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no TNSJ
12 Setembro | 2 Novembro 2008
O que é ou não é uma marioneta depende mais do uso que o objecto recebe do que do
seu aspecto ou do modo como é feito.
John McCormick (2003: 1083)
A única esperança que o marionetista pode ter de dominar as marionetas é entrando nas
suas vidas delicadas e aparentemente inesgotáveis. As marionetas não são feitas a
pedido ou obedecendo a um guião preestabelecido. O que existe nelas está escondido
nos seus rostos e torna-se claro unicamente através do seu funcionamento. Elas nascem
do barro mais rude. A sua criação tem de ser realizada o mais possível afastada das
definições claras da intriga ou das personagens dramáticas.
Peter Schumann (2003: 44)
1988-2008: vinte anos de actividade ininterrupta, com muita história para trás e
certamente muita mais para a frente. Mais de trinta espectáculos. Criações para público
jovem – na verdade, para todos, sempre – e para adultos. Textos originais e adaptações.
Uma recorrente curiosidade e uma inesgotável pesquisa formal, entre “tradição e
modernidade”. Uma extraordinária itinerância a nível nacional e um número recorde de
participações em festivais estrangeiros (cerca de cinquenta, da Espanha ao Brasil, de
Israel ao Canadá!). Diversos prémios internacionais. Uma corrente de público invejável.
Equipas de trabalho necessariamente renovadas, no espaço de vinte anos, mas sempre
altamente qualificadas, combinando o labor técnico com o talento criativo. Uma rica e
variada rede de colaboradores regulares. Uma direcção constante, que tem conseguido –
nas circunstâncias particularmente adversas em que sobrevive a criação cénica em
Portugal – conduzir um dos projectos mais consequentes da história recente do teatro
português. Eis a condensada celebração possível do Teatro de Marionetas do Porto
(TMP), dirigido por João Paulo Seara Cardoso.
Tal como o criador já algumas vezes esclareceu, tudo começou muito antes de 1988.
Primeiro, o interesse pelo teatro, com passagens por cursos na Seiva Trupe e no TUP –
Teatro Universitário do Porto e o cruzamento com pessoas como João Coimbra ou
Correia Alves. Depois, o TAI – Teatro Amador de Intervenção, estrutura difusa,
tipicamente pós-revolucionária, que albergava diferentes secções – o teatro para adultos,
o teatro para crianças, música popular e o audiovisual – e mais pessoas, como Mário
Moutinho. Mas também o FAOJ – Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis e a
experiência da animação cultural, que incluiu um trabalho de pesquisa sobre o teatro
popular português, as nossas múltiplas tradições teatrais e para-teatrais, e ainda outras
pessoas como Benjamim Enes Pereira e Ernesto Veiga de Oliveira. Alguns outros
momentos e acontecimentos decisivos do percurso que conduziria ao TMP: o ano de
1978, o Ano Internacional da Criança – “fizemos espectáculos como cogumelos:
inventávamos umas tendas e íamos construindo os espectáculos à medida que os íamos
apresentando. E foi aí que surgiram naturalmente as marionetas” (Cardoso 2005a: 55) –
e a aprendizagem com o Mestre António Dias, talvez o “último da linhagem dos
bonecreiros itinerantes” (Ibidem), o domínio da palheta para a voz e o controlo
expressivo dos pequenos bonecos de madeira e trapos sob a forma de fantoches de luva.
Seguem-se outras aventuras formativas, com a frequência de cursos no Institut National
d’Éducation Populaire, em Marly-le-Roi, e no Institut International de la Marionnette,
em Charleville-Mézières, e mais pessoas, como Jim Henson, o famoso criador de Os
Marretas (The Muppet Show). E, paralelamente, experiências profissionais, como os
muitos programas para televisão: A Árvore dos Patafúrdios, Os Amigos de Gaspar,
Mopi e No Tempo dos Afonsinhos. E com tudo isto, a criação de alguns espectáculos,
até à “data simbólica” de formação do TMP: a estreia de Miséria – inspirado num conto
popular, com texto de Álvaro Magalhães –, no âmbito de uma edição do Festival
Mondial des Théâtres de Marionnettes, justamente em Charleville-Mézières, porque foi
necessário dar um nome à estrutura que apresentava o espectáculo. E,
contemporaneamente, a fixação num espaço, que viria a tornar-se a sede da companhia
e o seu espaço de criação e de representação, o Teatro de Belomonte:
Muito embora o TMP tenha vindo, no decurso destes vinte anos de actividade, a estrear
muitos dos seus espectáculos noutros espaços da cidade, o Teatro de Belomonte
preserva um especial significado simbólico, não só por ter sido, já depois das obras em
1992, o primeiro teatro permanente de marionetas na cidade do Porto – pelo menos, na
época moderna… –, mas também porque foi aí que, entre Maio e Novembro de 1993, se
apresentou o primeiro grande êxito de bilheteira de um espectáculo de marionetas em
Portugal (mais uma vez, pelo menos na época moderna). Vai no Batalha parodiava o
título de Passa por Mim no Rossio, de infame memória, recuperando a estrutura dos
números da revista, para um gesto que se queria “político e de oposição ao estado do
país, coincidente com a ‘política do alcatrão’ e do desenvolvimento a qualquer preço”
(Ibidem: 59). A genialidade humorística dos textos, o encantamento provocado pelas
marionetas, a natureza verdadeiramente antológica de alguns quadros – como o do
Fredo Brilhantinas, “arrumbador de biaturas ligeiras”, ou aquele em que Santana Lopes
era assombrado durante o sono por um busto de Chopin que reclamava a reposição da
verdade, porque nunca tinha escrito as sonatas para violino que o então Secretário de
Estado da Cultura declara à imprensa tanto admirar… –, enfim, a global coerência e
consequência artística de todo o projecto explicam o sucesso do espectáculo e o facto de
ele ter tornado a companhia conhecida por uma vasta massa de público, a nível local e
nacional. Naturalmente, a intenção política mais funda acabaria diluída – IP5, em 1996,
com texto de Regina Guimarães, seria uma nova tentativa de experimentar o género e o
gesto, através de uma “visão crítica e bem-humorada das hipocrisias do mundo
contemporâneo” –, pelo que o encenador teve de pôr fim ao sucesso, de modo a reunir
condições artísticas para avançar para uma nova etapa de criação.
Para trás, ficavam alguns espectáculos marcantes: as representações do Teatro Dom
Roberto, Contos d’Aldeia (uma primeira experiência com teatro de sombras, para
acompanhar a dramatização de três contos tradicionais portugueses), Entre a Vida e a
Morte (entretanto renomeado Capuchinho Vermelho XXX, uma adaptação irreverente da
famosa história infantil, num one-man show de João Paulo Seara Cardoso, que arriscava
uma primeira experiência “radical” ao animar objectos que não passavam de produtos
alimentares), Vida de Esopo (o primeiro encontro com António José da Silva e a
complexidade de um espectáculo que já envolvia música e canto, embora através da
utilização de marionetas tradicionais, manipuladas ao jeito dos Bonecos de Santo
Aleixo) e Miséria. No ano a seguir ao “êxito” popular de Vai no Batalha, surgia 3.ª
Estação, “uma experiência radicalmente distinta e talvez o mais experimental que fiz na
minha vida” (Ibidem), que inaugurava, de forma assumida, a busca de novas formas de
construção e de representação:
Num texto publicado em 1991, o criador do famoso Bread and Puppet Theatre, Peter
Schumann, explorava o potencial “anárquico, subversivo e indomável” desta forma
teatral, explicitando as razões do que apresentava como a sua particular “radicalidade”:
BIBLIOGRAFIA
CARDOSO, João Paulo Seara (2004a), “Teatro de Marionetas: Tradição e Modernidade”,
comunicação apresentada ao Congresso de Teatro realizado no Teatro de Vila Real, Abril. Este
texto foi entretanto publicado em 2006, em Cenas Suspensas: Teatro de Marionetas do Porto,
catálogo da exposição apresentada no âmbito da 19.ª edição do FITEI, Porto, Campo das Letras,
pp. 7-11.
– – (2004b), “Jogos de Espelhos”, publicado originalmente como “Jeux de mirroirs / Hall of
Mirrors”, Ubu: Scènes d’Europe / European Stages, n.º 33, Outubro, pp. 97-98.
– – (2005a), “Teatro com Marionetas”, entrevistado por Paulo Eduardo Carvalho e Isabel Alves
Costa, Sinais de Cena, n.º 4, Dezembro, pp. 53-64.
– – (2005b), “Sobre a Encenação de Macbeth”, comunicação apresentada numa mesa-redonda
do colóquio Shakespeare entre Nós, realizada na Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa, 29 de Novembro.
– – (2006), “O Nada e o Silêncio em Beckett”, comunicação apresentada numa mesa-redonda
do Colóquio Internacional Plural Beckett Pluriel: A Centenary Celebration, realizada na
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a 24 de Novembro.
CARVALHO, Paulo Eduardo (2007), “Um Teatro Poético e Popular”, Sinais de Cena, n.º 7,
Junho, pp. 91-93.
– – (2008), “Cenas Suspensas”, Cais, n.º 129, Abril, p. 44.
McCORMICK, John (2003), “Puppet Theatre”, in Dennis Kennedy (ed.), The Oxford
Encyclopedia of Theatre and Performance, Vol. 2, Oxford, Oxford University Press, pp. 1083-
1089.
SCHUMANN, Peter (2003), “The Radicality of Puppet Theatre” [1991], in Joel Schechter (ed.),
Popular Theatre: A Sourcebook, London and New York, Routledge, pp. 41-48.
Macbeth
de William Shakespeare
tradução João Palma-Ferreira
LADY MACBETH O teu rosto, meu Senhor, é um livro onde os homens podem ler
estranhas coisas. Para enganar o mundo, assemelha-te ao mundo, ostenta as boas-vindas
nos teus olhos, nas tuas mãos, na tua língua: assemelha-te à cândida flor que tem sob ela
uma serpente. Bem recebido deve ser quem chega. Deixa ficar a meu cargo a grande
empresa desta noite, que, a todas as nossas noites e dias que hão-de vir, dará unicamente
poder e domínio absoluto.
WILLIAM SHAKESPEARE – A Tragédia de Macbeth. Trad. João Palma-Ferreira. Lisboa:
Livros do Brasil, 1990.
Acho que esta é uma bela história de amor. Além de uma tragédia claramente política
sobre o poder, um tema que será sempre actual – continuamos sempre rodeados de
pessoas destas, mais soft ou mais hard, mais europeias ou terceiro-mundistas. O mundo
está cheio de Macbeths.
JOÃO PAULO SEARA CARDOSO – Em entrevista concedida a Inês Nadais. Público. (2
Fev. 2001).
Entre um famoso espectáculo de revista (Vai no Batalha), até à mais recente estreia
(Nada ou o Silêncio de Beckett), tudo parece ter mudado. Tudo menos a criatividade do
encenador e a mestria dos actores-manipuladores. Entre o humor ligeiro e o humor
absurdo, entre a farsa brejeira e a dramaturgia revolucionária de Beckett, o percurso
parece ter sido fácil: olhando melhor, pressente-se a exigência e a inovação de quem,
encenando Beckett, acaba por subvertê-lo, numa versão radicalmente lúdica.
A árvore, por exemplo. A árvore, primeiro sem folhas, que com o tempo as recupera. É
um elemento fundamental de À Espera de Godot, relacionado com o tempo que passa
sem passar. […] “Variações sobre o tema da árvore seca que se tornou verdejante, sem
deixar de ser absurda”, podia ser o subtítulo do espectáculo. Beckett está reconhecível
no tempo que é impiedosamente medido pelos metrónomos, relógios, apitos,
campainhas da banda sonora. Mas onde começa e acaba Beckett na “performance” dos
três homens metidos em camisas-de-forças que se atropelam uns aos outros, numa
competição desenfreada? Pessoalíssima é a versão da marioneta que tenta apoderar-se
da garrafa suspensa, utilizando as caixas sobrepostas. Até que o manipulador pendura o
próprio boneco no tecto, forçando-o a aceitar para sempre a sua condição absurda. De
rastos ou em voo, enterrados até ao pescoço ou carregando fardos impossíveis, os seres
humanos não têm saída. Se houver alguma, será a do humor negro. O mais polémico de
tudo é a escassez da palavra. Mas poderá sempre dizer-se que ela não faz falta nenhuma
ao ser humano. Com a palavra ou sem palavra, a condição humana não muda muito. O
resto é nada. Nada, noite após noite, às cegas na escuridão, à procura do sítio por onde
sair. Nada a não ser gritos, os mesmos de sempre. Nada.
MANUEL JOÃO GOMES – Público. (25 Jun. 1999).
Os Encantos de Medeia
de António José da Silva (O Judeu)
O espírito que emana destes textos é tão forte que eu posso confessar que foi a primeira
vez na minha vida que me atrevi a estrear um espectáculo que não estava fixado antes
da estreia: improvisámos durante todos os ensaios, improvisámos na estreia, e
continuamos a improvisar em todos os espectáculos que fazemos. E quando falo aqui
em improvisação, refiro-me inclusivamente a movimentos novos que não estão
previstos. Mas nada disto foi programado, nem racionalizado, aconteceu, simplesmente.
Daí que, uma semana antes da estreia, eu me tenha atrevido a validar o espírito de O
Judeu e a aconselhar os actores que, sem perda de rigor, prosseguissem esta via de
renovada exploração. O que tem criado uma atmosfera fantástica na representação,
absolutamente contagiante. Por exemplo, na estreia, eu fiz uma coisa que nunca tinha
feito, como que possuído por tudo aquilo: quando o Sacatrapo dá um salto, a fugir das
cobras, eu exagerei no salto, e fui cair em cima da pianista. Claro que ela ficou
aterrorizada, mas o público achou imensa graça, nós também e isso dá-nos alento para
preservar esse lado cómico, de grande gozo, partilhado por quem faz e quem vê. E
permito-me imaginar que as representações no Teatro do Bairro Alto tivessem este lado
de prazer festivo, de deleite dos sentidos. O que também explica o imenso sucesso das
representações da época e das sucessivas reedições das obras de António José da Silva.
JOÃO PAULO SEARA CARDOSO – Em entrevista concedida a Paulo Eduardo Carvalho.
In Os Encantos de Medeia: [Programa]. Porto: Teatro Nacional São João, 2005.
Os Encantos de Medeia de António José da Silva, dito O Judeu, é uma das peças mais
intrincadas do autor, o grande cómico das situações e da língua portuguesa, a quem
esperava a tragédia: o jovem advogado denunciado como judaizante, passou pelo fogo e
terror da Inquisição – o fogo que calou o resto da sua hipotética criação para um grande
teatro português que assim ficou virtual. O espectáculo de bonecos e actores, dirigido
por João Paulo Seara Cardoso, não o último de qualidade, feito nas últimas décadas, é
magistral e antológico. O texto dado a ver a toda a largura épica da boca de cena do
Teatro Nacional São João, sim, dado a ver mas também a ouvir, cheio de achados para
não repousarmos, variando-os até demais, para poder encontrar as soluções dramáticas:
porém, sempre de grande cultura teatral e de sensibilidade relativa ao texto, inclusive
nos cortes provavelmente hoje necessários. Pecados? Poucos. Possivelmente o ritmo faz
crescer certa entropia que as poucas canções da “ópera” tentam amenizar com êxito.
JORGE LISTOPAD – Jornal de Letras. (4 Jan. 2006).
Cabaret Molotov
encenação e cenografia João Paulo Seara Cardoso
marionetas Erika Takeda
figurinos Pedro Ribeiro
coordenação coreográfica Isabel Barros
música Gotan Project, Eric Satie, Kurt Weill, Robert Miny, Yann Tiersen
texto da corista Pablo Neruda
desenho de luz António Real, Rui Pedro Rodrigues
interpretação Edgard Fernandes, Sara Henriques, Sérgio Rolo e Shirley Resende
(instrumentista)
Esta grande família de artistas é criada por actores e marionetas alternadamente, num
circo em miniatura que muda para a escala real sempre que o olhar do espectador é
focado nos manipuladores, e regressa a um mundo de sugestão, povoado de
profissionais do espectáculo, causado pela manipulação dos objectos. Todos se
encontram num lugar de lembrança popular: a área de jogo encimada pelo pano de boca
que evoca tanto a arena de circo como os tablados mais escusos. De repente, é como se
este fosse o espectáculo ideal para encerrar mais um ano de teatro no Porto, fazendo
uma revista sublime de todos os encantamentos teatrais da cidade. Os manipuladores
expõem os truques todos, como se na apresentação de um circo de pulgas o amestrador
avisasse previamente que não existe pulga alguma, e ao espectador coubesse ver o
invisível e fazer vista grossa ao que entra pelos olhos dentro. O público desfia em
conjunto com os actores o rol de memórias de atracções de cena que, por magia,
ganham corpo. Número após número, a manipulação à vista dos objectos inanimados
mostra a relação íntima mantida pelos marionetistas, actores e personagens, com os
bonecos e máscaras que se escolhem para efígies e totens.
As marionetas somos nós, parece, manietados pela projecção das figuras que nos
calham. As referências escondidas ao cinema e as piscadelas de olho ao público mais
cúmplice coabitam com o humor físico e farsesco. A expressão dos universos dos
criadores e intérpretes parece ressoar e repercutir no imaginário do espectador. O
espectáculo é tanto sobre o circo e o cabaré, e sobre essas memórias, como sobre o
romance de Vladimir e Matrioska, como sobre o próprio acto da manipulação, numa
síntese bem feita entre arte e entretimento. Manipulando ícones do nosso imaginário, o
Cabaret Molotov reproduz e materializa os sonhos pessoais dos autores, partilhando-os
com o espectador mais ou menos anónimo. Nos claustros de um velho mosteiro,
convertido em sala de concerto, a memória do teatro encerra com um último olhar sobre
o espectáculo da decadência de fim de noite no cabaré; e a manipulação dos objectos,
representando continuamente a ilusão da arte e o fracasso do quotidiano, parece
perguntar, mesmo quando nos rimos: o que fiz do meu sonho?
JORGE LOURAÇO FIGUEIRA – Público. (23 Dez. 2006).
Boca de Cena: Teatro-Jantar
encenação e cenografia João Paulo Seara Cardoso
marionetas e figurinos Júlio Vanzeler
texto Anselmo Pires
coordenação coreográfica Isabel Barros
desenho de luz António Real, Rui Pedro Rodrigues
sonoplastia Dominique Poquelin
interpretação Edgard Fernandes, Jaime C. Soares, Sara Henriques, Shirley
Resende, Sérgio Rolo
Juliana Ferreira (garçonette), Miguel Santos (garçon)
HISTORIAL
O Teatro de Marionetas do Porto constitui-se em Setembro de 1988, uma data simbólica
que coincide com a apresentação da companhia na selecção oficial do Festival Mondial
des Théâtres de Marionnettes, em Charleville-Mézières.
O repertório da companhia começa por integrar o Teatro Dom Roberto, fantoches da
tradição portuguesa, que João Paulo Seara Cardoso herdara das mãos de Mestre António
Dias, último representante da geração de bonecreiros itinerantes, em 1980.
Os primeiros espectáculos criados pela companhia são fruto de uma pesquisa do
património popular, sobretudo ao nível dos contos e das práticas e rituais teatrais do
Norte do país.
Por esta altura, na sequência de um convite da RTP, a companhia constitui uma equipa
de criação alargada (Sérgio Godinho, Jorge Constante Pereira e Alberto Péssimo) que,
durante cerca de dois anos, desenvolve vários projectos televisivos para crianças que
viriam, de certa forma, a marcar uma geração e dos quais se destacam A Árvore dos
Patafúrdios e Os Amigos de Gaspar.
O TMP alcança um certo reconhecimento público com a estreia nacional de Miséria, em
1991, espectáculo muito bem acolhido pelos espectadores e pela crítica, e que
representa também o primeiro apoio financeiro do Estado à actividade da companhia.
Dois anos depois estreia Vai no Batalha, uma revista à portuguesa com marionetas,
crítica mordaz ao cavaquismo e à mentalidade portuguesa vigente no início dos anos 90,
que fica em cena cerca de um ano com lotações esgotadas.
Testadas algumas fórmulas de teatro popular, inicia-se um novo ciclo radicalmente
diferente na história da companhia. Várias experiências em busca de uma certa
contemporaneidade do teatro de marionetas têm início com 3.ª Estação (co-produção
com o Balleteatro Companhia), que ensaia o cruzamento das marionetas com a dança.
Mais tarde, Exit (1998), a primeira peça do denominado ciclo urbano, no qual se
procura uma reflexão sobre a condição humana pós-moderna, e no qual o teatro de
marionetas é contaminado por outras linguagens artísticas como a música, o vídeo, a
dança e as artes plásticas, adquirindo uma dimensão mais performativa, marca
definitivamente o assumir de um caminho de risco. Registe-se ainda, nesta fase, a
importante participação do TMP no evento Peregrinação da Expo’98, com Máquina-
Homem / Clone-Fighters.
Os espectáculos dirigidos a um público infanto-juvenil passam a integrar a produção
anual da companhia, sempre com base em textos originais posteriormente editados em
livro.
É, pois, na segunda metade dos anos noventa que se regista uma forte consolidação do
projecto artístico da companhia. A corrente de público portuense alarga-se
consideravelmente, obrigando a companhia a abandonar o pequeno Teatro de
Belomonte e a procurar outros espaços de maior dimensão na cidade. O TMP adquire
definitivamente uma projecção internacional que o leva a apresentar-se regularmente na
Europa e em diversos países do mundo (Espanha, França, Irlanda, Bélgica, Holanda,
Áustria, Suíça, Itália, Israel, Brasil, Polónia, Cabo Verde, Inglaterra, Marrocos, China,
República Checa, Canadá e Alemanha). E cria uma rede de parceiros de programação
em Portugal que faz com que, actualmente, cerca de 30% da actividade se desenvolva
em itinerância.
É neste contexto, e com uma linha programática consolidada, que o TMP desenvolve a
sua actividade a partir do início do novo século. Alguns espectáculos marcam esta fase:
Nada ou o Silêncio de Beckett, a produção apresentada mais vezes no estrangeiro,
Macbeth, uma importante experiência de teatro de texto, Paisagem Azul com
Automóveis, uma co-produção Porto 2001 e TNSJ, e Cabaret Molotov, uma incursão no
universo do circo e do cabaré.
Em 2008, o TMP comemora 20 anos de actividade e, a par da estreia de uma nova
produção, que se reveste de um carácter de certa forma celebratório (Boca de Cena:
Teatro-Jantar), propõe ao público de todas as idades uma revisitação do seu passado,
apresentando 17 produções marcantes do percurso da companhia. Entre o Porto,
diversas cidades portuguesas e algumas deslocações ao estrangeiro, a companhia
efectuará um total de 214 representações.
Actualmente, o TMP está empenhado num importante projecto: a abertura do Museu de
Marionetas do Porto, que ficará sedeado na Rua das Flores, no centro histórico da
cidade, e que constituirá uma mostra pública do importante acervo reunido ao longo dos
anos e que consta de cerca de 1200 peças, entre marionetas, cenários e adereços.
ESPECTÁCULOS
Teatro Dom Roberto
Miséria | 1988
Contos d’Aldeia* | 1989
Entre a Vida e a Morte* | 1989
Vida de Esopo* | 1989
Vai no Batalha* | 1993
3.ª Estação* | 1994
O Soldadinho* | 1994
Joanica Puff* | 1995
IP5* | 1996
Máquina-Hamlet* | 1997
Alice no País das Maravilhas* | 1997
Exit | 1998
Máquina-Homem / Clone-Fighters** | 1998
O Aprendiz de Feiticeiro* | 1999
Nada ou O Silêncio de Beckett | 1999
Clones na Ponte*** | 1999
Óscar | 1999
Os 3 Porquinhos | 2000
Macbeth | 2001
Paisagem Azul com Automóveis**** | 2001
Polegarzinho | 2002
O Princípio do Prazer**** | 2003
História da Praia Grande | 2003
O Mundo de Alex | 2004
A Cor do Céu | 2004
Os Encantos de Medeia**** | 2005
Como um Carrossel à Volta do Sol | 2006
O Lobo Diogo e o Mosquito Valentim | 2006
Cabaret Molotov | 2006
Bichos do Bosque | 2007
Boca de Cena: Teatro-Jantar | 2007
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