ATENÇÃO: Além das notas do Autor (original francês), constantes nas respectivas páginas de
cada volume, há, ainda, as do Tradutor, chamadas de n.ºs 1 a 24, colocadas nos rodapés
Cliché A. PASETTI d
e St-Petersbourg
WERA KRIJANOWSKI
ÍNDICE
do
Volume Primeiro
Primeira parte:Deir-el-Bahari
I – A festa do Nilo
II – O banido e sua irmã
III – A múmia dada em penhor
IV – Na pesquisa da verdade
V – Neith no templo de Hator
VI – O príncipe hiteno
VII – Abracro
VIII – Sargon no palácio da rainha
IX – Núpcias e luto no Egito
X – Rainha e mãe
XI – Novidades em casa de Tuaá
XII – Em Bouto
Cristian Fernandes
Outubro de 2009
PRIMEIRA PARTE
DEIR-EL-BAHARI
— Vamos!
— São questões, meu bom Pair, das quais não nos convém
tratar; aos deuses e aos nossos soberanos, seus representantes,
cabe decidir — interpôs Satati, com adocicada voz. Diz-me,
Hartatef, é possível irmos, mais tarde, depois da rainha, ver os
navios por ela inspecionados? Afirmam que são de dimensões
e acabamento jamais vistos por nós.
7 LEITO DE REPOUSO —Pequena cama, estreita, muito baixa, não servindo para
dormir
9 “Uma lei, de que fala Heródoto, autorizava o egípcio a obter empréstimos, dando
em penhor a múmia do genitor. O credor ficava dono do túmulo sem direito de
remoção. Se o devedor não satisfazia a dívida, ficava privado de sepultura, e os filhos,
herdeiros do débito, incidiam na mesma penalidade, caso não saldassem o penhor.
A importância e honra que os egípcios davam à sepultura levavam os devedores aos
maiores sacrifícios para não Incorrerem nessa espécie de maldição eterna.” (Martin,
Les Civilisations Primitives en Orient, ed. Didier, Paris, 1861, pág. 505.)
11 JOGO DA MORA — Por incrível que pareça, esse jogo é o mesmo de nossos dias,
típico, por assim dizer, dos italianos. Os parceiros estiram um determinado número
de dedos, e ganha o que tiver acertado com o total exato dos dedos enristados.
Os olhares todos se concentraram em Neith, cujo palor e
silêncio obstinado começaram a despertar atenção, ainda que
ninguém suspeitasse fosse ela violentada em sua escolha. Por
instantes, permaneceu imóvel; um tom lívido cobriu-lhe as
faces, mas, como que hipnotizada pelo ameaçador olhar de
Hartatef, ergueu-se, desprendeu a guirlanda que lhe ornava os
cabelos e a colocou, semivoltando-se, sobre a cabeça do noivo.
Depois, exaurida pelo sobre-humano esforço que fizera para
dominar a raiva que lhe refervia no íntimo, caiu na cadeira.
NA PESQUISA DA VERDADE
O PRÍNCIPE HITENO
12 Foi nesta campanha que Hatasu conheceu Naromath, de cujos secretos amores
nasceu Neith.
Sentia ele a inimizade secreta despertada pela sua
situação privilegiada, ou conservava no fundo do coração ódio
e rancor contra o povo vitorioso e destruidor da sua raça? A
verdade é que Sargon não parecia feliz: sombrio, pouco
sociável, não cultivando intimidade com os grandes egípcios,
vivia retirado, indiferente, em seu palácio, entretido em ler ou
caçar, ou ainda engolfado em sonhos, durante horas, no
terraço, o retiro favorito. Nesse dia, estava ele estirado, por
mais de uma hora, com o olhar fixo no rio, contemplando, com
intercalado interesse ou indiferença, as centenas de
embarcações de toda espécie que se movimentavam em todos
os rumos. Era verdadeiramente um quadro de animação,
variado, bem digno de reter os olhares: por entre as pesadas
barcas, ajoujadas de todos os produtos do Alto-Egito, ou
encimadas de gaiolas de madeira, nas quais balia e mugia o
gado, avançando lentamente, elegantes e ligeiras embarcações
cruzavam em todos os sentidos, entretendo incessante
comunicação entre as duas metades da cidade.
ABRACRO
— Ele não pode mais ser teu esposo, ainda que não
estivesse desaparecido. Escuta o que se passou.
— Ergue-te e senta-te.
O sacerdote sorriu.
— Não, não; teu pedido terá mais prestígio para ele. Além
disso, passei aqui de relance, porque vou à casa de Tuaá, onde
há festa hoje, e nessas festas a gente se diverte sempre
deliciosamente.
— Sim.
RAINHA E MÃE
A rainha sorriu.
E calou, sufocado.
— Estás doido. Podes crer que aquela pura e ingênua
criança seja capaz de semelhante traição? — disse a rainha em
tom colérico.
EM BOUTO
Antef riu.
O BRUXO DE MÊNFIS
I
A ROSA VERMELHA
— Neith!
— Que boa carinha tens hoje, e... por todos os deuses! Que
colar trazes ao pescoço? É uma joia de alto valor, incrustada de
legítima pedra azul, sabes disso? — falou o usurário, curvando-
se para a moça, palpando e admirando o lavor e o preço do
colar . E qual é este divino perfume? Oh! dá vontade de cheirá-
lo sempre — acrescentou, brusco, olfatando ruidosamente o
pescoço da rapariga.
— Está bem Sachepris. Eis aqui Acca, que trouxe para que
te ajude. Manda-a servir os hóspedes de distinção. Para
começar, ela servirá ao sacerdote os refrigerantes solicitados.
Vai! — continuou, dirigindo-se à moça — e tento na língua. Um
sacerdote de Amon está aqui para ultimar uma transação de
dinheiro.
— Olha! Nossa mãe perdeu esta joia. Parece, creio eu, uma
das que Hartatef lhe doou, quando do noivado de Neith.
— Não, não; eu conheço todas as suas joias; não tem
nenhuma semelhante. Com certeza pertence a Mena —
respondeu Assa.
O PALÁCIO DO ENFEITIÇADOR
— Eu te saúdo, mestre!
O BEIJO MORTAL
17- 42 JUÍZES — Após a morte, o Espírito seguia para o mundo inferior, para
submeter-se, no Amenti , a julgamento, sob a presidência de Osíris, o Espírito do
Bem, rodeado de quarenta e dois Espíritos dessa “outra Terra”, um para cada pecado
capital, ornados com penas de avestruz, emblemas da Verdade e da Justiça. A
sombra, duplo ( Ka ) ou Espírito começava por dar as razões pelas quais rogava ser
acolhido por Osíris, mencionando todos os pecados não cometidos por ele,
suplicante, no decurso da vida corporal. O julgamento se fazia, pesando a
sinceridade das declarações e preces do Espírito. Num dos pratos da balança era
colocado o coração do Ka , e no outro, servindo de peso compensador de equilíbrio
uma pena de avestruz. Se o resultado fosse favorável, o Espírito seguia para as
campinas de Ra, o deus-sol; se desfavorável, o condenado era expedido para o
Inferno, região dividida em 75 distritos, guardados por demônios providos de
gládios, onde sofria torturas inauditas (Letourneau, La Evolution Religieuse, ed.
Vigot, Paris, 1898, páginas 313 e seguintes, narrando o curioso júri e suas
consequentes penalidades.
— Sua estatura é de proporções estarrecentes; um manto
esverdeado, sulcado de flamas, flutua em seu redor; suas asas
negras e imensas alçam-se para o céu qual enxame; o olhar é
coberto por um véu, mas a voz tem a semelhança de um vento
de tempestade, mesclado com o crepitar de braseiro. Essa
terrível divindade prometeu-me auxílio.
OS PROJETOS DE NEFTIS
— Não, não tive desejo algum, porque tua bela noiva fez-
me companhia — respondeu alegremente — e, embora sejas
bom companheiro, confesso que a prefiro para guardião da
minha pessoa. Espero, Antef, que não sejas ciumento, e que
autorizes tua noiva e futura mulher a distrair-me algumas
vezes com as suas narrativas de Tebas, de Mênfis, desse mundo,
enfim, do qual estou separado.
18 NÃO TENHO HERDEIROS — Apesar do muito que nos merece o rutilante Espírito
de Rochester (de fato um vigarista), esta particularidade esbarra em afirmativa
contrária, feita por Arthur Weigall, “antigo inspetor das antiguidades do governo
egípcio”, na página 108 da sua História do Egito Antigo, afirma que, pouco depois do
matrimônio com Tutmés II, houve Hatasu uma primeira filha, a quem deu o nome de
Nefrourê, e mais tarde, depois de animosidade surgida no casal, reconciliado, uma
segunda filha, que recebeu o nome de Hatshepsut-Meritrê. Do próprio Tutmés II,
segundo dito autor, ficou um filho bastardo, havido com uma criatura sem qualquer
hierarquia social.
Frui esse futuro alegremente, mas, dentro dos limites
razoáveis, com as despreocupações e prazeres que são
apanágio da juventude. Bem depressa virão os cuidados e
árduos labores do governo, pois é bem pesada a grande coroa
dos soberanos do Nilo. E ainda uma coisa, Tutmés: não escutes,
nem acolhas cegamente as insinuações dos sacerdotes. Um
futuro rei deve aprender a julgar por si mesmo, e a ler na alma
dos homens. Os servidores dos templos ensinaram-te a
detestar-me, no grau de inimiga, e agora eles nos separaram,
fazendo de ti arma contra a minha vida e autoridade. Para quê?
Para que a criança inexperiente, que colocariam no trono, fosse
seu escravo, o instrumento do seu poderio, que desejariam
elevar acima da vontade real, de vez que se dizem
representantes, mandatários dos deuses que reinam sobre o
Universo. Seja! Que o povo assim os considere; mas, os
soberanos do Egito são filhos de Amon-Ra, o sangue do deus
lhes circula nas veias, e não necessitam de intermediários entre
o Faraó e seu Imortal Pai. Os imensos templos, os suntuosos
túmulos que construímos são homenagens aos deuses,
monumentos destinados a perpetuar nossos nomes, nossa
glória, a grandeza de nossos atos; essas construções
gigantescas, na elevação das quais fundimos somas
incalculáveis, tomadas à totalidade dos povos vencidos, o clero,
insaciável e intrigante, desejaria fazer delas um pedestal, e,
autorizando-se com o nome da divindade, colocar-se acima do
rei. Nenhum soberano, digno deste título, admitirá isso, porque
só um Sol brilha no céu, e a vontade do Faraó deve reger o
império.
O ENFEITIÇADOR EM TEBAS
— Quais os outros?
— Sim, sim, és o único que pode ser meu esposo; sob o teu
olhar, esmaece a dor que me aniquila; mas, não me deixes —
ciciou, oprimindo a fronte no peito do jovem sacerdote, que a
observava ansiosamente.
Roma empalideceu.
I - Antigos conhecidos
II - As pesquisas
III - A conjura
IV - Neith e Horemseb
V - O futuro
VI - Derradeiros dias de poderio
VII - A morte de Sargon
VIII - Derradeiras vítimas
IX - Hartatef