações apenas
começam a se apresentar. Uma delasé a constru-
ção decorpora eletrônicos a partir dos quais se pode produzir uma série de
dicionários. Editoras e universidades preparam seus bancos de dados em vista dessas
novas condições tecnológicas. Mencionemos a esse respeito o Centro de Estudos
Lexicográficos (CEL) da UNESP, campus de Araraqua- ra, onde foi construído e está
sendo ampliado umcorpus da língua escrita que compreende literatura romanesca,
jornalística, dramática, técnica e oratória. Uma das conseqüências mais visíveis da
informatização nos di- cionáriosé a mudança nas formas de busca. Ultrapassando os
limites da ordem alfabética, temos várias outras possibilidades, como a busca em sub-
domínios, por segmentos da palavra-entrada, pelo texto dos verbetes, por autor citado,
etc.
Considerar o dicionário como um objeto histórico nos leva a dizer que sua
constituiçãoé determinada por uma série de fatores causais, que se podem explicitar
analisando-se as condições de sua produção. Este seria um primeiro ponto a se
considerar nas práticaséticas e políticas ligadasà análise e produção de dicionários.É a
partir da analise dessas condições de produção e das periodizações e interpretações daí
resultantes, que pode- mos falar em uma³tradição lexicográfica´, ou antes, em uma
história da
Referências bibliográficas
118
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que³ao invés de considerar uma oposição estrita entre uni- dade e diversidade,
consideramos essa relação como uma relação necessá- ria e dinâmica. As políticas
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em uma sociedade como a nossa´ (Orlandi, 1998: 13). Uma das conseqüências desta
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A diversidade do léxico do português do Brasil foi notada pelos primeiros
viajantes e tornou-se matéria de estudo lingüístico no século XIX. Os primeiros trabalhos
sobre a diferença entre o português de Portugal e o português brasileiro (PB) observaram
que a variedade nacional se distin- guia da língua da antiga metrópole pela incorporação
de termos de origem indígena e africana, decorrente do contato dos falantes de línguas
diversas e da necessidade de denominar realidades novas encontradas na América.
Segundo Arthur Neiva, osbrasileirismos± como tais peculiaridades passa- ram a ser
reconhecidas± surgem logo nos primeiros trabalhos escritos sobre o Brasil e talvez os
primeiros vocábulos registrados sejam os que constam da lista de doze palavras colhida
por Pigafetta, cronista da expedição de Fernão Magalhães, em 1519, entre as quais
estão:pindá ³anzol, gancho, fisga, gar- ra´ eui³farinha´ (Neiva, 1940: 3, apud Theodoro
Sampaio).
160
derivada de um empréstimo mais antigo, um empréstimo de segunda gera-
ção e, a esse título, é significativo encontrá-la no historiador brasileiro de
Angola, Silva Corrêa (1782).
161
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