Você está na página 1de 15

Narrativas midiáticas

Aula 3: Classificação dos gêneros narrativos

Apresentação
Em nossa segunda aula, identificamos as características que fazem com que um texto seja
considerado uma narrativa.
Além disso, descrevemos os elementos que fazem parte de uma
narrativa. Estabelecemos ainda relações entre narrativas
literárias e midiáticas.

Nesta aula, falaremos sobre cinema e sua relação com outros gêneros narrativos.

Objetivos
Examinar a teoria de classificação da narrativa proposta por
Aristóteles;

Averiguar a teoria de classificação da narrativa proposta por Bakhtin;

Compor relações entre os gêneros narrativos literários e os


cinematográficos.

A teoria de Aristóteles: classificação dos gêneros narrativos


Lembra-se de nossa aula 1, quando vimos que Aristóteles desenvolveu uma descrição das
características do texto narrativo (A
poética), a partir do conceito de mimesis?

O trabalho desse filósofo foi além dessa caracterização da narrativa: ele apresentou uma
proposta de classificação de
narrativas, nomeando-as por gênero, considerando três aspectos:

Atenção! Aqui existe uma


videoaula, acesso pelo conteúdo online
1 2

Meio Objeto
Diz respeito à linguagem, através do ritmo, do canto e dos Refere àquilo que é imitado do mundo.
versos.

Modo
Refere-se a como o texto será apresentado.

Os gêneros narrativos dramáticos


Os gêneros dramáticos abrangem os textos literários destinados à representação cênica. Esses
textos tiveram sua origem nas
festas em homenagem ao deus Dionísio 1 .

A tragédia
Tem origem nos contos dionisíacos  e no conto do
bode (sacrificado a Dionísio).

É constituída por seis elementos: a fábula, o caráter, as


falas, as ideias, o
espetáculo e o canto.

Fascina as plateias por causa das peripécias 2  e do


reconhecimento.

A duração apropriada de uma tragédia é aquela que


permite.

Fonte: Por Sergey Tarasov /


Shutterstock

Vídeo

O filme Poderosa
Afrodite, do diretor Woody Allen, traz uma cena em que a
tragédia é representada.  

A cena do filme acontece nas ruínas de um teatro, e há atores usando máscaras,


formando o coro. Os atores narram uma
tragédia, a história de Édipo, que mata o próprio pai
e casa-se com a mãe.
Podemos observar os elementos que constituem a tragédia:


Elementos da tragédia

 Clique
no botão acima.

Fábula : corresponde à sequência de ações que levam o protagonista ao


infortúnio. Na história
de Édipo, temos a
seguinte sequência:

Édipo se propõe a descobrir quem assassinou o rei Laio;

O profeta acusa Édipo de matar o rei Laio;

Tirésias revela a Édipo a verdade sobre seus pais;

Jocasta narra a Édipo a morte de Laio;

Édipo dá-se conta que pode ser mesmo o assassino de Laio;

Édipo confirma que matara seu pai verdadeiro (Laio);

Jocasta se mata;

Édipo fura os olhos.

Caráter (ou costumes) : são as ações que qualificam as personagens. A


personagem Édipo, por
suas ações, se
caracteriza como alguém bom, correto, que luta contra o destino.

As falas (elocução) : consiste na escolha dos termos, os quais têm o mesmo


poder de
expressão, tanto em prosa
como em verso:

Oh! Ai de mim! Tudo está claro! Ó luz, que eu te veja pela derradeira vez! Todos sabem:
tudo me era interdito: ser filho de
quem sou, casar-me com quem me caseie e eu matei
aquele
a quem eu não poderia matar!

As ideias (pensamento) : “é tudo o que as palavras pronunciadas expõem o


que quer que seja
ou exprimem uma
sentença.” (Aristóteles):

Ai de mim! Receio que tenha proferido uma tremenda maldição contra mim mesmo, sem o saber!

O espetáculo : corresponde à representação das personagens.

O canto (melopeia) : é o ornamento principal: é a música, uma sucessão de


sons para gerar uma
sensação agradável
ao ouvido. Ou seja, a força expressiva musical, desde que bem ouvida por
todos.
A comédia
Propõe-se a imitar os homens, representando-os
piores. Atém-se à imitação de maus
costumes, mas
não de todos os vícios.

Originou-se na Sicília.

Era estruturada em quatro partes: prólogo, párodo


(irrompimento festivo
do coro,
trajando máscaras e
roupagens de vários tipos), episódios (cenas
dialogadas entre dois
atores, permeadas por
intervenções do coro) e êxodo (desenlace).

Seria oriunda dos solistas dos cantos fálicos.

O objetivo era criticar a sociedade, fazendo uso do


ridículo.

Fonte: Por Sergey Tarasov /


Shutterstock

Vídeo

Assista a uma adaptação do texto As


Rãs, de Aristófanes:

Os gêneros narrativos épicos


Os gêneros épicos são textos que trazem narrações de feitos grandiosos, centrados na figura
de um herói, tendo como pano de
fundo a história de povos e civilizações.

Atenção! Aqui existe uma


videoaula, acesso pelo conteúdo online
A epopeia
É um poema narrativo em terceira pessoa e dividido em cantos (ou livros).

O narrador (poeta) mantém distanciamento em relação aos acontecimentos,


caracterizando-se como um poeta-
observador voltado para o mundo exterior, tornando a
narrativa objetiva.

Assim como na tragédia, seu objeto de imitação são os assuntos sérios.

Não emprega um só metro simples ou forma negativa.

Não é tão limitada quanto a tragédia em sua dimensão.

Todos os caracteres que a epopeia apresenta encontram-se na tragédia também.

Há a presença do maravilhoso: interferências dos deuses da mitologia greco-romana.

Dedica-se a narrar fenômenos históricos, lendários ou míticos considerados


representativos de uma cultura – o
livro Os Lusíadas é um exemplo desse gênero na
literatura de língua portuguesa.

 Fonte: Por Markgraf /


Shutterstock.

Vídeo

Veja o clipe do livro Os


Lusíadas.

Os gêneros narrativos líricos


São gêneros centrados no caráter emocional, na subjetividade dos sentimentos da alma. Segundo
Aristóteles, forma literária
destinada ao canto, acompanhada do som de uma lira.

Pertencem a esses gêneros os poemas que extravasam as emoções íntimas pela expressão verbal
rítmica e melodiosa. O valor
de uma poesia lírica está não apenas em sua capacidade de
expressar as emoções, mas também em despertá-las.

A poesia lírica constitui-se dos seguintes elementos:

compare_arrows
O eu lírico, a voz que expressa suas A subjetividade, que é a marca do
emoções no poema, um eu poético, lirismo. É a poesia da primeira pessoa e
inventado, que não se
confunde com o no tempo presente.
poeta(autor).

Exemplo
Leia a letra da música de Esse cara, de Caetano Veloso:

Ah! Que esse cara tem me consumido

A mim e a tudo que eu quis

Com seus
olhinhos infantis

Como os olhos de um bandido


Ele está na minha vida porque
quer

Eu estou
pra o que der e vier

Ele chega ao anoitecer

Quando vem a madrugada ele some

Ele
é quem
quer

Ele é o homem

Eu sou apenas uma mulher

Na canção de Caetano, o eu lírico é uma mulher (Eu sou apenas uma


mulher), a voz
que expressa suas emoções; o texto é
produzido em primeira pessoa e revela os sentimentos
desse eu lírico (Ah! Que esse cara tem me consumido/ A mim e a tudo
que eu quis),
no tempo
presente (a narrativa se utiliza do presente do indicativo - Ele chega
ao anoitecer/ Quando
vem a
madrugada ele some).

A proposta de Bakhtin
Para Mikhail Bakhtin, a comunicação deve ser definida a partir da ideia de interação entre
sujeitos, ou seja, um agir sobre o
outro (o sujeito), num processo dialógico. Sendo assim, a
linguagem seria também uma ação verbal (ou não verbal) com o fim
de provocar no outro uma
reação.

Essa perspectiva amplia a teoria da comunicação baseada no envio e recepção da mensagem, pois
passa-se a considerar todo
o contexto em que a comunicação acontece: quem participa do
processo (os sujeitos), quando acontece a interação, onde, em
que sociedade, com que
objetivos.

Portanto, a comunicação pode ser definida como a interação entre sujeitos.

Esses sujeitos (agentes da comunicação) produzem


enunciados
(textos/ atos de fala), que passam por um processo de mediação (os
sujeitos
estabelecem uma relação entre os enunciados, a linguagem e
a cultura), utilizando-se da
linguagem (um sistema constituído de
signos que provocam efeitos de sentido) para
garantir essa interação.

Sob essa perspectiva, a situação de interação definirá como se dará esse processo
comunicacional: determinando o que dizer
e como dizer.

Teríamos, então, o seguinte diagrama:


Com base nessa concepção de comunicação, Bakhtin apresenta o conceito de gênero do
discurso:
um conjunto de
enunciados, em uma dada situação de comunicação, com a função de garantir a
interação e que possui características
próprias constituídas historicamente, conforme as
necessidades da sociedade.


Gênero do discurso

 Clique
no botão acima.
De acordo com o teórico, os gêneros discursivos (ou textuais) podem ser definidos como tipos
de enunciados,
relativamente estáveis e normativos, que estão vinculados a situações típicas
da comunicação social.

Os gêneros se constituem historicamente a partir de novas situações de interação verbal


da vida social que vão
(relativamente) se estabilizando, no interior das diferentes
esferas sociais...

Sendo assim, os gêneros também são formas de ação: na interação, eles funcionam como
índices de referência para a
construção dos enunciados, pois balizam o autor no processo
discursivo, e como horizonte de expectativas para o
interlocutor, no processo de
compreensão e interpretação do enunciado (a construção da reação-resposta ativa).
(BAKHTIN, 2011)

Ou seja, os gêneros são os textos propriamente ditos que produzimos a cada nova situação de
comunicação. Esses
textos possuem características de composição e função comunicativas que
se estabelecem social e historicamente.

Pense assim: antes da tecnologia da escrita, o gênero carta não existia, pois o homem só
produzia textos orais. Com o
advento da internet, o gênero carta passa por uma adaptação e
surge o e-mail pessoal.

Talvez, daqui a uma década, a carta nem exista mais, dados os avanços tecnológicos na área da
comunicação e a
necessidade que temos de interagir de forma rápida.

Portanto, os gêneros textuais (ou discursivos) são enunciados mutáveis e plásticos, ou seja,
conforme as
necessidades sociais, esses textos mudam e se moldam às diversas situações de
comunicação.

Imagine o gênero aula: apesar de se caracterizar, de forma geral, por ter como objetivo a
exposição de determinado
tema acadêmico, podemos afirmar que esse gênero se adapta às mais
diversas situações de comunicação que
exigem a produção dele.

Ou seja, uma aula sobre língua portuguesa será diferente de uma cujo tema seja reprodução
humana. Então, como
apresentar uma classificação para os gêneros textuais? Quais critérios
podemos usar para essa classificação?

Com base na teoria de Bakhtin, podemos apresentar os seguintes aspectos para a classificação
dos gêneros textuais:

1. Conteúdo temático - sobre o que trata o


texto;

2. Plano composicional - a organização do texto, sua estrutura;

3. Estilo, a
linguagem usada - os recursos linguísticos ou visuais.

Portanto, são exemplos de gêneros textuais (discursivos): a notícia, o romance, a telenovela,


o anúncio publicitário, a
reportagem, a receita de bolo, a bula de remédio, a conversa no
WhatsApp, a postagem no Facebook, o hangout no
YouTube, o storie no Instagram, o cartão de
aniversário etc.
 Fonte: Por Noamm / Shutterstock.

Os gêneros do cinema
Qual foi o último filme a que você assistiu? Você classificaria esse filme como sendo de que
gênero? Que critério(s) usou para
classificar o gênero?

Guarde aí um pouco suas respostas. Daqui a pouco a gente volta a elas.

Atenção! Aqui existe uma


videoaula, acesso pelo conteúdo online

Comentário

No dia 25 de abril de 2019, houve a pré-estreia do filme Os vingadores:


ultimato, dos diretores Anthony Russo e Joe Russo.

Durante a exibição no cinema, o público interagiu intensamente: risos, choros;


indignação; silêncios profundos; gritos de
satisfação; falas de incentivo; aplausos. A
plateia demonstrou envolvimento com a narrativa do início ao fim.

Aliás, antes mesmo de entrar na sala de exibição, as pessoas já comentavam sobre


as expectativas, sobre ter esperado durante
quatro meses, desde o lançamento do trailer, em
7 de dezembro de 2018.

Vídeo

Lembremos o primeiro filme exibido comercialmente pelos irmãos Lumiére: A


chegada do trem na estação e do efeito que
provocou na plateia: as pessoas
correram
assustadas para o fundo da sala.

Claro que as pessoas não saem mais correndo, mas ainda hoje o cinema é capaz de
provocar os mais diversos efeitos de
sentido nos espectadores, graças à linguagem que o
caracteriza: a imagem que imita a realidade de forma espelhada, mesmo
que seja uma realidade
inventada.
Para garantir esse envolvimento do público, o cinema lança mão de adaptações de livros,
histórias do cotidiano, quadrinhos,
séries de TV, videogames, peças de teatro... Tudo que
implique em uma narrativa que pode ser transformado em filme.

Exemplo

Veja o curta Parque


de Diversões, baseado em um conto da escritora Ana Miranda.

Leia o conto
que deu origem à película e compare com ela.

Parque de Diversões é apenas um dos exemplos de adaptações de obras


literárias
para a linguagem do cinema, que usa a
literatura como referência também para definir seus
gêneros.


Gêneros do cinema

 Clique
no botão acima.
Ação: caracteriza-se por privilegiar estrelas famosas; sofisticados efeitos
especiais;
cenários suntuosos, exóticos ou
grandiosos (já assistiu a algum filme da personagem 007?);
cenas e sequências de intensa ação.

Os heróis e os vilões são claramente caracterizados e contrapostos (Homem-Aranha x Duende


Verde); simplismo e o
maniqueísmo tendem a prevalecer (lembra-se do filme Rambo –
programado
para matar?).

Comédia: tende a fazer ressaltar as fragilidades do ser humano; são diversos


os recursos de
que se vale: o exagero, o
equívoco, o absurdo, o insólito, o escatológico, o anacrônico, o
agravamento, o recrudescimento, a
descontextualização, o imprevisto – assistiu a algum dos
filmes Loucademia de polícia?

Drama: o seu objeto é o ser humano comum, normal, em situações cotidianas


mais ou menos
complexas, mas
sempre com grandes implicações afetivas ou causadoras de inescapável polêmica
social; propensão ao realismo, com
fim de reflexão sobre a sociedade.

A caracterização das personagens adquire, no drama, contornos de especial complexidade – você


assistiu ao filme
Histórias Cruzadas?

Fantástico: é aquele em que a causalidade mais se afasta das premissas


realistas e das leis
comuns do cotidiano; a
magia e a religião surgem constantemente como motivo e como contexto
deste gênero.

Trata-se de um gênero que nos permite viajar ao passado, atravessar épocas e continentes,
descobrir lugares
puramente imaginários – lembra-se do filme História sem fim?

Ficção científica: toda ficção criada neste gênero deve tomar como
inalienáveis as premissas
do conhecimento
científico vigente ou expectável acerca de um determinado fato ou fenômeno.

Podemos considerar ficção científica todo relato que discorre sobre mundos e acontecimentos
possíveis a partir de
hipóteses logicamente verossímeis — você viu o filme Mad Max –
estrada
da fúria?

A narrativa centra-se muitas vezes em um questionamento das consequências dos avanços


tecnológicos e científicos
sobre o destino da humanidade — daí o cinema pós-apocalíptico,
como em The day after.

Film noir: visualmente, um aspecto se torna imediatamente perceptível: a


fotografia em preto
e branco, altamente
contrastada, com nítidas influências do expressionismo alemão.

Além disso, o lado sombrio das personagens torna-se, ironicamente, através do jogo de
penumbras, o seu lado mais
exposto e, paradoxalmente, transparente; como responsável
principal da trama, encontramos a femme fatale, sensual e
impecavelmente vestida —
viu o
clássico A dama de Shanghai?

Há uma geração nova desse gênero (neo noir), como o cinema dos irmãos Cohen (Onde os
fracos
não têm vez).

Musical: atribui à banda sonora uma extrema importância, que em nenhum


outro gênero encontra
paralelo — assistiu
ao filme La La Land?

A música não se sobrepõe à trama a partir do seu exterior, mas surge a partir da própria
vivência das personagens e
determina os seus comportamentos — lembra-se do musical Mama
Mia?

Os momentos, os números ou as sequências cantadas e dançadas pelos protagonistas são,


portanto, o elemento
formal distintivo do musical — viu Chicago?

Os valores de produção usualmente se tornam mais manifestos, com coreografias de grande


sofisticação e dimensão,
cenários luxuriantes e grandiosos e uma paleta cromática de grande
espetacularidade — assista ao filme Moulin rouge
e observe essas características.

Terror: o seu apelo e o seu fascínio para o espectador provêm, ironicamente,


da incomodidade
e do desconforto que
provoca neste.
Em termos iconográficos, este é, seguramente, um dos gêneros mais inventivos, ainda que um
conjunto de clichês
tenda a se estabelecer e permanecer ao longo de um ciclo de filmes
determinado — como, por exemplo, o nevoeiro ou
as lâminas — lembra-se de O
Iluminado?

Caracteriza-se pela centralidade narrativa e dramática da vítima, com a qual o espectador é


convidado a identificar-se,
muitas vezes através da assunção do seu ponto de vista; a
tendência de muitos filmes para a apresentação explícita e
muitas vezes exagerada dos
efeitos físicos e psíquicos da violência sobre as vítimas – assistiu ao filme O
Exorcista? E
ao Bebê de Rosemary?

Thriller (suspense): cria-se no espectador uma intensa excitação e


nervosismo; há uma
instauração e perpetuação
constante da dúvida sobre o desfecho dos acontecimentos e sobre o
destino das personagens.

Apresenta-se uma sugestão verossímil, mas enganosa, de expectativas; as personagens


atravessam a história numa
situação de risco quase fatal e de perigo iminente.

A corrida contra o tempo e a deriva labiríntica desenham um gênero de jogo mental que é
proposto ao protagonista —
claro que temos que mencionar o nome Alfred Hitchcock, pai deste
gênero, e, atualmente, Jordan Peele.

Western: é um retrato do oeste americano, da expansão da fronteira da


civilização, da
instauração da lei e da ordem,
muitas vezes à custa das populações indígenas, tantas vezes
deturpadamente retratadas.

Basta assistir ao filme A Conquista do Oeste. O herói (o caubói) impoluto, indomável


e
implacável conheceu no western
a sua mais feliz encarnação nos tempos modernos.

Temos o cavaleiro solitário rumo ao pôr do sol, as roupas de vaqueiro ou a farda do exército,
as botas pontiagudas e o
lenço no pescoço, o chapéu branco ou preto, símbolos do bem e do
mal, as pistolas e os cantis, a indumentária e
maquiagem características das tribos
indígenas, dos seus gritos de guerra e das suas armas, o arco e a flecha.

Estes são alguns dos gêneros que o cinema criou ao longo de sua história, considerando os
seguintes critérios para
classificá-los:

• Narrativa: tramas, premissas e estruturas


parecidas; situações, obstáculos, conflitos e resoluções
previsíveis;

• Caracterização das personagens: tipos semelhantes de personagens (próximos ao


estereótipo), com
qualidades, motivação, objetivos e aparência similares;

• Temas básicos: os filmes são sobre temas semelhantes, frequentemente em contextos


históricos,
culturais e sociais semelhantes;

• Ambiente: o lugar geográfico ou histórico onde a trama se passa é o mesmo;

• Iconografia: uso de ícones semelhantes — objetos, atores, atrizes, cenários; uso de certos
tipos de
linguagem e terminologia;

• Técnicas e estilo: iluminação, paleta de cores, movimentação de câmera e enquadramentos


semelhantes.

Agora, reveja as suas respostas às questões que lhe propomos quando iniciamos nossa conversa
sobre gêneros do cinema.
Percebeu que os critérios apontados por você coincidem com os
critérios aqui apresentados?

Atenção
Talvez você tenha usado outro nome para classificar o gênero, pois o cinema
criou subgêneros: épico, road movie (Apocalypse
now), guerra, catástrofe, capa e
espada (Os
três mosqueteiros), artes marciais (O tigre e o dragão), gangster film,
teen movies
(As
vantagens de ser invisível), blockbuster (Planeta dos Macacos), remake
(Psycho), pastiche
(cinema de Brian de Palma, cuja
influência é o mestre Hitchcock), filme coletivo (o cinema
dos Irmãos Cohen), entre outros tantos.

Atividade
1. Complete as lacunas, utilizando as palavras adequadas
retiradas do quadro abaixo:

Aristóteles aponta três aspectos que devem ser considerados


para a classificação dos gêneros narrativos: ____________________,
que corresponde à
linguagem; o aspecto _____________ que se refere àquilo que é imitado do mundo; e o
aspecto_______________,
que equivale a como o texto será apresentado.

Qual das sequências de palavras a seguir preenche


adequadamente as lacunas?

a) meio - fábula -
objeto
b) objeto - fala -
drama
c) modo - meio -
fábula
d) meio
- objeto - modo
e) fábula - drama -
modo

2. Relacione a coluna 1 com a coluna 2, conforme as características de cada gênero narrativo


descrito por Aristóteles:

Tragédia 1
Comédia 2
Epopeia 3
Poesia lírica 4
Drama 5

a) Propõe-se a imitar os homens, representando-os piores. d) Fascina as plateias por causa das peripécias e do
reconhecimento.

b) Poema narrativo em terceira pessoa e dividido em Cantos.


e) Dedica-se a narrar fenômenos históricos.

c) Gêneros centrados na subjetividade dos sentimentos da alma.


3. Sobre a teoria desenvolvida por Bakhtin a respeito dos
gêneros, avalie as seguintes proposições:

Os gêneros discursivos (ou textuais) podem ser definidos como


tipos de enunciados, relativamente estáveis e normativos.

Os gêneros são os textos propriamente ditos que produzimos a


cada nova situação de comunicação.

Três aspectos podem ser considerados para classificação dos


gêneros textuais: conteúdo temático, plano composicional e
estilo.

Os gêneros se constituem historicamente a partir de novas


situações de interação verbal da vida social.

É correto apenas o que se afirma em:

a) I
b) II, III
c) I, II e
IV
d) III e IV
e) I,
II, III e IV

4. Leia o texto abaixo:

Vende-se um apartamento na Avenida Boa Viagem, em


Recife, no
8º andar com vista para o mar. 3 quartos, 1 suíte, 100m², 2
vagas para estacionamento.
Interessados ligar para o número ******* e falar com Reginaldo.

De acordo com o conteúdo temático, o plano composicional e o


estilo, o texto que você leu pode ser classificado como sendo
do gênero:

a) Nota de
jornal
b) Notícia
c)
Classificado de jornal
d) Aviso
e) Bilhete

5. Considerando os gêneros cinematográficos e os critérios de


classificação destes, avalie as seguintes asserções e a relação
proposta entre elas:

I. O filme Rambo – programado para matar pode ser


classificado
como sendo do gênero ação.

PORQUE

II. Caracteriza-se por privilegiar sequências de intensa ação,


simplismo e maniqueísmo.

A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.

a) As asserções I e
II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
b) As
asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da
I.
c) A asserção I é
uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é
uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e
II são proposições falsas.
Notas

Dionísio 1

Deus do vinho e da alegria. O teatro grego tem origem nas festas dionisíacas, quando eram
encenadas tragédias e sátiras.
Durante as encenações, usavam-se máscaras para representar os
personagens.

Peripécias 1

Ações inesperadas, repentinas.

Referências

ARISTÓTELES. A poética. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

BAHIANA, Ana Maria. Como ver um filme. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad.: Paulo Bezerra. São Paulo:
Martins Fontes,
2011.

Próxima aula

O texto jornalístico e a representação da realidade;

O texto dissertativo: opinião x informação;

O gênero jornalístico narrativo: a notícia.

Explore mais

Leia os textos:

Leia
a história de Édipo;

Os
lusíadas.

Efeitos
de sentido.

Hibridismos
e ressignificações nos gêneros cinematográficos.

O
cinema policial no Brasil: entre o entretenimento e a crítica social.  

As
problemáticas de uma abordagem híbrida: o fantástico enquanto gênero literário e
cinematográfico.

Epopeia.

Assista ao clipe de divulgação de uma


montagem da peça Édipo Rei.

Você também pode gostar